Memorias Convención Internacional de Salud. Cuba Salud 2015
ISBN 978-959-212-963-4
ID:1745
UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA DO GEPROCESSAMENTO EM SAÚDE COMO
FERRAMENTA DE VIGILÂNCIA, PREVENÇÃO E CONTROLE DA HANSENÍASE EM
SOBRAL, CEARÁ, BRASIL
Mont’Alverne Napoleão Albuquerque, Izabelle; Aguiar Ribeiro, Marcos. Brasil
RESUMO
A utilização do geoprocessamento no campo da saúde mostra-se como ferramenta importante para vigilância, prevenção e controle de doenças, pois permite visualizar a distribuição espacial de fatores de
risco ambientais e associa-los a determinantes sociais de saúde locais mediante uma análise gráfica. No
que concerne a Hanseníase, apesar da diminuição da taxa de detecção e dos esforços para a eliminação,
a hanseníase ainda constitui-se um relevante problema de saúde pública. Partindo desse pressuposto,
justifica-se a relevância da utilização da tecnologia do geoprocessamento como ferramenta de vigilância, prevenção e controle da Hanseníase, de forma contribuir para sua eliminação. Assim, têm-se como
objetivo analisar a distribuição espacial da Hanseníase no Sistema Municipal de Saúde de Sobral - CE,
utilizando técnicas de geoprocessamento. Dessa forma, utilizou-se de um estudo de abordagem quantitativa do tipo epidemiológico-ecológico-transversal. A coleta de dados se deu mediante fontes documentais e foram sistematizadas através de tabulações e mapeamento no EpiInfo® e analisadas através
de cálculo de indicadores. Neste ínterim, geoprocessamento dos casos de hanseníase colaborou para o
monitoramento, planejamento e avaliação de ações de saúde pública a esta patologia, nos âmbitos da
vigilância em saúde, gestão em saúde e atenção básica em saúde, de forma a reconhecer os determinantes sociais de saúde associados e permitir intervenções coerentes para a sua eliminação.
Palavras chave: Saúde Pública, Sistema Único de Saúde Brasileiro, Geoprocessamento, Hanseníase.
INTRODUÇÃO
O atual contexto dos sistemas de saúde tem levado a uma crescente demanda por informações que permitam a avaliação dos serviços de saúde e o gerenciamento de recursos públicos. Nessa perspectiva, a
utilização de técnicas de análise espacial por meio do geoprocessamento de dados georreferenciados
tem despertado muito interesse ao setor saúde, uma vez que permite ter uma visão abrangente da saúde
dos indivíduos no contexto social, histórico, político, cultural e ambiental em que estão inseridos.
Assim, o geoprocessamento pode ser definido como um conjunto de técnicas computacionais necessárias para manipular informações espacialmente referidas. Aplicado à Saúde Coletiva permite o mapeamento de doenças, a avaliação de riscos, o planejamento de ações de saúde e a avaliação de redes de
atenção1.
Barcelos e Bastos2 corroboram ao afirmar que a tecnologia do Geoprocessamento está presente em diferentes áreas do conhecimento, o que lhe confere um caráter essencialmente transdisciplinar. Na área
de saúde, o Geoprocessamento tem sido classicamente aplicado no campo da epidemiologia, em investigações que procuram associar a distribuição de doenças e agravos em coletividades humanas.
Nessa perspectiva, infere-se a importância do geoprocessamento como tecnologia de informação em
saúde no município de Sobral, Ceará, Brasil, onde a sua implementação resulta em um sistema de informação inovador com mapas computadorizados dinâmicos onde os dados históricos ou em tempo
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real podem ser visualizados e utilizados para apresentar a informação no curso do estudo de uma doença.
