FIDES REFORMATA 5/2 (2000)
Uma Introdução a Max Weber e à obra
“A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”
Franklin Ferreira*
“A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” (Die protestantische Ethik und der Geist
des Kapitalismus) foi escolhida como o mais importante escrito teórico publicado no
século XX, por dez intelectuais convidados pelo jornal Folha de São Paulo para elaborar a
lista dos cem melhores livros de não-ficção ou ensaios do século.1 Um dos jornalistas
pergunta:
O que um livro publicado em 1904, que trata basicamente de características de um
movimento religioso pouco influente por aqui, o protestantismo — movimento de
contestação dos dogmas e da organização da Igreja Católica, no século 16 —, vem fazer
no topo de uma lista das “melhores obras de não-ficção do século” de um jornal
brasileiro?2
O ensaio histórico-sociológico de Max Weber3 buscou vincular a economia capitalista ao
conteúdo doutrinal do protestantismo — “este último caracteriza-se por uma
racionalidade específica, para a qual concorreu a noção de trabalho como vocação e
ascese intramundana, gerada no calvinismo. Sem postular uma causalidade estrita, o
autor demonstra haver uma afinidade entre ambos.” Neste estudo, buscaremos dar um
resumo das linhas gerais da mais importante obra de Weber. Também serão levantadas
algumas perguntas no decorrer do estudo e, na conclusão, serão abordadas algumas
questões criticas, para estudo posterior. Por razões de brevidade não serão desenvolvidos
os pressupostos weberianos, “em seu esforço obstinado para estabelecer a eficácia
histórica das crenças religiosas contra as expressões mais reducionistas da teoria
marxista.”4
INTRODUÇÃO
Depois de demonstrar a existência de uma “noção ingênua” de capitalismo em todas as
culturas, Weber busca definir o capitalismo como uma característica típica do mundo
ocidental. Em suas palavras:
Chamaremos de ação econômica “capitalista” aquela que se basear na expectativa de
lucro através da utilização das oportunidades de troca, isto é, nas possibilidades
(formalmente) pacíficas de lucro. Em última análise, a apropriação (formal e atual) do
lucro segue os seus preceitos específicos, e (conquanto não se possa proibi-lo) não
convém colocá-la na mesma categoria da ação orientada para a possibilidade de benefício
na troca. Onde a apropriação capitalista é racionalmente efetuada, a ação correspondente
é racionalmente calculada em termos de capital.5
Este será seu ponto de partida em busca das origens deste tipo específico de capitalismo:
a moderna organização racional da empresa capitalista, baseada na separação da
economia doméstica e na criação de uma contabilidade racional.
I. PROBLEMA
A. Filiação Religiosa e Estratificação Social
Weber partiu de uma constatação intrigante: na região estudada no vale do Ruhr, na
Alemanha, geralmente os filhos dos católicos eram levados a escolher carreiras
profissionais humanísticas, enquanto que os protestantes escolhiam as carreiras técnicas.
Como conseqüência, os protestantes estavam mais representados entre os industriais,
dirigentes empresariais e técnicos de nível superior. Instigado por essas constatações, ele
desenvolveu uma pesquisa na qual concluiu que alguns ramos do protestantismo
(calvinismo, pietismo, metodismo e anabatistas), por causa, aparentemente, de sua fé e
da ética que desenvolveram a partir da mesma, deram uma importante contribuição para
a formação do espírito que impulsiona a economia ocidental moderna.6
B. O Espírito do Capitalismo
Com a finalidade de determinar aquilo que ele chamava de “espírito do capitalismo
organizado e racional,” Weber volta-se para um documento que aparentemente reflete
esse espírito, que “contém aquilo que procuramos numa pureza quase clássica e que,” ao
mesmo tempo, “apresenta a vantagem de ser livre de qualquer relação direta com a
religião, estando assim, para os nossos objetivos, livre de preconceitos.”7
Weber considera o exemplo de Benjamin Franklin como a quinta-essência do capitalismo.
Ele cita as conhecidas máximas: “Tempo é dinheiro” — qualquer tempo em que não se
está trabalhando custa o dinheiro que poderia ter sido ganho; “Crédito é dinheiro” — por
seis pences por ano, pode-se fazer uso de centenas de pences; “O dinheiro pode gerar
dinheiro” — aquele que desperdiça uma coroa destrói tudo o que ela poderia ter
produzido, uma grande quantidade de coroas. Temos aqui a religião secular do trabalho.
O primeiro e maior mandamento é o de trabalhar do modo mais árduo possível, durante o
máximo possível de horas, para se ganhar o máximo possível de dinheiro. O pecado
cardeal é perder tempo ou dinheiro. A disciplina monástica e ascética estabelece que o
dinheiro ganho dessa maneira não deve ser gasto em divertimento ou conforto, mas
diretamente investido para gerar mais dinheiro. [Segundo a interpretação weberiana], as
virtudes cardeais são a frugalidade, a laboriosidade, a pontualidade nos pagamentos e a
fidelidade nos acordos — todas as quais aumentam o crédito e habilitam a fazer uso do
dinheiro dos outros. Essa religião parece ter sido destinada a concretizar a acumulação de
capital. Todos nós conhecemos e observamos seus devotos.8
A peculiaridade dessa filosofia da avareza parece ser o ideal de um homem honesto, de
crédito reconhecido e, acima de tudo, a idéia do dever de um indivíduo com relação ao
aumento de seu capital, que é tomado como um fim em si mesmo. Nas palavras de
Weber, “na verdade, o que é aqui pregado não é uma simples técnica de vida, mas sim
uma ética peculiar, cuja infração não é tratada como uma tolice, mas como um
reconhecimento do dever. Esta é a essência do problema. O que é aqui preconizado não é
mero bom senso comercial — o que não seria nada original — mas sim um ethos.”9 Em
seu entendimento dessa filosofia, ganhar dinheiro dentro da ordem econômica moderna,
enquanto isso for feito legalmente, é o resultado e a expressão de virtude e de eficiência
em uma vocação — e essas virtude e eficiência são o coração da ética de Benjamin
Franklin.
