PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
A visita domiciliar do enfermeiro à puérpera e ao recém-nascido
The home visits of nurses to given birth and to the newborn
Las visitas domiciliarias de las enfermeras y de dar a luz al recién nacido
Tânia Maria Melo Rodrigues
Enfermeira, Mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí (UFPI). Enfermeira da
ESF e da Maternidade Dona Evangelina Rosa em
Teresina (PI). End. Rua Major Osmar Félix, 24. Conj.
DER. Monte Castelo. Email: tmelorodrigues@hotmail.
com
Lídia Maria Oliveira do Vale
Enfermeira Graduada na Faculdade NOVAFAPI –
Teresina/PI.
RESUMO
Este estudo teve como objetivos conhecer e descrever a prática da Visita Domiciliar do enfermeiro à
puérpera e ao Recém-nascido na Estratégia Saúde da Família e discutir se essa prática atende às normas do Ministério da Saúde. Na produção dos dados utilizou-se a entrevista semiestruturada, com
dez enfermeiros do município de Teresina. Na análise, as falas foram distribuídas em três categorias:
a prática da visita domiciliar do enfermeiro à puérpera; a prática da visita domiciiar ao recém nascido
e instrumentos mediadores do cuidado domiciliar do enfermeiro à puérpera e ao recém nascido. Os
resultados indicam que os enfermeiros realizam a prática da visita domiciliar à puérpera e ao recém
nascido, mas priorizam o exame físico da puérpera. Sugere-se que o enfermeiro, ao realizar a visita
domiciliar, tenha um cuidado mais ampliado que possibilite ir além da dimensão obstétrica.
Descritores: Visita domiciliar. Saúde da Família. Puerpério. Recém-nascido. Enfermagem.
Raimunda Andréa Rodrigues Leitão
Enfermeira Graduada na Faculdade NOVAFAPI –
Teresina/PI.
Rhavena Maria Oliveira da Silva
Enfermeira Graduada na Faculdade NOVAFAPI –
Teresina/PI.
Silvana Santiago da Rocha
Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem
Anna Nery na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Professora do Programa de Pós Graduação
Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal
do Piauí.
ABSTRACT
This study aimed to understand and describe the practice of home visits of the nurse and given birth
to the newborn in the Family Health Strategy and discuss whether the practice meets the standards
of the Ministry of Health. In generating the data using the semi-interview with ten nurses from the
city of Teresina. In the analysis, the words were divided into three categories: the practice of home
visits given birth to the nurse; the practice of the home visits and newborn instruments mediators
of the home care nurse and given birth to newborns. The results indicate that nurses carry out the
practice of the home visits given birth and the newborn, but prioritize the physical examination of
puerperal women. It is suggested that the nurse, to perform the home visits, have a more extended
care beyond enabling the size obstetric.
Descriptors: Home visits. Family Health. Puerperium. Newborn. Nursing.
RESUMEN
José Ivo dos Santos Pedrosa
Doutor pela Universidade Estadual de Campinas/
UNICAMP. Docente do Mestrado em Enfermagem
da UFPI.
Este estudio tuvo como objetivo comprender y describir la práctica de visitas a domicilio de la enfermera y de dar a luz al recién nacido en la Estrategia Salud de la Familia y se examinará si la práctica
cumple las normas del Ministerio de Salud. En la generación de los datos mediante la entrevista
semi-con diez enfermeras de la ciudad de Teresina. En el análisis, las palabras se dividen en tres
categorías: la práctica de la visitas a domicilio ha dado a luz a la enfermera, la práctica de la visitas
a domicilio y recién nacido instrumentos mediadores de la enfermera de cuidados en el hogar y de
dar a luz a los recién nacidos. Los resultados indican que las enfermeras realizan la práctica de la
visitas a domicilio dado a luz y el recién nacido, sino priorizar el reconocimiento físico de puérperas.
Se sugiere que la enfermera, para llevar a cabo la visitas a domicilio, con una atención más extendido
más allá de que el tamaño obstétrica.
