UNIDADE 6: SOCIOLOGIA DA LINGUAGEM: A economia das trocas
linguísticas; a compreensão do trabalho de interpretação na pesquisa em
educação
TEXTOS-BASE:
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas: o que falar quer
dizer. São Paulo: Editora da USP, 1996. Parte 1, pág. 23 a 52.
BOURDIEU, Pierre. Compreender. In: BOURDIEU, Pierre. A miséria do
mundo. Petrópolis: Vozes, 1997
Responsáveis pela discussão: Eliana, Juliane e Luíza.
Contextualização
Pierre Bourdieu
Textos-base: A Sociologia da Educação de Pierre
Bourdieu: limites e contribuições; e Bourdieu &
Educação Maria Alice Nogueira e Cláudio Marques
Martins Nogueira
Pierre Bourdieu
1930-2002
Biografia

Nascido em agosto de 1930, em Béarn, uma
região rural do sudoeste da França, numa família
campesina, ingressa em 1951 na Faculdade de
Letras, em Paris, na Escola Normal Superior e em
1954 gradua-se em Filosofia, assumindo a função
de professor em Moulins. Após prestar serviço
militar na Argélia, assume, em 1958 o cargo de
professor assistente na Faculdade de Letras em
Argel, quando inicia sua pesquisa acerca da
sociedade cabila. Em 1960 torna-se assistente de
Raymond Aron, na Faculdade de Letras de Paris e
principia seus estudos acerca do celibato na região
de Béarn. Ainda em 1960 integra-se ao Centro de
Sociologia Européia, do qual torna-se secretário
geral em 1962.
Biografia (cont.)


Desenvolve ao longo das décadas de 1960 a 1980
farta obra, contribuindo significativamente para a
formação do pensamento sociológico do século
XX. Na década de 1970 estende sua atividade
docente a importantes instituições estrangeiras,
como as universidades de Harvard e Chicago e o
Instituto Max Planck de Berlim.
É consagrado Doutor 'honoris causa' das
universidades Livre de Berlim (1989), JohannWolfgang-Goethe de Frankfurt (1996) e Atenas
(1996). Morreu em Paris, em 23 de janeiro de
2002, depois de finalizar um curso acerca de sua
própria produção acadêmica, que servirá de
fundamento ao seu último livro, Esboço para uma
autoanálise.
Contexto de produção




Paradigma funcionalista na educação.
Educação – papel duplo
Escola publica e gratuita – acesso e
igualdade de oportunidades
Capacidades e dons individuais
Escola – instituição neutra – conhecimento
racional e objetivo e selecionaria seus
alunos com base em critérios racionais.
Contexto de produção
Anos 60
Crise na concepção de escola e
reinterpretação do papel dos sistemas de
ensino.
 Dois movimentos:
1. Surveys
(Aritmética Política inglesa,
Relatório Coleman – EUA, Estudos do
INED – França)
2. Certos efeitos inesperados da massificação
do ensino. “geração enganada”

Bourdieu – anos 60




Anomalias
acumuladas
no
paradigma
funcionalista – novo modo de interpretação
da escola e da educação
Corroboram com sua teoria - Os dados das
grandes Surveys e a frustração da “geração
enganada”
Escola – tem seu papel invertido
Paradigma da Reprodução - tornou-se um
dos mais importantes paradigmas utilizados
na interpretação sociológica da Educação
A sociologia da Educação de
Bourdieu
Teses Centrais
 1. os alunos não são indivíduos abstratos que
competem em condições relativamente
igualitárias na escola, mas atores socialmente
constituídos que trazem, em larga medida
incorporada, uma bagagem social e cultural
diferenciada e mais ou menos rentável no
mercado escolar.
 2. a escola tem um papel central de
legitimação e reprodução das desigualdades
sociais.
Tese 1: A herança familiar e suas
implicações escolares






Oposição entre subjetivismo e objetivismo.
Ator da sociologia da educação de bourdieu – nem o
indivíduo isolado, consciente, reflexivo, - nem o sujeito
determinado, mecanicamente submetido as condições
externa objetivas.
O sujeito da sociologia de bourdieu é caracterizado
por uma bagagem socialmente herdada, os capitais e
o Habitus.
Capital econômico
Capital social
Capital cultural instucionalizado e incorporado
(expressão sintomaticamente vaga; os gostos em
matéria de arte, culinária, decoração, vestuário,
esportes e etc; o domínio maior ou menor da língua
culta; as informações sobre o mundo escolar.)
Tese 1: A herança familiar e suas
implicações escolares (cont.)

