XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM
Para compreendermos melhor o Evangelho proclamado neste domingo, precisamos
recordar aquele momento em que Jesus faz a pergunta aos Discípulos: “Que dizem os
homens ser o Filho do Homem?” Respondendo a esta pergunta Pedro faz a sua profissão de
fé e diz: “Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo”.
Num primeiro momento somente Pedro fala por si e apresenta a sua fé em Jesus,
mas no Evangelho de hoje ele fala em nome de todo o grupo e responde ao Mestre com
outra pergunta: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos
firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus”.
Houve uma evolução nesse percurso de fé. Pedro tem consciência de que somente
Jesus pode oferecer um caminho seguro para a vida eterna, porque Ele (Jesus) é o Caminho,
a Verdade e a Vida que conduz ao Pai.
Quando Jesus se apresenta como o Pão da Vida, o Pão descido do céu provoca nos
Discípulos uma reação de escândalo. Jesus fala abertamente sobre a sua entrega e a sua
doação para em tudo fazer a vontade do Pai. Agora é preciso a resposta de cada um dos
seguidores de Jesus, mas esse seguimento deve ser feito em total liberdade.
Algumas pessoas não suportam a ideia de um Deus que se deixa tocar pela
humanidade e que se entrega como sacrifício e alimento para a salvação de todos. Diante
da proposta de Jesus alguns dos seus seguidores O abandonam e se recusam a continuar
com o grupo. Não basta o fascínio pelas palavras de Jesus ou pelas suas ideias. É necessário
um acolhimento verdadeiro da pessoa de Jesus.
Judas era um dos doze escolhidos para formar a comunidade de Jesus. Certamente
ele também foi atraído por um aspecto do messianismo do Senhor e se decepcionou a tal
ponto que não somente não aceitou a pessoa de Jesus, mas O entregou para ser
crucificado. Judas sempre será figura do lado sombrio, ameaçador e traiçoeiro da própria
comunidade cristã. A comunidade dos seguidores de Jesus de todos os tempos é formada
por homens e mulheres, que nutrem sonhos, esperanças, certezas e, homens e mulheres
que não compreendem a verdadeira causa da vinda do Messias e da sua maneira de
apresentar o Reino.
Os seguidores de Jesus não compreendem que a salvação de toda a humanidade
passa pelo caminho da Cruz e isso escandaliza sempre. A Cruz é o altar da imolação do
Cordeiro que João Batista apontou como “Aquele que tira o pecado do mundo”. Neste altar
de imolação, Jesus se doa para a salvação de toda a humanidade. É a sua carne crucificada e
o seu sangue derramado a Eucaristia que nos sustenta ainda hoje. Os Discípulos
encontraram dificuldade de acreditar e enfrentar a dura realidade desta maneira de Jesus
salvar o mundo. Nós também, muitas vezes, temos a mesma dificuldade, porque estamos
diante de um grande mistério de amor.
Compreender esse insondável mistério de amor é algo que nós desejamos, mas, por
mais que tentemos, percebemos que ainda temos que seguir adiante sem chegarmos a uma
conclusão satisfatória. Isso tudo porque o Mistério se protege, se resguarda e jamais se
escancara para não deixar de ser Mistério. A Cruz será para todos nós um grande e
insondável Mistério, uma maneira única e exclusiva do Criador amar a criatura.
Quando São Paulo fala desse Mistério da Cruz, ele nos apresenta a sua experiência
com o Cristo: “a linguagem da Cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas, para
aqueles que se salvam, é poder de Deus” (1Cor 1,18).
O que realmente Jesus nos oferece hoje para o seu seguimento, é a certeza de que
Ele estará sempre conosco e, que, como Ele, nós devemos revelar ao mundo a mesma face
de um verdadeiro amor, como Ele revelou, a partir de uma vida de partilha, serviço,
humildade, entrega sem reservas para em tudo fazer a vontade do Pai.
Que possamos expressar verdadeira fé em Jesus Crucificado sem ser causa de
escândalo os homens e mulheres do nosso tempo. Que a Eucaristia e a Palavra de Deus nos
fortaleçam e nos transformem a cada dia para sermos mais semelhantes a Jesus e à sua
maneira de amar como o Pai O amou e nos ama com amor eterno.
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Homilia do XXI Domingo do Tempo Comum