Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
UMA PROPOSTA CONSTRUCIONISTA PARA O USO DA INTERNET NA
EDUCAÇÃO
BALADELI, Ana Paula Domingos (UEM)
ALTOÉ, Anair (Orientadora/UEM)
Introdução
A produção, o processamento e a divulgação da informação a partir do advento da
Internet (rede mundial de computadores) têm proporcionado às pessoas o acesso
ilimitado à informação. Além de constituir-se em uma ferramenta versátil para
realização de diferentes tarefas em vários setores da atividade humana, com a web
surgem novos espaços para a comunicação, interação e colaboração entre as pessoas. A
comunicação em tempo real (síncrona) é um exemplo das potencialidades apresentadas
pela Internet como uma ferramenta comunicacional capaz de encurtar distâncias físicas
e possibilitar o acesso remoto a um volume cada vez maior de informação em diferentes
bancos de dados.
O desenvolvimento constante de tecnologias e a ampliação do uso da Internet provocam
o repensar sobre os paradigmas para formação para o trabalho e sobre a concepção de
educação. Segundo (KENSKI, 2003), as novas tecnologias da informação e
comunicação alteram nossa forma de pensar, sentir e agir. Nesse contexto a educação
escolar disputa a atenção dos alunos com outros espaços sociais mais atraentes e
dinâmicos que as práticas vivenciadas em sala de aula. É nesse momento que o papel do
professor é questionado a fim de que desenvolva alternativas metodológicas que
permitam a construção do conhecimento e o desenvolvimento da autonomia do aprendiz
(ALTOÉ, 2003).
No processo de ensino e aprendizagem de línguas, o uso de ferramentas como o
computador e a Internet são pensados como alternativas para tornar o processo de
aprendizagem mais atraente, interessante e significativo. Isso porque, “com a rede,
1
Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
abrem-se imensas fronteiras que ainda necessitam ser exploradas e compreendidas pelos
professores e educandos num trabalho compartilhado” (BRITO, PURIFICAÇÃO, 2008,
p.69).
Sendo assim, muitos são os estudos que buscam além de compreender as
potencialidades da ferramenta Internet no processo de ensino e aprendizagem de línguas
desenvolver alternativas metodológicas para uso dessa tecnologia por uma perspectiva
crítica e inovadora. Acredita-se que a perspectiva construcionista para o uso da
informática na educação apresenta-se adequada para os propósitos de um ensino de
línguas que oportunize ao aprendiz condições de aprender conforme o seu interesse e
ritmo de aprendizagem.
Os pressupostos da perspectiva construcionista
A fundamentação teórica da perspectiva construcionista elaborada por Seymour Papert
(1984) toma como base os estudos realizados por Jean Piaget sobre a construção do
conhecimento nas crianças. Seymour Papert encontra-se entre os mais importantes
pesquisadores sobre Inteligência Artificial e o uso de tecnologias na educação. Suas
pesquisas tomaram como ponto de partida a teoria construtivista de Piaget e assim
desenvolveu a linguagem de programação LOGO. Para Papert, o aprendiz ao programar
o computador constrói conhecimento a medida em que aciona seus esquemas mentais
para resolver problemas que encontra durante a sua atuação com o computador.
Valente (1993) o uso da informática na educação pode tomar como base duas
perspectivas quais sejam; a primeira muito comum quando o computador é concebido
como um recurso a ser utilizado para transmitir conhecimento ao aprendiz, já na
segunda o computador é concebido como uma ferramenta capaz de potencializar a
aprendizagem de um dado conteúdo curricular. Por se tratar de uma ferramenta, o
aprendiz desempenha papel central nesse processo uma vez que é ele quem descreve o
que o computador deve executar. Ainda segundo o autor, a construção de conhecimento
2
Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
com
o
uso
do
computador
ocorre
quando
o
ciclo
reflexivo
descrição>execução>reflexão>depuração>descrição se realiza.
No construcionismo, o computador consiste em uma ferramenta a ser programada pelo
aprendiz e não o contrário conforme a perspectiva tecnicista. “O computador no
paradigma construcionista deve ser usado como uma ferramenta que facilita a descrição,
a reflexão e a depuração de ideias” (VALENTE, 1993, p. 42).
