Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] Vai que dá! Material especial ENEM/Vestibular - Interpretação Textual Prof. Carlos Daniel (C.D.) 1 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] PARTE 01: TEXTO E FUNÇÕES DA LINGUAGEM Inicialmente, entende-se o texto de uma maneira bem ampla: trata-se de uma unidade lingüística, seja ela oral ou escrita, que possui um sentido e porta uma mensagem. Assim, um livro, um artigo, uma foto, um quadro, um programa de televisão – todos esses podem ser chamados de textos. No texto abaixo, por exemplo, temos um conjunto de imagens, palavras, números e orações: (http:// www.elivros-gratis.net) O linguísta Roman Jakobson (1896-1982) propôs um esquema de funcionamento da comunicação. Em paralelo, elaborou a concepção sobre as Funções da Linguagem. 2 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] EXERCÍCIOS sobre TEXTO E FUNÇÕES DA LINGUAGEM 01. (Enem 2007) Não só de aspectos físicos se constitui a cultura de um povo. Há muito mais, contido nas tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas, nas c) festas e em diversos outros aspectos e manifestações transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo. A essa porção intangível da herança cultural dos povos dá-se o nome de patrimônio cultural d) imaterial. (Internet: www.unesco.org.br ). Qual das figuras abaixo retrata patrimônio imaterial da cultura de um povo? e) 02. (FUVEST 2009) a) b) A crítica contida na charge visa, principalmente, ao a) ato de reivindicar a posse de um bem, o qual, no entanto, já pertence ao Brasil. 3 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] b) desejo obsessivo de conservação da natureza brasileira. c) lançamento da campanha de preservação da floresta amazônica. d) uso de slogan semelhante ao da campanha “O petróleo é nosso”. e) descompasso entre a reivindicação de posse e o tratamento dado à floresta. uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada, essencialmente, a) pelo alcance de cada cultura. b) pela capacidade visual do observador. 03. (FUVEST 2009) O pressuposto da frase escrita no cartaz que compõe a charge é o de que a Amazônia está ameaçada de: c) pelo senso de humor de cada um. d) pela idade do observador. e) pela altura do ponto de observação. a) Fragmentação. b) Estatização. Texto I c) Descentralização. Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e d) Internacionalização e) Partidarização. razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. 04. (Enem 2004) Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades Da minha aldeia vejo quanto da terra se e às épocas. pode ver no Universo... RIO, J. A rua. In: A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento). Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer Porque sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha Texto II altura... (Alberto Caeiro) A rua dava-lhe uma força de fisionomia, mais consciência dela. Como se sentia estar no seu reino, na região em A tira Hagar e o poema de Alberto Caeiro que era rainha e imperatriz. O olhar cobiçoso dos homens e o de inveja das mulheres acabavam o sentimento (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com linguagens diferentes, 4 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] de sua personalidade, exaltavam-no até. Dirigiu-se para a rua do Catete com o seu passo miúdo e sólido. […] B) favorece o cultivo da intimidade e a exposição dos dotes físicos. C) possibilita vínculos pessoais duradouros e encontros casuais. No caminho trocou cumprimento com as raparigas pobres de uma casa de cômodos da vizinhança. D) propicia o sentido de comunidade e a exibição pessoal. […] E debaixo dos olhares maravilhados das pobres raparigas, ela continuou o seu caminho, arrepanhando a E) promove o anonimato e a segregação social saia, satisfeita que nem uma duquesa atravessando os seus domínios. 06. (FUVEST 2009) No texto I, observa-se que o narrador se BARRETO, L. Um e outro. In: Clara dos anjos. Rio de Janeiro: Editora Mérito (fragmento). a) equipara ao leitor, por meio de sentimentos diversos como o amor, o ódio e o egoísmo. b) distancia do leitor, porque o amor à rua, assim como o ódio e o egoísmo, é passageiro. c) identifica com o leitor, por meio de um sentimento perene, que é o amor à rua. d) aproxima do leitor, por meio de sentimentos duradouros como o amor à rua e o ódio à polícia. e) afasta do leitor, porque, ao contrário deste, valoriza as coisas fúteis. 05. (FUVEST 2009) A experiência urbana é um tema recorrente em crônicas, contos e romances do final do século XIX e início do XX, muitos dos quais elegem a rua para explorar essa experiência. Nos fragmentos I e II, a rua é vista, respectivamente, como lugar que A) desperta sensações contraditórias e desejo de reconhecimento. GABARITO: 01. C 02. E 03. D 04. A 05. D 06. C 5 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] PARTE 02: IDEOLOGIA E INTENCIONALIDADE Todo o texto carrega uma ideologia e uma intencionalidade. O termo ideologia é de difícil classificação, o que é amplamente debatido na filosofia e na sociolinguística. Grosso modo, pode-se pensar em ideologia como o conjunto de crenças e convenções que permeia um grupo social. Por mais que um falante tente, nunca conseguirá produzir um texto sem alguma ideologia. Logicamente, é mais fácil observar a ideologia predominante em textos que estejam temporalmente distantes de nós. Propaganda de “Cigarrinhos de Chocolate Garoto” (Anos 50) Propaganda da cerveja Devassa (2012), autuada pelo CONAR 6 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] No fundo, todos os textos possuem um caráter argumentativo, ou seja, buscam convencer seu(s) leitor(es) de algo. Tradicionalmente, as provas de ENEM e Vestibular costumam trabalhar a intencionalidade de textos literários e/ou publicitários. EXERCÍCIOS sobre IDEOLOGIA E INTENCIONALIDADE O sonho do celular Sabe qual é o meu sonho, cara? Quer saber mesmo qual é o grande sonho? Fomos presos, cara. E sabe por quê? Porque o pinta tinha um celular. De dentro do portamalas ele pediu socorro. E nos pegaram direitinho. Eu queria ter um celular, cara. Um celular: esses telefones que o cara leva na mão, e dá para a gente falar de qualquer lugar, da rua, do bar, do banheiro, de onde você quiser. É uma maravilha, cara. Não existe nada igual. É o meu sonho. Se estou zangado? Não estou zangado, não. É verdade que fiquei numa ruim, mas o que aconteceu provou que eu tinha razão celular é outro papo. É a comunicação do futuro, cara. Um dia ainda vou ter um, andar com ele debaixo do braço e falar com meus amigos de casa, da rua, do banheiro. Sou até capaz de me meter num porta-malas e ligar para alguém, para ver como a coisa funciona. Você vai dizer: ah, mas é um sonho miúdo, insignificante. Você vai dizer que sou modesto, que voo baixo. Outros querem carrões importados, roupas caras, apartamentos de cobertura – e eu quero só um telefone?! Celular é meu sonho cara. Pois é só o que quero: um telefone celular. Aquilo é o Maximo, cara. Aquilo te dá um status fora de série. Não sou só eu que acha isso, não: eu tinha um amigo que roubou um celular da loja só para ficar com ele debaixo do braço. A coisa não falava, não tocava – mas dava a ele uma sensação de peru. Celular, cara, é outro papo. Não é orelhão, não é telefone comum. É celular. Coisa de gente fina. (Moacyr Scliar) 01. A linguagem do texto acima caracterizase pelo emprego de termos coloquiais ou populares. Substitua as expressões a seguir por outras correspondentes em norma culta. A) "eu voo baixo" B) "uma sensação do peru" C) "porque o pinta tinha um celular" Só que custa um dinheirão, e de onde eu ia descolar aquela grana? Porque eu queria fazer a coisa legal, registrar o aparelho, tudo certinho. Essas coisas custam caro. Não havia outro jeito: eu tinha que sequestrar um cara. D) "celular é outro papo" 02. "O feitiço virou contra o feiticeiro". Poderíamos aplicar esse provérbio popular à narrativa? Justifique a sua resposta. E aí a gente fez o sequestro, tudo direitinho, tudo bem planejado. E para o sujeito não incomodar, nós o colocamos no porta-malas. 03. Interprete a intenção do autor ao escrever esse texto. 7 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] 04. (Enem 2006) Os textos a seguir foram extraídos de duas crônicas publicadas no ano Avalie as seguintes afirmações a respeito dos em que a seleção brasileira conquistou o dois textos e do período histórico em que tricampeonato mundial de futebol. foram escritos. O General Médici falou em consistência I - Para os dois autores, a conquista do moral. Sem isso, talvez a vitória nos tricampeonato mundial de futebol provocou escapasse, pois a disciplina consciente, uma explosão de alegria popular. livremente aceita, é vital na preparação II - Os dois textos salientam o momento espartana para o rude teste do campeonato. político que o país atravessava ao mesmo Os brasileiros portaram-se não apenas como tempo em que conquistava o tricampeonato. técnicos ou profissionais, mas como III - À época da conquista do tricampeonato brasileiros, como cidadãos deste grande país, mundial de futebol, o Brasil vivia sob regime cônscios de seu papel de representantes de militar, que, embora politicamente seu povo. Foi a própria afirmação do valor do autoritário, não chegou a fazer uso de homem brasileiro, como salientou bem o métodos violentos contra seus opositores. presidente da República. Que o chefe do governo aproveite essa pausa, esse minuto É correto apenas o que se afirma em de euforia e de efusão patriótica, para a) I. meditar sobre a situação do país. (...) A b) II. realidade do Brasil é a explosão patriótica do c) III. povo ante a vitória na Copa. d) I e II. (Danton Jobim. Última Hora, 23/6/1970 - e) II e III. com adaptações). 