ESTUDO DA INTEGRIDADE E DURABILIDADE DE UM
MATERIAL ESTABILIZADO E SOLIDIFICADO,
CONTAMINADO COM BORRA OLEOSA DE PETRÓLEO
Maria Rosiane de Almeida Andrade¹
Jakelline Nunes Marques Torres ¹
Fernanda Siqueira Lima¹
Ana Cristina Silva Muniz¹
André Luiz Fiquene de Brito¹
¹Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica de Engenharia
Química
RESUMO - A disposição inadequada de resíduos sólidos de diferentes fontes pode
causar modificações nas características do solo, da água e do ar, como também, pode
originar a poluição ou contaminação do meio ambiente. Devido ao elevado teor de óleos
e graxas, por conter metais pesados a borra oleosa é classificada como resíduo perigoso
Classe I, e não pode ser disposta no meio ambiente sem um tratamento prévio. Uma
opção de pré-tratamento ou tratamento propriamente dito é a Estabilização por
Solidificação, técnica que aprisiona os contaminantes em uma matriz sólida,
restringindo sua mobilidade para o meio ambiente. Este trabalho teve como objetivo
avaliar o material estabilizado/solidificado contaminado com borra oleosa de petróleo,
no que se refere à integridade e durabilidade do material. A pesquisa compreendeu as
seguintes etapas: preparação dos corpos de prova, ensaio de resistência à compressão,
umidificação e secagem, e capacidade de absorção de água. Os resultados mostraram
que os materiais foram aprovados nos ensaios de umidificação e secagem e absorção de
água e reprovados no ensaio de resistência a compressão.
PALAVRAS – CHAVES: Borra oleosa, Estabilização, Solidificação, Petróleo
INTRODUÇÃO
A indústria petrolífera no Brasil tem se desenvolvido muito rapidamente nos
últimos anos e a preocupação com a geração de resíduos tóxicos deixados por essas
indústrias é relativamente recente. Segundo Berger (2005), contaminações de solo com
hidrocarboneto total de petróleo tornaram-se um problema mundial desde a metade dos
anos 80 (BANDEIRA, 2010).
Materiais oleosos são a principal fonte de resíduos para a maioria das refinarias,
e são gerados quando o petróleo se aglutina em sólidos. Para cada 1kg de petróleo,
pode-se gerar 10-20g de resíduo. Resíduos oleosos são coletados em vários pontos no
interior das refinarias, tais como separadores de óleo/água, dissolvidos no ar, nas
unidades de flutuação, trocadores de calor e nas limpezas do fundo do tanque
(CURRAN, 1992).
Devido ao elevado teor de óleo, aos seus compostos, e as suas características de
toxicidade e inflamabilidade a borra oleosa de petróleo é classificada pela ABNT NBR
1
10.004(2004) como resíduo perigoso, não podendo então ser disposta diretamente no
meio ambiente, sem um tratamento prévio.
A busca de tratamentos eficazes que possam ser implementados a um custo
acessível é um problema de difícil solução dentro do programa de gerenciamento de
resíduos da indústria petrolífera. Os métodos mais empregados no tratamento destes
resíduos têm sido a incineração, o landfarming e a disposição em aterros. Entretanto,
nas últimas décadas, as restrições quanto ao uso do solo para disposição final de
resíduos, principalmente aqueles considerados perigosos, tem se tornado cada vez mais
severas, requerendo das empresas que tratam e dispõem esses resíduos à busca de
alternativas de tratamentos seguros e eficazes (OLIVEIRA, 2003).
Um método quem vem sendo utilizado há mais de 50 anos como opção de prétratamento ou tratamento propriamente dito de resíduos industriais é a Estabilização por
Solidificação (E/S).
A tecnologia de estabilização/solidificação é um tratamento físico-químico
empregado para o tratamento de resíduos perigosos. São usados diversos tipos de
agentes solidificantes orgânicos ou inorgânicos. O produto obtido deve ter
características e integridade física de forma a otimizar o seu transporte, armazenamento,
disposição e/ou reutilização (Lange et al., 1998)
O processo de E/S envolve a mistura de resíduo tanto na forma de lodo como
líquido e sólido, em um material cimentício, de forma a encapsular e incorporar o
resíduo nesse sistema de ligação tendo um material sólido com integridade estrutural e
estabilidade para haver o mínimo de resíduo lixiviado do sistema (Fitch e Cheeseman,
2003).
