Editorial Amigos (as) Associados (as) Apresentamos mais um “Boletim Técnico ATT”, que sem fugir a regra, foi preparado especialmente para você que deseja se manter atualizado sobre os principais fatos e acontecimentos da aviação. A começar pelo artigo sobre geração da sustentação. O texto do professor e engenheiro Newton Soler Saintive, especialista no setor desde 1958, faz uma relação entre as teorias de Newton e Bernoulli. Afinal, o que de fato pode estar certo ou errado nestes estudos? Falamos também sobre as experiências adquiridas em nossas vidas e que quase sempre se misturam entre quedas, angústias e ferimentos. Isto deixa clara a necessidade de se aprender a lidar com a dor e sobretudo acreditar que tudo dará certo. Sobre isto a coordenadora de treinamento da área de fator humano da TAM, Daniela Gonçalves nos fala da importância da resiliência. Trazemos ainda detalhes da comemoração dos 40 anos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. E aproveitamos a ocasião para mostrar um pouco da história e da importância da atuação desta instituição no setor aeronáutico. Bem, todos estes e muitos outros assuntos você confere nesta última edição de 2011 do Boletim Técnico. E assim, terminamos mais um ano deixando a você os votos sinceros de um feliz Natal e um 2012 repleto de saúde e realizações! Uma boa leitura! E até 2012! Cmte. Eros Diretor Técnico Segurança de Voo Expediente Conselho Editorial Presidente: Cmte. Augusto Lobato Vice-presidente: Cmte. Milhomens Diretor Técnico Segurança de Voo: Cmte. Eros Amauri Fonseca Redação Editora: Fernanda Francisco Carranque Jornalista responsável: Marcel Naves Mtb 27102 Produção: Anderson Luiz A. de Souza e Verginia Pereira Repizo Índice 02. 04. 06. 08. 11. 16. Evento IV Seminário de Gestão e Segurança do Transporte Aéreo CENIPA Evento marca os 40 anos do Cenipa Meteorologia A Tropopausa e a Aviação Capa Bernoulli 1 x Newton 1 Segurança de Voo O entendimento e a importância da Consciência Situacional na Operação de Aeronaves CRM Ative a Resiliência que tem dentro de você! Diagramação e editoração gráfica: Sidnei da Cunha DRT/SP 46219.12879/05-56. Sede da Associação dos Tripulantes da TAM: Rua Baronesa de Bela Vista, 384 Vila Congonhas - São Paulo - SP CEP: 04612-001 - Tel.: (11) 5533-8150 [email protected] - www.att.org.br Os artigos e matérias publicadas no Boletim Técnico são de responsabilidade exclusiva dos(as) autores(as). Seu conteúdo não expressa necessariamente a opinião da Associação dos Tripulantes da TAM. Dezembro 2011 Boletim Técnico 1 reprodução Evento IV Seminário de Gestão e Segurança do Transporte Aéreo Tendo como objetivo o debate de questões relacionadas à Gestão e Segurança na Aviação Civil e no Sistema Aeroportuário, foi realizado em Florianópolis, SC entre os dias 22 e 23 de outubro de 2011, o IV SEMINÁRIO DE GESTÃO E SEGURANÇA NO TRANSPORTE AÉREO. A iniciativa foi da Aero TD – Escola de Aviação Civil, que há quinze anos atua na formação de pilotos, comissários e técnicos em manutenção aeronáutica. O SEMINÁRIO centrou-se em dois grandes focos temáticos: 1) Infraestrutura, logística e segurança do transporte aéreo em grandes eventos; 2) Gestão de pessoas: perfil e capacitação de RH para o transporte aéreo. O evento teve como público principal, estudantes, professores além de profissionais das áreas de gestão e segurança de empresas aéreas entre interessados. A programação foi extensa e de alta significância para o debate dos temas propostos, tendo sido desenvolvida em forma de palestras e painéis de debates. Como palestrantes relacionados ao foco temático: Infraestrutura, Logística e Segurança do Transporte Aéreo em Grandes Eventos, o seminário contou com a presença do Sr. Daniel Baeta Campos, Especialista em Regulação da Aviação Civil da ANAC, Sr. Marçal Rodrigues Goulart, Superintendente de Gestão Operacional da INFRAERO e do Tenente Fernando Frassão, Especialista Aeronáutico em Controle de Tráfego Aéreo do DTCEA/FLN. Para completar as discussões sobre este foco temático, foi realizado um Painel de Debates com o tema Gerenciamento de Segurança Operacional, coordenado pela Profª Lourdes Alves, Doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Na ocasião o Cmte. José Carlos Reitembach, representante da GOL Linhas Aéreas, Cmte. Luiz Augusto Dal Pian, representante da Associação de Tripulantes da TAM / através do facebook, por internautas localizados em Florianópolis-SC, São Paulo-SP, Porto Alegre-RS, Rio de Janeiro-RJ e Joinville-SC. Tal iniciativa foi uma grande oportunidade para que representantes das organizações públicas e empresas do setor de Aviação Civil participassem de uma ampla discussão sobre as necessidades básicas para a obtenção de uma maior qualidade nos serviços da área aeroportuária, para os grandes eventos a serem realizados no Brasil nos próximos cinco anos. Segundo informações colhidas junto ao diretor da Aero TD, Sr. Juan Henrique Pereira Ibañez, pode-se esperar para outubro de 2012 mais um evento com o mesmo foco e qualidade, com palestras, painéis de debates e disseminações de informações voltadas a temas de interesses do mercado da Aviação Civil brasileira e internacional. Parabéns a Aero TD, promotora e organizadora deste seminário, assim como às autoridades e aos participantes das palestras e dos painéis de debates. Eventos agregadores como este sempre serão bem vindos. A Segurança Operacional e a Comunidade Aeronáutica agradecem! Colaborou Cmte. Dal Pian – TAM / ATT. Participante do Painel de Debates no tema: “Gerenciamento da Segurança Operacional” Palestrantes e