ENTREVISTA
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Na primeira entrevista deste que assumiu o cargo de chief creative officer da Isobar Ibéria, acumulando a direcção criativa da
agência nos mercados português e espanhol, João Fernandes
explica o impacto desta direcção conjunta na operação
ANÁLISE
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Televisão, computador, smartphone, tablet... Qual deles é hoje
o seu primeiro ecrã, aquele em que passa mais tempo, que lhe
serve para mais funções e é o primeiro contacto com muitos
dos conteúdos?
ENTREVISTA
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Em entrevista exclusiva ao M&P, Chris Babayode, managing
director EMEA da Mobile Marketing Association, olha para
o actual momento do marketing mobile e comenta alguns
dados
EDIÇÃO ESPECIAL MOBILE
N723
18 JULHO 2014
ANO 16
O JORNAL INDEPENDENTE PARA PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO E MARKETING
Directora Carla Borges Ferreira Director-adjunto Rui Oliveira Marques
Quinzenal para assinantes Preço de capa 7a
Este já é o
seu primeiro
ecrã?
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EDITORIAL
FICHA TÉCNICA
O ecrã
principal
PROPRIEDADE WORKMEDIA, COMUNICAÇÃO, SA
Propriedade & Editor Workmedia, Comunicação, SA
Av. Guerra Junqueiro 10 – 6º Esquerdo, 1000-167 Lisboa
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Conselho de Administração
Pedro Corrêa Mendes
CARLA BORGES FERREIRA, DIRECTORA
Meios & Publicidade
Av. Guerra Junqueiro 10 – 6º Esquerdo, 1000-167 Lisboa
Todas as quinzenas o M&P escolhe um tema/
sector ao qual dedica particular atenção na
secção Especial. Quando, há 15 dias, decidimos que o Especial da edição que agora
está a ver seria dedicado ao mobile, depressa
percebemos que, mais do que uma secção, o
tema merecia ocupar todo o jornal. Porquê?
Porque, de forma cada vez mais sustentada,
o mobile tem vindo a conquistar terreno,
sendo poucos ou inexistentes os estudos
que não apontam o crescimento exponencial
dos dispositivos móveis, do tempo dedicado
à sua utilização ou o aumento de funcionalidades à disposição do consumidor. E é fácil
perceber porquê. Aliás, o difícil é imaginar
que até 2007, ano em que foi lançado
o primeiro iPhone, os telefones serviam
apenas para fazer e receber telefonemas ou
SMS e que só em 2010 Steve Jobs deu a
conhecer ao mundo o iPad, aquela mistura
entre MacBook e iPhone que prometia um
novo mundo de oportunidades para os media,
para as marcas e, sobretudo, para os consumidores. Sete anos depois do lançamento
do iPhone, foram centenas os smartphones
e tablets lançados por diferentes marcas e
para diferentes bolsos. Com a massificação
dos devices, o anytime, anywhere tornou-se ponto assente. Não será o futuro, é já o
presente. Mas um presente ainda mal explorado pelas marcas, quase residual para as
agências e que acrescenta mais dúvidas do
que certezas. Nas próximas páginas levamo-lo a viajar por este admirável mundo novo,
ao qual, de forma mais ou menos irracional,
todos fomos aderindo.
ESCLARECIMENTO
A propósito da entrevista ao director criativo da TBWA Angola, publicada na última edição,
Miguel Reis pede para se esclarecer que a agência existia já antes da sua entrada, pelo que
a conta da Pernod Ricard não foi a primeira ganha pela agência, nem a TBWA abriu com o
pretexto de trabalhar o cliente internacional Standard Bank.
Directora
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ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, designadamente comerciais.
Membro da VISAPRESS
FRASE DA QUINZENA
“Quando se ouve falar
de mobile marketing, e
se ouve de imediato falar
de QR codes, realidade
aumentada, etc., faz
lembrar alguém que falasse
do potencial da TV para os
anunciantes centrada no
product placement”
JOÃO PAULO LUZ, director de publicidade do Sapo
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ENTREVISTA
“Em Espanha a agência
subalternizou-se
demasiado ao negócio
da media”
PEDRO DURÃES
Na primeira entrevista deste que
assumiu o cargo de chief creative
officer da Isobar Ibéria, acumulando
a direcção criativa da agência nos
mercados português e espanhol,
João Fernandes explica ao M&P o
impacto desta direcção conjunta
na operação
JUST FRAME IT
Corria o ano de 2000, a internet estava longe da
velocidade da fibra, ainda mostrávamos as nossas
fotografias aos amigos convidando-os para irem lá a
casa, Mark Zuckerberg era apenas um geek a fazer
das suas na universidade, mobile era enviar SMS e
smartphone era um telemóvel com câmara fotográfica e rádio FM. Estávamos longe da era dos tablets
e os portáteis ainda eram o último grito da tecnologia.
Nesse ano nascia a agência digital portuguesa View,
pelas mãos de Nuno Frazão e João Fernandes. Nove
anos depois, a View integrava a rede Isobar, do grupo
Aegis, e hoje, 14 anos depois, João Fernandes passa
a acumular com a direcção criativa da agência em
Portugal a direcção criativa da Isobar em Espanha,
assumindo o cargo de chief creative officer ibérico.
“Do ponto de vista operacional continuam a ser duas
entidades perfeitamente isoladas, com objectivos
próprios e a operar de forma totalmente autónoma”,
garante ao M&P João Fernandes. Em Espanha, diz,
o seu principal objectivo passa por recuperar o ADN
criativo da agência.
Meios & Publicidade (M&P): O que muda na
sua vida diária com estas novas funções de
director ibérico?
João Fernandes (JF): Terei de passar algum tempo
em Madrid, apesar de termos também escritório
em Barcelona. Passo a ter de fazer mais viagens e
a acumular mais umas milhas na TAP, o que não é
necessariamente mau. À partida terei de dividir o
meu tempo entre Lisboa e Madrid, passarei cerca
de duas semanas por mês em Espanha. No entanto
vou manter uma gestão permanente e conjunta das
duas equipas e atendendo às necessidades das duas
agências.
M&P: Ao nível da organização da agência,
quer em Portugal quer em Espanha, o que
muda com a criação desta direcção conjunta?
JF: Não me clonei, pelo que há necessidade de ocupar
um espaço que deixo desocupado em Portugal.
Tenho um estilo de direcção criativa que passa por
estar muito tempo junto dos clientes e, naturalmente,
não terei a mesma disponibilidade. Felizmente, o meu
sócio-fundador da View e que continua como CEO
da Isobar Portugal, o Nuno Frazão ocupará um pouco
desse espaço e recuperará um bocado essa sua
experiência de muitos anos de estar junto do cliente.
Em Espanha a agência estava sem direcção criativa
desde Agosto do ano passado, portanto a alteração
estrutural é sobretudo a minha presença, se bem
que a agência já estava dentro de um processo de
reestruturação. A agência é bastante maior do que
em Portugal e há, naturalmente, aspectos em que
se tornou muito boa e outros não tão boa. Neste
momento, há um processo de fusão entre uma
equipa que estava muito dedicada a social media, à
gestão da presença de marcas nas redes sociais, da
sua estratégia e do seu valor para estes canais, e
a equipa criativa. As duas operavam de uma forma
muito independente e agora passarão a operar de
uma forma integrada, à semelhança do modelo que
construímos em Portugal.
M&P: Mas ao nível da própria organização do
trabalho, no desenvolvimento dos projectos,
muda alguma coisa em Portugal?
JF: Não, eventualmente o que acontecerá que
haverá pessoas que vão ter espaço para assumir
outros níveis de responsabilidade e uma autonomia
acrescida, mas do ponto de vista organizacional dos
processos não se vai alterar nada. Apesar de estar
em Espanha, continuo a acompanhar processos a
decorrer em Portugal e quando estou em Portugal
faço o mesmo em relação a Espanha. Depois
veremos com o decorrer do trabalho se essa necessidade surge ou não, mas para já não estamos a
contar mudar nada.
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ENTREVISTA
M&P: E em relação a new business, vão trabalhar os novos clientes de forma integrada a
nível ibérico ou haverá sempre clientes separados?
JF: Há, de facto, clientes separados, se bem que há
uma ambição maior, que é também uma ambição
minha pessoal. Sempre tive uma visão muito iberista
e isso é uma coisa estranha porque em Portugal
nunca fizemos muito uso da palavra Ibéria. Nunca
senti da parte de Espanha uma pretensão de, ao usar
a palavra Ibéria, exercer algum tipo de domínio ou
hegemonia sobre Portugal. A verdade é que na Ibéria,
enquanto região, podemos desenvolver um conjunto
de sinergias e ter uma força somada que deveria ser
utilizada e colocada ao serviço do desenvolvimento
dos negócios e das empresas. Acredito que isso será
possível dentro da Isobar, que tem uma forma de se
organizar que é muito regional. Já nos organizamos
em termos globais por hubs regionais. Temos um hub
europeu, e há também uma grande liberdade para
que as agências em cada mercado se reorganizem
quase numa lógica de hubs virtuais, como já tínhamos
inclusivamente com Espanha e com o Brasil como
uma ponte para a América Latina. Espero que venha
a ser possível criar uma proposta ibérica para a Isobar
a partir desta decisão de me ter como responsável
ibérico para a criatividade.
M&P: Já têm casos de marcas portuguesas
para as quais vão desenvolver projectos para
o mercado espanhol?
JF: Já o estávamos a fazer, há o caso da Zippy, da
Sonae, para a qual já fazíamos uma parte importante
da marca em Espanha. O inverso ainda não existe mas
creio que é uma questão de tempo. Estamos neste
momento a trazer para Portugal algumas competências que temos em Espanha mas não temos no
mercado português, mesmo em termos de desenvolvimento digital. Temos uma unidade chamada PS
Life, que se dedica a projectos especiais digitais, que
tem muito a ver, por exemplo, com a presença das
marcas no retalho. Temos já algumas propostas apresentadas em Portugal que tiveram origem nas nossas
competências técnicas em Espanha.
M&P: Há pouco dizia que a Isobar Espanha
estava a perder a sua componente mais criativa...
JF: Não é correcto dizer isso. Na verdade a agência
continua a ser criativa, o seu negócio é que se desenvolveu e realmente começou a trabalhar os new
business a partir da sua unidade de media. Ou seja,
a Isobar tem no seu ADN ser uma agência criativa.
Trabalha essencialmente sobre meios digitais apesar
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de esta definição do que é o meio digital ter vindo
a sofrer grandes transformações e de haver quase
uma vontade, embora não partilhemos totalmente,
de não nos denominarmos agências digitais. Nós
somo-lo assumidamente, o mundo tornou-se digital
e o seu território é que se alargou. Mas o negócio
em Espanha desenvolveu-se muito alavancado
nas oportunidades que o negócio da media gerava,
portanto, de certa forma, foi-se subalternizando ao
mesmo, no nosso entender demasiado. Diria que um
dos meus muitos mandatos é o de procurar recuperar
esse ADN criativo e essa independência criativa da
agência em Espanha.
M&P: O mercado espanhol é evidentemente
maior do que o português. Como é que fica
a nível de pesos no volume de negócios da
Isobar? O que corresponde a Portugal e a
Espanha?
JF: Do ponto de vista demográfico Espanha é quatro
vezes maior do que Portugal, do ponto de vista económico é muito mais, cerca de 10 vezes maior. Espanha
sofreu como nós os efeitos da crise. Por estar num
patamar mais alto, creio que a queda terá sido maior
ainda, mais acentuada, mas não estão definidos
objectivos diferenciados. Os objectivos financeiros
de cada unidade do grupo Isobar estão indexados ao
potencial de crescimento e à situação particular que
cada país vive. Há um conjunto de objectivos claros
para Espanha, mas, ao contrário de Portugal, que tem
o seu negócio estruturado e os objectivos do ponto
de vista financeiro, em termos relativos, são bem mais
ambiciosos. Em Espanha há o tal objectivo maior de
recuperar esse perfil criativo, não colocando para
já objectivos financeiros muito ambiciosos e muito
claros à frente.
M&P: Em termos do volume de negócio,
quanto vale percentualmente o mercado
português e o espanhol?
JF: É difícil compará-los porque esta relação tão
íntima da operação em Espanha com o negócio da
media torna difícil separar a componente criativa
daquilo que é o negócio de media. Honestamente
não consigo fazer essa separação de uma forma
clara.
M&P: Havendo esta direcção, significa que de
alguma forma a agência em Portugal perde
parte da sua autonomia?
JF: Não, pelo contrário, ganha importância. Não creio
que venha a ter esse impacto negativo na operação
em Portugal, onde temos uma operação muito bem
construída e muito bem organizada. Temos uma
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“No que diz respeito
à utilização do
digital pelas
marcas, ainda há um
caminho a percorrer,
não fomos tão
ambiciosos como
podíamos ter sido”
equipa particularmente sénior para uma agência
digital, a média de idades está nos 32 anos, o que é
invulgar para uma agência com este perfil. Significa
que as pessoas que estão na nossa estrutura têm
muitos anos de experiência que lhes permite assumir
estas oportunidades de se autonomizarem.
M&P: Mas ao nível da tomada de decisões
estratégicas em Portugal, estas terão de
passar de alguma forma pela direcção da
agência a nível ibérico?
JF: Não, este meu duplo papel resume-se claramente
apenas aos aspectos criativos e da direcção criativa
da agência. Do ponto de vista operacional continuam
a ser duas entidades perfeitamente isoladas, com
objectivos próprios e a operar de forma totalmente
autónoma.
M&P: Quais é que diria que são as principais
vantagens desta modelo de direcção criativa
conjunta?
JF: Existem claras afinidades nesta abordagem
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ENTREVISTA
regional e ibérica onde há um conjunto de sinergias
que podem ser aproveitadas e, do ponto de vista criativo, elas são claras. Somos povos muito próximos,
muito mais próximos do que gostamos de imaginar
sê-lo, e acredito que há todo um aproveitamento de
uma dinâmica criativa que pode ser feito. Ter duas
equipas a trabalhar em paralelo sobre o processo de
produção de ideias irá resultar num aproveitamento
das mesmas de forma muito mais optimizada e superior.
M&P: Falou em sinergias. Vai haver algum
tipo de intercâmbio de profissionais entre as
agências em Portugal e Espanha?
JF: Quero acreditar sim, embora não esteja planeado
para já. A minha chegada a Espanha é muito recente,
estou a introduzir algumas alterações, há necessidade
de reforçar a equipa e estamos a recrutar pessoas
com aquilo que eu considero ser o perfil adequado
para construir o tal ADN criativo. Portanto, há ainda
uma necessidade de arrumar a casa em Espanha
antes de pensarmos nesse tipo de dinâmicas.
M&P: Quantas pessoas tem em cada uma das
agências?
JF: Em Portugal, se juntarmos todas as competências, tem mais de 40 pessoas. Em Espanha somos
perto de 70 pessoas.
M&P: Falando agora sobre o mercado digital,
quais diria que são actualmente as principais
diferenças entre os dois países?
JF: Há uma maturação de vários canais digitais em
Espanha que não aconteceu em Portugal. Isto significa que há mais possibilidades. Começando pelas
redes sociais, em Portugal há uma grande rede social
que todas as marcas utilizam de uma forma ou de
outra que é o Facebook. Em Espanha temos mais
do que uma, por exemplo o Twitter é uma rede com
clara popularidade em Espanha, o que, juntamente
com outras oportunidades, cria um cenário em que
é possível explorar ideias de uma forma um bocado
diferente. Por outro lado, foi um mercado que durante
muito tempo viveu de outro tipo de condições e
de outro tipo de marcas, como a Telefónica que se
desenvolveu como um dos grandes players mundiais
de telecomunicações. Há uma forma de estar em
Espanha que talvez leve os decisores e empresários
a assumir uma maior ambição. Em Portugal talvez
soframos de algum complexo, somos mais acanhados
na forma de criar oportunidades e de as aproveitar.
M&P: Em que fase da vida diria que se
encontra o mercado digital em Portugal?
JF: No que diz respeito à utilização do digital pelas
marcas, ainda há um caminho a percorrer, não
fomos tão ambiciosos como podíamos ter sido, não
corremos tantos riscos como podíamos ter corrido,
tem a ver com a nossa forma de estar. É difícil fazer
esse racional porque a dimensão de Espanha é superior mas diria que estamos um pouco mais atrasados,
sem dúvida, mas não por falta de competências nem
de vontade do ponto de vista das agências. As agências nos últimos anos têm vindo a ser muito criticadas
em inúmeros artigos que falam de falta de coragem.
A coragem existe, a competência também, falta o
mercado permiti-lo.
M&P: É do lado dos anunciantes que está a
faltar coragem?
