CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA INTERAÇÃO ENTRE PESCADORES E
CARANGUEJOS DO POVOADO PORTO DO MATO
Tania Maria Silva Santos
Aluna do curso de Ciências Biológicas- Estância – UFS - EAD
Email: [email protected]
Taiza Santana Oliveira
Aluna do curso de Ciências Biológicas- Estância – UFS – EAD
Email:[email protected]
A História pode ser encarada de dois lados e dividida em história da
Natureza ou Historia dos homens. Mas os dois lados não podem ser
separados do tempo; enquanto houver homens, a História da Natureza e a
Historia dos Homens se condicionarão reciprocamente.
Marx, 1974
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo analisar a interação entre os pescadores e a
captura do caranguejo Uça no povoado Porto do Mato. Buscou refletir sobre as
mudanças que ocorreram no povoado Porto do Mato nas últimas décadas e a
interação entre os pecadores e a captura dos caranguejos, atualmente. Analisou os
fatores que contribuíram para uma grande demanda da captura desordenada do
caranguejo, como, também, o estilo de vida da população, e possíveis
transformações. Os dados foram coletados entre os meses de julho e agosto de
2013, através de entrevistas semiestruturadas e observações em campo. Foram
entrevistados pescadores e moradores da comunidade com idades entre 30 e 84
anos. Grande parte dos entrevistados exerce exclusivamente a pesca; os demais
complementam a renda com outras atividades. A captura do caranguejo é feita
diariamente por pescadores, que vieram de outro povoado e que residem no local há
cerca de 5 a 10 anos e aí construíram sua família. Os residentes da comunidade
capturam os caranguejos para o consumo próprio. O modo de vida da população do
povoado estudado foi modificado com a implantação do projeto do padre Leeb, o
que trouxe mudanças significativas nos costumes da população local.
INTRODUÇÃO
O povoado Porto do Mato está localizado no Município de Estância/SE,
situado na porção Centro-Sul do Estado, aproximadamente a 60 km de Aracaju. O
povoado, ainda, está inserido na porção correspondente ao Litoral Sul de Sergipe e
faz parte do APA (Área de Proteção Ambiental). Com o clima sub-úmido, solo
arenoso e localizado no curso inferior de rios, a vegetação predominante é composta
por manguezais, bem como restingas e dunas, com vegetação herbácea que, por
influência da brisa marítima não desenvolve arbustos e árvores. Afastando-se do
litoral têm-se resquícios de Mata Atlântica e vegetação do tipo Cerrado.
Os manguezais são de fundamental importância para a comunidade local.
Muitas famílias se utilizam deste para a sobrevivência, através da pesca e captura
de mariscos, principalmente, do aratu e do caranguejo Uçá. Nota-se que ao longo do
processo de ocupação territorial da área, nos últimos anos, ocorreu uma extrema
exploração dos manguezais, principalmente para atender ao turismo, que ocorre de
forma desordenada, e por especulação imobiliária para veraneio. Esses fatos
contribuem para um dos graves problemas ambientais existentes na área em
estudo.
Porto do Mato é constituído por uma comunidade onde viviam os índios
Tupinambás, e é banhado por uma rica história, desde a chegada dos padres
Jesuítas e em seguida dos escravos. Alguns anos atrás, o povoado ficou
conhecido pelo belo trabalho de uma ONG, liderado por um padre missionário
austríaco Humberto Leeb e uma antiga moradora da localidade chamada Joana
Batista Costa, que apresentou a localidade ao padre nos anos 70. Por meio
de um projeto idealizado pelo padre e com doações do povo da Áustria e da
Alemanha, construíram um espaço, em uma área de 15 hectares, denominado
Centro Esperança de Deus, com escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental,
posto de saúde, pousada, restaurante, oficinas de arte, auditório, quadra de
esportes, alojamentos, igreja, ginásio coberto, campo de futebol etc. Esse trabalho
modificou a paisagem de miséria que a região apresentava.