Para Piaget (1972), a inteligência é um instrumento de adaptação do sujeito ao meio já
que ele mesmo constrói suas ações e interage com o meio. Segundo (COLL, 1996)
torna-se fundamental conhecer teorias que nos permitam analisar e refletir sobre o
processo de ensino e de aprendizagem, isso porque só de posse desse conhecimento o
professor terá condições de modificar a sua prática pedagógica buscando soluções e
explicações para situações que ocorrem na dinâmica de sala de aula.
Em uma educação tecnicista os conteúdos e as ações humanas são relegados no
processo de ensino e aprendizagem a um segundo plano já que a eficiência das técnicas
e dos métodos de ensino é enfatizada. “O computador em si não está, necessariamente,
vinculado à pedagogia tecnicista. No entanto, o modo de utilizá-lo e as escolhas que o
professor precisa fazer expressam claramente, uma determinada concepção de
educação” (PRADO, 1996, p. 20).
Em uma proposta de educação construcionista o computador dever ser utilizado como
ferramenta capaz de potencializar os conteúdos e as tarefas de diferentes áreas do
conhecimento. Essa construção ocorre quando o aprendiz utiliza-se do computador com
autonomia assumindo o controle sobre o seu processo formativo. “A maior contribuição
do computador como meio educacional advém do fato do seu uso ter provocado o
questionamento dos métodos e processos de ensino utilizados” (VALENTE, 1993, p.
20).
Língua Inglesa na Internet
3
Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
A Língua Inglesa sem dúvida representa a língua da Internet. Segundo Crystal (2003) a
Língua Inglesa é considerada uma língua global não por suas características gramaticais,
fonológicas ou fonéticas, ela é considerada global por conta da representatividade de
sua economia bem como pelo poder político e militar dos países que a falam. Assim,
compreender a Língua Inglesa significa fazer parte de uma comunidade global que tem
acesso a produção cultural e ideológica produzida e divulgada nesse idioma.
Segundo Paiva (2001) o uso da Internet no ensino de LI configura-se como um espaço
propício de aprendizagem uma vez que a partir do acesso à variedade de conteúdos
produzidos em inglês o que colabora para a sua compreensão sobre a língua como
prática social. Além da interação promovida pela Internet entre o aluno e o uso efetivo
da língua que está estudando, a web como fonte de pesquisa também se apresenta como
um recurso versátil e dinâmico para o acesso a materiais diversos. A questão que
emerge de tal contexto é qual a postura adequada do professor no uso dessa ferramenta?
A partir do referencial teórico adotado para elaboração da pesquisa e conseqüentemente
deste curso de extensão, acreditamos que a perspectiva construcionista seja a mais
adequada aos objetivos aqui apresentados.
Contudo, nas escolas públicas brasileiras o ensino de Língua Inglesa ou de qualquer
outra língua estrangeira encontra entraves como a falta de recursos adequados para
desenvolvimento das habilidades necessárias à aprendizagem do idioma, salas de aula
com grande número de alunos. Dado que dificulta a realização de atividades interativas,
sobretudo as que se relacionam com as habilidades de fala e compreensão auditiva. Não
é raro nas conversações com professores que atuam na rede pública a falta de motivação
para realizar atividades diferentes e mais interativas.
Em uma atividade de pesquisa na Internet, por exemplo, o aprendiz ao utilizar a
ferramenta de busca ele realiza ações (descreve) para a ferramenta o tópico a ser
pesquisado, a ferramenta (executa) e apresenta os resultados, se a resposta for
satisfatória o aprendiz considera que sua pesquisa está concluída, como se um problema
inicial acabasse de ser resolvido. Caso contrário, o aluno (reflete) sobre o resultado e
4
Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
reorganiza suas ideias e seus esquemas mentais de ação a partir dos resultados já obtidos
(depura) para então realizar uma nova busca com outros critérios (descreve) para a
ferramenta a partir dos resultados já obtidos e assim o ciclo reflexivo se realiza. Nesse
processo intermitente de interação entre sujeito, meio e objeto as estruturas e os
esquemas mentais são reorganizados a fim de que o sujeito consiga resolver um
problema é nesse momento que a construção do conhecimento ocorre (VALENTE,
1993; 2002).