JF: As marcas tiveram inevitavelmente de assumir
“Nunca fomos um
povo conhecido
por investir em
contraciclo, quando
há uma crise somos os
primeiros a travar e a
assumir uma postura
muito cautelosa
e, provavelmente,
somos os últimos a
sair desse casulo
protector”
posturas mais cautelosas, portanto não o digo com
sentimento crítico, é difícil imaginar o que é estar no
lugar de uma marca que tem um budget reduzido
para gerir, tem as vendas a sofrer pressões de várias
ordens e tem de tomar decisões que por vezes são
difíceis. Mas creio que as marcas não conseguiram
entretanto tirar proveito das oportunidades que o
meio digital podia claramente criar, o meio digital já
provou ser capaz de gerar os KPI e o tipo de métricas
a que as marcas estavam de alguma forma a utilizar
no passado, como notoriedade, conversão, onde
o digital já mostrou até poder ser superior. Esses
méritos ainda não foram totalmente incorporados no
planeamento de marketing das marcas e transformados em briefings concretos para as agências.
M&P: Os hábitos de consumo de media
têm vindo a alterar-se, também em Portugal
onde a penetração de dispositivos móveis
como smartphones e tablets é já bastante
significativa. O que é que explica o facto de
o investimento no digital e em especial no
mobile ser ainda tão reduzido?
JF: É uma combinação de factores. Nunca fomos um
povo conhecido por investir em contraciclo, quando
há uma crise somos os primeiros a travar e a assumir
uma postura muito cautelosa e, provavelmente,
somos os últimos a sair desse casulo protector em
que nos inserimos. Todos os números indicam, e isso
já nem sequer é uma dúvida para todos nós, que o
mobile representa uma oportunidade extraordinária,
esta ideia de que podemos estar permanentemente
conectados, a qualquer hora e em qualquer lugar, é
em si uma oportunidade para as marcas. É a grande
promessa do digital, que sempre prometeu isso mas
com um computador de secretária não podia cumprir
a promessa. Havia uma espécie de horário para
estar no digital, o mobile liberta-nos desse último
grande constrangimento para estarmos permanentemente ligados. Essa é uma oportunidade singular
e que as marcas inevitavelmente irão aproveitar e
cabe também às agências construir propostas nesse
sentido e elas já estão a acontecer. Se virmos os
números de pessoas que acedem às marcas a partir
de dispositivos móveis, eles cresceram de forma
absolutamente exponencial. Mas há marcas que nem
sequer têm os seus sites preparados para serem
vistos a partir desses dispositivos, o que já cria um
sentimento de urgência de que alguma coisa precisa
de ser feita.
M&P: Quais são as principais tendências que
identifica no mobile para os próximos cinco
anos?
JF: Não sou grande futurologista mas diria que o
mobile vai continuar a evoluir no sentido de se transformar num dispositivo verdadeiramente potente. Os
estudos mostram que os tablets têm vindo a colocar
ruma pressão enorme sobre a venda de computadores portáteis, para quê ter uma coisa tão grande
quando posso ter algo mais pequeno e que pode
andar sempre comigo, autónoma e que pode fazer
tantas coisas que se podia fazer com o portátil. Não
queria entrar em nenhuma tecnologia em particular, acho que sobretudo vai dar-nos cada vez mais
possibilidades de estar permanentemente ligados,
aceder a informação e utilizar essa informação. Um
dos aspectos fundamentais será a Big Data, o telemóvel está sempre a dizer onde estamos e isso diz
muito sobre o nosso perfil e as operadoras de telecomunicações vão seguramente transformar essa
informação em produtos, algumas já o estão a fazer.
M&P: Nos próximos três ou quatro anos
o mobile vai tornar-se efectivamente no
primeiro ecrã?
JF: Sem dúvida, essa transformação já está em curso.
Em termos de design de tecnologia, a maioria dos
projectos que desenvolvemos, mesmo logo ao nível
da construção de uma interface, posso dizer que já
começa por uma abordagem mobile first, ou seja,
primeiro preocupamo-nos em criar uma experiência
optimizada para os dispositivos móveis e a experiência móvel é mais do que um dispositivo, é um
contexto de utilização também, tenho de garantir que
posso estar a usar a andar ou em qualquer situação.
Neste momento, grande parte da forma de elaborar
as soluções, logo a partir dos nossos designers, já
começam a partir desse approach mobile first. Isso
é verdadeiramente indicativo da transformação que
está em curso.
A versão integral desta entrevista poderá ser
vista em formato vídeo na nova secção M&P
TV no nosso site
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ANÁLISE
Telemóvel a caminho
de ser o primeiro ecrã
TELEVISÃO, COMPUTADOR, SMARTPHONE, TABLET... PROVAVELMENTE
ESTES QUATRO ECRÃS JÁ FAZEM PARTE DO SEU QUOTIDIANO. MAS
QUAL DELES É HOJE O SEU PRIMEIRO ECRÃ, AQUELE EM QUE PASSA
MAIS TEMPO, QUE LHE SERVE PARA MAIS FUNÇÕES E O PRIMEIRO
CONTACTO COM MUITOS DOS CONTEÚDOS?
PEDRO DURÃES
A edição especial que tem em mãos é totalmente dedicada ao universo mobile. A justificar a opção editorial
do M&P há vários números, relativos ao mercado português, que demonstram a maturação deste sector e as
oportunidades para comunicação, quer por parte das
marcas quer do lado dos publishers e distribuidores de
conteúdos. As novas possibilidades chegam aliadas à
explosão de dispositivos móveis como os smartphones
e tablets. Em 2013, pela primeira vez, as vendas de
smartphones superaram as dos telemóveis tradicionais. De acordo com dados da IDC, dos 4,1 milhões de
aparelhos enviados para as lojas, cerca de 2,1 milhões,
ou seja, cerca de 52 por cento, eram smartphones. Um
número que, além de marcar uma viragem, significa
um crescimento de 21 por cento face a 2012, com
os telemóveis convencionais a sofrerem uma quebra
de vendas na ordem dos 27 por cento. Portugal está,
nesta campo, a par do mercado global que também
em 2013 fez essa viragem, já que que os smartphones
passaram a representar mais de metade do mercado
global: 55 por cento do total mundial, segundo a IDC,
58 por cento se tivermos em conta números avançados
pela Gartner. As estimativas da IDC apontam para que,
em 2017, sejam postos à venda em Portugal perto de
três milhões de smartphones e menos de um milhão de
telemóveis tradicionais. Ao nível do acesso à internet, a
penetração da banda larga móvel em Portugal está já
nos 75 por cento da população, um valor que demorou
apenas 9 meses a ser atingido, segundo a PwC.
A nível global, “o número de subscritores de internet
móvel deverá aumentar a uma taxa média anual de 19
por cento durante o período de previsão, e em muitos
mercados esta será, para muitos consumidores, a única
forma de acederem à rede”, e “em 2017, as receitas
digitais (onde se incluem os gastos de consumidores
em conteúdo digital, gastos em publicidade digital e
gastos em acesso à internet) representarão 46 por
cento dos gastos totais, ao passo que em 2012 essa
percentagem era de apenas 34 por cento”, prevê a PwC
no estudo Portugal Entertainment and Media Outlook:
2013-2017. Segundo o mesmo estudo, “o mercado
global de acesso à internet deverá crescer a um ritmo
acelerado durante os próximos 5 anos. As receitas
aumentarão cerca de 11 por cento ao ano, de 305,924
milhões de euros em 2012 para 517,250 milhões de
euros em 2017”, sendo que “os serviços de internet
móvel serão o principal motor deste crescimento. As
receitas da internet móvel irão ultrapassar as da banda
larga fixa em 2013, chegando a 300,099 milhões de
euros em 2017, enquanto o número de subscritores
crescerá a uma taxa de crescimento anual de 19,4 por
cento, de 1,294 milhões para 3,13 milhões. O número
das subscrições de banda larga fixa, por outro lado,
crescerá a uma taxa ligeiramente mais baixa de 7,8 por
cento, de 2,5 milhões para 3,6 milhões”.
No que diz respeito aos hábitos de consumo, a PwC
refere que “a gama de aparelhos, através dos quais os
utilizadores podem aceder à internet, incluindo tablets e
telemóveis, está igualmente a aumentar a quantidade
de tempo despendido na internet e o seu peso na vida
de cada utilizador. Consequentemente, a publicidade
na internet continua a ser uma opção atractiva, mesmo
para os investidores mais ponderados e cautelosos”.
“Em termos de oportunidades, as novas tecnologias
oferecem um potencial de oferta de publicidade ainda
mais personalizada, com serviços especializados disponibilizados através de computadores, tablets, telemóveis
e nos próprios televisores com ligação à internet. Tanto
a publicidade personalizada como o aparecimento do
second screen – em que as pessoas utilizam tablets e
smartphones enquanto veem televisão – disponibilizou
novas possibilidades para os publicitários. A qualidade
dos anúncios tradicionais deverá ser melhorada com o
consumo de aplicações second screen e com links para
a social media, encorajando o debate e posterior procura
de sites de e-commerce, permitindo aos espectadores
a aquisição de produtos ou serviços”, aponta o estudo.
A PwC prevê ainda que, graças a estes aparelhos, “no
final de 2017, em alguns mercados desenvolvidos, a
publicidade em vídeo e telemóvel começará a desempenhar um papel fulcral no mercado da publicidade
online. O vídeo possibilita algumas das vantagens no
branding que, anteriormente, apenas estavam disponíveis na televisão, especialmente à medida que cada vez
mais fornecedores de conteúdos premium começarem
a disponibilizar conteúdos financiados por publicidade
online”.
No contexto do mercado português, o estudo revela
que “em 2012, o mercado português foi responsável
por 25,66 milhões de euros de receitas (digitais),
sendo um dos mercados publicitários mais pequenos
da Europa e estando, aparentemente, pronto para
crescer. É previsível que o mercado da publicidade
online registe um crescimento modesto, esperando-se
que chegue aos 39 milhões de euros em 2017, a uma
taxa de crescimento anual estimada de 8,7 por cento,
enquanto a maioria dos restantes mercados de publicidade em Portugal se continuam a contrair”. Por área,
com 57 por cento, os motores de busca têm a maior
quota de mercado da publicidade online em Portugal
e “mais do que as ferramentas nacionais, são as ferramentas internacionais, como o Facebook e o Google
Display Network, que deverão impulsionar o crescimento do mercado”. “Uma vez mais, a publicidade em
telemóveis deverá ter um bom desempenho, quando
comparada com o restante mercado de publicidade
online, passando de 1 milhão de euros em 2012 para 2
EVOLUÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE INTERNET EM DISPOSITIVOS MÓVEIS 1 VS. DESKTOP
(UTILIZADORES VS. TEMPO)
EVOLUÇÃO DAS VENDAS MUNDIAIS DE PC’S E TABLETS
(MILHÕES DE UNIDADES; 1999 - 2014)
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milhões de euros em 2017”, antevê o estudo.
O quarto ecrã
Há apenas quatro anos era lançado o iPad, o primeiro
tablet. Era o nascimento do quarto ecrã, depois de nos
termos habituado há tantos anos aos ecrãs da televisão,
do computador e, mais recentemente, do telemóvel,
que se tornou smart há alguns anos. Juntos, estes dois
últimos ecrãs encaixam na categoria a que chamamos
mobile, uma categoria que em apenas quatro anos se
está a tornar no primeiro ecrã, à medida que os hábitos
de consumo de media nos levam a passar cada vez
mais tempo com nestes dispositivos. “O telemóvel,
referido muitas vezes como terceiro ecrã (atrás da televisão e do computador) está cada vez mais a tornar-se
o primeiro ecrã, que está sempre ligado, e ao qual os
consumidores acedem preferencialmente. A tendência
é para deixar de haver internet móvel e fixa para haver
uma internet única com uma forte componente móvel”,
refere a PwC. Segundo um estudo apresentado pela
Deloitte durante o Mobile Fórum Portugal e cujos dados
o M&P lhe apresenta nestas páginas, 2014 marca o
turning point, o momento em que a utilização da internet
em dispositivos móveis se cruza pela primeira vez com
a sua utilização no desktop, com previsões de crescimento continuado nos próximos anos. Este foi também
o primeiro ano em que as vendas de tablets igualaram
as vendas de computadores (ver gráfico), ambos com
285 milhões de unidades vendidas em todo o mundo,
com os computadores a descerem abaixo da fasquia
dos 300 milhões pela primeira vez desde 2009, ano
anterior ao lançamento dos tablets.
Não é por isso surpresa que o volume de tráfego de
dados tenha aumentado exponencialmente ao longo
dos últimos anos, superando em larga escala o uso
de voz, que se tem mantido estável durante a última
EVOLUÇÃO DO TRÁFEGO DE VOZ E DADOS EM REDES MÓVEIS
(PETABYTES POR TRIMESTRE)
NÚMERO DE SMS ENVIADAS ANUALMENTE NO MUNDO
(1992 – 2016; BILIÕES DE SMS)
As notícias em mobile
DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE
director criativo do Observador
O CONSUMO DE INFORMAÇÃO EM MOBILE
VOLTOU A BARALHAR AS REGRAS DO JOGO
PARA OS MEDIA. QUEM PENSA DIGITAL
PARTE MUITO À FRENTE NESTA CORRIDA
QUE É ESSENCIAL PARA O FUTURO
Comecemos por uma notícia, não por acaso das boas:
o crescimento de tráfego em mobile (tablet e smartphone) aumenta a audiência de leitores de notícias.
Os sites noticiosos aumentam a relevância como
fornecedores de conteúdos e sobem a audiência geral
com o crescendo de leitores em mobile. A tendência
global é imparável: algures entre 2014 e 2015, os sites
noticiosos serão maioritariamente acedidos através de
mobile. A nível global alguns, como o Observador, já
têm médias de 40 por cento e picos que passam os
60 por cento, esperando-se que a média continue a
aumentar ao longo do próximo ano. Isto configura mais
uma pequena revolução que será difícil de digerir para
quem ainda não se habituou às exigências do digital,
mas que é perfeita para os players mais ágeis e determinados.
Para enquadramento, mais um número: 60 por cento
da publicidade em mobile a nível global é gerida pela
Google ou pelo Facebook, dando conta da inércia das
empresas de média que só agora estão a começar a
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acordar para a importância deste hábito de consumo.
Como quase tudo está ainda por fazer a nível de
formatos publicitários mobile, há espaço para crescer
– assim exista criatividade e dedicação do lado de
anunciantes e produtores de conteúdos.
A verdade é que a intensa utilização de tráfego móvel
tem aumentado o número de consumidores de notícias
e o modo como estas são consumidas. As tendências
de comportamento são claras: em comparação com o
utilizador de desktop, o mobile vai mais vezes à página
de notícias, passa lá menos tempo em cada visita e
resiste a pagar pelo acesso à informação. O consumo
de informação é menos uniforme ao longo do dia,
mais constante ao longo do mês, configurando um
forte consumo também ao fim de semana – quando
o tráfego de desktop se reduz grandemente. O tráfego
mobile é muito directo, mas também via redes sociais,
dark social, notificações personalizadas e email.
O caminho que o Observador traçou é claro e passa
por dois grandes aspectos. Em primeiro lugar é
fundamental fornecer uma verdadeira experiência de
qualidade em mobile, mantendo a coerência da marca
– passa por integrar o conceito responsive em todas
as páginas, mas é mais do que isso, pois visa pensar
muitos conteúdos para o modo como serão vistos em
mobile. Isto é feito a par de um reforço da marca institu-
cional como garante de qualidade do nosso jornalismo
e dos nossos conteúdos.
Em segundo lugar passa por uma subtil mas determinante mudança de paradigma. Se entendermos
o jornalismo como um serviço, serviço esse que é
prestado à comunidade como um todo, ficamos mais
preparados para servir as pessoas naquilo que elas
querem e precisam. Isto exige capacidade de experimentação e não ter medo de errar. Implica ainda
integrar talento criativo na redacção (venha ele do
multimédia e/ou da programação e design) e capacidade para trabalhar big data -- os grandes números
que atestam os comportamentos dos leitores/consumidores que são servidos pelo nosso produto.
Voltamos ao início: Cada vez há mais gente a aceder
a notícias, cada vez essas mesmas notícias são mais
lidas e mais partilhadas – o que significa mais leitores
e mais espaço publicitário a explorar. Tudo razões
para ser optimista e para motivar ainda mais a nossa
equipa.
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ANÁLISE
Novas fontes de receita
resultado de inovações
no segmento mobile e
de vídeo
SMS E IM MUNDIAIS
(2010 – 2016; BILIÕES DE SMS E IM)
EM QUAL DOS SEGUINTES LOCAIS COM WI-FI UTILIZA O SEU SMARTPHONE PARA ACEDER
À INTERNET?
Os próximos desenvolvimentos na publicidade digital serão resultantes de quatro
tendências chave, que são:
• novas tecnologias, que resultam em novas
formas de fazer chegar publicidade ao
consumidor;
• novas fontes de receita, geradas pelas oportunidades criadas pelas novas tecnologias;
• o crescimento da comunicação através de
vídeo na Internet;
• maior relação entre consumidores e publicitários, criando novas oportunidades de
vender produtos e serviços diretamente.
