Serviço Público Federal
Universidade Federal do Pará
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico
ESCOLA
DE
------/UFPA
APLICAÇÃO
24 de outubro de 2010
Complexo Vadião (campus UFPA-Belém)
Alexandre Moraes
LÍNGUA PORTUGUESA
5 de dezembro de 2010
LEIA COM MUITA ATENÇÃO AS INSTRUÇÕES SEGUINTES.
Este Boletim de Questões contém 20 questões de múltipla escolha. Cada
questão apresenta 5 alternativas identificadas por (A), (B), (C), (D) e (E), sendo
que apenas uma responde corretamente à questão.
Confira se, além deste boletim, você recebeu o Cartão-Resposta, destinado à
marcação das respostas das questões da parte objetiva, e o Formulário de
Dissertação (com 5 laudas pautadas) destinado à transcrição do texto definitivo
da parte dissertativa.
Verifique se o seu nome e o número de sua inscrição conferem com os dados
contidos no Cartão-Resposta e no Formulário de Dissertação. Em caso de
divergência, notifique imediatamente o fiscal de sala.
A marcação do Cartão-Resposta e a transcrição do texto definitivo da parte
dissertativa no Formulário de Dissertação devem ser feitas com caneta
esferográfica de tinta preta ou azul.
O Cartão-Resposta é o único documento considerado para a correção da parte
objetiva e a parte pautada do Formulário de Dissertação, da parte dissertativa.
Este boletim deve ser usado apenas como rascunho.
O tempo disponível para esta prova é de cinco horas, com início às 8:20 horas
e término às 13:20 horas, observado o horário de Belém/PA.
Ao término da prova, devolva este Boletim de Questões, o Cartão-Resposta e
as 5 laudas do Formulário de Dissertação (mesmo as não utilizadas) ao fiscal
de sala.
Edital n.º 224/2010 – EA/UFPA
BOLETIM DE QUESTÕES
NOME DO(A) CANDIDATO(A)
N.º DE INSCRIÇÃO
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
MARQUE A ÚNICA ALTERNATIVA CORRETA NAS QUESTÕES DE 1 A 20.
PARTE OBJETIVA
(C)
1
As concepções de linguagem, relacionadas ao
ensino da Língua Portuguesa, têm sido abordadas por
diversos autores. Para Geraldi (1984), há uma questão
prévia no processo ensino-aprendizagem “para que
ensinamos o que ensinamos?” e sua correlata “para
que as crianças aprendem o que ensinamos?”
Portanto, admitindo-se a articulação entre uma
concepção de linguagem e sua correlação com a postura
educacional, a concepção mais adequada à proposta
atual de ensino da Língua Portuguesa é o uso da
linguagem como
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
(D)
(E)
expressão do pensamento, o que determina o
domínio de regras a serem seguidas para a
organização lógica desse pensamento.
instrumento de comunicação, em que um
conjunto de signos se combina para transmitir
uma mensagem.
processo interacional pelo qual o indivíduo
interage dialogicamente no contexto social.
sistema normativo humano, que centra o uso da
língua nas normas consagradas pelos bons
escritores.
princípio que define os argumentos de diferentes
origens e determina os usos linguísticos de
natureza prescritiva.
Leia o texto abaixo para responder às questões de 4
a 6.
Os mistérios da natureza
“Meu nome é Raimundo... Então pelo que eu sei que a
curupira é um bicho que vive no mato, não é? E a mãe
d’água ela vive no rio, né? Ela parece uma mulher de
cabelos grandes em cima de uma tábua, ela aparece
meio-dia, ela sempre aparece no igarapé. E a
matintaperera é formada daquelas bruxas que fazem
feitiço, e que viram feiticeira e elas viram matintaperera,
e elas fazem meia-noite elas apitam, né? “Fite
matintaperera!” Aí, a gente oferece tabaco pra ela, elas
vem de manhã e a gente conhece qual é a pessoa que
virou matintaperera naquela noite. E é só isso que eu
tenho pra dizer”.
