Um espaço colaborativo de formação continuada de professores de
Matemática: Reflexões acerca de atividades com o GeoGebra
Anne Caroline Paim Baldoni
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru/SP
e-mail: [email protected]
Patrícia Fasseira de Andrade
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru/SP
e-mail: [email protected]
Maria Teresa Zampieri
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro/SP
e-mail: [email protected]
Sueli Liberatti Javaroni
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru/SP
e-mail: [email protected]
O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro voltado para a formação de recursos humanos.
Comunicação Oral
Relato de experiência
Introdução
Ao longo dos últimos anos, programas e investimentos têm sido aplicados para
equipar as escolas públicas com recursos tecnológicos. No Estado de São Paulo, o
programa governamental que está em vigor desde 2008, e que é responsável por
gerenciar os laboratórios de informática no ambiente escolar é o “Programa Acessa
Escola” (SÃO PAULO, 2009).
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Entretanto, resultados preliminares do projeto “Mapeamento do uso das tecnologias
da informação nas aulas de Matemática no Estado de São Paulo”, coordenado pela
quarta autora desse artigo, mostram que a realidade almejada por esse programa
governamental ainda está longe de ser contemplada, por motivos diversos. O
propósito central desse projeto é obter um diagnóstico de como as tecnologias
digitais vem sendo utilizadas, mais especificamente, o uso do computador nas aulas
de Matemática do Ensino Fundamental II das escolas públicas paulistas.
Dentro de tal projeto, são desenvolvidas pesquisas de iniciação científica, mestrado
e doutorado. Assim, algumas delas já apresentam resultados, os quais já foram
publicados em anais de eventos. Por exemplo, Andrade, Zampieri e Javaroni (2014)
e Andrade, Baldoni e Javaroni (2014) discutem resultados de uma pesquisa de
iniciação científica, cujo cenário de investigação foi a região de Bauru. Dentre os
fatores que dificultam a inserção dos computadores em sala de aula, baseadas nos
relatos dos professores que participaram da pesquisa, estão elencados problemas
com infraestrutura, ausência de estagiários nos laboratórios, falta de formação dos
professores voltada para o uso das tecnologias, seja inicial ou continuada.
Assim, após obter seus resultados iniciais, esse projeto vem buscando promover
ações de formação continuada nas diretorias de ensino por ele contempladas. A
primeira ação aconteceu em Bauru, no período de agosto a novembro de 2014, e foi
cenário da pesquisa de doutorado da terceira autora desse artigo, bem como parte
das atividades de iniciação científica da primeira e segunda autoras, sob orientação
da quarta autora.
Assim, nesse relato, temos o objetivo de discorrer acerca desse curso, destacando
que o ambiente colaborativo constituído nesse espaço propiciou reflexões entre os
professores, que os levou a sugerir adaptações nas atividades desenvolvidas, tendo
como foco suas respectivas salas de aula.
Metodologia
As pesquisas vinculadas ao projeto Mapeamento são de cunho qualitativo. Para
justificar essa opção metodológica nos apoiamos em Goldenberg (2003) quando
argumenta que o interesse do pesquisador que utiliza esta metodologia se concentra
em aspectos subjetivos acerca do cenário estudado.
O curso desenvolvido teve o objetivo de fomentar a integração do GeoGebra nas
práticas dos professores, bem como incentivar as discussões sobre esse tema. A
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fase de planejamento do curso contou ainda com o apoio dos demais colaboradores
do projeto. Já a equipe proponente foi constituída pelas autoras desse relato.
Os encontros do curso se constituíram de forma semipresencial, com momentos
presenciais aos sábados de manhã no laboratório de informática da Diretoria de
Ensino de Bauru e os encontros a distância aconteceram no AVA Moodle. Durante
os encontros, foram introduzidas de três a quatro atividades para serem
desenvolvidas no software GeoGebra e, ao final de cada uma, realizávamos uma
discussão acerca de sua possível importância para a sala de aula. Durante a
discussão, eram levantados, pelos professores, depoimentos relevantes para a
melhoria das atividades com o intuito de adequá-las dentro de seus respectivos
contextos de trabalho.
Para esse artigo, analisaremos o vídeo de um dos encontros, o qual mostra o
ambiente colaborativo constituído entre os professores, e como isso refletiu nas
discussões acerca das atividades propostas.
Resultados e discussão
Uma das atividades propostas para esse encontro sugeria que os professores
introduzissem a seus alunos o conteúdo “soma de ângulos internos de um polígono”.
Nela, propusemos a construção de triângulo, quadrilátero, pentágono e hexágono,
utilizando o recurso “Polígono” do GeoGebra. Junto com a construção, também foi
proposta a construção de uma tabela na planilha de cálculo desse software, para
que fossem anotados o número de lados, o número de triângulos formados e a soma
dos ângulos internos de cada figura. Contudo, para que as somas dos ângulos das
figuras com mais de cinco lados fossem encontradas, era necessário utilizar um
comando específico de linguagem de programação.