Segundo Brito (2007), os critérios de integridade/durabilidade estão relacionados
com os ensaios de Resistência a Compressão (RC), que verifica a capacidade do
material E/S em resistir a diferentes cargas de compressão mecânica sem que o material
rompa. O de Capacidade de Absorção de Água (CAA) que estima a porosidade do
material, e o de Umidificação e Secagem (U/S), que avalia a capacidade do material E/S
em resistir às variações de mudanças de estado.
A resistência à compressão é influenciada pela idade dos corpos de prova, pela
temperatura do ambiente em que as amostras são preparadas e pela relação
líquido/sólido. Por meio de alguns trabalhos já realizados é possível afirmar que, na
medida em que se eleva à temperatura do ambiente em que as amostras estão sendo
preparadas a resistência à compressão também aumenta, já em relação à idade dos
corpos-de-prova, a resistência à compressão aumenta na medida em que se eleva o
período de preparação e na relação entre água e agentes solidificantes, constata-se que a
resistência à compressão decresce na medida em que aumenta a relação água e agentes
solidificantes (PARK 2000).
O ensaio de capacidade de absorção de água tem a função de determinar a
quantidade de água presente nos poros permeáveis de um material sólido, estando
relacionada com a porosidade dos materiais e influencia no ensaio de resistência à
compressão (SPENCE e SHI, 2005).
O ensaio de umidificação e secagem, simula a disposição das matrizes em um
aterro sanitário ou quando submetidos a diferentes usos, avaliando a durabilidade da
matriz quando submetida a diferentes temperaturas.
Para a obtenção de um material de boa qualidade a cura é essencial. A
resistência potencial, bem como, a durabilidade da amostra, somente será desenvolvida
satisfatoriamente, se a cura for realizada adequadamente, e durante um período de
tempo apropriado, de modo que se possam desenvolver as propriedades desejadas do
concreto (Bauer 2000).
2
O objetivo deste trabalho foi avaliar o tratamento da borra oleosa de petróleo
utilizando a estabilização por solidificação, tendo como aglomerantes o cimento
Portland comum e o hidróxido de cálcio, através dos critérios de
integridade/durabilidade.
METODOLOGIA
Para avaliar a integridade e a durabilidade do material e/s realizou-se as
seguintes etapas: preparação dos corpos de prova, e ensaios de integridade e
durabilidade tais como: resistência à compressão, umidificação e secagem e capacidade
de absorção de água.
Preparação dos corpos de prova
Os Corpos de Provas (CP) foram preparados seguindo as seguintes etapas
(ABNT NBR 7215, 1996). As condições utilizadas na preparação dos corpos de prova
foram: aglomerante composto por uma mistura de Cimento Portland Comum (CPC) e
hidróxido de cálcio. 10% de borra em relação à massa de aglomerantes e um tempo de
cura de 28 dias.
Inicialmente misturou-se o aglomerante (CPC e hidróxido de cálcio) com a borra
oleosa de petróleo, em seguida adicionou-se água a 60°C. A partir do contato entre os
aglomerantes com água, iniciou-se a contagem do tempo de preparação dos corpos de
provas. Homogeneizou-se bem a mistura de forma a obter uma massa homogênea. A
massa formada foi então disposta em moldes cilíndricos, tomando-se o cuidado para não
ficarem espaços vazios na interior do molde. Em seguida foram cobertos com Placas de
vidros retangulares de 70 mm por 100 mm de aresta e de no mínimo 5 mm de espessura
afim de não ocorrer perda d’água. Os corpos de prova ficaram em repouso por um
período de 24 horas para endurecimento da pasta. Após as 24h, os corpos de prova são
desmoldados e deixados por um tempo de cura de 14 dias, para que então os ensaios
possam ser realizados.
Resistência à compressão
No ensaio de resistência à compressão, foram utilizados corpos de prova
cilíndricos de 50 mm de diâmetro e 100 mm de altura, os quais foram postos
diretamente sobre o prato inferior de uma prensa, de maneira que ficassem
rigorosamente centrados em relação ao eixo de carregamento. A medida da resistência à
compressão foi calculada pela expressão 1, em kgf.cm-2, considerando a carga aplicada
(F) e a área da seção do corpo de prova (A), e convertida para MPa.