Painelistas do Foco Temático: Gestão de Pessoas - Perfil e Capacitação de RH para o Transporte Aéreo Fotos: arquivo Palestrantes e Painelistas do Foco Temático: Infraestrutura, Logística e Segurança do Transporte Aéreo em Grandes Eventos ATT e o Cmte. Jefferson Antunes Thó, Ex-Instrutor em Simuladores TAM/CAE das aeronaves F100 e A320, integraram as discussões. O segundo dia do evento contou com excelentes contribuições sobre o foco temático, Gestão de Pessoas: Perfil e Capacitação de RH para o Transporte Aéreo, abordando temas como Gestão de Pessoas por Competências e Gestão por Resultados. Foram palestrantes deste tema os seguintes professores universitários: Dr. João Ferreira da Luz, Docente da Fundação Getúlio Vargas; e o Dr. Espiridião Amin Hellou Filho, ex-governador do Estado de Santa Catarina, atual Deputado Federal pelo PP/SC e docente da UDESC e UFSC. Para finalizar as reflexões sobre este foco temático foi desenvolvido um Painel de Debates, sob o tema Perfil e Capacitação do Profissional da Aviação Civil, também coordenado pela Profª Lourdes Alves e que contou com a presença dos seguintes participantes: Sr. Alexandre Pupe, Gerente de Comissários da AZUL Linhas Aéreas, Sr. André Brigoni, responsável pelo Treinamento de Tripulação de Cabine da TAM Linhas Aéreas, Prof. Dr. João Ferreira da Luz, Docente da Fundação Getúlio Vargas e Sra. Fabiana Quadros, Chefe do Grupo de Comissários da WEBJET Linhas Aéreas. O seminário, que contou com a presença física de 200 pessoas, também obteve 1057 acessos virtuais Fernando Frassão, Controle de Aproximação e da Torre de Controle Florianópolis – APP/TWR-FL Marçal Rodrigues Goulart, Superintendência de Gestão Operacional – DOGP Daniel Baeta Campos, Regulação da Aviação Civil da ANAC Esperidião Amin Helou Filho, Deputado Federal - PP/SC Alexandre Pupe, Gerente de Comissários da AZUL Linhas Aéreas André Brigoni, responsável pelo Treinamento de Tripulação de Cabine da TAM Linhas Aéreas Fabiola Quadros, Chefe do Grupo de Comissários da WEBJET Linhas Aéreas João Ferreira da Luz, Professor da Fundação Getúlio Vargas Cmte. José Carlos Reitembach, representante da GOL Linhas Aéreas 2 Boletim Técnico Cmte. Luiz Augusto Dal Pian, TAM / ATT Dezembro 2011 Cmte. Jeferson Antunes Thó, Ex-Instrutor em Simuladores TAM/ CAE das aeronaves F100 e A320 Dezembro 2011 Boletim Técnico 3 Evento marca os 40 anos do Cenipa A criação da instituição representou o surgimento de uma nova filosofia a ser difundida no país Comissário Felipe Woyceichoski, Comandante Calçada e Comandante Harley, Flight Safety da TAM 4 Boletim Técnico Dezembro 2011 O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) foi criado em 1971, por meio do Decreto nº 69.565, como órgão central do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER). A criação do CENIPA representou o surgimento de uma nova filosofia a ser difundida no país: a palavra inquérito foi substituída e as investigações passaram a ser realizadas com o único objetivo de promover a “prevenção de acidentes aeronáuticos”, em concordância com normas internacionais. Em 1982, é criado o Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CNPAA), em cuja Sessão Plenária, sob a direção e coordenação do CENIPA, reúnem-se os representantes de entidades nacionais e estrangeiras, públicas e privadas, direta ou indiretamente ligadas às atividades aeronáuticas. Participam, ainda, organizações civis representativas de classes, como sindicatos. O conhecimento adquirido com organizações de segurança operacional de outros países, aliado à experiência acumulada ao longo dos anos, resultou no aperfeiçoamento da doutrina de segurança operacional no Brasil e no estabelecimento das bases de pesquisa nesse campo: o trinômio “o Homem, o Meio e a Máquina”, pilar da moderna filosofia SIPAER. Assim, as investigações de acidente aeronáutico são concentradas nos aspectos básicos, identificados e relacionados com a atividade aeronáutica, agrupados nos fatores Humano, Material e Operacional. O Fator Humano compreende o homem sob o ponto de vista biológico em seus aspectos fisiológicos e psicológicos. O Fator Material engloba a aeronave e o complexo de engenharia aeronáutica. O Fator Operacional compreende os aspectos que envolvem o homem no exercício da atividade, incluindo os fenômenos naturais e a infraestrutura. Para realizar sua missão, o CENIPA desenvolve anualmente atividades educacionais, operacionais e regulamentares. Além disso, como órgão central do SIPAER, tem como atribuições a supervisão, o planejamento, o controle e a coordenação de atividades de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos. Essas ações são realizadas num universo que envolve as três Forças Armadas (Marinha, Exército e Força Aérea Brasileira), Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO), empresas aéreas, entre outros representantes. Fonte: http://www.cenipa.aer.mil.br Foto: arquivo Durante a solenidade o atual chefe do Cenipa, Brigadeiro do Ar, Carlos Alberto da Conceição, em poucas palavras transmitiu o que a instituição representa para aviação e o Brasil. O oficial fez uma referência a revista comemorativa das quatro décadas da instituição. “Esta publicação só falhou num ponto: ela não foi capaz de informar quantas vidas o CENIPA já salvou. Mas isso não é problema, afinal, também não há estatísticas que consigam computar as consciências tranquilas, de todos que se doaram ao SIPAER, ao CENIPA e a Segurança de voo”. Afirmou o Brigadeiro Carlos Alberto da Conceição. Brigadeiro do Ar, Carlos A. da Conceição Foto: arquivo A solenidade de