05. (ENEM 2007) A figura abaixo é parte de uma campanha publicitária. O que explodiu mesmo foi a alma, foi a paixão do povo: uma explosão incomparável de alegria, de entusiasmo, de orgulho. (...) Debruçado em minha varanda de Ipanema, [um velho amigo] perguntava: – Será que algum terrorista se aproveitou do delírio coletivo para adiantar um plano seu qualquer, agindo com frieza e precisão? Será que, de outro lado, algum carrasco policial teve ânimo para voltar a torturar sua vítima logo que o alemão apitou o fim do jogo? (Rubem Braga. Última Hora, 25/6/1970 com adaptações). 8 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] Zelândia informa que o fumo passivo é a terceira entre as principais causas de morte no país, Essa campanha publicitária relaciona-se depois do fumo ativo e do uso de álcool. diretamente com a seguinte afirmativa: Disponível em: www.terra.com.br. Acesso em: 27 abr. 2010 (fragmento). a) O comércio ilícito da fauna silvestre, atividade de grande impacto, é uma ameaça para a biodiversidade nacional. Texto II b) A manutenção do mico-leão-dourado em jaula é a medida que garante a preservação dessa espécie animal. c) O Brasil, primeiro país a eliminar o tráfico do mico-leão-dourado, garantiu a preservação dessa espécie. d) O aumento da biodiversidade em outros países depende do comércio ilegal da fauna silvestre brasileira. e) O tráfico de animais silvestres é benéfico para a preservação das espécies, pois garante-lhes a sobrevivência. Ao abordar a questão do tabagismo, os 06. (Enem 2010) textos I e II procuram demonstrar que Texto I a) a quantidade de cigarros consumidos por O chamado "fumante passivo" é aquele indivíduo pessoa, diariamente, excede o máximo de que não fuma, mas acaba respirando a fumaça os nicotina recomendado para os indivíduos, cigarros fumados ao seu redor. Até hoje, inclusive para os não fumantes. discutem-se muito os efeitos do fumo passivo, b) para garantir o prazer que o indivíduo tem ao mas uma coisa é certa: quem não fuma não é fumar, será necessário aumentar as estatísticas obrigado a respirar a fumaça dos outros. O fumo de fumo passivo. passivo é um problema de saúde pública em todos c) a conscientização dos fumantes passivos é uma os países do mundo. Na Europa, estima-se que maneira de manter a privacidade de cada 79% das pessoas estão expostas à fumaça "de indivíduo e garantir a saúde de todos. segunda mão", enquanto, nos Estados Unidos, d) os não fumantes precisam ser respeitados e 88% dos não fumantes acabam fumando poupados, pois estes também estão sujeitos as passivamente. A Sociedade do Câncer da Nova doenças causadas pelo tabagismo. 9 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] e) o fumante passivo não é obrigado a inalar as b) alertam para a necessidade do mesmas toxinas que um fumante, portanto controle da poluição ambiental para depende dele evitar ou não a contaminação redução do efeito estufa. proveniente da exposição ao fumo. c) ilustram a interdependência das diversas formas de vida (animal, vegetal e outras) e o seu habitat. 07. (ENEM 2010) No ano de 2000, um d) indicam a alta resistência do meio vazamento em dutos de óleo na baía de ambiente à ação do homem, além de Guanabara (RJ) causou um dos maiores evidenciar acidentes ambientais no Brasil. Além de a sua sustentabilidade mesmo em condições extremas de afetar a fauna e a flora, o acidente poluição. abalou o equilíbrio da cadeia alimentar e) evidenciam a grande capacidade de toda a baía. O petróleo forma uma animal de se adaptar às mudanças película na superfície da água, o que ambientais, em contraste com a baixa prejudica as trocas gasosas da atmosfera capacidade das espécies vegetais, que com a água e desfavorece a realização estão na base da cadeia alimentar de fotossíntese pelas algas, que estão na hídrica. base da cadeia alimentar hídrica. Além disso, o derramamento de óleo 08. (FUVEST 2008) S. Paulo, 13-XI-42 contribuiu para o envenenamento das árvores e, consequentemente, para a Murilo intoxicação da fauna e flora aquáticas, São 23 horas e estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno. Tomei com uma gripe na semana passada, depois, desensarado, com uma chuva, domingo último, e o resultado foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais esta semana toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze dias que não faço nada, com o desânimo de após-gripe, uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei trabalhandinho por aí. (...) Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos “propositais”. Sim senhor, seu poeta, você até está ficando escritor e estilista. Você tem toda a razão de não gostar do “nariz furão”, de “comichona”, etc. Mas bem como conduziu à morte diversas espécies de animais, entre outras formas de vida, afetando também a atividade LAUBER, pesqueira. L. Negra". Brasil4(39), "Diversidade In: Scientific ago. 2005 da Maré American (adaptado). A situação exposta no texto e suas implicações a) indicam a independência da espécie humana com relação ao ambiente marinho. 10 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] lhe juro que o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente. As palavras são postas de propósito pra não gostar, devido à elevação declamatória do coral que precisa ser um bocado bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante. Carece botar um pouco de insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito bem-feitinha.(...) De todas as palavras que você recusou só uma continua me desagradando “lar fechadinho”, em que o carinhoso do diminutivo é um desfalecimento no grandioso do coral. Mário de Andrade, Cartas a Murilo Miranda. a) a crítica de poesia é meticulosa e exata quando acolhe e valoriza uma imagem poética. b) uma imagem poética logo se converte, na visão de um crítico, em um referente prosaico. c) o leitor e o poeta relacionam-se de maneira antagônica com o fenômeno poético. d) o poeta e o crítico sabem reconhecer a poesia de uma expressão como “pedaço esvoaçante de vida”. e) palavras como “borboleta” ou “lepidóptero” mostram que há convergência entre as linguagens da ciência e da poesia. “... estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno." No trecho, o termo destacado indica que o autor da carta pretende 10. (FUVEST 2009) ISTOÉ – Quais são os equívocos mais comuns a respeito das pessoas altamente criativas? a) revelar a acentuada sinceridade com que se dirige ao leitor. b) descrever o lugar onde é obrigado a ficar em razão da doença. c) demarcar o tempo em que permanece impossibilitado de sair. d) usar a doença como pretexto para sua voluntária inatividade. e) enfatizar sua forçada resignação com a permanência em casa. Weisberg – O primeiro é que apenas um tipo específico de pessoa é criativa, e que ela usa processos mentais diferentes do restante dos seres humanos. Existe um mito de que os gênios usam processos inconscientes para criar suas obras ou têm patologias mentais que contribuem no processo criativo. Isso não é verdade. 09. (FUVEST 2008) ISTOÉ – Mas não se pode dizer que são pessoas comuns. A borboleta Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama: “Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: – Ah!, sim, um lepidóptero... Weisberg – As diferenças existem, claro. Picasso, por exemplo. Um aspecto bem distinto dele foi sua produtividade. Ele trabalhava o tempo todo e queria,propositadamente, criar coisas novas. Quase todos nós podemos aprender a desenhar. Não acho que essa habilidade seja o que o diferencia do restante, mas talvez o desejo de produzir algo novo, que afete o mundo. Mário Quintana, Caderno H. nasóculos = óculos sem hastes, ajustáveis ao nariz. Depreende-se desse fragmento que, para Mário Quintana, Entrevista de Robert Weisberg concedida a 11 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] Leoleli Camargo, IstoÉ, nº 2013, página 6, 04/06/08. c) Considerando pertinente a hipótese de que a criação ocorre pela associação do trabalho constante com o desejo de produzir algo novo. Ao responder à revista, como o entrevistado procura desmistificar a figura do gênio? d) Sugerindo a tese de que a criação de coisas novas é uma capacidade comum a todos, sendo raros, porém, aqueles que podem desenhar. a) Citando Picasso, porque estudos comprovam que sua herança genética foi responsável pela sua produtividade e versatilidade como artista. e) Levantando a hipótese de que os processos mentais beneficiam-se de estimulantes químicos para facilitar o processo criativo. b) Mencionando patologias mentais, porque concorda que distúrbios, como a esquizofrenia, são responsáveis pela criatividade dos gênios. GABARITO: 01. a) eu faço planos de baixa ambição. b) uma sensação grandiosa. c) porque o rapaz enriquecido possuía um celular. d) celular é outro assunto 02. Sim. Pois o plano do narrador (seu "feitiço") acabou por prejudicá-lo ("voltou-se contra o feiticeiro"). 