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Abordagem fisioterapêutica na síndrome da disfunção femoropatelar
Régia Maria de Oliveira Coelho1
[email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-graduação em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em Terapia Manual –
Faculdade Cambury
Resumo
Introdução: A Síndrome da Disfunção Femoropatelar (SDFP )é uma patologia bastante comum
entre indivíduos jovens, atletas e população sedentária e acomete frequentemente o sexo
feminino. Pode ser caracterizada por uma dor anterior no joelho, edema, crepitação
retropatelar e bloqueio articular, sendo agravada durante atividades esportivas, subida e
descida de escadas, caminhadas em terrenos inclinados, agachamento e ao permanecer sentado
por tempo prolongado. Objetivo: Revisar a literatura e identificar as principais abordagens
fisioterapêuticas utilizadas no tratamento da síndrome da disfunção femoropatelar.
Metodologia: Para a realização deste estudo, foram pesquisados artigos em bases de dados
indexadas Scielo, desde junho de 2014 a agosto de 2014. Discussão: Os pacientes com sintomas
de dor femoropatelar permanecem como um dos maiores desafios clínicos em medicina de
reabilitação e despeito dos recentes avanços no entendimento e tratamento de diversas
condições do joelho. Atualmente, tem sido aceito que o tratamento conservador leva a um alívio
dos sintomas na maioria dos pacientes com SDFP. Conclusão: Este estudo concluiu que a
abordagem fisioterapêutica na SDFP mais indicada tem sido os tratamentos baseados no
fortalecimento dos músculos, principalmente os músculos VMO e VL, alongamento muscular
segmentar desses grupos e exercícios proprioceptivos.
Palavras-chave: Síndrome da Disfunção Femoropatelar, Fisioterapia em Pacientes com
Síndrome Femoropatelar, Reabilitação PateloFemoral.
1. Introdução
A Síndrome da Disfunção Femoropatelar (SDFP) é uma deficiência bastante comum entre
indivíduos jovens, atletas e população sedentária e acomete frequentemente o sexo feminino.
Esta síndrome pode ser caracterizada por uma dor anterior no joelho, edema, crepitação
retropatelar e bloqueio articular, sendo agravada durante atividades esportivas, subida e descida
de escadas, caminhadas em terrenos inclinados, agachamento e ao permanecer sentado por tempo
prolongado (SANTOS et al, 2013; BEVILAQUA-GROSSI, 2007).
Apesar de não estar claramente estabelecido, o fator etiológico mais aceito para a SDFP é o
deslocamento anormal da patela. Nessa situação, ocorreria um desequilíbrio entre os músculos
estabilizadores primários da patela. Outros fatores são aceitos, como o aumento do ângulo Q,
patela alta ou baixa, pronação subtalar excessiva, rotação lateral da tíbia, anteversão femoral,
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Pós Graduanda em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia
Orientadora: Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestrando em Bioética e Direito em
Saúde.
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joelhos valgos ou varos e encurtamento do retináculo lateral, dos músculos isquiotibiais e do
trato iliotibial (SANTOS et al, 2013; SAY, 2007).
O diagnóstico hoje é realizado com base no exame clínico feito por profissionais experientes,
entre ele o fisioterapeuta, considerando-se que uma avaliação detalhada é extremamente
importante para propor futuras intervenções (CABRAL, 2007). É de suma importância manter
historia clinica minuciosa e associada ao exame clinico detalhado (SIZINIO, 2009). Esta
patologia constitui 25% das lesões que comprometem o joelho e 5% de todas as lesões esportivas
(SANTOS, 2011).
Em uma tentativa de identificar com mais clareza as estruturas anatômicas envolvidas e as
alterações biomecânicas que levam a disfunção, tem sido propostos vários sistemas de
classificação, que incluem diretrizes para intervenção com base nos comprometimentos e nas
limitações funcionais (KISNER, 2007). Atualmente, tem sido aceito que o tratamento
conservador leva a um alívio dos sintomas na maioria dos pacientes com SDFP, porém não há
dados que objetivos que determinem a melhor forma de tratamento conservador nessa síndrome
(MELIM, 2007).
