48
Artigo original
PROCESSO DE APRENDIZAGEM POR MEIO DO JOGO NA PERSPECTIVA
HISTÓRICO-CULTURAL
PAIXÃO, Anie Caroline Gonçalves1
Anie Caroline Gonçalves
Artigo submetido em 20/07/2012
Artigo aceito em 10/08/2012
Correio eletrônico: [email protected]
RESUMO
Embora sucinto este artigo tem pretensões de discutir de forma efetiva os elementos
possibilitadores do ensino aprendizagem dos conceitos de imitação e internalização na
infância, para tanto, utilizamos o referencial da teoria Histórico-cultural como instrumento,
afim de, facilitar a compreensão dos pressupostos do desenvolvimento infantil Deste modo
procuramos avançar nestas questões para contribuir na criação de ambientes mais
humanizadores em nossas escolas. O jogo irá trazer para a criança um desenvolvimento de
forma significativa e integrada, como a ampliação do mundo social, das relações sociais,
progredir na coordenação motora, emocional, raciocínio lógico, comunicação. O professor é o
agente que leva a humanização, pois é o sujeito que irá ser o mediador atuante em sala de
aula, deve também preparar atividades que desenvolvam nas crianças as habilidades posta
acima. Deste modo é fundamental que o professor compreenda e domine os conceitos do jogo
para trabalhar com as crianças. A teoria histórico-cultural dará suporte para este processo
contínuo que é o ensino aprendizagem.
Palavras-Chave: Infância; Teoria Histórico-Cultural; Humanização; jogo.
1
Licenciada no curso de Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCT/UNESP)
e atualmente cursa Licenciatura em Pedagogia pela União das Instituições do Estado de São Paulo
(FAPEPE/UNIESP), também realiza o curso de pós-graduação em Educação Matemática junto a Universidade
Estadual de Londrina (UEL) e é membra do grupo de pesquisa Cultura Corporal: Saberes e Fazeres.
49
ABSTRACT
Although brief this article has pretensions to argue of form accomplishes the elements
possibility of education learning of the imitation concepts and to place for inside in infancy,
for in such a way, we use the reference of the Description-cultural theory as instrument,
similar of, to facilitate the understanding of the estimated ones of the infantile development In
this way we look for to advance in these questions to contribute in the environment creation
more to make human being in our schools. The game will go to bring for the child a
development of significant and integrated form, as the magnifying of the social world, of the
social relations, to progress in the motor, emotional coordination, logical reasoning,
communication. The master is the agent who takes the to make human being, therefore is the
citizen that will go to be the operating mediator in classroom, must also prepare activities that
develop in the children the abilities dispatch by post above. In this way it is basic that the
professor understands and dominates the concepts of the game to work with the children. The
description-cultural theory will give support for this continuous process that is education
learning.
Key-words: Infancy; Description-Culture theory; formation of the man; game.
tendência de aprendizagem pela observação
INTRODUÇÃO
do outro. Caso esse processo seja bem
Lima (2008, p. 47) nos adverte que
para Aristóteles o jogo é um meio de
relaxamento,
divertimento,
descanso
e
resgate de energias para as atividades
humanas “sérias”. Apesar do trabalho ser
considerado a atividade mais importante, o
jogo era o meio de recuperação para a
atividade produtiva, o que lhe dar status de
relevância até mesmo à aquelas atividades
pela qual transformou o jogo em algo
secundário,
ou
seja,
Aristóteles
sucedido, poderá ser copiado pelos demais,
o que possibilita o próprio desenvolvimento
da sociedade, se não teríamos que está
“inventado a roda até os atuais dias”, daí o
jogo ter uma fundamental contribuição no
processo de aprendizagem e significação do
conhecimento já produzido pela sociedade
humana, pois há sempre a observação da
criança em relação ao adulto ou ao mais
experiente.
Mello coloca que o processo de
não
valorizava o jogo como um recurso
pedagógico de fundamental importância.
