ARTICULANDO A EDUCAÇÃO E O SERVIÇO SOCIAL COMO ÁREAS
AFINS DE CONHECIMENTO
Iris de Lima Souza
Mestranda em Educação - UFRN
Betânia Leite Ramalho
Doutora em Educação - Professora da UFRN
Esse estudo é parte de um trabalho que procurou investigar a dimensão educativa que
caracteriza o fazer do Profissional de Serviço Social, partindo de um olhar que percebe a
necessidade de um trabalho articulado e plural entre os diferentes profissionais e sujeitos que
compõem o campo da educação escolar. Pensando-se a educação escolar inserida num círculo de
conhecimentos múltiplos, de participação, de interlocução e de articulação entre os que a fazem,
procurou-se registrar a importância da área e do Profissional de Serviço Social contribuindo nesse
cenário global, onde um trabalho de socialização, sensibilização, informação, capacitação e
organização da comunidade escolar se faz necessário.
Procurou-se desenvolver um estudo que refletisse essas duas áreas de conhecimento –
Educação e Serviço Social – tendo como norte duas problemáticas: 1) o não (re)conhecimento do
papel do Assistente Social na área da Educação, a sua mínima intervenção no campo da educação
escolar; 2) a carência de uma maior e sistemática articulação entre as áreas da Educação e do
Serviço Social. Objetivamos, portanto: identificar o espaço de trabalho do Assistente Social em
consonância com as necessidades da escola, considerando as variadas possibilidades da dimensão
educativa da sua prática; revelar os pressupostos teóricos que darão sustentação ao estudo; e
identificar os referenciais bibliográficos e os atuais projetos que tratam da temática, possibilitando
ampliar a visão e a reflexão sobre a articulação entre a Educação e o Serviço Social.
Investigar esta intervenção e articulação torna-se importante à medida em que, este
profissional pode contribuir e desenvolver seus saberes, seja atuando juntamente com os professores
e equipe técnica pedagógica, seja participando da elaboração e execução dos Projetos Políticos
Pedagógicos que devem ser referência no processo de ensino-aprendizagem.
Para atingir os objetivos propostos partiu-se de um estudo exploratório, de natureza
bibliográfica, para a construção teórico-metodológica e histórica do objeto, realizando um
levantamento e classificação das principais fontes bibliográficas que tratam da temática, que
abordam temas sobre a história do Serviço Social, o objeto de estudo da profissão, a dimensão
técnico-administrativa e educativa que caracteriza o seu fazer profissional, a identidade profissional,
seus saberes e competências, as atuais demandas presentes hoje para o Serviço Social e para a
Educação.
Sustentando-se em categorias de análise relacionadas à prática profissional, ao trabalho, à
Educação e ao Serviço Social Escolar se fez uso das idéias de autores que estão pensando e
trabalhando essa articulação: Ney Luiz Teixeira de Almeida (Universidade Estadual do Rio de
Janeiro); Sarita Alves Amaro, Rosangela Barbiani e Maristela Costa de Oliveira (Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul); Maria Herlinda Borges Oliva (Universidade Federal
de Pernambuco), Jacques Delors (Relatório da UNESCO).
Sendo a escola um espaço coletivo, que transita múltiplas e complexas relações e saberes,
não é possível dar conta da diversidade de idéias que é o mundo da educação sem haver uma
interação, uma troca de conhecimentos e experiências, um diálogo entre os diferentes profissionais
e áreas de conhecimento que a compõe. Como nos diz Delors (2001, p. 160), “Certos serviços de
apoio, como os de uma Assistente Social ou de um psicólogo escolar, parecem-nos necessárias e
deviam existir sempre” (p. 160). Não apenas “serviços de apoio”, mas profissionais que tivessem
um trabalho contínuo, diário, sistemático, onde Educadores, Pedagogos, Assistentes Sociais,
Psicólogos planejassem, discutissem, avaliassem seu Projeto Político-Pedagógico tendo como base
objetivos e metas comuns, procurando juntos pela qualidade da aprendizagem, do saber e do fazer
escolar.
Serviço Social e Educação: porque uma articulação necessária?