C. A Concepção de Vocação de Lutero — A Tarefa da Investigação
No terceiro capítulo da sua obra, o autor busca a raiz do moderno sistema capitalista no
conceito protestante de vocação. Em suas palavras, “não há duvida de que já na palavra
alemã Beruf, e, quem sabe, ainda mais, na palavra inglesa calling, existe uma conotação
religiosa — a de uma tarefa ordenada, ou pelo menos sugerida por Deus —, que se torna
tanto mais manifesta, quanto maior for a ênfase do caso concreto.”10 Para João Calvino, a
fim de viver de modo digno, o cristão deve levar em conta a sua vocação:
Finalmente, de levar-se em conta é isso: que o Senhor a cada um de nós em todas as
ações da vida ordena atentar para Sua vocação. Pois, [Ele] sabe com quão grande
inquietude efervesça o engenho humano, de quão inconstante volubilidade seja levado
para cá e para lá, quão ávida lhe seja a ambição em abraçar diversas cousas a um só
tempo. Portanto, para que através de nossa estultície e temeridade de cima abaixo se
não misturem todas [as cousas, Deus] ordenou a cada um os seus deveres em distintos
gêneros de vida. E para que não ultrapasse alguém temerariamente os seus limites, a
essas modalidades de viver chamou vocações. Logo, para que não sejam levados em
volta às cegas pelo curso da vida, foi pelo Senhor atribuída a cada um, como se fora um
posto de serviço, sua forma de viver. (...) Daqui também insigne consolação surdirá: que,
desde que obedeças à tua vocação, nenhuma obra tão ignóbil e vil haverá de ser que
diante de Deus não resplandeça e seja tida por valiosíssima.11
No entendimento de Weber, foi a partir desse conceito de vocação que se manifestou
aquilo que ele entende como o dogma central de todos os ramos do protestantismo,
segundo o qual a única maneira de viver aceitável para Deus não estava na superação da
moralidade secular pela ascese monástica, mas sim no cumprimento das tarefas “do
século,” impostas ao individuo pela sua posição no mundo.12 Então,
o calvinismo é, precisamente, a primeira ética cristã que deu ao trabalho um caráter
religioso. Anteriormente, o trabalho fazia parte das atividades pertencentes à vida
material; ele se impunha porque, de uma forma ou outra, não se podia dispensá-lo; mas,
como atividade temporal, nenhuma relação tinha com a salvação eterna ou com a vida
espiritual. Para o calvinismo, ao contrário, o trabalho, considerado uma vocação, torna-se
atividade religiosa. Importa trabalhar, custe o que custar, haja ou não necessidade de
prover seu sustento, porque trabalhar é uma ordem de Deus.13
A partir desse ponto, ele busca descobrir o papel desempenhado pelo calvinismo e pelas
igrejas protestantes na história do desenvolvimento capitalista. Em seu entendimento,
basta uma observação superficial para verificar que podemos encontrar um tipo de
relação entre a vida religiosa e os atos seculares completamente diferentes, tanto do
catolicismo como do luteranismo — e isto seria evidente até em obras de teor puramente
religioso. Seu exemplo é o trecho final da Divina Comédia, no qual o poeta, no paraíso,
fica sem fala diante das obras de Deus, e a forma como John Milton encerra o último
canto do Paraíso Perdido, depois de haver descrito a expulsão do paraíso:
Eles olharam para trás, e contemplaram toda a parte oriental do Paraíso, ainda há
pouco sua feliz mansão, ondulada por essa espada chamejante; a porta estava
interceptada por horríveis rostos e armas ardentes. Adão e Eva deixaram cair
algumas lágrimas sentidas, que logo enxugaram. O mundo todo estava diante
deles, para escolherem, lá, um lugar para o seu descanso. A Providência era o seu
guia. De mãos dadas, com passos incertos e lentos, tomaram, através do Éden, o
seu caminho solitário.
Só uns momentos antes, o arcanjo Miguel dissera a Adão:
Ajunta somente ao teu conhecimento ações louváveis, ajunta a fé, a virtude e a
paciência, a temperança, ajunta o amor, chamado no futuro, caridade, alma de tudo
o mais; então, não te lastimarás de deixar este Paraíso, pois que possuirás em ti
mesmo um Paraíso muito mais feliz.14
No entendimentode Weber, “percebe-se logo que essa poderosíssima manifestação do
puritanismo de apego ao mundo, de valorização da vida secular como dever, teria sido
inconcebível da parte de um autor medieval. Mas, igualmente deixa de ser afim ao
luteranismo, pelo menos ao de Lutero e de Paul Gerhard.”15
II. A ÉTICA VOCACIONAL DO PROTESTANTISMO ASCÉTICO
A. Fundamentos Religiosos do Ascetismo Laico
Na segunda parte de seu trabalho de investigação, Weber passa a estudar aquilo que ele
considera “os representantes históricos do protestantismo ascético,”16 que são,
principalmente, os quatro seguintes: “o calvinismo na forma que assumiu na sua principal
área de influência na Europa Ocidental, especialmente no século XVII; o pietismo; o
metodismo; e as seitas que se derivaram do movimento [ana]batista.”17 O interesse do
autor se concentra “na influência daquelas sanções psicológicas que, originadas na crença
religiosa e na prática da vida religiosa, orientavam a conduta e a ela prendiam o
indivíduo.”18 É em torno dessa questão central que gira a tese de Weber.
1. O primeiro grupo abordado é o calvinismo,19 que “foi a fé em torno da qual giraram nos
países capitalisticamente desenvolvidos — Países Baixos, Inglaterra e França — as
grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII,” associada principalmente a
João Calvino. Em seu entendimento, “naquela época, e, de modo geral, mesmo hoje, a
doutrina da predestinação era considerada seu dogma mais característico. (...) Os
grandes sínodos do século XVII, principalmente os de Dordrecht e Westminster, além de
numerosos outros menores, fizeram de sua elevação à autoridade canônica o objetivo
principal de seus trabalhos.”20 Assim é como ele entende a doutrina da predestinação:
Por um lado, manteve-se como um dever absoluto, de cada um considerar-se escolhido e
de combater todas as dúvidas e tentações do demônio, já que a falta de autoconfiança
era o resultado da falta de fé; portanto, de graça imperfeita. A exortação do apóstolo de
fortalecimento da própria vocação é aqui interpretada como um dever de obter certeza da
própria dedicação e justificação na luta diária pela vida... Por outro lado, a fim de
alcançar aquela autoconfiança, uma intensa atividade profissional era recomendada,
como o meio mais adequado.21
Para Weber, baseando sua ética na doutrina da predestinação, os calvinistas substituíram
a aristocracia espiritual dos monges, alheia e superior ao mundo, pela aristocracia
espiritual dos predestinados santos de Deus, integrados no mundo.22 “A união da fé, em
normas absolutamente válidas, com o determinismo absoluto, e a completa
transcendência de Deus foi, a seu modo, um produto de grande genialidade... uma
ordenação racional sistemática da vida moral global.”23 Em seu entendimento, ao
luteranismo, em razão de sua doutrina da graça centrada nos sacramentos e na igreja
visível, faltava justamente uma “sanção psicológica de conduta sistemática que o
compelisse à racionalização metódica da vida.”24 Mas, segundo Biéler,
Que este dogma [da predestinação] foi importante no pensamento de Calvino ninguém
poderia contestar; que, no entanto, tarjasse com seu timbre toda a vida religiosa e
profana das comunidades calvinistas desde a origem, ao ponto de desencadear entre seus
membros reflexos profissionais específicos, eis o que é bastante exagerado e
abertamente contraditado pelos fatos da época, já que nos mostram os calvinistas bem
pouco inclinados às práticas capitalistas.25
Aqui, portanto, já precisamos levantar uma questão: Será que Weber está sendo
inteiramente justo em sua leitura de Calvino — e da tradição reformada que se seguiu?
