ARCADISMO
NEOCLASSICISMO
(SÉCULO XVIII)
Arcadismo ou Neoclassicismo movimento literário inspirado
em uma lendária região da Grécia antiga, a Arcádia, lugar
montanhoso que, segundo a mitologia, teria sido o berço de
Zeus e dominada pelo deus Pã amante das fontes, das
sombras dos bosques e da companhia das Ninfas, e habitada
por pastores, que viviam de modo simples e espontâneo e se
divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o
amor e o prazer.
O Arcadismo, ou Neoclassicismo é o período que caracteriza
principalmente a segunda metade do século XVIII, rompendo com a
solenidade do Barroco, seus exageros e excessos, tingindo as artes de
uma nova tonalidade burguesa. É o Século das Luzes, do Iluminismo
burguês, que prepara o caminho para a Revolução Francesa.
Os poetas árcades, ou neoclássicos demonstravam em sua literatura
uma espécie de delírio consciente: embora fossem todos eles, como
indivíduos da vida real, habitantes das cidades do período, burgueses,
funcionários da burocracia, administrativa ou judiciária, na poesia
projetavam um mundo de sonhos e de perfeição, onde eram humildes
pastores que levavam uma vida agradável e amorosa, deliciando-se
com os prazeres da vida simples do campo.
Engajado no processo de luta ideológica e política que levaria a
burguesia ao poder em 1789, o Arcadismo pode ser visto, sob o ponto
de vista ideológico, como uma arte revolucionária. Contudo, do ponto de
vista estético, é uma arte conservadora, pois ainda se liga aos modelos
clássicos, tanto tempo cultivados pelas cortes aristocráticas.
Arcadismo = idealização da VIDA NATURAL, em oposição à vida
urbana; a HUMILDADE, em oposição aos gastos exorbitantes da
nobreza; o RACIONALISMO, em oposição a fé; a LINGUAGEM
SIMPLES em oposição a linguagem complexa e elitista do Barroco.
Contexto histórico - Na Europa
 Decadência da aristocracia feudal; crescimento do poder da
burguesia.
 Progressivo descrédito das monarquias absolutas;
 Criação da Enciclopédia (1750/1780) por Diderot e d’ Alembert.
 Revolução Gloriosa (Inglaterra, 1688);
 Revolução Industrial (Inglaterra, 1760);
 Independência dos EUA (1776);
 Revolução Francesa (1789); “Declaração dos Diretos do
Homem e do Cidadão”
Principais filósofos iluministas.
 Voltaire - Despotismo esclarecido
 Montesquieu - O espírito da leis ( executivo, legislativo e
judiciário).
 Rousseau - Discurso sobre a origem da igualdade entre os
homens.
 John Locke - Ensaio acerca do Entendimento Humano.
A RELAÇÃO COM O ILUMINISMO
AS IDEIAS ILUMINISTAS NO SÉCULO XVIII CHOCAVAM COM
O ESTADO ABSOLUTISTA E A IGREJA.
A RAZÃO (E NÃO MAIS A CRENÇA RELIGIOSA) APARECE
COMO SINÔNIMO DE VERDADE. AS LUZES DO
ESCLARECIMENTO AJUDAVAM OS HOMENS A ENTENDER O
MUNDO E A COMBATER PRECONCEITOS.
SIMPLIFICAÇÃO DA ARTE = DOMÍNIO DA RAZÃO;
APROXIMAÇÃO DA NATUREZA; VALORIZAÇÃO DAS
ATIVIDADES GALANTES.
CARACTERÍSTICAS
BUSCA DA SIMPLICIDADE:
SIMPLICIDADE
VERDADE
=
RAZÃO
=
IMITAÇÃO DA NATUREZA: “LOCUS AMOENUS” = LOCAL
APRAZÍVEL = CULTO AO HOMEM NATURAL
PASTORALISMO = CELEBRAÇÃO
(MODISMO E ARTIFICIALISMO)‫‏‬
DA
VIDA
PASTORIL
BUCOLISMO = ADEQUAÇÃO À HARMONIA E SERENIDADE
DA NATUREZA = VALORIZAÇÃO DA VIDA NO CAMPO.
CARACTERÍSTICAS
IMITAÇÃO DOS CLÁSSICOS: AUTORES CONSAGRADOS DA
ANTIGUIDADE GRECO-ROMANA MODELO MÁXIMO.
