IMPACTOS DA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NA INDÚSTRIA
BRASILEIRA DA CONSTRUÇÃO CIVIL / SUB-SETOR EDIFICAÇÕES
ENRICO SANTANA GRISI
ADRIANA SALETE DANTAS DE FARIAS
FRANCISCO ANTÔNIO CAVALCANTI DA SILVA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
e-mail: [email protected],
Resumo: Este artigo procura explorar a questão da transferência de tecnologia na indústria
brasileira da construção civil, sub-setor edificações, especificamente na etapa de revestimento. Esta
indústria apresenta-se como sendo um setor de grande importância econômica, que faz de sua
demanda tecnológica, frente as características próprias do setor, um fator imprescindível. Dentro do
contexto da gestão da tecnologia, em particular, referindo-se a transferência tecnológica, procura-se
analisar os aspectos positivos e negativos desta transferência, que hoje se dá, em várias etapas do
processo construtivo da indústria.
Palavras-chave: transferência tecnológica, competitividade, indústria da construção civil.
Abstract: This article intends to explore the subject of the technology transfer in the civil construction
Brazilian industry, sub-section buildings, specifically in the coating stage. This industry presentes
itself as being of great economic importance which makes it's technological demand a factor that
cannot be forgoten In the technological management context in particular referring to the
technological transfer one intends to analyze the positive and negative aspects of this transfer that
today takes place in several parts of the constructive process of this industry.
Key-words: technological transfer, competitiveness, civil construction industry.
1. Introdução
As tendências mais recentes apontam no sentido de uma permanente avaliação por parte das empresas
no que respeita ao ambiente competitivo em que se encontra, bem como dos recursos de que dispõe
para, através de uma postura estratégica, aproveitarem as oportunidades que lhes são colocadas e
contornarem as ameaças identificadas. Resulta daí a compreensão de que, para uma organização deter
o atributo da competitividade, imprescindivelmente, necessita ser percebida como detentora de uma
vantagem competitiva, decorrente, por sua vez, da capacidade que têm seus produtos de gerar valor
para os clientes (PORTER, 1990).
Na medida, portanto, em que a tecnologia seja percebida como o conjunto ordenado, organizado e
articulado de conhecimentos científicos, empíricos e intuitivos, resultante de um esforço intencional
(SÁBATO apud BARBIERI, 1990), entende-se que constitui objeto da ação gerencial das
organizações, na produção de bens ou serviços, no marco de uma estratégia que vise à elevação dos
níveis de competitividade com que atuam. Evidentemente, a estratégia global da organização
contempla a variável tecnologia, que dela constitui elemento imprescindível. Tal estratégia deverá ser
capaz de explicitar tanto as tecnologias vitais para o alcance da manutenção da vantagem competitiva,
buscada pela organização, quanto sua forma de aquisição e gerenciamento (FERNANDES et al, 1995).
CARRÉRE apud TEIXEIRA (1983) caracteriza uma sociedade em termos de desenvolvimento
econômico e social. Há na proposição de Carrére uma relação entre as estratégias tecnológicas
utilizadas pelas empresas e o estágio de desenvolvimento da sociedade a que pertencem. Entretanto, a
simples utilização de determinada tecnologia não implica em que uma empresa detenha
competitividade sustentável, tampouco o seu país. Isso porque, a aquisição de tecnologias de última
geração, apesar de manter a empresa adquirente atualizada em seu mercado, cria uma dependência
tecnológica que, na maioria das vezes, inibe a necessidade de desenvolver tecnologias internas.
Conforme GRYNSZPAN (1983), as tecnologias de produção existentes nos países desenvolvidos e a
opção natural das empresas emergentes dos países em desenvolvimento de comprar estas novas
tecnologias substitui a alternativa de desenvolver tecnologias nacionais emergentes. Dessa forma, a
situação de dependência de tecnologia estrangeira nos países em desenvolvimento apresenta-se como
resultado da limitada infra-estrutura tecnológica interna e da conseqüente aquisição indiscriminada da
tecnologia estrangeira, contexto tecnológico que exige grande esforço e investimento para que seja
modificado.