É interessante comparar “o espírito do capitalismo,” conforme sua descrição feita por
Weber e reconhecido por nós em nós mesmos e nos outros, com as idéias do próprio
Calvino a respeito do dinheiro e dos negócios. Ele considerava os negócios como uma
forma legítima de servir a Deus e de trabalhar para a sua maior glória. Ele via a
circulação de dinheiro e os bens e serviços como uma forma concreta da comunhão dos
santos. Ele defendia que aqueles que se envolviam nos negócios deveriam ter como
objetivo ajudar os pobres e os ricos. Ele pensava que seria bom restaurar o Ano do
Jubileu, uma redistribuição periódica da riqueza de modo que essa brecha nunca se
tornasse permanente.26
Os pastores de Genebra intercediam continuamente diante do Conselho Municipal em
favor dos pobres e dos operários. O próprio Calvino intercedeu várias vezes por aumentos
de salários para os trabalhadores. Os pastores pregavam contra a especulação financeira
e fiscalizavam os preços contra a alta provocada pelos monopólios. Por influência dos
pastores, o Conselho limitou a jornada de trabalho dos operários. A vadiagem foi proibida
por leis: os vagabundos estrangeiros que não tivessem meios de trabalhar deveriam
deixar Genebra dentro de três dias após a sua chegada. E os vagabundos da cidade
deveriam aprender um ofício e trabalhar, sob pena de prisão. O Conselho instituiu cursos
profissionalizantes para os desocupados e os jovens, para que eles pudessem entrar no
mercado de trabalho.
Os autores da Confissão de Fé de Westminster e dos dois Catecismos foram
profundamente influenciados neste aspecto pelo ensino de Calvino. No capítulo sobre o
“Magistrado Civil” (Cap. XXIII) a Confissão de Fé reflete o ensino de Calvino sobre a
vocação social e política dos cristãos (par. 2), a independência da Igreja em relação ao
Estado para gerir seus próprios interesses, e o dever do Estado de proteger a Igreja (par.
3), o dever do Estado de assistir e proteger os necessitados independentemente das
convicções religiosas dos mesmos (par. 3), bem como o dever dos cristãos de honrarem e
de submeterem-se ao Estado (par. 4). Eles também fizeram contínuas referências a
questões sociais e econômicas. A exposição do sexto mandamento (“não matarás”) no
Catecismo Maior inclui os seguintes deveres exigidos: “...a justa defesa da vida contra a
violência... o uso sóbrio do trabalho e recreio... confortando e socorrendo os aflitos, e
protegendo e defendendo o inocente.” Como pecados, são incluídos “...a negligência ou
retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida... o uso imoderado
do trabalho... a opressão... e tudo que tende à destruição da vida de alguém.”27 Então, no
entendimento de Biéler, “foi o abandono da antropologia de Calvino, em favor de uma
antropologia secularizada otimista e progressista, que conduziu algumas sociedades
protestantes aos desvios analisados por Weber.”28 Ele continua:
Entre o século XVIII, analisado por Weber e Troeltsch, e a época do Reformador
[Calvino], há mais de dois séculos de história e nada menos que a revolução industrial.
Pois bem, a maior censura que se pode fazer a esses autores é a de haverem ignorado
essa distância e de haverem cedido à tentação de identificar — a despeito de sua vontade
de distingui-las — a influência de Calvino com a influência dos movimentos religiosos de
origem calvinista, contudo, já extensivamente deformados e secularizados.29
2. O segundo grupo protestante abordado é o pietismo, associado a Philip Spener, e
caracterizado como “emocional.” No entendimento de Weber, o efeito prático dos
princípios pietistas foi um controle ainda mais estritamente ascético da conduta na
vocação, “fornecendo uma base religiosa para a ética vocacional ainda mais sólida que a
mera respeitabilidade laica” dos cristãos luteranos normais, considerados pelo pietismo
como uma cristandade de segunda classe.30 O pietismo acabou influenciando funcionários,
caixeiros, operários, empregados domésticos e o empregador patriarcal condescendente
(seu exemplo sugestivo é o Conde Nikolaus von Zinzendorf). O calvinismo, por outro
lado, estava mais relacionado com a “ativa empresa dos empreendedores capitalistas
burgueses.”31
3. O terceiro grupo estudado é o metodismo, associado principalmente a John Wesley.
Para Weber, “esta religião emocional entrou, e não com pequenas dificuldades, numa
aliança peculiar com a ética ascética racional, para todo o sempre imposta pelo
puritanismo.” A doutrina da predestinação foi substituída pela certitudo salutis, derivada
“imediatamente do testemunho do Espírito.” Então, alguém deste modo remido pode, em
virtude da divina graça já trabalhando em seu ser, obter, mesmo nesta vida, por uma
segunda transformação espiritual, geralmente separada e muitas vezes súbita, a
“santificação,” a consciência da perfeição, no sentido da libertação do pecado.
