Título: A EDUCAÇÃO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO:
TENDO EM VISTA, A DIVERSIDADE DO SER HUMANO NO COTIDIANO
ESCOLAR
Área temática: Estudos Culturais em Educação
Autor: MARIA JOSÉ DA SILVA SANTOS DE PAULO
Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Mestrado em
Educação
A experiência é o que está, aqui e
agora, pedindo para ser visto, falado,
pensado
e
feito.”
(CHAUÍ,
1980,
p.
270).
Várias teorias em torno da problemática educacional têm enfatizado o
caráter da prática social da educação. Naturalmente que tal concepção fundase na própria natureza social da pessoa humana. “A concepção do ensino que
decorre desses conceitos é aquela que percebe o trabalho escolar caso sendo
a construção do conhecimento, por professores e alunos, a partir do saber
acumulado através do tempo” (WACHOWICZ, 1991, p.3).
Nesses termos cabe colocar que o ser humano é em si mesmo um ser
de relações e a sua efetivação como sujeito que se constrói carece de um
tecido social. Aristóteles defendeu insistentemente a natureza política, isto é,
sociável do ser humano. Chegou a apregoar que: “Quem não entrar a fazer
parte de uma comunidade ou quem não precisa de nada, bastando-se de si
mesmo, não é parte de uma cidade, mas é ou uma fera ou um Deus” (PAUL,
1968, p. 2).
É objetivo deste trabalho estabelecer uma reflexão contemplando essa
caracterização relacional do ser humano como um ser que, embora único, vive
e se realiza inevitavelmente no meio social num conjunto de relações de
gênero, raça, classe, política, econômico, religiosa, ética e outras.
Neste
sentido encontra-se (interioriza o que exterioriza), confere expressão de
concretude ao ser (exterioriza sua interioridade) e por ele é controlado e
vinculado a papéis bem determinados. São, portanto, relações ativas e em
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movimentos. Assim sendo desejamos pensar como se as relações no âmbito
da prática escolar fundamentando-nos, na perspectiva filosófica de nossa
“igualdade” antológica e da diversidade da realidade humana, “a Educação
pode ser analisada muito mais no trato amplo das questões atuais como elas
realmente ocorrem, do que na observação do imediato” (WACHOWICZ , 1991, p.3).
Uma educação que atenda a diversidade
A questão das diferenças sociais, raciais e gênero como tantas outras
fazem parte da diversidade do cotidiano escolar, tem ocupado gerações
diversas que de diferentes modos tentaram e tentam encontrar uma resposta
convincente. De fato, não acreditamos como é possível a elaboração de uma
ciência ou articulação de ações humanas isentas de uma concepção original
sobre a realidade humana. Preocupação com a indagação das relações dos
seres vivos é fundamental tendo em vista a diversidade cultural nas várias
expressões e o modo de vida de cada ser humano historicamente constituído.
E a educação escolar tem um papel fundamental por meio de seus
professores, desenvolver uma prática educativa coerente que atenta as
diferenças do universo de sala de aula. “E preciso insistir: este saber
necessário ao professor – que ensinar não é transferir conhecimento – não
apenas precisa de ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões
de ser – antológica, política, ética, epistemológica, pedagógica, mas também
precisa de ser contentemente testemunhado, vivido” (FREIRE, 1996, p. 52).
Ora, se toda a história humana é um dizer da pessoa que se volta
inquisitivamente para si, tal exercício está historicamente situado participa do
contexto da historicidade humana: de sua cultura, de sua linguagem corporal e
cognitiva. E não há como estabelecer diálogo, uma interação elucidativa acerca
da essência do ser humano sem que se tenha presente
sua realidade
histórica; portando não reivindicar para si o status da neutralidade. “Aqui já não
há mais lugar para a oposição individualidade e coletividade. Em virtude disso,
é possível falar-se com mais propriedade sobre o coletivo, atribuindo-lhe um
significado mais verdadeiro: o que não suprime o individual” (GIUSTA, 1985, p. 26).
