Rocha MS, Caetano JA, Soares E, Medeiros FL
CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ATENDIDA EM UNIDADE
DE TERAPIA INTENSIVA: SUBSÍDIO PARA A ASSISTÊNCIA
CHARACTERIZATION OF THE POPULATION ASSISTED AT THE INTENSIVE
THERAPY UNIT: SUBSIDY TO THE ASSISTANCE
CARACTERIZACIÓN DE LA POBLACIÓN ATENDIDA EN LA UNIDAD DE
TERAPIA INTENSIVA: SUBSIDIO PARA LA ASISTENCIA
Maria do Socorro da RochaI
Joselany Áfio CaetanoII
Enedina SoaresIII
Francisca Lígia MedeirosIV
RESUMO: Objetivou-se investigar as características sociodemográficas e clínicas da clientela assistida em unidade de
terapia intensiva de uma instituição publica de referência em doenças cardiopulmonares, em Fortaleza-CE. Foi realizado
estudo epidemiológico e retrospectivo. A amostra constituiu-se de 384 prontuários selecionados entre os 1200 de pacientes internados durante o primeiro ano de funcionamento, em 2004. Os resultados apontaram uma população com predominância do sexo masculino, de idosos, aposentados, renda de até um salário mínimo e baixa escolaridade. A maior
incidência das causas de internação foi o infarto agudo do miocárdio – 166 (43,23%) pacientes; 33,3% fizeram uso de
respirador mecânico; 64,3% eram procedentes da emergência; 29% de outras unidades e 6,7% do centro cirúrgico.
Constataram-se afecções adquiridas em 90 pacientes, dos quais 60% com infecções respiratórias. Conclui-se que esse perfil
epidemiológico pode subsidiar o planejamento da assistência de enfermagem e, conseqüentemente, favorecer a evolução
do cliente em tratamento intensivo.
Palavras-chave
Palavras-chave: Unidade de terapia intensiva; cuidado crítico; idoso; assistência.
ABSTRACT
ABSTRACT:: This piece of research has investigated sociodemographic and clinical features of clients assisted at an
Intensive Therapy Unit of a major public health institution for cardio-pulmonary diseases in Fortaleza, CE, Brazil. An
epidemiological and retrospective study was carried out. The sample consisted of 384 records selected out of those of 1,200
patients taken into that hospital during the first operational year of the unit, in 2004. Results showed that the predominant
population is male, old, retired, with income over the minimum wages and low schooling. Heart attacks proved to be the
main cause for hospitalization, with 166 (43.23%)patients;. 33.3% of the patients used mechanical respirators, 64.3% came
from emergency rooms, 29% from other units, and 6.7% from the surgical center. Infections were found in 90 patients, 60%
of which were respiratory in nature. We concluded the epidemiological profile we have delineated can subsidize nursing
assistance planning and consequently proves to be relevant to patient’s evolution under intensive therapy.
Keywords: Intensive Therapy Unit; critical care; elderly; assistance.
RESUMEN: Fueran investigadas en esto estudio las características sociodemográficas y clínicas de la clientela atendida en
unidad de terapia intensiva de una institución pública de referencia en enfermedades cardiopulmonares, en Fortaleza – CE
– Brasil. Fue cumplido estudio epidemiológico y retrospectivo. La muestra consistió en 384 prontuarios seleccionados entre
los 1200 de pacientes internados durante el primer año de funcionamiento, en 2004. Los resultados han señalado que la
población predominante en la unidade es del sexo masculino, de ancianos, pensionistas, renta hasta un salario mínimo y
baja escolaridad. La incidencia más grande de las causas de internación fue el infarto agudo del miocardio con 166
(43.23%) de los casos; 33.3% han utilizado el respirador mecánico; 64.3% eran procedentes de la emergencia, 29% de
otras unidades y 6.7% del centro quirúrgico. Fueron encontradas afecciones en 90 pacientes, de los cuales 60% estaban
con infecciones respiratorias. Se concluye que esse perfil epidemiológico puede subvencionar el planeamiento de la
asistencia de enfermería y por consecuencia favorecen la evolución del cliente en tratamiento intensivo.