2
Quanto à relação língua escrita e língua oral, é
correto afirmar que
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
(Narrativa do Acervo IFNOPAP/UFPA, Abaetetuba, 1994)
a
uniformidade
lexical
é
um
critério
preponderante no uso da língua escrita.
o plano sintático se restringe à língua escrita,
enquanto o fonético à oral.
a língua escrita é inegavelmente formal,
enquanto a falada é informal.
as variedades da língua escrita apresentam
menor regularidade e maior formalidade que a
língua falada.
cada uma apresenta um conjunto próprio de
variedades de graus de formalidade.
4 De acordo com a abordagem da Semântica
Argumentativa, o locutor faz uso, no ato de argumentar,
de certos elementos linguísticos, denominados de
operadores
argumentativos,
responsáveis
pelo
encadeamento dos enunciados, estruturando-os em
textos e determinando a sua orientação discursiva. Em
relação ao contexto de produção da narrativa, o
enunciado cujo termo destacado é um operador
progressivo de continuidade é
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
3
De acordo com os Parâmetros Curriculares
Nacionais, o objetivo do ensino da Língua Portuguesa
deve, prioritariamente, enfatizar
(A)
(B)
o desenvolvimento da competência comunicativa
dos usuários da língua (falante, ouvinte, leitor),
focado na progressiva capacidade de realizar a
adequação do ato verbal às situações de
interação.
a substituição de padrões de atividade
linguística, com a finalidade de interferir nas
habilidades linguísticas existentes do aluno.
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
a descrição da variedade culta e formal da língua,
transformando os fatos nela observados em leis de
uso da língua, haja vista a necessidade de o
falante conhecer a estrutura da língua de que se
utiliza para melhor atuar em sociedade.
a capacidade de análise sistemática dos fatos e
fenômenos linguísticos com que o aluno se depara
cotidianamente.
o ensino de língua em sua variedade escrita, em
sua estrutura e funcionamento, em sua formação e
função, haja vista o caráter maleador da língua
como ato social.
2
“Então pelo que eu sei [...]”
“Aí, a gente oferece tabaco pra ela [...]”
“[...] ela aparece meio-dia”.
“E a mãe d’água ela vive no rio, né?”
“[...] matintapereira é formada daquelas bruxas [...]”
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
Leia o texto a seguir para responder às questões de
7 a 10.
5
Considerando o texto “Os mistérios da natureza”
como objeto de aula de Língua Portuguesa, é correto
afirmar:
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
O texto é adequado apenas à prática da leitura
oralizada, a fim de o professor conferir se o aluno
sabe ler; fator que dinamiza a compreensão
textual.
A utilização do referido texto não satisfaz à
variação linguística valorizada no ensino da
Língua Portuguesa, uma vez que o aluno ainda
não domina a norma urbana de prestígio.
No que tange à leitura, o texto em questão se
enquadra entre aqueles com que o aluno
necessita estar em contato, para dinamizar sua
capacidade de leitura, no diálogo autor/leitor via
texto, e a construção de novas categorias que se
correlacionam com o mundo vivido.
No que diz respeito à prática do professor, não
lhe caberia, no processo de leitura, indagar sobre
esse texto, para excitar a reflexão e a
argumentação dos discentes, uma vez que o
referido texto é um todo significativo.
Concernente à relação autor e leitor, a utilização
do texto em questão é pertinente, pois o leitor
percebe facilmente os efeitos de sentido
expressos pelas “pistas” fornecidas pelo autor, o
que possibilita uma única e adequada
compreensão/interpretação do texto.
Parabéns ao promotor do Ministério Público de
São Paulo, dr. Maurício Ribeiro Lopes, pela defesa
da moralidade no âmbito do serviço público e pelo
esclarecimento à opinião pública brasileira da
suposta condição de analfabetismo do Tiririca, que
pode ter cometido “fraude gravíssima”, ao declarar
à Justiça Eleitoral que sabia ler e escrever.