Os dados existentes na literatura sobre protocolos de reabilitação fisioterapêutica na SDFP
apresentam-se de forma inconclusiva, além disso os benefícios para a aplicação desses
protocolos não são bem documentados. Dessa forma, o objetivo deste estudo é revisar a literatura
e identificar as principais intervenções fisioterapêuticas utilizadas no tratamento da Síndrome da
disfunção femoropatelar.
2. Revisão de literatura
2.1 Anatomia do joelho
O joelho, considerada uma articulação instável, proporcionou muitos estudos, desenvolvimento
de técnicas diversas e aprimoramento, diagnóstico e tratamentos cirúrgico e conservador, onde
nossas técnicas fisioterapêuticas estão inclusas (SALGADO, 1995).
O joelho é a articulação mais complexa do corpo e participa da flexão, extensão e de certo
deslizamento e rotação medial, quando está flexionado. Na extensão total, o fêmur faz rotação
medial sobre a tíbia e os ligamentos garantem a fixação (HANSEN, 2007).
É uma articulação que funciona como um gonzo, permitindo uma ampla extensão de
movimentos. É bastante suscetível as lesões traumáticas, primariamente por ser muito submetido
a esforço, por se localizar entre dois braços de alavanca: o fêmur e a tíbia e por não ser protegido
por tecido adiposo e músculos, o que contribui para a alta incidência de lesões que acometem
essa articulação (HOPPENFELD, 2005).
Segundo Salgado (1995), do ponto de vista funcional e anatômico o joelho pode ser dividido em
articulação femorotibial, que envolve as articulações meniscofemoral e meniscotibial,
femoropatelar e tibiofibular. Os ossos do joelho consistem na região distal do fêmur com seus
dois côndilos, a região proximal da tíbia com seus dois platôs tibiais e o grande osso sesamoide
do tendão do quadríceps, a patela (KISNER, 2007).
A articulação tibiofemoral é uma articulação do joelho em dobradiça, biaxial modificada, com
dois meniscos interpostos suportados por ligamentos e músculos. A estabilidade antero-posterior
é dada pelos ligamentos cruzados; a estabilidade mediolateral é dada pelos ligamentos colaterais
medial (tibial) e lateral (femoral), respectivamente. A articulação patelofemoral, a patela é um
osso sesamóide dentro do tendão do quadríceps. Ela articula-se com a fossa intercondilar
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(troclear) na face anterior da porção distal do femur. A patela fica embebida na porção anterior
da capsula articular e é conectada a tíbia pelo ligamento patelar (KISNER, 2007).
2.1.1 Anatomia da Patela
Dângello e Fattini (2006) classificam a patela como um osso sesamóide, por estar inclusa no
tendão de inserção do músculo quadríceps da coxa. O osso tem forma triangular, apresentando
uma base superior e um ápice dirigido inferiormente. A face articular é posterior e apresenta duas
áreas separadas por uma ligeira elevação. A área lateral é maior que a medial, mas ambas se
articulam com os côndilos do fêmur. Sua face anterior, convexa, é rugosa e nela se ligam o
tendão quadricipital e o ligamento da patela, bem como penetra a maioria dos vasos sanguíneos
perfurantes responsáveis por sua irrigação (SIZINIO, 2009).
2.2 Biomecânica
É importante compreender a biomecânica patelofemoral ao prescrever exercícios para o joelho
para um programa de reabilitação, seja qual for o diagnóstico (ANDREWS, 2000).
Quando o joelho encontra-se totalmente estendido, a patela está localizada acima da tróclea, sem
contato com a mesma. Aos 10 graus de flexão, a superfície articular da patela começa a tocar a
superfície articular da tróclea, e aos 30 graus atinge a sua porção mais profunda. A cada grau de
flexão do joelho, determinada região da patela entra em contato com a tróclea; esse contato é
mais proximal quanto maior for o ângulo de flexão. Após os 120 graus a patela atinge a região
do espaço intercondilar; o contato se faz pela faceta singular e pela região lateral da faceta
lateral.
Durante o movimento de flexão e extensão, a força gerada pelo quadríceps é transmitida ao
ligamento da patela, produzindo um vetor de força que comprime a patela de encontro com a
tróclea. Essa força de compressão é tanto maior quanto maior for o grau de flexão em que o
joelho se encontra.
O tendão do quadríceps e o ligamento da patela formam entre si um ângulo que tendem a
posicionar a patela lateralmente, essa angulação corresponde ao ângulo quadricipital (ângulo Q)
(SIZINIO, 2009).
