Ganhos na renda fixa são mais raros do que há cinco anos
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Valor Online / Online - SP - Finanças - 12/09/2013
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Ganhos na renda fixa são mais raros do que há cinco anos
Valor Online - SP - FINANÇAS - 12/09/2013
Além da possibilidade de encontrar pechinchas na bolsa, com o suporte de fundamentos
domésticos, ganhar com os juros era mais fácil há cinco anos, em plena crise financeira
internacional. Para estimular a economia em tempos de crise, o Banco Central fez cortes
sucessivos nos juros. A meta para a Selic passou de 13,75%, em setembro de 2008, a
8,75%, um ano depois. O movimento de corte da taxa favoreceu os fundos de renda fixa,
que renderam 11,94% nos 12 meses que se seguiram à crise. A taxa básica andou no
sentido contrário nos últimos 12 meses e subiu de 7,5%, em setembro de 2012, para atuais
9%. No período, fundos de renda fixa renderam 8,35%, menos do que há cinco anos.
O movimento de queda dos juros valorizou os títulos prefixados no período da crise e,
assim os fundos que carregavam esses papéis. "Havia uma direção favorável. Hoje a
volatilidade é muito grande e o movimento dos juros é para cima", diz Carlos Eduardo
Rocha, sócio responsável pela gestora do Brasil Plural . Diante de uma inflação resiliente,
há a expectativa de elevações adicionais na Selic.
Mas, como a taxa continua em patamar de um dígito, os pós-fixados também não atraem
tanto. O Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referencial para aplicações
conservadoras, acumulou alta de 11,65% no ano que se seguiu à crise, mais fartos do que
os 7,24% dos 12 meses encerrados em agosto deste ano.
Para quem carrega até o vencimento, as NTN-Bs, títulos que rendem uma taxa prefixada
mais a variação da inflação, também eram mais rentáveis àquela época. O título mais
longo, com vencimento em 37 anos, pagava taxa real de 7,14% em 11 de setembro de
2008, ante 5,94% oferecidos na NTN-B 2050 ontem.
Para completar, a inflação somava ganhos aos investimentos no período de crise, enquanto
come boa parte deles hoje. Entre setembro de 2008 e agosto de 2009, o IPCA registrou
deflação de 0,71%. Já nos últimos 12 meses, até agosto, mostrou inflação de 3,85%.
Ao comparar 2008 e 2013, Elíseo Viciana, vice-presidente da Mapfre Investimentos, diz que
os dois períodos, ainda que diferentes, têm em comum a volatilidade, o alto grau de
incerteza e a indefinição do cenário econômico. "São dois anos em que é necessário que se
adote bastante estratégia de proteção de portfólio, já que é difícil ter previsibilidade".
Viciana afirma que, para evitar perdas em casos de mudança abrupta, é importante ao
gestor ter seu cenário-base sempre em reavaliação e realocar sua carteira com maior
frequência. "Em um ano em que a pressão por retorno é forte, é muito importante se fiar
no seu modelo de investimento, evitar entrar em modismo", diz. E para o executivo, há
hoje uma pressão por retorno parecida com a de 2008, com a diferença de que o perfil do
investidor está diferente.
"Em 2008, o mundo estava num momento positivo e aconteceu uma ruptura, um pânico, e
a dificuldade era a de como proteger o capital num cenário em que todos os preços de
ativos estavam desmoronando. Isso não acontece agora", afirma Viciana, que ressalta que,
apesar das dificuldades enfrentadas pelo Brasil, não há uma crise de confiança no sistema
financeiro internacional. "Naquela época, só importava a preservação de capital. Hoje, há
uma discussão de qual opção tem bons retornos."
A grande questão do momento, segundo Viciana, diz respeito ao comportamento dos
mercados à medida que os estímulos à economia americana forem retirados pelo Federal
Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e as taxas de juros reais voltarem ao campo
positivo.
Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora, aponta uma exaustão do nível de estímulos
econômicos por parte dos governos, o que deixa os mercados em situação mais frágil, em
caso de uma nova "pernada" da crise. "Todos os países pisaram no acelerador da política
fiscal e monetária e houve uma fragilização do mundo emergente por conta dos estímulos.
A possibilidade de reação hoje é muito menor que há cinco anos e isso se reflete inclusive
nos preços dos ativos", afirma.
Diante da perspectiva de juros mais altos no Brasil, especialmente no longo prazo, Gala
considera que o pequeno investidor encontra oportunidades para aplicar em títulos públicos,
caso carregue até o vencimento. "Foi aberta uma janela de oportunidade interessante",
afirma, ainda que também considere mais desafios no contexto atual. "A fase de ouro,
especialmente para a renda variável, passou, e a renda fixa está mais complexa", comenta.
Para o estrategista de renda variável do HSBC, Carlos Nunes, o investidor encontra hoje
poucas alternativas interessantes para alocação de recursos. "É um cenário que vai
requerer muito mais trabalho do investidor. Para quem teve sangue frio, 2009 foi muito
fácil. Hoje, o cenário é muito mais complicado."
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