Alguns professores criticaram essa atividade por julgarem ter um roteiro difícil para
ser abordado com os alunos, principalmente por causa do comando de linguagem
de programação envolvido. Segundo eles, os alunos perderiam o foco no objetivo
principal da atividade, que seria entender como generaliza a fórmula para a soma
dos ângulos internos e se dispersariam por causa da complexidade envolvida na
construção.
Durante as discussões acerca dessa atividade, uma professora sugere uma outra
abordagem: “O software permite que peguemos o vértice e mexemos na estrutura
do polígono, e assim aparecem os triângulos que compõem a figura”. Ou seja, o
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professor teria a possibilidade de pedir aos alunos que arrastassem os vértices dos
polígonos, para então serem formados triângulos dentro do mesmo, e a soma dos
ângulos internos seria feita pela contabilização dos triângulos formados. Tal
sugestão deixou os participantes instigados e levou alguns deles a explorarem o que
havia sido sugerido.
Durante esse momento, a professora que teve essa ideia colaborou com os demais
professores para que eles adaptassem suas construções. No decorrer disso, outra
professora lembrou que com essa adaptação, a atividade poderia ser articulada com
uma situação de aprendizagem do caderno do aluno, mais especificamente do 8º,
cujo propósito também era com que os alunos chegassem à generalização da
fórmula da soma dos ângulos internos de um polígono.
Os movimentos pedagógicos implícitos nesse ambiente, que por sua vez foi
permeado pela colaboração, vão ao encontro das ideias de Nóvoa (2009, p. 16)
quando argumenta que é por meio deles que os professores se apropriam dos
processos de mudança e os transformam “em práticas concretas de intervenção. É
esta reflexão colectiva que dá sentido ao desenvolvimento profissional dos
professores”.
Assim, evidenciamos que esses professores se identificaram com o objetivo central
do curso, bem como uns com os outros. Além disso, eles se apropriaram dos
recursos do GeoGebra, buscando inclusive entrelaçar as atividades desenvolvidas
no curso com as situações de aprendizagem apresentadas no material didático do
Estado de São Paulo. Ainda, obtivemos indícios, através dos depoimentos dos
participantes, que essas reflexões foram transformadas em prática concreta nas
salas de aula de alguns deles.
Considerações finais
Nesse trabalho discorremos acerca de um recorte do curso semipresencial de
formação continuada de professores de Matemática, que executamos com
professores da Diretoria de Ensino de Bauru, o qual mostra que o ambiente
colaborativo constituído nesse espaço propiciou reflexões entre os professores, que
os levou a sugerir adaptações nas atividades desenvolvidas, tendo como foco suas
respectivas salas de aula.
Para tanto, trouxemos alguns resultados do projeto Mapeamento, os quais apontam
que o uso das tecnologias não ocorre satisfatoriamente dentro dos contextos
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analisados. Além disso, justificamos nossa opção pela metodologia qualitativa dentro
das pesquisas vinculadas a tal projeto.
No recorte trazido, mostramos movimentos pedagógicos que aconteceram em um
encontro do curso, que levaram os professores a analisar criticamente a abordagem
da atividade que lhes foi proposta e a refutar tal abordagem em prol de outra
sugerida por uma professora participante. Evidenciamos que o ambiente
colaborativo constituído no curso mobilizou os professores a se apropriarem do
GeoGebra.
Destacamos duas características fundamentais evidenciadas ao longo do curso:
comunicação e colaboração. Quando dizemos “fundamentais”, significa que tais
características mobilizaram a ocorrência de movimentos pedagógicos que ora
resultaram em críticas e sugestões acerca das atividades propostas, ora resultaram
em transformações nas práticas dos professores ao longo do período em que o
curso esteve em andamento. Nesse trabalho discutimos acerca de uma parte
oriunda desse curso. Esperamos ainda, discorrer sobre os demais movimentos
pedagógicos evidenciados no curso, bem como acerca de outras ações que temos
executado, em função do desenvolvimento do projeto Mapeamento do uso das
tecnologias da informação nas aulas de Matemática no Estado de São Paulo.
Palavras-chave: colaboração; comunicação; tecnologias.
Referências
ANDRADE, P. F.; BALDONI, A. C. P.; JAVARONI, S. L. A Escola pública e o uso
do computador: um olhar para a estrutura física dos laboratórios de
informática das escolas da Diretoria de Ensino de Bauru. Congresso de
Iniciação Científica, Unesp, 2014.
ANDRADE, P. F.; ZAMPIERI, M. T.; JAVARONI, S. L. O Computador e a prática
pedagógica: os laboratórios de informática das Escolas Estaduais públicas de Bauru.
Anais do II Congresso Nacional de formação de professores e XII Congresso
estadual paulista sobre formação de professores, 2014.
GOLDENBERG, M. A Arte de Pesquisar – como fazer pesquisa qualitativa em
Ciências Sociais. 7a ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
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NÓVOA, A. Professores: imagens do futuro presente. EDUCA – Instituto de
Educação Universidade de Lisboa Alameda da Universidade, 2009.
SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Manual de
Procedimentos, 2009.
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