2. REZADORES E AS PRÁTICAS DE CURA NO
ITINERÁRIO DA RELIGIOSIDADE POPULAR EM
SOBRAL
CHANTERS AND PRACTICES IN THE HEALING
JOURNEY OF PEOPLE IN RELIGIOSITY SOBRAL
RESUMO
No presente artigo fazemos uma análise de
uma prática ainda muito comum no itinerário do
sertanejo que embora diante de uma sociedade
Francisco Wellington Rodrigues de
em constante busca pela modernidade,
permanece buscando a solução de seus
Carvalho- Especialista em Historia - INTA
problemas, sejam de saúde ou até mental nas
práticas do rezadores e benzedores.Nisso
coletamos duas entrevistas de pessoas que ainda
lutam para que estas práticas permaneçam vivas
no meio do sertão cearense, mostrando ainda que estas práticas se fazem presentes
na sua maioria no meio rural, mas permanecem presentes mesmo no meio urbano,
mas com grande resistência. O fato é que quanto maior a cidade e mais longe do meio
rural, mais difíceis de encontrar estes rezadores, mesmo que encontremos diversas
pessoas que ainda tem fé nestas práticas. Isso por conta de suas origens e até como e
onde cresceram e foram criadas. Permeamos sobre a importância dada ao rito por
essas pessoas e a sacralidade colocado pelos adeptos que na maioria dos casos são
pessoas de práticas religiosas ligadas ao catolicismo romano, que por sua vez convive
com estas práticas de maneira um tanto omissa se abstendo de conflitos e coletando o
que bom destas práticas para as práticas oficiais da religião.
Palavras-chaves: rezadeiras – religiosidade – historia social.
ABSTRACT
In this article we analyze a practice still very common in the backcountry route that
although faced with a society in constant search for modernity, remains seeking the
solution of their problems, whether mental health or even in the chanters and healers
practices. It collect two interviews of people who are still struggling to these practices
remain alive in the middle of Ceará hinterland, still showing that these practices are
present mostly in rural areas, but remain present even in urban areas, but with great
resistance. The fact is that the larger the city and further away from rural areas, more
difficult to find these chanters, even we find many people who still have faith in these
practices. This because of its origins and even how and where they grew up and were
created. Permeate on the importance given to the rite by these people and the
sacredness posed by fans who in most cases are people of religious practices related to
Roman Catholicism, which in turn live with these practices in a somewhat silent
abstaining conflict and collecting what good these practices for official practices of
religion.
Keywords: mourners - religion - social history.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.16-34, Jan -jun. 2014.
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INTRODUÇÃO
A religiosidade popular do povo nordestino vem ao longo de anos alimentando
a fé e um povo muitas vezes sofrido que encontram nas crenças alimento espiritual
como motivação para viver.
Estudiosos de diversas áreas, entre elas a história, as ciências sociais,
antropologia, psicologia e filosofia, tem analisado este fenômeno tão presente na vida
do povo, contribuindo com novas ideias e perspectivas que possam trazer benefícios e
esclarecimentos a esse povo.
Dentro desde contexto faremos uma analise do uso das rezas pelos rezadores e
curandeiras nas proximidade de Sobral, práticas conhecidas e alimentadas por muitos,
tendo como finalidade estreitar laços com o sagrado, trazendo aos necessitados as
curas solicitadas, maneiras a solucionar a vida, amenizando de certa forma o
sofrimento do povo, que se utiliza destas práticas a fim de dar sentido a sua vida de
religiosidade. Os rezadores tem participado da vida do fiel com uma certa
familiaridade de laços que são estreitados a cada “consulta”, que ao longo do tempo
vem aumentando a confiança do povo, de acordo com o nível de graça alcançada em
seu favor.
O trabalho procura mostrar como os rezadores tem participado da vida do povo
e qual a reação do povo em acreditar nestes homens e mulheres que mesmo sem um
vinculo oficial com a igreja acabam ganhando espaço entre os fiéis que acabam dando
fortes credenciais a eles, além de divulgar a eficácia de suas rezas. São pessoas simples
que utilizam-se das rezas juntamente com a medicina natural na possibilidade de
chegar a cura do pedinte. Entre tantas expressões de crenças, seja na devoção dos
santos, nas celebrações católicas, ou nas práticas de outras crenças que alimentam o
sincretismo religioso, os rezadores irradiam confiança e carisma, sendo procurados
ainda hoje como auxílio na solução de problemas emocionas, físicos e espirituais. A
rezadeira Maria Eudina Marciel ao falar sobre suas práticas ensina uma de suas rezas:
A reza é tão simples, por que a reza de engasgo é uma coisa até
interessante, reza de engasgo é assim; casa molhada esteira
roda, peixe grande peixe miúdo, homem bom e mulher má,
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Jesus Cristo falo que a espinha que tiver no pescoço de gente
lá, sobe e desce cai do pescoço, num é coisa simples? Essa aí é
a cura do engasgo, se a pessoa tiver fé sai imediatamente.1
O CATOLICISMO COMO ASPECTO FUNDANTE DO SER BRASILEIRO.
