Metacognição e busca de informação: estudo de usuário em arquivo1
Dirlene Santos Barros (Universidade Federal da Paraíba)
Dulce Amélia de Brito Neves (Universidade Federal da Paraíba)
A Ciência da Informação (CI) tem despertado para os estudos de usuários centrados no usuário e, não
mais nos sistemas, como era há 40 anos. Esse panorama vai ao encontro da metamorfose, ora vivenciada pela instituição arquivo, que se direciona para o modelo também, centrado no usuário e, não mais
no arquivista.
Para entendermos essas relações que configuram o estudo, simultâneo, de usuários e do arquivo e sua
importância para a sociedade da informação, recorre-se ao estudo dos pesquisadores, bem como dos
profissionais da informação do Arquivo Público do Estado do Maranhão – APEM. Parte-se daqui para
analisar as estratégias metacognitivas no processo de busca da informação, a partir do modelo de David Ellis (1998), ampliado por Ellis, Cox e Hall (1993).
A escolha pela temática se deu em virtude da inexpressividade do arcabouço teórico arquivístico sobre
estudos de usuário quando relacionados com outras temáticas como avaliação, arranjo, instrumentos
de pesquisa etc. Pois, a maioria dos estudos chamados de usuários, configuram, na verdade, em estudos de usos dos sistemas de informação por meio dos usuários.
Esses estudos são de interesse não só da CI, mas também de várias outras áreas do conhecimento, como a Psicologia Cognitiva, a Comunicação, a Biblioteconomia, a Arquivística, a Economia, a Antropologia e outras, que para Figueiredo (1994):
[...] são investigações que se fazem para saber o que os indivíduos precisam
em matéria de informação, ou então para saber se as necessidades de informação por parte dos usuários de uma biblioteca ou de um centro de informação estão sendo satisfeitas de modo adequado. (p.7).
Na realidade, essas investigações são de uma importância imprescindível para poder planejar, desenvolver, analisar e fornecer serviços e produtos de informação que atendam com fidedignidade as necessidades dos usuários, bem como entender, o processo do fluxo informacional.
Cabe ainda mencionar que há uma carência de literatura tanto nacional como estrangeira sobre este
assunto. Embora se encontre, principalmente no espaço norte americano alguns estudos sobre os usuários de arquivo com enfoque geral, não se localizou trabalhos com abordagem no seu comportamento
informacional em termos cognitivos.
O estudo em questão visa analisar, à luz do modelo de David Ellis, se as estratégias metacognitivas do
profissional da informação do APEM, se assemelham ou se diferenciam das traçadas pelos pesquisadores no comportamento de busca da informação.
A escolha pelo modelo de Ellis se deu em função do mesmo, conceber o processo de busca de informação a partir de aspectos cognitivos, constituído por características gerais que não são vistas como
etapas de um processo.
Além disso, buscamos investigar as características do comportamento de busca da informação dos
pesquisadores; as estratégias metacognitivas particulares nesse comportamento e verificar a validade
do modelo de comportamento de busca da informação de David Ellis para os usuários e para o profissional da informação de arquivo.
1
Resumo de pôster apresentado ao GT-04 - Gestão da Informação e do Conhecimento nas Organizações.
É um estudo que deve levar em consideração o todo da experiência do indivíduo: o pensar, o agir, o
sentir e o meio no qual se encontra inserido. É um olhar holístico, mas ao mesmo tempo, minucioso.
Essa postura parte do pressuposto que o usuário da informação é um ser cognitivo e perceptivo; que o
processo de busca e uso da informação compreende uma ação dinâmica que se realiza em dimensões
temporais e espaciais; e, ainda, que o meio no qual a informação está sendo empregada será decisivo
na forma e na medida que será útil.
Para Sanz Casado (1994), o usuário da informação é “[...] aquel individuo que necesita información
para el desarrollo de sus actividades [...]” (p.19), ou seja, é todo indivíduo, pois parte do princípio de
que todos nós necessitamos de informação e/ou desejamos informação para desenvolver atividades
cotidianas e/ou para saber algo.