3.0 Disfunção Patelofemoral
A Síndrome da Disfunção Femoropatelar (SDFP) é uma deficiência bastante comum entre
indivíduos jovens, atletas e população sedentária e acomete frequentemente o sexo feminino.
Esta síndrome pode ser caracterizada por uma dor anterior no joelho, edema, crepitação
retropatelar e bloqueio articular, sendo agravada durante atividades esportivas, subida e descida
de escadas, caminhadas em terrenos inclinados, agachamento e ao permanecer sentado por tempo
prolongado (SANTOS et al, 2013; BEVILAQUA-GROSSI, 2007).
A designação dor patelofemoral é usada para descrever muitas afecções associadas com
disfunção patelofemoral, incluindo condromalácea da patela e subluxação ou luxação da patela;
com frequência até mesmo a tendinite patelar (ANDREWS, 2000).
4.0 Fisiopatologia
A fisiopatologia da SDFP esta relacionada à fatores como: Instabilidade femoropatelar:
Geralmente a instabilidade é na direção lateral. A luxação pode dever-se a trauma direto a patela
ou a uma contração forcada do quadríceps quando o pé está posicionado no solo, o joelho esta
flexionado e o fêmur é rodado externamente.
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Dor patelofemoral com desalinhamento ou disfunção biomecânica: inclui problemas que causam
um aumento do ângulo Q, como anteversão femoral, torção tibial externa. Há geralmente uma
excursão patelar anormal, e pode haver um disparo neuromuscular sem sincronia do músculo
quadríceps.
Dor patelofemoral sem desalinhamento: Lesões de tecidos moles: Tendinite dos tendões patelar
ou do quadríceps geralmente ocorre devido ao uso excessivo como resultado de saltos
repetitivos. A sensibilidade ocorre ao longo da inserção do tendão na patela. Síndrome da fricção
da banda íliotibial (IT): é a irritação da banda IT quando ela passa sobre o côndilo femoral
lateral, tendo como fatores desencadeantes o encurtamento dos músculos tensor da fáscia lata e
glúteo máximo. Como a banda IT se insere na patela e no retináculo lateral, pode causar dor no
joelho. A bursite pré-patelar: ocorre em consequência da posição ajoelhada prolongada ou de
pequenos traumas recorrentes na parte anterior do joelho. Durante o processo inflamatório pode
haver restrição de mobilidade em virtude do edema e dor devido à pressão direta ou pressão
proveniente do tendão patelar.
Condromalácea patelar traumática: Ocorre amolecimento e surgimento de fissura da superfície
cartilaginosa da patela. Isso pode acabar predispondo à articulação a artrite degenerativa ou a
degeneração basal das zonas medias ou profundas da cartilagem. As causas da degeneração
podem ser traumáticas, cirúrgicas, sobrecarga prolongada ou repetitiva, ou a falta de cargas
normais, como ocorre durante os períodos de imobilização (KISNER, 2007).
5.0 Estabilizadores estáticos e dinâmicos
A patela é mantida em sua posição anatômica durante o movimento de flexão e extensão do
joelho por estruturas designadas estabilizadores. Temos dois tipos de estabilizadores: estáticos e
dinâmicos.
Estáticos: os estabilizadores estáticos da patela são: o tendão quadricipital, o ligamento da patela
e os retináculos medial e lateral.
Dinâmicos: são constituídos pelos músculos que compõem o quadríceps, em ordem de
profundidade: reto femoral, vasto medial e lateral e vasto intermédio.
Metodologia
Para a realização deste estudo, foram pesquisados artigos em bases de dados indexadas Scielo e
literatura, entre os anos de 1995 a 2013. A pesquisa foi realizada no período de junho de 2014 a
agosto de 2014. A estratégia de busca correlacionava as seguintes palavras-chave: Síndrome da
Disfunção Femoropatelar, Fisioterapia em Pacientes com Síndrome Femoropatelar, Reabilitação
PateloFemoral.
Os idiomas utilizados foram o português e o inglês. Como critérios de inclusão para a seleção
dos trabalhos pesquisados, prevaleceram os que abordavam a patologia e os exercícios propostos.
Critérios de exclusão foram artigos que utilizavam protocolos usados em animais.