Podemos acrescer ainda que a forma
de aprendizagem por imitação ao mais
experiente é sempre um recurso adotado
pelo ser humano e isso é explicado pelo
conceito apontado pela Antropologia de
imitação prestigiosa, ou seja, a uma
internalização em que as crianças aprendem
com os mais velhos, como por exemplo,
controlar as emoções, falar, imaginar, entre
outras,
desenvolvem
a
inteligência
e
personalidade. Quando a criança utiliza
algum instrumento criado por uma pessoa
mais experiente ou uma geração passada ela
começa a se apropriar de qualidades
humanas
e
da
historia
dos
seus
50
antepassados. Cada objeto demonstra a
crianças”. Neste caso o educador é o
qualidade de uma geração, o seu avanço
mediador das atividades lúdicas, podendo
tecnológico.
intervir de forma a enriquecer as atividades
Segundo Lima (2008, p. 26), existe
propostas aos alunos.
uma tendência nas instituições de não abrir
O professor é o adulto que interage
espaço para o jogo e nesta perspectiva a
com a criança com o objetivo de promover
atividade é vista como empecilho para a
seu processo de humanização.
aprendizagem, pois desconcentra e dispersa
a criança. Devido a escola não possuir
espaços adequados, nem material, nem
tempo para desenvolver os jogos, fica ainda
mais difícil o seu emprego como um
valioso suporte para a aprendizagem.
Tendo em vista o exposto acima,
entendemos ainda que a atividade lúdica
promova a familiarização com o mundo
cultural e social, pois quando a criança
Na antropologia, humanizar é o
processo pelo qual todo ser passa para
se apropriar das formas humanas de
comunicação,
para
adquirir
e
desenvolver os sistemas simbólicos,
para aprender a utilizar os instrumentos
culturais necessários para as práticas
mais comuns da vida cotidiana até para
a invenção de novos instrumentos, para
se
apropriar
do
conhecimento
historicamente constituído e das
técnicas para a criação nas artes e
criação nas ciências. (LIMA, 2007, p.
18).
O professor é o agente que leva a
joga, ao mesmo tempo, também reproduz e
humanização, e sua ação é desenvolvida em
recria o que tem aprendido com os mais
grande parte dentro da escola que tem o
experientes e desenvolve nas atividades
papel de cumprir um objetivo antropológico
lúdicas coletivas os seus aspectos: afetivo,
muito importante: “garantir a continuidade
emocional, moral, social, cognitivo, motor,
da espécie, socializando para as novas
já que todos eles, em maior ou menor grau,
gerações
são solicitados quando se está jogando.
resultantes do desenvolvimento cultural da
Ao contrário do que a maioria das
instituições
propõe
e
invenções
humanidade”. (LIMA, 2007, p. 17).
Segundo Lorenzato (2006, p. 25),
desenvolve, Lima (2008, p. 33) sugere que
para a aprendizagem de matemática os
a
proporcionar
conceitos de correspondência, comparação,
“experiências prazerosas, diversificadas”,
classificação, seqüência, seriação, inclusão
para que assim se possa desenvolver no
e conservação, devem ser abordados junto
aluno a capacidade de expressão, de
às crianças de forma clara e variada. Sendo
comunicação e de interação social. Sendo
uma das maneiras de produzir o domínio do
um dos deveres do professor “ajudar a
conceito pelo aluno é trabalhar com
deve
pelo
aquisições
menos
aprendizagem
ou
as
estruturar o espaço e o tempo de brincar das
51
um conteúdo dá-se ao longo do tempo.
Trabalhar muitas vezes o mesmo
conteúdo, de formas diferentes,
promove a ampliação progressiva dos
conteúdos. (LIMA, 2007, p. 35).
material concreto, visando obter mais
experiência e desenvolver as habilidades
que serão enraizadas com as práticas.
Dessa
maneira
estes
conceitos
Para que o conhecimento seja
devem ser colocados no currículo da escola
formado é necessário que ocorra uma
infantil para ser abordado de forma
relação com o que já foi aprendido com o
significativa ao longo do ano. Moreira e
que esta armazenado na memória formando
Candau (2007, p. 18) entendem “currículo
uma nova integração.
como as experiências escolares que se
O jogo, quando adequadamente
desdobram em torno do conhecimento, em
empregado,
meio a relações sociais, e que contribui para
concentração,
a construção das identidades de nossos/as
persistência, inteligência, raciocínio lógico-
estudantes”.
matemático e emoção. Devemos ressaltar
pode
desenvolver
memória,
a
atenção,
Não podemos deixar de mencionar
que o jogo é uma atividade processual, seu
que ao exercitar a aprendizagem por meio
fim central não é produto e portanto, não é
do jogo, o professor alcançará uma
uma atividade usada para fins financeiros
aprendizagem significativa e possibilitará
ou de enriquecimento, mesmo que ele possa
conexões com o que a criança já sabe e o
aperfeiçoar
que aprenderá posteriormente, valorizando
profissionais daqueles envolvidos.
de forma diversificada tanto o currículo
informal quanto o formal.
