Título: PROFESSOR ESPECIAL - RAZÕES PESSOAIS QUE O MOTIVAM NA
SUA AÇÃO PEDAGÓGICA
Área Temática: Educação Especial
Autores:
GLAUCIMARA
PIRES
OLIVEIRA (1),
SORAIA
NAPOLEÃO
FREITAS (2) e REINOLDO MARQUEZAN (3)
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria
Este estudo consiste numa investigação que está sendo realizada com
um grupo de professores licenciados em Educação Especial - Hab. Deficiência
Mental, atuantes na Rede Municipal de Ensino da cidade de Santa Maria/ RS.
O objetivo principal baseia-se no conhecimento das "razões pessoais"
que motivaram estes professores a optarem por uma profissão que trabalhasse
diretamente com portadores de deficiência e as implicações desta escolha na
prática pedagógica. A partir desta contextualização, podemos entender melhor
o Imaginário Social destes professores em relação a docência e a própria
Educação Especial, assim como as influências ocorridas na opção pela
profissão.
Historicamente, somente após a metade do século XX é que o portador
de deficiência começou a ter seus direitos de cidadania adquiridos, não sendo
mais rotulado como incapaz e inválido, principalmente no que se refere a
Educação. Neste momento começam a surgir as idéias de Integração,
originárias da Escandinávia, concebendo que "todas as pessoas portadoras de
deficiência têm direito de usufruir condições de vida o mais comum ou normais
possíveis na comunidade onde vivem" (Glat, 1995: 12).
Dentro dessa proposta de Integração, estão os profissionais que atuam
nesta realidade, promovendo uma melhor interação entre deficiente e
sociedade. O Educador Especial insere-se como elo importante, responsável
pela área educacional, indispensável para o desenvolvimento de qualquer ser
humano.
Mas o que levam estes profissionais a mediarem esta situação? Ensinar
os que possuem maior dificuldade em aprender, onde os "resultados" muitas
vezes são mais lentos e gradativos? Quais as finalidades da Educação
Especial, e da Educação em geral para estes profissionais ? E para os
educandos ?
Procurando responder a estes questionamentos, tornou-se necessário
um estudo que permeasse as significações destes profissionais em relação a
profissão, principalmente à época da escolha profissional e formação
acadêmica. Conhecer os motivos que nos encaminham a uma atividade,
certamente nos revela de modo mais consciente a nossa prática profissional,
desde a sua fundamentação até como ocorre: nos sonhos, frustrações ...
Segundo GLAT (1995:34):
Talvez a chave da questão esteja justamente no desafio que o deficiente
representa (...) A necessidade de ter que constantemente romper com os
limites de habilidades e conhecimento. O deficiente nos permite acreditar que
somos, se não onipotentes, pelo menos bastante poderosos. Afinal, nos
propomos a ensinar o cego a se locomover sozinho, o surdo a se comunicar
verbalmente, o deficiente mental a ler e a escrever.
Muitas suposições se tem a este respeito, tais como o desafio da
excepcionalidade, a questão filantrópica, a 'pena', o acréscimo salarial, etc.
Mas é necessário uma análise mais profunda dessa questão, pois é a partir
dela que se norteará todo o processo educacional direcionado a essa
população.
Como referencial teórico, o estudo do Imaginário Social possibilita uma
melhor aproximação entre os questionamentos e os significados abordados,
elucidando de maneira mais coerente estas temáticas.
Para CASTORIADIS (1982:154):
(...) falamos de imaginário quando queremos falar de alguma coisa
"inventada" - quer se trate de uma invenção absoluta ("uma história inventada
em todas as suas partes") ou de um deslizamento, de um deslocamento de
sentido, onde os símbolos já disponíveis são investidos de outras significações
normais ou canônicas (...)
Partindo-se para as dimensões do instituído, como o que já está dado,
sancionado, que faz parte do coletivo; do instituinte, pela capacidade de
criação e mudança e do imaginário radical, onde está o campo da criação e
modificação da realidade, podemos relacioná-las à escolha profissional, à
docência, ao professor como pessoa e como 'professor'. Através do Imaginário
Social, podemos conhecer estas imagens, instituídas e instituintes sobre a
profissão, imagens estas que muitas vezes estão escondidas, obscuras, mas
que interferem no processo pedagógico, influenciando na autoestima, nos
desejos, nas realizações.
Ao falarmos sobre nossa vida, seja ela profissional ou não, nos
remetemos ao passado, contextualizando fatos, datas, histórias, situações que
certamente interfiriram de forma singular a cada momento e que possuem
significações próprias.