comemoração de aniversário dos 40 anos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) ocorreu em Brasília, no último dia 18 de Novembro. A cerimônia realizada no auditório da instituição teve a participação de inúmeras autoridades além de representantes de companhias aéreas. Os comandantes Harley, diretor de segurança operacional da TAM, e Calçada, que também integra a diretoria da empresa compareceram ao evento. Na ocasião o Cmte. Calçada foi um dos agraciados com o Mérito SIPAER, na categoria Ouro. A homenagem criada em 19 de novembro de 2008, tem por objetivo destacar o desempenho do profissional oficial de segurança de voo (OSV) e agente de segurança de voo (ASV), no âmbito do SIPAER. A honraria se divide em quatro categorias: 10 anos bronze, 20 anos prata, 30 anos ouro, e 40 anos platina. Fotos: www.cenipa.aer.mil.br Segurança de Voo CENIPA Comissário Felipe Woyceichoski, Vice Chefe do Cenipa, CeL-AV. Lupoli e Comandante Harley Entrada principal e fachada do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, Brasília/DF Dezembro 2011 Boletim Técnico 5 A TROPOPAUSA e a AVIAÇÃO A atmosfera terrestre é dividida em várias camadas, sendo a mais baixa a troposfera e a mais alta exosfera, ambas variam conforme a temperatura se altera com a altitude. Para a aviação as camadas mais importantes são a troposfera e a estratosfera. A primeira é a qual vivemos e onde a grande maioria das aeronaves voam. A segunda é aquela em que os aviões supersônicos atingem seus mais altos níveis. Entre as duas camadas há uma estreita faixa chamada de Tropopausa isotérmica, de 3 a 5 km de espessura, com temperatura média de –56,5 ºC, a qual mostraremos sua importância para a aviação. Antes é importante salientar que é a troposfera, que concentra quase 90% de todo o ar da atmosfera, se inicia no solo e segue até uma altura que pode variar de 7 km nos pólos até pouco mais de 20 km no equador. Acima da troposfera encontra-se a estratosfera, que vai da tropopausa até aproximadamente 50 km de altura. Nela está contida a ozonosfera, faixa essencial para os seres vivos por absorver grande parte da radiação ultravioleta do sol. O que diferencia a troposfera da estratosfera é o modo como a temperatura varia com a altitude. Na troposfera o ar é quente na superfície e vai ficando cada 6 Boletim Técnico Dezembro 2011 vez mais frio com a altitude, caindo de 5°C a 7°C para cada quilômetro. O ponto mais frio da troposfera é a tropopausa. A partir daí, na estratosfera, a temperatura aumenta com a altitude, se constituindo em uma camada de inversão térmica. Estes perfis de temperatura são responsáveis pelo modo como o ar flui nestas duas camadas. A troposfera é bastante instável, sujeita a processos convectivos (correntes de ar ascendentes), devido ao aquecimento na superfície e onde se produz os fenômenos atmosféricos como nuvens, precipitações, ventos, furacões e tornados. A estratosfera é muito estável, praticamente sem processos convectivos ou qualquer dos fenômenos violentos que se observam na troposfera. Já a altura da tropopausa varia conforme a latitude, a temperatura, posicionamento das correntes de jato (Jet Stream) e as condições da troposfera. Nos polos, por exemplo, as temperaturas são de aproximadamente - 40ºC, na latitude de 45º de cerca de - 55ºC e na faixa do Equador variam de - 80ºC a - 90ºC. Quando a troposfera está agitada e com muita convecção, a tropopausa fica mais alta. A troposfera se expande e empurra a estratosfera para cima. Quando a tropopausa sobe fica mais fria. Nos trópicos, devido às altas temperaturas no solo, o que provoca muita convecção, a tropopausa tende a ser muito alta e a sua temperatura muito baixa. Estudos recentes têm demonstrado que a tropopausa está mais alta, devido ao aquecimento do planeta. Nas duas últimas décadas observou-se uma elevação de cerca de 200 metros, e este fato ajuda a explicar porque as nuvens de trovoadas (cumulonimbus) estão mais altas hoje do que antigamente. Mas e para a aviação, qual é a importância em se conhecer a tropopausa? É sabido que as temperaturas e os ventos variam abruptamente nas proximidades da tropopausa o que acaba afetando a eficiência, o conforto e a segurança do voo. Esses fortes ventos criam uma zona de cisalhamento (mudança brusca na direção e velocidade do vento), que podem gerar turbulência. A turbulência tem uma intensidade geralmente moderada e pode ser encontrada tanto na base quanto no próprio nível da tropopausa. Uma dica para se identificar a altura da tropopausa é observar as nuvens cumulonimbus incus, aquelas com o formato de bigorna bem definido. A bigorna surge quando a nuvem atinge a estabilidade da tropopausa, quando ela não consegue mais crescer verticalmente, então se espalha para a horizontal. Mas . .. em alguns casos as correntes no interior da nuvem são tão fortes que penetram na tropopausa criando um domo de nuvem. As correntes ascendentes também podem formar uma fina camada de nuvem acima do cumulonimbus chamada pileus, que lembra muito uma nuvem lenticular. A presença da pileus é uma evidência de fortes correntes de ar ascendentes. reprodução Foto: Image Science & Analysis Laboratory, NASA Johnson Space Center Meteorologia Figura 2: Cumulonimbus incus onde se observa a estratificação da parte superior da nuvem e o domo rompendo a tropopausa. Fonte:http://dopodomani.me/look-up-in-the-clouds-day/ Outra dica prática para se identificar a tropopausa associada à corrente de jato e evitar áreas de turbulência foi extraída da circular AC 00-6A (Advisory Circular) - Aviation Weather For Pilots and