Embora conheçamos a constate crescência de outras ramificações religiosas no
Brasil, o brasileiro na sua formação política-cultural é um povo católico, que mesmo
não sendo o catolicismo próprio do nosso país se fez o maior país católico do mundo
devido a grande proliferação do mesmo durante todos estes anos. De acordo com
Ribeiro (1994; p.57):
O brasileiro é um povo religioso e se autoconcede assim. À base
deste sentimento religioso vige predominantemente um certo
catolicismo, desde a ocupação portuguesa até hoje. Não
significa isto, contudo, que o catolicismo aqui seja
necessariamente o mesmo que a Igreja católica – enquanto
instituição – concebe hoje. Um sentimento difuso é o substrato
comum dos diversos níveis religiosos brasileiros, e é neste
contexto que se entende o “Brasil como maior país católico do
mundo”.
Embora que seja considerado o maior país católico do mundo, o Brasil tem
peculiaridades religiosas que diferencia a crença existente no pais com o restante do
mundo. A questão é que o brasileiro é um ser difuso que de alguma maneira se
mantêm no processo de invenção de suas crenças e adaptando outras as suas
necessidades cotidianas o que caracteriza o chamado sincretismo religioso. Para
Ribeiro (1994;57) ser católico é algo “natural” para todo brasileiro, pois ser católico é,
sobretudo ser nacional. Porém Brandão (1988, p. 47) faz o seguinte alerta:
1
Entrevista com Maria Eudina Marciel, 68 anos, natural de Sobral Dt de Patos residente em
Aracatiaçu, rezadeira. Realizada dia 22/11/2010.
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Atenção: isto não significa que ele é demograficamente a
religião de uma maioria informada, de iguais praticantes:
significa antes que o catolicismo é socialmente a possibilidade
de todas as categorias de sujeitos sociais possuírem uma
mesma religião e diferenciarem em seu interior, modalidades
próprias de sua religiosidade.
A crença religiosa no Brasil se dá de maneira bem complexa, principalmente o
Catolicismo por ser a maior e mais presente opção religiosa no itinerário do povo. O
brasileiro na sua maioria aprendeu a moldar a religião a sua maneira de acordo com a
sua necessidade, fazendo dentro do Catolicismo várias interpretações próprias e
transformando a sua crença própria em uma convicção muitas vezes imutável. O
brasileiro de alguma maneira reinventou uma forma própria de ser católico, como que
ampliando as possibilidades de integração com o sagrado. A partir disso percebemos o
enfraquecimento do que seria uma crença fundamentada da Sé romana perpassando
pouco a pouco para uma tradição que embora para muitos continue fincada na Igreja
Católica, muito se difere da profissão de fé da religião.
Este fenômeno católico brasileiro é estudado por muitos, Sanchis (1992, p. 33)
trata como uma roupagem “singularmente plural”, isso porque é única, as diversas
formas encontradas por este povo para se relacionar com o sagrado, citando que há
religiões demais nesta religião, não dando para situar o catolicismo brasileiro num
quadro de homogeneidade.
Vale ressaltar que existem muitos estilos culturais de ser católico, como vêm
mostrando os estudiosos que se debruçam sobre esse fenômeno. São malhas
diversificadas de um catolicismo, ou se poderia mesmo falar em catolicismos, tão
necessários para o brasileiro como o catolicismo romano, pois muitos se agarram nele
como base de sustentação para as situações atuais da vida, seja na figura dos santos,
ocupando um lugar de destaque na vida do povo, manifestando a presença de um
“poder” especial e sobre-humano, que penetra nos mais diversos espaços de vida e
favorece, numa estreita aproximação e familiaridade com seus devotos, a proteção
diante das incertezas da vida.
Seja na figura de padres considerados midiáticos que adentrando no mundo da
mídia, valorizam a evangelização através de lançamento de CDs com músicas sacras a
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fim de propiciar o povo uma estreita relação com o sagrado, ou seja, na aproximação
de movimentos para facilitar o alcance transcendental. Temos como por exemplo: a
Renovação Carismática Católica - RCC, os movimentos das Novas Comunidades,
Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, movimentos pastorais, entre outros.
Independente de viver o Catolicismo na sua essência ou ramificações deste, ou
ainda algumas das ramificações deste, muitos fiéis se auto denominam como católico
praticante ou não praticante. Um bom exemplo é a fala de Riobaldo, personagem de
Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas.
Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião.