Se não formos capazes de olhar para além da nossa “caverna”, se não
nos perguntarmos pelo que está fora dela, se não dialogarmos com o diferente
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de nós, também não seremos capazes de descobrir aquilo que necessitamos
como elemento mediador das descobertas e que nos deferência dos outros
animais, a capacidade de ver além dos sentidos.
Indignar com o preconceito racial, com os pobres cada vez mais pobres,
com o ensino que favorece mais, uma classe que a outra é, portanto, uma
capacidade necessariamente humana, e é o ponto eqüidistante entre a
ignorância e a sabedoria. Indignar significa também dizer não ao desencanto
vivido na imersão da “caverna” e caminhar ao encontro da sabedoria.
Educação como espaço de construção de sentido
Tendo em vista que estamos na virada de um novo milênio – Educar,
para quê? É uma pergunta muito bem feita ao mundo em que vivemos nesse
momento atual. É uma questão que nos convida a pensar um projeto que dê
sentido à educação.
É uma necessidade emergente no tempo em que vivemos, perguntar
“para quê” educar, tempo da relevância da diversidade, da alteridade, da
individualidade. Hoje convivemos com o desencanto , com a imposição dos
fatos e com a desconstrução de tudo aquilo que parece de forma: coerência ou
sentido.
Estamos ouvindo, cada vez mais, a palavra liberdade, que hoje virou
sinônimo de “privatização”, voltada para garantir a posse de bens. É bom,
lembrar que a liberdade foi sempre uma busca do homem e da mulher em
momentos diferentes da história da humanidade, mas cada tempo manifesta
uma razão de ser da liberdade. Sem dúvida, a construção da liberdade está no
mais elevado nível dos ideais humanos. Mas, o que é liberdade? O que
significa ser livre, numa sociedade tão desigual? Ainda em busca do exercício
da cidadania.
É dada a falsidade da relação de dominação entre teoria e prática, não poderíamos
esperar que a escola, instituição legitimadora e produtora desse tipo de dominação,
pudesse ter encarado a transmissão do conhecimento de uma forma diversa daquelas
que impedem a autonomia intelectual e a produção de um conhecimento verdadeiro e,
por isso, libertador (GIUSTA, 1985, p. 28).
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Podemos nesse sentido falar de um ser humano desenraizado, que viu,
de repente, questionada suas mais óbvias certezas: especula-se a propósito de
uma nova ordem cosmológica, arrogando-lhe a crença secular de habitar o
centro do universo - a Terra. O fenômeno das grandes cidades levará ao
anonimato daquele que dilacerou-se na multidão, perdendo não só a sua
segurança social, mas também o próprio poder de controle de suas criações.
Os filósofos e demais teóricos contemporâneos provocam a humanidade
a uma reflexão histórica para que encontre a nova fundamentação de seus
valores. Mas defende também a tese de que os seres humanos e provenientes
da natureza; dirá que vem da natureza e não vive sem ela; é portanto, limitado
e infinito como qualquer outro ser vivo. Entretanto conforme nos explica Gerard
FOUREZ
(1995, p. 51),
“O sujeito” não é de modo algum algo que depende do indivíduo: trata-se na verdade
de uma série de elementos, ligados a nossa biologia, a nossa linguagem, a nossa
cultura, etc.; em outros termos, esse “sujeito” é uma comunidade humana organizada
em uma língua, costumes etc. O que dá ao objeto o seu caráter objetivo é justamente
essa construção por esse sujeito, de acordo com regras socialmente admitidas e
reconhecidas”.
Temos assim, uma crise generalizada na história da humanidade. A
crise de gênero, raça e classe que leva necessariamente a repensar as idéias
teóricas e práticas seja a nível educacional escolar, bem como social,
econômico, político, religioso e assim por diante. Até então vigentes.
Será arte, será cultura a construção do ser humano?
