COMÉRCIO EXTERIOR
Com inflação alta, a valorização do dólar, mesmo alcançando o patamar de R$ 2,60, se mostrou insuficiente para alavancar as exportações brasileiras, pois maior
a inflação, maior a necessidade de desvalorização cambial para elevar as exportações. Não se pode esquecer
que a volatilidade cambial inviabiliza o planejamento
da indústria.
Certamente, há uma limitação na evolução do comércio exterior brasileiro causada, também e principalmente, pela enorme burocracia nas operações de
exportação, pela infraestrutura deteriorada e pela baixa
produtividade em diversos segmentos industriais. Tanto é que, desde 2008, as exportações brasileiras cresceram 22%, enquanto as importações evoluíram mais
rapidamente e cresceram 38%.
Particularizando, o agronegócio mantém o protagonismo no comércio exterior brasileiro, devendo se sustentar,
em 2014, no patamar de US$ 100 bilhões exportados.
With high inflation, the appreciation of the
dollar, even reaching a level of BRL 2.60, proved
insufficient to boost Brazilian exports, since the higher the inflation, the greater the need for currency
devaluation in order to boost exports. We cannot
forget that the exchange rate volatility impedes industry planning.
Certainly, there is a limitation in Brazilian foreign trade evolution that is caused also and mainly
by the huge bureaucracy in export transactions, by
the deteriorated infrastructure and by low productivity in various segments. In fact, since 2008, Brazilian exports grew 22%, while imports have been
developing faster and grew 38%.
Particularizing, agribusiness keeps the leadership in Brazilian foreign trade and must be sustained in 2014 at around US$ 100 billion in exports.
Ao obter crescimento, mesmo pequeno, o agronegócio destoou da queda ocorrida nas exportações dos
demais produtos, e elevou para 42% sua participação
nas exportações totais do Brasil.
Já o complexo carne, segundando o complexo soja
nas exportações do agronegócio, deverá fechar 2014
no mesmo patamar de 2013, com US$ 17 bilhões em
exportações.
Agribusiness had a small growth, unlike the fall that
has occurred in exports of other products, and it increased to 42% its share of total exports from Brazil.
Regarding the meat domain, following the soy domain in agribusiness exports, should end 2014 at the
same level of 2013, with US$ 17 billion in exports.
20 - Revista Courobusiness -novembro / dezembro 2014
COMÉRCIO EXTERIOR
EXPORTAÇÕES DE COURO DO BRASIL
LEATHER EXPORTS FROM BRAZIL
O mercado interno para o couro brasileiro, não
competitivo, estagnado e com tendência de queda
pelo crescente endividamento do consumidor, não deixa alternativa para a indústria curtidora nacional, senão o mercado internacional. Até novembro de 2014,
o Brasil exportou US$ 2,69 bilhões em couros e peles
(19% acima do resultado obtido no mesmo período de
2013), o que equivale a quase três dias das exportações
totais brasileiras e manteve em 1,3% a participação das
exportações dessa matéria-prima nas exportações totais
do Brasil.
2014 se encerrará com exportações de couro se
aproximando de US$ 3,0 bilhões.
Se as exportações da matéria-prima couro crescem
continuamente, as exportações de manufaturados de
couro eternizam a queda livre.
The internal market for Brazilian leather, which is
not competitive, stagnant and trends to declining because of the increasing consumer debt, leaves no alternative to national tanning industry but the international market. Until November 2014, Brazil exported
US$ 2.69 billion in hides and skins (19% above the
result achieved in the same period of 2013), which is
equivalent to almost three days of total Brazilian exports and it maintained at 1.3% the share of exports
of this raw material in Brazilian total exports.
2014 will close with the exports of leather approaching US$ 3.0 billion.
If exports of raw leather grow continuously, exports of leather manufactured products perpetuate
the free fall.
As exportações de calçados (US$ 1,1 bilhão) do Brasil não passam de 41% das exportações de couro (US$
2,7 bilhões), enquanto as exportações de artefatos (bolsas, cintos, carteiras, etc.) se limitam a ínfimos 2%.