A doutrina da regeneração do metodismo criou um complemento para a sua doutrina das
obras: “uma base religiosa para a conduta ascética, depois do abandono da doutrina da
predestinação.” Mas, na prática, a influência desta tradição é limitada no
desenvolvimento do sistema capitalista: no entendimento de Weber, “[podemos] deixar
de lado o metodismo como um produto tardio já que ele nada ajuntou de novo ao
desenvolvimento da idéia da vocação.”32
4. O quarto grupo estudado é equivocadamente chamado de “batistas.”33 Na verdade,
estas “seitas”34 estão ligadas aos anabatistas associados a Menno Simons.35 Em seu
entendimento, “as mais importantes idéias de todas essas comunidades [anabatistas],
cuja influência no desenvolvimento da cultura somente pode ser bem esclarecida em uma
conexão algo diferente, são algo com que já estamos familiarizados: a believers’ church...
em outras palavras: não uma igreja, mas uma ‘seita.’”36
Tendo rejeitado a doutrina reformada da predestinação, o caráter peculiarmente racional
da moralidade anabatista “apoiou-se psicologicamente, acima de tudo, na idéia da
‘espera’ pela ação do Espírito, que, mesmo hoje caracteriza o meeting quaker...”37 Esta
atitude significou um enfraquecimento da concepção calvinista de vocação, mas, ao
mesmo tempo, por outro lado, por várias circunstancias, aumentava nas seitas
anabatistas a intensidade do interesse vocacional de caráter econômico. Eles recusaram
aceitar funções publicas, originariamente um dever religioso decorrente do repúdio de
todas as coisas mundanas, que, depois de abandonada como principio, permaneceu ainda
efetiva na prática, pelo menos para os menonitas e para os quakers porque a estrita
recusa de pegar em armas e prestar juramentos constituía uma desqualificação suficiente
para o serviço publico.
De mãos dadas com este repudio, em todos os grupos anabatistas “vinha uma invencível
oposição a qualquer tipo de estilo de vida aristocrático.” Toda a consciente e sutil
“racionalidade da conduta [ana]batista foi assim orientada para vocações apolíticas.”
Como conseqüência, “a forma especifica assumida pela ascese secular dos [ana]batistas,
especialmente dos quakers... [encontra] seu documento clássico no tratado de
[Benjamin] Franklin anteriormente citado.” Então, em conclusão, Weber afirma que “esta
racionalização da conduta dentro deste mundo, mas para o bem do mundo do além, foi a
conseqüência do conceito de vocação do protestantismo ascético.”38
B. A Ascese e o Espírito do Capitalismo
Para Weber, a vocação ascética reformada, conforme interpretada principalmente por
Richard Baxter,39 não é, como no luteranismo, um destino ao qual cada um deva se
submeter, mas um mandamento de Deus a todos, para que trabalhem para a glória de
Deus. Essa diferença, aparentemente irrelevante, teve amplas conseqüências
psicológicas, relacionando-se com um maior aperfeiçoamento dessa significação
providencial da ordem econômica.40
A avaliação religiosa do infatigável, constante e sistemático labor vocacional secular,
como o mais alto instrumento de ascese, e, ao mesmo tempo, como o mais seguro meio
de preservação da redenção da fé e do homem, deve ter sido presumivelmente a mais
poderosa alavanca da expressão dessa concepção de vida, que aqui apontamos como
“espírito” do capitalismo.41
Uma outra questão precisa ser aqui mencionada. Embora não inteiramente aversos aos
esportes e lazer, os puritanos não os toleravam quando interferiam com o trabalho,
evidentemente com o exercício fiel do seu chamado ou vocação, ou quando significasse
excessivo dispêndio de dinheiro, do qual temos de dar contas a Deus.
Mas, no entendimento de Weber, à medida que foi se estendendo a influência do estilo de
vida puritano, centrado na idéia da vocação — e isto, naturalmente, é muito mais
importante do que o simples fomento da acumulação de capital —, foi favorecido o
desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. Era a sua mais importante
e sua única orientação consistente, isto tendo sido o berço do moderno “homem
econômico”. “A intensidade da busca do reino de Deus gradualmente começa a
transformar-se em sóbria virtude econômica, quando lentamente desfalecem as raízes
religiosas, dando lugar à secularidade utilitária... uma ética profissional especificamente
burguesa surgiu em seu lugar.”42
Aqui, a tese do autor é parcialmente correta, quando atribui o progresso material à
orientação dada pela ética e pela teologia de Calvino. Estranha, no entanto, é a
qualificação de ascetismo dada por ele à maneira de viver que Calvino e Baxter
preconizavam. Por exemplo, para Baxter, segundo um estudioso:
a riqueza deve ser usada para fazer um bem positivo. Baxter tem um alto ponto de vista
do lugar da caridade na vida cristã. Fazendo o bem deste modo, nós nos tornamos
semelhantes a Deus; isto agrada a Deus, mostra que nossa fé é sincera e é determinada
e recomendada na Escritura nos mais fortes termos. (...) Baxter não queria ser legalista
em determinar o quanto alguém daria aos que estivessem em necessidade. Ele não
apresenta uma proporção fixa; sua única regra é: “Dê o quanto você pode dar.” Sobre o
dízimo, seu parecer (numa carta a Thomas Gouge) é o seguinte: “Sua proporção da
décima parte é demais para alguns, e muito pouco para outros, mas para a maior parte
eu acho [que] é tão razoável como apropriada para ser estabelecida em particular”
(I.863b). Ele queria ver o dinheiro cristão sendo utilizado para a conversão dos pagãos,
tanto no próprio país como no estrangeiro; para encorajar um piedoso ministério; para
edificar e beneficiar escolas e hospitais; para ajudar as crianças pobres; e, naturalmente,
para socorrer os pobres. Parece que ele mesmo dava metade de sua renda anual para
causas caridosas dessa espécie.43
Weber termina esse capítulo com a seguinte constatação: “a conduta racional baseada na
idéia de vocação, nasceu (...) do espírito de ascese cristã. (...) No setor de seu mais alto
desenvolvimento, nos Estados Unidos, a procura da riqueza, despida de sua roupagem
ético-religiosa, tende cada vez mais a associar-se com paixões puramente
mundanas...”44
CONCLUSÃO
Segundo Ryken,
[Weber] ... encontrou muitas conexões [entre “a ética protestante” e o “espírito do
capitalismo moderno”]: uma crença de que se pode servir a Deus no chamado
pessoal secular, uma tendência a viver vidas disciplinadas e até ascéticas, um
espírito de individualismo, uma ênfase no trabalho árduo e uma boa consciência
referente ao ganhar dinheiro. Embora Weber fosse altamente seletivo nos dados
que escolheu para considerar, sua análise descobriu muito de importante sobre o
movimento protestante. A chamada tese de Weber produziu alguns resultados
infelizes, porém. Os protestantes têm sido descritos com tendo elevado o ganhar
dinheiro ao mais alto objetivo na vida, como vendo o acúmulo de riquezas como
uma obrigação moral e com aprovando virtualmente todo o tipo de competição nos
negócios. Uma olhada nas atitudes e práticas puritanas relacionadas ao dinheiro
mostrará que a tese de Weber era uma boa idéia que acabou pervertendo
seriamente a verdade.45
A partir desta constatação, precisamos levantar algumas perguntas importantes: Até que
ponto Weber não foi unilateral em seu estudo? Será que catolicismo e protestantismo não
concorreram juntamente, com sua ética ascética, para o surgimento do capitalismo? A
noção de Lutero, e especialmente de Calvino, sobre a vocação, foi corretamente
compreendida? Será que o capitalismo não adotou a doutrina da vocação, retirando-lhe o
sentido cristão, fazendo-o apenas uma teoria para obrigações terrenas? Será que Weber
considerou, em sua análise, o puritanismo (que dominou o cenário inglês entre 1560 a
1660) ou o movimento posterior, o não-conformismo?46 Ele levou em conta elementos de
continuidade e descontinuidade nesses movimentos? Será que “o espírito capitalista” e a
“ética protestante” não são muito mais complexos do que Weber parece indicar?47 Até que
ponto as observações de Weber não carecem de um conhecimento teológico mais
profundo?