Tomando-se como exemplo a indústria brasileira da construção civil, é possível verificar que, nas
últimas décadas, esta indústria tem apresentado uma crescente demanda tecnológica, principalmente
relacionada aos processos produtivos. Essa demanda crescente se reflete na gradativa substituição de
processos artesanais por atividades mecanizadas que incorporam maior nível de tecnologia industrial.
Assim, a aquisição ou desenvolvimento de tecnologias para esta indústria passa a representar questão
imprescindível para a competitividade das empresas do referido setor.
2. Fundamentação Teórica
A competitividade definida de acordo com FERRAZ, KUPFER e HAGUENAUER (1997), consiste
na capacidade da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam
ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. Esses autores
consideram que a competitividade relaciona-se ao padrão de concorrência ( conjunto de fatores críticos
de sucesso) vigente em cada mercado. Consideram ainda que a capacidade competitiva é
desenvolvida em conjunto com a gestão estratégica, estabelecendo que o nível de capacidade e
desempenho competitivo de uma empresa, em um momento específico do tempo, é resultado da
seqüência estratégica adotada até então. Nesse sentido, as empresas precisam formular e reformular
suas estratégias competitivas apoiadas na análise de fatores que influenciam o desempenho
competitivo no presente, e também, na percepção sobre a trajetória futura dos padrões de concorrência
de seus setores. Uma tal adequação, certamente tanto depende do grau de sintonia das estratégias com
as vantagens competitivas eleitas pelas empresas, quanto do grau de sintonia dessas estratégias coma
as soluções tecnológicas definidas.
A formulação e implementação de uma estratégia requer, segundo ALVES FILHO (1991), que uma
série de atividades sejam desenvolvidas, desde o estudo das condições do ambiente e das condições
internas da empresa à especificação de direções e objetivos de desenvolvimento e à determinação das
atividades levadas a efeito, para ampliação da capacidade tecnológica e para a implementação de
mudanças técnicas.
PORTER (1990) estabelece uma relação entre o modelo de estratégia competitiva e a gestão
tecnológica da empresa. Para ele, uma empresa como um conjunto de atividades, é também um
conjunto de tecnologias, estando estas embutidas em todas a atividade empresarial e, uma mudança
tecnológica poderia afetar os padrões competitivos de uma indústria, através do impacto sobre a
maneira de executar suas atividades. Ainda conforme este autor, a definição de estratégias a partir de
um licenciamento tecnológico pode ter uma importância fundamental na estratégia competitiva da
empresa, seja dando acesso a outras empresas às tecnologias desenvolvidas internamente, seja
viabilizando o recebimento de tecnologias geradas por outros.
No tocante à utilização de tecnologias estrangeiras, alguns autores esclarecem seus pontos de vista,
enfatizando as implicações que esta pode acarretar para o desenvolvimento tecnológico nacional.
Assim, SOUZA NETO (1983) afirma que os países em desenvolvimento geralmente são carentes e
dependentes de tecnologias externas. Esse autor discute o caso do crescimento econômico do Brasil,
atribuindo-o em parte a uma maciça transferência de tecnologia proveniente de países desenvolvidos,
efetuada nos últimos anos para a ampliação do parque industrial. Por outro lado, esta aquisição
desenfreada de tecnologia levou o país a um estado intenso de dependência tecnológica. Para o autor,
os riscos que ocorrem num país excessivamente dependente de tecnologia estrangeira podem ser
classificados dentro de duas dimensões: econômica e política. Na dimensão econômica, podem
ocorrer problemas de balança de pagamentos, devido ao alto custo da tecnologia importada; baixa
produtividade com altos custos, devido em parte à inadequação da tecnologia externa às características
sócio-econômicas do país; baixo nível de competitividade nos mercados internacionais;
desnacionalização da estrutura industrial; subutilização da capacidade tecnológica existente; e falta de
estímulo ao investimento necessário à formação de recursos humanos e ao desenvolvimento de uma
tecnologia própria. Na dimensão política, o perigo reside na subordinação política do país aos
interesses estrangeiros e das implicações que isto pode trazer no processo de decisão, em nível
nacional.