03. (As respostas podem variar) Possível resposta: O autor buscou elaborar uma crítica à ambição materialista de certos indivíduos. 04. D 05. A 06. D 07. C 08. E 09. B 10. C 12 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] PARTE 03: FIGURAS DE LINGUAGEM DEFINIÇÃO: “Figura de linguagem é uma forma de expressão que consiste no emprego de palavras em sentido figurado, isto é, em um sentido diferente daquele em que convencionalmente são empregadas” (CEREJA&MAGALHÃES, Português. Linguagens. 2012) A. COMPARAÇÃO: aproxima ou distancia dois ou mais elementos. É obrigatório o uso do termo comparativo (como, quanto, tanto...quanto, entre outros). D. ANTÍTESE: Presença de termos opostos, associados. A associação é logicamente possível. Ex.: Ontem chovia, mas hoje faz sol. Ex.: Ela é como uma flor. E. PARADOXO: Presença de termos opostos, unidos. A associação é logicamente impossível. B. METÁFORA: trata-se de uma comparação sem o elemento comparativo. Diz-se que uma coisa é outra. Ex.: Minha alma carrega um sol chuvoso. Ex.: Ela é uma flor. F. PERSONIFICAÇÃO OU PROSOPOPEIA: Atribuem-se características humanas para coisas não-humanas. C. METONÍMIA: trata-se da substituição de uma palavra por outra, por haver uma relação lógica entre elas. Ex.: As casas observavam os homens. Ex.: Estou lendo um Machado de Assis. (ao invés do livro) G. HIPÉRBOLE: trata-se de um exagero. Ex.: O nenê comeu dois pratos (ao invés do alimento) Ex.: “Pois há menos peixinhos a nadar no mar Ex.: A um sinal do maestro, os metais iniciaram o concerto. (ao invés dos instrumentos de metal) Do que os beijinhos que darei Na sua boca” (Vinícius de Moraes) 13 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] H. EUFEMISMO: substitui-se uma palavra ou expressão por outra, para amenizar a informação passada. O vento varria os frutos, O vento varria as flores... Ex.: Ela está num lugar melhor. M. GRADAÇÃO: Listagem de termos, gerando a ideia de progressão. Ex.: Ela não é exatamente uma pessoa inteligente. Ex.: Cada vez mais, comprou carros, casas, tudo! I. IRONIA: consiste em firmar o contrário do que se quer dizer. Frequentemente, gera humor. N. CATACRESE: trata-se de uma metáfora que já foi incorporada à língua. Ex.: “Moça linda bem tratada, Três séculos de família Ex.: cauda do piano, menina-dos-olhos, costas da cadeira etc. Burra como uma porta: Um amor” (Mário de Andrade) O. ANTONOMÁSIA OU PERÍFRASE: Substituição de um nome por um “apelido”, epíteto. J. ASSÍNDETO: emprego de orações coordenadas, sem o uso de conjunções. O caso mais corriqueiro é o da retirada da conjunção “e”. Ex.: Estou lendo um livro do primeiro realista brasileiro (ao invés de “Machado de Assis”). Ex.: Via carros, caminhões, aviões. P. SINESTESIA: Mistura de sensações e sentidos. K. POLISSÍNDETO: Repetição da conjunção. Frequentemente, o objetivo é enfatizar. Ex.: uma cor doce, um canto ardente etc. Ex.: Via carros e caminhões e aviões. Q. APÓSTROFE: chamamento de algo ou alguém. A morfologia classifica de “vocativo”. L. ANÁFORA: Repetição proposital de palavras no início de uma frase ou verso. Ex.: Pai nosso, que estais no céu... Ex.: “O vento varria as folhas, 14 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] R. HIPÉRBATO: inversão complexa dos termos da oração. Ex.: Os brasileiros somos um povo forte. Ex.: “vieram vindo outras pessoas, às duas e às quatro“ (Machado de Assis, Quincas Borba). W. ALITERAÇÃO: repetição de sons consonantais. Ex.: “Vim, vi e venci.” S. ELIPSE: Omissão de uma ou mais palavras, facilmente identificadas. X. ASSONÂNCIA: repetição de sons vocálicos. Ex.: [Eu] Sempre acreditei no amor. Ex.: A azaleia abria-se. T. ZEUGMA: omissão de um termo expresso anteriormente. Y: ONOMATOPEIA: representação gráfica de um som. Ex.: Ele sonhava em namorar; ela, em casar. Ex.: “Plunct-Plact-Zummm U. ANACOLUTO: quebra na estrutura normal da oração, com a inserção de um termo sem ligação sintática com os demais. Não vai a lugar nenhum” (Raul Seixas – O Carimbador Maluco) Ex.: “Eu, não me importa a desonra do mundo” (Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição). Z: PARONOMÁSIA: palavras semelhantes ou iguais na pronúncia, mas diferentes no sentido. Ex.: Comeu a manga e pagou três mangos. V: SILEPSE: concordância feita com a ideia transmitida, e não com os termos da oração. EXERCÍCIOS sobre FIGURAS DE LINGUAGEM 01. (FGV 2009) para abrir-vos as portas do Mistério?! Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! (SOUSA, Cruz e. Últimos sonetos.) A figura de sintaxe denominada “anástrofe” é um tipo raro de inversão, que consiste na anteposição do determinante (preposição + Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves 15 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] substantivo) ao determinado, como ocorre no seguinte trecho: b) Transcreva, respectivamente, os termos que completam corretamente as lacunas em II. a) “Ó almas presas”. b) “Nas prisões colossais”. c) “Da Dor no calabouço”. d) “Nesses silêncios solitários”. e) “Para abrir-vos as portas”. 04. (FUVEST 2009) Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. RIO, J. A rua. In: A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento). 02. (FGV-2010) “Eu ia, atento e presente, em busca de um bonde e de Jandira. Foi só ouvir uma sanfona, perdi o bonde, perdi o rumo, e perdi Jandira. Fiquei rente do cego da sanfona, não sei se ouvindo as suas valsas ou se ouvindo outras valsas que elas foram acordar na minha escassa memória musical. Depois, o cego mudou de esquina, e continuei a pé o caminho, mas bem percebi que os passos me levavam, não para o cotidiano, mas para tempos mortos.” (ANJOS, Cyro dos. O amanuense Belmiro. 8ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1975, p. 15.) Em “nas cidades, nas aldeias, nos povoados” (linha 6), “hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia” (linhas 12 e 13) e “levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis” (linhas 13 e 14), ocorrem, respectivamente, os seguintes recursos expressivos: a) Aproximando-se as duas passagens destacadas destacado do trecho “Eu ia, atento e presente, em busca de um bonde e de Jandira. Foi só ouvir uma sanfona, perdi o bonde, perdi o rumo, e perdi Jandira”, pode-se divisar uma figura de linguagem, mais especificamente, uma figura de pensamento. Nomeie-a e explique como ela se dá no texto. a) eufemismo, antítese, metonímia. b) hipérbole, gradação, eufemismo. c) metáfora, hipérbole, inversão. d) gradação, inversão, antítese. e) metonímia, hipérbole, metáfora. b) Classifique morfologicamente o termo “elas” e aponte a que termo se refere. Justifique sua resposta. 05. (FUVEST2009) Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... — ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de hora. Assim. João Guimarães Rosa. O burrinho pedrês, Sagarana. 03. (FGV 2010) Observe as frases: I. Tecnologia da informação: do campus para o campo. (Jornal Unesp, agosto de 2009.) II. Durante a _______ (sessão/seção) plenária, o deputado deixou claro que, a partir daquele momento, não se discutiriam mais as _______ (exceções/excessões). O mais importante seria o _______ (cumprimento/comprimento) da pauta, atendendo, assim, aos interesses dos _______ (cidadãos/cidadões). a) Nomeie e explique a figura de linguagem estabelecida pelo par campus-campo, em I. 16 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] Por que desculpar-me, se os poetas criaram deuses e semideuses para personificar as coisas, visíveis e invisíveis... E o sereno da fronteira deve andar mesmo de chapéu desabado, bigode, pala e de pé no chão... sim, ele estava mesmo de pés descalços, decerto para não nos perturbar o sono mais ou menos inocente. Como exemplos da expressividade sonora presente neste excerto, podemos citar a onomatopeia, em “Chu-áa! Chu-áa...”, e a fusão de onomatopeia com aliteração, em a) “vestindo água”. b) “ruge o rio”. c) “poço doido”. d) “filho do fundo”. e) “fora de hora”. (QUINTANA, Mário. As cem melhores crônicas brasileiras.) 