PROJETO RESGATE: buscando novas soluções para velhos
problemas
Olíria Sandim de Andrade Zuque –Diretora do CEI Nossa Senhora
Aparecida – Rede Municipal de Ensino de Três Lagoas/MS –
[email protected]
Urbano Rodrigues Azambuja –Diretor da Escola Municipal Professora
Elma Garcia Lata Batista – Pólo e Extensão - Rede Municipal de Ensino de Três
Lagoas/MS – [email protected]
BUSCANDO NOVAS SOLUÇÕES PARA VELHOS PROBLEMAS
A onipotência juvenil faz parte natural do
desenvolvimento. Tanto mais grave será quanto mais baixa estiver a
auto-estima do adolescente.
(Içami Tiba)
É expressivo o índice de agressividade e violência que invade as salas de
aula, causando transtornos na aprendizagem, repetência e um grande desconforto
nos educadores e em toda a comunidade escolar.
O alto índice de repetência e evasão escolar e os inúmeros casos de
indisciplina dentro da escola possibilitou um grupo de profissionais da educação a
uma reflexão sobre os motivos que levam os alunos do ginásio a apresentar esse
comportamento.
No ano de 2006, coordenação pedagógica e professores da Escola Municipal
“Parque São Carlos”, do município de Três Lagoas/MS, criou uma estratégia para
enfrentar essas questões que implica em capacitar jovens e adolescentes a se
apoderar dos bens sociais que são seus por direito, através do acesso as políticas
públicas e aos demais mecanismos podendo ser utilizados por eles para transformar
a comunidade em que estão inseridos, transformando-se, também, a si mesmo.
O PROJETO RESGATE foi utilizado como instrumento interdisciplinar de
prevenção e intervenção para as situações apresentadas dentro do ambiente
escolar.
Com base no livro A Auto-Estima Se Constrói Passo a Passo de Lúcia
Moyses, a Coordenação Pedagógica e um dos professores de Educação Física de 5a
a 8a séries (atualmente correspondem 6º ao 9º ano), desenvolveram um trabalho
centrado na busca de motivos que oferecessem pistas para a solução dos problemas
apresentados pelos alunos.
OBSERVAÇÃO E PESQUISA FORAM OS PRIMEIROS PASSOS
Mais do que nunca, precisamos desenvolver em nós a
consciência de que, apesar das divergências, somos iguais na nossa
humanidade. E isso começa, sem dúvida, com pessoas que
respeitam a si mesmas.
(Moysés)
A escola recebe toda a carga cultural que o aluno traz do seio familiar e não
pode ficar passiva apenas na observação dos fatos. Ela deve ser um dos
instrumentos e o eixo central para a adoção de uma nova perspectiva de prevenção
e reversão dos altos índices de repetência e evasão escolar que causam insatisfação
e desvalorização do indivíduo gerando a agressividade e a violência dentro e fora da
unidade escolar.
Alunos com vários anos de repetência na 5a série foi uma das primeiras pistas
para encontrar as causas da indisciplina dentro da sala de aula, pois, além de não
conseguir acompanhar a turma, a cada ano que passava sentia-se ainda mais velho,
fora da idade dos outros alunos provocando grande desconforto para nós, já que
temos nossas responsabilidade como educadores e para eles gerando
comportamentos inconvenientes aos padrões escolares.
Mesmo os alunos que conseguem completar os oito
anos do ensino fundamental acabam dispondo de menos
conhecimento do que se espera de quem concluiu a escolaridade
obrigatória. Aprenderam pouco e, muitas vezes o que aprenderam
não facilita sua inserção e atuação na sociedade. Dentre outras
deficiências do processo de ensino e aprendizagem, são relevantes o
desinteresse geral pelo trabalho escolar, a motivação dos alunos
centrada apenas na nota e na promoção, o esquecimento precoce
dos assuntos estudados e os problemas de disciplina. (PCN, 2001, p.
29).
Capacitar e promover o educando, oferecendo condições concretas para que
ele possa desenvolver um projeto de vida individual e comunitário através do autoconhecimento e valorização pessoal foi a saída encontrada pelos executores do
Projeto que logo conseguiram adeptos entre os professores das outras disciplinas.
Segundo Souza (2005), é função do coordenador pedagógico a formação
contínua de professores dentro da instituição escolar, pois a mesma é condição para
o exercício de uma educação consciente. Para que os objetivos possam ser
atingidos, deverá ser constituído um grupo com o qual o coordenador pedagógico se
envolva estabelecendo vínculos com os pares e possa desenvolver um trabalho
coletivo.
A BUSCA DO AUTO-CONCEITO NAS ATIVIDADES
INTERDISCIPLINARES
A vida está cheia de desafios que, se aproveitados de
forma criativa, transformam-se em oportunidades.
(Marxwell Maltz)
A interdisciplinaridade vai além do que se refere à organização dos conteúdos.
Caberá ao professor mobilizar tais conteúdos em torno de temáticas escolhidas, de
forma que as diversas áreas contemplem os objetivos do
trabalho e não
representem empecilho para a construção do conhecimento e da identidade do
aluno.
A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes
campos do conhecimento produzida por uma abordagem que não
leva em conta a inter-relação e a influência entre eles __ questiona a
visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a
escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-se,
portanto, a uma relação entre disciplinas. (PCN, 2001, p. 40).