Aproveito de todas. Bebo água de todo rio…Uma só, para mim
é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico,
embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu
Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso,
ou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente
se acusa pecador, lê alto a Bíblia […]. Tudo me quieta, me
suspende. Qualquer sombrinha me refresca. (ROSA, 1965)
Assim se faz um povo católico na sua maioria, mas que pode ser também
adepto do candomblé, da umbanda, do espiritismo ou de outra religião de origem
africana, indígena, asiática ou norte-americana, isso por que a ideia de que o Brasil é
um povo católico faz parte da imagem que o povo brasileiro tem seu próprio caráter
nacional, Azevedo (1969) apud Ribeiro (1994), faz um desafio a este conceito
considerando a superficialidade da religiosidade ou catolicidade do brasileiro,
denunciava em consequência o que chamou de “ilusão da catequese”, onde muitos
professam o seu catolicismo em palavras e não em práticas. Conforme é citado: “[…] A
ideia de Brasil como país católico persiste como uma espécie de ideologia tanto
eclesiástica quanto secular em que se fundam a pastoral tradicional e as posições do
Estado e das instituições civis em face da Igreja”. (Azevedo (1969) apud RIBEIRO, 1994,
p. 62).
Assim a formação do Catolicismo popular que professa estar ligado à Igreja
enquanto Sé Romana, mas por outro lado se transforma em uma fé popular em que a
crença é facilmente moldada a costumes e práticas muitas vezes desvinculadas do
Catolicismo romano. Ramificando esta crença em função de novas realidades, o
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Catolicismo popular tem adentrado o cotidiano do nordestino de uma maneira que o
Catolicismo romano não conseguiu entrar durante anos. A crença popular é mais
influente no cotidiano do sertanejo do que qualquer outra crença, isso mostra o poder
que estas crenças têm no itinerário do povo que durante muito tempo ficou
desgarrado pela igreja e acaba por formular para si novas crenças a fim de suprir suas
necessidades de proximidades com o sagrado.
Para Hoornaert (1991, p.99) o termo catolicismo popular não é o mais
apropriado para tratar do assunto, todavia, quando se menciona esse termo, já se
entende que queremos tratar do catolicismo vivido pelos pobres em geral, podemos
perceber que a vivência dele é bem mais comum no interior do Brasil do que do
Catolicismo respeitado durante anos como patriarcal. De acordo com o autor acima
citado;
[…] Uns negam simplesmente a existência de um catolicismo
popular distinto do catolicismo estabelecido ou patriarcal: no
Brasil só há um catolicismo que constitui o “cimento da
unidade nacional”. Outros aceitam o catolicismo popular mas
lhe negam toda originalidade e todo valor: o catolicismo vivido
pelo povo é simplesmente a interiorização dos temas
apresentados pela religião dominante. A nossa posição é a
seguinte: existe um catolicismo distinto do catolicismo
patriarcal. O povo tem uma cultura própria e podemos mesmo
afirmar que o catolicismo popular constitui a cultura mais
original e mais rica que o Brasil já produziu durante os
quatrocentos e tantos anos de história. […] (Ibid, 1991, p. 99)
Embora muitos não considerem a existência de outro catolicismo, nós que
habitamos o Nordeste brasileiro, por dispormos de um olhar mais apurado, logo
percebemos que tal catolicismo se faz presente na vida das pessoas de maneira a se
confundir muitas vezes com que é pregado pela Igreja. Desde a colonização a religião
tornou-se um ponto de encontro entre as culturas, mesmo que isto tenha acontecido
por meio de grandes conflitos de ideias e interesses, encontro este que era muito
usado pela Igreja como uma forma de integrar a cultura deles ao Catolicismo romano
pouco difundido no meio dos pobres. Todavia para muitos esta integração servia como
um objeto alienador bem característico da religião e muito bem utilizado pela Igreja,
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não somente alienador, mas como ferramenta de opressão própria para época que
tinha alguns vínculos com os costumes religiosos medievais.
A religiosidade popular, como já falamos, faz parte da vida do religioso, onde
ele se utiliza dela para estreitar os seus laços com o sagrado independente de como
isso seja feito. Quanto a isso o Catecismo da Igreja Católica (CIC) cita:
[…] O senso religioso do povo cristão encontrou, em todas as
épocas, sua expressão em formas diversas de piedade que
circulam a vida sacramental da Igreja, como a veneração de
relíquias, visitas a santuários, peregrinações, procissões, viasacra, danças religiosas, o rosário, as medalhas etc.
Estas expressões prolongam a vida litúrgica da Igreja, mas não
a substituem: “Considerando os tempos litúrgicos, estes
exercícios devem ser organizados de tal maneira que condigam
com a sagrada liturgia, dela de alguma forma derivem, para ela
encaminhem o povo, pois que ela, por sua natureza, em muitos
os supera”.