Flight Operations Personnel, da Federal Aviation Administration (FAA), que estabelece que se o piloto identificar: aumento da temperatura externa , ele deverá SUBIR (colocará a aeronave na estratosfera acima da Corrente de Jato), . . diminuição da temperatura externa - DESCER (colocará a aeronave abaixo da Corrente de Jato). Fica aí mais um bom motivo para se consultar as Cartas de Tempo Significativo (SIGWX) de níveis altos (FL250/FL630). Os pilotos que voem em altitudes elevadas podem localizar as alturas das tropopausas e evitar as turbulências! Edson Cabral - Professor de Metorologia Aeronáutica da Universidade Anhembi Morumbi. Marcelo Romão - Especialista em Meteorologia Aeronáutica pelo ICEA-CTA, e é EC-PREV Sipaer, trabalhando no CPTEC-INPE, S.J.Campos, SP desde 2001. IMPORTÂNCIA DA TROPOPAUSA É considerada a região limite de ocorrência de fenômenos meteorológicos. Exceto pelo topo de CBS intensos, capazes de perfurar a troposfera, todos os outros fenômenos tendem a cessar quando atingem este nível. Figura 1 – Esquema de estrutura vertical da atmosfera A figura 1 mostra como varia em média a temperatura (em Kelvin) de acordo com cada camada atmosférica. Os ventos máximos geralmente ocorrem nos níveis próximos à tropopausa. As turbulências também ocorrem próximas às tropopausas. Dezembro 2011 Boletim Técnico 7 Capa Bernoulli 1 x Newton 1 Incorrect Theory 2 “Skipping Stone” Theory reprodução (www.grc.nasa.gov/WWW/K-12/airplane/wrong2.html) Incorrect Theory 1 Teoria da maior distância (www.grc.nasa.gov/WWW/K-12/airplane/wrong1.html) 8 Boletim Técnico Dezembro 2011 Segundo esta teoria incorreta, o extradorso do aerofólio tem maior curvatura que o intradorso e, portanto, as moléculas de ar que percorrem o extradorso têm velocidade maior que as que percorrem o intradorso, pois elas se encontram nos bordos de ataque e de fuga. De acordo com Bernoulli, maior velocidade no extradorso produz menor pressão. A diferença de pressão produz a Sustentação. Esta teoria tem três “furos”. O primeiro é que ela não explica como produzem sustentação os perfis simétricos e os perfis cujos intradorsos são mais curvos que os extradorsos, como os perfis supercríticos. O segundo é que a relação entre as velocidades no extradorso e no intradorso é muito superior à relação entre os comprimentos do extradorso e do intradorso. O terceiro é que ela não considera o efeito do ângulo de ataque. O site acima, usando um simulador Java, mostra que se duas moléculas de ar partem juntas do bordo de ataque, uma passando pelo extradorso e outra pelo intradorso, a molécula do extradorso chegará no bordo de fuga muito antes daquela no intradorso. Se esta teoria fosse correta, um Cessna 172, cujo extradorso é cerca de 1,5% mais comprido que o intradorso, teria que voar a 400 mph para equilibrar seu peso de 1045 kgf, e mais ainda se fizesse uma curva. Nessa teoria, as velocidades são obtidas por conceitos não físicos. Se elas forem calculadas corretamente, a sustentação pode ser obtida com o emprego de Bernoulli. A sustentação é produzida pela reação dos filetes de ar que atingem o intradorso do aerofólio. Segundo esta teoria, a sustentação é o resultado de uma ação-reação dos filetes de ar atingindo o intradorso do aerofólio. Ela considera que só o intradorso deflete o ar e, portanto, só ele produz sustentação. No endereço do site acima é possível ver, com o emprego de um Simulador Java, que o extradorso também deflete os filetes de ar. Se esta teoria estivesse certa, aerofólios com o mesmo intradorso e extradorso diferentes produziriam a mesma sustentação, o que está evidentemente errado. Para entender a participação do extradorso, é preciso conhecer o “Efeito Coanda” que diz respeito à deflexão de fluidos em contato com um sólido. Pegue uma colher e coloque-a em contato com a água de uma torneira, como a figura abaixo. Você verá que a água se desviou da trajetória vertical, contornando a colher. reprodução A geração da sustentação já foi tratada pelo meu saudoso colega Fernando Almeida, que publicou os excelentes artigos: Newton1 x Bernoulli 0 e Newton 2 x Bernoulli 1 (Revista Aero Magazine /ed. 89), comparando as teorias baseadas em Newton e Bernoulli. Como ele faleceu antes de publicar o artigo que prometera para esclarecer dúvidas dos leitores, atrevo-me a voltar ao assunto. O relatório da NASA “Bernoulli and Newton” (http:/ /www.grc.nasa.gov/WWW/K-12/airplane/bernnew.html) conclui que a geração da sustentação tanto pode ser corretamente baseada na equação de Bernoulli quanto na 3ª lei de Newton (lei de ação e da reação). Informa ainda que existem teorias incorretas que se apóiam erroneamente nesses princípios (equação de Bernoulli e 3ª lei de Newton. Ele cita como exemplo 3 teorias, apresentadas a seguir : Ora, se a colher modificou a direção da água, exerceu uma força sobre ela (ação), e a água, como reação, exerceu uma força de mesma intensidade, mesma direção e sentido contrário sobre a colher (3ª lei de Newton). O mesmo ocorre com os filetes de ar que passam no extradorso e no intradorso do aerofólio, o que mostra o erro dessa teoria ao não considerar o efeito do extradorso, que é maior que o do intradorso. A tendência do fluido contornar um sólido é devido à viscosidade. Quando um fluido em movimento entra em contato com um sólido, parte fica preso ao sólido. À medida que se afasta do sólido, a velocidade do fluido aumenta até atingir a velocidade do fluido não influenciada pelo sólido. Os filetes influenciados pelo sólido formam a camada limite. A diferença de velocidade entre as diversos filetes