1.
2.
3.

Razões
o capital cultural funcionaria como uma ponte
entre o mundo familiar e o mundo escolar.
o capital cultural possibilitaria um bom
desempenho nos processos formais e
informais de avaliação
a compreensão que os pais tem do
funcionamento escolar
Papel dos outros capitais
Tese 1: A herança familiar e suas
implicações escolares (cont.)



A bagagem cultural de cada individuo é
definida também por seu habitus .
Aplicado a educação, o histórico de sucessos
e fracassos escolares dos grupos sociais
vividos por seus membros os fariam construir
estratégias adequadas as suas chances.
Bourdieu caracteriza os habitus (disposições
e estratégias de investimento escolar) de
cada classe social, distinguindo-as em três:
elites, classe média e popular.
Tese 2: A escola e a reprodução e
legitimação das desigualdades
sociais



Concepção antropológica de cultura –
noção de arbitrário cultural.
Caso da Escola.
Conversão de um arbitrário cultural em
cultura legitima
Tese 2: A escola e a reprodução e
legitimação das desigualdades
sociais
Autoridade pedagógica – Escola – cultura
neutra.
 Função de reprodução e legitimação das
desigualdades sociais.
 Como essas duas funções se exercem:
1. pretensa
e
falsa
igualdade
de
oportunidades
2. comunicação pedagógica

Tese 2: A escola e a reprodução e
legitimação das desigualdades
sociais



Alunos classe dominantes X Alunos classe
popular
Argumento central - ao dissimular que
acultura da escola é a cultura das classes
dominantes, a escola dissimula igualmente
os efeitos que isso tem para o sucesso
escolar das classes dominantes.
A escola cumpre simultaneamente uma
dupla função
A
repercussão dos trabalhos de Bourdieu
coincidiu com os acontecimentos de maio
de 1968.
Teoria
da reprodução: a escola legitima e
reproduz a cultura da classe dominantemanutenção das desigualdades sociais.


Seu trabalho inovador não limitou a estudos relativos a
problemática educacional, incorporou textos sobre a
indústria cultural, os intelectuais, a sociologia da religião
e matrimonial, as produções artísticas, etc.
Seu trabalho fez um resgate e revalorização de algumas
correntes, obras e autores, nos campos da história social
da arte, sociologia da cultura, história social e
interacionismo simbólico.


A economia das trocas linguísticas traz uma
teoria do poder simbólico a partir de uma
crítica aos postulados da linguística.
Bourdieu procura construir os sistemas de
disposições sociais dos diversos grupos e
classes e seu manejo da língua como parte
de um domínio particular e distintivo do
corpo.
Saussure: língua una e indivisível, exclui qualquer variação
social inerente.
Separa a “línguística externa” da “linguística interna”, onde
exclui toda relação com a história política de seus
falantes ou com a geografia do território onde é falada,
pelo fato de que não acrescentariam nada ao
conhecimento da língua tomada em si mesma.
Separa o instrumento linguístico de suas condições sociais
de produção e de utilização.
Para Bourdieu:



As trocas linguísticas, relações de comunicação por
excelência, são também relações de poder simbólico,
onde se atualizam relações de força entre os locutores
ou seus respectivos grupos.
Todo ato de fala implica uma relação entre disposições
socialmente modeladas, do habitus linguístico, e as
estruturas do mercado linguístico, que se impõem como
um sistema de sanções e de censuras específicas.
Valor distintivo: resulta do relacionamento operado
pelos locutores, entre o produto linguístico oferecido
por um locutor socialmente caracterizado e os produtos
simultaneamente propostos num espaço social
determinado.
Estilo: desvio individual em relação à norma linguística.



