Interview with Everaldo José de Campos Pinheiro, Portuguese Literature
and Literature Professor.
B.A. and M.A. in Language Studies by Universidade de São Paulo (USP) 1982. He
has been a full time professor at Universidade São Judas Tadeu since 1989.
The following is an informal chat that I had with him at teacher‟s lounge.
Why did you choose languages to study and teach?
I have always liked to read and write, but I didn‟t choose right away. I did the
entrance exam for Medicine in Santa Casa, but I wasn‟t on the first list so I went to
Agulhas Negras Military Academy. I stayed there „til the day my mother saw my
name on the second list for medical school. I left the military academy and took
medicine for two months, but dropped it and changed to Languages and Literature
studies to start doing something I really loved.
What about your beginning in the Languages course?
There was a prejudice, so many people said to me that it was a course that
normally women studied, so in the second year I started Law school, but I really
liked Languages, teaching is my real vocation, I really like to teach, it‟s a pleasant
activity.
Were you always interested in literature?
Literature is my first and last objective, I say it in class, you study it to write and
develop your thought and imagination. It‟s the most important subject when you
study Languages. When I was on the fourth year I was chosen to teach at USP, as
a voluntary teacher, I didn‟t get a salary, but it didn‟t matter, it created me great
opportunities in many places, I liked that, I was born to be a teacher, it is a
pleasure to teach and see students interested on me.
What was the moment you realized you wanted to study Languages?
Since I was a boy, I wanted to study Languages and Literature, but there was the
prejudice, nowadays, people still have. But on my second thoughts I figured out I
didn‟t want to take Medicine. Having classes in laboratories, morgues, and there
was a formalin smell. I started late, second list, so I was very late. I dropped out
after two months and I didn‟t want to tell my parents. My mother cried because she
had started to pay for it, but I went to study what I really liked.
Have you ever been abroad?
I have been to Portugal, Spain and France. I was in Portugal for one academic year;
from there I received an invitation to give a few courses in Spain, Literature
classes. In Marseille, I taught Portuguese, my bachelor degree, there was a group
doing a work about Machado de Assis, they wanted to understand him, his irony,
details it was difficult for the French. I also worked in Canada, teaching Portuguese
to doctors, Brazilian medicine is very advanced, so the Canadian studied the
Brazilian books. In Portugal, I taught Comparative Literature, how Portugal
influenced Brazil and vice-versa. I was there for nine months, in Coimbra, Cintra
and Lisboa, my headquarter was in Lisboa. Once, I was in Cintra giving classes to
teachers, a student called me and asked “You remember me? I was your student in
Brazil”. He ran away from Portugal, so I remembered, we talked, he introduced me
to other people and they allowed me to teach in Marseille and Madrid.
What did these experiences abroad bring you?
News, folklore, etc. It is interesting to understand a language, to know differences
between writing and speaking. It‟s very different, but I think our country is more
interesting.
Is there any writer that has changed your mind?
No, I like many writers, but no one changed my mind. They added content, but no
one said anything that changed my mind.
Who are your favorite writers?
I like Machado de Assis, Graciliano Ramos, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco,
José Saramago and Miguel de Sousa Tavares.
How important Portuguese language is to us?
It‟s everything to us. Our home and nation. We have a different language from
Portugal, but the root is there. It is our working material and in any career. A
person who learns a language, learns to control not the language, but the others.
You can only despise a language if you know it very well, Clarice Lispector said
that.
Define “to dominate” a language.
It„s not just grammar rules. Any foreign can learn this, but real speakers need
more. Of course we can learn a lot of important things, but these are just
accessories. It‟s important for one to know characteristics when someone is being
ironic, when the person uses a word one never heard before but understands the
idea even so, the language rhythm.
Entrevista com Everaldo José de Campos Pinheiro, professor de Literatura
portuguesa e Teoria da Literatura.
Graduado e Mestre em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) em 1982 e
atualmente professor em tempo integral da Universidade São Judas Tadeu desde
1989. A seguir um bate-papo informal que tivemos na sala dos professores.
Por que o senhor escolheu a área de Letras para estudar e lecionar?
Sempre gostei de ler e de escrever, mas não escolhi logo de cara. Fiz vestibular
para medicina na Santa Casa (Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo), na 1ª lista não fui chamado, mas consegui entrar na academia militar
Agulhas Negras. Fiquei lá até o dia em que minha mãe havia visto na 2ª chamada
que eu tinha passado para medicina. Larguei a carreira militar, fiz medicina por dois
meses e abandonei, depois prestei vestibular para Letras e fui fazer algo de que
realmente gosto.