Com as mudanças societárias, as novas demandas colocadas à Educação, a ampliação da
temática da educação no contexto social e das profissões, as possibilidades de desenvolvimento de
programas educacionais, percebe-se ser o campo educacional uma área de interesse de muitas
profissões, entre estas a do Serviço Social. Para Almeida (2000a, p. 20),
“Os novos significados que o campo educacional passou a ter para os assistentes
sociais, contudo, podem ser examinados a partir de dois eixos: a posição
estratégica que a educação passou a ocupar no contexto de adaptação do Brasil
à dinâmica da globalização, e o movimento interno da categoria, de redefinição
da amplitude do campo educacional para a compreensão dos seus espaços e
estratégias de atuação profissionais”.
Discussões sobre mercado de trabalho, cidadania, família, sexualidade, violência, cultura
são temas que já fazem parte da agenda dos Profissionais de Serviço Social, mas que, diante dos
novos paradigmas educacionais, estas se redefinem, no instante que precisam ser trabalhadas de
forma integrada e contextualizada considerando-se os atores sociais inseridos na realidade escolar.
O Profissional de Serviço Social, atuando na área da educação, contribuirá com todos os
que fazem a comunidade escolar. Seu trabalho será dentro da política educacional, com questões
inerentes não apenas ao educando e suas famílias, mas, também, na formação permanente dos
educadores, na elaboração e operacionalização do Projeto Político-Pedagógico das escolas.
“O Serviço Social poderá contribuir para o conhecimento da realidade social
onde a escola se insere tendo em vista a adequação do projeto educacional a essa
realidade e participar de ações desencadeadas a partir da escola ampliando os
limites de sua ação à família e à comunidade” (Arias; Silva, 1998, p. 68).
Trabalhando no sentido educativo de revolucionar consciências, de proporcionar
discussões, de trabalhar as relações interpessoais e grupais, o Profissional de Serviço Social entra
nesse processo de construção do homem, de sua história, atuando no cenário público, mas tecendo
articulações na vida privada. E a escola é um espaço veiculador de informações, que trabalha com
diferentes consciências, com diferentes culturas e eixos educativos, com a “...linguagem que é
‘relação social’...” (Martinelli, 1998, p.141). Linguagem que é a ferramenta-chave, o recurso
básico que impulsiona, que aproxima o Assistente Social com seu público de atendimento.
“Ao mesmo tempo, a linguagem possibilita ampliar e aprofundar, frente ao outro,
os conhecimentos e práticas inerentes ao trabalho profissional, no espaço de vida
do sujeito, na mesma proporção em que vai circunscrevendo o espaço em relação
ao sujeito na sociedade” (Nicolau, 1999, p. 217).
Assim como na Educação, o Serviço Social baseia-se no conhecimento, na construção de
linguagens, sendo um campo de integração entre múltiplos saberes e experiências. Quando se
problematiza essa questão tem-se como base a idéia de que a Educação, no contexto do processo de
ensino-aprendizagem, não pode limitar-se a um único profissional, a um único saber, mas deve
procurar uma prática interdisciplinar que ganha suporte ao ser construída coletivamente com os
diversos símbolos e signos, saberes e experiências dos vários profissionais (Assistentes Sociais,
Psicólogos, Pedagogos) que procuram um sentido comum e amplo, socialmente, no nível
educacional.
Buscando educar sujeitos de diferentes saberes, valores e necessidades a escola defronta-se
com problemas de ordem política, econômica e social que dificultam o processo de ensinoaprendizagem e desafiam a qualidade da educação. A insuficiência de recursos materiais, os baixos
salários, as precárias condições de vida dos alunos, aliados à evasão e à repetência destes, à não
participação da comunidade no planejamento curricular não são situações novas na realidade
escolar.
A escola é uma instituição de poder onde as questões sociais se apresentam
cotidianamente, gerando conflitos entre todos os segmentos envolvidos: professores, alunos,
famílias, comunidade, Estado. Enquanto espaço social de transmissão e construção do saber, da
educação de crianças, jovens e adultos, (apesar de muitos não terem acesso a uma educação formal),
“A escola não pode ser pensada independente do modo de vida e de produção das
condições de existência em seu conjunto, ou seja, de uma estrutura social
determinada, contraditória e em movimento. Deve ser pensada sempre tendo
como referência a sociedade concreta da qual é parte integrante e indispensável,
isto é, o conjunto das relações sociais próprias do capitalismo” (Franco apud
Silva et alii, 1995, p. 187).