Em resposta a estas tendências, os publicitários e as marcas procuram estar mais
presentes no mercado, em diversas plataformas e sob diversas formas, embora se
estime que as receitas a partir da publicidade móvel atinjam apenas 15% das receitas
totais em 2017. Cada vez mais se reconhece
a importância da publicidade em dispositivos
móveis, no entanto ainda não foi possível
atingir os retornos desejados.
in Portugal Entertainment and Media Outlook:
2013-2017, da PwC
década (ver gráfico). Um exemplo desse crescimento de dados é a utilização massiva de serviços de
mensagens instantâneas, cujo volume é já o dobro do
registado nas tradicionais SMS, estas com 25 mim
milhões diários contra os 51 mil milhões das IM (instant
messages), embora em termos de valor, os 72.900
milhões de euros gerados por ano pelas SMS sejam
ainda 50 vezes mais do que o valor gerado pelas IM. No
entanto, ao contrário do que poderá acontecer noutros
países, em Portugal a Deloitte está segura de que as
SMS não serão substituídas pelas IM. De acordo com
valores apresentados pela empresa, o número de SMS
enviados em Portugal, números de 2013, rondaram os
6,8 mil milhões, com cada utilizador a enviar em média
318 SMS por mês, quando, por exemplo, em Espanha,
um mercado demograficamente quatro vezes superior,
cada utilizador enviou em média apenas cinco SMS
por mês e foram enviadas no total cerca 887 milhões,
pouco mais de um décimo das enviadas em Portugal.
Em termos de utilização de redes wi-fi, cerca de 80 por
cento dos utilizadores em Portugal utiliza wi-fi em casa
e 64 por cento dizem fazê-lo também fora de casa,
valor mais alto dos mercados estudados, acima do
Reino Unido (60 por cento) ou dos EUA (54 por cento).
Além do mobile, os próximos anos passarão pela
expansão de um device que junta o melhor da televisão
e o melhor da experiência online. Segundo o estudo
da PwC, “as televisões inteligentes serão o dispositivo doméstico com crescimento mais rápido durante
o período de previsão (2013-2017), competindo no
papel de principal foco de entretenimento. Para alguns
consumidores, o objectivo principal será o que for
fornecido pela operadora de televisão por cabo. Para
outros, serão as consolas de jogos ligadas à internet,
as quais irão oferecer um vasto leque de opções de
entretenimento. Por outro lado, os dispositivos móveis
também poderão lutar pelo lugar de destaque no entretenimento doméstico”, prevê-se. Também aqui, o mobile
surge como impulsionador já que “a televisão acessível,
em qualquer lugar e em segundo ecrã, aumentará a
atractividade do segmento e permitirá aos operadores
de televisão paga aprofundar a sua ligação com os
seus clientes, respondendo à ameaça crescente do
abandono das subscrições de televisão, substituindo-a assim por outros meios de entretenimento”. “A
tendência actual privilegia a utilização do second screen
(nomeadamente em smartphones ou tablets) seja para
comentar, seja para partilhar o conteúdo, o que aponta
para a importância do desejo do consumidor em se
sentir ligado a outros consumidores, partilhando a sua
experiência”, acrescenta o relatório da PwC, sublinhanda
a tendência de que “alguns consumidores decidem
abandonar as tradicionais subscrições de televisão
passando a aceder a conteúdos semelhantes, disponíveis na internet e portanto mais económicos. Desta
forma, começa a surgir uma nova geração de consumidores que só desejam aceder a conteúdos através
da internet. Para a indústria da televisão tradicional,
estes factores representam um risco com tendência
crescente, à medida que cada vez mais consumidores
chegam à idade adulta”.
Uma revolução nos próximos cinco anos
Estas mudanças de comportamento relativamente
aos meios introduzida pelos dispositivos móveis têm
enorme impacto ao nível do marketing e os profissionais de marketing esperam grandes mudanças no
espaço de cinco anos. De acordo com um estudo da
Accenture junto de executivos de marketing (CMO)
de 11 países, analytics, digital e mobile são apontados
como as principais novas fronteiras. Para 78 por cento
dos entrevistados, o mundo do marketing passará por
mudanças fundamentais nos próximos cinco anos e as
três mudanças mais citadas são estas, sendo que as
companhias com crescimento acelerado (com aumento
de pelo menos 6 por cento nas vendas anuais), em
particular, informaram que os investimentos nessas três
áreas compensam sobretudo no sentido de melhorar
a experiência dos consumidores. As mudanças mais
referidas pelos profissionais de marketing no âmbito do
estudo foram o facto de que as ferramentas de analytics
se vão tornar uma competência primordial do marketing
(42 por cento), que as verbas digitais responderão por
75 por cento das verbas de marketing (37 por cento),
que o mobile responderá por 50 por cento do budget
de marketing (35 por cento), que o marketing terá uma
função de proporcionar informações sobre produtos a
pedido do consumidor (34 por cento) e que marketing,
vendas e atendimento ao cliente serão fundidos numa
única função (34 por cento). Além disso, 32 por cento
acreditam que dentro de cinco anos não saberemos
como uma campanha de marketing será com antecedência já que as campanhas terão desdobramentos em
tempo real dependendo da necessidade e do objectivo
de cada consumidor e em cada device e canal (32%),
a media espontânea será mais importante e terá mais
suporte do que a media paga (27 por cento), o marketing e as TI serão fundidos numa única função (26
por cento), e os CMO serão o principal contacto dos
CEO, ultrapassando o CFO e outros executivos (21 por
cento).
Em relação ao volume aplicado em marketing digital, a
tendência aponta para crescimento. Para 41 por cento
da amostra, o budget digital deve ser ampliado em pelo
menos 5 por cento no próximo ano fiscal e apenas 8
por cento dos entrevistados citaram a possibilidade de
corte na verba de marketing digital no próximo ano.
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TENDÊNCIAS
Nem todos precisam
de uma app
RUI OLIVEIRA MARQUES
Eduardo Carqueja (App Generation)
Apesar da febre em torno das apps, é certo que
existe um milhão de aplicações no mundo das quais
30 mil são em português. “Fazer apenas mais uma,
não implica nenhum tipo de difusão. Conhecemos
muitos exemplos de apps que demoraram muitas
semanas a fazer e que têm 10 clientes a usá-las
ao fim de uns meses”, comenta ao M&P Eduardo
Carqueja, administrador da App Generation. “Fazer
uma app é apenas 40 por cento do problema.
Cada vez mais é importante perceber como vai
funcionar o seu processo de difusão e marketing.
Caso contrário, estamos a trabalhar num projecto
falhado desde o seu nascimento”, refere o mesmo
responsável, que aponta o dedo as agências de
publicidade que “ainda têm muito pouco know-how
no marketing de aplicações” e tentam “aplicar os
mesmos conceitos da web, com resultados fracos
e caros. Estamos numa fase do mercado em que
o marketing ainda não aprendeu a lidar com esta
realidade e a tirar proveito da mesma”. Exemplo
disso, considera Eduardo Carqueja, são os casos
da publicidade em televisão a comunicar a instalação de uma app num iPhone ou publicidade web
para fomentar o uso de uma app num tablet. “É,
no mínimo, bizarro” considera. Uma posição reforçada por Ricardo Teixeira: “Ter uma app por ter não
basta! É necessário ter uma estratégia consistente,
quer na fase de desenvolvimento, quer na fase de
lançamento. Para mim, o mais importante é na continuidade que está a diferenciação, pois é nesta fase
que iremos ouvir os utilizadores e ajustar aspectos
Jason Pascoe (Exciting Space)
“Aconselhamos
sempre a perceber
primeiro os desafios
que vai ter pela
frente e depois
definir como avançar
com os projectos e
fazer a transição da
web para mobile”
Já houve a moda das
aplicações para Facebook e
dos sites em Flash. Estaremos
agora perante a febre das
apps? Antes de avançar com
uma app convém ponderar os
prós e os contras
Luís Parafita (Think Pink)
necessários para que a app seja um sucesso”,
considera o CEO da DigitalWorks.
E quando se decide criar uma app, deve contratar-se
uma agência especializada em apps, uma software
house ou uma agência digital? “Uma plataforma tão
radicalmente diferente requer uma abordagem radicalmente diferente na concepção da experiência do
utilizador, interfaces e funcionalidades do software.
Requer novas ideias, novas abordagens, novas
ferramentas, novas formas de trabalhar. É aqui que
as pequenas e especializadas agências de design
de apps assumem a liderança”, defende Jason
Pascoe, CTO da Exciting Space, startup que criou,
por exemplo, as apps do Museu dos Coches e das
obras de arte do hotel Ritz, em Lisboa. “As agências
de apps estão focadas em refinar e destilar novos
métodos de interacção e novas possibilidades que
as tecnologias nos apresentam. É que o objectivo
é oferecer um produto que não funcione apenas
no telemóvel, mas um que realmente explore e se
destaque no telemóvel”, aponta.
Problemas do lado do cliente
Ricardo Teixeira reconhece que são poucas as
marcas portuguesas que apostam verdadeiramente
e de forma consistente numa app. “Começam todas
a medo, com orçamentos baixos para experimentar,
sendo que esta atitude tem logo 50 por cento de
chances para correr mal. Depois, desmotivam-se
rapidamente e não acreditam verdadeiramente
numa estratégia consistente para que haja uma
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melhoria contínua e assim alcançar o sucesso”,
aponta. É por isso que mesmo em situações de
new business, o CEO da DigitalWorks aconselha “o
cliente a ter um mobile site ou um site RWD em
vez de uma app, pois por vezes ajusta-se melhor
aos objectivos e como tal depende de caso a caso.
Cabe-nos aconselhar o cliente e propor algo que
torne o seu objectivo numa aplicação útil e que
motive a utilização”. “Fazer uma aplicação que
sabemos que não terá uso acaba por ser má política a longo prazo. As más experiencias iniciais
marcam os clientes, e estes acabam por não voltar
a fazer nada na área móvel tão cedo”, reforça
Eduardo Carqueja. A App Generation já criou 150
aplicações, entre elas a Mytuner, uma aplicação que
permite ouvir cerca de 30 mil estações de rádio a
nível mundial, com mais de seis milhões de clientes
em dois anos, com uns 300 mil acessos diários, que
usam uma média 26 minutos em cada sessão e
regista 15 mil novos users por dia.
Depois há a desadequação da estratégia digital ao
negócio do cliente. “A nossa preocupação constante
não é fazer apenas apps. É garantir que aquilo que
desenvolvemos traz realmente um valor acrescentado aos projectos e que realmente vão garantir que
se cumprem os objectivos. Por exemplo, entidades
camarárias do Interior contactam-nos frequentemente para desenvolver apps para promoção
turística de vilas do interior, pequenos hotéis que
não fazem parte de cadeias, restaurantes e até
mesmo stands de automóveis que pensam em ter
uma app, quando ainda nem têm um site minimamente consultável”, aponta Luís Parafita, partner
da Think Pink, acrescentando “que quem não tem
qualquer noção de estratégia digital, muito menos
de mobile, cai muitas vezes no erro de pensar que
“Fazer uma
aplicação que
sabemos que não
terá uso acaba por
ser má política a
longo prazo. As más
experiencias iniciais
marcam os clientes”
Ricardo Teixeira (DigitalWorks)
sozinho se consegue posicionar da mesma forma
como fazem os agregadores de conteúdos, seja
para vendas de automóveis, seja para turismo e
claro para restauração”. Quando um cliente mostra
não ter uma estratégia digital “aconselhamos
sempre a perceber primeiro os desafios que vai ter
pela frente e depois definir como avançar com os
projectos e fazer a transição da web para mobile”,
O SMS ainda tem
importância?
A comunicação via SMS não será em breve
substituída por outras ferramentas, como por
exemplo, as apps ou serviços de messaging?
Filipe Mendes, director executivo da Go4Mobility, rejeita esta ideia. “A comunicação SMS é e
será durante os próximos anos utilizada como a
base principal de envio e recepção de mensagens escritas de relativa reduzida dimensão
(até 160 caracteres), pois é o único meio que
garante 100 por cento de compatibilidade
de recepção por parte de 100 por cento dos
terminais móveis existentes no mercado. Se em
Portugal aceitarmos que cerca 50 por cento
dos telemóveis não são smartphones, é ainda
uma percentagem muito elevada para se considerar apenas as apps como forma de chegar
aos telemóveis pessoais dos consumidores”,
aponta o responsável pela empresa de desenvolvimento de soluções SMS para operadoras
de telecomunicações e marcas, reforçando
ainda a ideia de que o SMS é mais simples de
usar que as dezenas de soluções de messaging
que existem no mercado. “O binómio alcance
versus riqueza de informação privilegia no caso
do SMS a garantia de entrega e leitura, não
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tendo muita riqueza a informação. Portanto,
para certos tipos de mensagem como mensagens de dimensão reduzida, de curta validade
no tempo e de consumo imediato, o SMS ainda
é e será por uns anos o meio mais usado e mais
eficaz”, considera Filipe Mendes. “O SMS ainda
tem o potencial de todas as marcas poderem
comunicar one to one para os seus consumidores pelo meio SMS e ainda menos de metade
das marcas comunicam com os seus consumidores desta forma”, remata.
reforça Luís Parafita. E deixa um alerta sobre a ineficácia de algumas apps utilitárias. “Não faz sentido
que todas as marcas tenham aplicações de meteorologia, descontos, notícias ou até as tão faladas
wallets. Aqui vão estar a competir com os principais players internacionais, com outros recursos
e onde vai ser muito difícil competir. Além disso,
cada vez mais as administrações exigem resultados
concretos neste sector, com investimentos em apps
que acrescentem valor real”, refere o responsável
da Think Pink, agência que criou as apps para o
MEO SW, as apps CR7 para Cristiano Ronaldo e
em parceria com a Ogilvy a N-Receitas da Nestlé.
É por isso que, por vezes, é preciso travar a vontade
de um cliente avançar com uma app. “O erro mais
comum são os clientes que pretendem transformar
o seu site numa app, nestes casos aconselhamos
o cliente que não o deve fazer, mas apresentamos
alternativas e uma estratégia bem definida, por
forma ao cliente fazer um investimento e ver o
retorno de forma a ter uma boa experiência”, considera Ricardo Teixeira, sublinhando que, por norma,
uma app deverá ter uma aplicação prática, algo
útil para os consumidores e utilizadores. Depois,
há os casos em que as apps não são visíveis para
o grande público mas que ajudam ao dia-a-dia do
negócio do cliente. Um exemplo da DigitalWorks:
“Fizemos uma app para uma farmacêutica que
tinha como objectivo só estar disponível nos iPad
dos delegados de informação médica. Tinha como
objectivo ser um simulador que mostrava aos administradores de hospitais a economia que poderiam
obter com a utilização de um novo medicamento
disponível no mercado. Esta app foi de tal forma um
sucesso que foi exportada para outros países onde
esta multinacional está representada”, descreve o
CEO da agência.
Chegados aqui, vale a pena avançar com uma aplicação? É que os telemóveis andam connosco nos
carros, nos restaurantes, nos autocarros, na praia,
até na casa de banho. As potencialidades parecem
ilimitadas. “As apps permitem a forma mais espectacular hoje em dia de criação de comunidades.
Permitem a uma marca comunicar no momento
mais oportuno com o seu potencial cliente, a um
custo reduzido, com um potencial de interacção
francamente superior até mesmo de um website.
Ao contrário da web, as apps são verdadeiramente
bidireccionais, onde temos uma forma de alertar
os nossos utilizadores para novidades, promoções e outras situações interessantes, e onde
este pode entrar e ver algo no espaço de apenas
dois segundos”, resume o responsável da App
Generation.
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14
MERCADO
Não é Silicon Valley
mas não faltam
projectos inovadores
Em Braga estão a nascer
alguns dos projectos mais
surpreendentes na área
digital, com destaque para
o mobile. Fique a par dos
exemplos que prometem
dar que falar
RUI OLIVEIRA MARQUES
Treze empresas beneficiam do plano de incubação da
Startup Braga. Localizadas no GNRation, um antigo
quartel da GNR entretanto convertido num centro de
inovação e indústrias criativas, são o exemplo mais
recente do empreendedorismo da cidade, onde os
projectos associados às tecnologias de informação
merecem destaque. A Startup Braga é, aliás, coordenada por Carlos Oliveira, presidente da InvestBraga
e ex-secretário de Estado do Empreendedorismo,
Competitividade e Inovação do governo de Passos
Coelho. Ele próprio fundou em 2000 a MobiComp
que, oito anos depois, foi comprada pela Microsoft.