Há necessidade de um discernimento pastoral para sustentar e
apoiar a religiosidade popular e, se for o caso, para purificar e
retificar o sentido religioso que embasa essas devoções e para
fazê-las progredir no conhecimento do mistério de Cristo. Sua
prática está sujeita ao cuidado e julgamento dos bispos e às
normas gerais da Igreja. (CIC, 2000, p.457.)2
Podemos observar a partir do que foi colocado no Catecismo, que atualmente,
a igreja aceita a religiosidade popular, porém deixa restrições de acordo com a Santa
Sé. Nisso percebemos que com o passar do tempo a igreja aprendeu a utilizar do
mesmo meio de evangelização, a religiosidade popular acaba sendo uma “arma” a fim
de dar força a crença transmitida. De acordo com Mauss (1909, p.137);
Entre os atos da vida religiosa há os que são tradicionais, quer
dizer, realizados segundo uma forma adotada pela coletividade
ou por uma autoridade reconhecida. Outros, ao contrário, por
exemplo as práticas individuais do asceticismo, são
rigorosamente pessoais; não são repetitivas, não estão
submetidas a qualquer regulamentação. Os fatos que se
designam corretamente sob o nome de ritos cabem
2
Grifos meus.
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evidentemente na primeira categoria. Mas quando deixam o
máximo de lugar à individualidade, há sempre neles algo de
regulamente.
Assim as práticas religiosas são necessárias e por isso na ausência da igreja para
fazê-las, a tendência do povo é suprir as necessidades por si só, como mostram prática
do catolicismo na região Nordeste do Brasil, em que o número de “católicos
praticantes”, ao contrário da tradição protestante, é reduzido se comparado com a
grande massa dos católicos, que mantêm “frágeis vínculos” com as práticas oficias do
catolicismo.
Ao contrário do fiel protestante, que “precisa ser para participar”, o fiel católico
pode muito bem “participar sem ser”, ou participar a seu modo num quadro amplo e
plural de maneiras de exercer sua vinculação. A plasticidade dos modos de ser católico
no Brasil é expressão de uma genuinidade brasileira, caracterizada pela grande ampliação das possibilidades de comunicação com o sagrado ou com o “outro mundo”. O que
para o protestante tradicional ou católico romanizado seria expressão de pernicioso
sincretismo ou superstição, para boa parte dos fiéis significa um modo de alargar as
possibilidades de proteção. (Brandão, 1988, p. 51)
Ainda assim a religiosidade popular pode surgir com várias faces, o que para
Hoornaert (1991, p. 99) é caraterizado em dois momentos, onde no primeiro momento
de revolta pela situação vivida (sofrimentos, doenças, fome e etc.) expressada através
de murmúrios, e um segundo de resposta a esta revolta, com uma frase curta para
simplificar a solução, “se Deus quiser” (se Deus quiser você vai passar, se Deus quiser
vai ficar bom, se Deus quiser vai melhorar.) a fim de solucionar os questionamentos
com uma simples resposta a eles, numa atitude conformista aos desígnios do Criador
que tudo pode solucionar. De acordo com o autor acima citado;
[…] Frequentemente surge por ocasião da revolta diante de
uma determinada situação dolorosa ou injusta: eis o primeiro
momento, genuíno e original, da expressão religiosa do povo
pobre. O pobre não se conforma, apela para Deus-Pai, cuja
justiça e bondade invoca, e este apelo já contém os elementos
essenciais da fé cristã: Deus é Pai, e todos nós somos
irmãos.[…] (Ibid, p. 99)
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Vemos assim que a condição de sofrimento estava decretada ao pobre como
definição própria do destino, em que a religião neste contexto não seria simplesmente
elemento dominador, mas continha intrinsecamente nela um viés singular de
originalidade em que a ambiguidade que se faz presente neste contexto, embora
consciente disto abafe sua consciência em função da tradicional sabedoria de
conformismo e paciência fatalista perpassada durante anos.
Além do que, quanto à questão do conformismo não poderíamos tratar como
uma imposição da Igreja sobre o pobre simplesmente, pois desta maneira estaríamos
sendo anacrônicos, considerando ser própria da época tal consciência, tempos m que
mesmo o rico pensava assim, o fato de não ser abordado por este lado é que para eles
era bem mais cômodo e até inquestionável. Por esses fatores é que podemos assim
analisar que expressões como as citadas acima permanecem no linguajar do povo, seja
rico, ou seja pobre. Assim como muitas práticas do catolicismo popular eram práticas
de todos e durante muito tempo permaneceu sendo a forma correta de interpretar o
catolicismo, poderíamos levar em consideração que ainda hoje, com o advento da
modernidade e mesmo da contemporaneidade, ritos permanecem nos costumes do
povo e muitos são vistos pela Igreja local como que necessários para manutenção do
culto católico na região, tudo por conta da enraizada tradição que perpassa há várias
gerações. Para isso Amaral (2006, p.81) faz a seguinte menção:
No topo, há um clero secular de hábitos mundanos, obedientes
ao Estado não à Santa Sé; temos uma elite que é católica
apenas nominalmente, marcadamente indiferentista, não se
aferrando a qualquer ortodoxia; na base, a multidão dos fiéis
que segue suas próprias tradições centenárias e vive uma
religião familiar, doméstica e cotidiana. (AMARAL, 2006, p.8182).