E como foi o início no curso de Letras?
Houve aquele preconceito, pois muitos falavam que era um curso normalmente
feito por mulheres. Depois no 2° ano comecei a fazer Direito, mas Letras sempre
me atraiu mais. Dar aula é minha vocação, é o que eu gosto de fazer, é algo
prazeroso.
O senhor sempre se interessou pela área da Literatura?
Literatura é meu primeiro e último objetivo, eu falo isso nas aulas. Você estuda isso
para escrever e desenvolver seu pensamento e imaginação. É a matéria mais
importante do currículo de Letras. Quando eu estava no último ano eu fui escolhido
para dar aula na USP como voluntário, sem ganhar nada. Não me afligia, então isso
me abriu portas em vários lugares. Eu gosto disso, eu nasci para ser professor, é
prazeroso você dar aula e ver que os alunos estão interessados nela.
Houve um momento em que algo lhe chamou a atenção para fazer Letras?
Desde cedo eu queria fazer Letras, mas havia aquele preconceito, que até hoje
tem, mas no segundo dia eu vi que medicina não era para mim. Já tive aulas em
laboratórios, necrotérios, aquele cheiro de formal, e ainda comecei na segunda
chamada, estava um pouco atrasado. Desisti depois de dois meses e não falei para
os meus pais, era chato, eles trabalharem tanto e eu trancar o curso. Depois disso
guardei o dinheiro de três meses e devolvi, minha mãe chorou, ela que tinha
tomado a iniciativa para eu começar o curso, e eu ter trancado, mas fui fazer o
curso de que gosto.
O senhor já viajou para fora do país?
Eu fui à Europa, em países como Portugal, Espanha e França. Fiquei em Portugal
um ano letivo e de lá fui convidado a dar alguns cursos de literatura na Espanha e
em Marselha de língua portuguesa para quem estava fazendo pós-graduação, havia
um grupo fazendo um trabalho em cima de Machado de Assis, para eles
entenderem direito aquela ironia de Machado de Assis que era difícil para os
franceses. Também trabalhei no Canadá, ensinando língua portuguesa aos médicos
de lá. A medicina brasileira é muito desenvolvida, então lá eles estudavam livros
brasileiros. Em Portugal dei literatura comparada, até que ponto Portugal
influenciou o Brasil, e vice-versa, fiz a comparação das duas e as influências, fiquei
nove meses lá, em Coimbra, Cintra e Lisboa, minha sede era Lisboa, uma vez em
Cintra eu dando aula para professores, um aluno me chamou após a aula e
perguntou: Lembras-te de mim? Eu fui seu aluno no Brasil. Estava fugido de
Portugal. Aí comecei a me lembrar, conversamos, ele que foi, me apresentou a
outras pessoas e me levou para dar aula em Marselha e Madrid.
O que essas experiências fora do país trouxeram para o senhor?
Algumas novidades, folclores etc. É muito interessante para se conhecer outra
língua, acostumar o ouvido, perceber a diferença entre a língua escrita e a falada. É
muito diferente, mas acho nosso país mais interessante.
Houve algum escritor que mudou seu pensamento, que o senhor passou a
admirar mais?
Não. Eu gosto de muitos escritores, mas nenhum mudou meu pensamento.
Acrescentaram, mas nenhum disse algo que mudasse meu pensamento.
De quais escritores o senhor gosta?
Gosto muito de Machado de Assis, Graciliano Ramos, Eça de Queirós, Camilo
Castelo Branco, José Saramago e Miguel de Sousa Tavares.
Qual a importância da língua portuguesa para nós?
Para nós ela é tudo. É pátria, é nação, temos uma língua diferente da de Portugal,
mas a raiz está lá. É o nosso material de trabalho, em qualquer profissão. Quem
aprende uma língua é para dominar, não a língua, mas sim os outros. Só pode
desprezar uma língua quem a conhece bem, e foi Clarice Lispector quem disse isso.
O que o senhor definiria por conhecer uma língua?
Não é só conhecer regras gramaticais, qualquer estrangeiro aprende isso. Mas para
o falante não é o essencial. Claro que aprende muitas coisas importantes, mas é
apenas um acessório. O importante é saber as características, quando está sendo
irônico ou não está, perceber quando usam uma palavra que você nunca ouviu,
mas entende o que está falando, entender a linguagem das músicas.
Rodrigo Buriti Alves da Costa
Curso Letras/Tradutor e Intérprete
3 ALENTI, 2013
Download

Declaração de Frequência – Learning Center