Mal comparando, do outro lado do mundo, a China
continua aumentando sua produção de calçados (produziu 14 bilhões de pares em 2013) e esse crescimento, obviamente, independe das importações de couro
do Brasil. Essa independência vale também para o Vietnâ, um dos maiores exportadores de artigos de couro
do planeta.
Exports of footwear (US$ 1.1 billion) from Brazil
are not higher than 41% of exports of leather (US$
2.7 billion), while exports of artifacts (bags, belts,
wallets, etc.) are limited to only 2%.
In addition to that, on the other side of the world,
China continues to increase its production of footwear (it produced 14 billion pairs in 2013) and this
growth, of course, is independent of leather imports
from Brazil. This independence also applies to Vietnam, one of the largest exporters of leather goods on
the planet.
Revista Courobusiness - novembro / dezembro 2014 - 21
COMÉRCIO EXTERIOR
Há cinco anos, as exportações de calçados (US$ 1,1
bilhão) do Brasil eram 38% superiores às exportações de
couro (US$ 791 milhões). Em 2014, as exportações de calçados (US$ 920 milhões) não passam de 41% das exportações de couro (US$ 2,2 bilhões).
No mesmo período, as exportações de artefatos passaram de 10% das exportações de couro para menos de 2%.
O que ocorreu nesse espaço de tempo que reduziu as
exportações de produtos finais em 16% (calçados) e 45%
(artefatos)?
A resposta está na crescente perda de competitividade
do produto brasileiro, resultado de uma política industrial
equivocada que se alicerça em desonerações pontuais
para setores escolhidos. Essas desonerações, complementadas por encarecimento do produto importado e por taxação de exportação de couros salgado e wet blue não
têm a capacidade de fornecer competitividade a esses setores produtivos. Como consequência, a indústria brasileira realiza constante perda de mercado e as commodities se
tornam alvos de predadora demanda.
A ausência de uma política industrial que priorize a
competitividade estrutural da indústria nacional pereniza
esse fúnebre cenário.
Como o mercado internacional nada tem a ver com
isso, demanda nossa matéria-prima couro de forma crescente, proporcionando esse admirável incremento que alcançou 25%, nos últimos dois anos.
22 - Revista Courobusiness -novembro / dezembro 2014
Five years ago, exports of footwear (US$ 1.1 billion)
in Brazil were 38% higher than exports of leather (US$
791 million). In 2014, exports of footwear (US$ 920
million) are only 41% of leather exports (US$ 2.2
billion).
In the same period, exports of artifacts have gone
from 10% of the exports of leather to less than 2%.
What happened in that space of time that reduced
exports of final products in 16% (footwear) and 45%
(artifacts)?
The answer lies in the increasing loss of competitiveness of Brazilian products, as a consequence of a misguided industrial policy which is grounded in specific
exemptions for selected sectors. These exonerations,
complemented by enhancement of imported products
and by taxation of exports of salted and wet blue leathers, do not have the ability to provide competitiveness to these productive sectors. As a result, Brazilian
industry is steadily losing market, and commodities become targets for a predatory demand.
The absence of an industrial policy that prioritizes
the structural competitiveness of the domestic industry
perpetuates this funeral situation.
As the international market has nothing to do with
it, it demands more and more our leather as raw material, providing this great growth, which reached 25%
in the last two years.
COMÉRCIO EXTERIOR
As exportações de couros salgado e wet blue cresceram quase 24% nos últimos dois anos, enquanto as exportações de couros crust e acabados cresceram 17% no
mesmo período.
Detalhando, verifica-se que o couro crust manteve exportações estáveis, não acompanhando a evolução dos
outros estágios da matéria-prima couro.
Exports of salted and wet blue leathers increased nearly
24% in the last two years, while exports of crust and finished leathers increased 17% over the same period.