Para LONGO (1979), a transferência de tecnologia hoje é tipo explicita, isto é, do tipo que não se
encontra embutida em um bem físico. Encontra-se acumulada em pessoas sob a forma de
conhecimentos intelectuais e habilidades manuais, ou em documentos do tipo patentes, relatórios,
plantas, desenhos, projetos, etc. Portanto, o termo transferência de tecnologia é um termo impróprio,
segundo o autor, para designar aquilo que pode chamar-se de “contratos de compra ou venda de
tecnologia”. Além de diversos efeitos maléficos resultantes da importação indiscriminada de
tecnologia, o autor identifica como aspecto crucial, a barreira criada ao crescimento de tecnologias
internas, principalmente, para as atividades tecnológicas voltadas à solução de problemas locais.
A perpetuação da dependência tecnológica, conforme GRYNSZPAN (1983), se baseia na idéia de que,
sob o ponto de vista econômico, é mais eficiente, mais barato e de menor risco usar tecnologias
importadas, já provadas, do que estimular a capacidade criativa local. Desse modo, a tecnologia no
mercado internacional comporta-se como uma mercadoria e as empresas detentoras do conhecimento a
utilizam como vantagem econômica. No entanto, esta visão imediatista gera conseqüências
desastrosas a médio prazo para o país e uma situação de controle econômico por parte das empresas
estrangeiras. O autor observa que os benefícios da redução da dependência tecnológica manifestam-se
no longo prazo, através da diminuição dos custos de transferência de tecnologia, da melhoria da
posição de barganha do receptor da transferência, e da produção de tecnologia mais apropriada ao
desenvolvimento social no país. O problema da dependência tecnológica impõe, para sua resolução, a
necessidade de altos investimentos a curto prazo e de uma política interna voltada para utilização da
tecnologia importada visando a desenvolver a capacitação técnica local e não para substituí-la.
A gestão da tecnologia, portanto, envolve aspectos importantes para a competitividade empresarial na
medida em funciona como suporte ao desenvolvimento competitivo da organização, de resto, do país
em que esta se localiza. A influencia da infra-estrutura técnica e política se reflete diretamente nas
opções que são disponibilizadas para as empresas emergentes no que se refere às formas de aquisição
e utilização da tecnologia necessária.
3. Procedimentos Metodológicos
Este trabalho é de natureza predominantemente exploratória, que, segundo GIL (1987), tem por
finalidade principal desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias com vistas à formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. O caráter exploratório
que se confere à presente investigação resulta da necessidade de se conhecer a forma como é tratada a
questão da transferência de tecnologia no segmento industrial selecionado. Essa exploração é que
possibilitará a compreensão da relação entre o gerenciamento da tecnologia e a competitividade na
indústria da construção civil. O método utilizado é o de estudo de caso, que faz uma avaliação da
industrial referida a partir da observação de uma unidade empresarial. A empresa-alvo do estudo
localiza-se no estado da Paraíba, desenvolvendo atividades relativas ao sub-setor de edificações.
A pesquisa utilizou-se de um roteiro de entrevistas e da observação direta como instrumentos de coleta
de dados, além da realização de revisão bibliográfica. Nessa perspectiva, o trabalho fundou-se no
método analítico-descritivo. Com base nos dados coletados, procurou-se descrever os principais
efeitos, positivos e negativos, identificados na utilização da tecnologia estrangeira para o segmento
empresarial indicado.
4. Resultados
Neste item serão apresentados os principais resultados obtidos pela presente investigação, observandose, primeiramente, as características da indústria brasileira da construção civil, em seguida,
descrevendo-se uma das principais tecnologias externas utilizadas no segmento e identificada na
empresa-alvo de estudo, bem como, intervenções e mudanças aplicadas a esta com vistas ao
ajustamento para a indústria local. Dessa forma, busca-se fundamentar as inferências a respeito dos
aspectos positivos e negativos da transferência de tecnologia para o segmento selecionado.
4.1 Características da Indústria Brasileira da Construção Civil
A indústria brasileira da construção civil apresenta várias características que a diferenciam de outras
indústrias. Segundo HELENE e SOUZA (1988) a indústria da construção civil (ICC/SE) é, dentre os
setores de atividade econômica, um dos mais importantes, qualquer que seja o parâmetro comparativo
que se utilize: volume de inversão capital circulante, número de pessoas empregadas, utilidade dos
produtos, entre outros.