Aquela arte que indica que ele é isto e aquilo, sem exclusão. A cultura
que o faz saborear a vida em sua totalidade, pelo menos deveria e nela
procurar construir-se incorporar e superar dialeticamente todos os seus
condicionamentos, valores e limites porque eles são possibilidades que
marcam a sua natureza. A cultura que sinaliza que o humano não é um a priori,
mas fruto de um conjunto de construção que se realiza na história, no contexto
de relação, social, política, ético, racial, gênero, como já foi dito anteriormente,
estas relações ocorrem nas práticas do dia-a-dia; e por isso é vida e é morte.
É morte que brota a vida, é vida que supera a si mesmo numa
perspectiva de abertura para a realidade cada vez mais plena. Viver é
processualidade. LARA (1996, p. 239) nos coloca que “Vida e morte são pólos de
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um mesmo processo, definidores da existência, enquanto transcendência,
abertura para o outro de nós, que nos afeta e nos conduz a um outro nós,
sempre a construir-se ou constituindo-se em uma outra ordem de relações
(sociedade).” Muitas reflexões apontam para as relações humanas tendo em
vista a diversidade, é sabido que cada ser não é nada isoladamente.
Parece que este final de século tem representado um grande desafio à
nossa capacidade de conceber o ser humano, visto que os inquestionáveis
dogmas
que
o
consagravam
com
uma
aura
quase
sagrada
estão
diurturnamente negados por ele próprio.
Vemos com consternação, pais e filhos numa macabra auto destruição;
desencanta-nos saber que jovens “brincam” de queimar gente, que a escola
ainda silencia diante do preconceito e a discriminação racial negra e outras
diferenças, que os professores não recebem na sua formação, preparação
acadêmica adequada, para ensinar qualitativamente tendo em vista a
diversidade
do
cotidiano
escolar,
currículos
escolares
defasados,
administradores pertidos mediante a tantas mudanças.
Que vemos, portanto, são cidadãos: crianças, jovens, adultos, com mais
interesse as novelas globais que o grito abafado de multidão de meninos e
meninas que as ruas nos abordam em busca de migalhas de sobrevivência.
TILLICH
(1952), contemplando este mundo da técnica e da despersonalização,
no qual parecermos apenas produto dos acontecimentos sociais e políticos,
reconhecermos como árdua a tarefa de construir o significado da vida ante
tantas adversidade. Pronuncia então a “coragem de ser.”
Como um grande desafio do nosso tempo e aponta três formas pelas
quais o ser humano poderá dominar a inescapável ansiedade que o circunda.
“a coragem de aceitar as dimensões do mundo que o acerca, a coragem de ser
como a si próprio e a coragem de buscar a transcendência.”
Diríamos então, que a construção do ser humano é um projeto histórico
maior, inerente a seu projeto de vida, e que a dinamicidade com que se
processa a operacionalização de tal projeto não nos permite cristalizar numa
teoria uma resposta definitiva para esta questão. Contudo nos parece
preliminarmente satisfatória a intuição do ser humano como um projeto que se
deve edificar.
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O ser humano concreto ela, a Maria, o Carlos, que mora em tal lugar,
que pertence a esta ou aquela classe social, é de tal etnia, professa tal religião,
etc. E que esta mulher, este homem e o mundo são realidade em movimentos
e que deve se sentir incluído no contexto da sociedade a qual pertence.
A educação como produto social do ser humano – nossa reflexão
iniciou-se anunciando o caráter da prática social e da educação. De fato, é
muito intima a relação entre a educação escolar e a sociedade.
SEVÉRINO (1994, p. 71)
escreve que “ocorre uma pulsação entre o jogo de
forças que constituem a sociedade e o jogo de forças que concretizam na
educação, de tal modo que, de um lado, a forma desta se organizar reflete e
reproduz integralmente a forma de estruturação da sociedade, mas, de outro
lado, o processo de atuação especificadamente, sendo então fatos de
mudança social.”
Significa dizer que a educação é uma prática social e histórica, concreta
e intrinsecamente associada ao próprio processo de construção do humano e
do mundo humano. Neste sentido a educação é uma prática política.