No inicio dos anos 80, o povoado não tinha estrada, o tráfego de moradores
para fazer compras era feito por meio de canoas que faziam a travessia do Povoado
Porto do Mato até o Povoado Crasto, localizado no Município de Santa Luzia do
Itanhy. Amontoados em áreas inadequadas, do ponto de vista ambiental e sanitário,
a população não tinha emprego fixo, seu sustento era realizado pela pesca na área
de manguezal, as casas eram de taipa, sem nenhuma condição de higiene e
saneamento básico. Havia muita mortalidade infantil causada por vermes ou
desnutrição. Anos depois, construíram a estrada que liga a cidade de Estância as
praias do Saco, Dunas e Abais e o povoado Porto do Mato, passa pela Praia
da Caueira, seguindo pela rodovia Ayrton Senna até balsa do rio Vaza-Barris. Com a
construção das pontes Joel Silveira no ano de 2010, que liga o povoado Mosqueiro,
em Aracaju, ao povoado Caueira, no Município de Itaporanga D’ Ajuda e a ponte
Gilberto Amado, no ano de 2013, ligando o povoado Porto do Mato, no Município de
Estância ao povoado Terra Caída, localizado no Município de Indiaroba, a paisagem
foi mais uma vez modificada.
Desse modo, observam-se diversas mudanças que ocorreram na comunidade,
desde os anos 80 até os dias atuais. Com o projeto social liderado pelo Padre Leeb,
surgiram o asfalto, a energia elétrica, empregos, casas de alvenaria, posto
médico, escola, dentre outros benefícios que transformaram toda a vida das famílias
e o seu anterior estilo de vida. Com a introdução da tecnologia houve o
desenvolvimento da comunidade. Para Goldhaber (1986, apud SILVA, 2011, p. 6869), “se refere a um meio com vistas a um fim; um meio usualmente associado com
a manufatura e com a utilização científica de equipamentos, ferramentas e
máquinas”.
As famílias que viviam
principalmente,
do
da
caranguejo para
pesca artesanal de
peixes,
aratus
e,
consumo próprio, passaram a comercializar
esses produtos para outras regiões. Os benefícios do progresso proporcionaram
conforto e saúde às pessoas e podem ser encarados como conquistas da ciência e
da tecnologia. No entanto, o ser humano, na busca de seu próprio espaço e
condições de vida, tem oportunidade de praticar a cultura de seu povo em tudo que
faz, desde a construção de casas, hábitos alimentares, festas, crenças e modo de
viver.
O manguezal é um ambiente favorável à reprodução e desova de muitas
espécies marinhas, oferecendo proteção e alimento. Nesse ambiente de águas
escuras e lamacentas, com pouco oxigênio, há vários crustáceos, não somente
caranguejos, mas também camarões, ostras, sururus, aratu, peixes e uma grande
variedade de vida ao redor. Como o mangue é um patrimônio ambiental, fonte de
alimentação e meio de vida da comunidade pesqueira, ele precisa ser preservado.
Os bens naturais e culturais precisam ser usados no presente e no futuro, não
somente por seres humanos e suas futuras gerações, mas também por todos os
seres vivos.
Sendo assim, a APA (Área de Proteção Ambiental) do Litoral Sul de Sergipe
localizada na zona rural do Município de Estância, na praia do Abais, que tem como
objetivo proteger a diversidade biológica e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais criou mecanismos de gestão ambiental para proteção dos
manguezais e para atender a comunidade que tem sua base de sustento ameaçada
pelo avanço do turismo.
Com a chegada do turismo, aumentou a oferta de empregos em: restaurantes,
pousadas, bares, no transporte dos turistas em lanchas e, principalmente, da pesca
artesanal do caranguejo Uçá. Os pescadores da região tiveram orientação sobre a
destruição do manguezal e a prática da captura predatória do caranguejo, a fim de
contribuir para a preservação das espécies. A relação dos pescadores com o
manguezal apresenta uma cultura historicamente restrita à esfera sócio ambiental e
abrange os conflitos da modernidade, através do desenvolvimento cultural do
povoado e dos recursos naturais explorados.