Ne que se refere a Hanseníase, esta, constitui-se como uma doença infecciosa de notificação compulsória causada pela bactéria Mycobacterium leprae que acomete preferencialmente a pele e os nervos periféricos. Nestes, tem um grande potencial para desenvolver incapacidades físicas, que podem evoluir
para deformidades visíveis. Caracteriza-se também por uma evolução lenta, alta infectividade e baixa
patogenicidade, manifestando-se, principalmente, através de sinais e sintomas dermatoneurológicos3.
Neste ínterim, o geoprocessamento da hanseníase configura-se como uma tecnologia capaz de contribuir para o planejamento e avaliação das ações de saúde, de forma a mapear, monitorar e disseminar as
informações em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde brasileiro, propiciando a evolução do
sistema de saúde como um todo, em especial a atenção primária à saúde pública, por meio de recursos
que proporcionarão melhoria da qualidade da informação nesse setor e a transformação dos serviços de
saúde.
Assim, têm-se como objetivo Analisar a distribuição espacial da Hanseníase em um território de saúde
do Sistema Municipal de Saúde de Sobral, Ceará, Brasil, utilizando técnicas de geoprocessamento, de
forma a propiciar informações e análises de forma executiva e gerencial que subsidiem o planejamento
e avaliação das ações de saúde à Hanseníase, inferindo na tomada de decisões, de forma a contribuir
para sua eliminação.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa que segundo Moresi4 é usada quando se quer determinar o perfil de um grupo de pessoas, baseando-se em características que elas têm em comum (como
demográficas, socioeconômicos, epidemiológicas). Através de técnicas estatísticas avançadas inferenciais, ela pode criar modelos capazes de predizer se uma pessoa terá uma determinada opinião ou agirá
de determinada forma, com base em características observáveis.
Com base nos seus objetivos gerais, esse estudo é classificada como epidemiológico, que visa estudar
determinado fenômeno na população em geral, descrevendo a distribuição ou variação deste fenômeno
na população, através da investigação de um grande número de sujeitos, em amplas amostras representativas da população.
Além disso, o estudo também está subclassificado com estudo ecológico de referência temporal transversal. Segundo Almeida Filho e Rouquayrol5 o estudo ecológico compõe uma tipologia de pesquisa
epidemiológica que abordam áreas geográficas ou blocos de populações bem delimitados, analisando
comparativamente variáveis globais, quase sempre por meio de correlação entre indicadores de condições de vida e indicadores de situação de saúde.
O campo de investigação correspondeu ao Sistema Municipal de Saúde de Sobral através do recorte de
um território de Saúde da Família da Sede do município. As doenças eleitas seguiram como critério de
inclusão a portaria GM/MS nº 104/2011 que estabelece a relação de doenças e agravos e eventos em
saúde pública de notificação compulsória em todo território nacional6. A partir do elenco de doenças e
agravos discriminado na referida portaria foi determinado como critério a doença de maior relevância
para vigilância, em saúde do município de Sobral. Portanto, foi eleita a Hanseníase.
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Optou-se por fazer um recorte temporal entre os anos de 2003-2013, de forma a conhecer a distribuição
da Hanseníase.
Portanto, elegeu-se como sujeitos do estudo pessoas portadoras de Hanseníase, desde que assistidas
pela Estratégia Saúde da Família dos referidos territórios, sendo suas informações acessadas por meio
de fontes documentais.
Nesse sentido, a busca da captação dos conteúdos e informações acerca do objeto em estudo nos levou
a eleger como método de coleta de dados a consulta a fontes documentais. As fontes documentais que
foram utilizadas neste estudo são: Sistema de Informação em Saúde; Prontuário; Fichas de Notificação
e Fichas de Investigação.
Após a coleta os dados, as informações foram processadas nas seguintes etapas: tabulação dos dados e
mapeamento. Para isso, utilizou-se o programa EpiInfo™, por ser um software facilmente usado em
locais com conectividade de rede limitada ou recursos limitados para software comercial e profissional
de suporte de TI. É flexível, dimensionável e livre, permitindo a coleta de dados, análises estatísticas
avançadas e sistema de informação geográfica (GIS) capacidade de mapeamento.