Neste sentido, o Projeto se desenvolveu dando ênfase aos estudos de casos
onde alunos que se sobressaiam dentro do grupo por suas atitudes negativas foram
atendidos mais particularmente. A partir daí todos os temas foram desenvolvidos
dentro dos conteúdos das diversas disciplinas partindo de um Tema Gerador.
Em Educação Física, Educação Artística e Língua Portuguesa foram
tratados os temas auto-estima e as relações interpessoais que discutiu a convivência
familiar, convivência escolar e problemas familiares, aprendizagem e superação de
complexos, comunicação, conflitos, diferenças pessoais, capacidade de adaptação e
trabalho em equipe.
Nas aulas de História, trabalhou-se ética e cidadania, tratando de assuntos
que envolveu o comportamento ético, a violência, marginalidade, drogas, alcoolismo,
preconceito, discriminação, racismo e onde se desenvolveu a campanha solidária
que movimentou toda a escola na arrecadação de alimentos para uma Ong.
Em Ciências, foi trabalhado o auto-conceito, o corpo, a sexualidade, namorar
e ficar, DST/Aids e gravidez precoce.
O meio ambiente e a qualidade de vida foram temas tratados nas disciplinas
de Geografia e Matemática, utilizando a sala de informática em atividades que
desenvolveram assuntos como o uso racional de água e energia elétrica,
preservação ambiental e o impacto do progresso.
Todos esses assuntos foram tratados de forma agradável, através de
palestras, passeios, pesquisas, dinâmicas grupais, construção de mapas e
maquetes, sem prejuízo para o conteúdo da Proposta Didática desenvolvida pela
escola.
A valorização dos alunos começou já no primeiro momento, quando se
escolheu, através de um concurso de desenho, a logomarca que seria utilizada nos
certificados dados aos palestrantes, nas camisetas e outros documentos do Projeto.
Dessa forma, percebemos um engajamento muito grande por parte dos alunos
que ainda se sentiam excluídos, o mesmo acontecendo com os grupos de dança
criados nas aulas de educação Física.
Na recuperação das etapas queimadas com as repetências, o reforço escolar
e acompanhamento pedagógico dos rendimentos bimestrais foram as principais
estratégias de trabalho utilizadas pelo grupo de professores e coordenação
pedagógica.
Os resultados foram surgindo à medida em que os alunos se sentiam
valorizados por terem atendidas as suas necessidades pessoais e emocionais.
Um dos pontos altos do Projeto, foi a ação solidária realizada pelo grupo de
alunos que escolheu uma instituição não governamental que atende pessoas soropositivo e seus familiares. Foram recolhidos gêneros alimentícios, roupas e calçados
envolvendo alunos de 5a a 8a séries dos dois períodos – matutino e vespertino - da
escola.
Um trabalho pautado em atitudes firmes, mas verdadeiras e carinhosas
trouxeram para a escola os pais que foram atendidos com aconselhamento individual
e familiar, a escola com o apoio do Conselho Tutelar responsabilizou a família pela
orientação do filho quanto a sua postura dentro e fora da escola e, essa proximidade
acrescentou maior valorização e confiança nos alunos.
Ao final do ano letivo, as séries atendidas pelo Projeto apresentavam grandes
mudanças no comportamento dos alunos, gerando melhores conceitos e notas
bimestrais, culminando com a aprovação da maioria dos alunos atendidos o que foi
comprovado através de dados estatísticos da Secretaria de Educação e Cultura
elevando a taxa de aprovação em 15% e uma diminuição de 8% na evasão escolar.
LIÇÕES APRENDIDAS: desenvolvendo plenamente atividades educativas
Foi então que compreendi a importância de trabalhar a
auto-estima do aluno antes que ele se desacredite, antes que ele se
cale, antes que ele abandone a escola (...) então é necessário que se
favoreça o desabrochar de personalidades mais autoconfiantes e
seguras.
(Moysés)
Temos claro a idéia de que a auto-estima é o fiel da balança que vai mostrar
o peso das emoções positivas e negativas de uma pessoa e das atitudes tomadas
por ela em certas situações grupais.
Enquanto a rua, e infelizmente a escola é palco onde alguns se destacam,
ainda que por dominar habilidades pouco dignificantes, fundamentadas por um
sentimento de exclusão que lhes tenha calado fundo, contribuindo para que se
considerassem rejeitados e oprimidos, é bem verdade que poder participar de
experiências como essa deve ter se constituído em um momento mágico de suas
vidas, onde puderam mostrar seu valor como pessoas e como membros de um grupo
bem sucedido.
O atual momento por que passa a educação brasileira, marcado pela
autonomia das escolas em relação às suas propostas curriculares, parece estar
propício a novas aberturas.
Estamos convencidos do potencial que trabalhos desse tipo têm para fazer
frente ao sentimento de desvalia que se observa entre os alunos que convivem com
histórias de fracasso. Acreditamos, igualmente, que esse poderá servir de inspiração
para novos trabalhos preocupados com a política de inclusão do ser humano.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais. 3 ed.
Brasília: Secretaria da Educação Fundamental, 2001.
CUIABÁ. Ministério da Previdência e Assistência Social. Programa Agente Jovem
de Desenvolvimento Social e Humano. Cuiabá, 2000.
MOYSÉS, Lúcia. A auto-estima se constrói passo-a-passo. 4 ed. Campinas, SP:
Papirus, 2004.
QUEIROZ, TÂNIA DIAS. Pedagogia de Projetos Interdisciplinares: uma proposta
de construção do conhecimento a partir de projetos. São Paulo: Rideel, 2001.
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