FATORES QUE DIFICULTAM A AÇÃO DO PEDAGOGO NA
CONCRETIZAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR
Maria Lídia Sica Szymanski 1
Itagira Vigo Schuh 2
Introdução
O exigido, para os profissionais da educação hoje, é muito mais do que
competência, trata-se de ter conhecimentos e utilizá-los na ação, ajustando-a de maneira
autoconsciente à situação e aos propósitos planejados. O pedagogo, organizador do
trabalho escolar, precisa reconhecer que é essencial considerar as necessidades comuns
a todo ser humano, orquestrar seus diferentes saberes, favorecendo a formação de
esquemas mentais cada vez mais complexos, levando à apreensão crítica da realidade
para nela intervir.
Ao ressaltar o caráter dinâmico do trabalho do pedagogo, acrescenta-se a
necessária dimensão ética, salientando a importância de buscar a qualidade na
elaboração de um planejamento que atenda a toda comunidade. As diversas mudanças
ocorridas no cenário educativo vêm exigindo uma nova postura do professor e do
pedagogo nas organizações escolares, rompendo com paradigmas estabelecidos e
aparentemente justificáveis atrelados à incompreensão e ausência do trabalho
pedagógico necessário.
A escola, ao prover educação, precisa tomá-la em todo seu significado humano,
não apenas algumas de suas dimensões (PARO, 2001). Para isso é preciso profissionais
competentes, reflexivos e flexíveis, abertos às mudanças que exigirão novas maneiras
de planejar, ensinar e aprender. Conforme enfatizam os estudos de Drouet (2006), para
1
Psicóloga e Pedagoga. Mestre e Doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP. PósDoutora em Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação, pela FE da UNICAMP. Docente do
Mestrado em Educação da UNIOESTE e Líder do Grupo de pesquisa Aprendizagem e Ação Docente.
2
Pedagoga Rede Pública Estadual do Paraná. Especialista em Psicologia da Infância; Didática e
Metodologia de Ensino e Educação de Pessoas com Necessidades Especiais na Educação Inclusiva.
Professora PDE turma 2009-2010.
a superação das dificuldades é preciso que os profissionais sejam desafiados,
mobilizados e sensibilizados a perceberem suas fragilidades e expressarem suas
dúvidas, relacionando os conteúdos de ensino à prática social, suas necessidades,
problemas e interesses, em um contexto de confiança recíproca entre professor e
pedagogo.
Isso pressupõe a formação de profissionais que compreendam, aprofundem e
enriqueçam suas concepções pedagógicas, ressaltando e favorecendo o diálogo que gere
confiança e possibilite a relação entre esses profissionais, caminhando no sentido do
crescimento coletivo e na busca constante de respostas para os problemas enfrentados
na prática pedagógica ( FREIRE, 1996).
Dessa forma, é preciso conhecer a opinião dos atores envolvidos nos processos
educativos,
seus
interesses,
suas
expectativas,
seus
problemas
e
posturas
correspondentes, bem como a disposição para aderirem a novas propostas, criando ou
fortalecendo espaços de participação. Portanto, é preciso que o pedagogo, com
responsabilidades política e social, no exercício de suas funções enquanto mediador no
processo de operacionalização dessas ações, contribua para conscientização de todos, no
sentido de que os atores sintam-se responsáveis e colaboradores na concretização de um
currículo de qualidade.
Essa perspectiva implica em redefinir o papel político da escola atrelado ao seu
papel pedagógico, direcionando sua prática com intencionalidade, coerência e
transparência, firmando um compromisso político no sentido de garantir que o processo
educativo esteja a serviço da transformação social necessária, satisfatória e significativa.
A problemática levantada aponta para uma reflexão sobre o papel do pedagogo
no interior da escola, direção na qual a presente pesquisa, quanti-qualitativa, objetiva
contribuir.
O PAPEL DO PEDAGOGO NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ESCOLAR
As novas realidades econômicas e sociais, os avanços tecnológicos na
comunicação e informação e os novos paradigmas de conhecimento exigem do
pedagogo uma nova postura sobre a natureza e especificidade do seu papel na escola
pública. Enquanto articulador de caminhos, o pedagogo precisa favorecer a busca e a
consolidação de ações coletivas que permitam reorganizar e democratizar os espaços
educativos, levando em conta o contexto da escola atual e o da escola desejada.