O que circula no mercado linguístico não é “a língua”,
mas discursos estilisticamente caracterizados – no lado
da produção, cada locutor transforma a língua comum
num idioleto, e do lado da recepção, cada receptor
contribui para produzir a mensagem que ele percebe e
aprecia, importando para ela tudo o que constitui sua
experiência singular e coletiva.
A palavra só existe imersa em situações.
Cada palavra, cada locução, ameaça assumir dois
sentidos antagônicos conforme a maneira que o emissor
e o receptor tiverem de interpretá-la. Exemplo: o perigo
da “gafe”.
A produção e a reprodução da
língua legítima

a) Língua oficial e unidade política (p. 31)

b) A língua padrão: um produto “normatizado” (p. 32)

c) A unificação do Mercado e a Dominação Simbólica (p. 36)

d) Desvios Distintivos e valor social (p. 39)

e) O campo literário e a Luta pela Autoridade Linguística (p. 44)

f) A dinâmica do campo linguístico (p. 49)
A produção e a reprodução da
língua legítima
Vós o dissestes, cavalheiro! Deveria haver leis para
proteger os conhecimentos adquiridos.
Tomai, por exemplo, um de nossos bons alunos,
modesto, aplicado, que começou, desde as
primeiras aulas de gramática, a manter seu
caderninho de expressões.
Que, durante vinte anos, atento a cada palavra dos
professores, acabou reunindo uma espécie de
pequeno pecúlio intelectual: será que este não lhe
pertence, como se fosse uma casa ou dinheiro?
P. CLAUDEL, Le Soulier de Satin
(p. 29)




Comparação do acúmulo do saber com o acúmulo da
riqueza material;
Augusto Comte: descreve a apropriação simbólica como
uma
espécie
de
participação
mística
universal
uniformemente acessível e infensa a qualquer expropriação;
A ilusão do comunismo linguístico que ronda toda teoria
linguística: a língua como um tesouro universal a ser
conservado;
Saussure remete à metáfora do tesouro:



Tesouro interior depositado pela prática da fala nos sujeitos
pertencentes à mesma comunidade
A soma dos tesouros individuais da língua
Soma de marcas depositadas em cada cérebro


Chomsky reafirma “essa posição dos fundadores
da linguística moderna” com o argumento da
competência linguística - outro nome da língua possuída por todo um grupo como um “tesouro
universal”, bem público de participação aberta a
todos os membros de uma “comunidade
linguística”.
Para Bourdieu: esse modo de conceber a língua
desconsidera
a
questão
das
condições
econômicas e sociais de aquisição da
competência legítima e da constituição do
mercado onde se estabelece e se impõe esta
definição do que é legítimo e o que é ilegítimo;
a) Língua oficial e unidade política (p. 31)


Os linguistas esquecem as leis sociais de construção e a gênese
social da língua: apenas incorporam à teoria um objeto préconstruído;
Citação do Curso de Linguística Geral de Saussure:

Não é o espaço que define a língua, mas a língua que se define em
determinado espaço;

Os falantes são os portadores das mudanças que ocorrem (disposição
dos falantes);

A língua é um código legislativo e comunicativo que existe e subsiste
independentemente de seus usuários e de suas utilizações;

Diferentemente do dialeto, a língua possui todas as propriedades
comumente atribuídas à língua oficial e por isso se impõe;

Ela assegura o mínimo de comunicação entre todos os membros de
uma “comunidade linguística” : condição da produção econômica e
mesmo da dominação simbólica (p. 31)
a) Língua oficial e unidade política (p. 31)





É preciso considerar o processo político de unificação onde os sujeitos
falantes são levados a aceitar a língua oficial, fator ocultado por essa
filosofia histórica;
Falar de a língua sem outras especificações significa aceitar a definição
de língua oficial de uma unidade política como a única legítima;
É no contexto de criação do Estado que se criam as condições da
constituição de um mercado linguístico unificado e dominado pela
língua oficial: situações oficiais e espaços oficiais (escolas, entidades
públicas, instituições políticas, etc.)
“esta língua do Estado torna-se a norma teórica pela qual todas as
práticas linguísticas são objetivamente medidas” (p. 32);
Para que haja a dominação linguística – a imposição de um uso sobre
os demais – é necessária a unificação do mercado linguístico dentro
de uma determinada unidade política.
b) A língua padrão: um produto “normatizado”
(p. 32)