In detail, it appears that exports of crust leather remained stable, not following the trend of other stages of the
leather as raw material.
Revista Courobusiness - novembro / dezembro 2014 - 23
COMÉRCIO EXTERIOR
De qualquer forma o couro crust apresentou, neste ano
de 2014, preços muito semelhantes aos do wet blue, reduzindo em muito seu preço médio.
A evolução das exportações de couro do Brasil evidencia a importância das economias desenvolvidas para o comércio do couro brasileiro. Desde 2009, as exportações
de couro para os países dos blocos econômicos BRICS e
NAFTA triplicaram, enquanto duplicaram para os países
da União Europeia, todas superando valores de US$ 300
milhões/ano.
Either way, crust leather presented, in this year 2014,
prices that werer very similar to the wet blue, greatly reducing its average price.
The evolution of Brazilian leather exports highlights the
importance of developed economies to trade of Brazilian
leather. Since 2009, exports of leather to the countries of
the economic blocs BRICS and NAFTA tripled, while they
doubled for the countries of the European Union, all of
them with values that exceeds US$ 300 million/year.
Para o couro brasileiro, a relevância mercadológica
está na União Europeia, no NAFTA e nos países do BRICS,
destinos que há longo tempo vêm se apresentando como
alvos preferenciais de possíveis acordos comerciais.
Uma das causas da manutenção da descompetitividade da indústria de manufaturados de couro é a atitude
do setor em se contentar com a insuficiência das desonerações pontuais e com os apoios paliativos, chegando até
a pleitear esses instrumentos que somente lhe fornecem
fôlego temporário, mas não lhe permitem galgar a estruturada competitividade. Sem condições de competir, fica
o setor, então, sem opção e obrigado a focar o mercado
interno que se encontra com demanda em queda e com
For Brazilian leather, marketing relevance lies in the
European Union, NAFTA and the BRICS countries, destinations that for a long time have been presented as
preferred targets of possible trade agreements.
One of the causes of maintaining the low competitiveness of the manufacturing industry the segment’s
attitude to settle for the lack of specific exemptions and
palliative support, to the point of claiming that these instruments that only provides with a temporary respite,
but do not allow them to climb the structured competitiveness. Unable to compete, the sector has, then, no
option and it is forced to focus on the domestic market
which presents a decrease in demand and various in-
24 - Revista Courobusiness -novembro / dezembro 2014
COMÉRCIO EXTERIOR
diversas atividades industriais cerrando as portas (vide
Franca, São Paulo), decorrente da estagnação da economia.
Essa indesejável conjuntura deixa a cadeia brasileira
do couro submetida ao típico ambiente “se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come”, levando a matéria-prima couro brasileiro a ser industrializada alhures.
Obviamente que essa situação não interessa à indústria e à economia nacionais, mas as medidas necessárias
para proporcionar competitividade à indústria de manufaturados de couro são sempre tangenciadas e carentes
de debates.
Enquanto a competitividade da cadeia produtiva não
deslancha, o couro encontra seu jeito de ser comprado.
dustrial activities clenching the doors (see Franca, Sao
Paulo), due to the stagnation of the economy.
This undesirable situation leaves the Brazilian leather chain subjected to the typical environment which
leading the Brazilian leather as raw material to be industrialized elsewhere.
Obviously, this situation does not interest to industry and the national economy, but the necessary measures to provide competitiveness to the leather manufacturing industry are always tangential, and there are
no debates.
While the competitiveness of the productive chain
does not take off, the leather finds it’s way of being
purchased.
Nos últimos seis anos China, com 159%, e EUA,
com 209%, registraram um forte crescimento na demanda pela matéria-prima couro do Brasil. Já a Itália
registrou um pequeno (quando comparado à evolução das demandas chinesa e americana) crescimento de 70%, não acompanhando a evolução da oferta
brasileira de couros. Ao mesmo tempo, China e EUA
mantiveram suas participações nas exportações brasileiras de couro em 36% e 10%, enquanto a Itália caiu
de 22% para 14%, no mesmo período.