Vale salientar ainda, que o estudo obteve parecer favorável pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Vale do Acaraú com número de parecer: 470.655, a partir da Resolução de 466/12
do Conselho Nacional de Saúde7.
RESULTADOS
A priori foi estudado a distribuição dos casos de Hanseníase no bairro, segundo Sexo, Idade, Raça/Cor,
Escolaridade, Classificação Operacional, Forma Clínica, Grau de Incapacidade, Modo de Entrada,
Forma de Detecção, Baciloscopia, Nervos Afetados e Contatos Examinados, no período: 2003-2013
Nesse sentido, tivemos uma população de 143 casos de hanseníase no período de 2003-2013.
No que concerne ao sexo, 51,05% (n=73) corresponde ao sexo masculino e 48, 95% (n=70) ao
sexo feminino.
Quanto a idade, optou-se por calcular a moda, média e mediana das idades. A moda correspondeu a 31 anos, a média foi 37 e a mediana 35. Nesse sentido, observa-se um maior quantitativos
de adultos.
Quanto a Raça/Cor: 19,58% Branca (n=28), 9,79% Preta (n=14), 1,39% Amarela (n=02),
67,83% Parda (n=97), 0,69% Indígena (n=01), 0,69% Ignorado (n= 01).
No que se refere ao grau de escolaridade o maior quantitativo, 25,87% (n=37) corresponde de 5ª
à 8ª série incompleta do EF (antigo ginásio ou 1º grau), o que reforça a relação da hanseníase
com os determinantes sociais da saúde, dentre eles o baixo grau de escolaridade.
No que concerna a classificação operacional 52,44% (n=75) tem classificação operacional Multibacilar e 47,55% (n=68) tem classificação operacional Paucibacilar.
Quanto à forma clínica: 23,07% (n=33) tem forma Indeterminada, 25,87% (n=37) Tuberculóide,
25,17% (n=36) Dimorfa, 20,97% (n=30) Virchoviana, 4,89% (n=07) Não classificada.
Em relação ao grau de incapacidade: 19,58% (n=28) têm Grau 1, 4,20% (n=06) Grau 2, 62,94%
(n=90) Grau Zero, 13,29% (n=19) Não Avaliado.
No que se refere ao modo de entrada 95,90% (n=137) têm como modo Caso Novo, 0,69%
(n=01) transferência de outro município, 2,09% (n=3) Reincidiva e 1,39% (n=2) por outros
reingressos.
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Quanto a forma de detecção a maioria é por encaminhamento e demanda espontânea, com os
percentuais 32,87% (n=47) e 56,64% (n=81), respectivamente, Somente 2,80% (n=4) é detectado por exames de contato e também 2,80% (n=4) é detectado por exame de coletividade.
Acerca da baciloscopia: 15,38% (n=22) é positiva, 26,57% (n=38) é negativa, 6,99% (n=10)
não foi realizado e 51,04% (n=73) foi ignorado.
Em relação aos nervos afetados, a maioria 85,31% (n=122) não tem nenhum nervo afetado,
sendo seguido por 1 nervo afetado com o percentual de 4,19% (n=06).
No que concerne ao exame de contatos, 69,83% (n=100) foram examinados e 30,07% (n=43)
não foram examinados.
Após ao estudo desse dados foram geoprocessadas algumas dessas informações em mapas.
Os mapas têm o objetivo de proporcionar uma visualização espacial dos indicadores, de forma a
proporcionar intervenções coerentes com a realidade espacial, bem como relacionar os agravos
aos determinantes sociais do bairro.
Figura 1 Geoprocessamento da Classificação operacional, hanseníase, Sobral (2003-2013). Fonte: Própria
A partir desse mapa, observa-se a distribuição da classificação operacional da Hanseníase pode-se observar um aglomerado de casos na região central do bairro, região esta, com maior tempo de ocupação
e marcada por baixos índices socioeconômicos e grandes aglomerados populacionais.