06. (FUVEST 2010) Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço fazia mal, sempre gritava: "Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!". Mas eu ouvia o mormaço com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje, quando leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo com estes olhos o Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se abaixa e levanta no excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da pedra fundamental da ponte UruguaianaLibres, ocasião de grandes solenidades, com os presidentes Justo e Getúlio e gente muita, tanto assim que fomos alojados os do meu grupo num casarão que creio fosse a prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina. Era como um alojamento de quartel, com breve espaço entre as camas e todas as portas e janelas abertas, tudo com alegres incômodos e duvidosos encantos de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu pressentisse, em meu entredormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado olhei atônito para um tipo chiru, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido sobre os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida calma: _ Pois é! Não vê que eu sou o sereno... E eis que, por um milésimo de segundo, ou talvez mais, julguei que se tratasse do Sereno Noturno em pessoa. Coisas do sono? Além disso, o vulto aquele, penumbroso e todo em linhas descendentes, ajudava a ilusão. Mas por que desculpar-me? Quase imediatamente compreendi que o "sereno" era vigia noturno, uma espécie de anjo da guarda crioulo e municipal. *Glossário: estremunhado:mal-acordado. chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: Sul do Brasil). A caracterização ambivalente da “coletividade democrática” (L. 20 e 21), feita com humor pelo cronista, ocorre também na seguinte frase relativa à democracia: a) Meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo, e nenhum, venerado. (A. Einstein) b) A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais. (W. Churchill) c) A democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos incompetentes. (B. Shaw) d) É uma coisa santa a democracia praticada honestamente, regularmente, sinceramente. (Machado de Assis) e) A democracia se estabelece quando os pobres, tendo vencido seus inimigos, massacram alguns, banem os outros e partilham igualmente com os restantes o governo e as magistraturas. (Platão) 07. (FUVEST 2008) Meses depois fui para o seminário de S. José. Se eu pudesse contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva. Há nisto alguma exageração; mas é bom ser enfático, uma ou outra vez, para compensar este escrúpulo de exatidão que me aflige. (Machado de Assis, Dom Casmurro.) O “escrúpulo de exatidão” que, no trecho, o narrador contrapõe à exageração ocorre também na frase: 17 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] a) No momento em que nos contaram a anedota, quase estouramos de tanto rir. b) Dia a dia, mês a mês, ano a ano, até o fim dos tempos, não tirarei os olhos de ti. c) Como se sabe, o capitão os alertou milhares de vezes sobre os perigos do lugar. d) Conforme se vê nos registros, faltou às aulas trinta e nove vezes durante o curso. e) Com toda a certeza, os belíssimos presentes lhe custaram os olhos da cara. Encontro um caderno antigo, de adolescente. E, em vez das simples anotações que seriam preciosas como documento, descubro que eu só fazia literatura. Afinal, quando é que um adolescente já foi natural? E, folheando aquelas velhas páginas, vejo, compungido, como as comparações caducam. Até as imagens morrem, dizia Brás Cubas. Quero crer que caduquem apenas. Eis aqui uma amostra daquele “diário”: “Era tal qual uma noite de tela cinematográfica. Silenciosa, parada, de um suave azul de tinta de escrever. O perfil escuro das árvores recortavase cuidadosamente naquela imprimadura* unida, igual, que estrelinhas azuis picotavam. Os bangalôs dormiam. Uma? Duas? Três horas da madrugada? Nem a lua sequer o sabia. A lua, relógio parado...” Pois vocês já viram que mundo de coisas perdidas?! O cinema não é mais silencioso. Não se usa mais tinta de escrever. Não se usam mais bangalôs. E ninguém mais se atreve a invocar a lua depois que os astronautas se invocaram com ela. (Mário Quintana, Na volta da esquina. Porto Alegre: Globo, 1979.) 08. (FGV 2011) Não comerei da alface a verde pétala Nem da cenoura as hóstias desbotadas Deixarei as pastagens às manadas E a quem mais aprouver fazer dieta. Cajus hei de chupar, mangas-espadas Talvez pouco elegantes para um poeta Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta Que acredita no cromo das saladas. Não nasci ruminante como os bois Nem como os coelhos, roedor; nasci Onívoro*; deem-me feijão com arroz E um bife, e um queijo forte, e parati** E eu morrerei, feliz, do coração De ter vivido sem comer em vão. *imprimadura: s.f. art. plást. 1 ato ou efeito de imprimar 1.1 primeira demão de tinta em tela, madeira etc. (Vinicius de Moraes, Livro de sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.) No trecho “Nem a lua sequer o sabia. A lua, relógio parado...”, podem ser identificadas, na ordem em que aparecem, as seguintes figuras de linguagem: *onívoro: que se alimenta tanto de matéria vegetal como animal. **parati: aguardente de cana, cachaça. a) personificação e elipse. b) metáfora e inversão. c) metonímia e silepse. d) hipérbole e anacoluto. e) sinédoque e pleonasmo. a) Indique duas figuras de linguagem, uma de natureza sintática e outra, semântica, utilizadas pelo autor nos dois primeiros versos. Que efeitos de sentido elas produzem, tendo em vista seus referentes e o contexto em que elas ocorrem? 10. (FGV 2010) Herdeiro já era muito; mas universal... Esta palavra inchava as bochechas à herança. Herdeiro de tudo, nem uma colherinha menos. E quanto seria tudo? Ia ele pensando. Casas, apólices, ações, escravos, roupa, louça, alguns quadros, que ele teria na Corte, porque era homem de muito gosto, tratava de coisas de arte com grande saber. E livros? devia ter muitos livros, citava muitos deles. Mas em quanto andaria tudo? Cem contos? Talvez duzentos. Era possível; trezentos mesmo não havia que admirar. Trezentos contos! b) A identificação da função sintática do termo “do coração” é decisiva para entender o significado do verso 13? Justifique sua resposta. c) Identifique a principal mensagem subjacente ao texto. Justifique sua resposta com base em elementos presentes no poema. 09. (FGV 2011) documento 18 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] trezentos! E o Rubião tinha ímpetos de dançar na rua. Depois aquietava-se; duzentos que fossem, ou cem, era um sonho que Deus Nosso Senhor lhe dava, mas um sonho comprido, para não acabar mais. A lembrança do cachorro pôde tomar pé no torvelinho de pensamentos que iam pela cabeça do nosso homem. Rubião achava que a cláusula era natural, mas desnecessária, porque ele e o cão eram dois amigos, e nada mais certo que ficarem juntos, para recordar o terceiro amigo, o extinto, o autor da felicidade de ambos. Havia, sem dúvida, umas particularidades na cláusula, uma história de urna, e não sabia que mais; mas tudo se havia de cumprir, ainda que o céu viesse abaixo... Não, com a ajuda de Deus, emendava ele. Bom cachorro! Excelente cachorro! Rubião não esquecia que muitas vezes tentara enriquecer com empresas que morreram em flor. Supôs-se naquele tempo um desgraçado, um caipora, quando a verdade era que "mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga". Tanto não era impossível enriquecer, que estava rico. – Impossível, o quê? exclamou em voz alta. Impossível é a Deus pecar. Deus não falta a quem promete. (Machado de Assis. Quincas Borba.) de British) (Alfredo Bosi. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, 3. ed. p. 94) O recurso da antítese, figura essencial da linguagem barroca, pode ser reconhecido na relação que estabelecem entre si, considerado o contexto, as seguintes expressões desse soneto: (A) tanto negócio e tanto negociante. (B) açúcar excelente e drogas inúteis. (C) Triste Bahia e pobre te vejo. (D) Rica te vi e tu a mi abundante. (E) se quisera Deus e um dia amanheceras. 12. (PUC-Camp 2009) [...] estamos chegando a um melhor entendimento da importância relativa das coisas. Aprende-se a conviver com pequenas aflições, como a tendinite e a technomusic, pensando: “No Afeganistão está pior.” E depois que Paquistão, Índia, Israel, Iraque, Estados Unidos e Bin Laden se aniquilarem mutuamente com bombas nucleares e químicas, e a nuvem mortal começar a circular o planeta, você pode se consolar com a ideia de que pelo menos nossa seleção não dará vexame na próxima copa. (Luis Fernando Verissimo. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. p. 161) No trecho destacado em “mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”, ocorre um tipo de desvio semântico que tem finalidade expressiva. Trata-se de a) paradoxo. b) hipérbole. c) redundância. d) personificação. e) eufemismo. O efeito de humor que o cronista obtém explorando a importância relativa das coisas concretiza-se quando Verissimo cria o contraste entre (A) nuvem mortal e próxima copa. (B) Afeganistão e Estados Unidos. (C) bombas nucleares e nuvem mortal. (D) nossa seleção e próxima copa. (E) pequenas aflições e tendinite. 11. (PUC-Camp 2008) Triste Bahia! ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando e tem trocado Tanto negócio e tanto negociante. Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh se quisera Deus que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fôra de algodão o teu capote! Brichote - mercador inglês 13. (ITA 2011) São Paulo – Não é preciso muito para imaginar o dia em que a moça da rádio nos anunciará, do helicóptero, o 1 colapso final: “A CET já não registra a extensão do congestionamento urbano. Podemos ver daqui que todos os carros em todas as ruas estão imobilizados. Ninguém anda, para frente ou para trás. A cidade, enfim, parou. As autoridades pedem calma, muita calma”. “A autoestrada do Sul” é um conto 2 extraordinário de Julio Cortázar . Está em Todos os fogos o fogo, de 1966 (a Civilização Brasileira (depreciativo 19 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] traduziu). Narra, com monotonia infernal, um congestionamento entre Fontainebleau e Paris. É a história que inspirou Weekend à 3 francesa (1967), de Godard . O que no início parece um transtorno corriqueiro vai assumindo contornos absurdos. Os personagens passam horas, mais horas, dias inteiros entalados na estrada. Quando, sem explicações, o nó desata, os motoristas aceleram “sem que já se soubesse para que tanta pressa, por que essa correria na noite entre automóveis desconhecidos onde ninguém sabia nada sobre os outros, onde todos olhavam para a frente, exclusivamente para a frente”. Não serve de consolo, mas faz pensar. Seguimos às cegas em frente há quanto tempo? De Prestes Maia aos túneis e viadutos de Maluf, a cidade foi induzida a andar de carro. Nossa urbanização se fez contra o transporte público. O símbolo modernizador da era JK é o pesadelo de agora, mas o fetiche da lata sobre rodas jamais se abalou. Será ocasional que os carrões dos endinheirados – essas peruas high-tech – se pareçam com tanques de guerra? As pessoas saem de casa dentro de bunkers, literalmente armadas. E, como um dos tipos do conto de Cortázar, veem no engarrafamento uma “afronta pessoal”. Alguém acredita em soluções sem que haja antes um colapso? Ontem era a crise aérea, amanhã será outra qualquer. A classe média necessita reciclar suas aflições. E sempre haverá algo a lembrá-la –coisa mais chata – de que ainda vivemos no Brasil. (SILVA, Fernando de Barros. Folha de S.Paulo, 17 mar. 2008.) 14. (UERJ 2012) O chá, os fantasmas, os ventos encanados... Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para evitar compromissos, a “gente bem” dizia estar com enxaqueca, palavra horrível mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos, mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho espichado. Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião) por que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no dedo... Também se falava misteriosamente em “moléstias de senhoras” nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma coisa privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham tempo para isso. Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma. Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicarme com este nem com o outro mundo. A não ser através d’O tico-tico e da poesia de Camões, do qual até hoje me assombra este verso único: “Que o menor mal de tudo seja a morte!” Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo. (Mario Quintana: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.) “Ter enxaqueca não era para todos”. Considerando que a afirmação anterior não pode ser verdadeira, conclui-se que ela é feita para expressar outro sentido, menos literal. O sentido expresso pela afirmação, no texto, pode ser definido como: (1) CET - Companhia de Engenharia de Tráfego. (2) Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino. (3) Jean-Luc Godard, cineasta francês, nascido em 1930. (A) metonímico (B) hiperbólico (C) metafórico (D) irônico NÃO há emprego de metáfora em a) Ninguém anda, para frente ou para trás. b) Quando, sem explicações, o nó desata, os motoristas aceleram [...]. c) [...] mas o fetiche da lata sobre rodas jamais se abalou. d) As pessoas saem de casa dentro de bunkers, literalmente armadas. e) A classe média necessita reciclar suas aflições. 15. (FUVEST 2010) Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço fazia mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas eu ouvia o mormaço com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje, quando leio que alguém se viu perseguido pelo clamor público, vejo com estes olhos o Sr. 20 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] Clamor Público, magro, arquejante, de preto, brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se abaixa e levanta no excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia contar uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da pedra fundamental da ponte Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades, com os presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos alojados os do meu grupo num casarão que creio fosse a Prefeitura, com os demais jornalistas do Brasil e Argentina. Era como um alojamento de quartel, com breve espaço entre as camas e todas as portas e janelas abertas, tudo com os alegres incômodos e duvidosos encantos de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu pressentisse, em meu entredormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado* e olhei atônito para um tipo de chiru*, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido sobre os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida calma: — Pois é! Não vê que eu sou o sereno... (QUINTANA, Mário. As cem melhores crônicas brasileiras.) *Glossário: estremunhado: mal-acordado. chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: Sul do Brasil). Considerando que “silepse é a concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com seu sentido, com a ideia que elas representam”, indique o fragmento em que essa figura de linguagem se manifesta. a) “olha o mormaço”. b) “pois devia contar uns trinta anos”. c) “fomos alojados os do meu grupo”. d) “com os demais jornalistas do Brasil”. e) “pala pendente e chapéu descido sobre os olhos”. 21 GABARITO: Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] 01. C 02. a) A figura de linguagem que podemos identificar, aproximando-se os dois trechos em negrito, é a antítese. Ela se dá pela oposição dos enunciados "atento e presente" e "perdi o bonde, perdi o rumo e perdi Jandira". b) O termo elas, morfologicamente classificado como pronome pessoal do caso reto, se refere a "suas valsas", isto é, às valsas que o sanfoneiro cego tocava e que "acordam" na memória do personagem outras valsas. 03. a) Trata-se da paronomásia, figura de linguagem que extrai expressividade da combinação de palavras que apresentam semelhança fônica (e/ou mórfica), mas possuem sentidos diferentes (cf. Houaiss). b) Sessão (reunião), exceções, cumprimento (execução), cidadãos. 04. D 05. B 06. B 07. D 08. a) Nos dois primeiros versos, identificam-se o hipérbato e a metáfora. O primeiro consiste na inversão sintática da ordem direta dos termos na oração: ao invés de "Não comerei a pétala verde da alface"/ "Nem as hóstias desbotadas da cenoura", o autor inverte a ordem natural, fazendo o adjunto adnominal anteceder o objeto ao qual se refere. Isso ocorre para garantir o número de sílabas poéticas desejado (versos decassílabos) e um ritmo e sonoridade interessantes, já que Vinicius era um poeta preocupado com a forma poemática. Quanto à metáfora, ela ocorre porque, ao utilizar as expressões "pétala" e "hóstias", o autor faz o leitor associar a alface a uma flor (algo geralmente não comestível) e a cenoura à hóstia (algo insípido), desvalorizando tais alimentos e sugerindo que eles não sejam atrativos ao paladar e não proporcionem prazer na alimentação. b) Sim. Ao ler com atenção o verso 13, verifica-se que "do coração" se comporta sintaticamente como um adjunto adverbial de causa em relação ao verbo "morrerei", indicando que o eu lírico morrerá devido à alguma doença cardíaca, mas estará feliz por sempre ter comido o que lhe dava prazer. c) A principal mensagem do texto diz respeito ao fato de que é melhor uma vida curta e com prazeres do que a longevidade sem prazeres. Contrariando o senso comum, o eu lírico valoriza mais o prazer do que a própria vida. No poema, isso se evidencia do seguinte modo: a vida sem prazer é simbolizada pelos alimentos saudáveis como a alface, a cenoura, as peras e as maçãs; já a vida com prazer é simbolizada por alimentos que o eu lírico julga mais pesados: cajus, mangas-espada, arroz, feijão, bife, queijo e cachaça. 