Verdadeira calamidade neste país é você
estudar a vida toda, exaurir, quase ao limite, seus
recursos físicos e financeiros. Correr atrás de
formação condigna. Ralar noites e noites adentro
estudando para concursos. Depois de passar e
tomar posse, verificar, estupefato, os apaniguados,
apadrinhados políticos, parentes e amigos dos
parentes, todos aboletados no serviço público,
colocados pela "janela" e lá, instalados com
soberba e prepotência, graças aos padrinhos que
os garantem nessa posição. Cancro histórico a
minar todas nossas instituições em prejuízo da
qualidade nos serviços de atendimento ao público
em geral.
Exemplos como o dr. Maurício dão-nos
esperanças de que as coisas, pouco a pouco,
mudem e sobrevenha a moralidade no serviço
público brasileiro, em todos os poderes e em todos
os níveis.
(Painel do Leitor, Folha online, 08/10/2010, acesso em
20/10/10. Texto adaptado)
6
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
Do ponto de vista sociolinguístico, a narrativa
7 A língua, quando tratada em seu aspecto discursivo
e enunciativo, é vista como atividade social e interativa
da linguagem. Em relação à funcionalidade do gênero
Carta de Leitor, podemos afirmar que
fornece dados que podem servir para análises
contrastivas entre as variedades faladas por
minorias e a variedade de prestígio na
sociedade.
apresenta traços de oralidade e grau de
dependência contextual comprometedores em
relação à competência comunicativa e à
aquisição da norma urbana de prestígio
estudada na escola.
possibilita a realização de uma proposta de
estudo sociolinguístico em sua vertente
etnográfica em detrimento às variantes
linguísticas.
restringe-se à variação regional, não sendo
possível correlacionar os traços discursivos de
oralidade às regras variáveis de menor prestígio
da língua.
centra-se em circunstâncias interacionais que
não favorecem a mudança de estilo.
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
3
a persuasão foi trabalhada considerando somente
o interlocutor imediato, sem levar em conta o
público leitor do veículo de comunicação.
o ponto de vista do locutor desconsidera o
contexto histórico, social, cultural e ideológico do
interlocutor.
o fortalecimento do poder midiático é negado por
meio do reconhecimento da pluralidade e da
divergência de opiniões.
o propósito discursivo do texto é mostrar o
posicionamento do interlocutor frente a um fato
vivenciado, numa relação de troca e colaboração,
na sociedade em que vive.
os recursos linguísticos que expressam a
interlocução no texto implicam um destinatário
real, independentemente do todo do enunciado
concreto.
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
O correto está em
8
O enunciado que revela o posicionamento inclusivo
do dr. Maurício Ribeiro em relação à sua
responsabilidade social está em
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
“Parabéns ao promotor do Ministério Público de
São Paulo, dr. Maurício Ribeiro [...]”
“[...] dão-nos esperanças de que as coisas”.
“[...] suposta condição de analfabetismo do
Tiririca”.
“correr atrás de formação condigna”.
“[...] graças aos padrinhos que os garantem
nessa posição”.
11 Os historiadores Óscar Lopes e Antônio José
Saraiva, em História da literatura portuguesa, destacam
o fato de que Camões atingiu uma maestria no verso que
deixa para trás os seus antecessores em redondilha ou
em decassílabo. A arte com que narra uma curta história
(como em Sete anos de pastor Jacob servia), ou estiliza
o discurso interior (como na canção Vinde cá ou nas
redondilhas Sobre os rios), ou desenvolve musicalmente,
como que sem discurso, um tema tradicional (voltas ao
mote Saudade minha), ou discorre de modo reflexivo
(Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades), faz de
Camões, pela diversidade do registro, pelo poder de
síntese, pela fluência, pela adequação exata a um sentir
que se está pensando ou a um pensar que se está
sentindo, o maior poeta português antes de Fernando
Pessoa.
9
Considere o que diz Ingedore Koch na passagem a
seguir.
