II SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
DOCENTE
FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
espaços e processos em tensão
Maria Isabel da Cunha
Doutora em Educação. Professora do Programa de PósGraduação em Educação da UNISINOS. [email protected]
FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
- tema recorrente em estudos e pesquisas;
- perspectivas epistemológicas e práticas;
- espaço de tensão, mudança e desafios.
QUAL O CONTEXTO DA PRODUÇÃO DO
TERMO FORMAÇÃO?
- ligado, preponderantemente, ao mundo do trabalho;
- decorre da complexidade da sociedade industrial;
- reforça o papel da escolarização atribuindo ao
termo um caráter pragmático e utilitário;
- convive com uma visão mais ampla de cunho
humanista, que atribui à formação uma condição
axiológica.
PORQUE É IMPORTANTE COMPRENDER O
CONCEITO DE FORMAÇÃO?
Na lógica da racionalidade instrumental:
- uma condição prévia ao trabalho;
-
um
exercício
pré-delineado
de
funções
de
determinado fim;
-
soluções
universais
para
os
problemas
profissionais;
- independe dos contextos em que se produz.
Numa perspectiva sócio cultural:
- uma perspectiva de continuum, acompanha o ciclo
profissional e vital;
- assume o movimento e a provisoriedade dos
saberes;
- capacita para a intervenção e reconhecimento da
diversidade;
- toma como referente as estruturas que a planificam e
desenvolvem e dão a ela um caráter de produção de
conhecimentos.
QUE IMPLICA O LUGAR E O TEMPO DA FORMAÇÃO?
- A compreensão do significado de formação tem profunda
relação com o lugar e o tempo em que se realiza.
- Sua definição não é aleatória e se insere nas tensões que
envolvem poder social;
- Como processo vital, acompanha o homem enquanto ele
vive, e os lugares da formação serão múltiplos, assim como o
tempo dedicado para tal.
- No mundo do trabalho há controles sociais sobre seu
exercício,
privilegiando,
escolarizados
escalonados
(escola
e
especialmente,
universidade)
os
com
espaços
prestígios
* ENTÃO COMO CARACTERIZAR A CONDIÇÃO DE
ENSINANTE COMO UMA PROFISSÃO?
* É POSSÍVEL COMPREENDER QUE HÁ SABERES
ESPECÍFICOS QUE CONSTITUEM A PROFISSÃO
DOCENTE?
* SE ESSA PREMISSA É ACEITÁVEL, EM QUE
LUGARES OCORRE ESSA FORMAÇÃO?
QUE DIZ A TEORIA?
- Tardif et alii (2000, 2002) e Marcelo Garcia (1999) afirmam a
polissemia da formação docente;
- Demonstram que esses saberes têm diferentes origens e
matrizes e se constroem em distintos lugares e tempos
percorridos pelos sujeitos;
- Colocam em questão a premissa de que a formação
acadêmica seja mais importante do que outros referentes
culturais que interferem na constituição da docência.
- Assumem que a teoria tem sentido se articulada com os
espaços da prática e com as representações que os
professores construíram sobre a docência durante as suas
trajetórias de vida.
COMO PENSAR UMA FORMOÇÃO NESSA DIREÇÃO?
Explorar a ideia de que formação inicial de professores
precisa assumir a condição de um Programa, com movimento
e articulação entre os distintos lugares e tempos de sua
constituição (Tardif, 2008)... Esse Programa se articularia sobre
um tripé:
-o currículo acadêmico de formação,
- o espaço de trabalho e o contexto em que atuará o professor;
- e o sujeito adulto em formação.
Currículo acadêmico
PROGRAMA DE FORMAÇÃO
Espaço de trabalho/
políticas/contexto
Sujeito em formação
O QUE ENVOLVEM ESTES TRES EIXOS?
Esse
três
eixos
revelam
uma
concepção
de
formação, que inclui uma base epistemológica,
articulada, por sua vez, por uma matriz cultural e
polissêmica.
Reconfigurando
a
concepção
de
formação, alteram-se as perspectivas de lugar e de
escala nas estruturas de poder que definem a
profissionalização.
QUAL A IDÉIA DE UM PROGRAMA DE FORMAÇÃO?
Um
Programa
de
formação
pode
levar
à
reestruturação dos espaços de formação, numa
perspectiva orgânica. Esta ideia instiga a algumas
questões, em relação aos seus estruturantes, ou
seja, ao currículo, aos espaços de trabalho, incluindo
os contextos sociais e as políticas educacionais e
aos sujeitos da formação.