O objetivo deste trabalho foi analisar a interação entre os pescadores e a
captura do caranguejo no povoado Porto do Mato. Recorremos à história oral e à
bibliografia para entender como essas modificações, provocadas pela implantação
do projeto elaborado pelo padre missionário Humberto Leeb que abriram as portas
para as transformações culturais da comunidade. Analisamos o desenvolvimento do
turismo e sua relação com a captura do caranguejo para consumo e renda da
população, como estratégia para o desenvolvimento local, da memória coletiva e dos
recursos naturais regionais. Procuramos Identificar os fatores que contribuíram para
uma grande demanda da pesca artesanal desordenadamente, principalmente do
caranguejo, como, também, conhecer o estilo de vida da população e possíveis
transformações.
METODOLOGIA
A pesquisa foi decorrente de uma reflexão realizada na Disciplina Estudos
Culturais, do Curso de Ciências Biológicas, na modalidade EAD (Ensino a Distância)
da Universidade Federal de Sergipe.
Os dados coletados para o presente trabalho foram através de entrevistas
semiestruturadas realizadas com 10 pescadores que exercem a prática de captura
dos caranguejos para comercialização e 15 moradores da comunidade entre eles
professores, donos de mercearias, piloto de lanchas, caseiros, marisqueiras e
aposentados, no período de julho e agosto de 2013, selecionados de acordo com a
disponibilidade em participar da entrevista. Nas entrevistas foram abordados: perfil
do entrevistado, modalidade da pesca, espécies capturadas, ocorrência entre a
pesca artesanal, uso sustentável dos recursos e o desenvolvimento observado na
comunidade. Foram feitas fotos e gravação dos entrevistados, quando autorizado.
As demais entrevistas foram feitas com anotação dos dados coletados nas
conversas.
Para interpretação dos resultados foram analisadas as falas dos entrevistados,
como uma cultura que passa a ser vista como práticas que os indivíduos adquirem
com seus familiares e com o seu meio, mas que com o passar dos anos foram
modificadas, em busca de melhor condição de vida. Estudos culturais nos mostram
que os estilos de vida não são algo fixo, porém criados no seio da cultura e com
possíveis mudanças.
RESULTADOS
Foram entrevistados 25 moradores da comunidade, com idade entre 30 e 84
anos, constituída em sua maioria, por indivíduos do sexo masculino. O tempo de
atuação na pesca, como profissão, variou entre 12 e 70 anos. A grande parcela
(cerca de 65,4%) exerce exclusivamente a pesca; os demais complementam a renda
com outras atividades como: aposentadoria, carpintaria naval, conserto de artefatos
pesqueiros, construção civil, corretagem, funcionalismo público, instalações
elétricas, turismo e prestações de serviços em geral. Observa-se que os pescadores
atuais da comunidade são do povoado Rua da Palha (Santa Luzia do Itanhy), que
construíram sua família e permanecem no local em torno de 5 a 10 anos, com a
prática da captura do caranguejo para comercialização, enquanto os residentes da
comunidade capturam o mesmo para o consumo próprio.
Com as entrevistas feitas com os moradores e pescadores da região é
possível observar que a prática de captura dos caranguejos é diária. Alguns
pescadores usam um material que chamam de laço. Colocam o laço no buraco pela
manhã e no final da tarde puxam com os caranguejos machos e fêmeas. O que
segundo Costa (2006 apud COSTA, e; ALVARENGA, 2013, p. 4):
Uma série de maneiras de conviver com os ambientes frágeis se
desenvolveram ao longo de gerações por povos, através de conhecimentos
transmitidos oralmente de geração a geração. E essas práticas, saberes e
técnicas são construídos e significados em uma correlação do indivíduo
com o coletivo, com a natureza e com processos produtivos artesanais.
Estas formas de convívio permitem a construção de uma identidade cultural
para diferentes grupos sociais que se firmam como comunidades. E estas
estabelecem uma relação de dialética com a sociedade, negando e afirmando
valores em um pensamento contínuo de criação de estratégias de sobrevivência
(ALVARENGA, 2002 apud COSTA, e ALVARENGA, 2013).
Com a estrada e a construção do Centro Social, liderada pelo padre Humberto
Leeb e sua colaboradora Joana Costa (in memorian), aumentou o número de
turistas que visitam a comunidade e consequentemente a procura pelo caranguejo.
