PORTUGUÊS/ LITERATURA
ESTUDO DO TEXTO LITERÁRIO: RELAÇÕES ENTRE
PRODUÇÃO LITERÁRIA E PROCESSO SOCIAL
TEXTO 1
Triste Bahia
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do meu estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
MATTOS E GUERRA, Gregório de. In: BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 35ª edição. 2000.
01) Embora o texto de Gregório de Mattos permita uma leitura interpretativa da sociedade brasileira
contemporânea, há dizeres que o marcam historicamente, como notamos nos vocábulos e/ou expressões:
A)
B)
C)
D)
E)
“mercante” e “abelhuda”.
“larga barra” “Bahia”.
“Brichote” e “capote”.
“açúcar” e “Deus”.
“negócio” e “negociante”.
02) Nota-se que os 3º e 4º versos da 1ª estrofe possuem, do ponto de vista da elaboração da sintaxe e da
elaboração poética da linguagem, três figuras de retórica, a saber:
A)
B)
C)
D)
E)
hipérbato – zeugma – paralelismo.
hipérbole – comparação – metáfora.
assíndeto – zeugma – personificação.
hipérbato – polissíndeto – metáfora.
catacrese – assíndeto – aliteração.
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03) A fortuna histórica da Literatura Brasileira traz em seu bojo a análise crítica do artista acerca ou de sua
terra de origem ou daquela em que faz morada.
O trecho de outro poema brasileiro que mais se assemelha ao perfil distanciadamente
reflexivo/questionador, sarcástico (embora nostalgicamente envolvido com sua terra) e conflituoso de
Gregório de Mattos é:
A) “Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá”. (Canção do Exílio, Gonçalves Dias).
B) “Bananeiras/O sol/O cansaço da ilusão/ Igrejas/O ouro na serra de pedra/ A decadência” (São José Del Rei,
Oswald de Andrade)
C) “Ó Florença! Ó Florença!/A mais humana das cidades vivas!/A mais divina das cidades mortas!” (Florença,
Raul de Leoni)
D) “De noite – aos serenos – a areia é tão fria,/Tão úmido o vento que os ares perfuma!” (Sonhando, Álvares de Azevedo)
E) “A água, o vento, a claridade,/de um lado o rio, no alto as nuvens/situavam na natureza o
edifício/crescendo de suas forças simples” (O Engenheiro, João Cabral de Melo Neto)
TEXTO 2
Navio Negreiro
Fragmentos do poema (epopeia) de Castro Alves (1869)
III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais... [...]
ALVES, Castro. Navio Negreiro. Disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm.
04) No Brasil, o Romantismo apresentou um sem-número de faces poéticas. A geração condoreira romântica
demonstra a possibilidade de se estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,
situando aspectos do contexto histórico, social e político.
Assim, pode-se afirmar que obras poéticas, com base no “Navio Negreiro”, de Castro Alves, visam:
A)
B)
C)
D)
E)
à solidão, própria à melancolia romântica, simbolizada no voo do condor.
à fuga ao egocentrismo ultrarromântico, em vista do compromisso coletivo.
o sarcasmo, pois a “orquestra irônica” do poema se refere diretamente aos latifundiários brasileiros.
à abolição do uso de hipérboles e metáforas na construção literária.
à introdução do elemento erótico na literatura brasileira.
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05) Dentre os procedimentos estético-expressivos fundamentais do fragmento do poema épico de Castro Alves
destaca-se
A)
B)
C)
D)
E)
a referência histórica explícita, a qual permite a direta conexão poema/tráfico negreiro.
a metáfora como medida para ludibriar o leitor acerca do propósito central da obra.
o tom apelativo da obra, o que permite entrever sua fragilidade discursiva e ideológica.
a retomada de imagens mórbidas e melancólicas como alusão à 2ª geração romântica.
o viés dramático-lírico, o qual conjuga a ação trágica ao lirismo declamatório do poema.
TEXTO 3
A alma encantadora das ruas, de João do Rio (1908).
(I) Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e
razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós
somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos,
com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o
sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se
transforma, tudo varia — o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos
passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações
cada vez maior, o amor da rua.