produz forças de cisalhamento que fazem com que os filetes sejam defletidos na direção dos filetes de menor velocidade, fazendo com que os eles sigam a direção do sólido. Incorrect theory 3 (www.grc.nasa.gov/WWW/K-12/airplane/wrong3.html) TEORIA DE VENTURI A parte superior do aerofólio age como um Venturi acelerando os filetes. A Incorrect theory #3 é a teoria do Venturi. Considera que o extradorso de um aerofólio atua como um tubo de Venturi, aumentando a velocidade dos filetes de ar e, de acordo com a equação de Bernoulli, reduzindo a pressão. A diferença de pressão entre o extradorso e o intradorso produz a sustentação. Esta teoria também está errada. Primeiramente, a asa não é um Venturi, de modo que o aumento da velocidade no aerofólio é bem inferior à que seria obtida com um Venturi. Ela também não prevê a sustentação gerada por uma placa plana. Finalmente, se ela fosse correta, a sustentação dependeria somente do extradorso, isto é, aerofólios com o mesmo extradorso e intradorsos diferentes produziriam a mesma sustentação, o que está obviamente errado. Dezembro 2011 Boletim Técnico 9 Segurança de Voo reprodução Capa Capa 1. “A deflexão do ar pela asa, justificando o efeito de ação e reação se limita à massa de ar que impacta o intradorso, e isso contribui com menos que 10% da sustentação” F.A -. Como foi visto, o efeito Coanda mostra que o extradorso também produz deflexão dos filetes, e é responsável pela maior parcela da sustentação. . “A asa, em sua passagem, não cria um fluxo descendente de ar (downdraft) F.A - Sempre que a asa produzir sustentação provocará uma deflexão nos filetes de ar. Se ela não produzir um fluxo descendente de ar não produzirá sustentação. Seria o caso de uma subida ou descida vertical, por exemplo. 5. Voo de dorso Do desenho baseado em acrobacias da Esquadrilha da Fumaça, pode-se ver que o avião de dorso tem ângulo de ataque muito maior que o do avião na posição normal, o que aumenta a velocidade dos filetes no intradorso, reduzindo, pois sua pressão em relação aos filetes no extradorso. A diferença de pressão produzirá uma sustentação igual ao peso, mantendo o voo reto horizontal, da mesma forma que o avião na posição normal. reprodução Vejamos alguns conceitos equivocados contestando a descrição da geração de sustentação baseada na 3ª lei de Newton. As dúvidas foram apresentadas por apreciadores do tema e respondidas pelo eng. Fernando Almeida. 2. 3. “Em voo reto nivelado, sem o impacto de ar no intradorso, a lei de Newton não tem efeito”. F.A- Em qualquer voo, nivelado ou não, o efeito Coanda explica a geração da sustentação com aplicação quer da lei de Newton, quer da equação de Bernoulli. Analisemos agora a geração da sustentação, sob a ótica de Bernoulli, de um perfil simétrico e de um vôo de dorso. Para que um aerofólio produza sustentação é necessário que os filetes do extradorso e do intradorso tenham velocidades diferentes, que provocarão pressões diferentes e, portanto, sustentação. Normal Dorso 4. Aerofólios simétricos: com ângulo de ataque nulo, as velocidades e pressões no extradorso e no intradorso são iguais , portanto a sustentação é nula. No entanto, com ângulo de ataque positivo, a simetria do escoamento desaparecerá, haverá aumento na distância percorrida pelos filetes no extradorso, produzindo aumento de velocidade e redução de pressão, como se vê nas figuras abaixo. Com ângulo de ataque negativo, a sustentação será negativa. Conclusão: como foi mostrado no artigo “Bernoulli and Newton” da NASA, as duas teorias da geração da sustentação estão corretas. Sempre que uma asa ou um corpo qualquer produzir sustentação, ela poderá ser corretamente descrita pela 3ª lei de Newton (a asa deflete os filetes de ar para baixo, e estes, como reação, empurram a asa para cima, da mesma forma que a hélice produz tração) ou pela equação de Bernoulli: se a asa está produzindo sustentação, os filetes do extradorso têm maiores velocidades e menores pressões que os filetes do intradorso. A diferença de pressão produz a sustentação. Newton Soler Saintive Egenheiro de Performance (ITA), professor e escritor E mail: [email protected] 10 Boletim Técnico Dezembro 2011 O entendimento e a importância da Consciência Situacional na Operação de Aeronaves Em todos os continentes e em diferentes culturas, nos modelos de negócios denominados “sistemas complexos de alta tecnologia”, quando analisados eventos indesejáveis ou mesmo catastróficos, a chamada “falta de consciência situacional”, tem sido identificada como um dos fatores contribuintes mais recorrentes na quebra da segurança operacional em atividades envolvendo indivíduos, quando interagindo dentro de processos complexos. A operação de aeronaves, pelas inúmeras variáveis a que se submete, permitindo o envolvimento de pessoas, operando equipamentos sofisticados em meios meteorológicos adversos, encontra-se inserida em tal sistema complexo de alta tecnologia. Neste sentido, a atividade aérea, invariavelmente cercada de dificuldades, ameaças e principalmente pelas responsabilidades inerentes às tarefas exercidas, vem requerendo dos envolvidos conhecimentos cada vez mais abrangentes, tanto técnicos quanto gerenciais, além de cuidados redobrados na execução de tais tarefas, das mais simples às mais complexas. Como uma das consequências positivas da evolução dos sistemas de tecnologia avançada a bordo das aeronaves, podemos citar o projeto de mecanismos redundantes de proteções contra falhas, pois na medida em que as operações do transporte aéreo se mostram Dezembro 2011 Boletim Técnico 11 