Algumas observações devem ser feitas, como conclusão. Além de Weber fazer uma
confusão histórica na definição de puritanismo,48 pietismo, metodismo e anabatistas,
temos uma caricatura reducionista e simplista da tradição reformada. Por exemplo: a
doutrina da predestinação, em Calvino, foi totalmente retirada de seu contexto mais
amplo: criação, queda, redenção e restauração. Também não há nenhuma menção à
doutrina do pecado original, e do alcance do pecado no homem, ou à graça comum. Nem
mesmo outras obras do reformador são mencionadas, como, por exemplo, seus
numerosos comentários, cartas, tratados, etc. Isto acabaria por dar uma visão mais
ampla do pensamento econômico e social de Calvino, que foi por ele mesmo assim
resumido:
É necessário começar por saber qual a atitude que o Senhor deseja que tenhamos diante
dos bens materiais, quais os meios lícitos de ganhá-los e qual o seu uso adequado e
legítimo.
Em primeiro lugar, não devemos buscar os bens terrenos por cobiça. Se vivermos
na pobreza, suportemo-la pacientemente; se temos riquezas, não nos prendamos a
elas nem confiemos nelas e estejamos dispostos a renunciá-las se isso convier a
Deus. Que tanto o possuir como o não possuir sejam indiferentes e sem maior
valor. Consideremos a bênção de Deus como maior do que todas as coisas e
busquemos o reino espiritual de Jesus Cristo sem nos envolvermos em ambições
iníquas.
Em segundo lugar, trabalhemos honestamente para ganhar a vida. Recebamos
nossos proventos como vindos das mãos de Deus. Não usemos de má fé para nos
apossarmos dos bens de outrem, mas sirvamos o próximo com consciência limpa.
Que o fruto de nosso trabalho seja o salário justo. Ao vender e ao comprar não
usemos de fraude, astúcia e mentira. Apliquemos ao nosso trabalho a mesma
honestidade e lealdade que esperamos dos outros.
Finalmente, quem nada possui não deixe de render graças a Deus e de comer seu
modesto pão com alegria. Quem muito possui não use de glutonaria, de suntuosidade, de
superfluidade, de orgulho e de vaidade; antes, seja em tudo moderado, e empregue seus
bens em ajudar e socorrer o próximo, reconhecendo-se como quem recebeu seus bens de
Deus e que deles há de um dia prestar contas. Lembremo-nos sempre da comparação
que faz São Paulo entre os bens terrenos e o maná, de tal modo que o que tem em
abundância use apenas o necessário para que o que nada tem não fique privado.
Em suma, assim como Jesus Cristo deu-se por nós, também comuniquemos ao próximo,
com amor, as graças que recebemos, ajudando-o na sua pobreza e socorrendo-o na sua
miséria. Isto é o que nos cabe fazer.49
Também podemos lembrar aqui o que disse Abraham Kuyper, um dos gigantes da
tradição reformada, em seu discurso no Congresso Social Cristão, em 1891:
Quando ricos e pobres permanecem opostos uns aos outros, [Jesus] nunca fica com o
mais rico, mas sempre com o mais pobre. Ele nasceu num estábulo; e, enquanto as
raposas têm tocas e os pássaros possuem ninhos, o Filho do Homem não tinha nenhum
lugar para repousar a sua cabeça... Tanto Cristo quanto muitos de seus discípulos depois
dele e os profetas antes dele tomaram, invariavelmente, posição contra aqueles que eram
poderosos e viviam no luxo e a favor dos que sofriam e eram oprimidos.
Deus não deseja que alguém deva matar-se no trabalho e, mesmo assim, não ter
nenhum pão para si e para sua família. E Deus não quer muito menos que qualquer
pessoa com mãos e vontade de trabalhar padeça fome ou seja reduzido à condição de
mendigo simplesmente por não haver nenhum trabalho. Se temos “alimento e roupa,”
então é verdade que o santo apóstolo ordena que devamos nos contentar com isso. Mas
não pode nem deve nunca ser excusado em nós que, enquanto o nosso Pai no céu deseja
com bondade divina que uma abundância de alimento venha da terra, mediante nossa
culpa essa rica generosidade seja dividida de forma tão desigual que, enquanto um se
farta de pão, outro vá com o estômago vazio para seu catre e, algumas vezes, não tenha
nem mesmo um catre.50
Weber também não menciona nenhuma vez a teologia das alianças, como formativa da
mentalidade puritana,51 e nem a doutrina do sacerdócio de todos os crentes. Sua tese,
como ele mesmo admite,52 também está limitada pelo uso de fontes como John Bailey,
Richard Baxter (ignorando totalmente sua teoria governamental da expiação, sua
doutrina da justificação e seu “neonomismo”), John Milton (é mencionado apenas de
passagem seu arminianismo, mas não seu arianismo — presente em seu Doctrina
Christiana, só descoberto em 1823), John Bunyan e H. Heppe,53 que não são
representativas do movimento puritano como William Perkins, Richard Sibbes, William
Ames, John Owen, Thomas Goodwin e Thomas Watson.54
O capitalismo só se desenvolveu entre as populações protestantes em virtude do
afrouxamento da doutrina e da ética reformadas.55 Em parte alguma, nos escritos e atos
de Calvino (e da tradição reformada posterior), há espaço para inserir-se, por exemplo,
“o texto de Benjamin Franklin citado por Weber, sem que apareça, em toda a sua
violência, o contraste entre sua moral e a moral” deste deísta.56 O que parece é que
Weber não considerou aquilo que Biéler chama de ambigüidade social do Calvinismo —
um equilíbrio evangélico do individualismo intenso e um “socialismo cristão rigoroso.”