“A referenciação constitui uma atividade discursiva. O
sujeito, por ocasião da interação verbal, opera sobre o
material linguístico que tem à sua disposição, operando
escolhas significativas para representar estados de coisas,
com vistas à concretização de sua proposta de sentido, isto
é, os processos de referenciação são escolhas do sujeito
em função de um querer-dizer”. (Koch, 2006, p.61)
Com base no que diz a autora, é correto afirmar que, no
trecho: “[...] cancro histórico a minar todas nossas
instituições em prejuízo da qualidade nos serviços de
atendimento ao público em geral” (linha 18), a estratégia
de referenciação mobilizada para instaurar o objeto de
discurso destacado foi
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
O texto acima pode desdobrar-se em algumas
considerações sobre a lírica camoniana, entre as quais
se pode afirmar como verdadeira:
(A)
o encadeamento, pelo uso de conector que
estabelece relação discursivo-argumentativa.
o hiperônimo, por este termo colocar em cadeia
segmentos que podem ser equivalentes, o que
garante a continuidade do texto.
a anáfora associativa, por este termo não
estabelecer referência de identidade lexical ou
semântica com o termo antecedente.
a catáfora, pelo fato de este termo preceder o
termo a que se refere e a ele dar sentido.
o encapsulamento, por este termo rotular o
segmento antecedente, o que contribui para a
progressão textual.
(B)
(C)
10 Em relação à progressão textual, considere os
enunciados destacados e suas respectivas assertivas
I.
II.
III.
IV.
(D)
“[...] e lá, instalados com soberba e prepotência,”
(l.16) – o locativo tem a função de fazer progredir
referencialmente o texto.
“[...] depois de passar e tomar posse [...]” (l. 12 e
13) – o termo indica uma relação causal.
“[...] todas nossas instituições [...] (l. 19)” –
pertence a um mesmo campo lexical da expressão
“serviço público”, numa referência cognitiva que
mantém o tópico discursivo.
“[...] todos aboletados no serviço público [...]”
(l. 15) – o termo destacado estabelece uma
relação de antonímia com termos antecedentes.
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
I e II, somente.
III e IV, somente.
I e III, somente.
I, II e III.
II e III, somente.
(E)
4
O poeta português abrange diversas correntes
artísticas e ideológicas do século XVI em Portugal
e sua obra multifacetada foi elaborada sobre uma
experiência pessoal múltipla, que deu forma
lapidar e definitiva a um conjunto de ideias,
valores e tópicos característicos de sua época.
Camões soube realizar a síntese entre a tradição
literária portuguesa peninsular e as inovações
introduzidas pelos italianizantes. Se não foi o
melhor poeta português da escola petrarquista, foi
o mais acabado artífice da escola do Cancioneiro
Geral, na redondilha e no mote glosado.
A poesia camoniana manifesta-se em mais alto
nível na canção, forma a que deu uma
característica muito sua, deixando de aproveitar
todos os materiais da escola petrarquista italiana,
espanhola e portuguesa.
Ao observar as tensões fundamentais da lírica de
Camões, descobre-se que o poeta articulou longa
e variada experiência em termos filosóficos e
religiosos correntes na época, mas em
determinado momento, revelou o desajustamento
entre os ideais de formação social, cultural,
literária e essa mesma experiência.
A poesia lírica de Camões apresenta-se marcada
por uma dualidade: ora são textos de nítida
herança da poesia portuguesa tradicional,
inclusive escritos em redondilhas; ora são poemas
perfeitamente enquadrados no estilo novo do
Renascimento. Deve-se concluir, então, que
Camões conseguiu isolar essas influências,
elaborando uma obra típica do século XVI.
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
12
13 Leia o seguinte soneto, que é considerado um
excelente exemplo de poema conceptista.
Leia o seguinte soneto de Luís Vaz de Camões:
Alegres campos, verdes arvoredos,
Claras e frescas águas de cristal,
Que em vós os debuxais ao natural,
Discorrendo da altura dos rochedos;
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,
da vossa alta piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Silvestres montes, ásperos penedos,
Compostos em concerto desigual:
Sabei que sem licença do meu mal
Já não podeis fazer meus olhos ledos.
Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.
E, pois já não me vedes como vistes,
Não me alegrem verduras deleitosas
Nem águas que correndo alegres vem.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada,
glória tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
Semearei em vós lembranças tristes,
Regando-vos com lágrimas saudosas,
E nascerão saudades de meu bem.
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada;
cobrai-a; e não queirais, Pastor divino,
perder na vossa ovelha a vossa glória.