Processo de legitimação e imposição de uma língua
“purificada”  normalização dos produtos dos
habitus linguísticos:



O papel do dicionário: Soma dos “tesouros de língua
individuais”; reunião do registro erudito da totalidade dos
recursos linguísticos acumulados ao longo do tempo
(junção de todos os usos possíveis de uma mesma
palavra)
O papel do sistema escolar: “fabricar semelhanças das
quais resulta a comunidade de consciência que é o
cimento da nação” (p. 35)
A relação com o mercado de trabalho: o reconhecimento
do diploma faz com que os pais se “desfaçam” de seu
dialeto de origem para que os filhos tenham maiores
chances de reconhecimento dentro desse mercado
c) A Unificação do Mercado e a
Dominação Simbólica (p. 36)



A contribuição que a intenção política de unificação
traz à fabricação da língua que os linguistas
ocultam como um dado natural;
A generalização do uso da língua dominante é uma
dimensão da unificação do mercado de bens
simbólicos que acompanha a unificação da
economia, da produção e da circulação culturais;
As coerções jurídicas são capazes de impor apenas
a aquisição, mas não a utilização generalizada e a
reprodução autônoma da língua legítima.

O reconhecimento da legitimidade se dá:





Nas disposições insensivelmente inculcadas pelas sanções do
mercado linguístico e na possibilidade de lucros dentro de um
determinado mercado;
A sutileza da coerção se apresenta no íntimo do sujeito: “escolhas”
do habitus; a autocorreção;
A intimidação: violência simbólica que só tem condições de se
exercer sobre uma pessoa “predisposta” (em seu habitus) a senti-la
enquanto outros a ignoram;
A timidez reside na relação entre a situação ou a pessoa intimidante
e a pessoa intimidada;
A violência ocorre de maneira silenciosa e por isso é mais difícil ser
revogada: maneiras de olhar, de se aprumar, de ficar em silêncio
(olhares desaprovadores, tons ou ares de censura, etc) Ação da
inconsciência.
d) Desvios distintivos e valor social
(p. 39)




Todas as práticas linguísticas encontram sua medida em relação
às práticas legítimas, e assim se define a relação que cada
locutor pode manter com a língua e com a sua própria
produção;
A desvalorização de usos populares da língua: regionalismos,
expressões “viciosas” e “erros de pronúncia” são impróprios em
ocasiões oficiais;
Falar é apropriar-se de um ou outro dentre os estilos
expressivos  a diferença é de usos de uma mesma língua, não
de línguas diferentes (portanto, quem fala diferente do modo
legítimo é considerado desvio);
Há assim a reprodução do sistema de diferenças sociais na
ordem simbólica dos desvios diferenciais; Essas diferenças
passam despercebidas pelo sistema estrutural da língua;

O falar faz parte de uma competência biológica, comum a
todos os seres humanos, portanto, não distintiva;

O falar a língua legítima é uma competência socialmente
construída, e é portanto, capaz de propiciar a distinção;


O lucro da distinção encontra-se distribuído em função das
oportunidades de acesso às condições de aquisição da
competência legítima (distribuição desigual);
“A competência dominante opera como um capital
linguístico capaz de assegurar um lucro de distinção em
sua relação com as demais competências, contanto que
sejam continuamente as condições necessárias para que os
grupos detentores dessa competência sejam capazes de
impô-la como a única legítima nos mercados oficiais”.
(ex.: exames escolares, entrevistas de emprego,
consulta médica... Nota da P. 44)
e) Campo Literário e a Luta pela
Autoridade Linguística