A escola é um espaço legítimo de discussão, debate, relacionamentos interpessoais,
intergrupais, demandando múltiplos conhecimentos, análises e estratégias de intervenção. São
diferentes realidades a serem desvendadas e trabalhadas. Diante disso, a equipe pedagógica
necessita ser composta por profissionais de áreas diversificadas que podem contribuir no processo
de aprendizagem, de conhecimento, de construção do Projeto Político que deve nortear a realidade
escolar.
Apesar da educação escolar ainda não ser um campo “natural” de contratação de
Assistentes Sociais, são as próprias alterações processadas no mundo educacional, no processo de
ensino que demandam a inserção desse profissional em articulação com os demais profissionais.
Sendo assim,
“... o Serviço Social não pode deixar de pensar esta realidade, sob pena de
perder não somente um possível campo de trabalho [...], mas a possibilidade de
contribuir para o enfrentamento de um grave problema social” (Almeida, 2000b,
p. 72).
Concorda-se com Almeida (ibidem, p. 24) quando este compreende que, a real dimensão
do campo da educação, da necessidade do Profissional de Serviço Social nesse espaço, não passa
pela simples identificação de se conquistar mais um campo de trabalho profissional ainda não
explorado.
“Trata-se, antes de tudo, de um campo de intervenção do Estado e de uma
dimensão da vida social, que hoje se coloca como estratégica na sociedade
contemporânea, seja para a afirmação de um projeto societário vinculado aos
interesses do capital, seja para a ampliação e integração das lutas sociais no que
diz respeito à conquista de direitos e enfrentamento das desigualdades”.
O Profissional de Serviço Social se insere no campo da educação ao articular, também,
momentos de troca de conhecimentos, de experiências, de proporcionar debates sobre os rumos da
educação, às novas demandas postas hoje no contexto educacional, enfim, de proporcionar
momentos de conhecimento e reflexão sobre os acontecimentos que ocorrem dentro e fora da
escola, articulando as relações e os saberes profissionais. Além disso, o Assistente Social pode
contribuir no conhecimento da escola sobre os seus alunos, sobre o cotidiano familiar e social que
estes vivem proporcionando, assim, que o professor possa pensar e preparar suas aulas
considerando o mundo real dos seus alunos. Como também, conhecendo a realidade do seu público
de atendimento a escola pode estar melhor preparada para contribuir no desenvolvimento bio-psicosocial do alunos.
Novas demandas à educação escolar no processo de construção social
A Educação, enquanto “...processo de construção pessoal e social das representações dos
indivíduos e grupos” (Alloufa; Madeira, 1995, p. 15), ganha sentido ao se fazer em diferentes
dimensões e níveis sociais e, ao ser (re)construída, considerando-se as novas necessidades humanas,
a história e a cultura de um povo.
No processo de ensinar e aprender, aquele que ensina aprende e constrói novas sínteses
com o outro - aprendiz e transformador de sua própria história - em uma relação biunívoca onde
educador e aprendiz se tornam inversamente, na socialização do saber, aprendiz e educador. A troca
de conhecimentos entre os sujeitos resulta numa relação interpessoal e grupal que envolve
criatividade, reflexão, complexos saberes e experiências cotidianas em um dado tempo e espaço.
Numa perspectiva de educação para a cidadania, de trabalhar na realidade (captando o que
está por trás do aparente), de buscar no coletivo, na articulação com as diversas e diferentes áreas
do saber uma identidade profissional, calcada em bases sólidas e abrangentes, é que situa-se a
educação escolar como ponte de conhecimento e inter-relação, é que reafirmamos que as áreas da
Educação e do Serviço Social têm um olhar comum de articulação, de proposição, de ação e de
reflexão.
A escola, para cumprir sua função social, precisa de competência, eficiência e autonomia,
trabalhando o conhecimento, o currículo, desenvolvendo o seu Projeto Político-Pedagógico, em
articulação com as várias instâncias sociais e com os interessados e aliados da causa educacional.
