Comunicado
(incêndios florestais 2013)
Isto cansa…
Para quem viu, ouviu e viveu, mas ainda não esqueceu, 2003 e 2005 e 2007 e
tudo o que aconteceu antes… o que já se disse e discutiu e as barbaridades
que se vão ouvindo… vindas de gente que pelo menos devia ter memória e
espírito crítico!
Os fogos que importa discutir
são os grandes… o que importa
efectivamente saber é porque
arde tanto e tão depressa. Mas
é muito mais fácil para todos,
discutir “como começou o fogo”,
pois interessa a todos culpar
esses
malandros
dos
Incendiários… Que apesar de
serem muito menos importantes
do que se diz, ainda são
demasiados. E assim não se
fala
da
negligência
e
responsabilidade de todos nós.
Portugal já tem reservados os fogos todos necessários para as próximas
décadas, pois nem este dispositivo de combate, nem nenhum (que possamos
pagar) será capaz de controlar a situação catastrófica em que se encontra a
paisagem que cobre grande parte do nosso território.
E as alterações que se impõem são morosas, a área é tanta, que ainda que
trabalhemos muito e depressa vai demorar muito tempo até conseguir
resultados efetivos e todos os próximos anos vão ter um Verão… e em todos
os Verões costuma fazer calor e depois vem o Vento Leste e a baixa Humidade
e se vierem também as Alterações Climáticas… Uui…
Continuamos a discutir os sintomas da doença, em lugar de procurar a causa e
os remédios que a tratem.
Chega a ser doloroso ouvir as noticias, comentários e propostas que vão
surgindo…
As transformações sócio económico que aconteceram ao mundo rural são de
uma enorme magnitude, no entanto, como aconteceram lentamente, são hoje
negadas de forma veemente como se tivéssemos tido sempre esta
insustentável paisagem carregada de combustível. Convêm lembrar que há
apenas cem anos as áreas de Pinhal eram muito poucas e há 60 anos quase
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(incêndios florestais 2013)
não existiam Eucaliptos e entretanto estas duas culturas invadiram a nossa
paisagem.
Para o futuro sobram dois caminhos:
Ou abandonar definitivamente estes territórios que serão cada vez mais
percorridos regularmente por fogos, nos quais pela recorrência tenderá a
apenas sobreviver uma vegetação sem qualquer interesse económico – Esta
solução permitiria, poupar recursos no combate mas significaria desistir de uma
enorme parcela do território nacional.
Ou então procurar atenuar efectivamente o impacto dos fogos e reduzir
significativamente (não a área ardida) mas os seus custos económicos e
ambientais.
A solução para um problema da dimensão e complexidade dos fogos em
Portugal não é, nem poderia ser, única ou simples.
Importa perceber que são necessárias muitas e concertadas alterações, em
muitas áreas, de que se destaca, em especial, a questão da posse e gestão da
terra, pela posição basilar que ocupa.
Sim, é fundamental parar de falar e fazer leis para um mundo rural moribundo
como se este estivesse como era há 50 anos atrás. Hoje na esmagadora
maioria dos territórios mais atingidos pelos incêndios vive apenas uma
população fortemente envelhecida, que é proprietária de apenas uma parte
(muitas vezes pequena) desses territórios.
Os proprietários de grande parte das áreas que vemos arder já não vivem
sequer no mundo rural, saíram… estão na Vila, na Cidade, na Capital, estão
espalhados pelo Mundo! São médicos, professores, caixas de hipermercado,
deputados, motoristas, pedreiros…. Mas continuam a ser proprietários e
legitimamente muitos deles esperam inclusivamente vir a ter como no passado
rendimento destas propriedade (sim porque como é bem sabido… A floresta dá
rendimento sem trabalho!)
Não interessa ao mundo rural, de forma alguma, perder o enorme potencial que
representam as ligações emocionais e afectivas destes milhões de
proprietários ausentes, apesar de a esmagadora maioria nunca mais voltar em
definitivo. Temos que ter a inteligência de saber fazer com que continuem
proprietários, mas encontrar formas de os substituir quando é necessário fazer
alguma coisa nas suas propriedades.
Sim é possível! da mesma maneira que é possível fazer Bancos ou Empresas
com o dinheiro dos outros, com sociedades anónimas, com acções e títulos de
participação e fundos imobiliários. Mas é necessária muita organização e
transparência para cativar e manter a confiança das pessoas. È possível
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(incêndios florestais 2013)
separar a questão da posse da terra da sua gestão, desde que se criem
mecanismos aceitáveis e aliciantes. Desde que respeitem os direitos
inequívocos dos proprietários.