O primeiro projecto da então MobiComp consistiu na
venda de bilhetes de cinema da Lusomundo a partir do
telemóvel – um serviço então inédito a nível mundial
e que ajudou aquela empresa bracarense a abrir as
portas em vários países.
Seja no GNRation, na Ideia Atlântico, na Factory Business Center & CoWork ou no BIC Minho - Oficina da
Inovação ou em instalações próprias, algumas das
empresas com maior potencial de inovação criadas em
Braga actuam na área digital, ou não fosse a Universidade do Minho um dos principais pólos de formação
nesse sector. Apresentamos agora 10 casos de
elevado potencial – e outros 8 que vão dar que falar
– que justificam que Braga seja, muitas vezes, considerada a Silicon Valley nacional.
Um Snapchat em versão chat
Há uma semana foi anunciado o lançamento do
tyPing, pela mão do Meo e da empresa bracarense
Cloud9. Trata-se de uma app que permite comunicar
de forma efémera, com algumas semelhanças com
o Snapchat, a tal rede social que tem despertado a
curiosidade entre adolescentes em todo o mundo. No
entanto, as coincidências entre as duas apps ficam por
aqui. “A grande diferença entre o Snapchat e o tyPing
é precisamente o foco de cada uma das aplicações.
Enquanto o Snapchat está
orientado para a partilha de
fotos e vídeos do momento,
o tyPing está claramente
focado e optimizado para
o chat”, conta ao M&P Rui
Lopes, CEO da Cloud9.
Além disso, o tyPing
permite ao utilizador gravar
vídeos, enviar stickers e ter
acesso directo aos principais serviços de imagens,
como o 9gag, Tumblr ou
Pinterest.
A ferramenta tem três
funcionalidades principais:
o envio de mensagens que
se apagam instantaneamente (pings) após o envio
e leitura pelo destinatário; o
envio de mensagens que perduram durante um tempo
limitado; partilha de um status por 24 horas com qualquer tipo de conteúdo (para além do habitual texto).
Daí que Rui Lopes prefira encarar como concorrentes
o WhatsApp ou o Facebook Messenger, mas com uma
componente efémera que as outras redes sociais não
têm. Neste momento, o foco da empresa está em dar
a conhecer a solução e aumentar o número de utilizadores do tyPing. A monetização do serviço está
prevista para 2015. Os clientes Meo ou Moche, além
de não pagarem o tráfego, poderão usar gratuitamente
as contas premium que a Cloud9 irá lançar em breve.
A startup dos podcasts
A Ypodcast, criada por Marlene Ribeiro, Paulo Oliveira
Sousa e Pedro Avelar, implementou já dois projectos
na área do turismo. Em colaboração com o município
de Vila Nova de Cerveira foram colocadas placas de
identificação em 18 monumentos e espaços culturais
da vila, com informação e um QR code que dá acesso
a mais conteúdos em áudio. Existe também um áudio-percurso sobre Cerveira e as histórias da população.
Em Braga, em colaboração com a Câmara Municipal,
foi desenvolvido um áudio-guia mobile pelas ruínas da
cidade romana, o CityWalks Bracara Avgvsta.
A empresa especializada em podcasts actua em três
áreas: turismo, educação e negócios. No turismo, a
Ypodcast está a apostar num conjunto de soluções
para os municípios, que incluem audioguias mp3 e
mobile, e aplicações com geo-referenciação. Na área
da educação, o caminho são conteúdos de apoio ao
estudo. Marlene Ribeiro conta como funcionou uma
experiência-piloto. “Preparámos, com o apoio de uma
professora, um conjunto de resumos de preparação
para o Exame Intermédio de Português do 12º ano. Os
conteúdos foram disponibilizados ao longo da semana
que antecedia o teste. A publicidade foi feita apenas
em anúncios do Facebook pelo valor mínimo possível
(cerca de cinco dólares) e apenas nos seis dias que
antecediam o teste. De acordo com os dados da rede
social, o nosso público-alvo era de 26 mil pessoas. Os
conteúdos foram acedidos por 13 mil utilizadores individuais, num total de mais de 135 mil downloads. Para
além dos números, foi muito interessante o feedback
directo de muitos estudantes”. “As potencialidades
do áudio e em especial do podcast para turismo e
educação são quase infindáveis. A receptividade e o
apoio do público têm sido incríveis. Apesar de tudo,
vimo-nos obrigados a concentrar esforços numa das
áreas, a do turismo. Acreditamos que foi a decisão
mais acertada. O foco permitirá que cresçamos neste
sector de uma forma mais sustentada e só depois,
numa fase mais madura, avançaremos para a especialização na Educação. Um passo de cada vez”, aponta a
responsável, que integra a incubadora StartUp Braga.
Na capa da Sábado
Chegaram há dois anos à capa da revista Sábado
como exemplo de empresários de sucesso com
menos de 25 anos. Rui Marinho, Jorge Pereira e Tiago
Ribeiro criaram a Seegno, uma empresa de programação que este ano deverá facturar 630 mil euros. Um
dos projectos mais aliciantes que têm agora em mãos
é a Bitreserve.org, um serviço que protege contra a
volatilidade da moeda virtual (bitcoin). “O CEO da Bitreserve contactou-nos com o intuito de desenvolvermos
a componente institucional e de gestão de conteúdo.
Acabamos por nos envolver em tudo o resto e absorver
a totalidade do projecto: design, UI, web app, mobile
app, API, sistema de processamento financeiro, etc.
Na prática, estamos neste projecto porque tivemos
oportunidade de mostrar competências relevantes de
engenharia de software,
e acabámos precisamente por deixar de
lado a componente mais
trivial de construção do
website”, refere ao M&P
Jorge Pereira. Convém
referir
que
Halsey
Minor é o fundador da
Bitserve, tendo antes
criado a CNET Network,
comprada pela CBS
por 1,8 mil milhões de
dólares, e que vendeu
em 2007 a Grand
Central
Communications ao Google, tendo
esta empresa depois dado origem ao Google Voice.
São projectos desta dimensão, prossegue Jorge
Pereira, que “permitem oferecer outras condições
à nossa equipa, como por exemplo mudar para um
novo escritório de 600m2 no centro da cidade, ao
mesmo tempo que aumenta a necessidade imediata
de contratar gente capaz, pois contamos pelo menos
duplicar a equipa até final de 2014”, aponta o mesmo
responsável. A Seegno está ainda a desenvolver um
serviço customizado de alertas de e-mail (Followistic) e
um serviço online de traduções com intérpretes (Vridirect.com).
Plataforma online para arte
Quem caminha pelo centro da Braga depara-se com
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OPINIÃO
algumas cadeiras de tamanho gigante. Na verdade,
são o símbolo da Shair, uma plataforma de partilha e
comercialização de arte e onde artistas emergentes
podem expor as suas obras de forma permanente.
Para fazer parte deste projecto, os artistas devem criar
uma conta e submeter os seus trabalhos na plataforma
online (shairproject.com). As obras são sujeitas a um
processo de pré-aprovação, e, todos os meses, são
avaliadas pelos utilizadores da rede e por um júri. É o
próprio artista que define a licitação base da sua obra
no momento do upload. Os trabalhos mais votados são
expostos na Galeria Emergentes DST. No caso de as
obras estarem três meses em avaliação sem chegar à
galeria, podem ser comercializadas online.
O site foi criado pelo Innovation Point, empresa que
também integra a DST, um grupo que actua nas áreas
da construção, ambiente e energias renováveis. “O
grupo já detinha o actual espaço da Galeria Emergentes DST, situado na Rua do Raio, em Braga, mas
ainda não havia determinado o seu modelo de negócio”,
explica ao M&P José Teixeira, presidente do grupo. “A
Shair tem procurado a sua sustentabilidade na crença
de que os artistas precisam de comer, concreta e figurativamente. A base de negócio assenta num modelo
win to win, no qual a rentabilidade do projecto está
directamente relacionada com a venda das obras dos
nossos artistas emergentes. O balanço é incontestavelmente positivo, com um volume de vendas de mais
de 50 obras em apenas dois meses”, aponta o mesmo
responsável.
E-commerce com vertente solidária
A associação O Mundo de Carolina, que apoia crianças
com doenças crónicas, já conseguiu angariar quase
três mil euros através da plataforma eSolidariar.
com, tornando-se, até ao momento, no principal caso
de sucesso desta plataforma de comércio solidário
lançada há quatro meses. Quem entra no site, depara-se com os produtos organizados por categorias, preço
e tipo (utilizadores ou de instituições). O eSolidariar tem
três vertentes: lojas sociais para organizações onde
cada entidade pode vender os artigos e exportar a loja
para uma página do Facebook ou site; leilões solidários
promovidos por celebridades e entidades; mercado
online, onde vendedor define para cada produto uma
percentagem do valor da venda destinada a uma ONG.
Na génese do eSolidar está o Bewarket.com (um
mercado social no Facebook), colocado online em
Março de 2012, com um investimento a rondar os 30
mil euros. Em Setembro de 2012, a equipa liderada
por Marco Barbosa foi para Silicon Valley durante três
meses, o que ajudou a repensar o negócio. Em Abril de
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2014, a BusyAngels juntou-se para potenciar o lançamento e internacionalização do eSolidariar.com.
Este projecto tem pernas para andar? Os números
são da eSolidar: 83 por cento das pessoas preferem
comprar produtos associados a causas solidárias, as
organizações gastam cerca de 75 por cento do seu
tempo na angariação de fundos para serem sustentáveis, 70 por cento dos fundos das instituições são
gerados através da venda de produtos e metade das
pessoas está disposta a pagar mais por produtos associados a uma causa.
Das apps para os EUA aos vídeos CR7
A agência digital MezzoLab, fundada em 2012, espera
facturar este ano entre 750 mil e um milhão de euros.
“Um dos projectos mais importantes da empresa é o
StoreAgent, uma plataforma móvel que permite que
marcas criem missões que são então completadas por
uma rede de agentes. Os agentes recebem incentivos
que podem ter a forma de dinheiro, pontos ou ofertas
e as marcas recebem market research data”, explica
ao M&P o fundador e creative manager João Freitas.
A agência já criou a app para o economista comportamental e colunista do Wall Street Journal Dan Ariely, e
tem, neste momento, uma app a atravessar uma ronda
de investimento nos EUA.
Os trabalhos com maior visibilidade foram os vídeos
para Cristiano Ronaldo. “A oportunidade surgiu através
de um contacto feito com a Polaris Sports, empresa
agregada à Gestifute, que faz a gestão comercial dos
direitos de imagem do Ronaldo. O primeiro vídeo que
fizemos para o Ronaldo foi preparado para ser lançado
no momento do anúncio do vencedor do Ballon d’Or
de 2012 sendo que seria lançado independentemente
do resultado”. Ronaldo ficou com a Bola de Ouro e o
vídeo teve seis milhões de visualizações em 40 horas.
O segundo vídeo foi lançado no final da Champions
League deste ano, quando o Real Madrid de Cristiano
Ronaldo se sagrou campeão da Europa. O novo vídeo
obteve 12 milhões de visualizações em cerca de 12
horas. “Não podemos divulgar as marcas com quem
estamos a trabalhar, mas posso dizer que vão desde
grandes empresas de telecomunicação a startups de
grande potencial. Felizmente temos clientes interessantes e um pouco por todo o mundo”, refere João
Freitas.
Orientada para a exportação
Marco Martins, Nuno Ferreira, Eduardo Conceição
(licenciados em Engenharia de Informática) e João
Veiga (Engenharia de Comunicações) conheceram-se na Universidade do Minho e criaram a Scytale. Um
dos projectos iniciais consistiu na plataforma Joblovr,
que há dois anos esteve em destaque nos media,
por funcionar como uma montra de talentos, onde os
empregadores podem procurar colaboradores freelancers ou a tempo inteiro. Ao fim de uma semana
online contava já com 800 registos. No terceiro ano
de existência e chegados a 2014, a expectativa é
que a facturação da Scytale chegue aos 100 mil
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MIGUEL GONÇALVES
idea starter da agência Spark
Braga, we
try smarter
Para existir, um ecossistema de empreendedorismo precisa de comunidade, estudantes,
investigadores, professores, empresários, investidores e curiosos.
Braga é uma voz viva e representação de uma
ideia inquieta, atrevida e tudo o que um ecossistema de aceleração pode ser. A cidade está a
preparar-se para alguma coisa e há muita gente
diferente a fazer acontecer Braga!
Um dos seus principais desafios é compreender
quem é, entender a escala dos seus recursos e
competir de forma inteligente.
Não precisamos de ser Silicon Valley para erguer
valor. Boulder, uma pequena cidade no Colorado
com pouco mais de 100 mil habitantes, pode
ser uma boa referência para nós. Mantiveram
a comunidade startup activa, criaram condições
para as empresas, atraíram investimento, especializam-se em tecnologias críticas e ao longo
dos últimos 20 anos tornaram-se um sistema rico
e exemplar. Segundo o US Census Bereau, em
2011, o PIB da cidade foi de 18,9 mil milhões de
dólares, em parte devido à força do ecossistema
de criação de startups.
Estudantes, investigadores, professores, empresários e investidores começam a conviver com
frequência e sinto que os próximos anos podem
ser de uma cidade inteligente que experimenta
atrair smart money, construir empresas e exportar
tecnologia.
Muitos são os que acreditam que o nosso futuro
pode passar pelos materiais inteligentes, células
estaminais, software, laboratórios de testes de
hardware, aplicações móveis e t-shirts biométricas que guardam dados na nuvem. Os próximos
anos podem ser de impressão 3D e alguém, na
Universidade do Minho, estará à procura de uma
forma de imprimir comida.
Não vamos competir com os aceleradores de
Berlim, Paris nem Lisboa, porém podemos, como
Boulder, competir à nossa maneira. Em 1962 a
Avis lançou uma campanha onde simplesmente
anunciava: “Avis, we’re number 2. We try harder”.
Podemos pensar: Braga, we try smarter?
euros. “A maior parte dessa facturação refere-se a
exportação”, refere ao M&P Nuno Ferreira. “Grande
parte dos nossos projectos são feitos para clientes
internacionais e como tal nem sempre têm grande
visibilidade em Portugal. Mas algumas referências do
nosso trabalho incluem um sistema de agendamento
médico para consultórios particulares que cobrirá
todo o território brasileiro. Também desenvolvemos o
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MERCADO
Uma app no top em 50 países
A iMobileMagic esteve presente com stand próprio no
último Mobile World Congress (MWC), a maior feira
do mundo no sector das comunicações e mobilidade,
que decorre em Barcelona. No próximo ano a experiência é para repetir. O projecto mais relevante em
mãos é o PhoneNear. “É uma plataforma para operadores móveis que permite lançar novos serviços de
localização e protecção para a família e serviços de
A primeira loja de impressão 3D
O grupo Weproductise desenvolve, desde 2012,
projectos ligados ao eco-design, desde design
de produto até à guest house eco-frindly Laranja
Limão (Ponte de Lima). Em Maio abriu no largo da
Senhora-a-Branca (Braga) a Pip Eco Store, que se
apresenta como primeiro espaço de impressão 3D
em Portugal. “A nível internacional este tipo de lojas já
existe, principalmente em grandes cidades da Europa
e EUA. Contudo, que eu saiba, esta é a primeira com
uma abordagem totalmente eco-sustentável e uma
decoração amiga do ambiente”, refere António Mota
Vieira. O investimento na loja foi de 30 mil euros. Aí,
além da impressora, encontram-se produtos ecológicos para a casa, como candeeiros ou mobiliário,
brinquedos e até sumos e snacks, com base artesanal ou sustentável. “Há já muito tempo que tinha
a vontade de ter um espaço comercial com produtos
eco-inovadores, que fosse também um espaço em
permitisse aos cidadãos materializar, sem custos
voz e de mensagens. Já está presente em operadores
na Europa e Médio Oriente”, descreve Marco Leal. A
empresa já trabalhou para marcas como Vodafone, PT,
Micorosft, Bungie, Grupo Impresa, Galp e ASAP54 e
conseguiu colocar a app My Magic Songs em primeiro
lugar na App Store, na categoria de Educação, em
mais de 50 países. A app “oferece uma experiência
personalizada para as crianças com músicas que
cantam o nome delas”, explica Marco Leal. A equipa da
iMobileMagic tem 14 pessoas. “Temos vindo a crescer
todos os anos. O nosso objectivo este ano passa por
crescermos 100 por cento, principalmente através do
nosso produto PhoneNear, que contamos que esteja
presente em mais operadores em todo o mundo”,
descreve Marco Leal.
adicionais, as boas ideias. Não apareceu mais cedo
porque não sabia como a tornar economicamente
sustentável. Contudo, no início deste ano, lembrei-me de um modelo negócio. Todos temos que
comprar artigos para o nosso lar e brinquedos para
as nossas crianças, certo? Agora imagine que há um
sítio onde lhe dizem ‘por cada 10 euros de compras
pode usar uma hora de uma máquina que lhe permite
concretizar algumas das suas próprias ideias’ ou ‘por
cada 100 euros de compras pode participar num
workshop que lhe ensina como as fazer’”, descreve
António Mota Vieira. A Pip Eco Store é agora uma
realidade. Os próximos projectos da Weproductise
estão ligados a artigos de iluminação e a gadgets
para comunicação e lazer.
mesmo a ter um utilizador com uma poupança estimada na ordem dos 500 euros. Isto é um impacto
real na vida das pessoas e isso deixa-nos motivados
e com vontade de melhorar ainda mais a plataforma”,
prossegue. E que mais projectos tem a Betabranch em
carteira? “Estamos a estudar outros projectos internos,
de diferentes necessidades que temos vindo a verificar.