Enquanto prática social educativa, a escola tem como função ensinar mediante a elaboração e a
execução de um Projeto Político-Pedagógico, para promover o exercício competente da cidadania,
estimulando a participação e o pensamento criativo. Aliás, como assinalam Wittmann e Cardoso
(1993, p. 72),
“... continuamos assistindo ao descompasso da humanidade devido ao
individualismo reinante. Portanto, não cabe mais nos fecharmos em conchas
isoladas, quando hoje o rumo do mundo é partir para a integração e
cooperação”.
Pensando as finalidades da Educação, Avanzini (1999, p. 255) nos fala de um dos maiores
paradoxos que ele considera existir na sociedade a respeito do ato educativo:
“... nunca se quis tanto promover a educação, mas nunca se soube tão pouco a
que finalidade destiná-la e a serviço de que desenvolvê-la. Querendo ou não, as
finalidades constituem o componente maior do ato educativo, sem cuja
estabilidade o educador fica desorientado ou desenganado”.
É um desafio para os que lidam diretamente com as relações humanas, com o processo
educativo de ensinar e aprender, ter definido os objetivos a atingir com sua ação, as finalidades que
nortearão o seu trabalho e lhe darão estabilidade.
As transformações vivenciadas no cenário social passam por mudanças profundas no
mundo do trabalho, englobando todo o conjunto sócio-político-cultural. Os desafios
contemporâneos, oriundos dessas mudanças, estão relacionados aos avanços tecnológicos e às
novas expectativas das empresas que agora enfrentam mercados globalizados, extremamente
competitivos. Com isso, surgem também novas exigências em relação ao desempenho dos
profissionais.
A Educação, como parte intrínseca nesse processo, não poderia ficar alheia a essas
transformações. Em todo o mundo, uma grande inquietação domina os meios educacionais gerando
reformas que preparem o homem para as novas necessidades do trabalho. O espaço escolar,
enquanto campo de apreensão de uma educação formal, demarca um sinal estratégico de reprodução
da ideologia dominante, incorporando, por outro lado, elementos questionadores da própria
realidade social. Sendo, também, espaço de articulação e de relação coletiva entre os sujeitos que
assimilam traços da sua história e cultura criando caminhos para redimensionarem a sua prática
social.
“A Escola deveria exercer o papel de humanização a partir da socialização e da
construção do conhecimento e de valores necessários à conquista do exercício
pleno da cidadania” (Arias; Silva, 1998, p. 66).
Para enfrentar os desafios de hoje, os profissionais das diversas áreas do conhecimento
precisam ter como base uma sólida formação geral e uma boa educação profissional. Devem estar
preparados para o trabalho e para o exercício da cidadania, e não mais para uma formação que
prepare o homem simplesmente enquanto "executor de tarefas", operador de um único
conhecimento ou única habilidade. A “nova” educação profissional forma o trabalhador pensante e
flexível, no mundo das tecnologias avançadas.
No caso específico do Professor, subtraem-se duas idéias de Nuñez e Ramalho (1999, p.
3,5), que se considera pertinente, sobre os desafios para a formação profissional deste:
“La formación de un nuevo profesor, frente a la problemática de la globalización
y las nuevas tecnologías origina la necesidad de reforzar el carácter democrático
de las escuelas y de las agencias formadoras, de revisar los contenidos de los
currículos com el fin de enriquecer no sólo la enseñanza tecnológica, sino
también como ya fue dicho, la humanista y cívica”.
“El profesor requiere de una posición epistemológica que lo defina como sujeto
socio-histórico com una clara comprensión del carácter histórico, político,
cultural de la escuela y de su quehacer, como intelectual comprometido”.
É necessário, então, ao profissional que trabalha diretamente no processo de ensinoaprendizagem, ser crítico, reflexivo, com uma postura ética. Que não apenas transmita os seus
saberes, mas que valorize as opiniões e os conhecimentos dos demais profissionais do seu círculo de
trabalho, como também, dos alunos, propondo-se a conhecer a realidade social e escolar,
desenvolvendo sua ação de forma interdisciplinar.