(p. 44)
Diferenças entre o capital necessário à simples produção de um
“falar comum” e o capital de instrumentos de expressão
necessário à produção de um discurso escrito digno de ser
publicado (quer dizer, oficializado)
a produção de “instrumentos de produção” como figuras de
linguagem e de pensamento, gêneros, maneiras ou estilos
legítimos e todos os discursos destinados a se tornarem
“autoridade”, fonte de “referência obrigatória” a serem citados
como exemplos de “uso correto”
“As lutas entre os escritores em torno da arte de escrever
legítima contribuem, por sua própria existência, para produzir
quer a língua legítima, definida pela distância que a separa da
língua ‘comum’, quer a crença em sua legitimidade”. (p.45)
e) Campo Literário e a Luta pela
Autoridade Linguística



(p. 44)
Inculcação escolar de obras legitimadas por gramáticos ou
pelas academias  estratégia dos autores para serem
reconhecidos como legítimos: escolha de produtos que lhes
parecem dignos de serem consagrados e incorporados à
competência legítima;
“As propriedades que caracterizam a excelência linguística
cabem em duas palavras: distinção e correção. O trabalho
realizado no campo literário produz as aparências de uma
língua original procedendo a um conjunto de derivações que
têm como princípio um desvio em relação aos usos mais
frequentes (...)” (p. 47)
Oposição entre: Distinto e vulgar; Raro e comum; Vigoroso
ou nobre e relaxado ou livre  termos aplicados: linguagem
rebuscada, seleta, nobre, requintada, polida, etc., em
oposição a linguagem comum, corrente, familiar, popular,
grosseira, etc.
f) A Dinâmica do Campo Linguístico (p. 49)



O domínio da língua legítima pode ser adquirido pela
familiarização ou pela inculcação expressa de regras
explícitas  as grandes classes de modo de expressão
correspondem a classes de modos de aquisição: a
diferentes formas de combinação entre os dois principais
fatores de produção da competência legítima, a família e o
sistema escolar;
Assim, a Sociologia da Linguagem é indissociável da
Sociologia da Educação;
O mercado escolar, dominado pelos produtos linguísticos da
classe dominante tende a sancionar as diferença de capital
preexistente

distribuição desigual do conhecimento da língua legítima e a
distribuição mais uniforme de seu reconhecimento
f) A Dinâmica do Campo Linguístico (p. 49)





Estratégias linguísticas da pequena burguesia: tendência à
hipercorreção, expressão particularmente típica de uma boa vontade
cultural manifesta em todas as dimensões da prática;
Defasagem entre o conhecimento e o reconhecimento, entre as
aspirações e os meios de satisfazê-las  geradora de tensão e
pretensão.
O esforço em negar a distinção se constitui em apropriar-se dela
mesma e configura uma permanente pressão  novas estratégias
de distinção entre os detentores das marcas distintivas socialmente
reconhecidas como refinadas.
O principal fator de distinção: a tensão relacionada à hipercorreção
controlada versus a naturalidade no uso da língua legítima.
Essa tensão não se mostra somente pela língua, mas através da
relação com outros bens simbólicos, como a música, as artes
plásticas, os estilos de vida, etc.
Compreender
In: BOURDIEU, Pierre. A Miséria
do Mundo
Idéia central


Explicar a relação de comunicação na sua
generalidade.
Propõe um modelo e dá exemplos dele ou
que o contrapõem.
Entrevista