Apesar que afirmar, hoje, que a educação é uma prática política pode
soar à banalidade pedagógica visto que tudo é política, conforme nos ensina
CHARLOT (1993, p. 13)
conjunto
das
“Pois a política constitui uma certa forma de totalização do
experiências
vividas
numa
sociedade
determinada”.
Verdadeiramente importante é saber em que a educação é política.
Ele
apresenta quatro possibilidade de compreensão. Vejamos: 1) A educação
transmite modelos de comportamentos; 2) A educação forma a personalidade
segundo normas que refletem a realidades sociais e políticas; 3) A educação
difunde idéias políticas; 4) A educação é política à medida que é encargo da
escola, instituição social cuja organização e funcionamento dependem das
relações de forças sociais e políticas.
A busca da unidade na multiplicidade – após termos percorrido
um
caminho em tentar demonstrar: a natureza inefável do ser humano em sua
característica de unidade ontológica; o intento da educação, sobretudo
do
trabalho mediador da escola, de aplainar as diferenças individuais da pessoa
humana pela imposição de formas dominantes de ser. É bom lembrar que,
como bem coloca (FOUREZ, 1995, p. 121) “A atenção aos condicionamentos
socioculturais dos paradigmas não deve fazer com que se perca de vista a
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importância das determinações ligadas a outros componentes da condição
humana e de sua evolução.” Devemos portanto levar em conta também as
experiências humanizadoras.
Como
descrevemos
anteriormente
em
relações
as
diferenças.
Tentaremos primeiramente detalhar uma a compreensão da categoria
igualdade / diferença em separado para prosseguir provocando o embate das
duas na prática escolar, mais precisamente na sala de aula.
Igualdade – a idéia teve a força de mobilizar, ao longo do processo
histórico, milhares e milhares de pessoas para lutar por revoluções. O uso
ideológico da idéia de igualdade tem sido, na verdade, a sonegação das
peculiares e dos direitos individuais
de cada pessoa concreta. Em nova
igualdade, opera-se uma massificação que desconhece a diferença, a
diversidade de interesse e as condições concretas de existência de cada
cidadão.” Não creio que tenhamos saído do campo definido pela ideologia
burguesa, pois é nela que, pela primeira vez, se definiu o Homem como fim, de
sorte a legitimar a existência dos homens como meio” (CHAUÍ, 1980, p. 35).
Por trás do discurso da igualdade está o interesse ideológico em
escolher
a
desigualdade
e
a
opressão
que
marcam
a
sociedade
quotidianamente e que se traduzem na divisão social do trabalho, a eugenia e
na luta de classe.
Diferença – tomamos aqui esse conceito como “distinto” como
determinação de alteridade. O que significa dizer que as coisas podem diferir
enquanto têm aquilo de que diferem. Entretanto, a construção do ser humano
como sujeito dá-se dentro do jogo das relações sociais.
Diferença e igualdade / unidade e multiplicidade – é possível encontrar
no interior da escola mais precisamente na relação que se estabelece no
espaço da aula, espaços onde a busca da unidade signifique “respeito” à
diversidade?
“A educação é a saída “, eis uma afirmação cotidiana. Dizer isso não
significa encurtar os caminhos dizendo que a educação é a solução para os
problemas que hoje são colocados para nos educadores e para o mundo em
que vivemos, mas é, pelo menos, entender que por meio da educação escolar
podemos abrir as portas para a construção que desejamos numa visão
histórica e humanizadora. É preciso entender o nosso tempo, para definir a
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direção para onde queremos seguir. “O professor deverá ter sabedoria de ser
aberto para a formação integral do aluno, que sempre se apresenta com um
conjunto de situações econômicas, históricas, pedagógicas, sociais e filosóficas
no seu histórico de vida (BEHRENS, 1996, p. 39). Queremos dizer que qualquer
teoria transmitida em sala de aula só tem sentido se ajudar educando refletir e
interagir com seu cotidiano a ajudar este aluno a transpor seus limites e para
colocá-lo como cidadão ativo na transformação do mundo no qual está
inserido.