Ainda,
podemos
Tendo
a
capacidade
o
jogo
criativa
um
e
caráter
fundamentado necessariamente no prazer e
recorrer
a
na liberdade daqueles que os realiza,
Lorenzato (2006, p. 11) quando este afirma
oferece amplas possibilidades de superação
que a “criança aprende pela sua ação sobre
de obstáculos “quase fictícios, feitos á sua
o meio onde vive”, ao agir sobre os objetos
medida e por ele aceitos.” (LIMA, 2008,
a criança se desenvolve aprendendo com as
p.43).
suas sensações e percepções. É essa
interação
com
o
espaço
e
Santana (2008, p, 40) inicia a
tempo,
discussão colocando que o sujeito não
vivenciados, que faz com que a criança
nasce um ser humano ele se torna um
realize uma aprendizagem de uma maneira
homem, ao nascer possui a constituição
significativa.
biológica necessária para se desenvolver,
“só se tornará homem através do processo
Para que ocorra a aprendizagem é
necessário retorna-se o conteúdo em
momentos diferentes, pois o domínio de
de humanização, que torna possível o
desenvolvimento das aptidões humanas”.
52
Oliveira
ao
tratar
do
vão se apropriando das qualidades humanas
desenvolvimento e do processo sócio-
e nota através destes materiais a evolução
histórico salienta que “o homem biológico
da sociedade que esta inserida.
transforma-se em social por meio de um
Ao se apropriar da cultura humana e
dos significados sociais, o sujeito
atribui a estes significados culturais,
que são constituídos socialmente, o seu
próprio sentido, fruto de sua própria
vivência, dando um sentido pessoal ao
já estabelecido durante a história da
humanidade. (SANTANA, 2008, p, 42).
processo de internalização de atividades,
comportamentos e signos culturalmente
desenvolvidos.” (1997, p. 102).
Vygotsky foi aqueles quem mais
trabalhou
na
área
conhecida
como
“pedologia” (ciência da criança, que integra
os aspectos biológicos, psicológicos e
antropológicos entre outras), isso lhe
possibilitou
a
compreensão
e
o
desenvolvimento de teorias que comprovam
que a humanização é um fenômeno
As relações humanas ocorrem por
duas formas que são por apropriação da
cultura e por transmissão, através da
cultura,
estes
desenvolvimentos
de
humanização ocorrem pela principal fonte
que é por meio da comunicação.
histórico cultural.
A construção do real parte, pois, do
social (da interação com outros, quando
a criança imita o adulto e é orientada
por ele) e, paulatinamente, é
internalizada pela criança. Assim, no
pensamento silencioso, a criança
executa
mentalmente
o
que
originalmente era uma operação
baseada em sinal, presente no diálogo
entre duas pessoas. Esta internalização
da fala, assim como dos papéis de
falante e de respondente, ocorre,
aproximadamente, dos três aos sete
anos. Tal diálogo interno libera a
criança de raciocinar, a partir das
exigências da situação social imediata,
e permite-lhe controlar seu próprio
pensamento (VYGOTSKY, 1979 In:
OLIVEIRA, 1994, p. 44).
O ponto central da teoria formulada por
Vygotsky é que as funções psicológicas
superiores são de origem sócio-cultural
e emergem de processos psicológicos
elementares, de origem biológica,
através da interação da criança com
membros mais experientes da cultura.
Tal interação propicia a internalização
dos mediadores simbólicos e da própria
relação social. Em outras palavras, a
partir
de
estruturas
orgânicas
elementares da criança, determinadas
basicamente pela maturação, formam-se
novas e mais complexas funções
mentais, a depender da natureza das
experiências sociais a que ela está
exposta. (OLIVEIRA, 1994, p. 43 ).
Santana
O processo de humanização ocorre
ao
comentar
Leontiev
quando a criança convive com pessoas mais
afirma que o processo de educação é um
velhas que irão transmitir suas experiências
processo de comunicação entre os seres
de forma intencional ou por meio da
humanos, isso por que através da cultura o
observação da criança. Assim, quando usar-
homem vai promovendo suas aptidões e
se um instrumento são passados culturas
construindo sua individualidade. (2008, p,
armazenadas da humanidade, e os sujeitos
43).