Over the past six years China with 159%, and USA
with 209%, recorded a strong growth in demand for
Brazil leather as raw material. Italy recorded a small
growth (when compared to the evolution of Chinese
and American demands) of 70%, not following the
evolution of Brazilian supply of hides. At the same
time, China and the USA kept their shares in Brazilian
leather exports by 36% and 10%, while Italy fell from
22% to 14% over the same period.
Revista Courobusiness - novembro / dezembro 2014 - 25
COMÉRCIO EXTERIOR
COMENTÁRIOS FINAIS
Equívocos na gestão do comércio exterior brasileiro
vêm excluindo o Brasil de relevantes acordos comerciais
bilaterais e deteriorando a balança comercial.
Por exemplo, entre 178 países analisados pelo Banco
Mundial, o Brasil é o que apresenta o mais baixo Índice de Corrente de Comércio (ICC) e, por conseguinte,
identifica o Brasil como o país mais fechado do mundo
para o comércio internacional. O ICC mede a relação
entre o comércio internacional e a capacidade de geração de renda de um país.
Esse baixo índice é resultado de uma política comercial ideologizada que limita os esforços de competitividade à política cambial e ao protecionismo. Sem ações
concretas para solucionar o baixo nível de educação
formal e a baixa produtividade da indústria nacional, o
Brasil passa a ser também um dos países menos competitivos do planeta.
26 - Revista Courobusiness -novembro / dezembro 2014
FINAL COMMENTS
Misconceptions in management of Brazilian foreign
trade has been excluding Brazil of relevant bilateral
trade agreements and deteriorating the trade balance.
For example, out of 178 countries surveyed by the
World Bank, Brazil is the one that presents the lowest
Trade Current Index (ICC) and therefore it identifies
Brazil as the most closed for international trade in the
world. The ICC measures the relationship between international trade and the ability to generate income in
a country.
Such low rate is a result of an ideological trade policy that limits the efforts of competitiveness to exchange rate policy and to protectionism. Without concrete
actions to address the low level of formal education
and the low productivity of the domestic industry, Brazil becomes also one of the least competitive countries
in the world.
COMÉRCIO EXTERIOR
Certamente não podemos comparar o resultado do Brasil
com o de Cingapura ou com o de Hong Kong, conhecidos
entrepostos comerciais, porém podemos e devemos compará-lo com os resultados apresentados pelos países membros
do BRICS, por exemplo, e aí percebemos o inexplicável isolamento comercial do Brasil. Solitário por escolha própria, o
Brasil se atrasa em relação aos países articulados comercialmente e capacitados industrialmente.
Há uma tendência para fugir do entendimento de que não
há como melhorar a competitividade brasileira sem investimento em infraestrutura, sem elevação do nível da educação
e sem a efetiva abertura comercial. Todavia, o Brasil insiste
em promover competitividade pela instituição de reserva de
mercado, modelo reconhecidamente ineficaz.
A fase de exportar, independente da ausência de condições para competir, foi encerrada. É preciso reconhecer que
os ventos favoráveis ao comércio exterior brasileiro, baseados
nos elevados preços das commodities no mercado internacional, são página virada. Esse ambiente internacional que permitiu aquele superávit de US$ 46 bilhões em 2006, não mais
existe e, o que é pior, o Brasil não fez o dever de casa, ao não
se capacitar para a competição na época das vacas gordas.
Hoje, as exportações brasileiras estão em queda, tanto as de
produtos básicos quanto as de manufaturados. Para produtos
básicos (58% das exportações do Brasil), a demanda mundial
está em queda, reduzindo os preços das commodities. Já no
caso dos manufaturados (42% das exportações do Brasil), o
principal problema é a crônica falta de competitividade do
produto nacional, agravado pelo Custo Brasil, pela infraestrutura deteriorada e pela prolongada crise na Argentina, principal comprador dos produtos industrializados brasileiros. Vê-se
um Brasil excessivamente caro, com seus principais clientes
enfrentando sérios problemas econômicos.
