O PIB do
urso
Economia
O crescimento de 0,6% no 1º trimestre
mais saudável da economia, em que o
empresas desafiando a gravidade econô
0,1%
foi o
crescimento do
PIB no primeiro
trimestre de 2012
em relação ao
quarto trimestre
de 2011
montagem sobre foto de REUTERS/Alexander Demianchuk.
NO ALTO, O URSO MASHA, ASTRO DE CIRCO NA RÚSSIA
nonononononononononono
00/00/2000
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Dinheiro
O DOMADOR:
frustrou expectativas, mas revelou um cenário
investimento volta a subir após dois anos. São as
mica e ganhando músculos para a retomada
Luís Artur NOGUEIRA
0,6%
foi o
crescimento
do PIB no
primeiro
trimestre de 2013
em relação ao
quarto trimestre
de 2012
o ministro Guido Mantega combate os pessimistas e vê sinais positivos no PIB trimestral
nonononononononononono
Dinheiro 00/00/2000
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Economia
N
o mercado financeiro, há um duelo constante entre dois tipos de
investidores: touros e ursos. Os primeiros, mais otimistas, compram
ativos apostando na sua alta, enquanto os ursos, eternos pessimistas,
atuam no sentido oposto. Esse segundo grupo vibrou à toa na quartafeira 29, quando o IBGE divulgou o modesto crescimento do PIB de
0,6% no primeiro trimestre, abaixo das expectativas do mercado, em
torno de 1%. O índice Ibovespa caiu 2,5% e o dólar subiu para o maior
patamar em quase seis meses, R$ 2,11. A boa notícia é que há um dado
alentador no índice de crescimento da
economia. Embutido no PIB de 0,6%
sobre o trimestre anterior, veio uma
surpresa: a formação bruta de capital
fixo (FBCF), considerada um termômetro dos investimentos no País, subiu
4,6%, a maior alta desde o início de
2010. Pode ser o início da descoberta de
um pote de mel no fim da trilha do urso.
“Temos um crescimento de qualidade
na economia brasileira”, disse Guido
Mantega, ministro da Fazenda, em
Brasília, logo após o anúncio do IBGE.
A qualidade a que o ministro
Mantega se refere é o fato de que a economia já não se move apenas pelo consumo das famílias, que cresceu módico
0,1% no primeiro trimestre. O arrefecimento nas compras decorre da inflação
elevada, da oferta de crédito mais tímida
e dos juros em alta. A retomada do investimento é uma realidade, como constatará o próximo balanço do BNDES.
Segundo a DINHEIRO apurou, os dados
mostrarão que os desembolsos atingiram o recorde de R$ 54 bilhões no primeiro quadrimestre do ano, uma alta de
59% em relação ao mesmo período de
2012. O setor de máquinas industriais,
com expansão de 100%, totalizou R$ 8,5
bilhões (leia quadro na página ao lado).
“Ficamos felizes em confirmar o excelente desempenho da formação bruta
de capital fixo, principal sustentáculo
do crescimento do PIB”, disse Luciano
Coutinho, presidente do BNDES, no Rio
de Janeiro, após a divulgação do IBGE.
Embora projetasse um PIB mais pró-
ximo de 1%, o governo prefere olhar para
frente a lamentar o resultado. Nessa
batalha pela expansão dos investimentos,
o País já pode contar com a ajuda das
montadoras. A produção de caminhões,
que são considerados investimentos, tem
um peso importante na FBCF. “Vamos
crescer entre 8% e 10% em relação a
2012”, diz Alcides Cavalcanti, diretorcomercial da Iveco, cuja fábrica em Sete
Lagoas (MG) vai receber parte dos R$ 15
bilhões que serão investidos pela controladora, o Grupo Fiat, até 2016 no País. “A
nossa confiança se baseia nas renovações
de frotas programadas de grandes empresas, especialmente do setor agrário.”
Para que os investimentos deslanchem de forma sustentada, no entanto, é
preciso estimular a aquisição de máquinas pelas indústrias. Neste item, há uma
boa e uma má notícia. A boa é que muitas
empresas resolveram comprar equipamentos no primeiro trimestre para
ampliar ou renovar o seu parque fabril. A
má notícia é que a maior parte do maquinário veio do Exterior. “O nosso setor
vive, no Brasil, uma recuperação lenta,
gradual e nada entusiasmante”, afirma
Mário Bernardini, diretor de competitividade da Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e (Abimaq).