53
Desta maneira Santana cita Leontiev
coletivos
porem
neste
momento
as
(1978) para salientar os aspectos da
indagações e suas eventuais respostas são
individualidade
características
internas, estritamente psíquicas, mesmo que
adquiridas a partir do desenvolvimento das
a partir de uma relação histórico cultural
relações sociais em que o homem faz parte,
social, já as relações interpessoal exigem
mediante ao processo de educação. Sendo
necessariamente
então as condições humanizadora:
material entre a primeira pessoa EU e
enquanto
 A existência concreta do objeto –
enquanto instrumento necessário à
vida;
 A atividade adequada – aquela que
esta inserida na realidade social, que
propicia situações de re-produção do
uso do objeto, de acordo com sua
função social. Nela, a relação do
sujeito com o objeto é mediada pelo
educador, ou seja, pela pessoa mais
experiente;
 A garantia de um processo
dialógico, fazendo com que seja ativo
em todo o processo. (LEONTIEV
(1978) In: SANTANA, 2008, p, 43).
O homem para se humanizar precisa
uma
separação
física
demais pessoas TU e ELES, desse modo há
uma dependência de mais de um individuo,
sendo também frutos das relações histórico
cultural social. Os momentos interpessoal e
intrapessoal não ocorrem de forma isolada,
mas simultaneamente.
Dessa maneira demonstra-se que “a
criança aprende nas relações interpessoais e
se apropria destas funções executadas
coletivamente e, assim, se torna capaz de se
objetivar em um nível cada vez mais
dos instrumentos da sua cultura, aprender a
elaborado,
usas estes objetos o que o leva a usar a
desenvolvimento”. (SANTANA, 2008, p,
comunicação em todo o tempo deste
44). O mais experiente causa na criança
processo de educação.
uma espécie de conhecimento daquilo que
promovendo
assim
o
seu
Santana (2008, p, 43) faz referencia
faz, “capaz de dominar sua própria ação
a Vygotsky por este entender como lei geral
através de sua própria consciência e
“que o desenvolvimento do psiquismo na
controle” (OLIVEIRA, 1994, p. 44), até
criança, que abrange todos os aspectos
que seja capaz de refletir sobre suas atitudes
intelectuais, emocionais e da personalidade,
indo para um outro estágio de consciência.
passa por dois momentos: um interpessoal e
Segundo Santana (2008, p. 45), o
intrapessoal”. Sendo que quando as relações
desenvolvimento
são intrapessoal o sujeito dialoga consigo
quando a uma mudança no nível proximal,
mesmo, dessa forma o EU e o TU
que ocorre por meio de situações exteriores.
constituem a mesma pessoa, o caso é que os
São situações sociais mantidas com a
elementos que embasam essa intra-relação
criança e por ela.
são os mesmo já desenvolvidos em âmbitos
da
criança
acontece
54
Daí vem o destaque à ação intencional
do adulto nas relações que estabelece
com as crianças pequenas. Como
intencionalidade entende-se a ação
refletida do adulto que sabe,
cientificamente ou conscientemente,
quais valores humanos, sentimentos,
formas de pensamento, capacidades,
aptidões quer transmitir a criança e
como fazê-lo. De acordo com a maneira
pela qual o adulto reage a uma
iniciativa da criança, está estabelecido
um processo de comunicação entre
esses sujeitos, que garantirá o processo
de desenvolvimento. (SANTANA,
2008, p, 45).
situações que tragam novas experiências à
criança, a tornando um sujeito reflexivo
com suas vivência.
Ao mesmo tempo em que a criança
aprende a agir sobre os objetos
construídos socialmente, observando,
comparando,
compreendendo
a
constituição dos objetos, dos jogos, dos
desenhos, etc., ao formar suas ações
práticas, forma também as ações
internas, que são operações de
percepção, da razão, da imaginação, da
memória, que acompanham e dão
articulação e sentido às ações práticas.
(SANTANA, 2008, p, 47).