Caso estes projectos se mostrem viáveis o próximo
passo será a procura de financiamento tanto dentro
como fora de Portugal”, remata José Silva.
sistema de controlo de visitas para um hospital/centro
de investigação no Qatar. Este é actualmente um dos
maiores centros de investigação em todo o mundo. E,
claro, temos desenvolvido algumas plataformas inovadoras para projectos de startups financiadas”, aponta
o responsável.
Caça ao IMI errado
Um dos projectos mais visíveis da Betabranch, empresa
de desenvolvimento de apps, consiste num projecto
interno, o Imisimples.com. Trata-se de uma ferramenta
que ajuda a determinar o valor do imposto municipal
sobre imóveis (IMI) e a dar seguimento a um eventual
processo de reclamação, com o apoio de técnicos
habilitados. “Destacamos esta aplicação porque se
trata de um esforço de contribuir para algo que é, em
alguns casos, profundamente injusto. Os proprietários
de imóveis são constantemente confrontados com
aumentos de IMI com origem em avaliações realizadas
pelo Estado que, em muitos casos, é do nosso conhecimento a existência de vários erros resultantes, por
norma, da falta de informação e simplificações por vezes
grosseiras”, refere ao M&P José Silva, team manager da
Betabranch. “Recebemos constantemente indicação de
pessoas que conseguiram poupar consideravelmente
no seu IMI graças à nossa assistência. Chegamos
Mais oito projectos Made in Braga
PepFeed: Uma espécie de assistente de compras
virtual que ajuda a poupar tempo e dinheiro na
pesquisa de produtos online, em tempo real.
Charging Spot: Carregador portátil universal
para smartphones que pretende revolucionar o
mundo das telecomunicações móveis e a forma
como se gere as baterias dos smartphones.
Venture FC: Plataforma de crowndfunding de
investidores em jogadores de futebol, dirigida a
adeptos, investidores e clubes.
Negócios na Hora: Plataforma de compra e
venda no Facebook. Face a outros sistemas de
vendas online, facilita a comunicação entre os
interessados e transmitir mais segurança no
momento da negociação, através do uso de perfis
pessoais e de um sistema de rating do vendedor.
Quidbox: É um dispositivo que pretende mudar
o modelo existente de utilização e interacção
com a televisão e set-top box associada. Permite
efectuar videochamadas, jogar jogos familiares,
comprar online, utilizar apps utilitárias, aceder a
conteúdos multimédia dos diversos dispositivos
móveis da família, utilizando uma combinação de
gestos e comandos de voz.
Pigero: Rede social direccionada à partilha de
roteiros e comunicação entre viajantes e locais.
Match Up: Desenvolve experiências para incentivar a comunicação entre pessoas de maneira a
criar redes sociais na vida real. O conceito já foi
aplicado em várias festas em discotecas.
Arumis: Este produto pretende revolucionar as
experiências audiovisuais com a introdução de
mais um sentido: o olfacto. O produto será capaz
de sincronizar no timing exacto a experiência
audiovisual/entretenimento com uma sensação
olfactiva. Estas oito startups integram a Startup
Braga, situada no edifício GNRation (foto).
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MERCADO
OPINIÃO
Portugal: que
comecem os jogos
MIGUEL VICENTE
audience marketing manager da Microsoft Portugal
“O mundo dos negócios é demasiado sério para
brincadeiras”. A frase veio imediatamente à memória
acompanhada de um sorriso, à conversa em família
este fim-de-semana numa belíssima praia alentejana.
Em discussão as escolhas de carreira entre ser piloto
de automóveis ou a área de Direito constitucional
(assim mesmo, com o “D” maiúsculo, imponente e
grave). Tinha estado a trabalhar, minutos antes, numa
compilação dos mais fabulosos jogos criados aqui
mesmo no nosso país, e não consegui deixar de sentir
uma admiração renovada por aqueles nomes que
apenas há uns instantes me tinham passado pelas
mãos. É que, afinal, haverá alguém que tenha feito
carreira no mundo dos jogos que não tenha ouvido
aquela frase de um pai, familiar, amigo ou voz da consciência? Felizmente que uma das principais diversões
do mundo tecnológico é rebentar, sem dó nem perdão,
com as cinzentas convenções estabelecidas.
Muito se tem falado do mercado dos videojogos nos
últimos anos, e alguns dados passaram a ser quase
senso comum: que é uma área que factura biliões
em todo o mundo; que já vale mais do que a indústria
cinematográfica; que os novos grandes jogos batem
recordes de vendas – uma e outra vez. No entanto,
a percepção estabelecida é que continua a ser uma
opção quase inacessível e restrita apenas a alguns
eleitos, os tais sortudos que conseguem – imagine-se – ter um trabalho que não se escreve de forma
maiúscula, imponente, grave.
Uma cinzenta convenção, das tais que se rebentam
com estilo - com direito a explosão digna de título
AAA. É que à medida que o software se transformava dos tais “gordos e pesados programas” para o
formato de apps que levamos connosco para todo
o lado nos nossos novos e reluzentes dispositivos
móveis - criadas por qualquer indivíduo com uma ideia,
com a capacidade de a publicar numa store e chegar
imediatamente aos biliões de utilizadores em todo o
planeta – também os jogos mudavam, e saltavam das
consolas para tomar de assalto estes novos dispositivos. Porque sim, é verdade que representam ‘apenas’
40 por cento dos downloads de apps a nível mundial
- mas são os responsáveis por mais de 75 por cento
dos lucros gerados nestes meios. Sim, mais de 12 mil
milhões de euros só em 2013, um valor que triplicou
desde o ano anterior. Mas, agora, numa meritocracia
aberta - tal como no mundo das apps - a qualquer ideia
e ao seu poder de se tornar global. A esta oportunidade, juntou-se uma autêntica obsessão pela análise
de todos os cliques, toques, ou swipes dos utilizadores,
permitida por uma nova geração de ferramentas que
oferece aos criadores de jogos toda a informação de
que necessitam para saber como evoluir - entenda-se,
também, fazer mais dinheiro. E é um admirável mundo
novo de modelos de negócio, em que até as convenções de preço à cabeça não têm lugar: 94 por cento
E assim se transforma
um sector da economia
dos downloads são gratuitos, com a maior fatia dos
lucros a vir de novas formas de criar valor como as
in-app-purchases.
Em Portugal, já lá vão os tempos do Paradise Café,
do grandíssimo Elifoot ou do corajoso Under Siege, o
primeiro jogo de ambição mundial para consolas feito
no nosso país. A indústria está a crescer freneticamente para todos os sectores da sociedade (startups
ou empresas estabelecidas, estudantes ou profissionais, em part-time ou em full-time) e está ansiosa pelo
primeiro hit global, que se adivinha na forja. Projectos
como os vários jogos de sucesso mundial já lançados
pela Biodroid, considerado o maior caso de sucesso
nacional na área, o Inspector Zé e Robot Palhaço:
Crime no Hotel Lisboa da Nerdmonkeys, que alia
o melhor da arte ‘retro-pixelizada’ a uma identidade
bem Portuguesa, o HUSH da GameStudio78, que
conquistou a atenção do mundo com uma campanha
de crowdfunding, ou o ZEZ da Artbit Studios, que foi
recentemente considerado por um dos maiores sites
da especialidade como um potencial Candy Crush – e
é uma startup de duas pessoas, sediada no norte do
país. Projetcos como o novo Laboratório de Jogos Digitais do IPCA, em Barcelos, ou a aposta de empresas
como a Microsoft no apoio ao ecossistema nacional.
Que comecem, pois, os jogos – agora no nível
seguinte. E que mostrem, aqui mesmo em Portugal,
que a brincadeira é caso sério nos negócios.
Uma app pode ser o principal
concorrente dos taxistas. Começam
a multiplicar-se os exemplos de
economia colaborativa
RUI OLIVEIRA MARQUES
O Uber é uns exemplos mais badalados de projectos
digitais que assentam na economia colaborativa, isto
é, em que o modelo de negócio se baseia na partilha.
O MIT calcula que a economia colaborativa possa
valer 82 mil milhões de euros – quatro vezes mais do
que na actualidade. Outro caso que tem despertado a
atenção em todo o mundo é do o Airbnb, plataforma de
alojamento de curta duração entre privados. Nasceu
em 2007 e já garantiu 10 milhões de dormidas. Em
várias cidades o seu uso está proibido, já que é considerado um concorrente ilegal, por não pagar impostos,
dos sistemas tradicionais de alojamento. Em Portugal,
apesar de o seu uso ser já popular, ainda não foram
levantados quaisquer entraves. O Uber tem provocado
protestos de taxistas em várias cidades da Europa. A
app permite ligar passageiros que precisam de realizar
viagens de carro e pessoas, com automóvel, disponíveis para fazer esse serviço. É calculada a distância do
serviço pretendido e o valor que deverá ser cobrado.
O pagamento é feito via cartão de crédito, sendo que
o Uber retém 20 por cento. Em Portugal, encontra-se
apenas disponível em Lisboa o serviço Black (carros
de gama mais elevada). Aqui o preço base é de dois
euros, aos quais se acresce 30 cêntimos por minuto
e 1,10 euros por quilómetro realizado. Em Barcelona,
por exemplo, os preços são mais competitivos já que
é possível aceder ao serviço Pop, com carros de gama
inferior (1 euro de tarifa inicial, mais 0,75 euros por
quilómetro e 0,30 cêntimos por minuto). A Comissão
Europeia considerou entretanto que partilhar gastos de
viagem em carros particulares, em distâncias longas,
não deve ser proibido.
“Se compararmos o Airbnb e o Uber com o Google
e o Facebook, as duas primeiras estão a distribuir
mais riqueza. O Airbnb tem três fundadores, que são
multimilionários, mas também tem 600 mil anfitriões,
pessoas espalhadas pelo mundo que estão a ganhar
dinheiro a arrendar os seus espaços através da plataforma. Com o tempo, veremos diferentes tipos de
propriedade nas plataformas”, disse recentemente ao
El País o professor norte-americano Arun Sundararajan, que investiga a forma como as tecnologias estão
a mudar as empresas e a sociedade.
Mas há mais exemplos de projectos assentes no
conceito de economia colaborativa que pretendem
mudar a forma como acedemos a novos produtos e
serviços: troca de roupa (ThredUP), partilha de automóvel (Zipcar, SideCar, Lyft, Bluemove ou Getaround),
empréstimos (LendingClub), alojamento (Hipmunk),
troca de comida (Casserole Club, Compartoplato
Shareyourmeal), crowdfunding (KickStarter, PPL ou
Massivmov) e educação (StudySoup ou Udemy).
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O ecrã principal?
CARLA BORGES FERREIRA
João Paulo Luz, director de publicidade do Sapo, não
tem dúvidas de que “esta é a grande alteração que
devemos enfrentar quando pensamos os nossos
negócios e na forma como chegamos ao consumidor”. O profissional falava num painel sobre Mobile
Marketing durante o Mobile Fórum Portugal, iniciativa
conjunta da ACEPI, MMA e APDC. Durante uma
conferência em que participavam também Pedro
Seabra, CEO da Viatecla, e Miguel Figueiredo, CEO
da excentricGrey, o responsável de publicidade do
Sapo sublinhou a urgência de as marcas e empresas
olharem para os seus negócios e projectos de comunicação numa lógica mobile first já que, entre os
ecrãs da televisão, PC, tablet e smartphone, “o mobile
começa a ser hoje o primeiro dos quatro ecrã”. Motivo
pelo que, aconselha, “não devemos fazer coisas adaptáveis ao mobile mas sim coisas que são para o mobile
e depois se adaptam ao computador e à televisão”. “Os
quatro ecrãs convivem, não estou a dizer para pensar
mobile e esquecer os outros meios, mas cada vez
mais o mobile é aquele que é transversal a todas as
horas do dia e que ninguém deixa em casa”, refere
João Paulo Luz. À margem da conferência, moderada
pelo M&P, o responsável comercial do Sapo concretiza. “No nosso entender o mobile vai ser o 1º ecrã e
não uma alternativa interessante. Hoje muitos de nós
dedicam muito mais horas a olhar para o pequeno
ecrã do que para qualquer outro meio, incluindo a TV”.
“Sem dúvida que o mobile é o ecrã que apresenta
maior potencial. Se acreditarmos que as pessoas vão
fazer quase tudo neste “seu” pequeno ecrã, quer seja
ver televisão em broadcast, ou filmes on demand, ou
navegar na internet, ou aceder às redes sociais, ou ir
ao home banking, então fica claro que o mobile terá
todo o potencial dos outros ecrãs, mas acrescenta
outros. É o ecrã que nos acompanha 24 horas por
dia, todos os dias, permitindo acumular informação
que vai possibilitar segmentações muito mais finas
e oportunas. Nenhum outro ecrã, ou suporte, vai ser
tão poderoso”, prossegue quando questionado sobre
a hipótese de o mobile marketing ser uma das mais
promissoras, porém mais subestimadas áreas do
marketing digital”. Miguel Figueiredo também defende
ser o mobile “sem dúvida uma área muito promissora”.
“Há um cuidado a ter”, salienta no entanto: “não tentar
forçar os modelos de comunicação utilizados em
outros devices (TV, jornal, computador, etc) ao mobile.
É preciso antes reconhecer as suas características
próprias e trabalha-lo como ferramenta de marketing
com características muito próprias”. “O descortinar
dessas características está a ser feito agora, ao
mesmo tempo que os smartphones evoluem e que os
consumidores adoptam novos comportamentos. Por
isso é um caminho de descoberta que se vai fazendo.
Em Portugal eu diria que as empresas estão a partir
tarde, mas há uma consciência cada vez maior de que
é um caminho que se tem que fazer”, conclui, a propósito do trabalho que tem sido desenvolvido no mercado
nacional para este meio. E apesar de todo o potencial,
hoje, quando se pensa em mobile marketing, o mais
comum será pensarmos no envio de mensagens de
texto para bases de dados que promovem ofertas de
produtos, testes gratuitos de serviços ou outros tipos
de campanhas promocionais. Ou, no extremo oposto,
advergames, realidade aumentada, apps, vídeos, sites
mobile ou QR codes. “O enorme potencial que o mobile
apresenta talvez tenha direccionado as investidas de
mobile marketing excessivamente para os momentos
em que ele se distingue por completo dos outros meios,
ao invés de o incluir desde o início na estratégia global
de comunicação digital. Dito de outra forma, os devices
móveis foram encarados como ferramentas extraordi-
E os wearable devices?
E se quando pensamos em mobile a imagem que
nos assalta é de imediato a de smartphones ou
tablets, o certo é que os wearable devices também
podem vir a ter o seu espaço. “Acredito que os
relogios vão ser de grande impacto. Têm de fazer
muito mais do que o telemóvel porque para fazer
o mesmo que fazem os telefones, já que nós não
os vamos abandonar em casa, os relógios tornam-se redundantes. Mas vão juntar todas as features
do fitness e do health e aí vão acrescentar algo
de valor, e como a grande maioria de pessoas
ainda usa relógio (mesmo não precisando) a
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bom preço esse mercado vai ser gigante. Existe
também um grande entusiasmo com os óculos,
mas aí já podemos ter duas perspectivas, pois se
muita gente faz cirurgias para não ter que andar
de óculos, ao mesmo tempo gostamos de usar
óculos de sol. Mais uma vez tudo vai depender
daquilo que o device acrescentar de real à nossa
vida, porque se for apenas trendy não vai massificar”, comenta João Paulo Luz. “Ainda a definir o
ser espaço. Mas vai ter um espaço próprio, sem
dúvida nenhuma”, acrescenta, sem especificar
devices, Miguel Figueiredo.
A curto/médio prazo é
previsível que o mobile
conquiste terreno na
comunicação comercial
nárias para utilizações muito complexas e sofisticadas,
que no futuro vão ser importantes, mas que hoje os
votou a utilizações de nicho. Quando se ouve falar de
mobile marketing, e se ouve de imediato falar de QR
codes, realidade aumentada, etc., faz lembrar alguém
que falasse do potencial da TV para os anunciantes
centrada no product placement”, comenta a este
propósito João Paulo Luz. Miguel Figueiredo, por seu
turno, defende que todas as utilizações são possíveis,
acrescentando ainda o e-commerce.