09. A 10. C 11. B 12. A 13. A 14. D 15. C 22 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] PARTE 04: TIPOS DE LINGUAGEM; TIPOS DE DISCURSO TIPOS DE LINGUAGEM: A) FORMAL OU CULTA: expressão empregada pelos lingüistas brasileiros para designar o conjunto de variedades lingüísticas efetivamente faladas, na vida cotidiana, pelos falantes cultos, sendo assim classificados os cidadãos nascidos e criados em zona urbana e com grau de instrução superior completo. B) INFORMAL OU COLOQUIAL: é a linguagem popular, usada no quotidiano. Nem sempre segue a norma culta, podendo apresentar arcaísmos ou erros gramaticais. Embora não recomendável em documentos, foi incorporada à literatura moderna e é normalmente adotada pelos meios de comunicação de massa . Ex.: “A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros” (Manuel Bandeira) TIPOS DE DISCURSO: A) DIRETO: O narrador representa a fala da personagem de forma direta, exatamente como foi proferida. Para tanto, usam-se dois pontos e travessão. Alguns textos, por influência americana, costumam utilizar aspas (embora isso não seja recomendado em língua portuguesa). O menino entrou na sala. Estava cansado. Perguntou então: - Eu poderia dormir aqui? B) INDIRETO: O narrador transmite a fala da personagem com suas próprias palavras. Para tanto, usam-se conectivos e expressões como “Ele disse que...”, “perguntou se”, entre outras. O menino entrou na sala. Estava cansado. Perguntou, então, se ele poderia dormir ali. C) INDIRETO LIVRE: Amplamente difundido durante as gerações de 30 ou 40 do Modernismo brasileiro. As falas da personagem aparecem juntamente com as do narrador, sem uma marca que permita separá-las claramente. O menino entrou na sala. Que cansaço. Perguntou, então, se ele poderia dormir ali. (Note-se que não podemos saber se a fala sublinhada representa um pensamento do narrador ou da personagem) 23 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] EXERCÍCIOS sobre TIPOS DE LINGUAGEM E TIPOS DE DISCURSO 01. Enquanto na fala muitas vezes nem todos os verbos e substantivos são flexionados, na escrita isso pode ser considerado um erro. Considere as seguintes sentenças: I. Saíram os resultados. II. Foi inaugurado as usina. III. Apareceu cinqüenta pessoas na festa. IV. O time apresentou os jogadores. V. Saiu os nomes dos jogadores. VI. Também vieram os juízes. Seguem as normas da escrita padrão as sentenças: a) I, IV e VI apenas. b) II, III e V apenas. c) I, II e III apenas. d) IV, V e VI apenas. e) I, III e V apenas. elementos se estruturam, qual a forma alcançada nesse processo. Adaptado de J. Jota de Moraes, O que é música. Nesse texto, o primeiro parágrafo e o conjunto dos demais articulam-se de modo a constituir, respectivamente, a) uma proposição e seu esclarecimento. b) um tema e suas variações. c) uma premissa e suas contradições. d) uma declaração e sua atenuação. e) um paradoxo e sua superação. 02. Das alternativas abaixo, assinale aquela que NÃO está de acordo com a norma culta. a) Foi ele quem comprou o carro. b) Alguns de nós seremos vitoriosos. c) A maior parte das pessoas faltou ao encontro. d) Os Estados Unidos importa muitos produtos brasileiros. e) Cada um de nós fez o que pôde. 03. (FUVEST 2008) Há muitas, quase infinitas maneiras de ouvir música. Entretanto, as três mais frequentes distinguem-se pela tendência que em cada uma delas se torna dominante: ouvir com o corpo, ouvir emotivamente, ouvir intelectualmente. Ouvir com o corpo é empregar no ato da escuta não apenas os ouvidos, mas a pele toda, que também vibra ao contato com o dado sonoro: é sentir em estado bruto. É bastante frequente, nesse estágio da escuta, que haja um impulso em direção ao ato de dançar. Ouvir emotivamente, no fundo, não deixa de ser ouvir mais a si mesmo que propriamente a música. É usar da música a fim de que ela desperte ou reforce algo já latente em nós mesmos. Sai-se da sensação bruta e entra-se no campo dos sentimentos. Ouvir intelectualmente é dar-se conta de que a música tem, como base, estrutura e forma. Referir-se à música a partir dessa perspectiva seria atentar para a materialidade de seu discurso: o que ele comporta, como seus 04. (Enem 2008) Assinale o trecho do diálogo que apresenta um registro informal, ou coloquial, da linguagem. a) "Tá legal, espertinho! Onde é que você esteve?!? b) "E lembre-se: se você disser uma mentira, os seus chifres cairão!" c) "Estou atrasado porque ajudei uma velhinha a atravessar a rua..." d) "...e ela me deu um anel mágico que me levou a um tesouro." e) "mas bandidos o roubaram e os persegui até a Etiópia, onde um dragão..." 05. (FUVEST 2008) Devemos misturar e alternar a solidão e a comunicação. Aquela nos incutirá o desejo do convívio social, esta, o desejo de nós mesmos; e uma será o remédio da outra: a solidão curará nossa aversão à multidão, a multidão, nosso tédio à solidão. Sêneca, Sobre a tranquilidade da alma. Trad. de J.R. Seabra Filho. 24 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] a) Segundo Sêneca, a solidão e a comunicação devem ser vistas como complementares porque ambas satisfazem um mesmo desejo nosso. É correta essa interpretação do texto acima? Justifique sua resposta. b) “(...) a solidão curará nossa aversão à multidão, a multidão, nosso tédio à solidão.” Sem prejuízo para o sentido original, reescreva o trecho acima, iniciando-o com “Nossa aversão à multidão...”. a) Considerando-se que o texto II tem como referência o texto I, qual é a expressão que, de acordo com Millôr Fernandes, tem um “significado estabelecido”? b) No texto I, os significados dos segmentos "não deis aos cães o que é santo" e "nem atireis aos porcos as vossas pérolas" reforçam-se mutuamente ou se contradizem? Justifique sucintamente sua resposta. 06. (FUVEST 2008) Em janeiro de 1935, um grupo de turistas pernambucanos passeava de carro quando deu de cara com Lampião e seu bando. Revirando a bagagem do grupo, um cangaceiro encontrou uma Kodak e entregou ao chefe, que perguntou a quem ela pertencia. Apavorado, um deles levantou o dedo. “Quero que o senhor tire o meu retrato”, disparou o “rei do cangaço”, pondo-se a posar. O homem, esforçando-se, bateu uma chapa, mas avisou: “Capitão, esta posição não está boa”. Dando um salto e caindo de pé, Lampião perguntou: “E esta? Está melhor?” Outra foto foi feita. Quando libertava os turistas, após pilhá-los, o “fotógrafo” de ocasião indagou-lhe como podia enviar as imagens. “Não é preciso. Mande publicar nos jornais”, disse o cangaceiro. Carlos Haag, Pesquisa FAPESP. 08. (FUVEST 2009) eu estava ali deitado olhando através da vidraça as roseiras no jardim fustigadas pelo vento que zunia lá fora e nas venezianas de meu quarto e de repente cessava e tudo ficava tão quieto tão triste e de repente recomeçava e as roseiras frágeis e assustadas irrompiam na vidraça e eu estava ali o tempo todo olhando estava em minha cama com minha blusa de lã as mãos enfiadas nos bolsos os braços colados ao corpo as pernas juntas estava de sapatos Mamãe não gostava que eu deitasse de sapatos deixe de preguiça menino! mas dessa vez eu estava deitado de sapatos e ela viu e não falou nada ela sentou-se na beirada da cama e pousou a mão em meu joelho e falou você não quer mesmo almoçar? (Luiz Vilela. Eu estava ali deitado.) a) No texto, as aspas em “rei do cangaço” e “fotógrafo” foram empregadas pelo mesmo motivo? Justifique sua resposta. b) Os trechos abaixo encontram-se em discurso indireto e discurso direto, respectivamente. Transforme em discurso direto o primeiro trecho e, em discurso indireto, o segundo. a) O texto procura representar um “fluxo de consciência”, ou seja, a livre-associação de idéias do narrador-personagem. Aponte dois recursos expressivos, presentes no texto, que foram empregados com essa finalidade. b) Cite, do texto, um exemplo de emprego do discurso direto. I. (...) um cangaceiro encontrou uma Kodak e entregou ao chefe, que perguntou a quem ela pertencia. 09. (FUVEST 2011) Já na segurança da calçada, e passando por um trecho em obras que atravanca nossos passos, lanço à queima-roupa: — Você conhece alguma cidade mais feia do que São Paulo? — Agora você me pegou, retruca, rindo. Hã, deixa eu ver... Lembro-me de La Paz, a capital da Bolívia, que me pareceu bem feia. Dizem que Bogotá é muito feiosa também, mas não a conheço. Bem, São Paulo, no geral, é feia, mas as pessoas têm uma disposição para o trabalho aqui, uma vibração empreendedora, que dá uma feição muito particular à cidade. Acordar cedo em São Paulo e ver as pessoas saindo para trabalhar é algo II. “Quero que o senhor tire o meu retrato”, disparou o “rei do cangaço” (...). 07. (FUVEST 2008) I. Não deis aos cães o que é santo, nem atireis aos porcos as vossas pérolas (...). (Mateus, 7:6) II. Você pode atirar pérolas aos porcos. Mas não adianta nada atirar pérolas aos gatos, aos cães ou às galinhas porque isso não tem nenhum significado estabelecido. Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos. 25 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] que me toca. Acho emocionante ver a garra dessa gente. (R. Moraes e R. Linsker. Estrangeiros em casa: uma caminhada pela selva urbana de São Paulo.National Geographic Brasil. Adaptado.) metafórico? a) “Teve um pequeno legado”. b) “Esta é a melhor apólice”. c) “certa audiência, ao menos”. d) “ao cabo, era amigo”. e) “o bastante para divertir”. Os interlocutores do diálogo contido no texto compartilham o pressuposto de que a) cidades são geralmente feias, mas interessantes. b) o empreendedorismo faz de São Paulo uma bonita cidade. c) La Paz é tão feia quanto São Paulo. d) São Paulo é uma cidade feia. e) São Paulo e Bogotá são as cidades mais feias do mundo. 10. (FUVEST 2010) (José Dias) Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo. 11. (Enem 2009) Quanto às variantes linguísticas presentes no texto, a norma padrão da língua portuguesa é rigorosamente obedecida por meio a) do emprego do pronome demonstrativo "esse" em "Por que o senhor publicou esse livro?". b) do emprego do pronome pessoal oblíquo em "Meu filho, um escritor publica um livro para parar de escrevê-lo!". c) do emprego do pronome possessivo "sua" em "Qual foi sua maior motivação?". d) do emprego do vocativo "Meu filho", que confere à fala distanciamento do interlocutor. e) da necessária repetição do conectivo no último quadrinho. ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Considerado o contexto, qual das expressões destacadas foi empregada em sentido 26 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] GABARITO: 01. A 02. D 03. A 04. A 05. a) A interpretação está correta. Esses sentimentos, aparentemente antagônicos, tornam-se complementares no que diz respeito à insatisfação humana, pois a mescla de ambos e sua alternância seriam capazes de dar ao homem o equilíbrio. b) Nossa aversão à multidão será curada pela solidão; pela multidão, nosso tédio à solidão. Para se manter o sentido original, foi empregada a voz passiva. 06. a) Em ambos os casos, as aspas foram utilizadas para indicar o sentido metafórico das expressões, pois Lampião não foi um rei, mas tinha poder e liderava um grupo de cangaceiros, e a palavra "fotógrafo" indica não a profissão, mas alguém que, em dado momento, exerceu uma atividade própria dessa categoria profissional. b) No trecho I, a transformação é do discurso indireto para o direto: (...) um cangaceiro encontrou uma Kodak e entregou ao chefe que perguntou: – A quem ela pertence? No trecho II, passa-se do discurso direto para o indireto: O "rei do cangaço" disse querer (ou "que queria") que o homem tirasse uma foto dele (...) 07. a) De acordo com Millôr, a expressão que tem "significado estabelecido" é "atirar pérolas aos porcos", ou seja, oferecer algo de valor a quem não vai reconhecê-lo; isso, segundo Mateus, é algo absolutamente inútil. Assim, para Millôr Fernandes, pode-se contrariar o que já está posto (estrutura), mas não o que já foi estabelecido (sentido). b) Esses dois trechos reforçam-se mutuamente, pois o segundo ratifica a ideia de ações inutéis. 08. a) Além de utilizar-se do discurso indireto livre em “deixe de preguiça menino!”, o narrador substitui os sinais de pontuação por espaços, o que gera a ideia de fluidez do pensamento. b) “você não quer mesmo almoçar?” 09. D 10. B 11. B 27 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] PARTE 05: CONECTIVOS Também chamados de conjunções. Estabelecem relações entre uma oração e outra, entre um parágrafo e outro etc. Podem constituir-se palavras avulsas ou expressões. A escolha errada desses conectivos pode ocasionar a deturpação do sentido do texto. CONECTIVOS – LISTA I Prioridade, relevância em primeiro lugar, antes de mais nada, antes de tudo, em princípio, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, principalmente, primordialmente, sobretudo, a priori (itálico), a posteriori (itálico). Tempo (freqüência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade) então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, no momento em que, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente agora atualmente, hoje, freqüentemente, constantemente às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, nesse hiato, enquanto, quando, antes que, depois que, logo que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, já, mal, nem bem. Semelhança, comparação, conformidade igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, tanto quanto, como, assim como, como se, bem como. Condição, hipótese se, caso, eventualmente. Adição, continuação além disso, demais, ademais, outrossim, ainda mais, ainda cima, por outro lado, também, e, nem, não só … mas também, não só… como também, não apenas … como também, não só … bem como, com, ou (quando não for excludente). Dúvida talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, não é certo, se é que. Certeza, ênfase decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza. (GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em Prosa Moderna.) 28 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] CONECTIVOS – LISTA II Afetividade: felizmente, ainda bem (que). Afirmação: certamente, com certeza, indubitavelmente, de fato, por certo. Conclusão: em suma, em síntese, em resumo. Consequência: com efeito, assim, consequentemente. Continuidade: além de, ainda por cima, bem como, outrossim, também. Dúvida: talvez, provavelmente, quiçá. Ênfase: até, até mesmo, no mínimo, no máximo, só. Exclusão: apenas, exceto, menos, salvo, só, somente, senão Explicação: a saber, isto é, por exemplo. Inclusão: inclusive, também, mesmo, até. Oposição: pelo contrário, ao contrário. Prioridade: inicialmente, antes de tudo, acima de tudo, em primeiro lugar. Restrição: apenas, só, somente, unicamente. Retificação: aliás, isto é, ou seja. Tempo: antes, depois, já, posteriormente. Adição: e, nem, também, não só… mas também. Alternância: ou…ou, quer…quer, seja…seja. Causa: porque, já que, visto que, graças a, em virtude de, por (+ infinitivo). Conclusão: logo, portanto, pois. Condição: se, caso, desde que, a não ser que, a menos que. Comparação: como, assim como. Consequência: tão…que, tanto…que , de modo que, de sorte que, de forma que, de maneira que. Explicação: pois, porque, porquanto. Finalidade: para que, a fim de que, para (+ infinitivo) Oposição: mas, porém, contudo, entretanto, todavia, mesmo que, apesar de (+ infinitivo) Proporção: à medida que, à proporção que, quanto mais, quanto menos, Tempo: quando, logo que, assim que, toda vez que, enquanto. (VIANA, Antonio Carlos. Roteiro de Redação. Lendo e Argumentando.) 29 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] EXERCÍCIOS sobre CONECTIVOS 01. A oração “Não se verificou, todavia, uma transplantação integral de gosto e de estilo” tem valor: a) conclusivo b) adversativo c) concessivo d) explicativo e) alternativo B) Consequência C) Concessão D) Comparação E) Causa Texto para a questão 06. Moradores de Higienópolis admitiram ao jornal Folha de S. Paulo que a abertura de uma estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. Não é difícil imaginar que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento garantido com a inexistência de transporte público de massa por ali. Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder público não fez a sua parte em desmentir que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana. Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em transporte coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas. Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que circundam estações de metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte público tem em uma determinada cidade. Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do transporte de massa. A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área, não destruí-la. Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, a avenida ficou menos tétrica, quase bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam diversos ônibus sem dar vazão a desembarques, a imagem do 02. “Estudamos, logo deveremos passar nos exames”. A oração em destaque é: a) coordenada explicativa b) coordenada adversativa c) coordenada aditiva d) coordenada conclusiva e) coordenada alternativa 03. No verso, “Tenta chorar e os olhos sente enxutos”, o conectivo oracional indica: a) junção de ideias, logo é conjunção aditiva b) disjunção de ideias, logo é conj. Alternativa c) contraste de ideias, logo é conj. Adversativa d) oposição de ideias, logo é conj. Concessiva e) sequência de ideias, logo é conj. Conclusiva. 05.”Deus não fala comigo, e eu sei que Ele me escuta.” O conectivo “e” pode ser substituído, sem contrariar o sentido, por: a) ou. b) no entanto c) porém d) porquanto e) nem 05. (UFPB 2010) No fragmento “A vida ganhou em qualidade, prorrogando a juventude, sem com isso perder os benefícios da longevidade bem-vinda [...], a oração destacada expressa ideia de: A) Condição 30 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] engarrafamento e da bagunça vira um desastre de relações públicas. Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os “trams” das cidades alemãs e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o Brasil, houve cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados – em formato de livro – e com a iluminação. Restou menos espaço para os carros porque a ideia ali era tentar convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em casa e usarem o transporte público. Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem com um Minhocão*, o Godzilla do centro de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto, detalhamento dos materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. Se forem como os antigos bondes, ótimo. Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam trabalhar na região do Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa circular por São Paulo. (LORES, Raul J. Folha de S. Paulo, 7 out. 2010. Adaptado.) (*) Elevado Presidente Costa e Silva, ou Minhocão, é uma via expressa que liga o Centro à Zona Oeste da cidade de São Paulo. C) A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área (...). D) Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, a avenida ficou menos tétrica (...). E) (...) a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de relações públicas. 