Porque a floresta como cultura extensiva pode beneficiar muito dos ganhos de
escala, temos de, com carinho e muita paciência, explicar a toda a gente que
as parcelas de terreno pequeninas em que se encontra organizada a nossa
floresta inviabilizam o ordenamento e impossibilitam ganhos que só uma maior
escala pode trazer. Mas que é possível continuar proprietário da terra e receber
a sua produção apesar de estar ausente e o trabalho ser feito por outros. E por
isso não podemos deixar morrer as ZIF – Zonas de Intervenção Florestais, mas
pelo contrario temos que ultrapassar os actuais constrangimentos e construir
novas formas de gestão para o território.
É fundamental ajudar também os proprietários que têm condições para gerir as
suas propriedades a obter ajuda técnica e financeira, para melhorar a
produtividade e rentabilidade das suas parcelas.
Temos de interiorizar que a aldeia já não tem força por si, para modelar a
paisagem à sua volta. Pelo contrário, em grande parte delas, a floresta está a
entrar pelos quintais das casas adentro.
É importante dizer devagarinho, a quase toda a gente, que a floresta não é
como se fosse um “pipi” que tem que estar limpinho… e ao qual se faz uma
limpeza diária….
Mas ao pé das casas… sim, aí sim, tem que estar tudo limpinho e arrumado.
A floresta apenas poderá suportar uma limpeza localizada, nos sítios
estratégicos de modo a criar descontinuidade, porque a sua rentabilidade é
baixa. E se a floresta não tiver rentabilidade… também não vai ter
sustentabilidade…
Temos de gritar bem alto que NÃO É POSSIVEL TER FLORESTA, SEM
DESCONTINUIDADE, EM ÁREAS TÃO EXTENSAS num clima como o nosso,
que tem que existir compartimentação e gestão da paisagem.
Temos de utilizar zonas com outras actividades, nomeadamente agricultura e
pastorícia e tudo o que for viável, para criar descontinuidade, para baixar o
risco e viabilizar a floresta e com isso criar sustentabilidade no território.
Temos que explicar de mansinho, às nossas criancinhas, que na maior parte
do nosso País não devemos plantar mais árvores … pois já temos árvores a
mais, que a seguir aos fogos nascem milhões de sementes, e que é necessário
e urgente retirar as plantas em excesso. Porque senão nunca iremos ter uma
floresta viável.
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(incêndios florestais 2013)
Temos de aproveitar todas as oportunidades para dizer que existirem apoios
para florestação de terras agrícolas é importante em alguns locais do nosso
País, mas é quase criminoso em grande parte do território promover essa
situação.
Temos de explicar com paciência aos nossos governantes que o investimento
na floresta, apesar de ser muito importante para o País, é efetivamente muito
pouco aliciante para os proprietários porque os riscos são enormes, a
rentabilidade é baixa e os períodos de retorno são, no caso das áreas ardidas
recentemente, quase sempre para além do horizonte de vida do proprietário
(25/30 anos)… Para que eles possam explicar isto em Bruxelas e as Ajudas
para ao sector subam para valores minimamente aliciantes.
Temos que continuar a fazer muita coisa que estamos a fazer bem, como
envolver os Municípios nesta problemática, pois eles têm competências e
portanto obrigações na gestão e ordenamento do território. Temos que
continuar a formar gente em fogo controlado e fogo táctico, e a utilizar os
bulldozers para apagar fogo e aprender a planear o combate em função da
situação e a construir e utilizar cartografia digital para isso ser possível.
Temos de dizer a toda a gente que apesar de não ser suficiente… temos que
manter os caminhos e pontos de água, e Sistemas de Vigilância eficazes e
uma capacidade de Primeira Intervenção de excelência e Bombeiros com bons
carros e aviões e helicópteros.
E à medida que formos gerindo melhor o nosso território poderemos poupar um
pouquinho em tudo isso… Mas a floresta mesmo ordenada e compartimentada,
tem sempre tendência para arder num clima como o nosso.
Temos que voltar a centrar a discussão do problema nas questões do
Ordenamento, Gestão e Sustentabilidade.
Temos de acreditar que somos um Pais de gente crescida que sabe enfrentar
os seus problemas com frontalidade, coragem e capacidade de decisão, que
sabe tomar medidas difíceis, e que às vezes, até consegue tomar decisões em
benefício das próximas gerações. E portanto tudo isto se resolverá…
Poderemos então duma forma digna e de cabeça levantada honrar
efetivamente todos os que têm perdido a vida no inglório combate aos
Incêndios Florestais.
Temos que continuar a acreditar…
Mas não é fácil…
E cansa… cansa muito!
Mação
05 Setembro 2013
Comunicado
(incêndios florestais 2013)
O Presidente da Direcção do Fórum Florestal
António Louro
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