Os pescadores passaram, então, a capturar os caranguejos desordenadamente,
como também os aratus, para fazer catado e comercializar.
Motta-Maués (1993, apud PINHEIRO, 2008) retrata a forte relação das
mulheres com a atividade agrícola e dos homens com a pesca. Segundo o
autor, nas comunidades
pesqueiras
no
Brasil,
geralmente,
as
atividades
relacionadas à agricultura tendem a ser atribuídas às mulheres. No Porto do Mato a
atividade pesqueira é atribuída a homens e mulheres. Geralmente, as mulheres vão
à busca do aratu, elas sobem na árvore do mangue e cantam para os aratus saírem
de suas tocas. Depois de capturados são cozidos e sua carne retirada para ser
comercializada. Os homens se encarregam, em sua grande maioria, da captura do
caranguejo Uçá e da pesca artesanal com tarrafa. Devido à captura do caranguejo
ser mais complicada, eles utilizam várias estratégias para a coleta. Uma delas é
colocar todo o braço em um buraco fundo onde estão abrigados.
Com o desenvolvimento da comunidade, surgiram casas para veraneio, bares,
restaurantes e lanchas para transportar os turistas a outras localidades, como
Mangue Seco. Como consequência, a pesca de mariscos, para comercialização,
que começou a crescer desordenadamente. A procura maior era pelo caranguejo
Uçá. Diante disso, houve a intervenção do IBAMA e da APAS. Os pescadores foram
orientados a pescar no tempo devido, contribuindo para a preservação das espécies
e diminuição dos impactos ambientais, na região.
Benjamin (1999, apud COSTA e ALVARENGA, 2013) comenta que nos
estudos de dinâmica cultural as mudanças ganham maior atenção, enquanto que
aquilo que permanece de “traço cultural” se torna objeto de estudo de grupos
específicos, como folcloristas ou arqueólogos, pois em todas as sociedades existem
grupos de resistência que ainda não tendo consciência disso, conservam através
dos tempos as tradições culturais. Os pescadores da região, atualmente, fazem uso
racional dos recursos naturais, praticando ações de desenvolvimento sustentável
que inclui preservação do mangue para as necessidades das gerações futuras.
‘Exercer outras atividades econômicas, para complementar a renda familiar, é uma
prática comum entre os pescadores artesanais do Brasil’. (DIEGUES, 1983;
DIEGUES E ARRUDA, 2001; DIEGUES, 2006 apud ALARCON, DÂMASCO e
SCHIAVETTI, 2009, p. 3).
Os pescadores alegaram que a fartura do pescado é o principal atrativo para
pescadores de outras localidades, o que pode ser observado na seguinte informação
do líder comunitário “Aqui vem gente de vários lugares para pescar, aqui tem mais
peixes e outros mariscos. Temos diversos tipos de mangues e se procurarmos mais
bichos acharemos”. No entanto, os entrevistados relataram que, a presença de
embarcações e constante fluxo de pessoas na área de manguezal geram conflitos
no povoado e desaparecimento quase por completo de populações marinhas e
estuarinas. Esse fato poderia ser solucionado com o estabelecimento de normas
para a exploração dos recursos naturais, elaboradas pelos órgãos de proteção
ambiental, tanto para a pesca quanto para a urbanização e o turismo.
Os pescadores locais identificam duas estações climáticas “verão”, entre
outubro e março, e “inverno”, entre abril e setembro, que estão relacionadas à
sazonalidade dos recursos e, consequentemente, implica na sazonalidade do uso
dos apetrechos de pesca. De acordo com Burda e Schiavetti (2008, apud
ALARCON, DÂMASCO e SCHIAVETTI, 2009), os peixes e caranguejos nestas
estações, têm uma maior ocorrência no verão e isso é confirmado pelos pescadores.
Quanto ao desenvolvimento cultural e local, as pessoas que vivem no
povoado contam que esse desenvolvimento só foi possível com a chegada, do Rio
de Janeiro, de uma antiga moradora da localidade chamada Joana Batista Costa,
em 1977, que queria salvar o seu povo da miséria e junto com ela trouxe o
missionário padre Humberto Leeb, que ficou encantado com o local e, ao mesmo
tempo, assustado com as condições precárias em que a população vivia.
