Veículo:
Data:
Página Rural
16/12/2011
Assunto:
DF: “Agricultura verde” é alternativa para produtores com proibição de
agrotóxico
http://www.paginarural.com.br/noticia/163042/agricultura-verde-e-alternativa-para-produtores-comproibicao-de-agrotoxico
Brasília/DF
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização do agrotóxico endossulfan
no país a partir de agosto de 2013. Utilizado principalmente no combate a pragas como a broca do
cafeeiro, a determinação atinge diretamente os cafeicultores. Atualmente, pesquisas na área de manejo
ecológico de pragas apresentam alternativas interessantes para os produtores interessados em manter
suas lavouras livres de agrotóxicos.
O endossulfan é considerado um inseticida obsoleto por conter cloro em sua molécula, assim como o
DDT, agrotóxico já banido no país. Essa característica de composição do produto, além de questões
ambientais, como seu acúmulo na atmosfera, pode acarretar problemas toxicológicos para qualquer
organismo que entre em contato com a substância.
Para o pesquisador da Embrapa Café, Maurício Sérgio Zacarias, que atua em parceria com o Centro de
Pesquisa em Manejo Ecológico de Pragas e Doenças de Plantas (Ecocentro) da Epamig, em Minas
Gerais, é preciso saber que o uso de agrotóxicos como o endossulfan não é necessariamente a única
saída para o combate a pragas como a broca do cafeeiro. “Se o gasto com agrotóxico superar o prejuízo
que terá com a praga, não vai compensar seu uso.
Tem que haver dano suficiente na lavoura que justifique a despesa. Se o produtor conseguir controlar a
broca sem usar o inseticida ele pode até aumentar seu lucro”, pondera Zacarias, que integra a corrente
de pesquisa que estuda o manejo ecológico de pragas.
Segundo o também pesquisador da Embrapa Café, Aymbiré Fonseca, o manejo adequado no momento
da colheita, realizando o processo do modo mais limpo possível, pode ter grande eficiência, até mais do
que o uso do agrotóxico, no controle de pragas. Após a colheita, o inseto causador da broca que venha a
existir no ambiente, pode continuar vivo nos frutos que restaram no local, levando a uma maior infestação
no ciclo seguinte.
O pesquisador do Incaper, instituição do Consórcio Pesquisa Café, Cesar José Fanton, destaca a
importância de se adotar um conjunto de práticas que, em alguns momentos podem ser adotadas
simultaneamente à aplicação do agrotóxico. “Nem sempre recorrer só à aplicação do agrotóxico é
suficiente. É preciso se apoiar num conjunto de práticas de manejo que podem ainda implicar grande
diminuição no uso do inseticida”.
Prevenção
Na natureza já existem inimigos naturais de pragas como a broca, explica o pesquisador Zacarias. Esse
fato combinado a práticas recomendáveis de manejo ecológico se aliam na prevenção e no controle de
pragas, evitando ou mesmo diminuindo consideravelmente o uso de agrotóxicos nas lavouras de café.
Sobre a importância da prevenção, Zacarias destaca que o trabalho de conscientização para um manejo
ecológico passa antes de tudo por uma transformação cultural na forma de trabalho dos produtores. “A
gente trabalha para gerar mudanças de consciência”. Ele aponta cuidados indispensáveis para evitar a
infestação da broca do cafeeiro: manter a lavoura arejada, plantio em local menos úmido (ou redobrar
cuidados em áreas com alta umidade), além de atenção com lavouras vizinhas abandonadas.
Uma das medidas mais importantes, já citada anteriormente, é realizar uma colheita limpa, procedimento
que garante a redução da infestação de broca porque as pragas ficam nos frutos que restam da colheita.
Logo após a colheita, o agricultor deve fazer o chamado repasse na lavoura, retirando do terreno
quaisquer resquícios de frutos que tenham ficado no ambiente.
“Mais do que a criação de um produto biológico, uma tecnologia, nós buscamos trabalhar a paisagem
com ações de prevenção”, destaca Zacarias. Isso implica mudança de comportamento do agricultor, que
precisa investir num trabalho de um a dois anos, conscientemente sem agrotóxico, para assim,
efetivamente, introduzir uma mudança de manejo na sua lavoura e perceber os bons resultados.
Por fim, o pesquisador ressalta ainda o papel das pesquisas de melhoramento genético, que buscam
novas cultivares de café, resistentes a pragas e doenças. “Associado ao manejo e ao produtor
consciente, o melhoramento genético de cultivares também é um forte aliado no combate às pragas e à
diminuição do uso de agrotóxico”.
Prazos
De acordo com o cronograma estabelecido pela norma da Anvisa, o endossulfan não poderá mais ser
importado a partir de 2011. A fabricação em território nacional será proibida a partir de 31 de julho de
2012 e, a partir de 31 de julho de 2013, o inseticida não poderá mais ser comercializado, no Brasil.
Fonte: Embrapa Café
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