Descriptores: Visitas a domicilio. Salud de la Familia. Puerperio. Recién nacido. Enfermería.
Submissão: 24.03.2010
Aprovação: 13.09.2010
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.2, p.21-26, Abr-Mai-Jun. 2011.
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Rodrigues, T. M. M.; et al.
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INTRODUÇÃO
Em 1994, como forma de reorientar o modelo de atenção no espaço político-operacional, o Ministério da Saúde lançou o Programa de
Saúde da Família (PSF). Em 1998 esse programa passou a ser chamado
de Estratégia Saúde da Família (ESF), com o objetivo de implementar
os princípios do Sistema Único de Saúde (integralidade, universalidade,
equidade e participação social) e inclui como um dos instrumentos a visita domiciliar entre as atividades atribuídas à equipe de Saúde da Família
(SAKATA et al., 2007; SCHERER; MARINHO; RAMOS, 2005).
A Visita Domiciliar (VD) é um instrumento de intervenção fundamental na saúde da família e na continuidade de qualquer forma de
assistência e/ou atenção domiciliar à saúde, sendo programada e utilizada com o intuito de subsidiar intervenções ou o planejamento de ações
(GIACOMOZZI; LACERDA, 2006; SOUSA; LOPES; BARBOSA, 2004; FERNANDEZ et al., 2003).
O atendimento em domicílio, realizado pelos profissionais que integram a equipe de saúde, pode ser dividido nas seguintes modalidades:
Atendimento Domiciliar, Internação Domiciliar, Acompanhamento Domiciliar e Vigilância Domiciliar (GIACOMOZZI; LACERDA, 2006; FERNANDEZ et al., 2003). Define-se Vigilância Domiciliar como sendo o comparecimento de um integrante da equipe no domicílio, para realizar ações de
promoção, prevenção, educação e busca ativa da população de sua área
de responsabilidade. Dentre essas ações, podem-se citar: ações preventivas, como as visitas às puérperas, e busca de recém-nascidos, e também
ações de acompanhamento dos egressos hospitalares (FERNANDEZ et
al., 2003; SAVASSI; DIAS, 2006).
A visita puerperal constitui uma das atividades que compõem a
atuação da equipe de enfermagem na ESF. Ela deve se realizar no primeiro momento da assistência à criança, constituindo o trinômio “mãe-filho-família”, quando são observados e abordados fatores relacionados
à puérpera, ao bebê e à família. Nessa ocasião, a mãe já é orientada a
levar seu filho, com 15 dias de vida, à Unidade de Saúde da Família (USF),
para que se inicie o acompanhamento (MELLO; ANDRADE, 2006).
O Ministério da Saúde recomenda uma visita domiciliar na primeira semana após alta do bebê. No entanto, se o recém-nascido (RN) estiver
classificado como de risco, essa visita deverá acontecer nos primeiros três
dias após a alta. Com relação à visita puerperal, esta tem como objetivos:
avaliar o estado de saúde da mulher e do RN, assim como a interação
entre eles; orientar e apoiar a família para amamentação e cuidados básicos com o RN; orientar o planejamento familiar e identificar situações de
riscos ou possíveis intercorrências para a adoção de condutas adequadas
(BRASIL, 2006; GUIMARÃES; PRATES, 2006).
Assim, o instrumento da VD, no contexto da atenção à saúde,
tem-se apresentado como uma prática importante para os profissionais
da ESF, e, em particular, ao enfermeiro, na possibilidade do cuidar da família e especialmente ao binômio puérpera e RN. No entanto, durante as
práticas realizadas nas visitas domiciliares à puérpera e ao RN, observou-se que não é utilizado um instrumento como roteiro para sistematizar
o cuidado de forma objetiva, atendendo às reais necessidades do grupo
em estudo.
Nesse sentido, pretende-se conhecer e descrever a prática da Visita Domiciliar do enfermeiro à puérpera e ao recém-nascido na Estratégia
Saúde da Família e discutir se essa prática atende às normas do Ministério da Saúde, para assistência domiciliar ao grupo em estudo.