Mas como traçar uma boa estratégia de mobile
marketing? “Varia muito de marca para marca. Não há
uma resposta nem uma utilização padrão. Para umas
marcas mobile marketing pode resumir-se à criação
de campanhas, para outros pode ser uma app, para
outros um processo de compra, etc. O que importa
acima de tudo é dominar primeiro o processo de lidar
com mobile markeing. Que processo é esse?Como
em qualquer área do marketing e da comunicação,
primeiro há que saber quais as perguntas certas a fazer.
Depois, com base nas respostas a essas perguntas,
construir uma estratégia de marketing integrada, onde
se define o papel do mobile. E então depois começar
a pensar criativamente em preencher a esse papel”,
responde o responsável da excentricGrey. Quanto
aos sectores nos quais o mobile marketing se pode
tornar mais relevante, responsável da agência aponta
para os extremos: “tudo o que envolva retalho, e tudo
o que consegue deixar de ter corpo físico - indústrias
multimedia. E nos media? “Nos media vai ser um pau
de dois bicos. Cria sem dúvida novas oportunidades,
mas também destrói por completo modelos que
estavam pensados para outros tempos. Penso que no
espaço de 4 ou 5 anos, vamos assistir a uma realidade de media radicalmente diferente, com outro tipo
de players a ganharem um maior protagonismo”, prevê
Miguel Figueiredo.
O CEO da agência não arrisca avançar o potencial de
mercado do mobile marketing, que representa menos
de 15 por cento da facturação da excentricGrey. No
Sapo, João Paulo Luz afirma que a publicidade mobile
se aproxima dos 15 por cento, sendo a tendência de
crescimento.
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ENTREVISTA
“É preciso usar todos os
canais em vez de apenas
converter um anúncio de
TV num anúncio mobile”
Em entrevista exclusiva ao M&P,
Chris Babayode, managing director
EMEA da Mobile Marketing
Association, olha para o actual
momento do marketing mobile e
comenta alguns dados
PEDRO DURÃES
“O mobile vai efectivamente mudar o mundo”. A
afirmação pertence a Chris Babayode, managing
director da Mobile Marketing Association para a
região EMEA (Europa, Médio Oriente e África), que
esteve em Portugal para uma das conferências do
Mobile Fórum Portugal, uma iniciativa da ACEPI, da
APDC e da MMA Portugal. Segundo o responsável
sediado no Reino Unido, que aproveitou a visita
para conceder uma entrevista exclusiva ao M&P, em
2017 cerca de 70 por cento da população mundial
vai ter telemóvel e 34 por cento um smartphone,
número que em 2013 estava nos 20 e se espera
que chegue aos 24 por cento até ao final deste ano.
Além disso, a percentagem que o consumo mobile
já representa do total da utilização da internet, que
em 2013 era de apenas 8 por cento na Europa,
deverá duplicar em 2014 para os 16 por cento,
chegando aos 25 por cento a nível global, valor
puxado para cima pelos números da região asiática
e de África, onde o mobile representará este ano,
respectivamente, 37 e 38 por cento do consumo
de internet.
Perante estes números, Chris Babayode não tem
dúvidas de que este é o momento certo para investir
no mobile, algo a que os marketeers parecem não
estar alheios já que, segundo os dados apresentados pelo managing director EMEA da MMA, 68
por cento dos responsáveis de marketing planeiam
investir mais nesta área do digital e, para 76 por
cento, este é mesmo o meio/canal mais próximo
que existe do consumidor. 72 por cento acreditam mesmo que o mobile é a melhor maneira de
alcançar ROI e 68 por cento apontam ainda a capacidade do mobile para transformar o modelo de
negócio de marcas e empresas. Em 2014 espera-se que o investimento em publicidade móvel na
Europa Ocidental represente quase um quarto do
investimento global (23 por cento), situando-se nos
31,4 milhões de dólares a nível global e 7,1 milhões
na Europa Ocidental, devendo manter-se a mesma
percentagem em 2018, quando esse investimento
poderá chegar aos 94,8 milhões de dólares, 21,6
dos quais nesta região, ou seja, o triplo daquilo que
é investido actualmente no espaço de quatro anos.
Meios & Publicidade (M&P): O número de
dispositivos móveis tem vindo a crescer de
forma exponencial e os hábitos de consumo
de media estão a mudar, com grande parte
desse consumo a virar para o digital e,
sobretudo, para o mobile. Apesar disso, o
investimento em publicidade móvel continua
a ser apenas uma sombra do investimento
em meios tradicionais. Por que é que isto
ainda não mudou?
Chris Babayode (CB): Penso que a razão é histórica,
o comportamento do consumidor move-se para o
online, move-se para o mobile, mas os sistemas, os
processos, o planeamento e o investimento publicitário demoram sempre mais tempo a mover-se
nesse sentido. O consumidor move-se sempre mais
rapidamente mas, eventualmente, o investimento vai
acompanhar, apenas demorará mais algum tempo,
como demorou com qualquer outro novo meio.
M&P: Quando lhe parece que esse cenário
vai começar a mudar?
CB: Diria que não vai haver um momento de
viragem claro. O que vai acontecer é que as linhas
que separam publicidade, marketing, promoção,
serviço a clientes, vão simplesmente desvanecer-se. Isso significa que, quer seja um anúncio textual
quer seja um anúncio display ou até uma acção de
promoção num dispositivo wearable, todas estas
coisas vão simplesmente ser publicidade comercial
e não será fácil discernir o que é imprensa, o que é
televisão e o que é digital… Tudo vai tornar-se mais
integrado.
M&P: Como é que essa mudança de paradigma será integrada no planeamento de
marketing?
CB: Penso que os marketeers vão começar a
pensar sobre como posso alcançar o meu consu-
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midor, onde está o meu consumidor e como posso
comunicar com ele. Seja através de uma promoção
directa no seu smartphone ou um anúncio de 30
segundos em televisão, eles continuarão a ter de
tomar essas decisões, mas as linhas vão desvanecer-se.
M&P: Referiu, na sua apresentação durante
o Mobile Fórum Portugal, que 76 por cento
dos marketeers já consideram que o mobile
é o meio mais próximo do consumidor. Ainda
assim, a fatia de leão continua a ser investida nos meios tradicionais.
CB: Há um conjunto de razões para isso acontecer. O desafio para os marketeers passa agora
pelo “como?”, em vez do “porquê usar o mobile?”
de há alguns anos atrás. Isso já tem resposta no
comportamento do consumidor e nos números
disponíveis, que não deixam dúvidas de que há
fortes razões para investir no mobile. O desafio
agora é como fazê-lo e como alcançar o consumidor, eu já sei que posso chegar mais próximo do
consumidor mas como o faço? Por isso, o desafio
agora é perceber e conhecer as best practices, em
vez de reinventar tudo de cada vez que há uma
campanha. À medida que esse conhecimento e
compreensão cresce entre as equipas de marketing e publicidade das marcas e agências, isso vai
dar confiança às pessoas no sentido de tomar a
decisão de chegar mais perto do consumidor. É
isso que os programas da MMA tentam fazer,
fomentar a confiança, o conhecimento, o know-how, de maneira a que os marketeers e agências
possam depois mover os seus budgets para onde
estão os consumidores.
M&P: Sente que as marcas já estão conscientes desta necessidade de acompanhar
esta mudança de comportamento do consumidor em direcção ao mobile?
CR: A consciência está lá, pode sempre haver mais,
mas penso que as marcas já estão bem alerta para
esta realidade. Mas, como digo, o desafio agora é
transformar essa consciência em oportunidades de
marketing e publicidade. E claro, serem capazes de
o fazer com escala, ou seja, muitas vezes, por todas
as marcas e em todos os países.
M&P: Referiu um exemplo que mostrava que
o mesmo budget investido no mobile pode
permitir à marca alcançar mais 2,5 milhões
de consumidores. Este tipo de argumentos
ainda não convence os marketeers quando
tentam promover o mobile na associação?
CB: É uma boa questão, porque lançámos estes
dados há apenas dois meses e esperamos reforçar
e continuar com essa mensagem. O que acontece
actualmente é que o custo por mil impressões
no digital está num ponto mais baixo do que o
da maioria dos meios tradicionais, pelo que o
mesmo budget permite uma cobertura maior, mais
pessoas e, sobretudo, pessoas diferentes. Mas um
dos desafios que temos em convencer os marketeers, enquanto Associação de Marketing Mobile,
passa por fazer crescer e espalhar este conhecimento, estes dados, para fomentar a confiança no
mercado. Para isso, criámos aquilo a que chamámos
de marketeer advisory board ou MM25 (Mobile
Marketing 25), onde os marketeers têm a oportunidade de se juntar, aprender com as experiências
uns dos outros, trocar conhecimento e best prac-
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tices, no sentido de levar à acção e conseguirem
optimizar os seus budgets.
M&P: Equacionam realizar essa iniciativa no
mercado português também?
CB: Acabámos de o lançar nos EUA, mais para o
fim deste ano espero já poder realizar um na região
EMEA para ver as coisas da perspectiva europeia.
Por isso, talvez não este ano, mas provavelmente
mais tarde à medida que mais marketeers aderirem
à iniciativa.
M&P: Como está o potencial de crescimento
do mobile na região EMEA?
CB: É difícil apontar números de cabeça, mas o
que posso dizer é que temos actualmente uma
dinâmica interessante de progressão do mobile
na região porque temos países onde a penetração
de smartphones é muito proeminente, com muita
publicidade em torno do mobile, vídeo e display, e
depois países como os de África e Médio Oriente
onde temos mais feature phones (telemóveis tradicionais), que podem aceder à web mas prevalece
muito o SMS como canal de marketing e também
resulta bem.
M&P: Quais serão as características de uma
estratégia de marketing mobile eficiente?
CB: Penso que as melhores características irão
girar em torno de conhecer bem o consumidor
e usar bem a informação, compreender bem as
ferramentas de data e analytics, e ter bons canais
de comunicação no seio da empresa para passar
essa mensagem. O mais importante será ter um
conhecimento profundo do consumidor e do seu
comportamento e também, diria, uma cultura e uma
vontade de experimentar e testar estratégias no
mobile. Por fim, o mobile representa um conjunto de
canais, desde tablets, smartphones, feature phones,
display, vídeo, SMS, e-mail marketing. É preciso usar
todos estes canais em vez de apenas converter um
anúncio de televisão num anúncio mobile, isso é
“À medida que a
empresa crescer
e o mobile se
tornar mais
central para o
negócio, todos os
profissionais terão
de ser praticantes
mobile”
apenas uma dimensão.
M&P: E quais desses canais serão os mais
eficientes?
CB: O pensamento em torno da estratégia mobile
deve passar mais pela compreensão de quando é
eficiente utilizar todos eles ou cada um deles, que
altura do dia, em que dia da semana, se é para
comunicar com um consumidor já existente, um
consumidor leal, ou pelo contrário se vamos falar
para um potencial cliente, porque o debate não
deve ser nunca um vs outro mas sim qual a melhor
altura e situação para usar cada um dos canais.
M&P: A quem devem as marcas confiar a
sua estratégia mobile, às agências digitais
e unidades especializadas em mobile ou às
agências tradicionais com oferta integrada?
CB: Continuo a pensar que é importante as marcas
trabalharem com um conjunto de agências, quer
pertençam todas ao mesmo grupo quer seja independentes entre si, porque umas vezes é preciso
especialização e agilidade, noutras, de uma perspectiva de compra de meios, a dimensão e escala
é importante. Mas o elemento chave é haver entre
todas as agências a trabalhar a marca uma forte
comunicação, a marca tem de se assegurar que
elas comunicam entre si e que a informação obtida
por uma agência deve ser partilhada e usada em
campanhas futuras. Os anunciantes precisam de
assegurar que há comunicação entre as várias
agências que possam estar a trabalhar a marca.
M&P: Mas quem deve ter a palavra final
sobre a estratégia para o mobile?
CB: O cliente (risos).
M&P: As empresas deveriam ter especialistas em mobile in-house?
CB: Isso é uma boa questão. Talvez seja uma questão
de evolução, primeiro ter especialistas em mobile e
depois comunicar essa cultura por toda a empresa
é um bom pontapé de saída, mas à medida que a
empresa crescer e o mobile se tornar mais central
para o negócio, então todos os profissionais terão de
ser praticantes mobile. Penso que a especialização
deve ser uma raiz como meio para inserir a cultura
mobile entre todos os elementos da empresa.
M&P: Quais são as principais oportunidades
trazidas por estes dispositivos ao nível do
marketing?
CB: Terão de ser a capacidade acesso ao consumidor e a compreensão que isso traz do actual e
do potencial consumidor da marca. Acredito mesmo
que essa capacidade é o elemento central do
mobile, perceber o tipo de coisas que compro, onde
compro, por onde ando, e tirar partido do conhecimento sobre o comportamento do meu actual
consumidor para fazer ajustes no sentido de chagar
a potenciais clientes. Depois, mesmo dentro dos que
já são consumidores do meu produto, pode haver
uma segmentação entre os leais e frequentes, que
compram três ou quatro vezes, e os que compram
apenas uma ou duas, atribuindo recompensas aos
frequentes e incentivos para que os outros passem
a ser frequentes e depois passem para a segmentação das recompensas para se manterem clientes
frequentes. A maior oportunidade é essa, conhecimento e informação sobre o comportamento do
consumidor em todo o processo de compra.
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MERCADO
O que as agências
andam a fazer
no mobile
Falar em projectos mobile
ainda é, na maioria dos casos,
sinónimo de criar uma aplicação
ou simplesmente adaptar o site
da marca aos dispositivos móveis.
Mas já há alguns casos em que
pensar mobile vai um pouco mais
além. Aqui ficam alguns exemplos
daquilo que está a ser feito
PEDRO DURÃES
A app da Bliss para a Staples
Foi lançada em Fevereiro a aplicação que a Bliss
desenvolveu para a Staples. O objectivo era concentrar
num só sítio um grande conjunto de funcionalidades
para quem visita uma loja Staples e também melhorar
o customer engagement. Algumas das funcionalidades são mais simples, como dar informação sobre
produtos e serviços ou dar acesso rápido à localização
das lojas Staples e ao contacto directo via telefone
ou email. Outras, explica André Gil, managing partner
da Bliss, foram mais desafiantes: “Pretendia-se dar
acesso ao cartão de cliente, à consulta de status da
conta de cliente, a vales de desconto e de pontos e à
possibilidade de utilizar os vales em loja, sem recurso
a papel. E que os conteúdos fossem direcionados
mediante o tipo de cliente (para empresas e particulares, ou professor + para professores). Pretendeu-se
personalizar e adequar a mensagem em função de
quem as recebe. Outro aspecto em destaque foi a
possibilidade de utilização dos vales no smartphone,
para o qual desenvolvemos um sistema de segurança
reforçado”. A app dispõe de algumas funcionalidades
que estão disponíveis apenas para utilizadores em
mobile, nomeadamente promoções exclusivas, e está
disponível para Android e iOS.
Saraiva + Associados no mobile com a By
A equipa da By, que desenvolveu o site para o atelier
de arquitectos Saraiva + Associados, lançado em
Abril passado, destaca como principais desafio da
sua versão para mobile dar prioridade ao conteúdo.
Por um lado, é um site que vive de muitas imagens, e
muito grandes, que num gabinete de arquitectura se
assumem como um elemento diferenciador da comunicação, e não apenas como uma “ilustração”. Por
outro lado, existe neste site uma grande diversidade de
conteúdos (textos, galerias, notícias, projectos), o que
poderia resultar numa estrutura de site extremamente
complexa. Portanto, o desafio da responsiveness,
Foi para colmatar esse problema que a ComOn criou
o TapMyBack, uma app simples e divertida, onde os
membros de uma equipa dão reconhecimento entre si.
Dá aos colaboradores a motivação para continuarem a
melhorar a sua produtividade e performance, repetindo
acções que tiveram um impacto positivo na equipa.
de proporcionar uma experiência o mais adequada
possível, tendo em conta o dispositivo a partir do qual é
feito o acesso, era enorme, particularmente na solução
para mobile. Refira-se ainda o desafio acrescido de se
tratar de um site multilingue, já que o atelier fundado
por Miguel Saraiva, em Lisboa, tem hoje escritórios em
10 países. Por fim, a equipa da By destaca a responsabilidade de conceber um site à imagem do atelier,
que espelhasse valores como a precisão técnica e a
qualidade conceptual, e onde todos os que dele fazem
parte se revissem profundamente.
Uma palmadinha nas costas da ComOn
Por vezes esquecemo-nos da importância de um
obrigado na motivação dentro de uma equipa. Como
tornar esse reconhecimento fácil, divertido e parte
integrante da cultura de uma empresa? A resposta
a essa pergunta tem que passar invariavelmente por
uma solução simples e acessível em qualquer local.