Costa e Alvarenga (2013, p. 3-4) demonstram a noção de cultura proposta por
Sawaia (1996), “comunidade é um conceito que está presente de forma intermitente
na história das ideias”. A autora se refere ao conceito de comunidade sobre o
homem e seu grupo de vivencia, em que a Cultura pode ser entendida como
qualquer lugar social onde não apenas se dão constantes lutas pela imposição de
significados, valores e modos de vida, como também, se constituem subjetividades e
se dão poderosos processos de regulação social.
Depois da implantação desse projeto e a urbanização, que tornou o povoado
acessível e procurado para passeios turísticos, a demanda de produtos pesqueiros
aumentou, principalmente do caranguejo Uçá, o que provocou a prática da pesca
artesanal predatória uma das causas para a diminuição desses animais no
ambiente. Com isso, pescadores que viviam da captura desses crustáceos foram
obrigados a desenvolver outras práticas trabalhistas para sustentar suas famílias. Os
caranguejos podem ser comercializados, porém deve ser respeitado o período de
“defeso” a fim de garantir a sustentabilidade da espécie. Em referência ao Brasil,
Diegues (1995, apud PINHEIRO 2008, p. 21-22) expõe a degradação dos
ecossistemas litorâneos, e como essa ação influencia negativamente as condições
de vida das comunidades pesqueiras no litoral. O autor ressalta que:
O empobrecimento rápido e crescente dos ecossistemas litorâneos e
costeiros, e a consequente diminuição dos recursos pesqueiros disponíveis,
causado pela poluição e degradação ambiental e a expulsão crescente dos
pequenos pescadores de suas praias são tão graves em muitas regiões que
se pode falar de uma verdadeira destruição das comunidades e culturas
litorâneas.
A mudança cultural, que ocorreu no povoado, envolve mudanças em termos
de tecnologia e conhecimento. Do ponto de vista econômico, o povoado se
desenvolveu economicamente depois da construção das estradas e casas de
veraneio, levando ao turismo, que pode causar impactos negativos, devido à pesca
desordenada de mariscos, principalmente, o caranguejo. A orientação da APA sobre
a preservação do manguezal, para futuras gerações, provocou a conscientização
dos pescadores locais, reduzindo a captura das espécies para que ocorresse um
desenvolvimento sustentável entre a comunidade e os recursos naturais do
manguezal.
Esse tema de desenvolvimento sustentável foi popularizado pela ECO-92,
Conferência do Rio de Janeiro, realizada em 1992 “como o desenvolvimento que
satisfaz às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade
das gerações futuras, para satisfazer suas próprias necessidades”. Barquero (2001,
apud PINHEIRO, 2008, p. 31) complementa esse modelo de desenvolvimento ao
dizer:
[...] propõe-se a atender às necessidades e demandas da população local
através da participação ativa da comunidade envolvida. Mais do que obter
ganho em termos da posição ocupada pelo sistema produtivo local na
divisão internacional ou nacional do trabalho, o objetivo é buscar o bem
estar econômico, social e cultural da comunidade local em seu conjunto.
Diante desse fato, é preciso pensar na natureza e no meio ambiente.
Compreender que o mangue é um patrimônio ambiental e um berçário de vida
marinha, por oferecer condições de proteção, alimentação, reprodução e desova de
muitos animais. Ou seja, ele é fonte de alimentação e meio de vida da comunidade
pesqueira. Muitas famílias sobrevivem diretamente dos recursos que a natureza
oferece.
CONCLUSÕES
O presente trabalho teve como objetivo mostrar aos leitores uma história
de mudança de identidade que ocorreu com o povo da comunidade do Porto do
Mato por influência da introdução do projeto liderado pelo padre Leeb e, também,
pelo aumento do turismo. A relação da comunidade do povoado Porto do Mato com
o ambiente e cultura tem uma história que está relacionada com o meio em que
vivem com a chegada do Padre Humberto Leeb e o desenvolvimento do turismo,
que gerou novos empregos e distribuição de renda à comunidade.