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2
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, descritiva, realizado
com as equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) inseridas na Coordenadoria Regional de Saúde da zona Sul do município de Teresina (PI),
setor B (equipes localizadas nas áreas centrais). Esta Coordenadoria possui
atualmente 32 equipes, compostas por médicos, enfermeiros, odontólogos, agentes comunitários de saúde, agentes de consultórios dentários e
auxiliares de enfermagem.
Os sujeitos da pesquisa foram os 10 enfermeiros da ESF, da zona
sul, setor B, do município de Teresina. Utilizou-se como critério de inclusão
desses sujeitos que eles tivessem no mínimo dois anos de experiência de
ESF. O motivo desta delimitação deve-se ao fato de se achar que a partir
desse momento os enfermeiros em estudo já terão uma maior experiência com as atividades realizadas na Atenção Básica e maior vínculo com a
comunidade, podendo assim, contribuir com o objeto de estudo da pesquisa.
A produção dos dados ocorreu nos meses de março e abril de 2009,
por meio de entrevista semiestruturada, utilizando como instrumento um
gravador do tipo Mp4. Esses dados foram analisados no período de abril a
maio de 2009, onde foram apresentados na forma de categorias.
Antes da produção dos dados, o estudo foi submetido à Comissão
de Ética da Fundação Municipal de Saúde e, após aprovação do mesmo,
foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Saúde,
Ciências Humanas e Tecnológica do Piauí – NOVAFAPI, em que foi devidamente aprovado pelo parecer n°. 0029.043.000-09, obedecendo aos
critérios da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após leitura minuciosa dos dados coletados, as falas foram classificadas através dos discursos e agrupadas em idéias comuns. Em seguida,
estas foram agrupadas em três categorias: a prática da visita domiciliar
do enfermeiro à puérpera; a prática da visita domiciliar do enfermeiro ao
recém-nascido e instrumentos mediadores do cuidado domiciliar do enfermeiro à puérpera e ao recém-nascido.
A prática da visita domiciliar do enfermeiro à puérpera
Em relação à primeira categoria, que aborda a prática da VD do enfermeiro à puérpera, trazemos uma descrição do período puerperal, que
compreende a um período de mudanças e adaptações na vida da mulher
(CLAUDIA, 2002; REZENDE; MONTENEGRO, 2003; RAVELLI, 2008; RODRIGUEZ et al., 2006). Mudanças essas que variam de acordo com o meio
em que vivem e com as necessidades próprias. Entre elas, observam-se
as necessidades educativas relacionadas aos cuidados de si e do recém-nascido.
Assim, o domicílio é considerado um importante cenário para a extensão do cuidado de enfermagem, onde a enfermeira tem como objetivo
primordial favorecer o bem-estar da puérpera, através do planejamento de
cuidados, considerando sempre o atendimento de forma individualizada
e mantendo-se alerta para discutir as eventuais dúvidas e preocupações
vivenciadas ao longo do puerpério (RODRIGUEZ et al., 2006; RODRIGUES;
SILVA; FERNANDES, 2006; NÍVEA, 2004).
Portanto, o enfermeiro, na visita puerperal, deve estar observando
na puérpera as modificações biológicas como: involução uterina, elimiRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.2, p.21-26, Abr-Mai-Jun. 2011.
A visita domiciliar do enfermeiro à puérpera e ao recém-nascido
nações dos lóquios, distensão da musculatura abdominal, diminuição do
volume sanguíneo, risco de retenção uterina, diminuição da motilidade
gastrointestinal e lactação (CLAUDIA, 2002; REZENDE; MONTENEGRO,
2003; RAVELLI, 2008).