Para conhecermos a história da Igreja e consequentemente da evangelização
em nossa terra, é indispensável o tratamento do fenômeno da religiosidade popular
que, às vezes, antecede o catolicismo oficial, mas, de qualquer forma o acompanha,
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não sem tensões e conflitos, demostrando as mentalidades e as práticas de fé do povo
que vive sua religião cotidiana. De acordo Matos (2001, p.198):
Há uma nítida ligação entre fé e vida, manifestada, por
exemplo, em orações para afastar inimigos, curar doenças ou
em atos penitenciais para pedir chuva em época de seca
prolongada. Semelhante experiência é testemunhada e
comunicada aos outros mediante sinais externos e, muitas
vezes, públicos. Mas não se trata apenas de exterioridades,
vazias de conteúdo espiritual e hipertrofiadas por emoções ou
direcionadas essencialmente ao prático e ao imediato. Pelo
contrário, na autentica religiosidade popular – não obstante
parecerem suas formas, às vezes, um tanto bizarras – escondese uma impressionante profundidade religiosa.
Com isso nota-se facilmente que a devoção nasce, geralmente, da crença em
determinados poderes sobrenaturais, seja em superstições, seja em lendas, ou ainda
através das tradições, ultrapassando várias gerações. A partir de tal fato, podemos
perceber a penetração do santo de devoção que é frequentemente ligado a esses
poderes ou ainda a um acontecimento extraordinário, milagre ou algo do gênero que
ocorreu ou que ouviu-se dizer que tenha ocorrido, ou ainda relacionado com curas a
parti de orações feitas, seja por rezadeiras, benzedeiras ou a D. Maria do St. Vizinho:
“Muitos vem é daí do hospital sem saber o que é…rezo e fica bom, aqui se reza pra
tudo, num esse negócio não…”
Assim permanecem as práticas dos rezadores, homens e mulheres simples, que
habita no meio de um povo simples, muitas das vezes sem instrução, entre eles; mães,
pais, donas de casa, avós, trabalhadeiras e homens do campo que angariam um
número de adeptos, que comentam com orgulho das vezes que se utilizaram das rezas
destas mulheres e homens de fé. Estas pessoas seja no espaço urbano e rural, mas na
sua maioria rural, estão sempre dispostas a ajudar aos necessitados, acreditando numa
missão recebida do céu.
O que facilmente percebemos é que são pessoas inseridas no meio católico,
onde participam na maioria das vezes ativamente dos cultos religiosos dispostos por
suas igrejas locais, e que mantem estreitos laços com os santos, o que faz com que se
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utilize da intercessão destes para realizar as curas, alicerçando ainda mais a crença do
povo junto ao santo milagreiro como fiel intercessor para que a cura aconteça. Assim
muitos juntam as suas crenças no santo com a busca da cura junto aos rezadores, estes
que também não abrem mão da forte intercessão destes santos, a fim de que a cura
aconteça. Tal situação é conhecida como catolicismo santorial, bem presente na
religiosidade popular, onde a crença no santo era e é quase que necessário para se ser
religioso, mantendo assim uma relação de proximidade com o mesmo, assim o santo
faz a divindade mais próxima do povo, como fiel intercessor e protetor quase que
particular, como que um ponto de apoio, uma espécie de “padrinho celeste” onde na
relação devocional, a promessa é algo fundamental e precisa ser cumprida. O devoto
não pode ficar em débito com o santo porque, da próxima vez que precisar, não será
atendido; ou pior, o santo poderá mudar de ideia e retirar a “graça” concedida ou até
castigar o fiel devoto. Sobre isso Rolim (1976, p. 159) faz a seguinte ênfase:
Os santos penetram na vida dos que os veneram, misturandose com seus problemas, suas necessidades mais urgentes, nos
negócios, na vida familiar, nos casamentos, nos amores. E tudo
isto, sem cerimônia, sem se precisar de apresentação, sem intermediário. Tudo se passa entre o santo e seu devoto. Uma
certa intimidade até, sem implicar desrespeito, mas intimidade
que chega até mesmo à imposição de certas punições, como
santo de cabeça para baixo, santo fora de sua capela, santo
voltado para as paredes.
Notamos assim a forte presença e poder que o santo tinha e tem em meio às
práticas cotidianas, a ponto de a utilização do mesmo desobrigar a presença real da
Igreja, na figura do padre, no meio do povo, pois a ligação com o sagrado já estava
perfeitamente feita. Em determinadas ocasiões o povo “ocupava padre”, para certas
bênçãos ou rituais de passagem, mas o resto da vida de fé ficava mesmo por conta dos
“recursos miúdos dos objetos simbólicos de fé” dos agentes religiosos populares. Mas
para que todos estes símbolos, crenças, mitos possam de certa forma se concretizar é
necessário uma atitude por parte do fiel.
