A pandemia do VIH/SIDA e as crianças: panorama regional
As crianças e os jovens são afectados pelo VIH/SIDA de diversas formas em diferentes
regiões do mundo. O que é comum a todas as regiões é uma falta de enfoque sobre o
modo como a pandemia está a afectar as crianças.
Crianças
menores de 15
anos que vivem
com SIDA*
Mortes de
crianças
menores de 15
anos devido à
SIDA**
Novos casos de infecções pelo
VIH em crianças menores de 15
anos**
48,000
11,300
12,900
África Ocidental e Central
650,000
160,000
200,000
África Austral e Oriental
1,200,000
290,000
360,000
CEE/CIS
8,100
1,100
1,800
Sul da Ásia
130,000
30,300
42,400
Ásia Oriental e and Pacifico
39,000
9,100
12,700
22,000
5,600
9,100
elevados
17,000
<300
<200
GLOBAL
2,100,000
510,000
640,000
ESTIMATIVAS REGIONAIS
América Latina e Caraíbas
Médio Oriente e Norte de
África
Paises de rendimentos
Note: The estimates have been rounded therefore global totals are not the exact sums of the rounded regional estimates.
*Source: 2004 Report on the Global AIDS Epidemic. UNAIDS. **Source: AIDS Epidemic Update: Dec 2004, UNAIDS
África
Na África Subsariana, a região mais duramente atingida do mundo que tem apenas
10% da população mundial, habitam mais de 60% das pessoas que vivem com VIH e
mais de 85% das crianças menores de 15 anos que vivem com a doença.
Entre 1990 e 2003, o número de crianças que na África subsariana tinham perdido pelo
menos o pai ou a mãe devido ao VIH/SIDA passou de menos de 1 milhão para mais de
12 milhões. Oito em cada 10 crianças que ficaram órfãs de SIDA vivem nesta região
africana.
Como a mortalidade provocada pela SIDA reflecte a incidência do VIH cerca de uma
década antes, a actual prevalência significa que, mesmo em países onde se regista uma
estabilização ou declínio das taxas do VIH, o número de crianças órfãs vai continuar a
aumentar durante muitos anos.
No continente africano os níveis e as tendências da infecção pelo VIH são muito
diversos. Em toda a região, as mulheres são mais afectadas pelo VIH do que os
homens. Em média, por cada 10 homens infectados há 13 mulheres a viver com VIH, e
esta diferença continua acentuar-se. As mulheres africanas estão a ficar contaminadas
em idades mais jovens do que os homens. As diferenças nos níveis de contaminação
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entre as mulheres e os homens são mais acentuadas nos jovens (entre os 15 e os 24
anos).
Nos países do Médio Oriente e Norte de África, a progressão da epidemia não tem sido
devidamente acompanhada em parte por questões culturais que impedem a discussão
de temas como a saúde sexual e reprodutiva. À excepção de poucos países, a vigilância
sistemática da evolução da epidemia não está suficientemente desenvolvida, sobretudo
em grupos de risco como o dos consumidores de drogas injectáveis. Porém, em alguns
países a infecção pelo VIH verifica-se maioritariamente nestes grupos. Por outro lado,
teme-se que o VIH possa estar a propagar-se nos homens que têm relações sexuais
com os indivíduos do mesmo sexo sem que se conheça a dimensão do problema, uma
vez que se trata de uma prática ilegal e amplamente condenada na região.
Sul e Leste da Ásia
As crianças no Sul e Leste da Ásia são o segundo maior grupo de crianças que vivem
com SIDA e que morrem da doença. Os níveis de infecção nacionais na Ásia são baixos
quando comparados com outras regiões, nomeadamente a África. Contudo, as
populações de muitos países asiáticos são tão numerosas, como na Índia e na China,
que mesmo uma baixa prevalência do VIH significa que um elevado número de pessoas
estão a viver com o vírus. O UNAIDS estima que na Índia havia 5.1 milhões de pessoas
seropositivas em 2003.
A Ásia, com 60% da população global, assiste a uma rápida escalada da epidemia o que
tem fortes implicações a nível mundial. Em países como a Indonésia, o Nepal, o
Vietname e algumas zonas da China registou-se um aumento muito acentuado do
número de infecções nos consumidores de drogas injectáveis. Na região sul da Ásia, a
progressão da epidemia em determinados grupos da população tem sido das mais
rápidas do mundo, nomeadamente entre os toxicodependentes, as pessoas envolvidas
no comércio do sexo e os seus clientes. Há ainda um desconhecimento generalizado
acerca do VIH/SIDA na região onde é fundamental diminuir o estigma que envolve a
doença.