Esta indústria representa cerca de 6.17% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (SCHWEDER,
1992), sendo proporcionalmente representativa para as economias estaduais da federação, além de
configurar-se como uma das grandes geradoras de empregos diretos e indiretos, no país. Por esses
motivos, o desenvolvimento da ICC/SE é de grande interesse tanto para empreendedores, quanto para
a o governo e a mão-de-obra absorvida.
Diante disso, as empresas do setor têm buscado, através de várias estratégias, alcançar maiores índices
de rentabilidade e assegurar o atingimento dos objetivos organizacionais. Dentre as estratégias
implementadas está o desenvolvimento de novos produtos e processos de trabalho, que podem trazer
benefícios em termos de redução de custos, aumento da produtividade, etc. Segundo FERREIRA
(1995) o desenvolvimento de novos produtos é crítico para empresas inovadoras e geralmente
determina a sobrevivência da empresa no longo prazo.
Em sua dissertação de mestrado SALDANHA (1997) afirma que as mudanças no setor da construção
civil após os anos 70 foram processadas por agentes externos. Por um lado, o Estado, objetivando
reduzir custos e prazos a procura de avanço técnico como solução para o problema habitacional; por
outro, os fabricantes de materiais de construção, através da introdução de novos produtos, procurando
ganhar fatias de mercado. Nos anos 80, devido principalmente à crise econômica e à democratização,
identificou-se no setor uma tendência de introdução de mudanças no processo de trabalho, em uma
tentativa de racionalização da construção. No mesmo período, a incorporação de inovações
tecnológicas e organizacionais também foram buscados.
Características próprias da construção civil são enumeradas por MEIRA (1995). São elas:
• Uso intenso de mão-de-obra desqualificada;
• Falta de política de recursos humanos;
• Baixa produtividade;
• Ausência de integração entre as várias etapas que compõem o processo construtivo;
• Carência acentuada de controle de qualidade dos materiais, componentes e serviços;
•
Alto índice de desperdícios: materiais, horas trabalhadas.
Baseando-se nestes fatos parece razoável afirmar que a indústria da construção civil é um setor no qual
se concentra uma enorme força industrial, mas, ao mesmo tempo, que sofre com a existência de
métodos artesanais de produção. Este setor sempre “engatinhou” na procura de meios para tornar seu
produto mais competitivo diante de um mercado cada vez mais disputado e exigente, porém, sempre
esbarrou nas dificuldades de seu processo produtivo sem padronização.
4.2 Transferência de Tecnologia
A tecnologia estrangeira apesar de criar uma dependência nos países em desenvolvimento pode
também fortalecer atividade de P&D, quando utilizada criteriosamente. Um exemplo disto encontra-se
no indústria brasileira da construção civil, aplicado em uma de suas etapas de produção mais onerosa,
o revestimento (reboco). Essa etapa tem como característica a utilização de uma mistura à base de
cimento, areia, cal e água. Essa mistura é homogeneizada até se tornar uma pasta. O método mais
comum de se realizar o revestimento artesanal, utilizando-se uma colher de pedreiro para aplicação da
mistura apropriada no revestimento interno (reboco) e externo (emboço) de uma edificação.
Entretanto, já é possível realizar essa etapa com o uso de máquinas portáteis e potentes, em um
intervalo de tempo menor, com menos homens, sem desperdícios e a um custo reduzido.
A máquina pode ser manuseada por qualquer pessoa, que tenha recebido o devido treinamento. O
treinamento é realizado pelo técnico do fabricante da máquina e o seu custo está embutido no preço do
equipamento. Esta máquina é compostas por um silo distribuidor (por onde a argamassa em pó é
colocada), uma bomba d'água (que abastece a máquina com água para a formação da pasta), um
mangote feito de borracha e nylon com diâmetro de aproximadamente 6cm (por onde a pasta irá fluir),
um misturador helicoidal (que impulsiona a argamassa em pasta para o mangote), um motor para o
misturador, , um compressor de ar (que aumenta a força de lançamento da pasta na alvenaria) e um
quadro de comando (que serve como circuito central para comandar o funcionamento da máquina) .