pontualmente na mensuração pura e simples de quanto mais confiáveis, conseqüentemente os pilotos de consciência situacional as mesmas tripulações vão se tornando menos expostos a falhas, que deteriam em determinado momento, quando no potencialmente poderiam diminuir sua consciência exercício de suas atividades diárias”. situacional. Ainda segundo dados da mesma fonte, em Em contrapartida, com a crescente evolução dos relação a assuntos pertinentes à contratação e mesmos sistemas de tecnologia avançada, notam-se, treinamento de pilotos, assim como à interação dos como consequências negativas, a ingerência e o mesmos com suas cabines de pilotagem, a distanciamento progressivo dos mesmos pilotos, comunidade de profissionais da psicologia da aviação quando na condução daquelas operações antes tem considerado a necessidade de desenvolver e executadas por eles manualmente. implantar medidas mitigadoras, no sentido de aumentar A definição do termo “consciência situacional” a habilidade dos envolvidos para a tomada de decisões, não vem a ser uma tarefa fácil, pois tem significados desenvolvendo novos modelos de interação dos pilotos distintos para diferentes pessoas, atuando em com suas cabines de pilotagem, no sentido de facilitar a diferentes modelos. Entretanto, para cada modelo consciência situacional, com ênfase na disponibilização proposto, pode-se buscar uma definição mais cada vez maior de informações, sem sobrecarregar os adequada que consiga atingir determinadas metas, sistemas de percepção visual, nem tampouco as visando a contemplação de cada caso específico. atividades cognitivas na execução das tarefas. Para o caso da operação de aeronaves por pilotos Para um correto entendimento de como a dentro de um “cockpit”, também se encontram consciência situacional de determinados pilotos seria disponíveis inúmeras definições para o termo gerada, defendem que deveriam ser levados em conta consciência situacional, mas a eleita pelo projeto ESSAI os comportamentos dos mesmos quando no curso (“Enhanced Safety through Situation Awareness da aquisição de informações, assim como quais seriam Integration in training”) – patrocinado pela “European as fontes disponíveis para o processamento de tais Community” – como a mais adequada para o informações que orientariam suas decisões. Também treinamento de pilotos, vem a ser a estabelecida por no decorrer do processo da tomada de decisões, julgam Mica Endsley, doutora em “Philosophy in Industrial and ser necessário perceber quais recursos deveriam ser Systems Engineering” pela Universidade da Califórnia ou não identificados, para um melhor processamento (EUA): “consciência situacional é a percepção dos da consciência situacional. elementos de determinado meio, dentro do contexto Contudo, não se pode de tempo e espaço, da deixar de considerar um fator compreensão de seus importante a que todos nós como significados e da projeção da “A pressão temporal trabalhadores do mercado da condição em um futuro próximo”. Segundo artigo “Objectives ...normalmente se mostra aviação, desde os mais subalternos aos mais relevantes, for a Training Concept to Enhance um complicador estamos invariavelmente sendo Situation Awareness and Threat no processo em submetidos nos dias de hoje, Management Techniques”, apresentado na Conferencia de questão... prejudicando denominado pressão temporal. A “pressão temporal”, definida Varsóvia / Polônia, de 16 a 20 de a consciência como “o tempo disponível para o setembro de 2002, especialistas situacional, a tomada operador tomar decisão e agir tem se perguntado: “por que sobre o sistema”, normalmente se alguns se saem melhor e outros de decisão e a mostra um complicador no não” e “seriam habilidades inatas profundidade da processo em questão, sendo “um de certas tripulações, ou existiriam elemento fundamental na outras maneiras em que tais compreensão do percepção da carga de trabalho e habilidades poderiam ser problema...” estresse do indivíduo, desenvolvidas pelos pilotos, desde prejudicando a consciência que se submetessem a situacional, a tomada de decisão e a profundidade da treinamentos mais apropriados?”. Fazem também compreensão do problema, assim como o engajamento questionamentos acerca de “como determinadas do operador para obter uma escolha eficaz”. (Ref. tripulações de um modo geral, quando na utilização de Henriqson, E.; Carim Júnior, G. C.; Saurin, T. A.; Amaral, melhores processos e procedimentos, conseguem obter F. G. Consciência Situacional, Tomada de Decisão e como resultado final uma melhoria na consciência Modos de Controle Cognitivo em Ambientes Complexos. situacional, e sob quais recursos e condições de trabalho Produção, v. 19, n. 3, p. 433-444, 2009). as mesmas poderiam obter avanços, ao invés de focar 12 Boletim Técnico Dezembro 2011 reprodução Segurança de Voo dos elementos de determinado meio, dentro do Outro fator desagregador da consciência contexto de tempo e espaço”. situacional a ser considerado, é a fadiga humana. 2) NÍVEL 2 = “nível da compreensão”, quando Segundo dados do “Seminário Internacional sobre na continuidade, refere-se o texto à: “compreensão de Fadiga na Aviação”, realizado de 26 a 29 de abril de seus significados”. 