“INUTILIA TRUNCAT” (CORTAR O INÚTIL)
“CARPE DIEM” (APROVEITAR O DIA)
“FUGERE URBEM” (FUGIR DA CIDADE)
“AUREA MEDIOCRITAS” (VIDA MATERIALMENTE SIMPLES,
MAS RICA EM REALIZAÇÕES ESPIRITUAIS)‫‏‬
USO EVTUAL DA MITOLOGIA CLÁSSICA
CARACTERÍSTICAS
A AUSÊNCIA DE SUBJETIVIDADE: RENÚNCIA DO “EU
POÉTICO” E ADOÇÃO DE UMA
PERSONALIDADE
PASTORIL.
O POETA DEVE EXPRESSAR APENAS SENTIMENTOS
COMUNS E GENÉRICOS.
AMOR
GALANTE
(CONVENCIONAL):
EDUCADAS E DISCRETAS.
DECLARAÇÕES
SURGIMENTO DE ACADEMIAS E ARCÁDIAS LITERÁRIAS.
Características da linguagem árcade.
 Linguagem simples
 Convencionalismo
 Volta aos valores clássicos
 Bucolismo
 Pastoralismo
 Presença da mitologia grega
 Uso de pseudônimo
Resgate de temas clássicos
 Fugere urbem
Aurea mediocritas
 Locus amoenus
 Inutilia truncat
 Carpe diem
ARCADISMO NO BRASIL
CONTEXTO
AUTORES & OBRAS
Contexto Histórico
O estudo da literatura brasileira no século XVIII deve levar
em conta dois fatos:
Um, de ordem particular, a descoberta do ouro no Brasil e
sua exploração intensiva;
E outro, de ordem geral, a profunda revolução no plano do
pensamento e das mentalidades vivida pela Europa nesse
século que se convencionou chamar de Século das Luzes
ou da Ilustração.
A descoberta do ouro na região das “minas gerais” ativou
toda a economia, o comércio e a vida na colônia e deu-lhes
um novo dinamismo.
Em vez de fixar as famílias no isolamento dos engenhos e
fazendas, como ocorreu com a cana-de-açúcar, fez os
homens fundarem vilas e cidades e passarem a viver nelas.
PRINCIPAIS POETAS ÁRCADES BRASILEIROS
Cláudio Manuel da Costa - pseudônimo - Glauceste
Satúrnio (Musa inspiradora: Nise)
 Tomás Antônio Gonzaga - pseudônimo - Dirceu (Musa
inspiradora: Marília)
 Manuel Inácio da Silva Alvarenga - pseudônimo Alcindo Palmireno (Musa inspiradora: Glaura)
 Inácio José Alvarenga Peixoto - Eureste Fenício (Musa
inspiradora: Bárbara)
 Basílio da Gama - pseudônimo - Termindo Sipílio.
 Frei de Santa Rita Durão
ARCADISMO NO BRASIL
DECORRÊNCIA
DA
ATIVIDADE
ENRIQUECIMENTO DAS CIDADES.
MINERADORA
(MG)
=
SURGIMENTO DE NOVAS CLASSES: PROFISSIONAIS LIBERAIS =
ROMPIMENTO COM O DUALISMO: SENHOR-ESCRAVO.
RELAÇÃO COM A INCONFIDÊNCIA MINEIRA = NECESSIDADE DE
INDEPENDÊNCIA.
LITERATURA = SISTEMA LITERÁRIO: EXISTÊNCIA CITADINA
INTENSIFICANDO AS RELAÇÕES SOCIAIS = SURGIMENTO DOS
“SARAUS” = MÚSICA E POESIA = SURGIMENTO DOS PRIMEIROS
NÚCLEOS PERMANENTES E REGULARES DE UM PÚBLICO
INTERESSADO EM ARTE (LITERATURA)‫‏‬.
PRIMEIRO E DECISIVO PASSO NO PROCESSO DE FUNDAÇÃO DA
LITERATURA BRASILEIRA.
AUTORES
POESIA LÍRICA
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
PSEUDÔNIMO PASTORIL: GLAUCESTE SATÚRNIO
MUSA: NISE
OBRAS: Obras (1768)
.... mas, temendo me condenes o muito uso das metáforas,
bastará, para te satisfazer, o lembrar-te que a maior parte
destas “Obras” foram compostas ou em Coimbra, ou pouco
depois, nos meus primeiros anos, tempo em que Portugal
apenas principiava a melhorar de gosto nas belas letras. É
infelicidade que haja de confessar que vejo e aprovo o
melhor, mas sigo o contrário na execução.