(CAMÕES, Luís de. Soneto. In: Obra completa. Rio
de Janeiro: Aguilar, 1963, p. 301)
(GUERRA, Gregório de Matos. Soneto. In: Obras completas.
Org. James Amado. Rio de Janeiro: Record, 1990)
Com referência a esse soneto, é correto afirmar:
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
Os sentimentos que dominam o sujeito lírico são
a alegria e a lembrança de um amor feliz, neles
encontrando meios de expressão que traduzem
uma concepção neoplatônica do amor.
Sobre esse poema de Gregório de Matos, é correto
afirmar:
(A)
O soneto volta-se para a valorização da forma,
da palavra, da ornamentação da frase, do estilo
rebuscado e erudito, o que caracteriza o
emprego de metáforas, de antíteses e de
hipérboles.
(B)
O sujeito poético exprime grande tristeza d’alma
quando recorda saudosamente os momentos
felizes da sua relação amorosa testemunhados
por aquela paisagem.
Esse soneto valoriza a argumentação sutil,
intricada, o jogo habilidoso de ideias, operando
por meio de paradoxos, sofismas, silogismos,
trocadilhos e associações inesperadas.
(C)
A amada desempenha, nesse domínio, um papel
fundamental: a ausência provoca a tristeza e a
saudade que invade o sujeito; entretanto ele
usufrui da beleza da paisagem para semear
alegres lembranças.
O poeta centra as preocupações em seu próprio
ser, tendo em mira o aprimoramento intelectual,
com base na cultura greco-latina, e se expressa,
sobretudo, por meio da fusão de metáforas e
imagens para todos os sentidos.
(D)
O poema apresenta, como característica
marcante, o espírito de conciliação, de solução
entre tendências opostas: de um lado, o
teocentrismo medieval e, de outro, o
antropocentrismo renascentista.
(E)
No soneto, o pecador busca o perdão de Deus,
mas não existe o sentimento de culpa,
ignorando-se o perdão divino. Dado tal conflito, a
aspiração
seiscentista
desconhece
uma
cumplicidade religiosa.
Entre a realidade e a vida interior do sujeito,
estabelece-se uma relação de paralelismo: a
paisagem era triste e melancólica no passado,
mas o estado de alma alterou-se profundamente
e o sujeito interpela a natureza e projeta nela
todo o contentamento.
Para exprimir o paralelismo entre a natureza e a
vida interior do sujeito, o poeta utiliza, sobretudo,
a oposição entre os tempos verbais do presente,
que traduzem a alegria atual, e os tempos
verbais do passado, que se referem à tristeza já
vivenciada.
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
5
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
As questões 14 e 15 referem-se ao texto a seguir:
15
No prefácio aos Contos amazônicos, de Inglês de
Sousa (EDUFPA, 2005), a professora Amarílis Tupiassu
comenta que “o conto que mais organiza os elementos
da inscrição fantástica, impessoal, é Acauã, um relato
que, contrariamente à soltura narrativa comum a outros
textos da coletânea, fecha uma escrita em que os
elementos narracionais costuram-se, fecham com certa
rigidez a trama, sem a intervenção de uma voz em
primeira pessoa” (p.23).
“Então convulsões terríveis se apoderaram do corpo
de Aninha. Retorcia-se como se fora de borracha. O
seio agitava-se dolorosamente. Os dentes rangiam em
fúria. Arrancava com as mãos os lindos cabelos. Os
pés batiam no soalho. Os olhos reviravam-se nas
órbitas, escondendo a pupila. Toda ela se maltratava,
rolando como uma frenética, uivando dolorosamente.
Todos os que assistiam a esta cena estavam
comovidos. O pai, debruçado sobre o corpo da filha,
chorava como uma criança.
De repente, a moça pareceu sossegar um pouco,
mas não foi senão o princípio de uma nova crise.
Inteiriçou-se. Ficou imóvel. Encolheu depois os braços,
dobrou-os a modo de asas de pássaro, bateu-os por
vezes nas ilhargas, e, entreabrindo a boca, deixou sair
um longo grito que nada tinha de humano, um grito que
ecoou lugubremente pela igreja:
- Acauã!