Palabras Clave: Unidad de terapia intensiva; cuidado crítico; anciano; asistencia.
INTRODUÇÃO
A doença e a hospitalização constituem uma difícil fase na vida do homem, tornando-o, muitas vezes, psiquicamente vulnerável às várias transforma-
ções que ocorrem consigo e ao seu redor. Com o propósito de fazer uma observação efetiva e dirigida a
pacientes mais graves, muitas instituições procura-
Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza – UNIFOR.
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da UFC. Endereço para correspondência: Rua Aécio
Cabral no. 300, casa 400. Cocó. CEP: 60135480. Fortaleza-CE. E-mail: [email protected]
III
Enfermeira doutora. Professora aposentada, visitante do Programa de Pós-Graduação da UFC.
IV
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora da Universidade de Fortaleza.
I
II
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Caracterização da população atendida na UTI
ram agrupá-los em uma área comum. O meio encontrado para o atendimento ao paciente crítico foi
a criação de um serviço no hospital que suprisse suas
necessidades, o qual foi denominado Unidade de
Terapia Intensiva (UTI), tida, atualmente, como um
local que presta assistência qualificada e especializada, com mecanismos tecnológicos cada vez mais
avançados, capazes de tornar mais eficiente o cuidado prestado ao paciente mais crítico. Este setor
[...] é constituído de um conjunto de elementos
funcionalmente agrupados, destinado ao atendimento de pacientes graves ou de risco que exijam assistência médica e de enfermagem
ininterruptas, além de equipamentos e recursos
humanos especializados1:9.
Assistência intensiva, tanto em termos de observação criteriosa quanto de cuidados contínuos ao paciente criticamente enfermo, tem sua origem nas civilizações mais antigas, como no Egito e na Grécia. Já
no Brasil, a assistência em UTI só começou a ser praticada por volta da década de 70 do século passado2.
Na qualidade de profissionais especialistas em
cuidados intensivos, as autoras tiveram interesse em
desenvolver este estudo com o objetivo de investigar as características sociodemográficas e clínicas da
população atendida na UTI cardiopulmonar de uma
instituição pública localizada na região metropolitana de Fortaleza-CE. A importância desse conhecimento está relacionada ao direcionamento da assistência prestada a esse tipo de clientes, com especial
atenção aos efeitos da terapia, ao prognóstico e fatores de riscos aos quais estão expostos.
Entende-se que o contexto das instituições de
saúde, em particular a UTI, requer vigilância contínua dos clientes pelas possíveis alterações dos
parâmetros clínicos, necessidade de decisões imediatas e baixa tolerância a erros diagnósticos e
terapêuticos. Essas unidades têm-se caracterizado
como um espaço promissor na recuperação do cliente em estado crítico. Por isso, espera-se, ainda, que
um estudo nessa área ajudará no planejamento das
ações de enfermagem e, conseqüentemente, na
melhoria da assistência prestada.
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo empírico, transverso, do
tipo retrospectivo e epidemiológico, realizado na
Unidade de Terapia Intensiva cardiopulmonar de um
hospital público especializado em doenças do coração, responsável pela promoção e recuperação da
saúde de pacientes considerados em estado de médio e grave risco, desenvolvendo atenção à saúde da
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população1-5. A Unidade de Terapia Intensiva
cardiopulmonar foi inaugurada em 2003, com 16 leitos, que atende, em média, 80 pacientes por mês.
O atendimento e cuidados de enfermagem ocorrem numa proporção de oito pacientes para um enfermeiro e dois pacientes para cada auxiliar de enfermagem, dificultando de certa forma o acesso direto e
a prestação de cuidados de maior complexidade e
atenção ao paciente por parte do enfermeiro. A equipe completa na UTI é composta por 26 médicos,
seis fisioterapeutas, 18 enfermeiros, 32 técnicos de
enfermagem, sete auxiliares de serviços gerais, uma
secretária de enfermagem, uma nutricionista e um
assistente social.