À luz do contexto econômico neoliberal e sua política de exclusão social57 precisamos nos
perguntar em que sentido a teologia social reformada poderia nos ajudar hoje, aqui e
agora, no Brasil. É obvio que existem profundas diferenças culturais, políticas e religiosas
entre a Suíça medieval e o Brasil moderno. Mas existem muitas semelhanças também,
particularmente no que se refere aos problemas sociais. Além do mais, os princípios
elaborados por Calvino para atender às questões sociais e econômicas são válidos para
nós hoje, pois são bíblicos. Permanece como verdade imutável o fato de que a raiz da
opressão social é espiritual e moral, bem como o fato de que Jesus Cristo é o Senhor de
todas as coisas, em todos os lugares, e em todas as épocas, e que seu reino se estende à
política, à sociedade e à economia tanto de genebrinos quanto de brasileiros. Por causa
disto, a Igreja evangélica brasileira (especialmente os reformados) deveria se envolver
em todos estes aspectos da sociedade,
usando os meios apropriados, lícitos e legais para protestar, advertir e resistir à injustiça
social, usando a pregação da Palavra para chamar ao arrependimento os governantes
corruptos, os ricos opressores e os pobres preguiçosos, e exercitando obras de
misericórdia e assistência social através de uma diaconia treinada e motivada. Todo este
envolvimento social deve acontecer sem perder de vista que a missão primordial da
Igreja é promover a reforma (parcial e provisória) da sociedade através da proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo, aguardando os novos céus e a nova terra onde habita a
plena
justiça
de
Deus.58
____________________
*
Ministro da Convenção Batista Brasileira, Doutorando em Teologia pelo Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil, onde leciona Teologia Sistemática.
1
“Caderno Mais!,” Folha de São Paulo (Domingo, 11 de abril de 1999). Participaram
da escolha o crítico literário e escritor Modesto Carone, o antropólogo Roberto DaMatta, o
físico Rogério Cézar de Cerqueira Leite, o economista Eduardo Giannetti, os historiadores
Evaldo Cabral de Mello e Nicolau Sevcenko e os professores de filosofia Maria Sylvia
Carvalho Franco, Olgária Matos, Bento Prado Jr. e Renato Janine Ribeiro. Sobre o fato de
Max Weber ocupar a primeira e a terceira colocações, Maria Franco comenta: “Sua
erudição deixa tudo ao redor dele muito empalidecido.” A obra de Weber que ocupou a
terceira colocação é “Economia e Sociedade.”
2
Ibid.
3
Wax Weber (nascido em Erfurt, Alemanha, em 1864; falecido em Mônaco, em 1920)
foi professor de economia primeiramente em Fribourg (1894), depois em Heidelberg
(1897), Viena e, finalmente, Berlim. Foi co-editor, com Werner Sombart (que em 1911
publicou Die Juden und das Wirtschaftsleben [Os judeus e a vida econômica], uma
tentativa de refutar a tese de Weber), da mais influente publicação de ciências sociais de
seu tempo — Archiv Fur Sozialwissenschaft und Sozialpolitik. Algumas de suas principais
obras são: A história agrária e sua significação para o direito público e privado (1891), As
causas sociais da decadência da civilização antiga (1896), A ética protestante e o espírito
do capitalismo (1904-1905), As seitas protestantes e o espírito do capitalismo (1906), e,
postumamente, Economia e sociedade (1922). Para mais informações biográficas e uma
coletânea de ensaios weberianos, ver Ana Maria de Castro e Edmundo Fernandes Dias,
orgs., Emile Durkheim, Max Weber, Karl Marx e Talcott Parsons: Introdução ao
Pensamento Sociológico (São Paulo: Moraes, 1992), 97-156. Para um resumo de suas
idéias principais, ver Tânia Quintaneiro, Maria Ligia de O. Barbosa e Márcia Gardênia de
Oliveira, Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e Weber (Belo Horizonte: UFMG, 1999),
105-147. Para a importância da sociologia como ferramenta para ajudar a fazer teologia,
ver a excelente introdução de David Lyon, O Cristão e a Sociologia (São Paulo: ABU,
1996).
4
P. Bourdier, “Uma interpretação da teoria da religião em Max Weber,” em A
Economia das Trocas Simbólicas (São Paulo: Perspectiva, 1982), 79. Ver também John
Patrick Diggins, Max Weber: Política e o Espírito da Tragédia (Rio de Janeiro: Record,
2000). Com outros pesquisadores, Diggins sugere que a visão de Weber sobre os
conflitos na sociedade moderna foi moldada pelo entendimento da vontade de poder
(expressa na luta entre valores antagônicos), que ele recebeu do trabalho de Friedrich
Nietzsche, e pela descrição dos limites da responsabilidade moral, que ele desenvolveu a
partir de seus estudos sobre o calvinismo, conceitos estes que tornariam a realidade
social, política e econômica compreensível.
5
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 11ª ed. (São Paulo:
Pioneira, 1996 [1904-05]), 4-5.
6
Ibid., n. 8, 136.
7
Ibid., 29. Aqui ele está citando duas obras de Benjamin Franklin, Necessary Hints to
Those That Would Be Rich, de 1736, e Advice to a Young Tradesman, de 1748.
8
Albert Curry Winn, “A Tradição Reformada e a Teologia da Libertação” em Donald K.
McKim, ed., Grandes Temas da Tradição Reformada (São Paulo: Pendão Real, 1998),
354.
9
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 31.
10
Ibid., 53
11
João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã, vol. III (São Paulo: Casa
Editora Presbiteriana, 1989), 186s.
12
13
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 53.
André Biéler, O Humanismo Social de Calvino (São Paulo: Edições Oikoumene,
1970), 68.
14
John Milton, O Paraíso Perdido XII (Rio de Janeiro: Ediouro, s/d [1667]), 258, 260.