Pode-se afirmar que o puerpério possui três períodos: imediato, tardio e remoto, em que ocorrem mudanças fisiológicas e psicológicas logo
após o parto, permanecendo até a sexta semana. Numa dessas mudanças
o útero se encontra dilatado e esvaziado, causando um processo de involução uterina, para voltar ao seu tamanho pré-gestacional (REZENDE;
MONTENEGRO, 2003; RAVELLI, 2008). Em relação aos lóquios, estes começam rubros, passam a serosos e, por fim, albos. Por sua vez, as mamas apresentam notáveis alterações em que o simples ato de amamentar poderá
trazê-las sensação de dor, incômodo e de sofrimento materno, deixando
de ser um momento de alegria. Diante disso, as orientações do enfermeiro
na VD, nesse momento, torna-se imprescindível para a minimização de
riscos referentes ao desmame precoce.
No entanto, percebeu-se nas falas dos depoentes que, durante a VD
à puérpera, os enfermeiros seguem uma avaliação própria, não tendo preocupação em seguir um roteiro sistematizado durante a VD, o que pode
ser demonstrado nos depoimentos abaixo:
Em relação à mãe a gente verifica como é que está realmente o andamento do
puerpério. Como é que está a loquiação. Se foi parto normal, se está tudo tranqüilo, se houve a episio, se não houve faz as orientações referentes aos cuidados com
o corpo dela, higiene pessoal. Se houve cesária a gente verifica como é que está
a incisão. Se tem quadro febril, como é que estão as mamas [...] e principalmente
verifica a pressão arterial. Então são coisas assim bem básicas que você tenta ver
o estado geral da mãe pra captar alguma intercorrência, alguma anormalidade.
(D 01)
A gente observa também, se foi cesariana, se está bem a cicatriz, se ela está tendo
alguma queixa [...] a gente já marca a primeira consulta dela pra fazer planejamento. Então a gente aproveita essa visita no máximo que a gente pode. (D 04)
Primeiro a gente solicita o cartão da gestante pra ver como é que está as doses da
vacina [...]. No exame físico, se ela tem edema, se ela tem pressão alta, se ela tem
algum corrimento [...] a gente tem que verificar sobre os lóquios, o mau cheiro, se
ela tem episódios de febre, se ela tem cefaléia. Náuseas, vômitos podem ter também como conseqüência de uma infecção e aí a gente faz as intervenções. (D 05)
Bem na visita nos empenhamos no sentido das orientações, principalmente
aleitamento materno, questão das vacinas e todas as orientações higiênico-dietéticas tanto para essa puérpera. (D 07)
Vale ressaltar que neste período do pós-parto além das modificações biológicas a mulher depara-se com novos desafios a serem enfrentados, ou seja, cuidar de si e do bebê, necessitando do apoio de profissionais
capacitados para auxiliarem e orientarem em suas dúvidas, seus medos e
anseios (RAVELLI, 2008).
No entanto, durante as entrevistas foi observado que apenas um dos
depoentes citou a preocupação em questionar a puérpera sobre suas dúvidas, o que mostra que na avaliação puerperal o foco está mais direcionado
para o exame físico. Tal fato pode ser vivenciado no seguinte depoimento:
A gente pergunta sobre algumas dúvidas que ela tem, ou algum problema que
ela tenha e que a gente não perceba no exame físico dela [...]. (D 06)
Estudos abordam a importância da avaliação da puérpera envolvendo uma prática individualizada, humanizada, centrada na integralidade do ser humano, a partir de suas necessidades biofisiológicas e psicossociais, tendo em vista a promoção do bem-estar e a prevenção de
complicações (RAVELLI, 2008; RODRIGUEZ et al., 2006; RODRIGUES; SILVA;
FERNANDES, 2006). Uma vez que a mulher na fase do puerpério experimenta modificações biofisiológicas, psicológicas, sociais e culturais.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.2, p.21-26, Abr-Mai-Jun. 2011.