Um dos fenômenos centrais da vida religiosa é a prece, que de todos os
fenômenos religiosos são poucos os que como ela dão de maneira tão imediata a
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impressão de vida, de riqueza e de complexidade. Para Mauss (1909, p.102) “Assumiu
um dos papeis mais diversos: aqui ela é uma exigência brutal, lá uma ordem, acolá um
contrato, um ato de fé, uma confissão, uma suplica, uma louvação, um Hosana.”
Mesmo que quando inteiramente mental, que nenhuma palavra é pronunciada, ela é
mesmo assim é considerada um ato, é ainda um movimento, uma atitude da alma.
Recurso fortemente usado pelos rezadores, a prece é acompanhada ritos
específicos para cada doença, seja com água ou com ramos, a benção acontece com a
cura do fiel e de seus queixumes. Junto a presença ritual do sincretismo nos ritos de
cura, umas das exigências dos rezadores é que o solicitante tenha fé, além de recitar
algumas orações próprias da igreja Católica, tais como o Pai Nosso, Ave Maria, Credo e
“pelo sinal”, em demonstração de sua crença no ato. Com isso fechamos um circulo,
onde mesmo que o rezador não esteja em consonância com a Igreja oficial, o rito
acaba sendo oficializado no itinerário do povo, tendo tanta credibilidade quanto ir a
igreja. A Dona Eudina, rezadeira, ensina uma de suas orações e afirma:
E muitos ficam bom, muitos vem é daí do hospital sem saber o
que é…rezo e fica bom. Eu rezo, num sei se é Jesus que me
ajuda, eu num sei, eu sei que as pessoas que eu rezo quase
tudo tem aproveito (…) Se você se engasga com espinha de
peixe, eu rezo e fica bom, se você tá com um dor de dente, eu
rezo e fica bom, se você tá com uma dor de cabeça, se tiver a fé
também…depende da sua fé3.
Assim permeia a crença do povo, entre sincretismos e rezas de poder. O povo
pede o auxílio dos rezadores como mediadores do sagrado não abstendo de credos
diferentes a fim de encontrar a benção necessária. Este povo que embora não estejam
diretamente ligados a igreja oficial, recebem o credenciamento necessário no
itinerário religioso popular vivendo entre a crença popular e oficial apesar dos
conflitos. Atualmente, tais conflitos são mais amenos e mais conciliadores, mas já
foram frutos de muitas desavenças entre padres e o povo que acredita nas rezas.
Não se sabe ao certo como surgiu estas práticas de rezas, a informação é que as
mesmas eram práticas dos negros nos seus rituais de candomblé e macumba, assim
3
Entrevista com Maria Eudina Marciel, rezadeira, po cit.
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como práticas dos índios em seus rituais de pajelanças. O fato é que passaram-se
muitos anos e as práticas permanecem e em consonância com a crença atual do povo,
pra uns soa como exageros ou como “doidices” por parte do crente, para outros mera
superstição, mas o fato é que muitos transitam com habilidade sobre este meio se
afirmando como autênticos crentes nas práticas destes homens e mulheres de “reza
forte”, como eles mesmos dizem. Para isso Cunha (2012;p.1) cita:
Por meio de palavras ou por meio de memória destas guardiãs,
esses saberes foram adquiridos, transmitidos e reconstruídos.
Isto porque, a transformação do dom em palavras e, por sua
vez, em cura, não muito diferente de outras práticas como
cordel e repente materializam-se a partir do momento em que
são pronunciados.
Embora diante de tanto tempo passado e se mantendo firmes, a práticas dos
rezadores vem sendo ameaçada, pois perante uma sociedade dita “moderna” muitos
ignoram tais saberes populares, até mesmo algumas ramificações da igreja católica,
desvalorizando tais pessoas que tentam a fina força permanecer tentando perpetuar o
saber, como que um dom recebido que não se pode abandonar. Esses rezadores
tentam passar estes saberes para seus filhos os quais na sua maioria não têm menor
interesse em comungar com as práticas de seus pais e avós, assim acabam
desvalorizando as práticas, enfraquecendo os laços em manter a tradição familiar.
Percebemos isso de maneira mais clara nos espaços urbanos onde as práticas de reza
estão cada dia menos valorizadas, porém, em contrapartida, ainda encontramos
muitos rezadores neste meio oriundos da zona rural não deixando a prática ficar
apenas na memória do povo, mas sim, vivida por este, não só no meio rural, mas
também nos remanescentes que vivem no espaço urbano, mesmo sem a valorização
que eles tinham e tem na zona rural.