A mudança cultural provoca diversas transformações no modo de agir, pensar
e em geral no comportamento social. É visível perceber essas mudanças
principalmente no aspecto de consumo e da vivencia social e no crescimento de
infraestrutura de um determinado lugar como ocorreu no Porto do Mato. Estradas,
construção de ponte, restaurantes, pousadas, passeios de lancha, às praias
próximas à região, trouxeram emprego para os moradores da comunidade devido ao
grande fluxo de turistas.
Antigamente, os pais transmitiam seus conhecimentos para os filhos. Devido a
novos conhecimentos e fonte de sobrevivência, poucos seguem a profissão dos
pais, ou seja, a prática tradicional de pescar e capturar caranguejo vem deixando de
ser praticada. Além disso, os pescadores da região modificaram sua prática de
capturar caranguejo. O que era, apenas, para seu sustento, atualmente é, também,
para comercialização. Segundo Alvarenga (2002, apud COSTA e ALVARENGA,
2013), estas maneiras de conviver permitem a constituição de uma identidade
cultural dos diferentes grupos sociais que se consolidam como comunidades.
Muitos pais que viviam da pesca deixaram esta profissão para ser caseiro de
residências de veraneio ou trabalhar em lanchas, restaurantes e pousadas
construídas com o desenvolvimento do turismo. Aqueles que ainda capturam o
caranguejo e outros mariscos, além de sustentar a família, comercializam. Esse fato
aumentou a extração de animais em épocas indevidas e com isso quase uma
extinção das populações, principalmente do caranguejo. E essa relação do processo
exploratório dos recursos naturais, sem restrições, com a cultura, não tem levado em
conta os custos sociais e ambientais ocasionados pela implantação de grandes
empreendimentos. Isso tem levado a consequências sem precedentes no que se
refere à biodiversidade e à perda da sociodiversidade confirmado por resultados de
pesquisa (COSTA, 2006; BUARQUE DE HOLANDA, 1957; FREIRE, 1985;
ALVARENGA, 2002; COSTA, 2001 apud COSTA e ALVARENGA, 2013).
Em Porto do Mato, a comunidade e sua cultura foi modificada com a
implantação do projeto do padre Leeb, o que trouxe mudanças significativas nos
costumes da população local. As pessoas passaram a ter noção de higiene, a
frequentar a igreja e a escola com o intuito de se alfabetizar, cuidar melhor da
saúde, dos hábitos alimentares, as casas que antes eram em sua grande maioria de
taipa passaram a ser de alvenaria. Com isso, houve uma mudança nos hábitos
culturais da população.
Apesar da captura desordenada de caranguejo da região para comercialização
e sobrevivência de alguns pescadores, o turismo trouxe benefícios para a
comunidade, através de empregos, educação e melhores condições de vida.
REFERÊNCIAS
ALARCON, D. T; DÂMASCO, R. C. S. C; SCHIAVETTI, A. – OS NOMES DEVEM
SER COMPLETOS Abordagem Etnoecológica da pesca e captura de espécies
não alvo em Itacaré, Bahia (Brasil). B. Inst. Pesca. São Paulo. 35(4): 675-686.
2009. Disponível em:< /ftp. sp.gov.br/ftppesca/3.... > Acesso em: 25 de jun de 2013.
COSTA, S. L; ALVARENGA, L & A. M. Estudo de / com comunidades tradicionais:
Cultura, Imagem e Historia Oral. Série Documenta Eicos, nº 17. Disponível
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PINHEIRO, J. O. C. Desenvolvimento Local em Comunidades Tradicionais
situadas em Àreas Costeiras: o estudo de caso da Vila Mota, Maracanã (PA).
Dissertação (mestrado). Universidade Federal do Pará. Núcleo de Ciências Agrárias
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Amazônicas. Belém. 2008. Disponível em:<www.agriculturasamazonicas.ufpa.br/... >
Acesso em: 26 de jun de 2013.
SILVA, T. T. (Org.) Alienígenas na sala de aula: Uma introdução aos estudos
culturais em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
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contribuição ao estudo da interação entre pescadores e