A beleza do jogo e das jogadas:
uma perspectiva estética para
a Educação Olímpica
Pierre Normando Gomes da Silva
Universidade Federal da Paraíba, Brasil
0 | Abstract
The assumptions of Olympic physical education, presented
by Coubertin in Sports Pedagogy, are based on ethic and
aesthetic values. This aesthetic notion of sport has been
explored, and in particular, the features that make it a
performance, by focusing on issues such as the beauty of a
game and game settings. We understand that beauty is a
language, a system of signs or meaningful forms, in which
we want to reveal the structuring signing array of the game
world, stemming from the description of bodily actions and
inactions. Based on existential phenomenological approach,
and on Peirce’s semiotic methodology, we have carried out
an interpretation of game objects and spaces as well as facial
and movement postural gestures of players in six game
descriptions (adults and children). The results evidence that
the beauty of the game resides in its qualitative aspects,
ranging from its properties (visibility of colors and tactility of
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materials), singularities and generalities, to its referential traits
(the way the game happens: fluency, enthusiasm and grace).
The beauty of the game setting lies in its iconic qualities
(lightness and creativity) and in its indices (dedication, vigor
and communicability of each game setting). Olympic education
must enhance the contact with beauty experienced by the
sports adepts as an element of human formation, as it
enlarges one’s perception of oneself and of the world.
1 | Introdução
Com o propósito de apresentar estudos sobre a dimensão
estética da educação olímpica, analisamos a composição dos
movimentos realizados no jogo esportivo, o arranjo criado
pela sucessão das ações e inações dos jogadores. Partimos
da hipótese de que o jogo é uma construção sociocultural,
provida de sentido e significado, portanto, uma forma da
fala organizada pela interação dos sucessivos gestos, vividos
no espaço e no tempo de jogo. Para analisar a configuração
da gestualidade no jogo, decifrar seu sistema de significação
que estrutura o mundo do jogo e ordena a execução das
jogadas utilizamos a descrição fenomenológica existencial,
valorizamos a experiência vivida do jogador, sua
intencionalidade. Utilizamos também a teoria-metodologia
da semiótica, particularmente, a Gramática Especulativa
proposta por Peirce para decantar os processos de
significação do jogo (tramas, manhas e potencial
comunicativo). Analisamos tanto o funcionamento do jogo,
quanto descrevemos os gestos dos jogadores, na tentativa
de captar os sentidos que os jogadores empreendem ao
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jogar. Foram escolhidos, para análise, seis jogos: três
realizados por crianças e três por adultos e, seguindo a
orientação peirceana, os analisamos em dois níveis de
interpretação: significação e referencialidade.
A categoria significação do jogo diz respeito à análise das
propriedades internas do fenômeno. É o significado das
mensagens em si mesmas, nos seus aspectos qualitativo,
singular e geral. Na primeira análise dos jogos, levando-se
em conta seus aspectos qualitativos, observa-se a
exuberância dos gestos (expressividade dos corpos), das
cores e dos materiais dos espaços e dos objetos utilizados
no jogo: as propriedades cinéticas, sonoras, pictóricas e
fisionômicas do jogo são vivazes. Um segundo olhar para
as cenas dos jogos objetiva realçar suas especificidades
existenciais e delineamento contextual.
A categoria referencialidade do jogo analisa como é o
transcorrer do jogo percebendo a qualidade descritiva do
lúdico, que é a fluidez e o entusiasmo com que são
concatenadas as ações dos jogadores, independente de
idade, sexo ou do local do jogo. A beleza do jogo está na
presença do estado de ludicidade de como acontece o jogo.
Ao analisar as minúcias das jogadas, percebe-se que os
movimentos são realizados a partir de uma percepção dada
nos próprios movimentos, ou seja, no mesmo momento,
os jogadores correlacionam a inervação perceptiva dos
músculos à inervação criadora, daí haver uma leveza gestual
criativa. A beleza das jogadas está na intensidade com que
os jogadores as realizam, criando um ambiente
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comunicativo, numa competência empática, na qual o gesto
de um é incorporado no gesto do outro e se prolongam
por todo o campo de jogo. Consideramos, portanto, que a
educação olímpica deve valorizar a experiência de beleza
vivida pelos praticantes do esporte, como elemento de
formação humana, na medida em que amplia a percepção
de si mesmo e do mundo.
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