Como se os problemas internamente criados não fossem
suficientes, uma nova preocupação surge no horizonte com
a assinatura pelos EUA e pela China de tratado de liberação
comercial para bens de alta tecnologia, acordo que envolve
54 economias e eliminará tarifas na comercialização de US$
1 trilhão. O Brasil, atrelado a um Mercosul ideológico e decadente, fica à margem desse vibrante ambiente comercial e
aprofunda seu isolamento no mercado mundial.
A opção pelo multilateralismo e a priorização da política
Sul/Sul resultam em que as cadeias globais de valor, no Brasil, participem com somente 40% no comércio internacional,
enquanto no mundo a participação é de 80%. O Brasil está
na contramão da evolução nas relações comerciais. Portanto,
We certainly we cannot compare the results between Brazil and Singapore or Hong Kong, knowing trading
posts, but we can and should compare it with the results
presented by BRICS member countries for example,
and then we realize the inexplicable Brazilian trade isolation. Solitary by choice, Brazil delays regarding commercially articulated and industrially trained countries.
There is a tendency that escapes understanding, that
there is no way to improve Brazilian competitiveness
without investment in infrastructure, without raising the
level of education and without an effective trade liberalization. However, Brazil insists on promoting competitiveness through establishment of market reserve, a
model that is admittedly inefficient.
The export phase, regardless of the absence of conditions to compete, was closed. It is necessary to recognize that the winds that are favorable to Brazilian foreign
trade, based on high commodity prices in the international market, have gone. This international environment that allowed a surplus of US$ 46 billion in 2006,
no longer exists and, what is worse, Brazil has not done
its homework, because it is not trained for the competition at the period of fat cows. Today, Brazilian exports
are falling, regarding both basic products and manufactured products. For basic products (58% of Brazilian
exports), world demand is falling, reducing commodity
prices. In the case of manufactured goods (42% of Brazilian exports), the main problem is the chronic lack of
competitiveness of the national product, aggravated by
the ‘Brazil Cost’, by the deteriorated infrastructure and
by the prolonged crisis in Argentina, the main buyer of
Brazilian manufactured products. It is clear that Brazil is
a very expensive country and its main clients is facing
serious economic problems.
As if the problems internally created were not enough, a new concern appears on the horizon as the US
and China sign a trade liberalization treaty for high technology goods, an agreement that involves 54 economies and that will eliminate taxes in the trade of US$ 1
trillion. Brazil, coupled to an ideological and decadent
Mercosur, is on the side of this vibrant business environment and deepens its isolation in the world market.
The choice of multilateralism and the prioritization
of South/South policy result in the share of only 40% by
the global value chains in international trade in Brazil,
while in the world the share is 80%. Brazil is in the op-
Revista Courobusiness - novembro / dezembro 2014 - 27
COMÉRCIO EXTERIOR
a definição política se transforma em mais uma ação que
restringe e isola o comércio exterior brasileiro.
De qualquer forma, e com todos os acidentes de percurso, as previsões do Banco Central (Relatório Focus) indicam superávit na balança comercial brasileira de US$ 2,5
bilhões para 2014. Já o mercado prevê déficit, que pode
ultrapassar US$ 5 bilhões.
A atitude de proteger a indústria brasileira utilizando
reserva de mercado levou, por exemplo, a União Europeia a pedir, em novembro de 2014, a abertura de um
painel na Organização Mundial do Comércio – OMC contra os incentivos fiscais oferecidos pelo governo brasileiro
aos setores automotivo (Inovar-Auto que eleva em 30% o
IPI dos carros importados) e de tecnologia da informação
(smartphones e tablets). Esse modelo protecionista resulta
em que os automóveis brasileiros tenham preços absurdamente estratosféricos.
Contudo, não é animadora a atitude dos setores industriais que não fazem parte deste “sistema protecionista” e
que, no lugar de pressionar por uma política estruturante
e globalizada de competitividade, brigam ferozmente para
nele ser incluídos. Farinha pouca, meu pirão primeiro.