Num mundo de trabalho cada vez mais global e móvel,
com equipas fragmentadas por vários locais, torna-se
fundamental uma solução mobile para este desafio.
O reconhecimento, para não ser esquecido, tem que
ser feito na hora, em qualquer local, seja à saída de
uma reunião com um cliente, seja do escritório de
Portugal para um colaborador no outro lado do mundo.
Fullsix meteu o campeonato
nacional de surf no bolso
Integrada na estratégia da marca Moche e à sua
associação ao surf, a aplicação Surf Moche é a app
oficial do campeonato nacional de surf, a Liga Moche.
A aplicação, desenvolvida pela Fullsix, contempla notícias actualizadas de surf, em parceria com a OnFire,
a apresentação do calendário das etapas do campeonato, incluindo a emissão em directo das provas, e
um serviço de alertas que partilha em tempo real as
informações mais relevantes de cada prova (início
das provas, vencedores dos rounds, estado do mar).
Como “braço mobile” da Liga Moche, a aplicação é
um canal privilegiado para comunicar com o target
que cresce em número de downloads e número de
acessos a cada etapa e que regista um número de
visitas e acessos à emissão em directo superiores aos
registados no site em dias de prova. Os alertas (push
notifications) Moche Surf são também um factor de
sucesso da aplicação, em que mais de 80 por cento
dos utilizadores da app subscrevem este formato de
mensagens.
Grand Union à boleia
da Sagres nas Festas de Lisboa
Inserido na campanha 360º das Festas de Lisboa e no
âmbito da sua estratégia de Responsabilidade Social,
a Sagres disponibilizou uma linha de autocarro gratuita
em circulação na noite de 12 de Junho. O itinerário,
com várias paragens em locais estratégicos, foi anunciado no jornal Metro, em mupis e online. Numa acção
que utiliza a plataforma mobile como um enabler
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antes da hora programada toca, com uma mensagem
de aviso de que está na hora de ir dormir. Na fase
inicial a app permitia aos consumidores pedirem uma
amostra gratuita para experimentarem o Nescafé
Galão Original. Em apenas um mês, a campanha gerou
39.393 pedidos de amostra, 244.108 page views e
2.515 downloads da app.
de uma experiência física, activando um QR code
presente nestas peças de comunicação, os noctívagos
acediam a um mobile website que indicava a localização exata do autocarro em tempo real. Para além
disso, no mesmo mobile website, era servido um feed
Instagram de fotografias partilhadas com a hashtag
#somoslisboa. Cerca de três mil pessoas acederam a
este website móvel nessa noite.
O laboratório de cor da CIN
Um projecto de pintura não acontece por impulso, pelo
contrário, é o resultado de um processo de maturação,
que envolve sempre uma questão fundamental - Com
que cor? Para ajudar a responder à questão, a Isobar
criou o conceito Pinte antes de pintar. Têm sido várias
as iniciativas e serviços criados pela marca no contexto
deste conceito, sempre com uma preocupação central:
oferecer algo de verdadeiramente útil e prático aos
consumidores. Muitas são as ocasiões em que esta
questão se coloca longe de um computador, num
almoço entre amigos, numa obra, numa conversa na
rua, o acesso à informação é crítico. Para isso, a Isobar
criou o CIN Color Lab Spy, uma app para iPhone que
permite identificar a cor mais próxima do catálogo de
tintas CIN a partir de uma fotografia. Para além da sua
função principal, a app permite ainda consultar livremente os vários catálogos da marca e ainda identificar
a loja mais CIN mais próxima a partir de localização
GPS. As cores podem ser guardadas em colecções
pessoais para utilização posterior. A app recorre a uma
algoritmo de análise de comparação de atributos de
cor que permite obter o equivalente mais próximo de
uma forma surpreendente. Após o seu lançamento,
a app chegou ao primeiro lugar do top de aplicações
utilitárias gratuitas no iTunes, e conta actualmente com
mais de 20 mil instalações.
Um videoclube na palma da mão com a More
A temática do cinema está directamente relaccionada
com o conceito de entretenimento. O cinema desperta
emoções, diverte e cativa. Por esta razão, desenvolver
um qualquer novo meio de comunicação digital para
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os canais TVCine e Séries teria sempre que trazer
consigo uma experiência de utilização diferenciadora.
Algo que cativasse o utilizador no primeiro instante e
o transportasse para um universo de imagem, vídeo
e som, de puro entretenimento. Focados na criação
de um maior engagement com os clientes e potenciais clientes dos canais, a More colocou à disposição
destes várias plataformas de interação com a marca,
todas elas integradas e sincronizadas. Uma aplicação
mobile, iPhone e Android, gratuita e totalmente integrada com o website, e com uma aplicação Facebook
dos canais, actualizada de forma automática com os
conteúdos mais recentes. Com um único registo e
através de qualquer um dos meios, o utilizador pode
facilmente definir alertas personalizados para toda a
programação, a qualquer hora e onde quer que esteja.
Pensada com o objetivo de proporcionar uma experiência muito visual e interactiva, mas simultaneamente
focada no que é importante para o utilizador - um
acesso rápido, simples e intuitivo a todos os conteúdos
dos canais - a aplicação mobile TVCine e Séries conta
já com mais de 46 mil downloads e cerca de 9 mil
utilizadores registados.
Um despertador que diz quando ir para a cama
Para promover o novo Nescafé Galão Original, uma
mistura de pequeno-almoço que dá toda a energia
necessária a começar o dia da melhor forma, foi pedido
o desenvolvimento de uma campanha online, mini-site
e app mobile para divulgar conceito de marca e com
possibilidade de pedido de amostra. A Ogilvy criou
então um mini-site onde cada pessoa podia receber
uma recomendação de pequeno-almoço consoante o
tipo de trabalho, patrão, clima do dia e meio de transporte utilizado. O mini-site permitia ainda o pedido
de amostra gratuita, onde o consumidor podia ver a
saqueta ultrapassar diferentes obstáculos até chegar à
morada indicada. Paralelamente, a Ogilvy desenvolveu
uma app para Android e iOS que é um despertador
único, o primeiro despertador que toca quanto é hora
de ir dormir, garantindo assim que cada pessoa dorme
as oito horas recomendadas. Ao colocarmos as horas
a que queremos acordar, a app faz as contas e 8 horas
Activar Portugal com a Microsoft
cria centro de emprego numa app
A plataforma digital Ativar Portugal é uma iniciativa
da Microsoft Portugal que visa promover a criação de
emprego qualificado, formação, certificação oficial e
valorização de competências em TI. Foi concebido em
responsive design com uma abordagem mobile first,
em que a solução foi desenhada pensando no smar-
tphone como o primeiro ecrã. Assim, o smartphone
torna-se o primeiro ecrã e o foco é na experiência
do utilizador nesse suporte. O design e o desenvolvimento do website começa então a ser pensado
para smartphone e expande para os outros suportes,
nomeadamente para desktop. Deste modo toda a
concepção começa no ecrã mais reduzido ao invés
dos designers conceberem o site para desktop e
“encolherem” os conteúdos para caberem no ecrã de
smartphone.
A app dos Xutos & Pontapés
A Go4digital criou uma app mobile, iOS e Android, com
toda a media dos Xutos actualizada até hoje, com fotos
e vídeos exclusivos, música, discografia e biografia da
banda. Além disso, pode-se receber notificações dos
próximos concertos em primeira mão, saber toda a
agenda e ter acesso às noticias da banda. A Go4digital incluiu o Facebook na app permitindo aos fãs
estarem mais perto da banda, fazendo comentários,
likes e muito mais. Actualmente três mil fãs utilizam
regularmente a app.
Os textos apresentados são da responsabilidade das agências, tendo o jornalista apenas
recolhido e editado os mesmos
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MERCADO
Um mercado
em expansão
com lançamentos
constantes
Os valores não enganam. Vários
estudos dão conta do crescente
número de dispositivos móveis
no mercado português, sendo
esperado que esse aumento
continue a fazer-se sentir nos
próximos cinco anos. As marcas
não querem ficar para trás e os
lançamentos sucedem-se
PEDRO DURÃES
Em Portugal, tal como no mercado mundial, o
mercado dos smartphones é liderado pela Samsung,
que tinha no terceiro trimestre de 2013 (os dados
mais recentes da IDC) uma quota de mercado na
ordem dos 38 por cento, surgindo em segundo
lugar a LG, com 16 por cento (quarta maior fabricante a nível mundial), e em terceiro a Apple, com
9 por cento (segunda a nível mundial). Vários
analistas prevêem agora que o crescimento passe
muita também pela oferta de smartphones de baixo
custo, com as marcas a apostarem em aparelhos
mais simples para chegar a essa fatia de mercado
ao mesmo tempo que continuam a direccionar para
os modelos de topo a inovação constante esperada
pelos consumidores desse patamar económico.
Exemplo disso é a Nokia, que lançou nestes meses
de Junho e Julho os primeiros modelos de smartphone nascidos depois da aquisição da empresa
por parte da Microsoft: o Lumia 630 (com preço a
começar nos 150 euros) e o Lumia 930 a apontar
para o segmento de topo. Numa apresentação
dos novos aparelhos à imprensa, referia-se que os
objectivos são claros: chegar a uma quota de dois
dígitos até ao fim do ano. A meta é traçada por
João Couto, director-geral da Microsoft Portugal,
que na era PC, chegou a ter uma quota de mercado
de 95 por cento e hoje fica-se pelos 12 por cento.
A Nokia era líder incontestada nos telemóveis
mas não apanhou o comboio dos smartphones e
deixou-se ultrapassar, sobretudo pela Apple e pela
Samsung. Assim sendo, o objectivo agora passa
por crescer de forma significativa a um ritmo que
permita “alcançar no curto-prazo, até ao final do
A Nokia quer chegar os segmentos mid
e mid low com modelos a começar nos
150 euros
ano, uma quota de mercado de dois dígitos”, adiantava João Couto. Já sobre a estratégia de marca,
que para já continua a apresentar a imagem da
Nokia na área dos smarphones (designada agora
Microsoft Devices), o responsável garante que “não
há ainda nada definido” mas que uma coisa é certa:
“não vai ser Microsoft Nokia Lumia, não vamos
manter um comboio de marca que não teria sentido
nenhum”. Fica em aberto, portanto, a possibilidade
de surgir uma nova marca e um rebranding mundial
da actual Nokia.
Em relação ao posicionamento para atacar o
segmento dos smartphones em particular e do
mobile em geral, João Couto afirma que tudo girará
em torno da assinatura Mobile First, Cloud First. Isto
porque a empresa acredita que a tendência passará
por aí, já que com vários devices por utilizador, o
fundamental será ter acesso a toda a informação
na cloud. “Cada pessoa vai ter em média três
equipamentos ligados e haverá mais mil milhões
de smartphones até 2016, 35 por cento só para
fins profissionais”, prevê, sublinhando que “o maior
crescimento mid e mid low, com os equipamentos a
baixarem de preço” levará a que “a muito curto prazo
apenas haverá smartphones”. Aliás, de acordo com
Luís Peixe, country manager da Nokia, os “modelos
low end serão 52 por cento das vendas em 2017”.
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Na LG a área mobile já vale quase um
terço do negócio. O novo LG G3 chegou
este mês
Não porque os segmentos mais altos não adoptem
mas precisamente porque já adoptaram e esse
crescimento já foi feito. A estratégia de mercado,
adianta Luís Peixe, assentará “em cinco pilares:
design, inovação, oferta de todos os segmentos,
foco no desenvolvimento de apps e nos developers,
e oferecer experiências similares em todos os ecrãs
sem degradação na experiência quando descemos
nos segmentos de preço”.
Do lado da LG, a grande novidade no sector
dos aparelhos móveis é o lançamento, anunciado no passado dia 19 de Junho, do novo
LG G3, um exclusivo Meo. O novo smartphone topo de gama da marca no mercado
português surge com o lema Simple is the
New Smart e vem com promessas de ser o
melhor smartphone desenvolvido pela marca.
“É importante consolidar os avanços tecnológicos dos produtos com um interface mais
simples. O LG G3 é o fruto do nosso esforço
para actualizar esta visão e estamos extremamente contentes com o resultado”, referiu
Tiago Sá, director da unidade de negócio de
Mobile Communications LG Portugal. Com
um ecrã de 5,5 polegadas, o aparelho conta
com 3 GB de memória RAM, processador
quad-core Snapdragon 801, 32 GB de armazenamento, câmara de 13 megapixéis e câmara
frontal de 2.1 megapixéis. O LG G3 chega às lojas
este mês com um preço recomendado de 629
euros na versão livre de operadora, e por 499 na
Meo. Questionado sobre a estratégia no mercado
português para atacar o primeiro lugar detido pela
Samsung aproveitando a posição de challenger
quando a nível mundial ainda estão atrás da Apple,
Hugo Jorge, director de marketing da LG, refere
apenas que “a estratégia global passa por aumentar
as vendas nos segmentos premium e assegurar
um crescimento sustentável, através do desenvolvimento de novos produtos”. “O sucesso da nossa
marca está no forte compromisso na área da investigação e desenvolvimento, bem como em sinergias
estratégicas com a LG Chemical, LG Display e LG
Innotech, para desenvolvimento de baterias mais
potentes, ecrãs de melhor resolução e câmaras
mais poderosas”, sublinha, afirmando acreditar que
“estamos no caminho certo”. “Começámos o ano
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com o lançamento do LG G Flex e acabámos de
apresentar ao mercado o LG G3, dois excelentes
exemplos que reflectem esta nossa intenção estratégica”, reforça. Estando a LG em muitas outras
áreas além dos dispositivos móveis, ao contrário da
Apple e da Nokia, Hugo Jorge adianta que “esta
unidade representa já 30 por cento do negócio da
empresa. É um segmento estratégico para nós e
temos por isso expectativas ambiciosas para esta
área de negócio. Contamos este ano vender mais
de 300 mil equipamentos móveis e manter a nossa
quota de mercado acima dos 15% por cento”,
aponta.
A líder no mercado português concentra todas
as fichas no lançamento do novo tablet Samsung
Galaxy Tab S, apresentado ao mercado na passada
semana e colocado há venda no dia 11 de Julho,
que a marca define como “o tablet mais fino e leve
de sempre da Samsung”. “O novo Samsung Galaxy
Tab S vem revolucionar a categoria em produtos
Samsung. Numa era onde o segmento tablet tem
experienciado um forte crescimento em Portugal, a
Samsung alia a melhor tecnologia de imagem a um
design leve e sofisticado para levar a experiência
de entretenimento ao nível seguinte,” refere Nuno
Parreira, director da área de integrated mobility da
Samsung Portugal. Além de uma série de aplicações
exclusivas, a aposta no mercado português conta
com parcerias locais, através das quais o novo Tab
S vai disponibilizar conteúdos em português como a
subscrição dos jornais digitais do Público e A Bola
durante três meses, e a subscrição de várias revistas
O novo tablet da Samsung acaba de chegar
ao mercado português com dois modelos,
de 8 (399 euros) e 10 polegadas (499 euros)
durante 12 meses. Além disso, nesta capítulo da
imprensa, a parceria internacional entre a Samsung
e a Condé Nast International oferece aos utilizadores do Tab S acesso gratuito, durante 3 meses,
a um total de 23 títulos internacionais de meios de
comunicação como a Vogue, Vanity Fair, GQ, Wired
entre outros. Relativamente a expectativas para o
desempenho deste aparelho no mercado português,
Nuno Parreira refere ao M&P que “são números
que não podemos divulgar, no entanto, podemos
afirmar que os nossos objectivos são bastante
ambiciosos e que trabalhamos arduamente para os
atingir”. “Ainda no ano passado, JK Shin, CEO da
área de TI e comunicações móveis, afirmou publicamente que o objectivo global da Samsung seria
atingir 40 milhões de vendas especificamente no
segmento tablet. Este número já foi alcançado e as
vendas não pararam de crescer até hoje”, recorda o
responsável, acrescentando que “com o lançamento
do novo Galaxy Tab S acreditamos que estamos a
disponibilizar ainda mais benefícios ao consumidor,
o que seguramente ajudará a Samsung a fortalecer a posição no mercado”. Em termos de outras
apostas da marca no sector mobile, Nuno Parreira
recorda que “lançámos recentemente o nosso topo
de gama em smartphones, o Galaxy S5. É o melhor
da marca até à data, incluindo as mais recentes
novidades no que respeita à tecnologia utilizada,
oferecendo um mundo de funcionalidades, num
só produto”. “Adicionalmente, lançámos também
o Galaxy K Zoom, que promete cativar os apaixonados por fotografia. Na área de tablets, lançámos
o Galaxy Tab 4, e agora o Galaxy Tab S”, enumera,
frisando que “no fundo, o nosso principal objectivo
é lançar produtos orientados para as necessidades
pessoais e profissionais dos utilizadores. Temos um
compromisso permanente com a inovação inspirada
nas pessoas, é esta inovação que torna os nossos
dispositivos móveis produtos fortes e competitivos
e, com este lançamento, avançamos no sentido de
consolidar este objectivo”. Questionado sobre o que
representa actualmente a área mobile no volume de
negócios da Samsung em Portugal, Nuno Parreira
não fala em números, adiantando apenas que “a
área de dispositivos móveis tem um peso significativo dentro da Samsung, quer a nível nacional quer
a nível global, daí que o nosso objectivo nesta área
passe por manter o bom desempenho da marca no
mercado português, à semelhança do que tem acontecido no estrangeiro”. “Estabelecemos, todos os
anos, metas ambiciosas e pensamos estar no bom
caminho para as atingir. De qualquer forma, o nosso
trabalho está focado em disponibilizar as melhores soluções a nível
tecnológico aos consumidores, ou
seja, queremos optimizar a sua a
vida profissional e pessoal”, define.