A criança inicialmente se utiliza
para
comunica-se
ações
que
foram
A criança não nasce comunicativa,
inicialmente utilizadas para com ela, que
vai se tornando a medida que vai sentindo
serão reproduzidas com outras pessoas até
necessidade e compreendendo que pode
chegar a sua individualidade no modo de se
chamar a atenção do adulto para si. Então é
comunicar.
de
fundamenta
importância
a
A comunicação é um conceito
intencionalidade do adulto em transmitir
primordial para o desenvolvimento da
valores a criança, como controlar emoções,
criança, tanto como individuo singular
formar pensamentos, aptidões, tendo em
como um cidadão, que se apropria da
mente que conforme o adulto age com a
cultura
criança, ela reproduziram da mesma forma.
histórica
acumulada
pela
humanidade. Daí se torna relevante o papel
da comunicação no processo histórico do
ser
enquanto
unidade
e
enquanto
humanidade global é o que afirma Santana:
“sem a comunicação não teria como as
novas gerações adquirirem a herança
cultural construída historicamente e que
dessa forma ela se perderia, Leontiev
(1978) associa o processo de comunicação
ao processo de educação”. (2008, p, 46).
Devemos levar em consideração a
intencionalidade do adulto em relação à
educação da criança para proporcionar
A concepção que o adulto tem de
criança e de infância condiciona as
expectativas do adulto sobre a criança e
os papéis que ela exerce dentro de seu
grupo social, ao longo de todo o seu
desenvolvimento psíquico, sob a forma
de condições concretas que o adulto
propõe para a criança. (SANTANA,
2008, p, 49).
Segundo Santana o individuo vai se
apropriando das qualidades humanas ao
longo da sua formação, sendo aprimorado o
repertorio de comunicação a medida que vai
crescendo
e
desenvolvendo-se.
Este
desenvolvimento é realizado ao passo que
55
se apropria da cultura histórica com
potencial em que a criança precisa do
relações interpessoais (2008, p, 49).
auxilio de um parceiro mais experiente, já o
Ao observar uma pessoa mais
desenvolvimento real é quando a criança
experiente e ao reproduzir a ação a criança
pode realizar de forma independente e
esta realizando um ato de construir o que já
autônoma
existe
desenvolvimento real da criança e o seu
para
seguir
fazendo
novas
conjecturas.
é
a
distancia
entre
o
desenvolvimento potencial que deve ser
privilegiada pelas instituições educativas.
Portanto, vemos que na imitação, a
criança não sugere literalmente o
modelo, muito de si e de sua reflexão
são colocados nesses atos. A imitação é
usada pela criança para ser aceita
socialmente e para ir compreendendo as
regras do grupo do qual faz parte.
(SANTANA, 2008, p, 51).
Segundo Santana (2008, p. 51), foi
Vygotsky que iniciou o conceito de zona de
Portanto
para
avançar
o
desenvolvimento real é necessário saber o
nível de conhecimento da criança para
progredir com atividades pensadas para o
seu desenvolvimento, a educação é o
instrumento capaz de promover a sua
maturação.
desenvolvimento proximal na psicologia,
Sendo então dever das instituições
“conceito este que expressa a intima relação
educativas por meio de seus professores
existente
proporciona múltiplas experiências em que
entre
aprendizagem
e
desenvolvimento,” assim,
a
criança
poderá
se
desenvolver
plenamente, daí, “o contato das crianças
Vygotsky cria um conceito para
explicitar o valor da experiência social
no
desenvolvimento
cognitivo.
Segundo ele, há uma "zona de
desenvolvimento proximal", que se
refere à distância entre o nível de
desenvolvimento atual - determinado
através da solução de problemas pela
criança, sem ajuda de alguém mais
experiente - e o nível potencial de
desenvolvimento medido através da
solução de problemas sob a orientação
de adultos ou em colaboração com
crianças mais experientes. (OLIVEIRA,
1994, p. 44).
com
as
mais
diferentes
fontes
de
conhecimento assegura a flexibilidade e o
dinamismo
do
pensamento
infantil,
ampliando a possibilidade de adquirir novos
conhecimentos e meios para a atividade
intelectual”. (SANTANA, 2008, p, 53).
A flexibilidade e dinamismo vão ser
formando a medida que a criança vai
ampliando o seu conhecimento sobre os
Santana (2008, p. 51) faz uma
objetos, num primeiro momento pode ter
discussão sobre a zona de desenvolvimento
impressões não clara e ao conhecer melhor
proximal (ZDP) e o desenvolvimento real, a
ter
ZDP é a distancia entre o desenvolvimento
pensamentos
real da criança e o seu desenvolvimento
pensamentos podem ser mais complexos a
outras
impressões,
autônomos.
formando
Estes
56
medida que são desenvolvidas atividades na
pré-escola para deixar impressões.