2
Portanto, faz-se necessário ao pedagogo retomar os fundamentos teóricos que
sustentam o processo pedagógico, a fim de compreender a prática escolar e intervir na
realidade educativa. Trata-se de um desafio imprescindível, constituído nos espaços
coletivos de trabalho, de forma a instituir uma outra lógica, que não este modelo
autoritário e excludente muito presente na escola pública e na sociedade capitalista.
Vive-se um momento em que o conhecimento assume novas configurações,
modificando-se e atualizando-se constantemente. A tarefa do pedagogo também se
modifica, pois a memória da humanidade está em contínua reconstrução. Cria-se uma
perspectiva de diálogo e uma abertura na direção da diversidade, e o pedagogo é
chamado a colaborar na formação de um olhar histórico-crítico sobre a realidade, na
construção dessa memória cultural, ajudando a entender esses espaços como instâncias
de identidade própria.
“Uma sociedade democrática só se desenvolve e se fortalece politicamente de
modo a solucionar seus problemas se pode contar com a ação consciente e conjunta de
seus cidadãos” (PARO, 2001, p.35). Assim, o pedagogo, articulador do processo
pedagógico, precisa promover reflexões envolvendo toda equipe escolar, de forma a
apontar caminhos para a superação e/ou minimização das dificuldades enfrentadas,
dinamizando
a
concretização
de
um
currículo
de
qualidade,
interferindo
significativamente na qualidade dos serviços que a escola vem prestando à sociedade,
em uma postura de mão dupla, na qual seu próprio papel seja construído coletivamente.
Nesse caminho, torna-se necessário pensar dialeticamente as fragilidades da
escola, buscando a unidade entre teoria e prática, isto é, a constante reflexão sobre a
prática cotidiana à luz de conhecimentos teóricos que instrumentalizam um fazer mais
coerente, para compreender as relações que envolvem esse processo, fortalecendo a
perspectiva de transformação da realidade do contexto escolar, uma vez que a “... teoria
é um momento necessário da práxis: e essa necessidade não é um luxo: é uma
característica que distingue a práxis das atividades meramente repetitivas, cegas,
mecânicas, abstratas” (KONDER, 1992, p.116).
No entanto, o pedagogo também é refém das circunstâncias que envolvem o
processo educativo, sendo necessários reflexão e fundamentos teóricos que o auxiliem
na tomada de consciência da realidade e de sua própria formação, com vista a um
movimento crescente de ampliação das perspectivas de compreensão do papel da
educação, para realizar o seu trabalho de forma mais consistente e provocativa. Como
destaca Duarte (2006, p.10).
3
Devemos lutar por uma educação que transmita aqueles
conhecimentos que, tendo sido produzidos por seres humanos
concretos em momentos históricos específicos, alcançaram validade
universal e, dessa forma, tornaram-se mediadores indispensáveis na
compreensão da realidade social e natural o mais objetivamente que
for possível no estagio histórico no qual se encontra atualmente o
gênero humano.
Para evitar uma ação insuficiente, inadequada, pouco expressiva, espera-se que o
pedagogo desafie e mobilize as diferentes áreas do conhecimento, responsabilizando-se
em consonância com os educadores pelo desenvolvimento das potencialidades,
favorecendo uma educação com maior satisfação individual e melhor convivência
social. Nessa perspectiva, o pedagogo contribuirá no sentido de provocar a interação
docente, despertando o desejo de atuar de forma inovadora, criativa e segura,
possibilitando aflorar o ânimo para romper com a rotina cansativa que apaga o desejo de
aprender dos educandos.
Exige-se, portanto, que o pedagogo exerça uma liderança atuante, a qual
favoreça e promova parcerias para formação de grupos de estudos, fortalecendo a
interação, inspirando uma equipe de trabalho eficiente em busca da construção
competente, pessoal e profissional, valorizando o essencial e o prioritário dentro do
espaço escolar, acarretando melhoria no processo pedagógico. É necessário que a
equipe pedagógica e os professores
[E] empenhem-se no domínio das formas que possam garantir às
camadas populares o ingresso na cultura letrada, vale dizer,
apropriação dos conhecimentos sistematizados. E, no interior das
escolas, lembrem-se sempre de que o papel próprio... [S]será provê-las
de organização tal que cada criança, cada educando, em especial
aquele das camadas trabalhadoras, não veja frustrada a sua aspiração
de assimilar os conhecimentos metódicos incorporando-os como
instrumento irreversível a partir do qual será possível conferir uma
nova qualidade às suas lutas no seio da sociedade (SAVIANI, 1985,
p.27-8).