RC ( kgf .cm -2 ) = F/A
(1)
Onde: RC: Resistência a compressão em MPa; F: Forca de ruptura dos corpos de prova
em kg; Área: Área de seção dos corpos de provas em cm².
Capacidade de Absorção de Água
No ensaio de capacidade de absorção de água os corpos de provas foram
condicionados em estufa a 103oC por 24 horas e com uma relação líquido/sólido (L/S)
3
10:1, utilizando água desmineralizada com resistividade maior que 0,2 MΩ.cm.
Posteriormente as amostras foram imersas em água a 23 oC por períodos de 24, 48 e 72
horas. O resultado é expresso em % conhecendo-se a massa do corpo de prova após
saturação em água e a massa do corpo de prova seca em estufa, conforme a expressão
abaixo:
MSAT  MS
CAA(%) 
 100
MS
Onde: MSAT: massa do corpo de prova após saturação em água e fervura; MS: massa
do corpo de prova seco em estufa.
Umidificação e Secagem
O ensaio de umidificação/secagem será realizado com base no procedimento
recomendado pelo WTC (1991). Neste ensaio, a amostra foi submetida a seis (06) ciclos
de umidificação com água a 22 ± oC e secagem em estufa sob temperatura de 105 ±5 oC
e umidificação por 24 horas. O resultado é obtido em percentagem, conforme a seguinte
equação:
Pamosnat  Pamosciclo i
% Perda...de... peso 
Pamosnat
Onde: Pamosnat = peso da amostra natural; Pamoscicloi = peso da amostra após
umidificação e secagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 estão apresentados os valores obtidos de Resistência à Compressão
(RC), Capacidade de Absorção de Água (CAA) e Umidificação e Secagem (U/S), sendo
estes os ensaios que avaliam a durabilidade e a integridade do material E/S, segundo o
Protocolo de Avaliação de Materiais Estabilizados por Solidificação, proposto por
Brito (2007). Bem como os limites máximos permissíveis (LMP) para cada ensaio.
Tabela 1 – Resultados obtidos nos ensaios de RC, U/S e CAA
Ensaio
RC
U/S
CAA
Valor
0,85MPa
4,83%
26,67%
LMP
≥1,0 MPA
≤15%
≤40%
A partir dos dados apresentados na Tabela 2, verifica-se que o valor de
resistência à compressão (0,85MPa) está abaixo do limite mínimo. Segundo Brito
(2007) o material E/S apresentando valores superiores a 1MPa poderá ter diversas
utilizações como materiais de base e cobertura em obras de pavimentação e como
material de construção civil, como confecção de tijolos, blocos, agregados e peças de
concreto com ou sem função estrutural. Para ser disposto em aterro de resíduos
industriais perigosos deve ter no mínimo 0,8 MPa de resistência à compressão. Se o
material apresentar resistência à compressão menor que 1MPa, sua utilização será
4
controlada e dispostas em aterro de resíduos não-perigosos. Neste caso a concentração
do contaminante deve ser quantificada para decidir a rota final a ser seguida.
No ensaio de umidificação e secagem o valor obtido foi 4,83%. De acordo com
o Protocolo de Avaliação de Materiais Estabilizados por Solidificação, após seis ciclos
de umidificação e secagem a perca em peso não deve ser superior a 15% do seu peso
inicial. Portanto o valor encontrado está dentro do limite máximo permissível.
Segundo a ABNT NBR 9778, no ensaio de capacidade de absorção de água o
limite máximo de água permissível nos poros é 40%. O valor encontrado foi de 26,67%,
logo ele se encontra dentro do limite.
CONCLUSÃO
Os materiais contaminados com borra de petróleo e tratados por meio da técnica
de Estabilização por Solidificação (E/S) foram aprovados nos ensaios de umidificação e
secagem e capacidade de absorção de água. No entanto, foram reprovados no ensaio de
resistência a compressão, ficando abaixo de 1MPa, assim sendo sua disposição deve ser
controlada e em aterros de resíduos não perigosos.
REFERÊNCIAS
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