Vila Rica (1839)
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA, advogado, magistrado e poeta,
nasceu em Vila do Ribeirão do Carmo [hoje, Mariana], em 5 de
junho de 1729, e faleceu em Ouro Preto, MG, em 4 de julho de
1789.
CARACTERÍSTICAS
Nos sonetos de Cláudio Manuel da Costa o pastor aparece como
vítima do Amor.
O sentimento a ser expresso, geralmente, são as dores do amor
do pastor por uma pastora que não corresponde e se mantém
inflexível ante aos apelos do amante.
Paralelismos (repetição de ideias e palavras que correspondem
quanto ao sentido) e comparações.
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
(1729 – 1789)‫‏‬
POETA DE TRANSIÇÃO: UTILIZAÇÃO
ESTÉTICOS DO ARCADISMO.
DE
PRINCÍPIOS
INFLUÊNCIAS BARROCAS: O SOFRIMENTO
INFLUÊNCIACAMONIANA: GOSTO PELA ANTÍTESE E PELO
SONETO.
É RACIONALMENTE ÁRCADE E EMOTIVAMENTE BARROCO.
TEMAS BARROCOS:
O DESENCANTO COM A VIDA;
A BREVIDADE DOLOROSA DO AMOR;
A RAPIDEZ COM QUE TODOS OS SENTIMENTOS PASSAM.
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
O SOFRIMENTO BARROCO:
“Ouvi pois o meu fúnebre lamento
Se é que de compaixão sois animados.”
A IMPOSSIBILIDADE AMOROSA:
“Nise? Nise? Onde estás? Aonde espera]
Achar-te uma alma que por ti suspira,”
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
AS ANTÍTESES (A DUREZA DA PEDRA E A TERNURA DO
CORAÇÃO):
"Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano;
Vós que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei: que Amor tirano
Onde há mais resistência mais se apura.
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
A PEDRA COMO SÍMBOLO:
Contradição: Formação intelectual ocidental x inconsciente preso
à pátria, preferência por imagens e cenários nos quais
predominam a pedra, a rocha e os penhascos, sua memória é
feita de rochas e pedras de Minas Gerais.
CONCLUSÃO: poemas europeizados com símbolos das raízes
brasileiras.
XXVI
Não vês, Nise, este vento desabrido,
Que arranca os duros troncos? Não vês esta,
Que vem cobrindo o céu, sombra funesta,
Entre o horror de um relâmpago incendido?
Não vês a cada instante o ar partido
Dessas linhas de fogo? Tudo cresta,
Tudo consome, tudo arrasa, e infesta,
O raio a cada instante despedido.
Ah! não temas o estrago, que ameaça
A tormenta fatal; que o Céu destina
Vejas mais feia, mais cruel desgraça:
Rasga o meu peito, já que és tão ferina;
Verás a tempestade, que em mim passa;
Conhecerás então, o que é ruína.
XIV
Quem deixa o trato pastoril, amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.
Que bem é ver nos campos transladado
No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade.
Ali não há fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Tomás Antônio Gonzaga, nasceu na cidade do Porto (Portugal)
em 1744 e faleceu em Moçambique, em 1810. Fez os estudos
primários no Colégio dos Jesuítas(?), em Salvador (BA), e
formou-se em Direito na Universidade de Coimbra (Portugal) em
1768.
OBRAS:
Marília de Dirceu
(Parte I – 1792; Parte II – 1799; Parte III – 1812)
Cartas Chilenas (1845)‫‏‬
Características da poesia de Tomás Antônio Gonzaga.
 A poesia de Tomás Antônio Gonzaga, em comparação e
contraste com a de Cláudio Manuel da Costa, realiza com graça e
equilíbrio o novo gosto pelo “estilo simples” e “natural”.
Sua expressão é direta, sem grandes inversões ou contorcimentos
sintáticos das frases, seu vocabulário é acessível, desprovido de termos
raros e cultos e o sentido, na maior parte das vezes, é claro.