As reformas no campo educacional vêm sendo orientadas por paradigmas que estão sob
um forte controle estratégico do Estado. Somos inseridos no mundo do trabalho, mediante uma
Educação pautada nos interesses do mercado. Existem diferenças de enfrentamento, no que diz
respeito às esferas pública e privada, aos problemas e à organização dos serviços educacionais. E
nisso, a classe mais pobre é cada vez mais direcionada ao caminho da exclusão educacional e,
consequentemente, social (Almeida, 2000a, p. 20).
Mesmo que baseado em princípios que não tenham como meta principal o fortalecimento
do espaço público como espaço de direito, as prioridades governamentais trouxeram o debate sobre
descentralização, democratização, participação colegiada e autonomia para o interior das escolas.
Os Projetos Políticos-Pedagógicos, os Conselhos Escolares, os Colegiados, os Currículos e
demais canais que propiciam discussões no âmbito educacional possuem o germe da construção de
outras formas de atuação, de reivindicação, de luta pelo direito à Educação e de outros bens e
serviços públicos.
A escola, para cumprir sua função social, precisa de competência, eficiência e autonomia,
trabalhando o conhecimento, o currículo, desenvolvendo o seu Projeto Político-Pedagógico, em
articulação com as várias instâncias sociais e com os interessados e aliados da causa educacional.
Enquanto prática social educativa, a escola tem como função ensinar mediante a elaboração e a
execução de um Projeto Político-Pedagógico, para promover o exercício competente da cidadania,
estimulando a participação e o pensamento criativo. Aliás, como assinalam Wittmann e Cardoso
(1993, p. 72)
“... continuamos assistindo ao descompasso da humanidade devido ao
individualismo reinante. Portanto, não cabe mais nos fecharmos em conchas
isoladas, quando hoje o rumo do mundo é partir para a integração e
cooperação”.
O Projeto Político-Pedagógico das escolas, enquanto aporte a um novo estilo de
administração educacional, necessita ser resignificado e construído na prática, na coletividade,
percebendo a teoria como meio e não como fim. Discutido como gestão democrática, este deve
envolver todo o conjunto social interno e externo à escola (professores, comunidade, associação de
pais, diretores, equipe técnica-pedagógica) considerando a realidade do todo envolvido nesse
processo educativo, atentando para as suas reais necessidades.
Dentro dessa perspectiva de gestão democrática e coordenação pedagógica, com novos
paradigmas no contexto educacional e social, verifica-se ser a escola um espaço de articulação entre
os diversos profissionais educacionais - pensando uma extensão multidisciplinar1 - onde a
pedagogia não deve se caracterizar isoladamente no contexto histórico-social-político, mas
trabalhada em conjunto no interior desse universo globalizado.
A construção do Projeto Político-Pedagógico dá-se a partir de aspectos inerentes à escola,
percebendo as relações de força, interpessoais e interprofissionais que o impulsiona ou não.
Evidenciar essas relações é fator relevante para a elaboração e execução do fazer pedagógico. Mas
os canais de comunicação no interior das escolas ainda é realizado de forma superficial, sem
analisar as relações estabelecidas entre os vários membros que fazem e atuam na escola.
Não deve-se falar, genericamente, de um Projeto Pedagógico, mas, sim, de Projetos
Pedagógicos que são planejados e delineados de acordo com o contexto escolar e com os propósitos
educacionais de cada instituição de ensino.
Mas, para que estes projetos se transformem realmente em elementos norteadores, faz-se
necessário que sejam produção de cada escola em particular e que seus elementos estejam
envolvidos para que a inércia dos antigos planejamentos, copiados ano a ano, sejam eliminados;
para que este torne-se um elemento vivo, em constante movimento no interior da escola, com seus
componentes sendo revistos, avaliados e atualizados.
