Apresentação O bullying, nos últimos anos, tornou-se, sem dúvida, um tema amplamente debatido no universo acadêmico. As áreas de Educação e Psicologia, mais notadamente, têm gerado uma ampla produção científica sobre essa forma de agressão. Porém, as investigações não se restringem a essas áreas. Hoje, esse é um problema de pesquisa essencialmente interdisciplinar. Ciências Sociais, Enfermagem, Medicina e Educação Física constituem exemplos de campos científicos que também têm produzido conhecimento sobre bullying. A preocupação com bullying transcendeu o meio acadêmico e se tornou assunto frequente nos meios de comunicação de massa (MCM). Há, cada vez mais, espaço para essa forma de agressão nos programas televisados, nos jornais impressos, no rádio etc. Se, por um lado, a difusão do tema bullying na ‘academia’ e nos MCM elevou expressivamente a produção científica a respeito desse problema e ‘despertou’ a sociedade para o quão grave e frequente é essa forma de agressão, por outro lado, essa ‘popularização’ teve efeitos colaterais. Dentre eles, merece destaque o uso polissêmico do termo bullying para designar as mais diversificadas condutas agressivas, que ocorrem nos mais variados contextos, envolvendo as mais diferentes personagens. Emergiram, ainda, com abundância explicações simplistas, superficiais e/ou destorcidas a respeito do bullying, baseadas em senso comum. Com o objetivo de colaborar tanto para o esclarecimento em relação ao bullying quanto para o empoderamento de escolas, pais e pesquisadores com informações sobre como prevenir e combater o bullying, organizou-se a presente obra. Ela se encontra subdividida em duas partes denominadas, respectivamente, de ‘Conhecendo o Bullying Escolar’ e ‘Intervindo no Bullying Escolar’. A primeira parte – Conhecendo o Bullying Escolar – é composta por cinco capítulos e tem como objetivo fornecer aos leitores informações sobre as características gerais dessa forma de agressão, incluindo manifestações, prevalências e associações com outras variáveis. Mais especificamente, é possível encontrar nessa seção informações sobre o estado atual da arte das pesquisas brasileiras sobre essa forma de agressão – Capítulo 1: Pesquisas sobre bullying no Brasil –, sobre os recreios enquanto contexto em que essa modalidade de comportamento agressivo se manifesta – Capítulo 2: O bullying, locais e representações dos recreios: estudo com crianças de uma escola básica de 5º e 6º anos –, sobre a associação entre essa conduta agressiva e algumas variáveis – As relações entre bullying, gênero e auto-estima na adolescência –, sobre novas manifestações desse problema – Capítulo 4: Ciberbullying – e, ainda, sobre como ele pode ter implicações danosas para o curso de vida – Capítulo 5: Trajectórias, vidas e bullying escolar. Três capítulos compõem a segunda parte do livro: Intervindo no Bullying Escolar. Ela tem como foco analisar as estratégias de combate e prevenção dessa espécie de comportamento agressivo. Em ‘Um modelo ecológico para a prevenção do bullying nas escolas’ (Capítulo 6), o leitor se depara com um texto que, a partir da teoria ecológica de Bronfenbrenner, efetua uma análise sistêmica desse problema de saúde, enfatizando a possibilidade de preveni-lo. A forma como a escola reage perante essa forma de agressão é o tema do Capítulo 7 – ‘A gestão educacional relacionada ao bullying: um estudo de realidades vigentes na caracterização e na prevenção do bullying’. Por fim, o Capítulo 8 – ‘Bullying: efeitos de um programa de intervenção no recreio escolar’- apresenta uma experiência bem sucedida de combate à vitimização por esse tipo de conduta agressiva nos intervalos das aulas. Os textos apresentam tanto estudos empíricos quanto revisões de literatura e foram escritos por autores do Brasil e de Portugal, às vezes em parceria. Destaca-se que, apesar das diferenças culturais e educacionais entre os dois países, há muitas semelhanças quando se trata do bullying. Espera-se que a leitura deste livro forneça aos leitores uma possibilidade de conhecer mais profundamente essa modalidade de agressão entre pares no contexto escolar. Almeja-se, principalmente, que o conhecimento sirva como instrumento para intervir no bullying, especialmente para os educadores. Boa leitura! 8