Como o resto do mundo nada tem a ver com as agruras do Brasil, China e Austrália firmaram, em novembro
último, um histórico acordo de livre comércio que liberará
de impostos 95% das exportações australianas para a China e reduzirá as restrições aos investimentos chineses na
Austrália. Considerando que a Austrália tem forte interesse
nas exportações de produtos agrícolas, esse acordo pode
deslocar as exportações da carne brasileira para a China
(principal mercado para a carne bovina brasileira). Porém,
como nem tudo é desvantagem, o frigorífico JBS, com unidade em território australiano, certamente se beneficiará
desse acordo.
Já o mercado russo (segundo mercado para a carne
bovina brasileira) deve também se tornar preocupante em
2015. A queda no preço do petróleo, sanções do mundo
ocidental e a forte desvalorização do rublo reduzirão o poder aquisitivo da população russa, despencando a demanda por carne bovina.
E o consumo doméstico de carne bovina deverá também se reduzir em 2015, consequência da inflação, do
endividamento da população e do ambiente econômico
resultante do ajuste fiscal.
Essas movimentações nos mercados doméstico e internacional da carne bovina impactam negativamente
28 - Revista Courobusiness -novembro / dezembro 2014
posite direction of evolution in trade relations. Therefore,
the policy definition becomes one more action that restricts and isolates Brazilian foreign trade.
Anyway, with all commuting accidents, the forecasts of
the Central Bank (Focus Report) indicate surplus in Brazilian trade balance of US$ 2.5 billion for 2014. On the
other hand, the market predicts deficit, which may exceed
US$ 5 billion.
The attitude of protecting Brazilian industry using market reserve has led, for instance, the European Union
to ask in November 2014, the opening of a panel at the
World Trade Organization – WTO against tax incentives
offered by the Brazilian government to automotive sector
(‘Inovar-Auto’, which raises by 30% the tax on imported
cars) and to information technology (smartphones and tablets). This protectionist model results in absurdly stratospheric prices of Brazilian cars.
However, there is no encouragement in the attitude of
the industrial sectors that are not part of this ‘protective system’ and that, instead of pushing for a structural and global
competitiveness policy, they fiercely fight to be included
in it. ‘I take my part, if there is any part left, you can take
yours’.
As the rest of the world has nothing to do with the hardships of Brazil, China and Australia signed last November, a historic free trade agreement that will release tax of
95% of Australian exports to China and will reduce restrictions on Chinese investment in Australia. Considering
that Australia has a strong interest in exports of agricultural
products, this agreement can displace exports of Brazilian
beef to China (main market for Brazilian beef). However,
not everything is a disadvantage, the JBS slaughterhouse,
with unit in Australian territory, will certainly benefit from
that agreement.
The Russian market, (second market for Brazilian beef),
on the other hand, should also become worrying in 2015.
The fall in oil prices, the Western world sanctions and the
sharp devaluation of the ruble will reduce the purchasing
power of the Russian population, considerably decreasing
the demand for beef.
And the domestic beef consumption should also be reduced in 2015, a result of inflation, indebtedness of the
population as well as the economic environment generated by the fiscal adjustment.
These movements in beef domestic and international
markets are negatively impacting the slaughtering in Brazil
COMÉRCIO EXTERIOR
os abates no Brasil e reduzem a oferta de couros para os
curtumes brasileiros que, consequentemente, enfrentarão
crescentes dificuldades para atender a demanda internacional.
Pelos mesmos motivos, China e Rússia também apresentarão enfraquecimento em seus mercados de luxo,
afetando a demanda pelos artigos de couro. Conclusão:
projeta-se, para 2015, menor oferta e menor demanda
para os curtumes.