(II) "Era às seis da tarde, defronte do mar. Já o sol morrera e os espaços eram pálidos e azuis. As linhas da
cidade se adoçavam na claridade de opala da tarde maravilhosa. Ao longe, a bruma envolvia as fortalezas,
escalava os céus, cortava o horizonte numa longa barra cor de malva e, emergindo dessa agonia de cores, mais
negros ou mais vagos, os montes, o Pão de Açúcar, São Bento, o Castelo apareciam num tranquilo esplendor"
(III) "Não é uma rua onde sofrem apenas alguns entes, é a rua interminável, que atravessa cidades, países,
continentes, vai de polo a polo; em que se alanceiam todos os ideais, em que se insultam todas as verdades, onde
sofreu Epaminondas e pela qual Jesus passou. Talvez que extinto o mundo, apagados todos os astros, feito o
universo treva, talvez ela ainda exista, e os seus soluços sinistramente ecoem na total ruína, rua das lágrimas, rua
do desespero – interminável rua da Amargura".
RIO, João do. A alma encantadora das ruas, Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional (1808).
06) O 1º trecho selecionado da obra do cronista João do Rio permite compreender que sua tese a respeito do
amor pela rua se fundamenta no
A)
B)
C)
D)
E)
caráter imperturbável e indissolúvel do amor pela rua.
aspecto variável e dinâmico da rua.
legado deixado pelas gerações que amaram a cidade.
provável universalismo cultural e sentimental do autor que o corresponde com os leitores.
fato de todos serem irmãos e iguais.
07) Entre os trechos (I) e (II) há uma notável diferença descritiva, simbólica e interpretativa. Tal antagonismo
revela como o andarilho-cronista percebe as sutilezas reveladoras doas contradições da cidade.
Pode-se sintetizar tal divergência entre os trechos através da oposição:
A)
B)
C)
D)
E)
(I)
(I)
(I)
(I)
(I)
exposição jornalística x (II) contra argumentação.
narração fantástica x (II) avaliação pessoal.
idealização descritiva x (II) argumentação polemista.
ufanismo patriótico x (II) pessimismo retórico.
traço religioso x (II) aspecto mundano.
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TEXTO 4
País rico
Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem
disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e a todo instante, estamos vendo o governo
lamentar-se que não faz isto ou não faz aquilo por falta de verba.
Nas ruas da cidade, nas mais centrais até, andam pequenos vadios, a cursar a perigosa universidade da
calariça das sarjetas, aos quais o governo não dá destino, ou os mete num asilo, num colégio profissional
qualquer, porque não tem verba, não tem dinheiro. É o Brasil rico...
Surgem epidemias pasmosas, a matar e a enfermar milhares de pessoas, que vêm mostrar a falta de
hospitais na cidade, a má localização dos existentes. Pede-se à construção de outros bem situados; e o governo
responde que não pode fazer porque não tem verba, não tem dinheiro. E o Brasil é um país rico.
Anualmente cerca de duas mil mocinhas procuram uma escola normal ou normalizada, para aprender
disciplinas úteis. Todos observam o caso e perguntam:
— Se há tantas moças que desejam estudar, por que o governo não aumenta o número de escolas a elas
destinadas?
O governo responde:
— Não aumento porque não tenho verba, não tenho dinheiro.
E o Brasil é um país rico, muito rico...
As notícias que chegam das nossas guarnições fronteiriças são desoladoras. Não há quartéis; os regimentos
de cavalaria não têm cavalos, etc., etc.
— Mas que faz o governo, raciocina Brás Bocó, que não constrói quartéis e não compra cavalhadas?
O doutor Xisto Beldroegas, funcionário respeitável do governo acode logo:
— Não há verba; o governo não tem dinheiro.
— E o Brasil é um país rico; e tão rico é ele, que apesar de não cuidar dessas coisas que vim enumerando, vai
dar trezentos contos para alguns latagões irem ao estrangeiro divertir-se com os jogos de bola como se fossem
crianças de calças curtas, a brincar nos recreios dos colégios.
O Brasil é um país rico...
BARRETO, Lima. Marginália, 8-5-1920.
08) Segundo a tipologia textual e seus objetivos discursivos “País rico”, de Lima Barreto é:
A) uma narração, cujo narrador-interventor, crítico cronista, tece uma série de ironias acerca da
permanente contradição “país com riquezas” x “país rico”.
B) uma descrição detalhada da época com ênfase na observação das questões sociais, políticas e
econômicas.
C) uma descrição, por seu objetivo documental e histórico, o qual limita o texto ao seu tempo e a uma
formação social específica.
D) uma dissertação argumentativa, pois, embora possua traços ficcionais, sua intenção é o debate crítico
acerca das contradições sociais do início do século XX.
E) uma injunção, pelo caráter apelativo e imperativo, que busca a adesão do leitor para a validade de suas
ideias.