Pensar na construção coletiva de um projeto é articulá-lo com um projeto mais amplo da
sociedade, percebendo o contexto político-social em que as escolas, e toda comunidade, estão
inseridas. O que ocorre nas escolas é que alguns membros mostram-se reticentes na hora de
aprofundar discussões. Não criando, assim, um espaço de discussão de um projeto realmente
político-pedagógico que
“... prime pela qualidade do ensino, resgate a credibilidade do ensino público via
competência, integrando o indivíduo ao seu meio, permitindo-lhe acesso aos
conhecimentos já construídos, e propiciando a elaboração de novos
conhecimentos” (Wittmann; Cardoso, 1993, p. 65-66).
Deve-se partir para uma experiência de gestão participativa que faça de homens e mulheres
“seres pensantes”, criativos e críticos e que os enriqueçam quando lhes for dada oportunidades de
interlocução com a sociedade, contribuindo para um fazer coletivo e igual.
Embora o novo paradigma da gestão escolar participativa e democrática ainda esteja
silencioso, deve-se considerá-lo promissor. Seu avanço, entretanto, necessita de condições concretas
1
Nos dizeres de Sampaio (apud Amaro et alii, 1997, p. 37, 38), a multidisciplinaridade “... caracteriza-se pela relação
de justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas ou a integração de conteúdos numa disciplina, alcançando a
integração de métodos, teorias ou conhecimentos. Dá-se, neste estágio, uma comunicação baseada no diálogo paralelo
entre disciplinas”.
de participação social, e dos significados e valores que os atores sociais venham a construir através
de suas experiências dentro dos conselhos escolares, bem como da própria atuação dos conselhos no
seu espaço de atuação.
Quando se fizer referência aos conselhos escolares, pensando-os no debate entre as forças
sociais empenhadas com a democracia da educação, deve-se salientar que estes foram concebidos
como meio de ampliar o espaço público de direito, como canal que articulasse escola e sociedade,
de forma que as práticas participativas, a descentralização do poder, a socialização das decisões se
voltassem para um permanente exercício de conquista da cidadania, concebida como materialização
dos direitos fundamentais, entre os quais o direito à educação (PNE, 1997). Mas,
“Apesar do Conselho garantir decisões coletivas, sua instalação não garante
decisões democráticas, daí a necessidade de se escolher bem os representantes
para que o autoritarismo não permaneça na gestão que teria apenas uma
máscara de gestão democrática” (Projeto Nordeste, 1995, p. 36).
Os conselhos escolares deveriam ser estruturados considerando-se as especificidades de
cada escola, as idéias, dúvidas e sugestões dos que participam. Afinal,
“É por intermédio dos Conselhos Escolares que a população poderá controlar,
gerir e propor ações voltadas para a qualidade do serviço prestado pelo estado,
ou seja, poderá definir e acompanhar a educação que lhe é oferecida” (Carvalho
et alii, 1999, p. 5).
Salienta-se que os conselhos precisam discutir e oportunizar outras proposições
pedagógicas, não se restringindo a questões meramente administrativas, burocráticas, primitivas.
Fazendo-se uso das palavras de Madeira (1998, p. 75-76), com referência a essa
necessidade de participação, discussão, debate e diálogo entre a comunidade escolar, tem-se que:
“O processo educativo supõe e exige diálogo e participação ativa de todos os
envolvidos ou constituir-se-á, em múltiplos níveis, instrumento eficaz de
discriminação e de esforço de distinções. Educação não é preenchimento de
vazios, mesmo quando está em tela a educação formal a ser desenvolvida na
escola. [...]. É incoerente pensar educação enquanto processo ativo e
participativo emudecendo e imobilizando interlocutores ou a reduzindo a um
processo escolar que se faz pela negação dos processos educativos mais amplos
de uma sociedade”.
Necessário se faz não apenas conhecer, mas compreender a dinâmica, os elementos e
sujeitos que dão base e sustentação ao campo da educação escolar. Tendo isso como finalidade, já
conquista-se um passo para uma intervenção consciente e eficaz na realidade. A articulação entre as
áreas da Educação e do Serviço Social (o trabalho integrado entre Pedagogos e Assistentes Sociais)
é uma possibilidade de se ampliar os referenciais teóricos, metodológicos, políticos, culturais,
educacionais, sociais, bem como centrar-se em mais uma luta pela melhoria da qualidade de vida,
pela garantia dos direitos humanos, pela valorização do homem enquanto ser pensante, participativo
e construtivo.
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