 O sentido está antes voltado para convencer a sua pastora do valor e da
sinceridade dos argumentos com que defende o seu amor, e para o agrado
e encanto do leitor, que simpatiza com a delicada musicalidade da lira e
bom senso do leitor.
 Tomás Antônio Gonzaga aproxima e usa a sua experiência amorosa
pessoal ─ como base de suas composições poéticas sobre o amor de um
quarentão com fortuna relativamente modesta por uma jovem rica ─ como
base das suas composições poéticas sobe o amor de Dirceu por Marília.
 Essa mistura de elementos da vida do poeta com elementos da
convenção poética , de forma bastante equilibrada e contida, acentua muito
o senso de realidade dos poemas, levando-nos a confundir Dirceu com
Tomás Antônio Gonzaga e Marília com Maria Dorotéia Joaquina
Seixas.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
MARÍLIA DE DIRCEU: PARTE I
Texto árcade + dimensão romântica
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
 Toda escrita em Vila Rica, com Gonzaga ainda em liberdade,
em um tom otimista e afirmativo.
 Presença
de elementos árcades: o canto da natureza
convencional, a vida pastoril, a recusa em intensificar a
subjetividade, a galanteria, o racionalismo neoclássico e a
clareza do estilo.
 Liras autobiográficas dentro dos limites que as regras árcades
impunham à confissão pessoal.
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
Em suas liras, um pastor (o próprio poeta) celebra, em tom
moderadamente apaixonado, as graças da pastora Marília, que
conquistara seu coração:
“Tu, Marília, agora vendo
Do Amor o lindo retrato
Contigo estarás dizendo
Que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que Cupido é Deus suposto:
Sé há Cupido, é só teu rosto
Que ele foi quem me venceu.”
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
A EXPRESSÃO DO AMOR:
 Impulsos afetivos nos limites do amor galante.
 A expressão sentimental vale-se de alegorias mitológicas
(Cupido)‫‏‬.
 Há um conjunto de frases feitas e lugares-comuns sobre os
encantos da amada, sobre as qualidades do pastor Dirceu e
sobre a felicidade do futuro relacionamento entre ambos.
 Há um esforço por exaltar as qualidades da vida familiar, do
casamento, das pequenas alegrias que sustentam um lar.
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
Pastoralismo & Estabilidade econômica:
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado,
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
IDEOLOGIA MATERIALISTA BURGUESA & VALORES
AFETIVOS:
“É‫‏‬bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais que um rebanho, e mais que um trono.”
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
O aflorar da sensualidade = desejo de confidência &
atrevimento erótico:
“Ornemos nossas testas com as flores,
E façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.”
MARÍLIA DE DIRCEU – PARTE I
O CARPE DIEM:
“Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias que vêm tarde já vem frias,
E pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça!”
O Locus Amoenus (o lugar ameno, paraíso bucólico) é muito
frequente e vem definido literalmente desde o primeiro verso da
estrofe abaixo:
Num sítio ameno
cheio de rosas,
de brancos lírios,
murtas viçosas,
dos seus amores
na companhia,
Dirceu passava
alegre o dia.
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE II
A tristeza domina a segunda parte do poema, toda ela
escrita na prisão.
Motivo básico: as agruras vividas por Dirceu.
Tendência maior à confissão + tom de desabafo.
Pré-romantismo:
sentimentais
passagens
mais
subjetivas
e
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE II
TENDÊNCIA PRÉ-ROMÂNTICA = SENTIMENTALISMO:
“Eu tenho um coração maior que o mundo,
Tu formosa Marília, bem o sabes:
Um coração, e basta,
Onde tu mesma cabes.”
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE II
AS PERDAS DO PASTOR DIRCEU:
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro
Fui honrado Pastor da tua Aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE III
Publicada em condições confusas.
Reúne material variado e de menor valor expressivo,
nada acrescentando ao sentido final da obra.
Proposta de abandono da vida no campo.
Vida na cidade = Dirceu = advogado = Marília = sua
“gostosa companhia.”
MARÍLIA DE DIRCEU PARTE III
“Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grandes livros,
E decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus Consultos,
Tu me farás gostosa companhia,
Lendo os fastos da sábia, mestra História,
Os cantos da poesia.”
