Geografia Política Internacional
James Zomighani
Especialista Formador de Geografia
do IQE – Instituto Qualidade no
Ensino
O objetivo deste texto
é apresentar, de forma
sintética, características da
geografia política do mundo
contemporâneo. Algumas
questões aqui tratadas
são bastante complexas e
de difícil compreensão se
apoiadas somente em análises
simplistas no ambiente da
escola, exigindo maior tempo
de estudo e reflexão para
sua compreensão pelos
professores, estudantes e
demais interessados.
O Sistema-Mundo, noção teórica
criada pelo historiador Fernand
Braudel, mas vulgarizada
pelo sociólogo Immanuel
Wallerstein, é um bom ponto
de partida para se pensar
como o mundo está organizado
neste início de século 21.
Ou seja, como ocorrem as
relações internacionais entre
um conjunto integrado e
interdependente de agentes
políticos e
econômicos além dos
Estados Nacionais, e quais
suas consequências para a
geografia política internacional
contemporânea.
As relações internacionais
fundamentam-se nas relações
entre os Estados Nacionais
dentre outros agentes
políticos e econômicos com
atuação internacional, como
as instituições internacionais
(algumas delas: Organização
das Nações Unidas – ONU,
Organização Mundial do
Comércio – OMC e Fundo
Monetário Internacional –
FMI) e as Organizações Não
Governamentais – ONGs
de alcance mundial como o
Greenpeace e a Cruz Vermelha
Internacional, dentre outras.
O principal agente
internacional ainda é o
Estado Moderno, o qual teve
uma longa gestação entre o
fim da Idade Média e início
da Idade Moderna, período
de grande desenvolvimento
de um corpo burocrático e
da criação de instituições
nacionais (tribunais, polícia,
sistemas de arrecadação
de impostos); definição
das fronteiras nacionais;
unificação das moedas no
interior das fronteiras artificial
e historicamente definidas
pelas disputas territoriais
com vizinhos; criação de
uma identidade nacional
e formação de um corpo
diplomático e militar
permanentes.
O Estado Moderno –
instituição nacional
responsável pela elaboração
das leis, de gestão das
instituições públicas e com
monopólio do exercício
da violência pela polícia e
forças armadas em defesa
da segurança e soberania
nacionais - teve seu
reconhecimento histórico
apenas no século 17,
alcançando sua maioridade
a partir do fim das chamadas
“Guerras dos 30 Anos”
ocorridas entre 1618 e 1648.
Consideradas por muitos
historiadores como o primeiro
grande conflito mundial,
essas guerras envolveram,
praticamente, toda a Europa
em sangrentos conflitos
que provocaram grandes
perdas materiais e humanas.
A conquista da paz exigiu
enorme esforço de diálogo,
negociação e cooperação
internacional, processo
complexo que culminou
em diversas conferências
e acordos, resultando na
assinatura dos Tratados
de Vestfália, considerados
os marcos institucionais
e simbólicos do principal
formato de
funcionamento do Sistema
Mundial interestatal entre os
séculos 17 e 19.
Entre o final do século 19
e o fim da Segunda Guerra
Mundial (1945), o Sistema
Mundial passou por novas e
significativas transformações,
as mais intensas desde
Vestfália.
Surgiram novos agentes como
as instituições e empresas
multinacionais, alterando
profundamente a natureza
da Geografia e das relações
internacionais, retirando o
protagonismo exclusivo dos
Estados Nacionais no campo
internacional. A expansão das
empresas multinacionais para
os países mais pobres forçaria
uma modernização de seus
territórios, o alargamento dos
contextos de ações políticas e
econômicas, a padronização
do funcionamento
técnico e normativo e enorme
expansão do comércio entre
países de todo o mundo.
Desde 1950, esse processo
de internacionalização tem
se aprofundado, tanto por
meio de ações imperialistas
– com ações agressivas tanto
no campo comercial quanto
militar – quanto pela expansão
das redes técnicas, resultando
no processo que ficou
conhecido como globalização.
Hoje novas mudanças estão
em curso. Depois do fim do
mundo bipolar (oposição direta
entre Estados Unidos - EUA
e União Soviética – URSS
entre 1945 e 1989), e de um
breve período de aparente
hegemonia isolada dos EUA
no final do século 20, outros
países têm se apresentado
com capacidade de influenciar
os principais rumos do
Sistema Internacional, como a
China.
No caso do gigante asiático,
reconhece-se em sua
geopolítica uma inserção
baseada, fundamentalmente,
no agressivo comércio
internacional e na habilidosa
diplomacia, fatores que se
contrapõem à hegemonia
clássica - também sustentada
pelo poderio bélico - como,
aliás, os chineses também
o fazem em sua região,
o Sudeste asiático. Em
contraposição ao crescimento
da influência chinesa, o
poderio dos EUA continua a
ser demonstrado por meio
de sua
consolidada influência política,
cultural e econômica em
escala planetária, além das
recorrentes demonstrações de
força feitas, frequentemente,
pelo uso de algumas das
mais de 900 bases militares
estadunidenses que se
encontram distribuídas por
todo o mundo. As guerras
das quais participaram
recentemente, como Iraque
e Afeganistão, talvez sejam
o pior exemplo dessa ação
imperialista dos EUA com suas
nefastas consequências.
Os grandes avanços da ciência
e da técnica, verificados
nos últimos dois séculos,
permitem hoje, nas palavras
do geógrafo Milton Santos,
um reconhecimento dessa
universalidade empírica que
forma um grande conjunto
integrado e interdependente
que chamamos de SistemaMundo, permitindo aos
estudiosos reconhecer sua
relação com paisagens
e lugares no interior das
fronteiras dos países.
Fazer esse movimento do
universal para o particular é
fundamental por quem deseja
compreender melhor algumas
das questões que envolvem
a geografia política do mundo
contemporâneo. Algumas
delas envolvem disputas
internacionais, a natureza
das guerras e a formação de
blocos de países mais fracos
política e economicamente
para fazer frente aos
gigantes hegemônicos,
cujos exemplos concretos
encontramos no MERCOSUL
e na União Europeia. Voltarei
a esta análise no futuro. Até
breve.
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