“Tudo há de mudar!”, André “ As coisas não mudam nunca!” Lambaça In , José Fonseca e Costa, 1996. Adaptado do romance de Manuel Tiago (pseudónimo de Álvaro Cunhal) Portugal, 1949, André, 19 anos vê-se forçado a abandonar o país depois de fugir da prisão . No Porto, arranjam-lhe um passador – Lambaça- contrabandista, brigão, grosseiro, ganacioso, dado ao vinho e às mulheres. Conhece muito bem a fronteira de Trás-os-Montes. A antipatia e desconfiança entre André e Lambaça nasce logo no primeiro encontro. Porém , ao longo de 5 dias e 5 noites, escondidos em montes e vales, ocultando-se da guarda fiscal e da polícia política, apoiados por amigos de Lambaça, os dois homens terão tempo para se conhecer melhor. Dessa antipatia inicial, surgirá uma amizade singular entre dois homens que vêm de mundos opostos, mas que se cruzam dadas as circunstâncias. A inesperada generosidade de Lambaça ao não receber, no final do filme, o pagamento pelo seu “trabalho”. O clima de medo que se vivia, naquela altura, em Portugal. Um país rigorosamente vigiado pela Pide e pelas outras polícias. A contradição de Lambaça que diz que “as pessoas não mudam” quando no final do filme ele próprio muda a sua maneira de ser ao recusar os 2000$00 correponde. André é diferente de todas as outras pessoas com as quais se cruza na província: citadino, carismático, mais culto, mais bem falante, mais calmo, educado, respeitador e humilde. Sobretudo é um homem com ideais que acredita que é possível mudar a ditadura que se vive em Portugal e conquistar a liberdade e a democracia. A solidariedade das pessoas que ajudam Lambaça e André. Nunca os denunciam, nunca lhes negam tecto e comida, nunca fazem perguntas nem juízos de valor. Ainda que se surpreendam com a juventude de André desconfiando que ele é um “político”. A ansiedade de passar para o outro lado da fronteira que se sente em André e a sua quase contínua desconfiança em relação a Lambaça. Zulmira é uma personagem fulcral no filme. Deduz-se que se prostitui para sobreviver, é maltratada por Lambaça que a sustenta e, como tal, ela permite-lhe esses abusos. A fuga para a Liberdade: “ Já passámos” Ainda sobre o filme : «Cinco dias, cinco noites é uma estória simples, cristalina e pura como a água das montanhas por onde deambulam as suas personagens. Foi escrita com poucas palavras, certeiras e exatas, que nos transmitem as emoções e as sensações de duas personagens em busca da luz e da liberdade, cada qual à sua maneira, numa confrontação constante, ditada por diferentes maneiras de estar no mundo. Olhando o filme que, entretanto, tirei do livro, vejo-o como se comtemplasse uma pedra tosca, granito apenas esculpido pela erosão do tempo, pela chuva, pelo sol. Pelo silêncio. Penso, ao vê-lo, nas coisas muito antigas de que este país é feito, na força e no carácter da terra e da sua gente, antes de terem consentido que entrassem por aí a devorá-las, não a erosão do tempo, mas a rapacidade e a cupidez de muitos daqueles para quem a moeda única passou a ser mais uma prova da existência de Deus. Se tivesse que antepor-lhe, em exergo, uma legenda, essa seria o verso de Camões "todo o mundo é composto de mudança" já que é disso mesmo que o filme trata». José Fonseca e Costa, Março de 1996 «Um filme é, em si mesmo, uma obra de arte. Com uma característica particular: a de que nele intervêm e se complementam para o resultado global muito diversas formas de criação artística. Tomar à partida a história de uma novela, mesmo que respeitando a sua mensagem fundamental não significa mera transposição da novela para o cinema. O cinema tem a sua linguagem própria em que se encontram, se enriquecem mutuamente, se fundem no resultado, as intervenções criativas dos acores, dos músicos, dos escritores, dos fotógrafos, dos cenógrafos, dos paisagistas, dos artistas plásticos, dos magos da luz e do movimento, e mesmo dos técnicos de talento cuja intervenção técnica adquire o valor de criação artística. O filme admite e beneficia assim do valor individual e mesmo da iniciativa de cada um dos elementos de criatividade. Mas exige que não se desenvolvam de uma forma anárquica antes se completem e integrem num fio condutor. O realizador tem a esse respeito um papel determinante e, valorizando a criatividade de todos os artistas que intervêm na obra, orienta a sua intervenção numa dinâmica própria e unificadora de que depende o resultado final. O filme "Cinco dias, cinco noites" poderá neste sentido justamente chamar-se um filme de Fonseca e Costa.» Álvaro Cunhal, Março de 1996 Festivais e Prémios Festival do Gramado 1996 (Brasil) - Seleção Oficial (fora de competição) - Prémio Melhor Música; Prémio Melhor Fotografia Festival de Montreal 1996 (Canadá) Globos de Ouro/SIC 1996 - Melhor Filme In http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?filmeid=96 Este trabalho foi feito pelos alunos do 11º F, após o visionamento do filme e da visita à exposição Desenhos da Prisão de Cunhal. https://www.youtube.com/watch?v=9Kh4v8N7ZZ (trailer do filme)