Resultados
Neste estudo foram encontrados 10 artigos para serem descritos na tabela, por apresentarem os
melhores resultados.
ARTIGO
AUTOR
Tratamento
CAMPOS,
ANO
OBJETIVO
RESULTADO
Apontar quais as principais
Com base no levantamento das
5
fisioterapêutico na
síndrome da dor
patelofemoral: uma
revisão de
literatura.
I.R.M.; et al.
2013
técnicas fisioterapêuticas no
tratamento da SDFP.
principais modalidades
terapêuticas para o tratamento
da SDFP, verifica-se a
relevância e importância do
fortalecimento dos membros
inferiores, não somente na
musculatura do joelho, como
também na do quadril para
diminuição da dor e aumento
da forca.
Estimulação
elétrica
neuromuscular na
disfunção
patelofemoral.
Revisão de
literatura.
SANTOS, R.
et al
2011
Sistematizar o conhecimento
a cerca da utilização da
estimulação elétrica
neuromuscular no quadríceps
associada a exercícios
resistidos, para aumento da
forca muscular e diminuição
da dor em pacientes com
disfunção patelofemoral.
A estimulação elétrica
neuromuscular de media
frequência pode ser utilizada
associada a exercícios
resistidos como coadjuvante
no tratamento da disfunção
femoropatelar, tanto para se
obter um reequilíbrio
muscular, quanto para o alivio
da dor.
Comparação dos
exercícios em
cadeia cinética
aberta e cadeia
cinética fechada na
reabilitação da
disfunção
femoropatelar.
NOBRE, T.
2011
Comparar a eficácia dos
exercícios em cadeia cinética
aberta com os em cadeia
cinética fechada, para a
recuperação funcional dos
portadores da disfunção
patelofemoral.
Exercícios em cadeia cinética
aberta e fechada mostraram
que podem reduzir a dor e
aumentar a forca muscular dos
portadores de disfunção
femoropatelar.
Ativação muscular
estabilizadora da
patela e do quadril
durante exercício
de agachamento
em indivíduos
saudáveis.
FELICIO, L.
et al.
2011
Comparar a ativação
mioelétrica de estabilizadores
da patela e pelve entre as
posições de agachamento
convencional e associado a
contração isométrica em
adução e abdução da coxa em
indivíduos sem queixa de
DAJ.
O exercício de agachamento
associado a adução da coxa
promoveu uma maior ativação
muscular do VMO, alem de
produzir um aumento na
ativação do GMed.
Alongamento
muscular
segmentar melhora
função e
MIYAMOTO,
G.C., et al.
2010
Avaliar os efeitos do
alongamento muscular
segmentar no tratamento de
pacientes com SFP.
Todas as variáveis
apresentaram diferença
significante após o tratamento
(p < 0,05), exceto o momento
6
alinhamento do
joelho de
indivíduos com
síndrome
femoropatelar:
estudo preliminar.
de forca e trabalho total dos
músculos extensores a
60graus/s, trabalho total dos
extensores e flexores a 180
graus/s e a SPA a 50 e 40
graus de flexão do joelho.
Repercussões do
tratamento
fisioterapêutico na
instabilidade
femoropatelar.
CAMPOS,
L.M.R.M.C.;
et al.
2010
Evolução do tratamento
fisioterapêutico, através de
recursos de terapia manual e
eletrotermofototerapicos em
uma paciente com
diagnostico de instabilidade
femoropatelar no joelho
esquerdo.
O tratamento fisioterapêutico
proposto pelo protocolo de
realização de tecnicas de
terapia manual e por recursos
eletrotermofototerapicos
promoveu uma melhora
significativa nos sinais e
sintomas da paciente com
SDFP.
Início da Atividade
Elétrica dos
Músculos
Estabilizadores da
Patela em
indivíduos com
SDPF.
GROSSI, D.
et al
2008
Avaliar a porcentagem de
disparo inicial (PDI) dos
músculos estabilizadores da
patela durante exercícios de
contração isométrica
voluntária máxima (CIVM)
em indivíduos com e sem
sinais da síndrome da dor
patelofemoral (SDPF) nos
exercícios de cadeia cinética
aberta (CCA) e fechada
CCF).