- Jesus! bradaram todos, caindo de joelhos.
E a moça, cerrando os olhos como em êxtase, com
o corpo imóvel, à exceção dos braços, continuou
aquele canto lúgubre:
- Acauã! Acauã!
Por cima do telhado, uma voz respondeu à de
Aninha.
- Acauã! Acauã!
Um silêncio tumular reinou entre os assistentes.
Todos compreendiam a horrível desgraça.
Era o Acauã!
Considerando o que declara Tupiassu, é correto afirmar
que o conto Acauã evidencia, com clareza, pelo menos
uma das características literárias de Inglês de Sousa,
isto é,
(A)
(B)
(C)
(D)
14 Considerando que o texto transcrito é o trecho
final de Acauã, de Inglês de Sousa (1853-1918), é
correto afirmar que a expressão “deixou sair um longo
grito que nada tinha de humano” se refere
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
(E)
à esquizofrenia de Aninha, cuja causa o pai nunca
compreendeu, pois sempre tratou da doença
mental da filha com os pajés, envolvido com as
crendices existentes no interior da Floresta
Amazônica, afirmando a capacidade imaginativa
do homem que nela habita.
ao fato de Aninha não querer casar, embora
tivesse condições para esse sacramento, quase
obrigatório para as moças do lugar; assim, o grito
expressa repulsa por essa decisão paterna.
ao segredo da paternidade de Vitória, que Aninha
conseguiu descobrir, dado que a irmã fora
encontrada dentro de uma canoa deslizando pelas
águas de um lago, em uma sexta-feira à noite, o
que sucede ao questionamento do episódio.
ao universo fantástico, pois a personagem movida
por forças extraordinárias, converteu-se em um ser
abstrato, imaginário – fato aceito como natural
dentro da lógica explicativa do homem amazônico.
ao fato de Aninha não ter conseguido fugir com a
irmã Vitória antes do casamento e de que, só
naquele instante, percebeu o quanto odiava o pai
e amava a irmã adotiva. Assim, ao gritar, ingressa
em um desconhecido mundo fantástico.
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
6
um naturalismo tardio, disfarçado sob a aparência
de mitos amazônicos, no qual o leitor observa os
vários aspectos que compõem a literatura da
Amazônia, sobretudo os centralizados no
sobrenatural.
a opção por mostrar o homem amazônico limitado
à pobreza, condição essa de abandono social que
o leva a ver o mundo em uma concepção
racionalista e, ao mesmo tempo, transitar em
espaços propiciadores de medos e superstições.
a utilização, pelo narrador, de uma linguagem que
se vale de elementos textuais para limitar a
manifestação da personagem e transmitir ao leitor
a ambiguidade dos acontecimentos insólitos.
a grande capacidade de retratar, de modo
positivista, o cotidiano urbano da Região
Amazônica, em particular das pequenas vilas,
cujas casas, caiadas de branco, misturam-se às
fábricas e às indústrias do lugar.
a autenticidade com que aborda as várias
manifestações
religiosas
da
Amazônia,
representadas por meio de uma linguagem
provida de metáforas, o que possibilita ao leitor
perceber detalhes do imaginário dos habitantes
da região.
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
16 Leia a crítica abaixo sobre o livro Iracema, de José
de Alencar (1829-1877), editado pela primeira vez em
1865.
17
Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta
a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda
aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias
ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga
impetuosa, para que o barco aventureiro manso
resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa
cearense aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca Alcione buscando o rochedo
pátrio nas solidões do oceano?
Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai
singrando veloce, mar em fora.
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue
americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz
no berço das florestas e brincam irmãos, filhos ambos
da mesma terra selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante,
que ressoa entre o marulho das vagas:
– Iracema!
O moço guerreiro encostado ao mastro, leva os olhos
presos na sombra fugitiva da terra; a espaços o olhar
empanado por tênue lágrima cai sobre o jirau, onde
folgam as duas inocentes criaturas companheiras de
seu infortúnio.
Nesse momento o lábio arranca d’alma um agro
sorriso.
Que deixara ele na terra do exílio?