Países como a Tailândia e o Cambodja que decidiram encarar abertamente o problema
dos comportamentos de risco como o trabalho no negócio do sexo, e a questão do
estigma e a discriminação, conseguiram um sucesso assinalável na luta contra o VIH.
Contudo, dados recentes da Tailândia revelam uma tendência crescente de
comportamentos de risco nos adolescentes de ambos os sexos e o aumento da
proporção de novos casos de infecção pelo VIH e doenças sexualmente transmissíveis
no grupo de jovens.
América Latina e Caraíbas
Na América Latina, as estatísticas regionais escondem amplas desigualdades quanto à
prevalência e ao nível e qualidade da resposta. O estudo AIDS Epidemic Update 2004
do UNAIDS revela que, actualmente, na maioria dos países da região a epidemia se tem
propagado predominantemente por via heterosexual, havendo razões para temer um
crescimento exponencial. O VIH/SIDA já passou dos grupos de alto risco para a
população em geral nas Honduras, onde cerca de 1.9 por cento da população adulta
está infectada, e no Brasil, onde as relações heterosexuais se tornaram a principal
forma de transmissão na região sul do país. A Argentina é o único país que reporta o
uso de drogas injectáveis como o principal modo de transmissão.
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Os jovens entre os 15 e os 24 anos são particularmente vulneráveis à infecção. Estimase que haverá perto de 40 milhões de crianças na América Latina que vivem e
trabalham na rua, muitas das quais recorrem ao “sexo de sobrevivência” como forma
de arranjar comida, vestuário ou abrigo. O turismo sexual é também um problema que
se tem agravado na região, e os governos locais fazem muito pouco para proteger
estas crianças que são cada vez mais vulneráveis à infecção pelo VIH.
As Caraíbas têm a segunda taxa de prevalência do VIH/SIDA mais elevada do mundo.
Na faixa etária dos 15-44, a SIDA tornou-se a principal causa de morte. O país mais
afectado é o Haiti, onde mais de uma em cada 20 pessoas com idades compreendidas
entre os 15 e os 49 anos estão infectadas. Das 280.000 pessoas que vivem com o
VIH/SIDA no Haiti, mais de 6 por cento são crianças com menos de 15 anos. A
transmissão do VIH nas Caraíbas está a verificar-se em grande medida através de
relações heterosexuais, embora o sexo entre homens - fortemente estigmatizado e, em
alguns locais considerado ilegal - continue a ser um aspecto significativo da epidemia,
ainda que não lhe seja dada a devida importância.
Apesar do número total de órfãos na América Latina e nas Caraíbas ter diminuído entre
1990 e 2003, nos países mais afectados pela SIDA esse número aumentou. Estima-se
que a proporção de crianças órfãs no Haiti seja de uma em cada seis, enquanto que nas
Guianas essa proporção é de 9 em cada 100 .
Europa de Leste e Ásia Central
Na Europa de Leste e Ásia Central o número de pessoas que vive com o VIH aumentou
muito em poucos anos.. E o que é impressionante é que mais de 80% dos casos
conhecidos de infecção pelo VIH se verificam na população com menos de 30 anos. A
Estónia, Lituânia, Federação Russa e Ucrânia são os países mais afectados, mas o VIH
continua a propagar-se na Bielorrússia, Casaquistão e Moldóvia.
A propagação da epidemia na região é fortemente alimentada pelo uso de drogas
intravenosas. Mas, em vários países, a transmissão por via sexual está a tornar-se cada
vez mais comum, especialmente entre os toxicodependentes e os seus parceiros. Na
Rússia, as mulheres representam uma percentagem cada vez maior dos novos casos de
infecção diagnosticados – que, entre 2001 e 2003, passaram de um em cada quatro
para um em cada três.
Países de rendimento elevado
Contrariamente ao que se verifica noutras regiões, a grande maioria das pessoas que
vivem com o VIH nos países com rendimentos mais elevados que precisam de terapia
antiretroviral não têm dificuldade de acesso à medicação, pelo que se mantêm com
saúde e sobrevivem mais tempo do que as pessoas infectadas noutras regiões.
Segundo o Relatório da UNAIDS publicado em 2004 sobre a Global AIDS Epidemic, as
infecções estão a aumentar nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. Nos EUA,
estima-se que, entre 2001 e 2003, o número de pessoas a viver com o VIH terá
passado de 900.000 para 950.000. Metade do total das novas infecções dos últimos
anos ocorreram na comunidade afro-americana. Na Europa Ocidental, em 2001 viviam
com o VIH 540.000 pessoas, número que em 2003 aumentou para 580.000.
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