LITERATURA – INTERPRETAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO – TEXTOS DE APOIO
Às vezes, a interpretação de um texto deve levar em consideração aspectos históricos, biográficos ou subjacentes que se
encontram, subliminarmente, inseridos no contexto a ser considerado na interpretação. Sabendo disso, relacione os dois
textos a seguir, atentando especialmente para o(s) aspecto(s) em destaque.
INTERTEXTUALIDADE/ MUSICALIDADE/ENTONAÇÃO:
Cantiga, partindo-se (1516)
Cantiga dos olhos que choram (1951)
João Ruiz de Castelo Branco, extraído do
Cancioneiro Geral de Garcia de Resende
(À maneira de Garcia de Resende) (Guilherme de Almeida)
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
A meu corpo perguntara
(pois que triste nada achara
mais do que eu):
―Esses olhos tão-somente
―por que choram tristemente,
―corpo meu?
―nem as há na mão dorida
―que teve na despedida
―tanto dó...
―Por que assim só os olhos choram?
―Por que é que as lágrimas moram
―neles só?...‖
―Não tem lágrimas a boca
―que tanta palavra louca
―disse a alguém;
―e o coração tão coitado,
―de tanta coisa alongado
―não nas tem;
É que os olhos são janelas
e há duas meninas nelas,
sempre em vão.
É que as meninas-dos-olhos
Nos olhos e só nos olhos
É que estão...
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d'esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
VALOR SIMBÓLICO/ METAFÓRICO: Todo texto literário de qualidade carrega em si uma simbologia imagética capaz
de sintetizar sua mensagem.
A parábola do Semeador (Mateus 13)
1 No mesmo dia, tendo Jesus saído de casa, sentou-se à beira do mar;
2 e reuniram-se a ele grandes multidões, de modo que entrou num barco, e se sentou; e todo o povo estava em pé na praia.
3 E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.
4 e quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram.
5 E outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda;
6 mas, saindo o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou-se.
7 E outra caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram.
8 Mas outra caiu em boa terra, e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um.
9 Quem tem ouvidos, ouça.
Barca Bela (Almeida Garret)
Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!
ENTONAÇÃO:
Ode Triunfal ( Álvaro de Campos)
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela
Oh pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Oh pescador.
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Tenho febre e escrevo.
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes elétricas
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes
Em fúria fora e dentro de mim,
volantes,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
Ser completo como uma máquina!
De expressão de todas as minhas sensações,
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
DEFINIÇÃO/ ANÁLISE/ REFLEXÃO/ ASPECTOS FORMAIS (MÉTRICA/ESQUEMA RIMAS/RITMO…)
Motivo (Cecília Meireles)
Amor é fogo que arde sem se ver
(Luís Vaz de Camões) - Lírica
Eu canto porque o instante existe
Amor é fogo que arde sem se ver;
e a minha vida está completa.
É ferida que dói e não se sente;
Não sou alegre nem sou triste:
É um contentamento descontente;
sou poeta.
É dor que desatina sem doer;
Irmão das coisas fugidias,
É um não querer mais que bem querer;
não sinto gozo nem tormento.
É solitário andar por entre a gente;
Atravesso noites e dias
É nunca contentar-se de contente;
no vento.
É cuidar que se ganha em se perder;
Se desmorono ou se edifico,
É querer estar preso por vontade;
se permaneço ou me desfaço,
É servir a quem vence, o vencedor;
— não sei, não sei. Não sei se fico
É ter com quem nos mata lealdade.
ou passo.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
POSTURA ANTE A REALIDADE:
Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)
Vou-me embora pra Pasárgada
Mando chamar a mãe-d'água
Lá sou amigo do rei
Pra me contar as histórias
Lá tenho a mulher que eu quero
Que no tempo de eu menino
Na cama que escolherei
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
O TÍTULO
Mãos Dadas (Carlos Drummond de Andrade)
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista
da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por
serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os
homens presentes,
a vida presente.
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