O pedagogo precisa sensibilizar-se com os problemas humanos, aventurar-se
equacionando a essência da prática educativa, alargando o sucesso, inibindo o
desperdício de esforços e de tempo, remetendo-se à definição essencial de sua ação.
Conceber mudanças em consonância e com a colaboração dos profissionais da
educação, incentivando-os a buscarem o crescimento, valorizando e reconhecendo esse
processo. Fortalecer a equipe apreciando, sublinhando, valorizando, credenciando e
possibilitando a realização das ações estabelecidas. Acreditar nas possibilidades e
4
implementação de propostas de enfrentamento aos problemas apresentados. Cultivar a
cumplicidade e a aventura em assumir as decisões tomadas coletivamente, incentivando
o estudo e a pesquisa visando o aperfeiçoamento profissional.
As ações que podem ser implementadas são ilimitadas e, com certeza, precisam
da ousadia e da coragem de todos aqueles que sonham com uma escola que promova o
acesso ao conhecimento historicamente acumulado. Para subsidiar estudos que
provoquem e estimulem novas formas de compreender o trabalho do pedagogo no
contexto escolar, envolvendo formas de enfrentamento e possibilidades de ação para os
professores junto aos seus alunos, a presente pesquisa objetivou investigar como os
educadores de uma escola percebem o trabalho do pedagogo. Dialogar sobre suas
fragilidades poderá favorecer o desenvolvimento de uma proposta pedagógica que
contribua efetivamente para a concretização de um currículo de qualidade.
PESQUISA DE CAMPO
Buscou-se analisar qual a concepção que os educadores - atuantes em uma
escola estadual de Ensino Fundamental e Médio situada em um município da região
Oeste do Paraná – apresentam, quanto às contribuições do Pedagogo e aos fatores que
dificultam sua organização e sua ação no cotidiano escolar.
Os dados foram coletados por meio de um questionário envolvendo três questões
referentes aos objetivos da pesquisa. Foram entregues 38 questionários, dos quais foram
respondidos e devolvidos 35, num total de 45 educadores que trabalhavam na escola.
Participaram da pesquisa: 75% (30) do conjunto dos professores, 100% (3) dos
representantes da Equipe Pedagógica e 100% (2) da Direção.
As questões foram respondidas por escrito, individualmente e sem consulta,
estando os professores organizados em uma das salas de aula do estabelecimento de
ensino. E os dados coletados foram tabulados e organizados em grupos percentuais por
categorias estabelecidas a partir das respostas dos sujeitos, utilizando-se a metodologia
do Discurso do Sujeito Coletivo (LÉFEVRE, 2005).
5
Resultados
A contribuição do pedagogo na organização do trabalho escolar
Quanto à visão dos educadores sobre a contribuição do Pedagogo na organização
do trabalho escolar, os dados coletados foram classificados em três grupos. Cinqüenta e
quatro por cento dos participantes colocaram a atuação do pedagogo na escola como um
todo, envolvendo ações dentro e fora da sala de aula. Vinte e nove por cento dos
sujeitos referiram-se à atuação do pedagogo apenas dentro da sala de aula, ressaltando o
atendimento ao professor na elaboração do planejamento e aos alunos. E, 17% dos
sujeitos entenderam que o pedagogo auxilia em todas as atividades do cotidiano escolar.
Com relação ao primeiro grupo (54%), os resultados demonstram que esses
educadores viram o PPP como um referencial que orienta as ações do pedagogo,
considerando que a maior parte da sua carga horária está investida em ações que buscam
efetivar o Projeto Político Pedagógico da escola, uma vez que o pedagogo “coordena,
acompanha e sistematiza as propostas de ações referentes ao Projeto Político
Pedagógico, Regimento Escolar e Proposta Pedagógica Curricular” (sic).