Os músculos VMO e VLO
apresentaram uma maior PDI
em relação ao músculo VLL
durante os exercícios em CCA
para ambos os grupo e para o
grupo SDPF em CCF. Não foi
observado diferença entre os
grupos.
Fisioterapia em
pacientes com
síndrome
femoropatelar:
comparação com
exercícios em
cadeia cinética
aberta e fechada.
CABRAL, C.
et al.
2007
Comparar a eficácia de
exercícios de fortalecimento
do músculo quadríceps
femoral, em CCA E CCF, na
recuperação funcional de
mulheres com SDP.
Tratamento baseados no
fortalecimento do músculo
quadríceps femoral
possibilitaram melhoras
importantes nos principais
sinais e sintomas apresentados
pelos pacientes, não havendo
diferenças evidentes entre os
realizados em CCA e CCF.
Em relação ao realinhamento
dos MMII, os tratamentos não
se mostraram eficientes.
Efetividade dos
exercícios em
FEHR, G.L.,
et al.
2006
Analisar os efeitos
terapêuticos dos exercícios
Os exercícios em CCA e CCF
não provocaram mudanças nos
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cadeia cinética
aberta e cadeia
cinética fechada no
tratamento da
síndrome da dor
femoropatelar.
Analise funcional
dos estabilizadores
patelares.
GROSSI, D.
et al.
2004
em cadeia cinética aberta e
(CCA) e cadeia cinética
fechada (CCF) no tratamento
da síndrome da dor
femoropatelar (SDFP).
padrões da ativação EMG dos
VMO e VL; entretanto,
promoveram melhora da
funcionalidade e redução da
intensidade da dor após oito
semanas de intervenção, sendo
que os exercícios em CCF
foram superiores ao CCA.
Analisar a atividade elétrica
dos músculos VMO, VLL e
VLO em exercícios de
extensão do joelho em CCA
em ângulos de 15* e 90* de
flexão.
O músculo VLO apresentou-se
assim como o VMO
igualmente ativo, independente
do ângulo de flexão do joelho,
sugerindo que estes músculos
desempenham papel recíproco
e sincrônico na estabilização
patelar.
Tabela 1 – Resultados dos artigos obtidos na revisão sistemática
Discussão
Os pacientes com sintomas de dor femoropatelar permanecem como um dos maiores desafios
clínicos em medicina de reabilitação e despeito dos recentes avanços no entendimento e
tratamento de diversas condições do joelho (GROSSI, 2004). Atualmente, tem sido aceito que o
tratamento conservador leva a um alivio dos sintomas na maioria dos pacientes com SDFP.
Existem vários protocolos de tratamento (CABRAL, 2007).
Cabral e colaboradores (2007), afirmam que o tratamento conservador geralmente inclui
exercícios de fortalecimento do músculo quadríceps femoral, realizados em cadeia cinética
aberta (CCA) e fechada (CCF). Em um ensaio clínico realizado com 21 pacientes do gênero
feminino, divididos em 02 grupos, G1 com 11 pacientes que realizaram fortalecimento do
músculo quadríceps femoral em CCA na cadeia extensora e G2 com 10 pacientes realizou
fortalecimento do músculo quadríceps femoral em CCF no leg-press, teve como resultados uma
melhora significante na intensidade da dor apenas para o G1, o que os fazem afirmar que formas
de tratamento que diminuam a dor podem ser considerados efetivos, como o fortalecimento
muscular em CCA.
Nobre (2011), em seus estudos, realizou uma comparação de exercícios em Cadeia Cinética
Aberta (CCA) e Cadeia Cinética Fechada (CCF), Dentre os protocolos de tratamento, os
exercícios em cadeia cinética aberta e fechada mostraram que podem reduzir a dor e aumentar a
forca muscular dos portadores de SDFP. A abordagem terapêutica combinada com essas duas
cadeias é recomendada, porem, os exercícios em CCF têm sido considerados mais funcionais
para a reabilitação de indivíduos com SDFP.
