VIDA DIGITAL
Valem por mil palavras
Pequenos ícones pictóricos que antes pertenciam ao universo adolescente
agora fazem parte da linguagem de adultos do mundo todo
Jessica Bennett
NYT
A
s carinhas
felizes e os
emoticons
vêm dos anos
1980, mas
a história do emoji, aqueles
pequenos ícones pictóricos do
celular, começou no Japão, em
meados da década de 1990,
quando foi adicionado como
uma característica especial de
uma marca de pager popular
entre os adolescentes – mas
foi só em 2008 que o alfabeto
emoji foi uniformizado (a ideia
era minimizar a disparidade
entre plataformas) e, em
2011, adotado pela Apple,
que o adicionou ao sistema
operacional iOS5.
Mas o que antes pertencia ao domínio geek e pré-adolescente de Honshu
acabou chegando às massas.
Emoji foi eleita a palavra
mais trendy deste ano pelo
Global Language Monitor,
e adicionada ao Dicionário
Oxford (o que não deixa de
ser curioso, já que é uma palavra que descreve o conceito
de não utilizar palavras). Há
agora um blog, o Emojanalysis, que pretende analisar os
ícones mais utilizados (fazer
um screenshot, enviar) e um
site beta, o Emoj.li, que é a
primeira rede social voltada
exclusivamente ao emoji. Já
o Unicode Consortium, organização sem fins lucrativos
dedicada à padronização
do emoji entre plataformas,
anunciou recentemente que
gostaria de acrescentar 250
deles a produtos da Apple, da
Microsoft e do Google.
De acordo com o site Emojitracker, que monitora o Twitter
para calcular a utilização de
emoji, as pessoas enviam em
média 250 a 350 tuítes de
emoji por segundo. Carinhas
felizes e corações estão em
todas as partes, mas também
há sequências mais complicadas. Há aqueles que funcionam
como pontuação
, como
ênfase
, como substituto de
algumas palavras (“mal posso
esperar por
!”)
ou para substituí-las totalmente
(recentemente, uma amiga me
enviou uma mensagem só com
emoji, descrevendo um encontro
de fim de semana que começou
bem, incluiu uma viagem pelos
vinhedos de Sonoma, na Califórnia, mas terminou com sua
percepção de que o relacionamento não daria certo. Conclusão: carinha frustrada).
Há emoji para quando não se
sabe o que dizer, mas, mesmo
assim, é preciso responder só
para não ser rude
, e para
quando você não quer responder nada mesmo. “Adoro emoji
porque não gosto de conversar”, já disse alguém. Há também sequências para expressar
conceitos da vida real.
– Logo após o julgamento do
caso Hobby Lobby, criei uma
sequência de emojis para “vasectomia” – disse Caroline McCarthy, consultora de startups.
Ela ficou assim:
,
,
.
Em sua curta vida, o emoji
conseguiu encontrar uma excepcional variedade cultural:
foi postada na internet uma
“versão emoji” para a música
Drunk in Love, de Beyoncé,
e uma versão totalmente em
emoji de Moby Dick, chamada
Emoji Dick, passou recentemente a integrar o acervo da
Biblioteca do Congresso dos
EUA. Juristas chegaram até
mesmo a discutir se uma ameaça de morte simbolizada por
poderia ser admitida
no tribunal.
– Não acredito que possamos nos referir ao fenômeno
como uma linguagem completa – afirma o linguista Ben
Zimmer. – Mas aparentemente
há possibilidades combinatórias fascinantes. Qualquer tipo
de sistema simbólico, quando
usado para comunicação, acaba
desenvolvendo dialetos.
Como com qualquer outra novidade, sempre há problemas.
– Mesmo com meus óculos,
não consigo enxergar as imagens muito bem – confessa a
escritora Ruth Ann Harnisch,
de 64 anos.
O emoji também pode ser mal
traduzido entre plataformas, ou
ficar confuso caso não haja a
fonte certa. Você envia um co-
ração pelo seu celular que pode
acabar como uma série de quadrados estranhos no Facebook
ou no e-mail lido no Chrome
(As entrevistas sobre emoji realizadas entre várias plataformas
acabam virando uma comédia
de interpretações).
– Acho que é evidente que
já existe uma gramática rudimentar do emoji, ou pelo
menos ela está tomando forma
– disse Colin Rothfels, desenvolvedor que mantém um feed
do Twitter, o @anagramatron,
que coleta tuítes (e, portanto,
emoji) que são anagramas.
O Unicode Consortium, a
agência que regula este tipo de
coisa, está prestes a divulgar
seus novos ícones – incluindo
uma pimenta (quente ou picante) e um homem de terno
levitando (pulo). Mais opções
só podem agravar um problema bem conhecido para os
fluentes em emoji: sem um
teclado padronizado, como
podemos distinguir todas as
opções?
É o suficiente para fazer
qualquer um querer
.
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