2011 na cidade do Rio de Janeiro, 3) NÍVEL 3 = “nível da a ANAC (Agencia Nacional de projeção futura”, quando Aviação Civil), em sua “Minuta de “...a consciência finalmente a definição se refere Emenda ao RBAC – 121” situacional é encontrada à: “projeção da condição em um (Regulamento Brasileiro da Aviação Civil – 121), define o termo quando o piloto entende futuro próximo”. Tal modelo sugere que a “fadiga” como: “um estado completamente sua avaliação de uma determinada fisiológico de redução da situação começa a partir do capacidade de desempenho situação atual e usa tal estabelecimento de um objetivo, mental ou físico resultante da falta informação para uma sendo fundamental para o piloto, de sono, vigília estendida e/ou projeção futura a compreensão da importância, atividade física, e que pode do dinamismo e dos atributos dos prejudicar o estado de alerta e a ...podendo tomar elementos relevantes por ele habilidade de operar com segurança uma aeronave ou decisões mais assertivas captados. Nesta etapa do processo (NÍVEL 1), a desempenhar tarefas relativas à para os fatos consciência situacional seria segurança”.. apresentados...” baseada na percepção de Agora, voltando-se à diferentes elementos percebidos definição de “consciência ou captados no “cockpit”. Parte da premissa situacional”, nota-se a mesma ser fruto da combinação fundamental de que há a necessidade de de três níveis seqüenciais, denominados de “os três conhecimentos anteriores e dados básicos a serem níveis da consciência situacional”, abordadas por Don percebidos, pois se não existirem dados básicos nem Harris (“Human Performance on the Flight Deck” – conhecimentos pregressos, não existirá Ashgate, 2011), da seguinte forma: conseqüentemente a condição de se identificar coisa 1) NÍVEL 1 = “nível da percepção” , quando se alguma parecida com o que seria considerado faz referencia no início da definição, ser: “a percepção consciência situacional. Dezembro 2011 Boletim Técnico 13 CRM Já no decorrer do nível seguinte do processo (NÍVEL 2), o piloto deve compreender o que está percebendo, se esperando dele uma combinação dos dados identificados no NIVEL 1, de maneira que lhe seja proporcionada uma visão geral da situação apresentada, formando com isso um quadro holístico e entendendo a importância do significado de todos os elementos envolvidos. Neste momento, os dados coletados por ele passam a se tornar uma “informação”. Finalmente, no terceiro e último nível (NÍVEL 3), a consciência situacional é encontrada quando o piloto entende completamente sua situação atual e usa tal informação para uma projeção futura, prevendo desta forma o que provavelmente está para acontecer no futuro próximo, podendo tomar decisões mais assertivas para os fatos apresentados. Vale a pena ressaltar que, para ser possível uma coleta de dados consistentes durante a construção do processo da consciência situacional, assim como para que se consigam antecipar estados futuros dentro de um “cockpit” com maior assertividade, os pilotos precisam ser detentores de conhecimentos necessários e suficientes das aeronave que operam, das regras de tráfego aéreo a que estão sendo submetidos, de uma boa interação com tais aeronaves (cada vez mais automatizadas), de um relacionamento saudável com seus pares, assim como de um correto entendimento das suas posições dentro da empresa e do meio que os cercam. Conclui-se que verdadeiras percepções de consciência situacional envolvem mais que simplesmente tomar ciência de dados, requerendo também uma maior variedade possível de situações parecidas anteriormente experimentadas. Resumindo, experiências pregressas dos pilotos, mensuradas por exemplo através do número e 14 Boletim Técnico Dezembro 2011 qualidade de horas de voo acumuladas, das quantidades, tipos e tamanhos de aeronaves anteriormente voadas, de experiências adquiridas em outras organizações com culturas operacionais diferentes, assim como de quaisquer situações anteriormente vivenciadas em suas vidas profissionais dentro de um “cockpit”, aliadas ao relacionamento interpessoal e estilos de liderança, serão determinantes para a construção de alicerces mais sólidos para a formação dos três níveis da consciência situacional. Também, para que a maioria dos dados colhidos no decorrer do “nível da percepção” da consciência situacional possam ser processados e se tornarem informações coerentes para os pilotos no “nível da compreensão”, associado à capacidade do entendimento completo da situação atual e do uso de tal informação para o “nível da projeção futura”, os pilotos devem ser capazes de associar dados e ter afinidades com todo este processo dinâmico e cognitivo, pois não é suficiente toda uma experiência anterior, sem se conseguir fazer o uso correto delas. Por outro lado, pilotos com menos experiências pregressas e com menos horas de vôo acumuladas, mas com boas capacidades de associar dados e relacioná-los, se bem selecionados, receptivos e bem treinados, vão adquirindo experiências e com o tempo passam a usálas mais assertivamente no processo de tomada de decisões, se tornando mais seguros, cuidadosos e conseqüentemente, mais profissionais. Luiz Augusto Dal Pian Cmte A319/320/321 Eng. Mecânico e Pós-graduado em Segurança de Voo Ative a RESILIÊNCIA que tem DENTRO DE VOCÊ ! Desde que nascemos passamos por experiências em nossas vidas que certamente nos marcaram. Experiências que nem sempre foram de conquistas, mas que talvez tenham se misturado em um vai e vem de quedas, sofrimentos, angústias, ferimentos e cicatrizes profundas. Saber lidar com a dor e acreditar que tudo vai melhorar, não é tarefa simples, ainda mais diante de um contexto global e complexo no qual estamos inseridos. Em casos como estes, uma das ferramentas que podem ser trabalhadas é a resiliência, que, de acordo com as necessidades que a vida nos impõe, somos todos capazes de ativá-la dentro de nós. O dicionário de língua portuguesa