Os enfermeiros, em seus depoimentos, relataram algumas dificuldades no que se refere às puérperas seguirem as orientações recebidas
desde o pré-natal. Este fato pode estar ocorrendo pela interferência do
poder que as mães e/ou avós exercem no convívio familiar. Fato demonstrado nos depoimentos abaixo:
[...], mas mesmo assim com todo esse aparato que a gente tem algumas não
conseguem amamentar exclusivamente. Tabus, influências do meio, recomendações de outras pessoas que tem aquela influência muito grande sobre ela, mas
a tendência é que o objetivo seja atingido o mais frequente. (D 04)
[...] a avó da criança já tinha dado “óleo de riso” pra criança, já estava introduzindo o leite, a fórmula, aí a criança já estava com diarréia, já estava ficando com
desidratação [...]. Em decorrência dessas ações, a puérpera já estava com as mamas ingurgitadas, hiperemiadas. (D 06)
Na realidade cotidiana percebe-se o poder do conhecimento popular da família sobre a puérpera, o que pode causar confronto entre o
saber popular com o saber científico, trazendo insegurança para a mulher.
No entanto, os enfermeiros demonstram preocupação durante a troca de
informações na VD puerperal, pela dificuldade em associar conhecimento
profissional às práticas de cuidado popular. Logo, mitos, tabus, cultos e
mistérios que envolvem a gestação e o puerpério, são desenvolvidos com
frequência, apesar da influência profissional em tentar impor o seu saber
(acreditam ser cientificamente corretos), entrando em conflito com a cultura popular (RAVELLI, 2008).
O enfermeiro, na prática da VD puerperal, deve apropriar-se do
reconhecimento das informações, crenças e valores familiares positivos
e buscar desmistificar o que lhe parecer negativo. Portanto, considera-se importante a participação do companheiro e familiares, inserindo-os
nos cuidados à mãe e ao bebê, proporcionando esclarecimentos por eles
solicitados, uma vez que a puérpera necessita de apoio durante todo o
processo pelo qual a mesma está passando.
A prática da visita domiciliar do enfermeiro ao RN
A prática do enfermeiro ao RN na ESF, utilizando o instrumento da
VD, tem como objetivo observar e avaliar os parâmetros fisiológicos do RN
para orientar a mãe sobre os cuidados essenciais com o bebê nos primórdios de sua vida.
Autores afirmam que o atendimento de enfermagem domiciliar é
realizado na busca de trabalhar conhecimentos, hábitos e relações familiares, em prol da saúde e da promoção da qualidade de vida da criança
(MELLO; ANDRADE, 2006; GUIMARÃES; PRATES, 2006).
Nas falas dos depoentes observou-se que os enfermeiros entrevistados demonstram conhecimento da importância da visita domiciliar ao
RN. Os relatos a seguir mostram alguns parâmetros utilizados pelos enfermeiros para avaliar o RN durante a visita:
[...] o cartão de vacina, vê se tomou as primeiras vacinas e procuro verificar no
geral dele como é que ele está, que é o exame físico na criança [...]. (D 01)
[...] a gente avalia o estado geral do RN, a freqüência respiratória, a presença dos
reflexos. Perguntamos a mãe à questão das eliminações fisiológicas, se já estão
freqüentes, principalmente com relação à diurese [...]. (D 02)
[...] é avaliado nessa visita o cartão de vacina, tanto o da gestante como o do
recém-nascido, é enfocada a importância do aleitamento materno e a importância também das imunizações, a higiene dessa criança [...]. (D 03)
[...] a gente preenche a ficha do RN, como foi que nasceu, choro, se teve alguma
complicação nesse período do nascimento até a visita [...]. (D 04)
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Rodrigues, T. M. M.; et al.
Em conformidade com o Ministério da Saúde, o profissional enfermeiro desempenha algumas atividades durante a visita puerperal, tais
como: avaliar o estado de saúde da mulher e do RN, assim como a interação entre eles; orientar e apoiar a família para a amamentação e cuidados
básicos com o RN; orientar o planejamento familiar e identificar situações
de riscos ou possíveis intercorrências, para adoção de condutas adequadas (BRASIL, 2006).