07. (PUC-Camp) Perto do alpendre, o cheiro das açucenas-brancas se misturava com o do filho caçula. Então ela sentava no chão, rezava sozinha e chorava, desejando a volta de Omar. Antes de abandonar a casa, Zana via o vulto do pai e do esposo nos pesadelos das últimas noites, depois sentia a presença de ambos no quarto em que haviam dormido. Durante o dia eu a ouvia repetir as palavras do pesadelo, “Eles andam por aqui, meu pai e Halim vieram me visitar... eles estão nesta casa”, e ai de quem duvidasse disso com uma palavra, um gesto, um olhar. (Milton Hatoum. Dois irmãos.) Considerado sempre o contexto, é correto afirmar: (A) O modo de formação do plural notado em açucenas-brancas é o mesmo que ocorre em se tratando da palavra “abaixoassinado”. (B) A oração desenvolvida que corresponde à reduzida desejando a volta de Omar é “a desejar a volta de Omar”. (C) As formas verbais via, sentia e haviam dormido remetem todas a ações ocorridas no mesmo momento do passado. (D) Em eu a ouvia repetir as palavras do pesadelo, a coesão estabelecida explicitamente com a frase anterior é produzida pelos termos a e do pesadelo. (E) O segmento com uma palavra, um gesto, um olhar constitui uma sequência cumulativa, isto é, os três termos se relacionam por adição obrigatória. Em sentido amplo, a relação de causa e efeito nem sempre é estabelecida por conectores (porque, visto que, já que, pois etc). Outros recursos também são usados para atribuir relação de causa e efeito entre dois ou mais segmentos. Isso ocorre nas opções a seguir, EXCETO em A) (...) a abertura de uma estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. B) (...) a escuridão afugenta pessoas à noite (...). 08. (Uece) Indique a opção em que é explicitada, pelo uso do conectivo, a relação que se estabelece entre as duas orações do período seguinte — No meio da 31 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] noite despertei sonhando com minha filha Rita. B) No meio da noite despertei, embora sonhasse com minha filha Rita. C) No meio da noite despertei, quando sonhava com minha filha Rita. D) No meio da noite despertei, portanto sonhava com minha filha Rita. A) No meio da noite despertei, porque sonhava com minha filha Rita. (www.custodio.net) 09. (UCSal) Na frase "Porém meus olhos não perguntam nada." a conjunção em destaque estabelece relação de sentido definida como (A) causa. (B) condicionalidade. (C) adversidade. (D) conclusão. (E) finalidade. GABARITO 1.B 2.D 3.A 4.B 05. C 06. C 07. D 08. C 09. C 32 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] PARTE 06: AMBIGUIDADE Opondo-se à clareza textual, consiste na presença de uma duplicidade de sentidos. Consistindo em vício de linguagem, deve ser evitado. Bastante cobrado em provas dissertativas de Vestibular, em que é solicitado ao candidato uma análise de texto ambíguo. Os principais motivos para a ambiguidade em um texto são: o Uso indevido de pronomes possessivos. A mãe de Pedro entrou com seu carro na garagem. o Colocação inadequada das palavras: Os alunos insatisfeitos reclamaram da nota no trabalho. o Uso de forma indistinta entre o pronome relativo e a conjunção integrante: O aluno disse ao professor que era carioca. o Uso indevido de formas nominais A mãe pegou o filho correndo na rua. 33 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] EXERCÍCIOS sobre AMBIGUIDADE 01. (UNICAMP- SP) PERIGO Árvore ameaça cair em praça do Jardim Independência Um perigo iminente ameaça a segurança dos moradores da rua Tonon Martins, no Jardim Independência. Uma árvore, com cerca de 35 metros de altura, que fica na Praça Conselheiro da Luz, ameaça cair a qualquer momento. Ela foi atingida, no final de novembro do ano passado, por um raio e, desde este dia, apodreceu e morreu, a árvore, de grande porte, é do tipo Cambuí e está muito próxima à rede de iluminação pública e das residências. “O perigo são as crianças que brincam no local”, diz Sérgio Marcatti, presidente da associação do bairro. (Juliana Vieira, Jornal Integração, 16 a 31 de agosto de 1996). a) O que pretendia afirmar o presidente da associação? b) O que afirma, literalmente? c) Na placa abaixo, podemos encontrar o mesmo tipo de ambiguidade que havia na declaração de Sérgio Marcatti. O que tornaria divertida a leitura da placa? Cuidado escola! 02. (UERJ) 34 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] O sentido da charge se constrói a partir da ambiguidade de determinado termo. O termo em questão é: (A) fora (B) agora (C) sistema (D) protestar 03. (Unicamp) Na propaganda do dicionário Aurélio, a expressão “bom pra burro” é polissêmica, e remete a uma representação do dicionário.Explique como o uso da expressão “bom pra burro” produz humor nessa propaganda. 35 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] 04. (Unicamp) Ler adequadamente esta tira significa entender o que está subentendido no enunciado de Stock ("eu também") e perceber que no último quadrinho existe a possibilidade de tal enunciado ser interpretado de duas maneiras diferentes: a) Quais são as duas maneiras possíveis de interpretar o enunciado de Stock no último quadrinho? b) Qual a palavra da fala de Wood que é fundamental para que a última fala de Stock possa ser interpretada de duas maneiras? c) Levando-se em conta os padrões morais de nossa sociedade, qual das duas maneiras de entender a última fala de Stock provoca o riso do leitor? 05. (Unicamp) Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento que o leitor tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que lê. Um bom exemplo é o trecho que segue, no qual há duas ambigüidades, uma decorrente da ordem das palavras e a outra, de uma elipse de sujeito. O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em novembro passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no mesmo bandejão em que era servido aos soldados americanos. (Veja, 09/01/91) a) Quais as interpretações possíveis das construções ambíguas? b) Reescreva o trecho de modo a impedir interpretações inadequadas. c) Que tipo de informação o leitor leva em conta para interpretar adequadamente esse trecho? 36 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] GABARITO 01. a) Nota-se que a pretensão do emissor era alertar para os perigos que corriam as crianças, uma vez que essas brincavam constantemente no local onde se encontrava a árvore – já podre, sem vida, podendo cair a qualquer momento. b) Quando analisada em seu sentido literal, a mensagem nos revela que quem está oferecendo perigo são as próprias crianças: “O perigo são as crianças que brincam no local”. Dessa forma, o redator, por um descuido de sua parte, fez com que seu discurso fosse interpretado de uma outra forma, diferentemente do que ele pretendia estabelecer mediante a interlocução firmada. c) Podemos detectar a mesma ocorrência na placa de advertência, a qual pode ser interpretada da seguinte forma: nesse caso é a escola que deve tomar cuidado, e não as pessoas que dela se aproximam. 02. C 03. A propaganda causa humor, pois expressa que o dicionário Aurélio é direcionado a pessoas "burras", bem como indica que a expressão "bom pra burro" pode se relacionar a algo muito bom. 04. a) Uma interpretação possível é a de que Stock também fazia sexo com alguma mulher. E a outra maneira de se interpretar é a de que ele fazia sexo com Bete Speed, noiva de seu amigo Wood. b) A palavra "minha", porque é um pronome possessivo, que indica "propriedade". c) A maneira que mais causa riso no leitor é a de que Stock teria feito sexo com a noiva de Wood, já que os dois personagens da tirinha aparentam ser grandes amigos. 05. a) Na frase "onde comeu peru fantasiado de marine", há três interpretações possíveis. A primeira é a de que "peru fantasiado de marine" pode ser o nome do prato comido pelo presidente. A segunda é que o presidente comeu um peru que estava fantasiado de marine ou então, uma terceira interpretação é a de que o presidente comeu um peru, e quem estava fantasiado de marine era o presidente. Já na frase "(...) no mesmo bandejão em que era servido aos soldados americanos", não se sabe se o que foi servido aos soldados foi o peru ou o presidente. b) "(...) onde fantasiado de marine comeu peru, no mesmo bandejão em que a ave era servida aos soldados americanos. c) Para uma interpretação adequada o leitor deve considerar o contexto em que o trecho está inserido, levando em conta o fato em si e considerando a impossibilidade de um peru fantasiado de marine, bem como a de um presidente ser servido de alimento a soldados. Apesar da ambiguidade causada pela falha na transmissão da notícia, trata-se de um fato de cunho militar, tornando descabidas as interpretações citadas acima. 37 Material preparado pelo professor Carlos Daniel S. Vieira [email protected] REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CEREJA, W; COCHAR, T. e CLETO, C. Interpretação de textos. Construindo competências e habilidades em leitura. São Paulo: Atual, 2012. CEREJA, W. e MAGALHÃES, T. Português. Linguagens. Volume 1. 8 ed. Reformada. São Paulo: Atual, 2012. FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar Gramática. São Paulo: FTD, 2011. FIORIN, José Luiz (org). Introdução à Linguística. I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2005. GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em Prosa Moderna. – Nova Ortografia. São Paulo: FGV, 2010. SARMENTO, Leila Lauar. Gramática em textos. São Paulo: Moderna, 2012. VIANA, Antonio Carlos. Roteiro de Redação. Lendo e Argumentando. São Paulo: Scipione, 2012. 38