Compreenderam a escola como mediadora do conhecimento para um processo
de emancipação humana, um caminho para a transformação social. Isso implica
contemplar o papel político da escola em consonância com seu papel pedagógico, um
compromisso que garanta o processo de ensino-aprendizagem em favor da
transformação necessária, pois “o Pedagogo é muito importante para a organização do
trabalho escolar, move o espaço escolar, é um mediador entre as ações de todos os
envolvidos no processo de aprendizagem” (sic).
Portanto, ficou evidente que, para estes sujeitos, o Pedagogo está envolvido com
os encaminhamentos explícitos no Projeto Político Pedagógico, um instrumento que
descreve e revela a escola para além de suas concepções e intenções sistematizadas na
forma de organizar do trabalho da escola.
O segundo grupo de sujeitos participantes da pesquisa (29%) restringiu a
contribuição do Pedagogo à sala de aula e ao apoio ao aluno. O pedagogo: “Atende,
assessora, e encaminha, quando necessário, para especialistas os alunos com
dificuldades de aprendizagem, bem como faz acompanhamento dos alunos faltosos,
elaborando e coordenando propostas de intervenção pedagógica”. “Contribui de varias
6
formas intermediando conflitos entre os alunos, os problemas de aprendizagem e
auxiliando os professores”.
Essas respostas revelam algum resquício da concepção que reproduzia a
fragmentação das relações de trabalho, centrada numa ação dual do pedagogo como
orientador educacional ou supervisor de ensino, lógica tecnicista que trazia presente a
conotação de que o pedagogo estava unicamente como orientador educacional,
responsável pelo atendimento aos alunos com baixo desempenho na aprendizagem, pelo
controle da disciplina e pelo acompanhamento dos alunos faltosos, ou verificando e
auxiliando o professor quanto ao planejamento de suas aulas. Visão que descaracteriza
a perspectiva da formação do pedagogo generalista, trabalhando no e com o coletivo
escolar, conforme prevê o Projeto Político Pedagógico da escola.
O terceiro grupo de sujeitos (17%) atribuiu ao pedagogo total responsabilidade
sobre o processo de organização do trabalho pedagógico da escola. Apresentou uma
visão exageradamente otimista, portanto ilusória, no sentido de que o pedagogo seria
aquele que auxiliaria “em todas as atividades do cotidiano escolar”, o que acaba por
dificultar o desenvolvimento de suas reais atribuições. Respostas como as que seguem,
expressam a dificuldade destes sujeitos em compreender o fazer pedagógico como ação
coletiva e não unicamente centrada na atuação do pedagogo: “Presença fundamental
para o bom funcionamento escolar, sem ele o professor não consegue contornar uma
gama de problemas surgidos durante o trabalho”. “Não imagino a escola sem o auxilio
do pedagogo, todas as atividades e o andamento da escola são propostos por ele”. “São
essenciais para a harmonia no ambiente escolar”.
Essas respostas parecem desconsiderar que a responsabilidade da construção e
efetivação do Projeto Político Pedagógico é de toda a comunidade escolar, no sentido de
superação dos conflitos rompendo com a rotina que permeia as relações na escola.
Fica evidente na pesquisa que a diversidade de atividades que o pedagogo
desenvolve no cotidiano escolar, ocupa a maior parte de seu tempo: “... inúmeras
vezes ... o pedagogo necessita agir como assistente social para amenizar situações que
interferem em sala de aula, mas que são pertinentes a outros segmentos da sociedade”
(sic).
Os dados revelam que a maioria dos sujeitos traz presente a concepção de que o
trabalho do pedagogo envolve o apoio ao docente na implementação da proposta
curricular, sendo sua presença fundamental na organização das práticas pedagógicas e
7
na concretização das ações propostas, mediando o processo expresso nos atos do ensino
e da aprendizagem, de forma a garantir a consistência das ações pedagógicas. Isso
implica contemplar o papel político da escola em consonância ao seu papel pedagógico,
um compromisso que garanta o processo de ensino-aprendizagem em favor da
transformação necessária, pois “o Pedagogo é muito importante para a organização do
trabalho escolar, move o espaço escolar, é um mediador entre as ações de todos os
envolvidos no processo de aprendizagem” (sic).
Entretanto, há que ter prudência na análise. Um professor afirmou, por exemplo,
que o pedagogo “Estimula, auxilia, sugere formas metodológicas que contribuem para o
planejamento e consequente melhoria na prática do professor em sala de aula, visando o
desenvolvimento do aluno, seus progressos e necessidades de intervenção pedagógica”.