No geral, todas as projeções para 2015 explicitam
grandes dificuldades para o cidadão brasileiro. O enorme
desafio reside em promover o crescimento da economia
brasileira, reduzir a carga tributária e realizar uma reforma
política, tudo isso em um ambiente de inflação no teto da
meta e balanço de pagamentos deficitário.
Para fazer frente a esse desafio, a Presidente da República reeleita para mais quatro anos de mandato, anunciou
os principais membros da nova equipe econômica na tentativa de conquistar maior confiança do mercado, visto os
desalentadores resultados econômicos apresentados pelo
Brasil em 2014.
O Ministério da Fazenda será ocupado por Joaquim
Levy, respeitado economista de linha ortodoxa, que já declarou um gradual, mas vigoroso, ajuste fiscal para 2015, na
busca da estabilidade monetária e do equilíbrio nas contas públicas. A indicação de Levy trouxe inegável alívio ao
mercado ao sinalizar para o fim das delirantes experiências
econômicas, para o desaparecimento da catastrófica contabilidade criativa e para o retorno da matriz econômica
baseada no “tripé”: superávit primário, metas de inflação
e câmbio flutuante. Apesar do alento, persistem dúvidas:
até quando o governo dará suporte ao ajuste fiscal e como
o administrará?
Sinalizando para o controle da inflação (inflação que se
mantém girando ao redor do teto da meta, em 6,5% ao
ano), o Comitê de Política Monetária – COPOM do Banco
Central elevou, em novembro último, a taxa de juros para
11,75% ao ano, enfraquecendo a atividade econômica e
fortalecendo a atração de capital especulativo. Juros, nesse
patamar, mantém o Brasil na liderança mundial da taxa
real de juros e, para 2015, a previsão é a elevação da taxa
de juros para 12,5% ao ano.
Mas, e a política industrial? Para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC foi
anunciado Armando Monteiro Neto, ex-presidente da
Confederação Nacional da Indústria – CNI, que anunciou,
and reducing the supply of hides for Brazilian tanneries
that consequently will face increasing difficulties to meet
the international demand.
For the same reasons, China and Russia will also present weakness in its luxury markets, affecting the demand
for leather goods. Conclusion: it is projected for 2015 lower supply and lower demand for tanning.
Overall, all projections for 2015 explain major difficulties for Brazilian citizens. The high challenge is to promote
the growth of the Brazilian economy, as well as reducing
the tax burden and make a political reform, all in a context of inflation in the target ceiling and balance of deficit
payments.
To address this challenge, the President of the Republic, re-elected for another four-year term, announced
key members of the new economic team in an attempt
to gain greater market confidence, considering the disappointing economic results that the country presented in
2014.
The Ministry of Finance will be leaded by Joaquim
Levy, respected orthodox economist, who has already declared a gradual but vigorous fiscal adjustment for 2015,
in the pursuit of monetary stability and balance in the
public accounts. Levy’s appointment brought an undeniable relief to the market in signaling the end of delusional economic experiences, to the disappearance of the
catastrophic creative accounting and to the return of the
economic matrix based on the ‘tripod’: primary surplus,
inflation targets and floating exchange rate. Despite the
encouragement, the question remains: how long the government will support the fiscal adjustment and how will
they manage it?
Signaling to inflation control (inflation that keeps spinning around the target ceiling, at 6.5% per year), the
Monetary Policy Committee – COPOM of the Central
Bank raised last November the interest rate to 11 75%
per year, weakening economic activity and strengthening
the attraction of speculative capital. Interest, at that level,
maintains Brazil leading the global real interest rate and,
for 2015, the forecast is the increase of the interest rate to
12.5% per year.
But what about industrial policy? Armando Monteiro
Neto was announced for the Ministry of Development,
Industry and Foreign Trade – MDIC, he is former president of the National Confederation of Industry – CNI. He
declared, correct and solemnly, the pursuit of reduction of
Revista Courobusiness - novembro / dezembro 2014 - 29
COMÉRCIO EXTERIOR
correta e solenemente, a busca da redução dos custos sistêmicos. Espera-se que sua capacidade de articulação permita,
em complementação à política econômica e para resolver as
questões da forte desindustrialização, da recorrente descompetitividade e da crescente desconfiança interna, a implementação de uma Política Industrial sem espasmos, abrangente o suficiente para não abrigar exclusões setoriais e que
considere o ambiente internacional e as atuais tendências e
oportunidades da negociação comercial.