Então as teorias aprendidas na escola supõe ajudar ler o mundo e
produzir novos conhecimentos que contribuam com o bem comum da
população, por que não?
O tempo atual precisa ser acreditado, precisamos acreditar que somos
capazes de realizar o sentido da vida. Novas teorias estão ai e outras por vir, e
o espaço continua aberto às perguntas e respostas. Mas é perigoso achar que
não há mais o que ser e parar de sonhar, de criar, de viver.
“Às vezes, temo que algum leitor ou leitora, mesmo que ainda não
totalmente convertido ao “pragmatismo” neoliberal mais por ele já tocado, digo
que, sonhador, continuo a falar de uma educação de anjos e não de mulheres
e de homens. O que tenho dito até agora, porém, diz respeito radicalmente à
natureza de mulheres e de homens. Natureza entendida como social e
historicamente constituindo-se e não como um “a priori da História” (FREIRE,
1996, p. 40).
Nesse sentido somos chamados à utopia, porque quando levantamos os
olhos e emergimos dos fatos e problemas do dia-a-dia somos capazes de
vislumbrar um horizonte que permanentemente vai estar nos convidando a
atingi-lo. Não atingir o horizonte é continuar buscando o que não foi esgotado,
na história inesgotável.
A nossa tarefa é construir respostas, elas de fato não estão postas em
lugar nenhum. A leitura do mundo num contexto humanizador serve para fazer
o mundo. A leitura definitiva felizmente não existe, nisso consiste o ser da
humanidade: uma tarefa ininterrupta para a efetivação do sentido de ser.
Entretanto, o que a ciência não pode fornecer jamais é a resposta á questão ética.
Assim, em relação à “definição” de uma pessoa humana, a questão consiste em
perguntar: “Queremos aceitar tal ou tal tipo de critérios para decidir reconhecer uma
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pessoa humana, com o conjunto de direitos que reconhecemos como nosso
semelhantes?” (FOUREZ, 1995, p.300).
Entretanto, dou-me a direito de pensar que se somos pessoas concretas
de múltiplas relações como já foi também colocado anteriormente, volto a dizer
que precisamos de educadores conscientes e comprometidos com um projeto
que contribua para a transformação das estruturas ainda injustas e com a
humanização do mundo da vida deste cotidiano em contradição, certamente o
resultado seria qualitativo no universo de sala de aula tendo em vista um
trabalho escolar de cumplicidade teórico e prático com a formação integral do
aluno cidadão.
Esta nova leitura do papel da escola aponta para o fato de que nós,
educadores, somos sujeitos históricos, socioculturais. Somos portadores de
diferentes visões de mundo, valores identidades. Somos produtores de cultura.
Identidade étnico-racial: um processo complexo e fascinante.
Destacamos com um termo importante a ser considerado pelos
profissionais da educação o fato de que a construção da identidade étnicoracial faz parte da experiência de todo o ser humano, sendo muito mais produto
de um complexo conjunto de processos sociais, culturais e históricos do que
resultado de determinantes biológicos. Sendo assim, no Brasil, ao mesmo
tempo em que os negros buscam a sua identidade através de escolas
alternativas, movimentos sociais e grupos organizados, evocam a sua
diferença em relação à sociedade ou a outros grupos sociais e instituições.
Esse processo implica a tentativa de diminuição das diferenças internas do
próprio grupo, a articulação em torno da reivindicação de direitos, resultando na
construção de um sujeito político. A preservação e valorização da cultura
tornam-se, então, um campo estratégico nesse momento, “é exatamente no
domínio da cultura que estes grupos (sejam mulheres, negros ou índios)
resgatam sua autonomia e reafirmam a sua diferença” (NOVAES, 1993, p. 27).