No que diz respeito ao atendimento prestado ao bebê nas consultas de enfermagem, busca-se conhecer: o estado geral do recém-nascido
e seu comportamento, situação do aleitamento, realizar avaliação física,
higiene e reflexos adequados à idade, bem como proporcionar à puérpera
a realização de cuidados práticos com o bebê, através de demonstrações
e orientações fornecidas (GUIMARÃES; PRATES, 2006).
[...] do recém-nascido eu quero vê como é que nasceu essa criança, qual foi o tipo
de parto, quando nasceu, quantos dias de vida tem, como é que está a amamentação, se está colocando alguma coisa no coto umbilical, se está seco, se já caiu,
a questão de assadura, da higiene, do corte da unha, tudo isso é orientado, como
é que está a fontanela, as eliminações fisiológicas, se está só em aleitamento
exclusivo. Oriento também o banho, o asseio, vejo a questão de IRA na criança,
a importância que tem que arrotar, as cólicas, oriento massagens pra aliviar as
cólicas, pra questão da eliminação dos flatos, vejo o cartão da criança, o peso.[...].
Como foi o nascimento dessa criança, se teve alguma intercorrência no parto, se
ele ta abaixo peso, se tem icterícia, oriento o banho de sol para a mãe e para o RN,
o banho de sol da mama.[...] a questão do RN também eu vejo como foi o Apgar,
como foi o primeiro minuto de vida dele [...]. (D 09)
No que se refere ao tempo da realização da VD do enfermeiro ao
RN, observou-se que é realizada entre a primeira e a segunda semana após
o nascimento.
[...] a gente estabelece que até no máximo sete dias do puerpério a gente deva
realizar essa visita como forma de evitar que aconteça algumas intercorrências
tanto com a mãe como com o bebê. Então esse tempo é o tempo limite que a
gente estabelece porque se houver alguns agravos à gente tem que estar percebendo de forma mais rápida e tentando intervir tanto com a mãe como com o
bebê[...] (D 01)
[...] A solicitação é feita pelo agente comunitário o mais precoce possível porque
ele é orientado a visitar a puérpera nas primeiras vinte e quatro horas após a
chegada dela da maternidade, logo após o parto, principalmente nesses dois
dias, então ele comunica a equipe. Nós temos um dia fixo por semana de visita
domiciliar, que normalmente é a terça-feira. As visitas domiciliares a puérpera
acontecem a cada uma vez por semana se for o caso ou, normalmente, a gente
chega entre a primeira e a segunda semana após o nascimento[...]. (D 02)
[...] nós tentamos fazer essa visita, nos empenhando em realizar até no máximo
dez dias. Nós sabemos que o ideal, pelo menos, era sete dias, mas às vezes nem
sempre dá sete dias [...]. (D 07)
O Ministério da Saúde recomenda uma visita domiciliar na primeira
semana após a alta do bebê (BRASIL, 2006). No entanto, se o RN tiver sido
classificado como de risco, essa visita deverá acontecer nos primeiros três
dias após a alta do bebê.
Constataram-se algumas dificuldades no cumprimento do tempo
preconizado pelo Ministério da Saúde.
[...] a gente já encontrou casa fechada. Muitas vezes, a gente vai fazer a visita
puerperal e a paciente está viajando, está em outro endereço, porque isso geralmente ocorre quando a puérpera, ela não faz o pré-natal com a gente, e aí
depois do parto volta pra sua área de origem. Às vezes está fazendo o acompanhamento do pré-natal porque a mãe mora dentro da nossa área, então ela está
durante a gravidez na casa da mãe, o marido está viajando ou está no trabalho
e ela sente-se muito só. Depois do parto ela volta pra área dela de origem e isso
atrapalha a vivencia e o acompanhamento (D 05)
[...] eu vou no meu carro porque o carro da Fundação geralmente não é disponível, porque no dia que a gente quer não tem, tem que se programar. Se eu for
esperar a programação do carro da Fundação aí é quinze dias, vinte dias, um mês
pra se visitar uma puérpera e aí demora muito [...] (D 08)
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[...] A dificuldade que é encontrada é o transporte que não vem da Coordenação
semanalmente e às vezes eu desço até no meu transporte pra realizar a visita no
período determinado [...] (D 10)
Podem-se destacar como dificultadores da assistência domiciliária:
ausência de saneamento básico e do cuidador, locais de difícil acesso e
dificuldades estruturais, culturais e financeiras (KAWAMOTO; SANTOS; MATOS, 1995; SOUSA; LOPES; BARBOSA, 2004; KLOCK; HECK; CASARIM, 2005;
MERHY; ONOCKO, 2007).