Segundo MICHAEL HAUBERMAN (1995: 55)
É evidente que a pessoa que mais sabe de uma dada trajetória
profissional é a pessoa que viveu. Do mesmo modo, a maneira como essa
pessoa define as situações com que se viu confrontada desempenha um papel
primordial na explicação do que se passou.
Nada melhor do que a própria pessoa relatar sobre as suas lembranças,
sua memória, seu passado. Peculiaridades que pertencem somente a sua vida,
a sua história, mas que se fazem presente numa escolha, na relação com o
outro e na interação estabelecida em torno de sua função.
Quanto ao tipo de Pesquisa, caracteriza-se pelo cunho Qualitativo, por
considerá-la a mais adequada ao estudo do problema abordado. Acompanham
de modo eficiente as necessidades do processo , necessitando de um estudo
naturalístco, de dados coletados basicamente descritivos, a perspectiva dos
participantes é muito importante, seguindo um processo indutivo.
Também é considerada um estudo de caso, devido a necessidade de
descoberta, na interpretação do contexto, na necessidade de se retratar a
realidade de forma ampla e completa, na variedade de fontes de informação,
assim como na representação dos diferentes e conflitantes pontos de vista.
Como metodologia, utilizou-se os recursos da História Oral de Vida,
"como o próprio nome indica, trata-se da narrativa do conjunto da experiência
de vida de uma pessoa" (MEIHY, 1996: 35). Os instrumentos basearam-se em
entrevistas semi- estruturada, onde os professores relataram oralmente como
aconteceu a escolha pela profissão.
A entrevista, realizada individualmente, desenvolveu-se em três
momentos distintos: no primeiro momento abordou-se o Aspecto Familiar, onde
foram descritas a convivência com deficientes na família ou no cotidiano social
e as influências destes na formação; num segundo momento o Aspecto
Escolar, com relação ao percurso acadêmico (1° e 2° Graus) e as experiências
com portadores de deficiências nestes momentos; por último a Formação
Profissional e Atuação, referindo-se mais especificamente a escolha e o
processo de formação e atuação.
Com relação a este processo, as etapas da entrevista, nos
referenciamos aos estudos MEIHY (1996: 35), abordando que:
A periodização da vida do entrevistado é um recurso importante, visto
que organiza a narrativa acima com fatos que serão considerados em
contextos vivenciais. A personalização do enquadramento da narrativa deve
valorizar os vetores que e indicam a história do indivíduo como centro das
atenções.
Na realização das entrevistas, salientamos que foi importante a
sistematização dos questionamentos, pois o professor ao relatar sobre a sua
história de vida profissional, relaciona-a a fatos e significações pessoais,
assuntos onde datas e momentos históricos são muitas vezes fatores
determinantes.
A aproximação com os professores, num total de 12 profissionais da
área de Educação Especial, ocorreu através da Secretaria Municipal de
Educação da cidade de Santa Maria. Dentro deste Setor Administrativo,
desenvolve-se um Projeto com a temática sobre 'A Educação Especial no
Ensino Municipal ', intitulado A Intervenção do Educador Especial e do
Orientador Educacional nas Séries Iniciais, onde 12 Escolas Municipais estão
inseridas.
Ao procurar estes professores, convidando-os a participarem desta
pesquisa, todos tornaram-se receptivos, aceitando a contribuírem com os
dados, sugestões e críticas.
Mesmo não estando concluída, o que deverá ocorrer até o final do 2°
semestre de 1999, a mesma encontra-se na fase de análise e categorização
dos resultados, já que as transcrições das entrevistas estão em fase de
encerramento.
Notas
(1) Acad. do Curso de Especialização em Educação Especial - UFSM/RS. Av.
Itaimbé,2888 Apt. 102, bl. 2 - Santa Maria - RS - CEP 97030-450
(2) Professora Orientadora - PPGE/UFSM/RS. Rua Tuiuti, 1897 - Apt. 103 Santa Maria - RS - CEP 97015-663 Fone (055) 222-2120
(3) Professor Co-Orientador - UFSM/RS.
Referências bibliográficas
CASTORIADIS, Cornelius. A Instituição Imaginária da Sociedade. Paz e Terra,
3ª ed. 1982.
GLAT, Rosana. Questões Atuais em Educação Especial: A Integração Social
dos Portadores de Deficiência : uma reflexão. Sette Lretras, Rio de Janeiro, RJ.
1995.
LUDKE, Menga. ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens
Qualitativas. E.P.U. São Paulo, SP. 1996
MEIHY, Carlos Sebe Bom. Mnual de História Oral. Loyola, São Paulo, SP.
1996.
HUBERMAN, Michael. Ociclo de Vida Profissional dos Professores. In NÓVOA,
António (org). Vida de Professores 4. Porto, Portugal. 2ª ed. 1995.
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