Relação social
Distorções – inscritas na própria estrutura
da relação de pesquisa.
Prática – reflexiva e metódica
Recurso para controlar as
distorções
1.
2.
Realizar refletividade reflexo realizada no
próprio campo.
Fazer uso reflexivo dos conhecimentos
adquiridos na ciência social para controlar
os efeitos da própria pesquisa.
(Por) Uma comunicação “não
violenta”
Conhecer os efeitos dessa “intrusão”
 Tentar entender como o entrevistado
significa a situação, a própria pesquisa e
seu objetivo, da situação particular da
pesquisa e das razões que levam o
interlocutor participar da troca.
 Tentar mediar a amplitude e a natureza da
distância entre a finalidade da pesquisa e
sua significação pelo entrevistado
Entrevista: duas dissimetrias
1ª - O pesquisador que inicia o jogo e
estabelece sua regra.
2ª - Dissimetria social – de capital
Dissimetrias
Esforçar-se para dominar os efeitos sem
anulá-los.
2. Instituir uma relação de escuta ativa e
metódica
Implicações da escuta
 Disponibilidade total
 Construção metódica
 Agir na estrutura do mercado lingüístico e
simbólico
1.
Exemplo
Pesquisador: Você pessoalmente está prestes a
partir de Longwy?
Pesquisado: “Agora?(tom de surpresa) Para quê?
Partir... Eu não vejo a utilidade... Não, eu não
creio que eu deixarei Longwy... Essa idéia ainda
não tinha me passado pela cabeça... Além disso
minha mulher ainda trabalha. Isso pode ser um
freio... Mas deixar Longwy ... Eu não sei, pode ser,
porque não? ... Um dia ... Eu não sei não ... Mas
eu não penso nisso agora. Eu ainda não pensei
nisso porque eu estou ... Eu não sei, porque não
(risos), eu não sei, nunca se sabe...”
Outros recursos
Proximidade social e familiar
1ª Garante ameaças de ter suas razões
subjetivas reduzidas a causas objetivas
2ª Garantia de um acordo de comunicação
efetivo

Estratégias para garantir a
proximidade social e familiaridade



Estratégia de Willian Labov
Pesquisa de Bourdieu
Essa estratégia possibilita igualar na
entrevista os mercados de bens simbólicos
e culturais.
Benefícios da familiaridade

Compartilhamento de objetividades

Socioanálise
Um exercício espiritual
Realizar um trabalho incessante de construção próximo do
natural
 Recursos
1. fazer com que o entrevistado se sinta legitimado de ser o que
é e e a se manifestar
2. Não negar da distância social que separa os interlocutores
3. Fazer o exercício de empatia – realizar uma compreensão
fundada no domínio das condições sociais das quais ele é
produto como
 os mecanismos sociais que operam na sua categoria
 O domínio dos condicionamentos psíquicos e sociais de sua
posição e trajetória
4. Fazer uma compreensão da situação que o pesquisado e
colocado e é produto.
5. Evitar a semi-compreensão imediata do olhar – economia de
pensamento

Resistência a objetivação: Um
exemplo
Pesquisador: A tomada de consciência teve lugar
quando você chegou a França. Mas Tomada de
Consciência de que exatamente?
Pesquisado: a tomada de consciência do real no
sentido de que para mim, é aí que as coisas vão
começar a se delinear. Eu vivo realmente a separação
dos meus pais. Ele toma, realmente, sentido para mim
a partir do momento no qual eu passo do período que
eu vivi com meus pais, enfim, com a minha mãe e sua
família (no Marrocos, onde minha mãe passou depois
da separação), aqui, onde eu finalmente descubro
meu pai. É a primeira vez que nos vivemos realmente
juntos. Mesmo quando ele estava casado com a minha
mãe , sua vida social era aqui (na França), por isso
eles se viam pouco.
Continuação

Eu tinha a impressão que era alguém que eu descobria pela primeira vez
(...). Ele entrou na minha vida a partir do momento que fomos viver juntos.
Portanto, a tomada de consciência desse lado, a separação faz sentido.
Percebe-se que o pai que se tem, nunca se viveu com ele (...) E depois
também, tomada de consciência de uma outra paisagem. Não é mais o
mesmo espaço-tempo (...). Você sabe que você passa de seu pai para sua
mãe. Isso o excita também um pouco, de uma certa maneira mas a
realidade, ela vem pouco a pouco colorir e tornar visível, de fato, o que
aconteceu. Portanto, isso não é a mesma paisagem, não são as mesmas
pessoas, não são as mesmas pessoas, nem o mesmo espaço-tempo. Eu
volto a um período bastante vago a partir desse momento onde, se você
quer, será preciso, de hoje em diante, que se faça a ponte entre dois
mundos, que estão, para mim, radicalmente separados. Eu fiquei um pouco
nessa etapa, nessa separação, que ultrapassa de longe a separação paimãe. E um pouco mais longe: “eu tenho de fato a impressão de estar
ancorada a alguma coisa. E a pergunta agora que se faz e se eu vou
continuar nesse dilema ou se eu vou sair definitivamente? Francamente, eu
não acredito muito. Certamente eu sempre ficarei no meio do caminho. É
verdade que isso de ser assim ou assado não me interessa. Há vontade de
manter essa corrente de ar, um meio-termo. Sei lá.
Riscos