15
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 59.
16
Para as tipologias de “ascetismo” e “misticismo,” ver Max Weber, “Rejeições
religiosas do mundo e suas direções” na coleção Os Pensadores (São Paulo: Abril Cultural,
1980), 242-244, onde ele contrasta “como renúncias do mundo, o ascetismo ativo, que é
uma ação, desejada por Deus, do devoto que é instrumento de Deus e, por outro lado, a
possessão contemplativa do sagrado, como existe no misticismo, que visa a um estado de
‘possessão’, não de ação, no qual o individuo não é um instrumento, mas um ‘recipiente’
do divino. A ação no mundo é vista, assim, como um perigo para o estado irracional e
outros estados religiosos voltados para o outro mundo. O ascetismo ativo opera dentro do
mundo; o ascetismo racionalmente ativo, ao dominar o mundo, busca domesticar o que é
da criatura e maligno através do trabalho numa vocação ‘mundana’ (ascetismo do
mundo). Tal ascetismo contrasta radicalmente com o misticismo, se este se inclina para a
fuga do mundo (fuga contemplativa do mundo).”
17
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 65.
18
Ibid., 67.
19
Ver Ibid., n. 1, 163. Em suas palavras, “não discutimos separadamente o
Zuinglianismo já que ele, após um curto período de poder, rapidamente perdeu
importância. O ‘Arminianismo,’ cuja peculiaridade dogmática consistiu no repúdio à
doutrina da predestinação em sua forma mais estrita, repudiando o ascetismo secular, foi
organizado como seita apenas na Holanda (e nos Estados Unidos). Neste capítulo ele não
tem interesse para nós, ou tem somente o interesse negativo de ter sido a religião do
patriciado mercantil da Holanda (...). Sua dogmática assemelhava-se à da Igreja
anglicana e à das principais seitas metodistas. Sua posição ‘erastiana’ (isto é, favorável à
soberania do Estado mesmo em assuntos eclesiásticos), todavia, foi comum a todas as
entidades de interesses puramente políticos: ao Long Parliament na Inglaterra, a
Elisabeth, aos Estados Gerais holandeses, e, acima de tudo, a Oldenbarneveldt.”
20
Ibid., 68.
21
Ibid., 77.
22
Ibid., 85.
23
Ibid., 88.
24
Ibid., 89.
25
André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino (São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1990), 641.
26
27
Winn, “A Tradição Reformada e a Teologia da Libertação,” 355.
Augustus Nicodemus Lopes, “O Ensino de Calvino Sobre a Responsabilidade Social
da
Igreja”
(Centro
Presbiteriano
de
Pós-Graduação
Andrew
<http://www.mackenzie.com.br/teologia/artigos/calvino_social.htm>.
Jumper)
28
Biéler, O Humanismo Social de Calvino, 71. Ele também diz: “Calvino elaborou um
pensamento econômico inteiramente original. Enquanto quase todos os teólogos
anteriores faziam depender a vida econômica da moral geral e natural, sem relação direta
com a obra da redenção, Calvino foi o primeiro a mostrar que a vida material é na
verdade um dos lugares objetivos onde, mediante seu comportamento concreto, o
homem vive o testemunho de sua fé no Cristo redentor. Entendia, pois, que as relações
econômicas entre os homens — homens naturalmente corrompidos pelo pecado —
podiam ser restauradas pela renovação espiritual da criatura humana. A evangelização e
a missão cristã tem, portanto, incidência direta sobre a vida econômica e passam a ser a
condição de sua restauração e da vida social harmoniosa”. Ver também, do mesmo autor,
A Força Oculta dos Protestantes: Oportunidade ou Ameaça para a Sociedade? (São Paulo:
Cultura Cristã, 1999), 122-137.
29
Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, 640. Para mais informações
sobre a influência de Calvino no processo social e econômico, ver também Wilson Castro
Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia (Campinas: Luz Para o Caminho, 1990),
217-236.
30
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 92.
31
Esta asserção foi severamente questionada por H. R. Trevor-Roper, Religião,
Reforma e Transformação Social (Lisboa: Editorial Presença e Martins Fontes, 1981).
32
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 101.
33
Para a origem dos batistas, ver Israel Belo de Azevedo, A Celebração do Indivíduo:
A Formação do Pensamento Batista Brasileiro (São Bernardo do Campo: Exodus e
Unimep, 1993).
34
Sobre a distinção entre “igreja”, “seita” e “mística,” ver Ernst Troeltsch, Die
Soziallehren der christlichen Kirchen und Gruppen (Tübingen: Mohr [1994]). Para
Troeltsch, a “igreja” é a instituição de salvação e graça equipada com o resultado da obra
redentora, que pode acolher as massas e se adaptar ao mundo porque tem em certa
medida a possibilidade de prescindir da santidade subjetiva, devido ao tesouro objetivo
da graça e salvação. A “seita” é a livre associação de cristãos exigentes e conscientes,
que se unem como verdadeiramente renascidos, se separam do mundo, permanecem
restritos a pequenos grupos, enfatizam a lei ao invés da graça e que em seu interior
colocam em prática, com maior ou menor radicalidade, o modo cristão de vida baseada
no amor, tudo com o propósito de preparar e esperar pelo reino futuro de Deus. A
“mística” é a internalização e imediatização do ideário cristalizado no culto e na doutrina
como sendo uma posse de sentimentos puramente pessoais e interiores, pelo que
somente podem ocorrer formações de grupos indefinidos e condicionados de maneira
bem pessoal, enquanto culto, dogma e embasamento histórico tendem à diluição. Citado
em Emil Albert Sobottka, “As Estruturas Eclesiais e as Estruturas da Sociedade na
América
Latina”
(Fraternidad
Teológica
Latinoamericana)
<http://ekeko2.rcp.net.pe/fratela/clade4/emil.htm>.
35
Para um estudo erudito da historia e teologia anabatista/menonita, ver Timothy
George, Teologia dos Reformadores (São Paulo: Vida Nova, 1993), 251-304.
36
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 102.
37
Ibid., 105.
38
Ibid., 107, 109.
39
Especialmente em seu A Christian Directory (Morgan, Pensilvânia: Soli Deo
Gloria, 1996 [1673]).
40
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 114.
41
Ibid., 123.
42
Ibid., 126-127.
43
Wooldridge, D. R. “O Ensino Econômico e Social de Richard Baxter,” Jornal Os
Puritanos II:5 (Set-Out 1994), 27.