Para os fiéis, embora não tenham consciência intelectual da importância
cultural das suas práticas, dão seguimento as suas vidas e passando estas práticas de
crenças de pai para filho. Dona Maria Eudina Marciel, relata como aprendeu o ofício de
rezadeira:
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Eu aprendi rezar, porque meu pai rezava e eu escutava o que
ele tava rezando e fui aprendendo é tanto que eu só sei rezar
as reza mais maneiras que ele rezava pra mim ouvir né? As
rezas mais assim difícil é mas longa, tinha mais palavra, eu num
aprendi, aprendi só aquelas coisas mais poucas, tinha pra
quebranto, pra engasgo…pra do de dente, pra dor de garganta,
ai o pessoal vem aqui. Que quando eu era novinha, que eu me
casei logo, com dezenove ano, eu morava na fazenda do meu
pai, ai num tinha procura pra mim rezar por que ele era vivo,
ele rezava né, ia procurar ele, ai depois que ele faleceu, eu vim
morar aqui no Aracatiaçu. Quando eu cheguei aqui tinha uma
menina que ela tinha perdido a mãe e ela casou e ela teve duas
crianças, ai ela se apegou muito a mim que ela não tinha mãe
pra ajudar criar os filho dela ne? Aí os menino dela adoecia e eu
ia rezava, mermo sem ela saber nem nada, rezava e os meninos
ficava bom, aí ela começou espalhar. Ai o pessoal começo a me
procurar pra mim rezar né?4
Sobre o mesmo assunto o Sr. Antônio Jaime de Vasconcelos comenta sobre seu
envolvimento com o ofício:
Aqui eu sou procurado por todo canto, cumpadi, pa rezar, eu
aprendi em Fortaleza, com um velho la em Fortaleza, num era
parente nem aderente, no tempo que ele me ensinou a rezar
eu tinha 24 anos de idade,(…) Ele perguntou se eu queria
aprender umas oração pra me defender do que ruim e pra fazer
o bem, eu disse; quero. Ai foi e me ensinou, (…) Todo vivente
aqui sabe que eu rezo, aqui é por toda canto tem esse negócio
não. (…) Eu fui criado mais meu avô, derd’eu pequeno, meu
avô era rezador também, ele dizia: meu fi vo lhe dexar uma
herança, a herança que um pai dexa pro filho ou um avô e o
estudo e eu vo dexar a reza que é pra quando você crescer,
você se lembrar isso aqui meu avô me ensinou. Eu num curo, é
Deus que cura, to cansado de dizer, pecador num cura
ninguém, quem cura a gente é aquele daculá de riba.5
4
Entrevista com Maria Eudina Marciel, citada na página 2.
Entrevista com Antônio Jaime de Vasconcelos, 70 anos, natural de Sobral, Dt Alegre.
Realizada dia 02/12/2010.
5
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.16-34, Jan -jun. 2014.
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Embora a igreja durante muito tempo tenha tentado retirar sincretismo
religioso do meio do povo, não fez muito efeito, pois o mesmo já estava impregnado a
religiosidade popular e de maneira singular. Ainda hoje se faz presente nas
características próprias do sertanejo que tem mostrado o quanto esta tradição
permeia o cotidiano, fazendo que a convicção própria do catolicismo fundamentado na
Santa Sé seja substituída por características peculiares conforme a crença de cada
região, todavia para isso a igreja muita das vezes se pronuncia contrária a estes
costumes que acaba adentrando aspectos que contrapõe o Canon católico, onde nisso
frei José Duarte relata:
De certa forma a igreja hoje é muito mais tolerante nessa
questão né? , nessa questão do pluralismo religioso, da
abertura para respeitar as outras religiões, as outras
expressões. A um determinado tempo da história a igreja era
muito taxativa, né? Ou você é católico ou você não se salva,
você fora da igreja não tem salvação, hoje a igreja compreende
de modo diferente, a Igreja tenta compreender essas
expressões religiosas a parti da cultura, a parti da própria
história, por exemplo, nossa religiosidade anteontem era uma
religiosidade muito miscigenada, nossa formação histórica e
cultural das raças negras, indígenas e portuguesas né? Então
como é que a igreja vai se posicionar contra isso, ela vai de
certa forma legitimar, ou seja, esta prática é justa, esta prática
é boa, mas ela tem de certa forma uma tolerância exatamente
por causa da cultura e por causa exatamente da história que
nos temos né? Então ela de certa forma ela respeita, algumas
vezes ela corta, algumas vezes ela tenta polir isso daí, outras…e
outras circunstâncias sociais culturais históricas a Igreja procura
acolher mais, procura valorizar isso é muito diversificado na
Igreja, né? Agora a Igreja tem de certa forma uma posição
sobre estas expressões, como por exemplo, da umbanda, né?