Se a Política de Comércio Exterior continuar dependente
do acordo Mercosul/União Europeia, certamente manterá a
inoperância. Até quando a indústria brasileira perderá oportunidades no mercado internacional pela danosa camisa de
força que atrela o Brasil ao Mercosul? Chegou-se a tal ponto
de isolamento comercial que a Associação de Comércio Exterior do Brasil – AEB sugere que o Brasil abandone o Mercosul.
Há que se compreender que a evolução do comércio exterior brasileiro passa, necessariamente, pela modernização,
pela evolução da produtividade da indústria nacional e pela
abertura de mercado.
De qualquer forma, a recuperação econômica ficará para
2016, pois 2015 se contentará em servir ao doloroso exercício de arrumação da casa brasileira. Mesmo com projeções
do dólar americano mais valorizado em 2015, as expectativas para a balança comercial brasileira não são otimistas.
Resumindo as principais projeções para o Brasil em 2015:
- crescimento de 0,8% para o PIB
- inflação no teto da meta, ao redor de 6,5%
- taxa de juros de 12,5% ao ano
- dólar americano valorizado (R$ 2,70, pela pesquisa Focus/BACEN)
- superávit nas contas públicas de 1,2% do PIB
- déficit na balança comercial
Boa notícia nos traz a Nestlé. Nesses tempos de escassez
de água, a empresa Nestlé informou que inovou e implementou o processo “zero água” em sua fábrica de leite em
pó em Lagos de Moreno, México. Essa planta industrial está
sendo totalmente movida a água condensada do soro de
leite e, consequentemente, não retira uma só gota d’água
do chão, economizando para o planeta 1,6 milhão de litros
d’água por dia. Exemplo a ser seguido.
Courobusiness
30 - Revista Courobusiness -novembro / dezembro 2014
system costs. It is expected that his ability to articulate
can allow the implementation of an industrial policy
without spasms, comprehensive enough to not harbor
sectorial exclusions and that can consider the international environment as well as the current trends and
opportunities of trade negotiations, as a complement
to economic policy and in order to address the issues
of the strong de-industrialization, of the frequent lack of
competitiveness and of growing internal distrust.
If the Foreign Trade Policy remains dependent of the
Mercosur/European Union agreement, it will certainly
keep the ineffectiveness. How long will the Brazilian
industry lose opportunities in the international market
because of the harmful straitjacket that links Brazil to
the Mercosur? The commercial isolation has reached a
point that the Foreign Trade Association of Brazil – AEB
suggests that Brazil abandon Mercosur.
It is necessary to understand that the evolution of
Brazilian foreign trade necessarily involves the modernization, the development of productivity of the domestic industry and the market opening.
Anyway, the economic recovery will occur in 2016,
because 2015 will be limited to serve the painful exercise of clearing-up Brazilian home. Even if the projections shows the US dollar appreciation in 2015, expectations for Brazilian trade balance are not optimistic.
Summarizing the main projections for Brazil in
2015:
- GDP growth of 0.8%
- Inflation in target ceiling, around 6.5%
- Interest rate of 12.5% per year
- US dollar appreciation (BRL 2.70, according to the
survey Focus/Central Bank)
- Surplus in the public accounts of 1.2% of GDP
- Trade deficit
Nestlé brings good news brings. In these times of
water shortage, Nestlé Company said that they innovated and implemented the process ‘zero water’ in their
factory of milk powder in Lagos de Moreno, Mexico.
This industrial facility is being totally driven by condensed water of whey and therefore it does not take a single drop of water of the ground, saving for the planet
1.6 million liters of water per day. Example to follow.
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