A população estudada foi constituída pelos
1200 clientes admitidos na UTI no período janeiro
a dezembro de 2004. Porém, para composição da
amostra, devido a problemas burocráticos e de localização dos prontuários dos clientes no arquivo médico, somente 384 (32%) desses documentos foram
incluídos na pesquisa, abstraindo-se deles os dados
registrados sobre as características sociodemográficas
e epidemiológicas (objeto do estudo): sexo, idade,
ocupação, renda familiar, diagnóstico inicial, tratamento instituído, procedência, ocorrência de infecção e complicação. Utilizou-se, também, os registros
de admissão dos pacientes na unidade. Os dados foram coletados no período de janeiro a abril de 2005;
foram calculadas as freqüências absolutas e
percentuais, organizados tabelas e gráficos e realizada a análise estatística.
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética
da Instituição, onde foi desenvolvido, respeitandose o que preconiza a Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde e Ministério da Saúde, que
dispõe sobre pesquisa que envolve seres humanos6.
RESULTADOS
No primeiro ano de inauguração da UTI, fo-
ram internados 1200 clientes, dos quais houve acesso a 384 (32%) prontuários, em 2004. A caracterização sociodemográfica dessa clientela é exposta na
Tabela 1.
Observa-se que há predominância de idosos,
na faixa etária de 61 a 70 anos, que somados aos
demais – de 71 anos e mais, representam a maioria,
conforme mostra a Tabela 1. Essa característica etária
é coerente com a legislação vigente no País – idosa,
a pessoa acima de 60 anos.
Uma parcela significativa, também, recai sobre
a faixa etária de 51 a 60 anos, com 70 (18,2%)
Rocha MS, Caetano JA, Soares E, Medeiros FL
pesquisados. A minoria de pacientes (5%) ficou na
faixa etária mais jovem, entre 16-30 anos.
Do total de 384 pacientes pesquisados, 227
(59,1%) correspondem ao sexo masculino e
157(40,9%) ao sexo feminino. Quanto à renda familiar, 258 (67%) pacientes têm renda familiar de
um salário mínimo; destacam-se 69 (18%) pacientes
com renda de um a três salários. Quanto à escolaridade, há predominância – 99 (37,3%) – do ensino
fundamental; ressaltam-se 86 (32,3%) que são apenas alfabetizados e 59 (22,2%) sem escolaridade, de
acordo com a Tabela 1.
Da amostra estudada, 266 (69,8%) eram casados; sobressaem 55 (14,4%) viúvos e 53 (14%) solteiros, como apresenta a Tabela 1.
TABELA 1: Características demográficas da população estudada. Fortaleza/CE, janeiro-dezembro de 2004.
Constata-se que 185 (48,2%) eram procedentes da capital, 175 (45,6%) do interior e 24 (6,2%)
pacientes eram naturais de outros estados - Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, São
Paulo, Piauí.
Quanto à religião, 244 (63,6%) eram católicos
e 65 (16,9%) eram evangélicos. Quanto à ocupação, 45% são aposentados, 20% do lar e o restante é
distribuído em outras ocupações.
Com relação à procedência dos 384 pacientes
internados na UTI cardiopulmonar, 249 (64,3%) eram
da Unidade de Emergência. Isso confirma que essa UTI
cumpre o seu maior propósito, que é absorver a grande demanda de emergência; destacam-se 106 (27,4%)
provenientes de outras unidades, como
hemodinâmica; unidades clínicas; de unidades de terapia intensiva da própria instituição. Pode-se observar que é expressiva a demanda por atendimento hospitalar de alta complexidade, haja vista o intenso fluxo de pessoas vindas da Unidade de Emergência.
As principais causas de indicação para a UTI
cardiopulmonar foram: infarto agudo do miocárdio
(IAM) com 166 pacientes; insuficiência cardíaca
congestiva (ICC), 61; valvulopatia, 22; angina, 17;
miocardiopatia dilatada, 17; doença pulmonar
obstrutiva crônica, nove; cor pulmonale, nove; estenose
traqueal, três; e pacientes em pós-operatório.