Grossi e colaboradores (2008) realizaram um estudo onde avaliaram 10 mulheres sem queixa de
dor anterior no joelho e 12 mulheres com sinais de SDPF durante a contração isométrica máxima
(CIM) em CCA e CCF com o joelho posicionado a 90º de flexão do joelho. Durante a execução
dos exercícios em CCA foi utilizado um equipamento extensor no qual a voluntária permaneceu
sentada com o quadril e o joelho a 90° de flexão. Os exercícios em CCF foram realizados no
aparelho Leg Press com inclinação a 45° em relação ao solo e com os joelhos posicionados a 90º
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de flexão. Para ambos os exercícios, o tronco e a cabeça das voluntárias foram estabilizados por
um cinto. Não foram observadas diferenças significativas entre os grupos saudáveis e com SDPF
nas atividades estudadas, entretanto, pode-se verificar que os exercícios em CCA e CCF para os
grupos apresentam um sincronismo entre os principais estabilizadores patelares, VMO e VLO.
Porem, o estudo sugeriu que a contração isométrica voluntaria máxima em CCA e CCF
realizadas a 90 graus de flexão não apresentam diferença temporal na resposta eletromiográfica
sugerindo que estes exercícios possam ser utilizados para a reabilitação dos estabilizadores
patelares, podendo ser indicados no tratamento fisioterapêutico de indivíduos com SDPF.
Para Nobre (2011), entre os exercícios em CCF, os de agachamento é considerado seguro e
efetivo graças ao efeito estabilizador da cocontração dos músculos quadríceps e isquiotibiais e
recomenda-se flexão de joelho durante o exercício de agachamento de 60 graus, estudo que
concorda com o apresentado por Santos (2011), que aponta que exercícios de agachamento nas
angulações entre 45 e 60 graus proporcionam equilíbrio entre as porções medial e lateral de
estabilizadores dinâmicos da patela em pacientes com SDFP, e que podem ser indicados durante
o programa de reabilitação. Felicio (2011) descreve que o movimento de agachamento é
frequentemente prescrito em protocolos cinesioterapêuticos para diversos acometimentos do
joelho, pois promove aumento da forca dos músculos da coxa e da cintura pélvica.
Fehr e colaboradores (2006) realizou um estudo com 17 voluntários (17 mulheres e 7 homens)
portadores de SDFP, para analisar os efeitos terapêuticos dos exercícios em cadeia cinética
aberta (CCA) e cadeia cinética fechada (CCF) no tratamento da síndrome da dor femoropatelar.
Os voluntários foram divididos aleatoriamente em dois grupos: grupo I (n= 12): realizou
exercícios em CCA e o grupo II (n= 12), realizou exercícios em CCF. O protocolo de tratamento
constituiu de três sessões de fisioterapia semanais em 8 semanas, realizadas em dias alternados.
O grupo I realizou exercícios isométricos de quadríceps com joelho a 90 graus, 70 graus, 50
graus e mesa flexo-extensora (90-50 graus). O grupo II realizou exercícios isométricos de
quadríceps com joelho a 20 graus, 40 graus, semi-agachamento (0–50 graus) e pressão das
pernas (0-50 graus). O estudo revelou redução significativa na intensidade da dor e melhora nas
atividades funcionais, porem, o grupo II apresentou melhores resultados. Os exercícios em CCA
e CCF promoveram redução na intensidade da dor e melhora funcional nos portadores de SDFP.
Exercícios em CCF mostraram-se mais eficazes comparados com os em CCA.
Santos e colaboradores (2011) apontaram a importância do fortalecimento muscular baseado no
reequilíbrio do músculo vasto medial obliquo e vasto lateral poderiam reduzir o desconforto dos
pacientes para se obter um maior equilíbrio entre patela e fêmur, diminuindo os processos
degenerativos e consequentemente os sintomas da dor. Segundo o estudo, a utilização da
Corrente Russa associada a exercícios resistidos em pacientes com SDFP, proporciona ganho de
forca e consequentemente alivio da dor, através da intensidade de ativação da musculatura
aumentada com a utilização da estimulação elétrica neuromuscular, podendo ser um recurso
terapêutico coadjuvante neste tratamento.
O conceito de que o músculo vasto medial obliquo é mais ativo durante os últimos graus de
extensão é amplamente aceito, o que subsidiou o uso destes exercícios no tratamento
conservador, o que contribuiu para que o protocolo de exercícios de fortalecimento do músculo
vasto medial para os pacientes com SDFP fosse baseado em exercícios realizados nos últimos
graus de extensão (GROSSI, 2004).