O que os pais querem é que as
escolas sejam capazes de antecipar a
Mello em seus estudos mais recentes
aprendizagem dos seus filhos.
trata de um modo esclarecedor sobre a
presença das crianças entre de três (3) e seis
(6) anos na escola infantil.
O mundo mudou as suas concepções
incluindo o conceito de infância, pois há
séculos atrás as crianças trabalhavam,
serviam
o
exército,
poderiam
até
É como se o conceito de criança que
começamos a construir a partir da
observação e do olhar informado pela
Teoria Histórico-Cultural - uma criança
forte e capaz de aprender - deflagrasse
uma compreensão de que é possível e
desejável apressar o desenvolvimento
psíquico da criança e, com isso, acelerar
o progresso tecnológico. (MELLO,
2007, p. 85).
constituírem famílias, isso tudo por que a
Este desejo para as crianças terem
noção infância era desconhecia entre outras
um desenvolvimento de forma antecipada é
causas, mas todas estas coisas atualmente
cada vez mais comum entre os pais, que
são inaceitáveis para a criança, já se
pressionam a escola a realizarem um ensino
reconhece que ela precisa passar pela fase
“avançado”. Mas a criança na educação
de maturamento até chegar a vida adulta
infantil necessita obter uma educação com
para então ser independente.
matérias
Mello (2007, p. 84) se utiliza das
teorias marxistas para dizer que a sociedade
manipuláveis,
ter
varias
experiências diferentes para desenvolver
suas habilidades.
estão
O conjunto dos estudos desenvolvidos
sob ótica histórico-cultural aponta como
condição essencial para essa máxima
apropriação das qualidades humanas
pelas crianças pequenas o respeito às
suas formas típicas de atividade: o
tateio, a atividade com objetos, a
comunicação entre as crianças, e entre
elas e os adultos, o brincar. (MELLO,
2007, p. 85).
preenchendo os seus dias com cursos como
Com a socialização da criança em
natação, inglês entre outros, se preparando
relação aos adultos e entre elas mesmas é o
para quando forem mais velhas serem
que proporciona que possam transformar-se
adultos produtivos. Também entendem que
em seres humanos, isso por que, o que
todas as classes sociais estão cada vez mais
difere o homem do animal é a capacidade
inserindo as crianças na escola antes dos
de planejar o futuro, é o trabalho criativo,
seis anos de idade o que não é muito
juntamente se apropriando das qualidades
aconselhável.
humanas, é importante salientar que não
atual ainda vive na pré-história humana
com relação aos direitos da criança e do
adolescente por até
hoje não serem
assegurados completamente.
A autora relata que crianças de
classe
média
e
classe
alta,
estamos
tratando
neste
momento
de
57
caracteres
biológicos,
mas
de
uma
genealogia ontológica.
- por pessoas mais experientes”. (MELLO,
2007 p. 87).
Tomamos como parte fundante do
Esta relação de apropriação pode ser
nosso entendimento a Teoria Histórico-
realizada também pela observação do
Cultural que entende o ser humano e sua
aprendiz.
Esse conceito – de que o ser humano
aprende a ser o que é como inteligência
ou personalidade, e de que a cultura e
as relações com os outros seres
humanos constituem a fonte do
desenvolvimento da consciência –
revoluciona a compreensão do processo
de desenvolvimento que tínhamos até
agora. Com a Teoria Histórico-Cultural,
aprendemos a perceber que cada
criança aprende a ser um ser humano.
(MELLO, 2007, p. 88).
humanidade como produto da história
elaborada e vivida pelos próprios seres
humanos ao longo dos tempos. (MELLO,
2007, p. 86).
Mello deixa claro que a formação do
ser humano parte da apropriação que este
faz das qualidades humanas, isso se dar pela
adequação dos objetos da cultura histórica e
socialmente criados. (2007, p. 86).