À primeira vista, poderia parecer que a expressão “intervenção pedagógica” referir-se-ia
ao auxílio do pedagogo nas questões metodológicas de suas aulas, entretanto, a prática
revela que, na verdade, quando os professores referem-se ou solicitam essa intervenção,
entendem-na como uma orientação diretamente aos alunos.
Notou-se uma maior preocupação docente com a questão da aprendizagem
discente, revelando um avanço quanto à compreensão do papel da escola, destacando
ações como o auxílio no processo de aprendizagem e junto aos casos de dificuldades
(5), a comunicação às famílias no caso de alunos ausentes (2). Entretanto, ainda um dos
participantes destacou a disciplina como o principal foco da atuação do pedagogo, e três
– portanto cerca de 10% do total de professores - afirmam que o pedagogo “atende,
assessora e encaminha, para especialistas os alunos com dificuldades de
aprendizagem”, parecendo não assumirem o próprio papel enquanto docentes desses
alunos.
Os resultados apresentados evidenciam a forma como os educadores vêem a
atuação do Pedagogo no cotidiano da escola pesquisada. Verificou-se que o Pedagogo
tem direcionado sua função a questões de apoio ao Projeto Político Pedagógico,
Proposta Pedagógica Curricular, Regimento Escolar, assessoramento ao aluno e à
família. Entretanto, a contribuição do Pedagogo no Atendimento ao Trabalho Docente
só foi especificamente citada por 14% dos sujeitos pesquisados, revelando ser
necessário que o pedagogo dê mais atenção à organização dessa ação, enquanto suporte
no atendimento sistematizado à prática pedagógica de sala de aula, que envolve os atos
de ensinar e de aprender.
8
A situação vivenciada pelos sujeitos da pesquisa quanto à função do Pedagogo,
vincula-se a um processo histórico que produziu instabilidade na sua real definição. A
referência que possuem para definir essa atuação é aquela que presenciam em sua
prática cotidiana, uma visão parcial de suas reais atribuições. Relatam que o pedagogo
exerce a função de disciplinador do aluno e cumpridor de ações burocráticas, não
conseguindo momentos oportunos para esclarecer sua função e refletir a prática
pedagógica e assim estabelecer as relações necessárias para o cumprimento de sua tarefa
tendo por suporte o Projeto Político Pedagógico.
Os dados revelam que os professores reconhecem o trabalho dos pedagogos que
atuam na escola, na busca constante de superação das situações cotidianas complexas
que exigem constante tomada de decisão. O que necessita ser construída é a visão de
ação coletiva, em que todos os sujeitos se percebam responsáveis e comprometidos na
efetivação do projeto político pedagógico enquanto identidade da escola.
Fatores que dificultam o trabalho do Pedagogo
Quanto à contribuição dos diferentes atores do sistema escolar dificultando o
trabalho escolar do Pedagogo, os dados obtidos possibilitaram a organização de seis
categorias: Professores (42%), pedagogos (30%), alunos (15%), sistema (15%), gestão
(5%) e pais (1%).
a)Entre os aspectos relacionados ao Pedagogo destacam-se a “falta de
planejamento em suas atividades”, que aparece como decorrência da “falta de domínio
teórico – prático da função do pedagogo”, roubando-lhe “autonomia” e “dificultando a
organização do trabalho coletivo” e “centralizando o trabalho no pedagogo” e em alguns
casos gerando “descompromisso” (causa ou consequência?) e “insegurança” no próprio
pedagogo. Os sujeitos apontam, ainda, problemas de relacionamento interpessoal
envolvendo “falta de diálogo e de respeito”.
Os aspectos levantados pelos docentes revelam que muitos deles se ressentem da
falta de um trabalho com o coletivo escolar, citando especificamente esse aspecto ou
apontando como negativa a centralidade do trabalho no pedagogo, abrindo assim uma
brecha para que novas formas de encaminhar a questões pedagógicas sejam discutidas
no coletivo escolar.
b) Quarenta e dois por cento dos educadores apresentam questões referentes ao
professor como fatores que dificultam o trabalho do pedagogo. Desses, 36% citam o não
9
compromisso e as faltas docentes, obrigando o pedagogo a substituí-los em sala de aula.