Com relação ao currículo:
a)
Uma intensa relação entre prática e teoria onde a prática se
torna a base da reconstrução teórica;
b)
A teoria distanciada das meta-narrativas generalistas e
inquestionáveis.
Há
um
processo
intermediado
por
interpretações subjetivas e culturais, que a resignifiquem
para contextos específicos;
c) Atitudes investigativas, como um princípio epistemológico
instrumentalizando o futuro professor a fazer perguntas, a
estimular perplexidades e a incorporar a dúvida como valor.
d) Articulação intensa entre a base teórico-prática e os
demais eixos do Programa que são os sujeitos em
formação e os espaços de trabalho do futuro professor;
e) Conteúdos das diferentes disciplinas e áreas tendo a
docência como referente e a realidade escolar como
estruturante;
f) Ação de parceria com a escola, pressupondo uma
mudança de cultura que envolve a responsabilização
partilhada pela formação de professores.
Os sujeitos da formação:
Caminhar nessa direção certamente implica em:
a) Conhecimento da cultura e das demandas que trazem os alunos.
Inclusão de um processo reflexivo sobre a profissão docente,
b) Explicitação das contingências de seu exercício, os modelos culturais
envolvidos e os desafios sociais que implica.
c) Pressuposto da profissão de professor como um trabalho com gente,
incluindo aí a dimensão do trabalho coletivo.
d) Inclui questões políticas, éticas e afetivas que são tão importantes
quanto às da base do conteúdo específico;
e) Inserção na escola e nos espaços de trabalho desde o inicio da sua
formação, responsabilizando-o por uma produção própria de sentidos e
valores.
O espaço de trabalho:
Aproximar a formação:
a) do espaço de exercício da profissão;
b) das dimensões culturais e políticas assumindo a uma
condição intelectual;
c) da participação em projetos sociais, investigativos,
culturais e extensionistas;
d) da visibilidade da produção dos estudantes;
e) da compreensão da formação inicial como uma formação
de raiz, onde se estruturam as bases para continuar
aprendendo.
QUE RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO CONTINUADA?
As premissas que servem como parâmetro para a
formação
inicial,
correspondência
em
certamente
processos
encontrarão
de
formação
continuada de professores. Quando a instituição
formadora estiver articulada com a escola, em
diálogo permanente sobre a formação dos novos
professores, os docentes responsáveis pelas classes
escolares serão parceiros na atividade formativa.
Ao realizar esse processo, tanto os docentes
universitários como os professores das redes de
ensino exercitariam uma reflexão sistemática sobre
as
suas
práticas
e
alcançariam
patamares
significativos de interação.
Aprenderiam constantemente em torno do futuro
professor, ao mesmo tempo em que tomariam essa
experiência como eixo de sua própria reflexão.
PROGRAMAS DE FORMAÇÃO FAVORECERIAM O QUE?
Articular a educação inicial com a formação continuada
representa uma possibilidade dos Programas de Formação.
Concretizaria a ideia de processo e de instalação de uma
comunidade aprendente que iria construindo, de forma
solidária e legitimada, os saberes próprios da profissão que
exerce. Nesse contexto a dimensão da autoridade se produz
como
estruturante
da
autonomia,
entendida
como
possibilidade de uma profissionalidade em movimento.
QUE CAMINHOS EMPREENDERMOS, ENTÃO?
A UNIVERSIDADE COMPREENDER que essa não é
uma
tarefa
solitária,
de
caráter
meramente
acadêmico. Precisa se articular com os sistemas
escolares e seus professores, reconhecendo neles
parceiros fundamentais para levar a cabo a formação
de novos docentes.
OS SISTEMAS ESCOLARES E OS PROFESSORES
assumirem
uma
co-responsabilidade
nessa
formação, legitimando saberes que lhes são próprios
e assumindo um protagonismo importante, na
qualidade de adultos que aprendem, no contexto dos
Programas de Formação.
COMO APRENDEM OS PROFESSORES?
Os professores e futuros professores são pessoas
adultas, em processo de permanente aprendizagem.
a aprendizagem da pessoa adulta requer que
ela desenvolva uma concepção sobre si
mesma, que utilize a experiência como recurso
de aprendizagem e que se motive a aprender
em função dos papéis sociais que desenvolve
(Knowles (1970 p. 29).
Paulo Freire tem trazido sua palavra para nos dizer
que a mudança é provocada pela luta histórica (1995,
p.9) e que é a curiosidade frente ao mundo que leva à
curiosidade epistemológica e nos energiza para a
mudança. Talvez esteja aí a raiz de uma emergente
profissionalidade docente que precisamos construir.
Esse é o sentido dessa reflexão.
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