CARTAS CHILENAS
Todo o fingimento poético cerca a elaboração desses textos:
neles, Gonzaga assina com o pseudônimo de Critilo e dirige-se a
Doroteu (o poeta Cláudio Manuel da Costa) que vivia
supostamente em Espanha. Critilo critica a administração de
Fanfarrão Minésio (Luís da Cunha Meneses) que ele diz ser
“general do Chile”. Onde se lê Chile, leia-se província de Minas
Gerais; onde se lê Santiago, leia-se Vila Rica (atual Ouro Preto).
A sátira das Cartas chilenas incide diretamente sobre a figura do
governador Luís da Cunha Meneses, cujas ações são
continuamente condenadas pelo narrador Critilo. Não há,
portanto, qualquer intenção ligada à condenação do sistema
colonial a que estava submetido o Brasil: o que o texto pretende
é criticar o mau governo, principalmente no que se refere ao
desrespeito às leis do Reino Português.
CARTAS CHILENAS
Essa crítica é decorrência das concepções ilustradas, que
colocavam as leis como instrumento fundamental para a
preservação da ordem sábia e natural que organizava a vida social.
O desrespeito às leis partindo de um governante era, portanto, um
perigoso risco à harmonia do grupo social: era uma verdadeira
monstruosidade, palavra e imagem que o narrador emprega
freqüentemente.
SILVA ALVARENGA (1749-1814)‫‏‬
Considerado como o mais brasileiro dos árcades, pela sensibilidade
rítmica de seus versos, Silva Alvarenga, cujo pseudônimo árcade era
Alcino Palmireno, ficou conhecido por uma única obra, Glaura,
publicada em 1799, composta de rondós e madrigais (“composições
poéticas que encerram um pensamento delicado, terno ou
galante/canções pastoris”).
A obra Glaura revela um lirismo de inspiração galante, onde o poeta
Alcino celebra a pastora Glaura, que se esquiva num clima de galante
sensualidade. O refinamento da galanteria, o detalhismo acentuado e
uma relativa superficialidade temática permite que se considere o estilo
de Silva Alvarenga um exemplo do chamado rococó (“excesso de
ornatos” - “acúmulo ornamental”).
Por outro lado, há quem defenda que em função de sua
espontaneidade e pronuncia quase sentimental, aliadas a uma certa
melancolia, o poeta deva ser incluído num espaço pré-romântico.
AUTORES
A ÉPICA ÁRCADE
BASÍLIO DA GAMA (1741-1795)‫‏‬
Basílio da Gama, Nasceu em 8 de abril de 1741, em São José
do Rio das Mortes (hoje Tiradentes), Minas. Morreu em Lisboa,
em 1795. Estudou com os jesuítas: era noviço quando Pombal
decretou a expulsão dos padres do Brasil.
Em 1795, expulsos os jesuítas, segue para Roma, onde seus
mestres fazem que seja aceito na Arcádia Romana (fundada em
1690).
Em Lisboa, é preso por suspeição de jesuitismo e condenado ao
degredo. Salva-se dirigindo um Epitalâmio (poema nupcial) à
filha do Marquês de Pombal.
Nome Árcade: Termindo Sipílio.
BASÍLIO DA GAMA (1741-1795)‫‏‬
O ponto alto da obra literária de Basílio da Gama é o texto O
Uraguai, concebido originariamente como um poema épico
destinado a celebrar a vitória militar de Gomes Freire de
Andrade, Comissário Real, contra os índios da Colônia de Sete
Povos das Missões do Uruguai.
Localizadas a leste do rio Uruguai, a região hoje pertence ao
estado do Rio Grande do Sul, essas missões agrupavam sete
povoações habitadas por índios guaranis e jesuítas espanhóis.
A origem do conflito está no tratado de Madri, de 1750, segundo
o qual Portugal entregaria a Colônia do Sacramento à Espanha
em troca das terras onde estavam os Sete Povos das Missões;
diante da resistência indígena e jesuítica, portugueses e
espanhóis organizaram uma campanha militar que se estendeu
de 1752 a 1756. O Uraguai narra os episódios finais dessa
campanha militar e a consequente anexação dos territórios à
Coroa portuguesa.
BASÍLIO DA GAMA
O poema épico O Uraguai tem dois objetivos básicos: a defesa e
a exaltação da política pombalina e a crítica virulenta aos
jesuítas, seus antigos mestres.