Os números da entidade mostram que o
volume de bens de capital importado
cresceu 6,2% no primeiro quadrimestre,
totalizando US$ 10,5 bilhões. “Por
ânimo de touro
pogetti,
da
copersucar
leme,
da dedini
O nosso crescimento se deve
à maturação dos
investimentos na melhoria da
produtividade
Dinheiro 05/06/2013
“
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foto: REUTERS/Alexander Demianchuk
“
Esperamos ansiosamente
que 2014 seja o ano da virada
e que o Brasil tenha um ciclo
virtuoso
“
“
DESAFIANDO A GRAVIDADE
A DInheIRo traz com exclusividade
o balanço recorde* de empréstimos
concedidos pelo BnDeS no
primeiro quadrimestre
Desembolso total
54 bilhões
(alta de 59%)
Desembolso para bens de capital
23 bilhões
11
(alta de 77%)
3,5
bilhões
8,5
bilhões
bilhões
Máquinas
agrícolas Máquinas
(alta de industriais
(alta de
160%)
100%)
Materiais de
transporte
(alta de 48%)
* em relação ao período de janeiro a abril de 2012
Fonte: BNDES
A FORÇA DO CAMPO
no 1º trimestre, os diversos setores da
economia não remaram no mesmo sentido
0,6%
+
PIB
9,7%
+
Agropecuária
0,3% +0,5%
-
Indústria
Serviços
Fonte: IBGE
enquanto, estamos nos recuperando na
UTI”, diz Sérgio Leme, presidente da
Dedini Indústrias de Base, que faturou
R$ 600 milhões no ano passado, ante
uma receita de R$ 2 bilhões em 2008.
No entanto, diante de um leque de
oportunidades que serão geradas pelas
concessões na área de transporte e energia (leia reportagem na pág. 36), até
mesmo os empresários contaminados
pelos ursos apostam num futuro próspero. “Esperamos ansiosamente que 2014
seja o ano da virada e que o Brasil tenha
um ciclo virtuoso”, afirma Leme. Outro
segmento promissor, que está demandando em larga escala as linhas de crédito do BNDES, é o agronegócio. Os financiamentos de máquinas agrícolas cresce-
ram 160%, o que ajuda a explicar a explosão nas vendas do setor. Por causa da
safra recorde 2012/2013 de grãos, o PIB
do agronegócio avançou 9,7% no primeiro trimestre, liderando, com folga, o crescimento da economia pelo lado da oferta
– a indústria recuou 0,3% e o setor de
serviços apresentou leve expansão de
0,5%, segundo o IBGE. Surfando essa
onda favorável, a cooperativa Copersucar
aumentou em 14,5%, na última safra, os
seus volumes de comercialização de açúcar e em 24,3% os de etanol. “O crescimento se deve à maturação dos investimentos na renovação dos canaviais e na
melhoria da produtividade, pelas nossas
47 usinas sócias”, diz Luís Roberto
Pogetti, presidente do Conselho de
Administração da Copersucar, que tem
60% do faturamento atrelado às exportações. O braço de logística da empresa
está investindo R$ 2 bilhões até 2015.
“Os gargalos logísticos que enfrentamos
hoje no Brasil são um claro obstáculo ao
aumento da nossa competitividade”,
afirma Pogetti, que confia no sucesso
das concessões do governo.
O mesmo otimismo é compartilhado
pela Mills, prestadora de serviços de
engenharia, que investiu R$ 1,2 bilhão
nos últimos três anos e anunciou recentemente mais R$ 481 milhões para 2013.
“A aprovação da MP dos Portos, a privatização de dez mil quilômetros de
ferrovias e a licitação de 7,5 mil quilômetros de rodovias previstas para o
segundo semestre deverão garantir
obras para o setor de infraestrutura
por ao menos cinco anos”, diz Ramon
Vazquez, presidente da Mills. “Isso nos
anima a investir em equipamentos
para aumentar nossa produtividade.”
Já as empresas voltadas para a produção de bens de consumo contam com
uma retomada em 2014. Segundo a
Associação Nacional das Instituições de
Crédito (Acrefi), essa expectativa deve se
confirmar, uma vez que o quadro de
pleno emprego ajuda as famílias a colocarem suas contas em dia, encorajando
os credores a expandir os empréstimos.
“A queda da inadimplência possibilitará
ao mercado reabrir as torneiras do crédito e testar novos limites a partir do quarto trimestre deste ano”, diz Érico Sodré
Quirino Ferreira, presidente da Acrefi.
Com o crédito destravado, o consumo
deve crescer num cenário de investimento em alta – e os touros do mercado
irão rir por último.
Colaboraram Cláudio Gradilone
e Denize Bacoccina
vaias para o BC
Copom eleva juros num momento
em que a economia precisa de
mais estímulos
No mesmo dia em que a alta modesta
do PIB do primeiro trimestre decepcionou
o mercado, os diretores do Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco
Central aumentaram, em decisão unânime, o ritmo de alta dos juros básicos. A
taxa Selic, que subira 0,25 ponto percentual em março, passou de 7,5% para 8%,
um salto de 0,5 ponto. “O Comitê avalia
que essa decisão contribuirá para colocar
a inflação em declínio e assegurar que
essa tendência persista no próximo ano”,
informou o comunicado do BC, emitido na
noite da quarta-feira.
A decisão do colegiado foi particularmente frustrante para o setor industrial,
que encolheu 0,3% no primeiro trimestre.
“Não é hora para aumento de taxa de
juros”, afirma Paulo Skaf, presidente da
Fiesp. O risco maior é de o aperto monetário não ser o
ideal para
controlar a
inflação,
mas o suficiente para
esfriar os
i nv e s t i mentos
produtivos.
Um desserviço do Banco
Central ao
País.
fotos: Luis Ushirobira/Valor/Folhapress e Regis Filho/Valor/Folhapress
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ursoo crescimento de 0,6% no 1º trimestre frustrou expe mais