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Figura 2 Geoprocessamento dos Contatos de Hanseníase examinados e não examinados (2003 -2013). Fonte: Própria
Este mapa que traz a distribuição dos contatos não examinados de Hanseníase colabora para a identificação dos mesmos, de forma a propiciar para a equipe a visualização espacial do portador cujos contatos não foram examinados, propiciando assim um instrumento para tomada de decisões.
Ao estratificar as idades, construiu-se um mapa de casos de hanseníase em menores de 15 anos no bairro, este mapa corresponde a um indicador espacial sensível da hanseníase e colabora para construção
intervenções próxima e busca do caso índice.
Figura 3 Geoprocessamento da Hanseníase em Menores de 15 anos estratificado por Classificação Operacional (2003
-2013). Fonte: Própria
Nesse sentido, os mapas geoprocessados colaboram para a tomada de decisão, bem como para a vigilância dos casos de hanseníase. Partindo desse pressuposto, construiu-se a oficina do Mapa Vivo com
os profissionais da Atenção básica à saúde.
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A oficina tinha como objetivo compartilhar os resultados do Geoprocessamento dos casos de Hanseníase no então território de saúde, de forma a construir uma agenda estratégica de ações de saúde e atividades para melhoria do cuidado e da investigação em saúde no âmbito da estratégia saúde da família.
A partir da oficina do Mapa Vivo a equipe de saúde da família construiu uma agenda estratégica, com
datas e profissionais responsáveis, com as seguintes atividades: Educação em Saúde sobre Hanseníase
na Sala de Espera; Busca ativa de novos casos de Hanseníase; Exame dos contatos de hanseníase dos
últimos 05 anos; Criação de um Grupo de Convivência, com periodicidade mensal; Educação Permanente sobre Hanseníase; Dia da Mancha com divulgação na rádio do bairro; Mutirões para acompanhamento e avaliação de incapacidades da hanseníase.
CONCLUSÕES
Nesse sentido, infere-se a importância do geoprocessamento como uma tecnologia de vigilância, prevenção e controle da Hanseníase, uma vez que a partir do geoprocessamento da mesma pôde-se construir um sistema de informações com mapa computadorizados dinâmicos, como também uma agenda
estratégica com equipe de saúde da família, o que contribuiu para controle dessa patologia.
Neste ínterim, o Geoprocessamento configurou-se como um novo meio e processo de produção, inovação e compartilhamento de conhecimentos, permitindo a ampliação do acesso ao saber e o desenvolvimento tecnológico, científico e social. Dessa forma, pôde contribuir para o planejamento e avaliação
das ações de saúde voltada à Hanseníase desenvolvidas no bairro, de forma a mapear, monitorar e disseminar as informações em saúde no âmbito do SUS, propiciando a evolução do sistema de saúde como um todo, em especial a atenção primária à saúde pública, por meio de recursos que proporcionaram
melhoria da qualidade da informação nesse setor, uma vez que os mapas têm fácil interpretação se
comparado as tabelas e gráficos.
REFERÊNCIAS
1.
Brasil. Ministério da Saúde. Abordagens espaciais na saúde pública: Série Capacitação e Atualização em Geoprocessamento em Saúde 1. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2006.
2.
Barcellos C, Bastos FI. Geoprocessamento, ambiente e saúde: uma união possível? Cad. Saúde
Pública. 1996; 12(3): 389-97.
3.
Brasil. Ministério da Saúde (BR). Portaria Conjunta nº 125, de 26 de março de 2009. Define ações de controle da hanseníase. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2009.
4.
Moseri, E. Metodologia da Pesquisa. Brasília; 2013.
5.
Almeida Filho N, Rouquayrol MZ. Introdução a epidemiologia. MEDSI; 2002.
6.
Brasil. Ministério da Saúde. Portaria 104/2011. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2011.
7.
Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de saúde. Resolução de Nº 466. Dispõe sobre
pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2012.
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