Seu peso é em torno de 280 kg. A máquina recebe (através do silo) o saco com a argamassa pronta e
seca, depois ela faz a mistura (no misturador helicoidal) da argamassa em pó com a água que é puxada
pela bomba formando assim uma pasta.
A pasta é lançada pelo motor através do mangote na alvenaria onde se deseja aplicar o revestimento. O
processo necessita de uma equipe treinada de aproximadamente seis homens cuja função está dividida
da seguinte forma: um homem preparando a superfície a ser projetada com mestras, um homem
segurando e direcionando o bico do mangote de projeção, um homem abastecendo a máquina com a
argamassa ensacada, e três homens sarrafeando a argamassa já projetada na alvenaria.
4.2.1 Desempenho Resultante do Processo Construtivo
Segundo SLACK (1996) os indicadores de desempenho utilizados consistem em medidas-chave do
desempenho de produção. A justificativa para dar tal importância à utilização desses indicadores é
feita a partir da consideração de que qualquer perda de tempo de produção poderia ter sido usada para
produzir mais produtos, que gerariam mais lucro (custo de oportunidade).
Uma empresa classifica cada tipo de produção perdida como planejada ou não-planejada. O tipo de
produção perdida planejada é aquela que ocorre como conseqüência de ocorrências razoavelmente
inevitáveis, isto é, fazem parte do processo produtivo. As perdas não-planejadas são aquelas que não
agregam valor algum à produção e portanto, podem e devem ser evitadas
Foi realizado um acompanhamento do serviço de projeção de argamassa feito por uma empresa local
numa obra que se encontrava na fase de revestimento interno na cidade de João Pessoa/ PB. Durante o
período de 06/10/1999 até 06/11/1999 foram trabalhados 22 dias, isto é, 198 horas). Durante este
período foram anotadas as atividades e suas respectivas durações (ver tabelas 1 e 2).
Atividade
TABELA 1: Classificação e duração das atividades
Classificação
Duração (h)
Abastecimento com água
Manutenção preventiva regular
Parada para almoço
Desentupimento do silo
Absenteísmo
Deslocamento
vertical
de
equipamentos e material
Perda planejada
Perda planejada
Perda planejada
Perda não-planejada
Perda não-planejada
Perda planejada
19,5
22,0
22,0
8,8
9,0
27,0
Equivalente em
área (m2)
154,1
173,7
173,7
69,5
71,1
213,3
TABELA 2: Perdas totais
TOTAL
Perda planejada
714,8 m²
Perda não-planejada
140,6 m²
A capacidade de projeto é igual a 300 m²/dia = 6600 m²
A capacidade efetiva é igual a 6600 m² - 714,8 m² = 5885,2 m²
Volume de produção real = 6600 - 714,8 - 140,6 = 5744,6 m²
(1)
(2)
(3)
Com base nos dados coletados, é possível obter-se os percentuais relativos aos indicadores de
utilização e eficiência, como se demonstram a seguir:
UTILIZAÇÃO = Volume de Produção Real (3) / Capacidade de Projeto (1) = 0,87 ou 87% (4)
EFICIÊNCIA = Volume de Produção Real (3) / Capacidade Efetiva (2) = 0,97 ou 97%
(5)
Analisando o processo em estudo, pode-se notar que o mesmo possui uma alta eficiência, motivo este
causado pelo baixo número de perdas ocorridas no processo, e uma alta utilização devido a redução
dos tempos de setup. Muitas construtoras estão recorrendo a estes processos, que, em geral, são
executados, são executados por empresas especializadas, com pessoal treinado e equipamentos
modernos proporcionando ao contratante (construtora) redução de custos e encurtamento de
cronograma. A utilização dessa tecnologia promove um serviço rápido e limpo, adjetivos estes que são
raros na construção civil, em particular, no sub-setor edificações.
A máquina utilizada como mecanismo para realizar o processo descrito pode projetar argamassas a
base de gesso e cimento. A principal matéria-prima que compõem estes dois produtos é abundante no
País, principalmente na região Nordeste. A gipsita que compõem o gesso é encontrada no interior de
Pernambuco na cidade de Araripina, o maior pólo gesseiro do País, a qual comporta uma série de
empresas que extraem a matéria-prima (gipsita) e fabricam o gesso. Segundo BAUER (1987) as
matérias-primas utilizadas na fabricação do cimento são misturas de materiais calcários e argilosos em
proporções adequadas que resultem em composições químicas apropriadas para a sua fabricação.