Aurélio (Ferreira 1999), conhecido como Novo Aurélio, diz que, na Física, resiliência “é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de uma deformação elástica”. No sentido figurado, o mesmo dicionário aponta o termo como “resistência ao choque”. O dicionário de língua inglesa Longman Dictionary of Contemporary English (1995) oferece duas definições de resiliência, sendo a primeira: “habilidade de voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de espírito depois de passar por doenças, dificuldades etc.: resiliência de caráter”. A segunda explicação para o termo encontrada no mesmo dicionário afirma que resiliência reprodução montagem sobre imagens e fotos Segurança de Voo “é a habilidade de uma substância retornar à sua forma original quando a pressão é removida: flexibilidade”. A psicóloga norteamericana Edith Henderson Grotberg (1918-2008), pioneira nos estudos sobre o tema e autora de Resilience for Today: Gaining Strenght from Adversity, atesta que “o papel da resiliência é desenvolver a capacidade humana de enfrentar, vencer e sair fortalecido de situações adversas”. Já a resiliência organizacional “caracteriza-se por antecipar e evitar as ameaças à sua existência e aos seus objetivos primários. Isso é mostrado através da capacidade de gerenciar graves pressões e conflitos que possam afetar a segurança ou estabilidade da organização”. (Hale & Heijer, 2006). Todos, indivíduo e organização, dispõem dessa ferramenta que pode ser favorecida pelas características e ambientes de cada um. Por exemplo, com pessoas otimistas, que possuem apoio de familiares e amigos, o processo de recuperação após uma adversidade tende a ser mais fácil. Já para os mais introspectivos, sem uma rede de apoio, será mais difícil evoluir. Neste último caso, recomenda-se ajuda de profissionais, como um terapeuta. Vale dizer que, em momentos de fragilidade é saudável lembrar-se de vitórias conquistadas após as adversidades vivenciadas no passado. É uma estratégia fortalecedora que ajuda a impulsionar a virada. Dezembro 2011 Boletim Técnico 15 reprodução CRM A resiliência é abordada nos cursos de CRM (Corporate Resource Management), quando tratamos do gerenciamento da carga de trabalho. A carga de trabalho é uma relação entre tarefas e tempo: Muitas tarefas e pouco tempo implica em uma alta CT. Poucas tarefas e muito tempo gera uma baixa CT. Nosso desempenho é ótimo com uma CT moderada. CT excessivas levam ao erro e CT muito baixas levam a perda da consciência situacional. Analisando a fórmula percebemos que um aumento da resiliência permite que aumentemos a complexidade do cenário (maior número de tarefas e/ ou diminuição do tempo) sem contudo aumentar a CT, mantendo assim o desempenho. Mas o que aumenta nossa resiliência no ambiente de trabalho? O conhecimento teórico, a experiência prática, a confiança, o estado físico e emocional. Dois trabalhadores diferentes enfrentando a mesma situação experimentam CT diferentes pois possuem níveis de resiliência distintos. Por outro lado, a mesma pessoa apresenta variação do seu nível de resiliência, à medida que varia o seu estado físico ou emocional com o passar dos dias. A organização através do treinamento, da escala de trabalho, etc e o trabalhador através do estudo, da alimentação, do descanso, do lazer, etc trabalham juntos para aumentar a resiliência individual, e este aumento ao longo do tempo implica em um aumento da resiliência da organização como um todo, o que no caso de uma empresa aérea significa menor risco de incidentes e acidentes. Mas afinal, como lidar com momentos em que tudo parece não ter mais solução de tão difícil a situação que nos encontramos? Para responder a esta pergunta, a seguir, você encontrará as principais características da resiliência. Confira! ... ... .. ... ... ... ... ... .. Administre emoções Comunique-se com clareza e objetividade Tenha um olhar positivo Seja assertivo Controle a impulsividade Gerencie seu estresse Mantenha-se fiel aos valores, crenças e objetivos de vida Tenha uma boa qualidade do sono Socialize-se Gerencie os recursos disponíveis Saiba trabalhar em equipe Distribua sua carga de trabalho Analise o ambiente por inteiro Aumente a sua Consciência Situacional Priorize tarefas Desenvolva empatia Gerencie o tempo Foque em seus objetivos Siga normas e procedimentos Assuma responsabilidades Respeite as diferenças Lidere com humildade Tenha iniciativa e coragem Seja flexível Persevere Em resumo (...); não permita que eventos que tenham deixado resíduos se acumulem com o passar do tempo, prejudicando sua qualidade de vida. Como já dizia aquela canção : - “Levanta, sacode a poeira E dá a volta por cima”. Não perca de vista o horizonte à sua frente! E lembre-se, o fortalecimento interior é um aprendizado constante. Mensagem ao leitor: Sempre que um ano está terminando, fazemos um monte de promessas para o ano que vai começar. Entre elas, encontram-se: fazer dieta e voltar ao peso que tínhamos há 10 anos; ser mais solidário; parar de fumar; voltar para a academia; priorizar a família; quitar as dívidas; ter mais momentos de lazer, etc ...; aposto que você provavelmente se identificou com alguma delas ou conhece alguém com este discurso. Gostaria então de lhe propor um novo desafio: - Que em 2012, DESENVOLVA A ARTE DE SER RESILIENTE e PRATIQUE o CRM. Aproveito esta edição para desejar BOAS FESTAS! DANIELA GONÇALVES, Coordenadora de Treinamento da Área de Fator Humano (CRM e LOFT), Diretoria de Operações e Treinamento Operacional 16 Boletim Técnico Dezembro 2011 Outubro 2011 Boletim Técnico 17