Ações pedagógicas em um curso de extensão
Para atuar com tecnologias na educação torna-se necessário o domínio de dois
conhecimentos, quais sejam, o operacional e o pedagógico. O conhecimento operacional
significa compreender a estrutura de funcionamento da tecnologia utilizada, com esse
conhecimento tanto professor quanto aluno realizam ações com a ferramenta explorando
as possibilidades oferecidas por ela no processo de construção de conhecimento. Já o
conhecimento pedagógico refere-se às alternativas metodológicas necessárias para uso
da tecnologia na educação. O professor com esse conhecimento terá condições de
realizar encaminhamentos e propor atividades com o uso de tecnologia que atendam aos
objetivos da sua aula.
Por conhecer a realidade do ensino de Língua Inglesa na escola pública como parte
integrante do processo de coleta de dados para pesquisa em Pós-Graduação em
Educação, realizou-se um curso de extensão de 40h para um grupo de 24 professores de
Língua Inglesa que atuam na cidade de Cascavel. As ações pedagógicas realizadas ao
longo dos encontros presenciais objetivaram oferecer aos professores leituras teóricas
sobre informática na educação e sugerir alternativas metodológicas para uso dessa
ferramenta em sua prática pedagógica. Além de criar um espaço colaborativo em que os
professores tivessem condições de vivenciar uma dinâmica de pesquisa, análise e
reflexão sobre os conteúdos pesquisados na Internet para o ensino e aprendizagem de
Língua Inglesa objetivou-se com o curso subsidiar a mudança da prática pedagógica
desses professores, conforme ilustra o quadro a seguir.
5
Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
LOCAL E DATA
DE REALIZAÇÃO
ATIVIDADES REALIZADAS
1º Encontro
Auditório do
NRE/CVEL
05/08/2008
- apresentação da proposta do curso.
- conversações com os professores participantes.
- pressupostos históricos da Informática Educativa no Brasil.
- atividades de leitura dialogada, análise e reflexão sobre as
concepções pedagógicas - Tradicional e Tecnicista.
- instrumentos de coleta de dados e registro de atividades
formativas
2º Encontro
Laboratório de
Informática de um
colégio estadual
12/08/2008
- concepção pedagógica Construtivista e Construcionista.
- navegação livre dos professores na Internet.
- cadastro dos professores no (englishteacher_internet) egrupo do curso.
- instrumentos de coleta de dados e registro de atividades
formativas.
3º Encontro
Laboratório de
Informática de um
colégio estadual
19/08/2008
- informática na educação.
- atividades de leitura, análise e reflexão sobre o tema.
- navegação orientada em sites específicos para o ensino e a
aprendizagem de línguas.
- navegação no e-grupo do curso.
- instrumentos de coleta de dados e registro de atividades
formativas.
4º Encontro
Laboratório de
Informática de um
colégio estadual
26/08/2008
- uso da Internet como ferramenta pedagógica na sala de aula
de LI.
- atividades de leitura, análise e reflexão sobre o tema.
- análise de sites navegados.
- leitura em ambiente virtual (hipertexto).
- navegação no englishteacher_internet.
- instrumentos de coleta de dados e registro de atividades
formativas.
5º Encontro
Laboratório de
Informática de um
colégio estadual
09/09/2008
- ensino de LI em ambiente virtual.
- atividades de leitura, análise e reflexão sobre o tema.
- navegação em sites específicos para o ensino e a
aprendizagem de línguas.
- orientação para a elaboração de Plano de ação para o ensino
e aprendizagem de LI com o uso da Internet.
- navegação no englishteacher_internet.
- instrumentos de coleta de dados e registro de atividades
formativas.
Ao longo das atividades presenciais realizadas em 20h os professores participantes
vivenciaram uma dinâmica de estudos, pesquisa e reflexão sobre as possibilidades de
6
Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
uso pedagógico da Internet como ferramenta para informação, comunicação e
colaboração. As demais 20h do curso foram destinadas a realização de atividades a
distância que contemplaram o uso da ferramenta colaborativa e-grupo. No
englishteacher_internet e-grupo criado especialmente para o curso, os professores
encontraram textos, links para eventos, periódicos e sites educativos, responderem
enquetes e acessarem todas as atividades realizadas pelos demais colegas além de
poderem acessar todo o material utilizado durante o curso.
Mais do que um espaço colaborativo de informação e comunicação os professores
conhecerem algumas possibilidades de uso pedagógico da Internet por meio da
navegação no e-grupo.