Instrumentos mediadores do cuidado domiciliar do enfermeiro à puérpera e ao RN
Essa categoria mostra que os enfermeiros utilizam instrumentos
como: tensiômetro e estetoscópio, termômetro, pacote de curativo, luva,
Ficha de Avaliação do recém-nascido, prontuários da puérpera e do bebê,
ficha perinatal, livro de registro, mapa do MDA (mapa de registro diário)
e ficha de acompanhamento. Isso pode ser evidenciado nas falas abaixo:
Basicamente o aparelho de pressão pra aferir a pressão arterial. O termômetro
e no máximo é isso. Ás vezes a gente levava o pacote de curativo pra vê se tem
alguma coisa. Você leva a luva pra fazer alguma inspeção mais detalhada da
mama. A gente tem uma Ficha de Avaliação do Recém-nascido e os próprios
instrumentos do posto que são aqueles prontuários da mãe. Levamos a ficha da
mãe onde a gente faz o registro da visita domiciliar e abre o prontuário do bebê e
tem uma ficha específica, como se fosse um “check list” onde você vai verificando
algumas coisas bem pontuais em relação ao bebê [...]. (D 01)
A gente já leva os impressos, que é a Visita domiciliar do Recém-nascido, que a
gente têm que preencher e o cartão da gestante a gente pede na hora lá, e o
prontuário a gente leva daqui mesmo que a gente não tenha feito o pré-natal
[...]. (D 05)
[...] nós utilizamos uma ficha perinatal que é da Fundação Municipal de Saúde.
Essa ficha a gente preenche, a gente faz essa avaliação baseada nesse instrumento, nesse formulário padronizado pela saúde da família. (D 07)
[...] O aparelho de pressão, geralmente eu não levo o prontuário, eu levo o livro de
registro, o mapa do MDA pra registrar a visita [...]. (D 08)
De acordo com o Ministério da Saúde, esses instrumentos são utilizados com o objetivo de permitir um acompanhamento sistematizado da
evolução da gravidez, do parto e do puerpério, com vistas à identificação
dos problemas de saúde, da puérpera e do RN (BRASIL, 2006).
No entanto, percebe-se nas falas dos depoentes que a utilização da
ficha visita domiciliar de recém-nascido em alta é trabalhada de forma sistemática pelos enfermeiros durante as VDs, o que comprova um cuidado
orientado e direcionado para este grupo.
Utilizamos um instrumento que é a ficha de acompanhamento do RN, onde nós
fazemos a avaliação do RN e pra a avaliação da puérpera, os registros da avaliação da puérpera o prontuário dela da unidade [...]. (D 02)
Utilizo aquele roteiro do recém-nascido de alta, que você faz uma avaliação rápida e precisa dele como um todo, além de fazer a avaliação de todos os reflexos,
avaliação da criança como um todo, a vacina [...]. (D 06)
Ao falar de instrumentos, entendemos estes como um recurso empregado para se conseguir um objetivo, para se alcançar um resultado.
Portanto, instrumento básico é visto como o conjunto de conhecimentos
e habilidades fundamentais para o exercício de todas as atividades profissionais (MERHY; ONOCKO, 2007).