Esses componentes relacionados dão origem ao comportamento informacional do sujeito, que, por sua
vez, recebe influência direta dos problemas e regras do meio, bem como das suas peculiaridades cognitivas, emocionais e situacionais.
Desse modo, o comportamento de busca da informação é produto do reconhecimento de uma necessidade de informação. Necessidade de informação, por sua vez, não se traduz como um conceito fácil de
determinar, pois figura nas malhas da ambigüidade, como fruto de um processo cognitivo e perceptivo
que se dá em meio diferentes estágios da cognição gerenciada.
Para tanto, esse estudo está configurado numa abordagem qualitativa por ser “[...] um campo interdisciplinar, transdisciplinar e, às vezes, contradisciplinar, [...] têm um foco multiparadigmático.”
(DENZI; LINCOLN, 2006, p.21) Contudo, tal abordagem não rejeita a ligação, com aspectos metodológicos quantitativos.
O enfoque qualitativo partirá também do arcabouço do modelo de comportamento de busca de informação de David Ellis (1989) aperfeiçoado por Ellis, Cox e Hall (1993), que aliado às concepções teóricas da área, proporcionará ter um pensamento crítico e criativo, capaz de (re)produzir concepções
que gerem conhecimento.
A população a ser estudada nessa pesquisa compreenderá: em dois profissionais da informação, que
trabalhem no APEM há, pelo menos, dois anos e em pesquisadores do arquivo, que desenvolvam pesquisa, no mínimo, há seis meses. .
Para os profissionais, utilizar-se-á como técnica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada, partindo de questões gerais para específicas, tendo como norte o guia de entrevista, pautadas no modelo
de David Ellis (1989) e, redimensionado em 1993, que o estruturou em oito categorias (iniciar, encadear, navegar, diferenciar, monitorar, extrair, verificar e finalizar), que retratam a estrutura do comportamento de busca da informação de maneira não linear.
Os pesquisadores comporão 2 grupos: um de controle, em que serão instruídos acerca do processo de
busca de informação e, os outros seis não será mencionado nada à respeito desse processo.
Para a coleta de dados com os usuários será utilizado o protocolo verbal. A escolha desta técnica se dá
por permitir a “[...] obtenção de relatos individuais dos processos mentais que estão ocorrendo no
momento ou à medida que estão sendo relembrados.” (NEVES, 2004, p.41).
Para Pressley e Afflerbach (1995), o uso do protocolo verbal nos leva a observa alguns aspectos, dentre eles: as categorias a serem analisadas, o perfil e o número de sujeitos, tipo de análise dos dados,
instruções necessárias e especificas e a transcrição da verbalização gravada.
As categorias a serem analisadas, que serão também, as do modelo de David Ellis (1993) – iniciar,
encadear, navegar, diferenciar, monitorar, extrair, verificar e finalizar - serão identificadas na fala dos
pesquisados. Quanto ao número da amostra será de seis professores universitários e seis historiadores.
Essa amostra coaduna com o instrumento utilizado, o protocolo verbal, que apesar de permitir um
número elevado de sujeitos, leva-se em consideração o número de pesquisadores que desenvolve a
pesquisa, o alto custo com a coleta, a transcrição e a análise dos dados.
O protocolo verbal será gravado para posterior transcrição, onde buscará ser o mais fiel e autêntico
possível à exposição verbal dos sujeitos.
Após a transcrição será feita a codificação das categorias de Ellis (1993), e cotejadas com a do profissional da informação a fim de identificarmos se há semelhanças ou não entre o processo de busca e
uso da informação.
A análise e o tratamento dos dados a serem coletados se dará conforme estabelecido nos objetivos da
investigação em si e com o fomento da teoria que servirá de suporte para o estudo.
Nesse momento serão inter-relacionados os conceitos encontrados no discurso dos sujeitos a fim de
instituir uma compreensão dos dados coletados, validar ou refutar as questões da pesquisa e dimensionar o conhecimento acerca do assunto investigado.
Acredita-se que a adoção desses critérios permitirá diminuir as discrepâncias entre os sujeitos e contribuir para alcançar os objetivos propostos nessa pesquisa.
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