Uma história que me contaram nas lindas várzeas
onde nasci, à calada da noite, quando a lua passeava
no céu argenteando os campos, e a brisa rugitava nos
palmares.
Refresca o vento.
“O livro do Sr. José de Alencar, que é um poema em
prosa, não é destinado a cantar lutas heróicas, nem
cabos-guerra; se há aí algum episódio, nesse sentido,
se alguma vez troa nos vales do Ceará a pocema da
guerra, nem por isso o livro deixa de ser
exclusivamente votado à história tocante de uma
virgem indiana, dos seus amores e dos seus
infortúnios. Estamos certos de que não falta ao autor
de Iracema energia e vigor para a pintura dos vultos
heróicos e das paixões guerreiras; Itapuã e Poti a esse
respeito são irrepreensíveis; o poema de que o autor
nos fala deve surgir à luz, e então veremos como a sua
musa emboca a tuba épica; este livro porém, limita-se a
falar ao sentimento, vê-se que não pretende sair fora
do coração.
Estudando profundamente a língua e os costumes
dos selvagens, obrigou-se o autor a entrar mais ao
fundo da poesia americana; entendia ele, e entendia
bem que a poesia americana não estava
completamente achada; que era preciso prevenir-se
contra um anacronismo moral que consiste em dar
ideias modernas e civilizadas aos filhos incultos da
floresta.”
(MACHADO, de Assis. Iracema. Diário do Rio de Janeiro,
23 de janeiro de 1866. In: ALENCAR, José. Iracema.
Edição do Centenário, Rio de Janeiro: José Olympio,
1965, p.188-193)
Considerando a crítica feita por Machado de Assis e o
conteúdo da obra, é correto afirmar que Iracema
(A)
apresenta a peregrinação dos índios tabajaras e
pitiguaras como um fenômeno dinâmico da
colonização brasileira, tema recorrente no
romance indianista de Alencar.
(B)
leva a entender Iracema como personagem
cônscia do seu tempo, de sua condição
feminina, o que acentua o sentimento de amor à
terra natal e constitui o ideal romântico de
mulher.
(C)
(D)
(E)
Leia o fragmento abaixo retirado de Iracema.
(ALENCAR, José. Iracema. São Paulo: Ática,
1990, p.11-12)
Com base nesse trecho da obra de José de Alencar, é
correto afirmar que Iracema, de um modo geral,
(A)
desenvolve uma atmosfera que vai do lirismo
mais ingênuo ao erotismo, com marcas de revolta
da heroína por sua condição indígena.
desenha Martim como chefe místico dos
portugueses residentes na colônia, mas, o qual,
ao conhecer Iracema, rejeita a nacionalidade
portuguesa e se adapta aos costumes tabajaras.
(B)
caracteriza o romance nacional como forma de
entretenimento.
(C)
eterniza uma visão sagrada da natureza brasileira
antes da chegada do homem europeu.
vincula a personagem principal, Iracema, ao
ideal moderno de mulher, no qual se pode
constatar um romantismo imaturo, somente
aperfeiçoado nos romances seguintes de
Alencar.
(D)
realça a beleza nativa, estuda a língua e os
costumes indígenas e estabelece os fundamentos
do romance nacional.
(E)
analisa os fenômenos da sociedade brasileira do
período colonial.
representa um mito da origem nacional e, ao
mesmo tempo, a dependência cultural do Brasil
colônia, bem como a idealização da etnia
americana formada pelo intercurso dos
elementos índio e europeu.
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
7
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
II.
18
Davi Arrigucci Jr., em Humildade, Paixão e Morte – a
poesia de Manuel Bandeira estuda, nos poemas de Manuel
Bandeira, o cotidiano e a memória pessoal, pois neles
residem provavelmente as implicações maiores da poesia
que se exprimem moldadas na simplicidade com que se
desentranha o sublime do mais prosaico e humilde
cotidiano. Considerando os estudos de Arrigucci, analise os
versos abaixo.
III.
I. “Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida”.
IV.
V.