Quanto à ocorrência de complicação, 217
(56,5%) apresentaram complicações, sendo
prevalente a infecção respiratória (60%); ressaltamse, também, a broncopneumonia (10%) e a septicemia (8%). Outras complicações ocorreram com menor incidência, como bloqueio atrioventricular
(BAV); fibrilação atrial; taquicardia; infecção da ferida cirúrgica; insuficiência cardíaca e choque
cardiogênico.
Do total dos pacientes pesquisados neste estudo, 233 (60,7%) receberam tratamento clínico
cardiopulmonar e os demais, 151 (39,3%), tratamento cirúrgico. A maior parte das ações diz respeito ao
tratamento clínico (conservador), o que pode demandar maior tempo de internação hospitalar, devido à realização de exames e estabilização da
hemodinâmica do paciente.
Existe também um número significativo
(39,3%) de internamentos para tratamento cirúrgico. Os principais foram: angioplastia, valvuloplastia,
lobectomia e pleurostomia. Verificou-se que 179
(46,6%) fizeram uso de oxigênio por cateter nasal,
128 (33,3%) utilizaram respirador e 77 pacientes
(20,1%) fizeram uso de máscara de venture. Esse
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Caracterização da população atendida na UTI
parâmetro analisado é instável, pois sofre variação
constante, conforme situação climática, piorando nos
períodos de chuvas, no qual se tem uma exacerbação das infecções e insuficiências respiratórias.
Há presença de outros problemas de saúde em
165 (43%) pacientes internados na UTI cardiopulmonar, conforme apresentado na Figura 1.
A maioria – 96 (58%) – era portadora de hipertensão arterial sistêmica (HAS), seguindo-se os
diagnósticos de diabetes mellitus (DM) e câncer. Vale
registrar a ocorrência de outras doenças de menor
incidência, como acidente vascular cerebral (AVC),
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma,
em proporção abaixo de 9%.
FIGURA 1: Distribuição dos problemas de saúde dos pacientes internados na UTI cárdio-pulmonar. Fortaleza-CE, janeiro-dezembro de 2004.
Ainda, o tabagismo foi identificado entre os
hábitos de parte significativa dos pacientes, o que
pode contribuir como um dos determinantes das
doenças coronarianas, vasculares e câncer apresentadas pelos pacientes deste estudo.
Quanto ao encaminhamento dos 384 pacientes pesquisados, 286 (74,5%) foram transferidos para
a clinica cardiológica, 63 (16,4%) evoluíram para o
óbito, 31 (8,1%) foram transferidos para outro hospital e 4 (1,0%) tiveram alta hospitalar. Foi constatado que houve predominância de pacientes transferidos para clínica cardiológica, na qual ocorre uma boa
resolutividade dos cuidados ministrados, retirandoos de situações mórbidas graves e encaminhando-os
para o acompanhamento clínico.
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DISCUSSÃO
A demanda de idosos pelo atendimento em
unidades críticas tende a acontecer porque o envelhecimento populacional, especialmente nos países
em desenvolvimento, tem sido alvo de discussões das
áreas de planejamento e políticas de saúde, tendo
em vista as projeções estatísticas brasileiras indicarem que a população idosa passará de 7,5%, em 1991,
para 15%, em 20257. Sabe-se que a população idosa
utiliza os serviços hospitalares de maneira mais intensiva que os demais grupos etários, implicando
maiores custos, duração do tratamento e recuperação mais lenta.
Da amostra de 384 pacientes atendidos na UTI,
59,1% eram do sexo masculino, com predominância da idade acima de 60 anos e permaneceram, em
média, 7,7 dias internados. Essa média de dias de
internação é compatível com outros estudos em que
se encontrou a média de permanência de 8 dias, assim como o predomínio de idosos3,4.
Verificou-se que a maioria da população internada possui baixo índice de escolaridade, o que leva
a supor que existam algumas dificuldades desses pacientes em compreender as orientações médicas e de
enfermagem relacionadas ao autocuidado.
Percebe-se o caráter multifatorial da doença e
compreende-se a saúde como um fenômeno multidimensional que envolve aspectos físicos, psicológicos,
sociais e espirituais; assim, os cuidados ao paciente
devem visar a totalidade do ser, abrangendo atitude
mental positiva e apoio psicológico, social e espiritual,
de modo que o estado global do indivíduo seja de
bem-estar5.