Você se sente desnaturalizada aqui? Qual
é a sua maior insatisfação?
Dupla enganação
Riscos


Não basta também apenas uma entrevista
reflexiva, é necessário não se deixar levar
pelo entrevistado em sua falsa objetivação
O entrevistado impõe seu jogo e fornece
uma aparência de auto-analise escapando
assim de tornar visíveis as determinações
sociais de suas opiniões, de suas práticas
no que elas têm de mais difícil de assumir.
Conceito de entrevista

Exercício espiritual

Auto análise provocada e acompanhada.
Construção realista


Construção realista – conhecimento prévio
da realidade
Exemplo – pesquisa sobre moradia
Entrevista
Duas mulheres de quarenta anos de idade, uma delas conta a
história de suas sucessivas moradias.
Mulher 1: é a primeira vez que moro numa casa nova, é muito
bom... A primeira casa que tive em Paris foi na rua Brancion,
era um apartamento antigo, que não tinha sido reformado
desde a guerra de 14. Tudo precisava de reformas, tudo
estava torto. Tão pouco conseguimos recuperar o teto de tão
sujo que estava.
Mulher 2: com certeza, é muito trabalho...
Mulher 1: Antes, com meus pais, nós morávamos numa
habitação sem água. Era formidável, com duas crianças ter
um banheiro.
Mulher 2: Na casa dos meus pais era a mesma coisa. Mas nem
por isso éramos sujos. Mas é verdade, é tão mais fácil...
Mulher 1: Depois moramos em Creteil. Era um imóvel moderno
mas que já tinha uma dezena de anos...”



Pequenas intervenções
Esse tipo de intervenção engaja o
interlocutor na história que ele conta e o
convida a dela participar.
Os riscos da escrita




Transcrição – já é uma verdadeira
tradução ou até uma interpretação, a
transcrição joga deliberadamente com a
pragmática da escrita para orientar a
atenção do leitor para os traços
sociologicamente
pertinentes
que
poderíamos deixar escapar
Dois conjuntos de obrigações
1. obrigações de fidelidade
2. fazer escolhas
Os riscos da escrita



Confusão dos efeitos simbólicos
Esforçar para fornecer ao leitor a
legibilidade do discurso
Discurso perigoso
Contexto das entrevistas do
RMI






Entrevista realizada por um escritório de estudos a
pedido do Ministério da Pesquisa e da Tecnologia para
avaliar a renda mínima (RMI) após três anos em
execução.
É apresentada como uma entrevista científica.
Foi realizada no momento em que a comissão deve
entrar com seu primeiro relatório ao primeiro ministro.
Lugar de realização – escritórios da prefeituras ou
centros comunitários
Numero de perguntas: 300
Conteúdo: perguntas que fazem o beneficiário provar
a legitimidade da situação (que procura emprego, que
é desempregado e seus direitos estão no fim, que é
um jovem sem qualificação, que não tem domicílio
fixo, etc)
Violência simbólica nas entrevistas
burocráticas – exemplo 1
Violência simbólica nas entrevistas
burocráticas – exemplo 1





A violência simbólica é feita com desinibição pois os
agentes encarregados se sentem autorizados pelo
Estado, detentor do monopólio da violência simbólica
legítima.
O inquérito é conduzido na lógica da suspeita.
O entrevistado, na lógica da suspeita, é tratado como
dissimulador ou simulador potencial que deve ser
pego na armadilha.
Os repetidos porques induzem a crer que o que
acontece com o entrevistado foi resultado de uma
livre escolha e a vítima seria responsável.
A discordância estrutural é geradora de malentendidos explícitos. Ignoram as respostas anteriores
e vão a fundo nas próximas
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Para Bourdieu