Na visão Histórico-Cultural é a
educação formal e informal que irá
A apropriação não é realizada de
forma biológica ou genética, mas externas
destes objetos utilizados pelos membros da
sociedade passada, a medida que vai
utilizando ou aprendendo a usar os objetos
a criança vai adquirindo qualidades e
aprendendo sobre a cultura da sociedade em
que esta inserida.
proporcionar a apropriação das qualidades
humanas pelos mais novos, é evidente que
no
que
concerne
a
as
situações
Matemática
aprendizagem
dirigidas
possibilitam um melhor aproveitamento.
Esta ideia de apropriação de conhecimentos
através da cultura originou a compreensão
gramsciana de que a criança será formada
As formas de comportamento e de vida
em sociedade que tomávamos todos
espontaneamente por inatas (nossas
maneiras de andar, dormir, nos
encontrar, nos emocionar, comemorar
os eventos de nossa existência…) são,
na realidade, o produto de escolhas
culturais. (LAPLANTINE, 1991, p. 22).
Grifo meu.
por meio da educação para ser um dirigente.
Isso
ao
para teoria histórico-cultural a criança faz
entendimento que “essa utilização adequada
relações com o mundo aonde esta inserida e
dos objetos da cultura exige que a relação
rompe com a ideia de ser frágil, incapaz e
das novas gerações com a cultura seja
totalmente dependente ao adulto para gerir
medida - de modo intencional e, em
suas atividades. (MELLO, 2007, p. 89).
permite
chegarmos
determinadas situações, também espontâneo
Sendo o homem um ser sóciocultural
nos
permite
dizer
que
a
aprendizagem é fonte de desenvolvimento.
Daí fica claro que a criança aprende desde o
momento de seu nascimento, isso por que,
58
A
Teoria
Histórico-Cultural
criança esta inserida, possibilitando a
compreende que a criança desde muito cedo
formação de novos motivos de conduta e
é vista como um ser histórico-cultural,
novas atitudes.
capaz de explorar espaços e objetos que
Mello coloca que o equivoco esta
encontra ao seu redor, tendo capacidade de
em ensinar na escola infantil, conceitos
se comunicar com outras pessoas, até
isolados e pontuais. Separados da realidade
mesmo de esclarecer fatos ocorridos com
em que faz sentido para a criança, “para a
sigo mesmo ou os de mais.
Teoria Historia - Cultural, a ausência de um
Mello ainda se utiliza de Leontiev
enfoque
sistêmico
em
ao
para explicar que a infância é um processo
desenvolvimento
de desenvolvimento humano importante e
psíquicas da personalidade humana na
que não deve ser acelerada, descrevendo da
infância é responsável por esse equivoco”.
seguinte forma: “a infância é o tempo em
(2007, p. 94).
que a criança deve ser introduzir na riqueza
das
relação
propriedades
Cada ato de experimento que a
da cultura humana histórica e socialmente
criança
vai
tendo
criada, reproduzindo para si qualidades
psicológicas
especificamente humanas”. (MELLO, 2007,
percepções, os sentidos, o pensamento, a
p. 90).
imaginação, a memória, a fala. Que vai
como:
exige
a
questões
atenção,
as
Encontramos também em Lima
transformando suas relações com o mundo.
(2008, p. 17) a proposição de que a infância
A escola trata estas questões em partes
é
distintas,
o
tempo
de
aprendizagem,
de
separada,
fragmentada,
que
desenvolvimento das diferentes funções
compromete o sucesso no ensino futuro ou
motoras, psicológicas e psíquicas, das
continuo. Trazendo dificuldades em todo o
potencialidades que surgir e estão obscuras
seu percurso escolar, que será refletida em
na criança.
sua vida adulta.
Deste modo podemos afirmar que as
A escola na infância trabalha com
atividades mais significativas e que prende
um enfoque de disciplinar o corpo em
a atenção da criança são de caráter
detrimento da formação da personalidade,
evolutivas,
no
assim esquece de pensar em formar um
aprendizado infantil está ligada ao interesse
cidadão, um pai, um filho entre outros
que a atividade lhe proporciona.
sujeitos sociais. Essa atitude equivocada
ou
seja,
a
evolução
Sendo assim, a escola não deve ser
compromete o desenvolvimento do adulto.
tão didatizada para poder levar o aluno a
Quando não se dar a devida atenção
mudanças significativas no lugar em que a
a formação da personalidade, as qualidades
59
emocionais
se
Desse modo a criança vai imitando
desenvolvem plenamente na infância, o que
o adulto até aproximadamente seis anos,
afeta
constitui
com isso a criança desenvolve memória,
problemas para o desenvolvimento do
imaginação, pensamento, linguagem oral,
adulto. (MELLO, 2007, p. 95).