Outro fator determinante é a condição da maioria da população internada – aposentada. A aposentadoria, que ocorre em torno dos 65 a 70 anos, é o
estágio da vida caracterizado pela transição das mudanças de papel, o que pode levar ao ócio e, conseqüentemente, ao estresse, ao sedentarismo e a outros
problemas de saúde.
Para a pessoa idosa, a redução da capacidade
de responder ao estresse e a multiplicidade de perdas
(parentes e amigos), como também as mudanças físicas associadas ao envelhecimento normal, podem
combinar-se e colocar a pessoa em condição de alto
risco e de vulnerabilidade a doenças8.
Sabe-se que os serviços de atenção primária de
alta qualidade devem ter a preocupação não somente com a adequação do atendimento para o diagnóstico precoce e controle das doenças, mas, também,
com a adequação de serviços que previnam doenças
Rocha MS, Caetano JA, Soares E, Medeiros FL
futuras e promovam melhoria da qualidade de vida e
da saúde da população assistida.
Os pacientes em terapia intensiva cardiopulmonar podem apresentar instabilidade grave de um
ou mais sistemas fisiológicos principais ou podem
apresentar alto risco de instabilidade de um desses
sistemas. Por isso, deve ser mantido acesso venoso;
controle de via aérea; monitorização do eletrocardiograma (ECG); previsão para administração imediata
de medicações utilizáveis em caso de parada cardiorrespiratória; solicitação de exames, monitorização
específica clínica e invasiva.
Convêm lembrar que grande parte da população internada faz uso de ventilação mecânica e por
isso é registrado alto índice de infecção respiratória,
pois a modalidade terapêutica invasiva torna o paciente mais susceptível à infecção pelo excesso de
manuseio nas aspirações, pela depressão do refluxo
da tosse e da deglutição e pelo espessamento das secreções, entre outros9.
Estudo multicêntrico10 com população de todas
as faixas etárias, as topografias prevalentes foram
infecção respiratória (28,9%); do sítio cirúrgico
(15,6%) e da pele (15,5%). Os agentes isolados principais foram: acinectobacter, estafilococos e klebsiela. Em
outro estudo11, com 645 pacientes adultos em hospital universitário na Inglaterra, houve taxa de infecção
hospitalar de 15%. Os fatores que propiciaram riscos
foram: instalação de tubo endotraqueal, cateterismo
urinário, cateter venoso central, admissão não eletiva,
idade maior que 65 anos, raça branca, sexo masculino
e realização de procedimentos cirúrgicos. Na presente
pesquisa, pode-se inferir que os fatores de risco
relacionados foram: a presença de doença de base,
como hipertensão, diabetes mellitus e DPOC; uso de
prótese ventilatória, procedimento cirúrgico e presença
de fatores de risco para doença coronariana.
Vale ressaltar que, tanto em países desenvolvidos
como nos paises em desenvolvimento, as doenças
respiratórias representam grande proporção de
morbidade que impõem internações e, por vezes, resultam em óbitos freqüentes entre os maiores de 60 anos.
Sabe-se, também, que a oxigenoterapia em concentração maior do que a encontrada na atmosfera
ambiental pode produzir toxicidade se utilizada por
período prolongado, numa concentração acima de
50%. É preciso registrar que a máscara de venture é o
recurso mais confiável para uma administração de
oxigênio por meio não invasivo8. Contudo, pode-se
constatar que parcela significativa da população
pesquisada (33,3%) utilizou o respirador, o que pode
contribuir para o agravamento do seu estado geral,
visto que essa modalidade de equipamento traz complicações como: espessamento das secreções, risco
para aspiração, ulceração e a constrição da laringe e
desconforto.
A hipertensão arterial sistêmica é um fator de
risco para doenças decorrentes de aterosclerose e
trombose, que se exterioriza predominantemente por
acontecimento isquêmico cardíaco, cerebral, vascular
periférico, renal e responsável por aproximadamente 25% da etiologia multifatorial da cardiologia
isquêmica e por 40% da etiologia dos acidentes
vasculares cerebrais, sendo a maior causa da
cardiopatia hipertensiva12.