Resultados
A participação dos professores revelou o pouco conhecimento que os mesmos
apresentam sobre teorias e metodologias para uso das ferramentas da informática na
educação. O que demonstra que o curso representou para a maioria dos professores
participantes o seu primeiro contato com práticas de estudo e reflexão sobre o tema
informática na educação. Por meio das enquetes sugeridas no e-grupo os professores
expressaram o seu hábito de uso do computador e da Internet, além de manifestarem
suas opiniões em relação à dinâmica adotada para as ações pedagógicas no curso.
Ainda que o objetivo do curso tenha sido o de criar um espaço colaborativo de estudos,
práticas e reflexão sobre o uso da Internet e suas aplicações no ensino e aprendizagem
de Língua Inglesa, reconhece-se que a mudança na prática só será possível quando os
professores alcançarem o segundo estágio de reflexão do ciclo reflexivo (VALENTE,
1993) e depurarem as suas ideias para realizarem uma prática renovada. Compreende-se
também que devido ao pouco conhecimento operacional que alguns professores
apresentavam sobre o computador um curso de 40h não dá conta de sanar todas as
dificuldades que os professores apresentavam.
7
Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
Os dados revelam ainda a necessidade de se pensar na formação continuada dos
professores para atuação com tecnologias. Pela perspectiva construcionista em que a
construção de conhecimento é de natureza construtiva as condições necessárias para a
mudança na prática pedagógica surgem a partir da prática e da reflexão num processo
ativo do sujeito sobre o objeto de conhecimento.
Considerações finais
Os recursos das tecnologias da informação e comunicação apresentam-se como recursos
interessantes para a aprendizagem de línguas, contudo, torna-se necessário que as
tecnologias sejam inseridas na educação não como recursos salvacionistas capazes de
garantir a aprendizagem e o interesse do aprendiz. Pelo contrário, utilizar tecnologia
seja ela o computador ou a Internet deve estar fundamentado em uma postura crítica e
reflexiva do professor para que este tenha condições de auxiliar os seus alunos na
construção do conhecimento por meio da exploração dos aplicativos que a tecnologia
oferece.
Além de infra-estrutura adequada, de materiais de apoio, pesquisa e espaços de estudos
e reflexão o professor precisar encontrar na escola em que atua as condições mínimas
para a realização de atividades extracurriculares que utilizem o computador ou a
Internet. Acreditamos que o professor precisa de formação continuada para poder
construir conhecimento sobre informática na educação e transformar a sua prática
pedagógica, para isso, a escola pública também precisa acompanhar as inovações
tecnológicas e oferecer aos alunos e professores um espaço profícuo a aprendizagem e
ao desenvolvimento de uma postura crítica tão requerida em uma sociedade
digitalmente globalizada.
REFERÊNCIAS
8
Universidade Estadual de Maringá
08 e 09 de Junho de 2009
ALTOÉ, Anair. Formação de professores para o uso do computador em sala de aula.
Teoria e prática da educação, Maringá: DTP/UEM, v. 6, n. 14. ed. Especial, p. 483496, 2003.
BRITO, Gláucia da S.; PURIFICAÇÃO, Ivonélia da. Educação e novas tecnologias:
um re-pensar. Curitiba: Ibpex, 2008.
COLL, Cesar; SOLÉ, I. Os professores e a concepção construtivista. In: COLL, C. [et
al] O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996.
CRYSTAL, David. English as a global language. 2 ed. Cambridge University Press,
2003.
KENSKI, Vani M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 2 ed. Campinas, SP:
Papirus, 2003.
PAIVA, Vera L. M. O. A www e o ensino de inglês. Revista Brasileira de Lingüística
Aplicada.
v.1.
n.
1,
2001
p.
93-116
disponível
em
http://www.veramenezes.com/ww.htm acesso em 18/04/2008.
PRADO, Maria E. B. B. O uso do computador na formação do professor: um
enfoque reflexivo da prática pedagógica. Brasília: MEC/SEED/PROINFO, 1996.
VALENTE, José A. (org). Computadores e conhecimento: repensando a educação.
Campinas, SP: Unicamp, 1993.
VALENTE, José A. Uso da Internet em sala de aula. Educar, Curitiba, Editora da
UFPR. n. 19, p. 131-146, 2002.
9
Download

uma proposta construcionista para o uso da internet na educação