atenção e função simbólica da consciência.
de
O
e
intelectuais
modo
negativo
que
se
faz
não
e
necessário
Levando
em
consideração
os
compreendermos é que quando adulto as
elementos constituintes da aprendizagem “a
questões motivacionais, emocionais será
realização do currículo precisa mobilizar
ampliadas para sua vida adulta, mas o
algumas
desenvolvimento da base sensorial foi
desenvolvimento humano, como a função
formado na escola infantil, ou na idade da
simbólica, a percepção, a memória, a
infância.
atenção e a imaginação”. (LIMA, 2007, p.
Mello (2007, p. 96) comenta que
funções
centrais
do
26).
“em cada idade da criança há uma forma
Contudo,
o
currículo
precisar
especifica por meio da qual ela melhor se
contemplar também a vida no cotidiano,
relaciona
atribui
pois, “a vida no coletivo sempre envolve a
significados e sentido ao que vê e vive”, por
cultura: as brincadeiras, o faz de conta, as
exemplo: O bebe antes de completar um
festas, os rituais, as celebrações são todas
ano de idade se comunica emocionalmente
situações em que a criança se constitui
como mundo através do olhar, do corpo, do
como ser cultural”. (LIMA, 2007, p 25).
com
o
mundo,
e
choro, e percebe as relações dos adultos.
Sendo o conhecimento um bem
Conforme Vygotsky (1996, p. 341),
comum que merece ser socializado a todos
o que primeiro caracteriza a consciência da
os seres humanos, o currículo constitui o
criança é o surgimento da unidade entre as
instrumento
por
excelência
desta
funções sensoriais e motoras.
socialização,
tendo
o
como
ensino
Como lembra Mello ao se referir “A
mobilizado
de
varias
ideologia Alemã” obra de Marx e Engels “a
percepção,
para
que
consciência nasce junto com a linguagem,
“guardar” conteúdos na memória de longa
quando a criança começa a compreender
duração inclusive. (LIMA, 2007, pp. 22,
verbalmente suas ações, quando se torna
28).
dimensões
o
aluno
da
possa
possível uma comunicação consciente com
O professor quando trabalhar os
os outros – superando a relação social direta
conteúdos teve ter em mente que não é
do primeiro ano de vida”. (MELLO, 2007,
somente o conteúdo que modifica, mas a
p. 97).
60
forma como é exposto, que traz a percepção
de querer saber ou conhecer.
LORENZATO, S. Educação Infantil e
percepção matemática – São Paulo:
Autores associados, 2006.
A escola terá um bom ensino
quando
conseguir
ligar
o
fazer
independente da criança com as orientações
do professor.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de educação Básica.
Currículo, Desenvolvimento Humano.
Secretaria de educação Básica. Brasília:
MEC/SE, 2007.
BRASIL. Secretaria de educação Básica.
Currículo, Conhecimento e Cultura.
Secretaria de educação Básica. Brasília:
MEC/SE, 2007.
MELLO, S. A. Infância e humanização:
algumas considerações na perspectiva
histórico-cultural.
Florianopolis:
Perpectiva, v. 25, n. 1, 83-104, jan./jun.
2007.
OLIVEIRA. Z. M. R. L. S. Vygotsky:
algumas Idéias sobre Desenvolvimento e
Jogo Infantil Publicação: Série Idéias n.2.
São Paulo: FDE, 1994. Páginas: 43-46
OLIVEIRA,
M.
K.
Vygotsky:
aprendizado e desenvolvimento; um
processo sócio histórico. 4. ed. São Paulo:
Scipione, 1997.
Aprender
São Paulo:
SANTANA, M. S. R. A categoria de
atividade e o desenvolvimento do
pensamento, segundo a abordagem
histórico-cultural.
Marília: UNESP,
Programa de pós-graduação em educação,
2008.
LIMA, J. M. O jogo como recurso
pedagógico no contexto educacional –
São Paulo: Unesp, 2008.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da
mente: o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. 5.ed. São Paulo
(Brasil): Martins Fontes, 1996.
LAPLANTINE,
Antropologia –
Brasiliense, 1991.
F.
4. ed.
Download

processo de aprendizagem por meio do jogo na