09) O Pré-modernismo traz à literatura uma grau de liberdade estética nunca antes visto. O vigor das
vanguardas europeias, a aversão dos novos artistas à literatura acadêmica e à frieza do
Realismo/Parnasianismo burguês, além das contradições de uma República corrupta e aristocrata são
motores de sua estética.
Por outro lado, no que diz respeito à linguagem, podemos dizer que Lima Barreto traz à produção literária
brasileira uma prosa
A)
B)
C)
D)
E)
clássica, cuja referência é o romance de pesquisa nacional do Romantismo.
instintiva, coloquial, dinâmica e atenta ao descalabro estrutural brasileiro.
fragmentada, caótica, a fim de ressaltar as conturbações de sua consciência.
fantástica, cujo intento era tratar simbólica e alegoricamente as grandes questões brasileiras.
alegórica, a qual é em verdade uma projeção do Brasil, não uma crítica específica.
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10) Durante o conto, é possível notar claramente a presença do discurso indireto no trecho:
A)
B)
C)
D)
“Todos observam o caso e perguntam:”
“Não há verba; o governo não tem dinheiro.”
“Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico.”
“Anualmente cerca de duas mil mocinhas procuram uma escola normal ou normalizada, para aprender
disciplinas úteis.”
E) “E o Brasil é um país rico.”
TEXTO 5
Agosto 1964
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, boutiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro - Leblon.
Viajo do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito
policial-militar.
Digo adeus à ilusão
Mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos
um artefato
um poema,
uma bandeira.
GULLAR, Ferreira.
11) A última estrofe do poema de Ferreira Gullar utiliza a estratégia retórica da:
A)
B)
C)
D)
E)
da contradição, reforçando a oposição entre arte e causa ideológica.
da comparação, a fim de notar que toda manifestação artística tem apenas valor nacional.
da metáfora, dada a comparação implícita entre literatura e espírito patriota.
ironia, metonimicamente, em função da crítica aos desígnios políticos do Brasil.
gradação para reforçar o engajamento político-ideológico da obra.
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TEXTO 6
Trecho da Minissérie Anos Rebeldes (Rede Globo)
Disponível em: http://supernerdnews.blogspot.com.br/2012/04/anos-rebeldes.html.
12) Embora linguagens artísticas diferentes, a fotografia abaixo que revela diálogo estético, expressivo, histórico
e ideológico com a obra “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga, é:
(A)
(B)
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C)
D)
E)
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TEXTO 7
Cena do filme “Eles não usam black-tie” baseado na obra teatral homônima, de
Gianfrancesco Guarnieri (1981)
Disponível em: http://blogdofredericosueth.blogspot.com.br/2012/11/eles-nao-usam-black-tie.html.
13) Na cena de “Eles não usam black-tie” (texto dramatúrgico original de Gianfrancesco Guarnieri adaptado
para o cinema por Leon Hirszman) para defender suas ideias opostas à proposta de greve do pai, Tião
afirma veementemente: “Sempre na merda! Na cadeira, meio morto de porrada, dando um duro naquela
bosta de fábrica, sem nenhum futuro, senão morrer em cima daquele no torno, pai.”
Sabendo-se que sua ideia central é a de não aderir à greve, nota-se que o personagem usa a estratégia
lógica de
A)
B)
C)
D)
E)
indução.
definição.
raciocínio dialético.
coação.
dedução.
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TEXTO 6
Brasil
Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer...
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta
Estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito
É uma navalha...
Brasil!
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada
Prá só dizer "sim, sim”
Grande pátria
Desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
Não, não vou te trair... Brasil!
CAZUZA, 1991.
14) Em relação às funções da linguagem, é possível afirmar que a última estrofe da canção “Brasil” revela,
principalmente, características
A)
B)
C)
D)
E)
emotivas, metalinguísticas e fáticas.
emotivas, apelativas e referenciais.
fáticas, metalinguísticas e referenciais.
apelativas, emotivas e metalinguísticas.
poéticas, fáticas e informativas.
15) Ainda em relação à última estrofe, em relação as suas referências ao Brasil, afirma-se que o jogo de ideias
entre “Grande pátria” e “desimportante” reside, respectivamente, na criação de
A)
B)
C)
D)
E)
um paradoxo e um hipérbato.
uma metáfora e uma metonímia.
uma hipérbole e um paradoxo.
uma falsa adjetivação e uma prefixação pejorativa.
uma profunda ironia e uma referência a vocábulo típico da oralidade do povo brasileiro
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