Com este entendimento, identificou-se que os enfermeiros sujeitos
da pesquisa utilizam os termos instrumento e equipamento como sinônimos, ao expressar a utilização do tensiômetro, do estetoscópio e o do
termômetro como instrumentos, o que destoa do que é preconizado na
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.2, p.21-26, Abr-Mai-Jun. 2011.
A visita domiciliar do enfermeiro à puérpera e ao recém-nascido
literatura. Para o Ministério da Saúde, no acompanhamento periódico e
contínuo de todas as mulheres na gestação e no puerpério, tanto na Unidade de saúde como em seu domicílio, devem ser utilizados como equipamentos principais o estetoscópio e o termômetro e como instrumentos
de registro o cartão da gestante, a ficha perinatal, ficha de cadastramento
da gestante e o mapa de registro diário (BRASIL, 2006).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste estudo possibilitou conhecer como é a prática
da VD do enfermeiro à puérpera e ao RN na ESF. Nesta pesquisa os resultados mostraram que os enfermeiros, durante a visita puerperal, realizam
o exame físico na puérpera e no RN, porém, em relação à puérpera, percebeu-se em seus depoimentos que nesse momento não é utilizado pelos
enfermeiros um instrumento como roteiro para sistematizar um cuidado
de forma objetiva, atendendo às reais necessidades da puérpera.
No que diz respeito ao RN, foi possível identificar que, durante essa
avaliação, o enfermeiro utiliza como instrumento a ficha visita domiciliar
de recém nascido em alta, indicada pelo Ministério de Saúde (MS), que
prioriza os parâmetros fisiológicos essenciais na avaliação do RN que servem para orientação e direcionamento dessa prática.
Verificou-se que os enfermeiros, durante a visita pós-parto, priorizam mais o exame físico da puérpera, sem questionar suas dúvidas, preocupações, medos e anseios. Nesse sentido, entende-se que, durante a
assistência de enfermagem à mulher no período puerperal, é importante
que os profissionais enfermeiros atendam tanto suas necessidades físicas como as psicossociais, uma vez que a mulher nesse período vivencia
muitas dúvidas frente aos cuidados no pós-parto, com o RN, aleitamento
materno e planejamento familiar.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.2, p.21-26, Abr-Mai-Jun. 2011.
Constatou-se também que os enfermeiros, durante as VDs, se deparam em alguns momentos com dificuldades durante a troca de informações e experiências no domicílio da puérpera, devido à interferência
familiar em querer exercer influência no processo de cuidar.
Considerando o tempo de realização da visita puerperal, confirmou-se que os enfermeiros têm conhecimento do tempo que é preconizado pelo Ministério da Saúde e procuram realizar esta visita respeitando
este período. No entanto, foi possível identificar algumas dificuldades no
cumprimento desse tempo, como: Transporte em quantidade insuficiente
para atender à demanda da ESF nas VDs agendadas semanalmente. Outro
ponto importante é a saída da puérpera da maternidade para outro domicilio, fora da área de abrangência da equipe. Fato que impossibilita ao profissional enfermeiro realizar este cuidado no período preconizado pelo MS.
Em relação ao entendimento dos enfermeiros sobre os instrumentos e equipamentos utilizados na VD puerperal, observou-se que estes
profissionais usam estes termos de forma errônea, não sabendo diferenciar o que caracteriza um instrumento de um equipamento, apesar de saber sua importância na utilização de sua prática.
Portanto, entendemos que o enfermeiro, durante a VD à mulher
no período puerperal, deve prestar uma assistência integral e humanizada, enfocando informações sobre o puerpério que minimizem os anseios
e medos da cliente e família, promovendo um ambiente saudável para
adaptação física e emocional da mulher. Nesse sentido, ao realizar uma
assistência domiciliar com estes princípios, podemos proporcionar o bem-estar materno-infantil, reduzindo possíveis interocorrências vivenciadas
durante o período puerperal. Desta forma, esperamos que a partir deste
estudo ter contribuído para construção de um corpo de conhecimento
próprio da enfermagem que venha a dá os subsídios necessários para prática profissional do enfermeiro.
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