O acidente vascular cerebral (AVC) consiste
na isquemia de uma área do parênquima cerebral,
provocada pela ruptura ou obstrução de um vaso ou
artéria, podendo perpetuar-se, provocando um infarto
no local, perdendo-se assim as funções reguladas por
essa área do cérebro13.
A ocorrência de um AVC deve-se à presença
de diversos fatores de risco que se instalam em certa
fase da vida do indivíduo e, se não tratados adequadamente, levam o portador a ter alterações em sua
saúde que ocasionam problemas graves ou fatais. Por
isso, são agentes indutivos na incidência do AVC:
hipertensão arterial, doença cardíaca, fibrilação atrial,
diabetes, tabagismo, hiperlipidemia14-16. Além do uso
de contraceptivos orais, álcool e doenças que acarretam aumento no estado de coagulabilidade do sangue do indivíduo.
É preciso ressaltar que o tabagismo é um dos
fatores de risco mais importante entre os determinantes
da doença coronariana, doença vascular
aterosclerótica periférica e cerebral. Estudos15 sobre esse
tema mostram as prováveis alterações do organismo
que incluem: aumento da aterosclerose, ocorrência de
trombose, aumento do risco de espasmo coronário,
produção de arritmias e redução da liberação de
oxigênio. Portanto, considera-se um fator de risco não
só para as doenças coronarianas, mas, também, para o
câncer, presente na amostra estudada.
Diante das informações obtidas neste estudo,
entende-se que a forma de acompanhamento das
doenças que acometem os pacientes atendidos em
UTI precisa ser aprimorada. Quanto ao prontuário
do cliente, é necessário o preenchimento adequado
dos registros sobre o diagnóstico, as condutas terapêuticas tomadas na unidade de internação e a evolução do caso, de modo que esse documento possa
ser utilizado como fonte de pesquisa e, conseqüentemente, apresentar informações epidemiológicas
mais precisas e confiáveis. O aprimoramento e a anáR Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jul/set; 15(3):411-6.
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Caracterização da população atendida na UTI
lise das informações registradas nesse prontuário são
imprescindíveis para a melhoria do planejamento
assistencial e das intervenções dos profissionais envolvidos, em particular o enfermeiro, para que se
possa proporcionar cuidados de qualidade e adequados a cada caso e, dessa forma, ampliar a prevenção
e o controle das complicações e promover uma recuperação mais rápida do paciente.
CONCLUSÃO
Verificou-se que o perfil da população estudada
apresenta as seguintes características predominantes:
sexo masculino, idoso, com renda de menos de um
salário mínimo, ensino fundamental e união estável.
A maioria dos pacientes internados (64,3%) era proveniente da unidade de emergência, caracterizando
uma expressiva demanda por atendimento hospitalar de alta complexidade.
As principais causas de internação apontam para
hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, câncer,
acidente vascular cerebral, doença pulmonar obstrutiva
crônica, insuficiência crônica congestiva, valvulopatia,
miocardiopatia e cor pulmonale; 56,5% dos pacientes
apresentaram complicação na internação, sendo
prevalente a infecção respiratória (60%).
O principal tratamento instituído foi clínico,
que leva maior tempo de internação, expondo a clientela a outros fatores de risco como: infecção respiratória, uso prolongado de prótese ventilatória
invasiva, aspirações excessivas, entre outros. Quanto ao encaminhamento dado à clientela estudada, a
maioria foi transferida para a clínica médica.
Constatou-se afecções adquiridas em 90 pacientes, dos quais 60% com infecções respiratórias, o
que retrata ser imprescindível observar o compromisso dos profissionais de saúde com os clientes que
têm direito à assistência de qualidade.
Conclui-se que este estudo pode contribuir para
o planejamento e/ou criação de instrumentos de avaliação e metodologia para a assistência de enfermagem, e obter ganhos na evolução do quadro clínico
do cliente em tratamento intensivo.
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