II. “Beco que cantei num dístico
Cheio de elipses mentais,
Beco das minhas tristezas,
Das minhas perplexidades
(mas também dos meus amores,
Dos meus beijos, dos meus sonhos),
Adeus para nunca mais!”
Os fragmentos que correspondem à reflexão de Manuel
Bandeira sobre os poemas escolhidos, posteriormente,
para organizar a antologia Meus poemas preferidos são
III. “Cecília, és libérrima e exata
Como a concha.
Mas a concha é excessiva matéria,
E a matéria mata.”
(A)
(B)
(C)
IV. “Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.
Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.”
I.
II.
III.
IV.
(D) I, III e IV.
(E) I, II, IV e V.
V.
19
Considerando os comentários críticos registrados
pelo próprio Manuel Bandeira em Itinerário de Pasárgada
(1954), analise os fragmentos abaixo.
I.
Clarice Lispector mostra a personagem principal indo
para uma cidade grande em busca da fama como
atriz.
O narrador do romance relata os fatos e comenta
acerca da forma como está narrando; o livro de
Clarice começa com a digressão do narrador-autor
em crise, e não com a história de Macabéa.
Macabéa mantém alguns traços da heroína
romântica, não quanto à beleza física, mas à
inteligência e ao caráter.
A heroína de Clarice Lispector sai do sertão de
Alagoas e parte para a cidade do Rio de Janeiro,
onde realiza seus sonhos de menina.
O narrador-personagem de A hora da estrela
esconde na narrativa a sua problemática interior, ou
seja, a própria identidade, à medida que nos faz
conhecer a protagonista Macabéa.
Estão de acordo com A hora da estrela, os itens
“Em Berimbau [...] Capiberibe _ Capibaribe têm dois
motivos [...]. Todavia, outra intenção pus na repetição.
Intenção musical: Capiberibe a primeira vez com e, a
segunda com a, me dava a impressão de um acidente,
como se a palavra fosse uma frase melódica dita da
segunda vez com bemol na terceira nota”.
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
(D) II, VI e V.
(E) II, III e V.
O romance A hora da estrela, de Clarice Lispector,
publicado em 1977, pouco antes da morte da autora, é um
dos livros mais famosos da ficção brasileira
contemporânea. A estrutura da obra tem três grandes eixos
narrativos e simultâneos, o que torna o enredo fragmentado
e quebra a construção linear tradicional. Sobre esse
romance, analise as seguintes afirmativas:
Os itens cujos versos exemplificam o cotidiano presente
na obra de Manuel Bandeira são
I e II.
II e IV.
I, II e III.
I e III, apenas.
III e V, apenas.
VI, apenas.
20
V. “Quando hoje acordei, ainda fazia escuro.
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor impetuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei
pensando...
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que
amei.”
(A)
(B)
(C)
“Berimbau, que é de certo modo a minha ‘Amazônia
que não vi’, está cheio de intenções formais e me
recorda um dos maiores prazeres que já tive em
minha vida de poeta.”
“[...] no poema Boi morto, escrito em octossílabos,
quebrei a medida no terceiro verso da última estrofe.
[...] É que o monossílabo “boi”, embora completando a
medida do segundo verso, ecoa, no entanto, arrastado
pelo enjambement, no verso seguinte, como se este
fosse em realidade ‘Boi morto, sem forma ou sentido’”.
“Evocação do Recife nasceu num momento destes, só
que o jantar não era de cerimônia. Na véspera de me
mudar da Rua Morais e Vale, às seis e tanto da tarde,
tinha eu acabado de arrumar os meus troços e caíra
exausto na cama”.
“Agora a morte pode vir – essa morte que espero
desde os dezoito anos: tenho a impressão que
encontrará, como em Consoada está dito, ‘a casa
limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar’”.
(A)
(B)
(C)
(D)
(E)
8
I, II e V.
IV e V, apenas.
II e IV, apenas.
I e III, apenas.
III e IV, apenas.
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
PARTE DISSERTATIVA
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
9
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
10
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
11
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
12
Língua Portuguesa
Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
ESCOLA DE APLICAÇÃO
EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA
13
Língua Portuguesa
Download

Língua Portuguesa - Ceps - Universidade Federal do Pará