Os outros 6% apontam aspectos do relacionamento interpessoal, como “não tolerância
com relação aos alunos” e “inflexibilidade em aceitar sugestões”. Apontam ainda,
desconhecimento da função do pedagogo.
c) Quinze por cento dos fatores mencionados pelos educadores dizem respeito ao
tempo que o pedagogo utiliza trabalhando com alunos: acompanhamento dos faltosos e
contatos com o Conselho Tutelar (8%), indisciplina e falta de respeito dos alunos em
relação os pedagogos (7%) e desinteresse discente (1%).
d) Alguns fatores citados referem-se a aspectos relacionados ao sistema escolar
(15%). A burocracia (7%) é o fator mais freqüente neste grupo, sendo que os demais
(10%) fatores apontados são: “poucos pedagogos”, “troca de professores” e
“desorganização do sistema” e “falta de uma política de formação profissional
continuada”.
e)Cinco por cento dos fatores apontados referem-se à gestão “autoritária”, ao
“não cumprimento do regimento escolar” e à “falta de apoio aos pedagogos”.
e) Apenas 1% dos educadores aponta como fator impeditivo ao trabalho do
pedagogo a não participação da família e sua não colaboração nas atividades escolares.
O pedagogo em sua prática cotidiana realiza inúmeras atividades envolvendo
diferentes pessoas com pequenas tarefas do cotidiano escolar, que requerem
atendimento imediato. Ressignificar esse trabalho, exige que o pedagogo lidere uma
prática escolar coletiva orientada pelo projeto político pedagógico que caracteriza a
organização da escola. Os aspectos levantados pelos pesquisados apresentam problemas
que a escola vem vivenciando e que exigem discussão e tomada de posição nesse
coletivo.
É necessário que o Pedagogo continue se aperfeiçoando, na perspectiva da
formação continuada, favorecendo seu reconhecimento frente aos demais colegas, aliás
formação essa necessária a todos que atuam na área de Educação.
Nota-se, que os professores reconhecem a importância do trabalho coletivo e de
um relacionamento adequado para consolidação do trabalho do Pedagogo, evidenciando
fatores que envolvem esses aspectos, como: aceitação, diálogo, respeito e
responsabilidade, ética, criatividade, organização, gestão democrática, autonomia,
formação continuada através de grupos de estudos, fundamentação teórica,
planejamento, assessoramento a docentes e discentes. É relevante esse destaque para o
10
trabalho coletivo e os aspectos de relacionamento, pois é necessário envolvimento e
compromisso de todos para que o processo educacional desenvolvido pela escola se
efetive.
Considerações finais
Numa abordagem que retrata a atuação do pedagogo na escola pública, apontase como foco de preocupação suas atribuições, destacando que não é tarefa fácil de ser
realizada, uma vez que educação é processo e, portanto vem pautada na concretização
de um currículo de qualidade. Isso implica em um trabalho responsável, necessitando
começar por determinar as atribuições do pedagogo na escola, para que a partir dessas
considerações se possam atender e assessorar os envolvidos no âmbito escolar.
Além disso, importa reforçar o estabelecimento de padrões de qualidade a serem
alcançados por meio de metodologias integradas com os objetivos da escola e ao mesmo
tempo desenvolver processos coletivos de organização do trabalho pedagógico que
permitam subsidiar a efetiva realização das ações propostas.
Neste sentido, para que o pedagogo possa desenvolver seu trabalho, é necessário
vincular à resolução de problemas reais, a construção de novas atitudes e ações,
acompanhadas de atividades reflexivas e teóricas, buscando a unidade entre teoria e
prática. As discrepâncias no processo de aprendizagem exigem diferentes formas de
ensinar. Assim, o que se espera dos educandos deve-se esperar dos educadores, o
envolvimento sincronizado na busca de consolidar uma formação adequada e acessível.
A escola já está acostumada a desempenhar seu ofício, por meio de
procedimentos cristalizados, o que exige que o Pedagogo questione e dê suporte para a
construção de uma estrutura pedagógica propícia à realização dos fins sociais da
educação, favorecendo a participação dos diferentes grupos envolvidos neste processo,
enquanto emancipação dos sujeitos históricos que o constituem, possibilitando-lhes
ampliarem a visão de mundo em uma perspectiva de totalidade.
