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MÓDULO I - Neuroengenharia:
Definição e Histórico
Estado da arte
A emblemática virada desse milênio tem sido marcada por um consistentemente crescente
interesse da arena acadêmica mundial na área da Neuroengenharia. A expressão desse
movimento se faz observável em diversos aspectos da atividade acadêmica. Por todo o mundo,
sobretudo nos Estados Unidos, foram fundados laboratórios de Neuroengenharia, tais como o
Duke University Center for Neuroengineering. No Brasil, ainda que bem mais tímida, a iniciativa
se realiza em laboratórios especializados como o de Neuroengenharia do Instituto Internacional
de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e o Laboratório de Neuroengenharia
Computacional da Universidade Federal de Santa Catarina (NeuroLab), ou ainda em grupos de
trabalho no âmbito de laboratórios de atuação mais ampla, tais como o Laboratório de
Neurociência Experimental e Computacional da Universidade Federal de São João Del-Rei
(LANEC), o Núcleo de Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais (NNC) e o
Laboratório de Processamento de Sinais e Imagens Médicas da COPPE da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (LAPIS).
Na Europa e nos Estados Unidos, os programas de pós-graduação em Neuroengenharia já
contam com várias turmas de formados, sejam mestres ou doutores. No Brasil, inexistem
programas específicos, mas a linha pode ser pesquisada em programas ligados aos laboratórios
mencionados.
Já o volume, a consistência e o impacto das publicações científicas de Neuroengenharia já
se traduziram em uma massa crítica suficiente para induzir a criação de revistas especializadas,
tais como o Journal of Neural Engineering e o Journal of Neuroengineering and Rehabilitation.
Seus fatores de impacto já são significativos no disputadíssimo mercado editorial científico,
girando em torno de 2,1 a 3,0.
O surgimento de instituições como a Sociedade Internacional de Neuromodulação e a
Sociedade de Estimulação Elétrica Funcional demonstram cabalmente que a área veio para ficar,
completando seu ciclo de maturidade.
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Em particular, no que tange à percepção do público leigo em geral, a Neuroegenharia tem
recebido grande atenção por conta do expressivo destaque que a mídia em geral vem dando ao
assunto. A razão disso é a proporção quase bíblica das possibilidades terapêuticas que se
abriram nesse novo campo. Fazer o paralítico voltar a andar, o cego a ver e o surdo a escutar,
ampliar nossa memória, fazer o download de nossa psiquê, tornar a comunicação entre seres
humanos wireless, curar desordens neuropsiquiátricas e muitas outras idéias estão gradualmente
abandonando o ideário da ficção científica para serem incorporadas na realidade da clínica
medica, através das mãos dos cientistas da Neuroengenharia.
Historicamente, toda a ciência ou tecnologia de enorme impacto na humanidade vira tema
de teorias conspiratórias dignas de Hollywood. A Neuroengenharia foi recentemente eleita pela
IEEE (órgão internacional de engenharia elétrica e eletrônica) como uma das tecnologias capazes
de modificar o mundo e, assim, ganhou seu séqüito de conspiradores. Os chips neurais,
idealizados como dispositivos implantáveis autônomos para tratamentos de múltiplas desordens,
são vistos como a “marca da besta” e o mecanismo pelo qual o governo totalitário dos Illuminati
controlará a mente dos seres humanos, jogando, portanto, a humanidade numa ditadura psíquica.
Também a cultura pop vem registrando a idéia com bastante interesse em suas produções
artísticas, desde o Frankenstein de Mary Shelley, que ganha vida após uma intensa descarga
elétrica, até a série cinematográfica Matrix, dos irmãos Wachowski, no qual a Terra pósapocalíptica é controlada pelas máquinas que escravizam os seres humanos através do controle
eletrônico de seus cérebros.
Tudo isso mostra que essa fascinante área de interseção entre a engenharia e a
neurociência tem enorme potencial para modificar a medicina e o mundo em que vivemos e que é
uma linha de pesquisa legítima repleta de problemas a serem resolvidos, teorias a serem
elaboradas e modelos a serem sistematizados. As possibilidades tecnológicas são virtualmente
infinitas, limitadas apenas pela tremenda complexidade do seu objeto de estudo: o sistema
nervoso. A linha de pesquisa veio para ficar e terá enorme impacto na academia científica
mundial e na prática médica. Seu estudo é, portanto, para o acadêmico e mesmo para o leigo,
indispensável.
Até bem pouco tempo atrás, a Neuroengenharia era uma ciência, ainda que intensamente
desejada, impraticável, figurando apenas nos anais da ficção científica. Hoje, ela se tornou viável
ao se beneficiar do desenvolvimento de seus principais setores constituintes: a neuromodulação,
a neurocirurgia estereotáxica e, sobretudo, a computação.
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