Para Nobre (2011) a propriocepção também é um fator influente na escolha de exercícios em
CCF, pois acredita-se que o feed back seja mais eficiente graças as forcas de compressão do
corpo e o contato do pé com o chão, alem de reproduzir movimentos funcionais comumente
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executados nas atividades de vida diária. O agachamento unipodal realizado em uma plataforma
de declínio de forma excêntrica mostrou ser de melhor eficácia para o fortalecimento da região
extensora do joelho, quando comparado com o agachamento normal e em piso plano.
Miyamoto et al (2010) em um estudo realizado com 13 indivíduos sedentários, de ambos os
sexos, avaliou os efeitos do alongamento muscular segmentar no tratamento dos pacientes com
SDP. Os voluntários realizaram o tratamento três vezes por semana, durante seis semanas. O
tratamento consistia do autoalongamento dos músculos isquiotibiais, quadríceps femoral e
tríceps sural, bilateralmente mantidos por 30 segundos e repousando pelo mesmo tempo com 10
repetições cada músculo. Após o tratamento, houve diferença significante no ângulo Q, que
apresentou melhora significante após alongamento muscular segmentar e capacidade funcional, a
intensidade da dor também apresentou diferença significante. Ocorreu melhora no alinhamento
patelar devido à redução do encurtamento muscular e diminuiu o estresse articular e a dor. O
estudo concluiu que o alongamento segmentar possibilitou melhoras importantes nos sinais e
sintomas apresentados pelos pacientes com SDP, sendo indicados no tratamento destes pacientes.
Porem, não evidencia a sua efetividade na melhora da propriocepção dos pacientes.
Campos e colaboradores (2010) avaliaram a evolução do tratamento fisioterapêutico, através de
terapias manuais e eletrotermofototerapicos em uma paciente de 35 anos. O protocolo realizado
duas vezes na semana consistia de fortalecimento muscular, ganho de ADM, manutenção de
propriocepção e quebra de aderência muscular. O estudo concluiu que o tratamento promoveu
uma melhora significativa dos sinais e sintomas apresentados pela paciente, promovendo melhor
qualidade de vida.
Conclusão
O presente estudo permitiu destacar as principais abordagens fisioterapêuticas na SDFP e
evidenciar a atuação da fisioterapia na reabilitação desta patologia.
Através de revisão sistemática realizada, concluiu-se que a atuação da fisioterapia demonstrou
fundamental importância e contribuição para a melhora da reabilitação por meio de técnicas
fisioterapêuticas.
As técnicas mais indicadas têm sido os tratamentos baseados no fortalecimento dos músculos,
principalmente os músculos VMO e VL, alongamento muscular segmentar desses grupos e
exercícios proprioceptivos.
Todas as técnicas apresentadas tem demonstrado sucesso no tratamento desses pacientes, porem
os exercícios em CCA e CCF tem tido uma maior ênfase nos principais sinais e sintomas
apresentados pelos pacientes, promovendo a redução na intensidade da dor e melhora da
funcionalidade nos portadores da SDFP.
Desta maneira, este estudo alcançou o objetivo esperado, enfatizando a importância da
abordagem de técnicas fisioterapêuticas na reabilitação em portadores da SDFP.
Referências
ANDREWS, James R; HARRELSON, Gary L.; WILK Kevin E. Reabilitação física das lesões desportivas. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
BATISTA, Laísla da Silva Paixão; OLIVEIRA, Valéria Mayaly Alves; SOUZA, Lucas Pereira Lopes; PITANGUI,
Ana Carolina Rodarti; ARAUJO, Rodrigo Cappato. Influência do calçado de salto alto na atividade
eletromiográfica do músculo quadríceps em mulheres com e sem síndrome da dor femoropatelar durante a tarefa
10
de
levantar
e
sentar.
Fisioter.
Pesqui. vol.20 no.1 São
Paulo Mar. 2013.
Disponível
em:
<
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1809-29502013000100002&script=sci_arttext >. Acesso em: 15 Mai 2014.
BEVILAQUA-GROSSI, D; FELICIO, LR; LEOCADIO LP. Análise do tempo de resposta reflexa dos músculos
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Disponível
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<
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
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CABRAL, Cristina Maria Nunes; MELIM, Ângela Maria de Oliveira; SACCO, Isabel de Camargo Neves;
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