O Uraguai, na realidade, não é um típico poema épico em sua
estrutura, formada por apenas cinco cantos, sem esquema
regular de estrofes. Os maiores méritos formais do texto residem
justamente nessa ruptura com a tradição camoniana da epopeia
em língua portuguesa: Basílio da Gama criou um texto inovador ,
que explora formas e ritmos de maneira até então inéditas.
No aspecto formal, O Uraguai não apresenta nenhum esquema
estrófico regular; seus versos são brancos (sem rima) e, ainda
que seja possível perceber a divisão nas tradicionais partes do
poema épico (proposição, invocação, dedicatória, narração e
epílogo), essas partes não seguem as normas estritas do gênero,
revelando-se flexíveis.
O INDIANISMO EM O URAGUAI
Elemento temático muito importante: a exaltação da figura do
índio.
O poema O Uraguai, não enfatiza a guerra em si, nem as ações
dos vencedores, nem os vilões jesuítas - tratados
caricaturalmente. Ganham destaque, de fato, e descrição física e
moral do índio, o choque de culturas e a paisagem nacional.
Além disso, o autor cria passagens de forte lirismo, como a do
episódio da morte de Lindóia.
A valorização do índio e da natureza selvagem do Brasil
corresponde, por um lado, ao ideal de vida primitiva e natural
cultivado pelos iluministas e pelos árcades. Por outro lado,
porém, esses aspectos, que podemos chamar de nativistas,
prenunciam as tendências da literatura do século XIX: o
Romantismo.
PERSONAGENS
General Gomes Freire de Andrade (chefe das tropas
portuguesas);
Catâneo (chefe das tropas espanholas);
Cacambo (chefe indígena);
Cepé (guerreiro índio);
Balda (jesuíta administrador de Sete Povos das Missões);
Caitutu (guerreiro indígena; irmão de Lindóia);
Lindóia (esposa de Cacambo);
Tanajura (indígena feiticeira
A MORTE DE LINDÓIA
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
A MORTE DE LINDÓIA
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco, e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca, e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co'a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
A MORTE DE LINDÓIA
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime, e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
SANTA RITA DURÃO (1722 – 1784)‫‏‬
José de Santa Rita Durão nasceu em Cata-Preta, Minas Gerais,
em 1722. Seus estudos tiveram início com os jesuítas no Rio de
Janeiro. Formou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra e
ingressou na Ordem de Santo Agostinho.
Viajou pela Espanha, Itália e França, quando publicou seu
poema épico chamado Caramuru, em 1781, o qual tem como
subtítulo “Poema épico do Descobrimento da Bahia”, escrito no
padrão da poesia de Camões.
SANTA RITA DURÃO (1722 – 1784)‫‏‬
OBRA: Caramuru, que tem como subtítulo Poema épico do
descobrimento da Bahia, é um poema épico escrito nos moldes
camonianos: dez cantos, versos decassílabos, estrofes em
oitava-rima e estrutura convencional (proposição, invocação,
dedicatória, narração e epílogo), em que são narradas as
lendárias aventuras de Diogo Álvares Correira, náufrago no
Recôncavo da Bahia no século XVI.
Seus companheiros de naufrágio foram devorados pelos índios;
ele, porém, teria se salvado, dando um tiro de espingarda que
impressionou tanto os nativos, índios tupinambás, que passaram
a respeitá-lo e lhe deram o nome de Caramuru, que significa
“filho do trovão” ou “homem de fogo”.
O INDIANISMO EM CARAMURU
Em Caramuru, Santa Rita procura apresentar a natureza
brasileira, descrevendo o clima, a fertilidade da terra, as riquezas
naturais. Assim, alia-se à tradição dos cronistas e viajantes que
descreveram a colônia no século XVI. Interessa-se
particularmente pelo indígena, descreve seus costumes e
instituições e ressalta sua catequese. Visto que Diogo Álvares,
mesmo não sendo padre, demonstra interesse em conduzir o
índio ao caminho do cristianismo, caracterizando-se como um
consciencioso evangelizador.
MOMENTO LÍRICO = A MORTE DE
MOEMA
“Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto morib䁵ndo;
Com a mão já sem vigor, soltando o leE,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda dů mar, que irado fre࡭e,
Tornando a aparecer desde o profundo:
- Ah! Diogo ţruel! - disse com mágoa,
E sem mais vista ser, sorveu-se na água.”
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arcadismo ou neoclassicismo século xviii