Essas matérias-primas são extraídas através da técnica usual de exploração de pedreiras e são
encontradas em grandes quantidades no país. De acordo com o mesmo autor, o Brasil contribui com
uma produção anual de 16,7% do toda a produção mundial de cimento. A indústria química do
cimento é explorada por diversas empresas no país, merecendo destaque a Nassau, Zebu, Poty,
Votoran e Itaú. Verifica-se que a possibilidade de expansão e criação de empresas produtoras de
argamassa, como também das empresas que prestam serviço de aplicação desta argamassa,
impulsionadas pelo desenvolvimento deste mercado pela introdução da nova tecnologia de
revestimento aplicada à ICC/SE, torna-se cada vez mais consolidada.
Existem várias empresas que fabricam este equipamento, distribuídas, principalmente, entre dois
países europeus, a Alemanha e a Itália, sendo destacas as seguintes: Putzmeister (alemã), PFT (alemã)
e a Turbosol (italiana). O Brasil hoje só conta com representações regionais destas empresas
estrangeiras, ainda não havendo um fabricante nacional que participe deste mercado. Assim, o
mercado brasileiro de revestimento dispõe de poucos fornecedores deste equipamento e de um número
relativamente elevado de fabricantes e aplicadores de argamassa. Só na região Nordeste existem cerca
de quarenta máquinas projetoras de argamassa distribuídas entre as várias empresas de revestimento.
Devido a estes fatores é importante que a infra-estrutura nacional propicie a expansão e criação de
novas empresas no segmento de edificações, o que só viabilizará o desenvolvimento da indústria como
um todo. Considerando que a construção civil exerce um papel de grande importância na economia
nacional, é de grande relevância o incentivo ao desenvolvimento da P&D neste setor, possibilitando,
desta forma, um aumento na produção e consequentemente a geração de novos empregos.
5. Considerações Finais
A partir do contexto tecnológico observado na ICC/SE pode-se verificar aspectos positivos e aspectos
negativos da utilização de tecnologia externa. O lado positivo é o estímulo à pesquisa que se faz
necessária para desenvolver argamassas, sejam a base de gesso ou de cimento, com características
físicas e químicas cada vez melhores, que devem ser utilizadas nestas máquinas, para melhorar sua
trabalhabilidade, aumentar sua resistência, diminuir seu consumo por área revestida e principalmente
reduzir seu custo. Toda esta pesquisa demanda por laboratórios, profissionais, técnicos, pessoal
treinado e uma infra-estrutura capaz de gerar tal conhecimento. Podendo-se explorar riquezas naturais
do Brasil, que são muitas, utilizando ainda a mão-de-obra loca. Pode-se também obter excelentes
resultados positivos, em termos de qualidade e produtividade do processo produtivo da ICC/SE. O
lado negativo corresponde à dependência técnica quase total dos países desenvolvidos que detém a
tecnologia da fabricação de equipamentos de projeção de argamassa. No desenvolvimento
tecnológico atual, o país vive um momento de transformação em sua estrutura produtiva. Para se
atualizar, as empresas têm recorrido à importação de tecnologia. Entretanto, a atitude ideal seria que a
empresa realizasse um aprendizado que possibilitasse a ela própria desenvolver inovações. Mesmo
sabendo que países em desenvolvimento enfrentam multiplicidade de carências conjugadas à escassez
de recursos, é preciso lembrar que o rompimento da dependência tecnológica é uma das condições
para promover desenvolvimento econômico
No Brasil as limitações infra-estruturais apresentadas para quase todos os setores de atividade
econômica, colocam as empresas, em especial, aquelas que demandam intensa utilização de
tecnologia, diante de duas alternativas: licenciar tecnologias de processo junto a grandes empresas e
delas adquirir também seus principais insumos ou, desenvolver outras formas de acesso Às tecnologias
de processo e aos insumos de que necessita. A primeira alternativa fortalece os laços de dependência
relativamente à indústria externa; a segunda, exige investimentos altos e contínuos em P & D para que
as empresas se mantenham competitivas.
6.
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