Dessas benzedeiras, das rezadeiras, do pessoal que faz trabalho
etc…a Igreja tem uma certa tolerância, né? Ela compreende,
mas como é que isso funciona e por que funciona, que não
deixa de ser também, expressão do universo simbólico do
sujeito6.
6
Entrevista com Frei José Duarte Vasconcelos, 52 anos, reitor do santuário de São Francisco
de Assis, Sobral-CE, realizada dia 27/11/2010.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.16-34, Jan -jun. 2014.
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Notoriamente percebemos que atualmente a Igreja Católica, em peculiar no
Brasil, tem abrangido a questão da religiosidade popular como sendo um aspecto
cultural necessário a vida do povo, onde nela ela encontra razões para sua existência e
sentido para as suas vidas, assim como a religião oficial. Todavia, onde a mesma não
conseguiu chegar, acabam por se sustentar neste contexto de religiosidade.
Embora diante de tantas particularidades que permeiam entre o contexto
religioso/cultural, muitos permanecem a crença nos rezadores e mesmo indo ao posto
de saúde não perdem a oportunidade da darem uma passadinha também na casa da
rezadeira mais próxima, ou ainda na que curou seu parente e/o vizinho certa vez,
como relata Dona Eudina;
[…] eu tenho curado tantas crianças, tem criança que eu curei
quando cheguei aqui que hoje já são pai já tão trazendo é os
filhos pra mim rezar. E muitos ficam bom, muitos vem é daí do
hospital sem saber o que é…rezo e fica bom. Eu rezo, num sei
se é Jesus que me ajuda, eu num sei, eu sei que as pessoas que
eu rezo quase tudo tem aproveito.7
Assim diante do fácil acesso a estas pessoas e como eles estão próximas das
necessidades dos pedintes, muitos municípios tem se apropriado destas praticas para
se aliarem aos rezadores a fim de diminuir algumas epidemias, não se apropriando da
reza em si, mas da ajuda deles seja no incentivo ao uso de medicamentos, seja a
distribuição de panfletos ou ainda na distribuição de soro caseiro, desta maneira
muitos que procuram oração acabam de certa forma recebendo também a ajuda da
medicina.
Na maioria das vezes os ritos se dão na casa do rezador, o qual utiliza de seus
artefatos religiosos, como terços, imagens de santos, crucifixos, ramos e outros para
dar início ao rito e assim fazer valer a sua crença no ato de cura do pedinte.
CONCLUSÃO
7
Entrevista com Maria Eudina Marciel.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.16-34, Jan -jun. 2014.
31
Diante do que mostramos percebe-se que as praticas de rezas estão mais
inseridas no espaço rural que no espaço urbano de modo que muitos acabam aderindo
a práticas diante de suas necessidades. Tais fatores se apresentam como subsídios
para a vivência dessas práticas, onde a busca pela cura e por soluções de seus
problemas acabam por satisfazer a sede pelo que é sagrado. Assim tem se feito a
prática destes personagens da história que durante anos tem mantido, embora com
conflitos, as suas práticas de rezas em uma sociedade necessitada de seus préstimos.
Desta maneira mostramos como transitam estas práticas em meio a religião
oficial, no caso o catolicismo, assim como estas práticas tem sobrevivido em uma
sociedade com características de modernidade e de banalização do religioso, mas isso
apenas em parte desta sociedade. Conforme mostramos muitos ainda permeiam sobre
estas práticas, considerando ainda que a religião se mantem com fator preponderante
para a vida equilibrada, de maneira que a possibilidade de viver longe dela, é a
possiblidade de ligação com os “infernos”. Assim não importando que práticas se
alimenta, tem que se alimentar alguma para está incluído neste meio social.
Os rezadores incluem-se facilmente neste meio, sendo que são, na sua maioria,
homens e mulheres que frequentam a igreja, seja na participação de novenas, nas
rezas do terço e missas incluindo desta forma na religião oficial, mesmo que por trás
disto mantem-se como fortes intercessores do “sagrado”, usando de suas rezas para
curar aos que lhe procuram. E assim de forma humilde eles acabam por adentrar no
itinerário religioso deste povo de maneira a se tornar indivíduos de substancial
importância para a vida de muitos, onde muitas pessoas que precisaram de suas
orações acabam por dedicar a eles as suas vidas, devido as graças recebidas.
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Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.16-34, Jan -jun. 2014.
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FONTES
FONTES ORAIS
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realizada dia 02/12/2010 em Patriarca, Distrito de Sobral, CE.
- Frei José Duarte Vasconcelos, reitor do santuário de São Francisco de Assis em
Sobral-CE, 52 anos. Entrevista realizada dia 26/11/2010 em Sobral, CE.
- Maria Eudina Marciel, Dona de casa, rezadeira, 68 anos. Entrevista realizada dia
22/11/2010 em Aracatiaçu, Distrito de Sobral.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.16-34, Jan -jun. 2014.
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rezadores e as práticas de cura no itinerário da religiosidade