Para isso, é preciso definir a especificidade e natureza do trabalho pedagógico,
distinguindo a competência das funções de cada membro, de forma que cada integrante
do grupo seja comprometido, assumindo com coerência e responsabilidade suas ações,
vinculando-as a um resultado que contribua positivamente para uma formação de
qualidade. Mudanças e inovações no ensino exigem uma reflexão crítica sobre o valor
educativo que apresentam, pautada nas transformações sociais desejadas.
11
A pesquisa revelou que o pedagogo realiza inúmeras tarefas durante seu período
de trabalho, as quais deveriam ser planejadas e organizadas coletivamente, levando em
consideração as necessidades do processo pedagógico, a divisão do trabalho
burocrático, o atendimento às famílias e o assessoramento pedagógico aos alunos e
professores quanto às questões pedagógicas. Para dar um atendimento condizente a essa
realidade, exige-se um profissional com disponibilidade para o atendimento. Trabalho
que exige tempo integral do Pedagogo, pois tanto as tarefas práticas quanto as
burocráticas são bastante complexas e exigem dedicação contínua.
As discussões pedagógicas devem envolver o coletivo escolar que busca suporte
junto ao Pedagogo para orientar suas ações, tendo como pressuposto o Projeto PolíticoPedagógico da escola. Com esse enfoque, o Pedagogo precisa ressignificar e
redimensionar sua prática, de forma que o trabalho seja voltado à obtenção de melhores
resultados para se chegar a esse currículo de qualidade. Para que isso ocorra são
necessárias condições que possibilitem ao Pedagogo, apoiado em um referencial
teórico, delimitar o seu espaço de trabalho e seu campo de atuação, comprometendo
nesse trabalho os profissionais a serem atendidos, considerando a real necessidade do
contexto educativo.
É importante, ainda, considerar o atendimento à formação continuada e
específica dos diversos profissionais da escola, o qual exige busca constante de formas e
metodologias para um bom planejamento pedagógico. Nesse sentido, outro aspecto a
considerar é a criação de espaços para estudos no próprio ambiente de trabalho,
buscando na teoria, a partir da prática, responder às questões relevantes ao seu papel na
escola. Para isso, é importante organizar um cronograma que atenda tal aspecto, por
meio de horas de estudos, garantindo ao pedagogo e aos professores a formação
continuada em serviço e o assessoramento pedagógico no plano de trabalho docente
com a perspectiva de qualidade, enriquecimento e responsabilidade no processo
histórico de educação.
A conquista de melhor qualidade de vida, de realização humana e de formação
de pessoas críticas e participantes é feita desde os conceitos de mundo, de sociedade, de
homens e de Educação. Antes de pensar em mudanças relativas aos alunos e
professores, os questionamentos devem estar voltados a que tipo de escola se quer e se
pode promover. O que também implica a contribuição do Pedagogo, sua participação
nas discussões e tomada de decisão, vinculando-as à análise crítica das necessidades do
contexto histórico-social.
12
Portanto, é dentro da categoria da totalidade, que se deve pensar a prática e
atuação do pedagogo, para que este profissional responda às reais necessidades da
escola, visando resgatar a natureza e especificidade de seu trabalho, comprometido com
o fazer pedagógico definido em suas atribuições na escola pública.
REFERÊNCIAS
DROUET,Ruth Caribe da Rocha. Distúrbios de Aprendizagem. São Paulo: Ática,
2006.
DUARTE, Newton. Vigotski e o “Aprender a Aprender”: Critica ás aproximações
neoliberais e pós-modernas da teoria vigotiskiana. Campinas: Autores Associados,
2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à pedagogia. S.P.: Paz
e Terra, 1996.
KONDER, Leandro. O Futuro da Filosofia da Práxis. O Pensamento de Marx no
século XXI. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1992.
LEFÉVRE, Fernando. LEFÉVRE, Ana Maria Cavalcanti. O Discurso do Sujeito
Coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caixas do
Sul : EDUCS, 2005.
PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre Educação. São Paulo: Xamã, 2001.
_______ Reprovação Escolar: renuncia á educação. São Paulo: Xamã, 2001.
SAVIANI, Demerval. Sentido da Pedagogia e papel do pedagogo. In: Revista da
ANDE, São Paulo, nº. 9, p.27-28, 1985.
13
Download

fatores que dificultam a ação do Pedagogo na