44
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 130-131.
45
Leland Ryken, Santos no Mundo: Os Puritanos como Realmente Eram (São José dos
Campos: Fiel, 1992), 71.
46
Douglas Wilson, “O Puritano Liberado,” Jornal Os Puritanos V:1 (Jan-Fev 1997),
16. “Os modernos herdeiros dos puritanos não têm exercido a liberdade de seus pais.
Pelo contrário, eles tem estado inúmeras vezes imitando as caricaturas criadas pelos
inimigos dos puritanos. Dito de outra forma, a edificação encontrada na leitura destes
homens antigos e já falecidos não consiste em lê-los, mas em aprender tanto sobre eles
para nos tornarmos como eles. Isto é feito através de um ato de abraçar o Evangelho; o
mesmo Evangelho que os abraçou e os achou no passado. (…) Citando C. S. Lewis (...):
‘Devemos imaginar estes puritanos como o extremo oposto daqueles que se dizem
puritanos hoje; imaginemo-los jovens, intensamente fortes, intelectuais, progressistas,
muito atuais. Eles não eram avessos a bebidas com álcool; mesmo à cerveja, mas os
bispos eram a sua aversão’ [C. S. Lewis, Estudos sobre a Renascença e Idade Media].
Puritanos fumavam (na época não sabiam dos efeitos danosos do fumo), bebiam (com
moderação), caçavam, praticavam esportes, usavam roupas coloridas, faziam amor com
suas esposas, tudo isto para a glória de Deus, o qual os colocou em posição de liberdade.
O conceito popular moderno de puritanos não veio à existência até o momento em que
tanto seus amigos como os seus oponentes entenderam muito mal a herança puritana.
(...) Quase toda associação que atualmente adere ao nome puritano deve ser eliminada
quando pensamos nos primeiros protestantes. O que quer que eles fossem, não eram
soberbos, melancólicos ou severos. (...) O protestantismo não era duro demais, pelo
contrário, era alegre demais para ser verdade [C. S. Lewis, Literatura Inglesa no Século
Dezesseis].”
47
Para um bom levantamento de críticas metodológicas, ver R. H. Tawney, A Religião
e o Surgimento do Capitalismo (São Paulo: Editora Perspectiva, 1971), 202-203. Para
avaliação das posições de Max Weber e Ernst Troelsch, confrontando-as com as
interpretações de Émile Doumergue, Georges Goyau, Henry Hauser, André E. Sayous, H.
R. Tawney, John V. Nef e outros, ver André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de
Calvino, 621-666.
48
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, n. 37, 172. Ele faz uma
tentativa de reinterpretar o significado original da palavra, para poder incluir Benjamin
Franklin!
49
Citado em Biéler, O Humanismo Social de Calvino, 72-74.
50
Abraham Kuyper, Christianity and the Class Struggle (Grand Rapids: Piet Hein,
1950), 27-28, 50; 48-49. Citado em Allan Boesak, “Teologia Negra e Tradição
Reformada: Contradição ou Desafio,” em Donald K. McKim, ed., Grandes Temas da
Tradição Reformada, 366-367. Para uma ênfase parecida ver Karl Barth, “Pobreza,”
Walter Altmann, org., Karl Barth: Dádiva e Louvor: Artigos Selecionados (São Leopoldo:
IEPG e Sinodal, 1996), 351-353. Para mais informações sobre o pensamento político e
social de Kuyper, ver, de minha autoria, “‘A Minha Glória não Darei a Outrem’: Abraham
Kuyper,” Revista Visão Missionária (3º Trim. 1998), 34-37.
51
William Klempa, “O Conceito de Pacto na Teologia Reformada Continental e
Britânica dos Séculos XVI e XVII,” em Donald K. McKim, ed., Grandes Temas da Tradição
Reformada, 78-90. Ver também a resenha do livro de Charles S. McCoy e J. Wayne
Baker: Fountainhead of Federalism: Heinrich Bullinger and the Covenant Tradition
(Louisville: Westminster/John Knox, 1991), Westminster Theological Journal 54 [1992],
396-400.
52
Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, n. 4, 163-164.
53
Dogmatik der evangelisch-reformierten Kirch (Eberfeld, 1861). Curiosamente, este
foi o livro-texto usado por Karl Barth quando ele foi professor honorário de Teologia
Reformada em Göttingen, na Alemanha, entre 1921 e 1925.
54
É interessante mencionar que Christopher Hill, professor na Universidade de Oxford,
marxista, em seus impressionantes e eruditos estudos sobre o puritanismo inglês, O
Eleito de Deus: Oliver Cromwell e a Revolução Inglesa (São Paulo: Companhia das Letras,
1990) e O mundo de Ponta-Cabeça: Idéias Radicais Durante a Revolução Inglesa de 1640
(São Paulo: Companhia das Letras, 1987), não menciona Weber nem uma única vez!
55
Ver Biéler, A Força Oculta dos Protestantes, 140-141: “Ora, constata-se que, se a
ética do trabalho, que domina as sociedades puritanas daquele tempo, é de fato fruto da
fé reformada, essa moral já está em parte deformada: emancipou-se das raízes religiosas
originais para tornar-se novo ideal profano. E esse ideal tem tendência para erigir-se num
absoluto, independente de toda a referência à fé que o gerou. Tornou-se ideologia
independente.”
56
57
Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, 661-662.
Ver, por exemplo, Viviane Forrester, O Horror Econômico (São Paulo: Unesp, 1999),
12-13: “Desse sistema emerge, entretanto, uma pergunta essencial, jamais formulada: ‘É
preciso merecer viver para ter esse direito?’ Uma ínfima minoria, já excepcionalmente
munida de poderes, de propriedades e de privilégios considerados implícitos, detém de
ofício esse direito. Quanto ao resto da humanidade, para merecer viver, deve mostrar-se
‘útil’ à sociedade, pelo menos àquela parte que a administra e a domina: a economia,
mais do que nunca confundida com o comércio, ou seja, a economia de mercado. ‘Útil’,
aqui, significa quase sempre ‘rentável’, isto é, lucrativo. Numa palavra, ‘empregável’
(‘explorável’ seria de mau gosto!).”
58
Augustus Nicodemus Lopes, O Ensino de Calvino Sobre a Responsabilidade
Social Da Igreja. (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper)
<http://www.mackenzie.com.br/teologia/artigos/calvino_social.htm>, in loco.
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