Sabemos que o Brasil se destaca como uma sociedade pluriétnica e
pluricultural. Esta afirmação, via de regra, aparece nos discursos dos políticos,
na imagem do Brasil que é “vendida” para os turistas e no discurso de muitos
educadores. Entretanto, nem sempre o discurso da escola, de que a sociedade
brasileira se constituiu e ainda se constrói a partir da participação, trabalho e
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luta de sujeitos sociais de diferentes segmentos étnicos-raciais se efetiva em
práticas não discriminatórias e não segregacionistas.
Muitas vezes, o sentimento de intolerância ao diferente, a dificuldade de
compreensão de que o processo educacional está impregnada da relação de
alteridade servem de alicerce para uma prática pedagógica que contribui para a
fragmentação da identidade étnica.
É importante que esse tipo de sensibilidade seja adquirido, cada vez
mais, por um maior número de educadores. Essa outra leitura da escola é
imprescindível aqueles que compreendem a educação enquanto um direito
social. Assim como a família, o relacionamento com os vizinhos, amigos e a
militância política, a escola é, também, um espaço em que homens, mulheres e
crianças
aprendem a se constituir enquanto sujeitos de liberdade sociais,
culturais e étnicos. “De qualquer modo, a liberdade parece ser uma parte do
mistério humano no qual somos confrontados à nossa história, ao bem ao
rosto do outro à confiança e a esperança” (FOUREZ, 1995, p. 305).
Nesse sentido espera-se que a escola trabalhe pedagogicamente com a
liberdade tendo em vista respeito a diversidade. Mesmo, a escola sendo um
lugar de conflito, os professores (educadoras e educadores) não pode
desconhecer essa diversidade tão rica, pessoas diferentes tem necessidades e
visões de mundo diferentes historicamente constituída.
Trabalhar com a diversidade significa respeitar o tempo e o compasso
de cada um sem a angústia de quem tem de dar conta dos tantos itens do
programa. Portanto atender o cotidiano de sala de aula na sua diversidade
representa compromisso com um projeto pedagógicos além muros pois “os
alunos e a parte mais importante da escola”.
Não creio que exista uma fórmula para responder as questões
colocadas neste trabalho. Até porque as pessoas não são frutas que se
cristalizem, ou guloseimas que se produzem mediante receita. São mulheres e
homens concretos, num contexto e com uma história em construção como já foi
dito, em movimento.
Segue anexo, uma entrevista de educadores, preocupados com a
questão racial negra, como podemos perceber são desafios na prática
pedagógica dos docentes, realizar um trabalho tendo em vista a individualidade
do aluno no cotidiano.
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...São tantas as questões que esse meu modesto trabalho de reflexão
em relação: a educação como espaço de construção de sentido, tendo em vista
a diversidade do ser humano. Essa abordagem reflexiva não pôde, nem era
sua pretensão, resolvê-las. Eis aqui num texto em aberto. Um texto! O pretexto
era refletir sobre as diferenças e até o preconceito racial em relação a pessoa
de cor negra principalmente, no contexto contexto das práticas escolares em
todos os níveis. As teorias são incorporados e as práticas pedagógicas não
modificadas. Outros pontos de vista, diferentes ponto de vista, certamente
juntar-se-ão a esta reflexão na busca de um caminho. “A prática educativacrítica fundamentados numa ética pedagógica e numa visão de mundo
alicerçadas em rigorosidade, pesquisa, autonomia, humildade...” (FREIRE, 1996.)
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prática pedagógica. Curitiba : Editora Champagnat, 1996.
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São Paulo: CEDES, 2(5): 24 –40, 1980.
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BACHELARD, Gaston. A filosofia do não; O novo espírito científico; A prática
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GOMES, Nilma Lino.
A mulher negra que vi de perto : o processo de
construção da identidade racial de professoras negras. Belo Horizonte:
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FINGER, Almeri Paulo. Educação : caminhos e perspectivas. Curitiba :
Champagnat, 1996.
VIGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo : Martins Fontes,
1984.
CARREHERT, T.; CARRER, D. W.; SCHLIEMANN, A D. Na vida dez, na
escola zero. São Paulo : Cortez, 1988.
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