Nesta campo, uma das novidades
do Galaxy Tab S é a possibilidade
de partilhar o aparelho criando até
oito perfis de utilizador diferentes.
Com uma posição menos forte
em Portugal do que a nível global,
onde é o segundo player, a aposta
da Apple em termos de novos
lançamentos para este ano passa
pelo novo iPhone6, dispositivo que
poderá ser lançado a nível mundial
no próximo mês de Setembro.
Confiança no produto parece não
faltar já que, segundo adianta a
Business Weekly, a Apple terá feito a maior encomenda de sempre para um lançamento: 68 milhões
de unidades, o dobro do que foi pedido para o
iPhone 5.
A Apple está a guardar o seu trunfo e
o novo iPhone6 só deverá chegar em
Setembro
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MERCADO
Revistas
e jornais para
levar no bolso
PEDRO DURÃES
No princípio era o iPad. Visto como messias por
parte de um sector da imprensa a definhar perante
a migração dos leitores para o universo digital, o
tablet da Apple trouxe a promessa de pôr toda a
gente a ler jornais e revistas que já não liam em
papel. Não faltaram candidatos ao primeiro salto,
dois deles com grande burburinho mediático mas
com destinos totalmente destintos. Hoje só um
desses projectos continua a existir. Quando o iPad
foi lançado não se falava noutra coisa no mundo
dos media para além do novo jornal de Rupert
Murdoch, The Daily, um jornal diário criado em
exclusivo para o tablet da Apple. Foram contratadas mais de 100 pessoas e o magnata prometia
uma revolução da imprensa. Só que menos de
dois anos depois do seu lançamento, o The Daily
chegava ao fim. “Desde o seu lançamento, o The
Daily foi uma experiência arrojada entre as publicações digitais e um espantoso veículo de inovação.
Infelizmente, a nossa experiência mostrou-nos
que não conseguimos encontrar uma audiência
suficientemente grande e de forma rápida que
nos convencesse de que o modelo de negócio era
sustentável no longo prazo”, justificava o grupo
em comunicado no mês de Dezembro de 2012.
O outro projecto exclusivo para iPad chama-se
precisamente Project Magazine e é uma revista
inspirada na bem sucedida Wired e lançada pelo
milionário da Virgin Richard Branson, que ainda
hoje continua de pé. No entanto, a regra continua
a ser a de títulos impressos lançarem versões
para dispositivos móveis, com inúmeros casos de
sucesso a nível internacional, como as revistas
Wired, New Yorker ou Esquire (ver caixa sobre
as 10 melhores apps de revistas). Em Portugal, a
Revista do Expresso chegou a integrar uma lista
internacional das melhores aplicações de revistas
nos tablets em 2013, assim como a Visão no ano
anterior, ambas do grupo Impresa, que continua
a apostar no mobile agora com o lançamento do
Expresso Diário, disponível no desktop mas criado
a pensar nos utilizadores de aparelhos móveis,
mas não esteve disponível para falar com o M&P.
Quanto a projectos criados de raiz, em exclusivo
ou a pensar primeiro no mobile, são ainda pouco
os exemplos, quer a nível nacional quer internacional. No panorama português, foi lançada na
última semana a primeira revista masculina exclusivamente online, com um site, versão desktop,
smartphone e tablet com periodicidade mensal,
a Men’sCode, editada pela agência digital Sales
Engine Online e dirigida por José Mascarenhas,
ex-director da extinta Penthouse Portugal. “O
digital é o presente”, afirma o responsável em
declarações ao M&P, sublinhando que isso “não
significa que a imprensa física vá terminar, mas
claramente que estamos a caminhar para uma
mistura entre as duas coisas”. “O nosso público-alvo (homens dos 20-45) está mais virado para
o digital e já se começa a sentir confortável a ver
revistas online, quer seja no computador, tablet ou
telemóvel. Por isso, a nossa revista foi 100 por
cento pensada para web, com conteúdos do site
actualizados diariamente e uma edição da revista
nova todas as primeiras quintas-feiras de cada
mês”, refere. Sobre os motivos da aposta exclusivamente digital, José Mascarenhas explica que
“infelizmente as revistas masculinas em Portugal
Os hábitos de consumo de media
têm avançado em direcção à
digitalização, empurrados pela
massificação dos smartphones
e, sobretudo, dos tablets. A
oportunidade está nas prioridades
de vários títulos impressos,
que alargam presença a estes
dispositivos e há já alguns
projectos a nascer em exclusivo
no mobile ou a pensar mobile first
tendem a fechar e a Penthouse não foi caso
único. As causas são variadas e passam por
custos editoriais muito elevados, poucas vendas
em banca, pouca adesão por parte do público,
entre outros. Na Men’sCode reduzimos muitos
desses custos, abdicámos da edição impressa e
apostámos na divulgação online, em redes sociais,
blogues e fóruns”. Relativamente ao modelo de
negócio adoptado, o director editorial deste novo
projecto explica que estão “focados em criar um
bom produto, com bons conteúdos, com que o
público se possa identificar”. “O nosso objectivo
agora é criar audiência e dar a conhecer a marca,
que é desconhecida e, numa segunda fase, vamos
implementar um modelo inovador, baseado em
publicidade, com campanhas originais e eficazes
junto do target”, adianta, explicando que “para que
o modelo digital e online funcione teremos que
oferecer mais do que o print oferece actualmente
e não só oferecer branding. Para já, vamos investir
no crescimento da audiência. Queremos que este
segmento masculino não desapareça e até possa
crescer, de forma consistente, num modelo novo
e digital”, reforça.
Em Maio, arrancou aquele que foi anunciado
como o primeiro projecto de media nativo
digital em Portugal, o Observador, o único diário
generalista exclusivamente online no mercado
português. Questionado sobre se no desenvolvimento do projecto a preocupação digital first foi
também mobile first, Diogo Queiroz de Andrade,
director criativo do Observador, refere que “o foco
é o da coerência da experiência. Queremos que o
utilizador sinta que está no Observador independentemente de aceder via desktop ou mobile, via
app ou browser”, explica. Por isso, diz, “o nosso
produto é pensado para ser consumido da melhor
maneira possível nas várias plataformas, aproveitando o melhor que elas têm para o leitor de
modo a melhorar a sua experiência”. Apesar de
não terem assumidamente focado o mobile como
prioridade, a precupação de ter uma experiência
positiva nestes dispositivos parece ter dado frutos.
Segundo o director criativo do título, “até ao final
de Junho tivemos uma média de 39 por cento de
acessos mobile, com clara tendência de crescimento, e já temos picos acima dos 60 por cento”.
“As tendências de comportamento são claras,
em comparação com o utilizador de desktop, o
mobile faz mais visitas diárias, passando menos
tempo em cada visita. O consumo de informação é menos uniforme ao longo do dia, mas
mais constante ao longo do mês, configurando
um forte consumo também ao fim de semana
quando o tráfego de desktop se reduz”, adianta.
Olhando para estes números, Diogo Queiroz de
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As 10 melhores aplicações de revistas
O M&P analisou vários rankings que surgem um pouco por todos os meios
especializados em tecnologia no mercado internacional e descarregou
dezenas de aplicações para confirmar, ou descredibilzar, os mesmos. Fica
então uma selecção, subjectiva, de quais as 10 melhores aplicações de
revistas actualmente disponíveis no mercado, sem qualquer ordem já que
não pretendemos criar um ranking
Wired – Uma revista de tecnologia, ciência e inovação não podia deixar de
ser um case study nesta área e a Wired, detida pelo grupo britânico Condé
Nest, não deixa ficar os créditos em mãos alheias, sendo considerada por
muitos como a melhor de todas as aplicações de revista para tablet. Aliás,
nos vários rankings consultados pelo M&P, não houve um único onde não
constasse e a verdade é que a app, seja escolhida a edição norte-americana
ou a britânica (o M&P testou a primeira), não desilude, explorando todas as
potencialidades dos dispositivos móveis. Páginas interactivas, vídeos, infografias dinâmicas, fotografias que podem ser rodadas em 360º, está tudo
lá. Uma das revistas mais interactivas disponíveis, por apenas 1,79 euros
mensais na edição dos EUA (a edição impressa tem um preço de capa de 6
euros se comprada em Portugal).
Esquire – A revista masculina de lifestyle já tem na bagagem vários prémios
graças à sua edição para tablets e é, na opinião do jornalista do M&P, a
melhor do segmento, embora a app da GQ também esteja a bom nível. Mais
uma vez foi testada a versão norte-americana, cujo preço individual é de
3.99 euros mas desce para os 1.79 euros no caso de realizar a subscrição
mensal. Não é tão interactiva como a Wired mas o leitor tem muito material
extra edição impressa, com vários conteúdos exclusivos, como vídeos e fotografias das sessões fotogáficas que não chegaram a ser incluídas na edição
em papel, cartoons, além de capas alternativas. Os assinantes da edição
para tablet têm ainda o extra de receberem gratuitamente a nova Esquire
Weekly, uma pequena publicação semanal com o espírito da mensal que vai
assegurando que o utilizador não se esquece que tem a app no aparelho até
chegar altura de descarregar nova edição mensal.
The New Yorker – Se o que procura é interactividade esta talvez não seja
a melhor opção mas se é leitor assíduo da edição impressa esta é talvez a
aplicação que melhor capta o espírito da versão em papel e o transpõe para
o tablet, apresentando uma clara oferta de valor já que o preço de capa
tradicional de uma edição (a revista é semanal) vale uma subscrição mensal
para as quatro edições do mês. Pegando no espírito da revista, a edição
em tablet conta com slideshows exclusivos, vídeos e excertos áudio onde,
por exemplo, temos a oportunidade de ouvir os poetas declamarem o seu
trabalho.
National Geographic – O universo NG é o conteúdo por excelência para
dar vida a uma boa app, tendo em conta que a revista é sobretudo conhecida
pela qualidade do seu trabalho fotográfico e pelos conteúdos educativos. Na
versão tablet, essa vertente didática ganha novas dimensões com inúmeras
aplicações interactivas aos conteúdos, desde mapas a infografias, passando
por visitas 3D a espaços históricos, fotografias em 360º com a lente junto
a um leão ou até o próprio som do ambiente natural onde esteve o repórter
para escrever o artigo que está a ler. O imaginário de expedição e exploração
que tanto apela aos leitores da NG torna-se ainda mais imersivo. Além disso,
o leque de conteúdos exclusivos, como fotografias e vídeos, é vasto.
Andrade não tem dúvidas em afirmar que “quando
a tendência aponta para que mais de metade dos
nossos acessos seja mobile, isso torna-se naturalmente uma prioridade. Não só na forma como
pensamos as notícias, mas também na estrutura
criativa, no fornecimento de serviços associados
e no modelo de negócio, que passa muito pela
excelente relação que temos com os anunciantes”. E porquê a opção de desenvolver uma
app apenas para smartphones e não para tablets?
“Porque acreditamos, e os números confirmam,
que a experiência que o utilizador procura quando
acede em smartphone é diferente da de tablet. Na
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The Economist – Entre as chamadas newsmagazines internacionais,
o destaque vai para a aplicação da The Economist, para o M&P a mais
completa e bem conseguida. Uma das características interessantes é a
existência de uma versão áudio integral da revista, com todos os artigos a
poderem ser lidos ou ouvidos, sendo muito intuitivo e rápido oscilar entre
uma opção e a outra, além do que o download prévio da versão áudio
permite ouvir a leitura dos artigos em qualquer local em modo offline. Além
da revista semanal, o M&P destaca ainda a publicação do Intelligent Life
da Economist, uma revista trimestral que tem um preço de capa de 8 euros
nas bancas portuguesas e na versão para tablet é... totalmente gratuita,
mantendo toda a qualidade da edição de imprensa e adicionando-lhe
conteúdos exclusivos.
New York Magazine – Não é preciso viver em Nova Iorque para se render
a esta publicação e, se é o caso, a edição para tablets não desilude o leitor
da edição impressa, com uma grande oferta de valor. Mais uma vez, a aposta
passa pela transposição perfeita do formato a par de conteúdos extra exclusivos e a integração de conteúdos vídeo. Neste caso, há ainda o extra de
a aplicação poder oscilar entre a edição da revista e o site da revista, com
acesso a todos os conteúdos.
Fast Company – Tendo em conta o perfil de leitor do M&P, não podíamos
deixar de incluir este título, uma revista com artigos interessantes sobre
negócios, design, criatividade e novas tecnologias, que sabe colocar tudo
aquilo sobre o que escreve ao serviço da sua própria app, que conta com
muita interactividade e conteúdos multimédia.
Game Informer – O direito a estar nesta lista foi conquistado, logo à partida,
porque esta é a app de uma revista mais descarregada a nível mundial e
aquela que tem maior número de assinantes, ao ponto de a percentagem de
assinaturas digitais a nível mundial (que ronda os 3%), cair quase um ponto
percentual se não se incluir a Game Informer, sendo também aquela que tem
maior percentagem dos seus leitores no mundo digital (37% dos assinantes
da revista assinam o versão digital). Depois, porque, sendo uma revista do
universo dos videojogos, sabe servir o seu leitor com uma app carregada
de vídeos, galerias de fotos e materiais interactivos, com análises aos jogos
feitas em vídeo onde o leitor, além de ler o artigo, pode ver o jornalista jogar
o jogo testado enquanto dá a sua opinião e narra o que está a acontecer.
Mente – Uma lista das melhores apps de revistas feita por um meio
português não podia deixar de incluir títulos nacionais. Mas não é por uma
questão de quotas que a Mente está nesta lista, estando ao nível de muitas
das congéneres internacionais e, no que diz respeito ao aproveitamento
das potencialidades do dispositivo, até superando. É talvez a proposta mais
inovadora desta lista e deixa muitas vezes a sensação de “se isto é possível
de fazer porque é que os outros títulos não fazem?”. Algumas propostas de
design são arrojadas, mas primeiro estranha-se e depois entranha-se. E é
gratuita.
Revista – Entre os títulos nacionais não são muitas as revistas com boas
edições para tablet, ou sequer mesmo com edições para tablet. A Revista
do Expresso, sem ser profundamente inovadora relativamente à edição
impressa, está bem conseguida e é provavelmente a melhor proposta actualmente entre os principais grupos de media, a par da irmã de grupo Visão.
verdade isto implica que não tenhamos uma estratégia para mobile, mas duas, uma para acessos
via smartphone outra para acessos via tablet”.
“Com o site totalmente responsive e pensado para
utilização touch, fornecemos uma excelente experiência em tablet que é necessariamente diferente
daquela que se tem em smartphone. Continuamos
assim a apostar na segmentação da experiência,
mantendo a coerência da marca e do produto”,
garante o responsável.
Uma revista com o tablet em Mente
O único projecto editorial em Portugal criado
exclusivamente para tablet, neste caso mesmo
em exclusivo para o iPad, é a revista Mente, um
título com periodicidade trimestral criado pelo
atelier +2 Designers, de Vasco Colombo e Raquel
Porto. Trata-se de uma publicação gratuita, exclusiva para iPad e editada em inglês cujo primeiro
número foi dedicado a criadores de diversas
áreas, da moda à literatura, da música ao design
da ilustração à dança, e apresentava entrevistas
com o designer gráfico David Carson, com o
escritor, músico e ilustrador Afonso Cruz e com o
percussionista, produtor e DJ Jerry the Cat, perfis
da dupla de cinema Paula Garcia e da bailarina
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MERCADO
clássica Filipa de Castro, produções dos estilistas
Storytailors e Dino Alves, entre outras matérias.
Apesar de ser um atelier especializado em design
editorial, tendo desenvolvido projectos gráficos
para publicações como a UP, revista de bordo da
TAP Portugal, o Semanário Económico, revista
Estratégia (Angola), jornal Expansão (Angola)
e, mais recentemente, a revista NAU XXI, o +2
Designers abraçou este projecto exclusivamente
focado nos dispositivos móveis com a ideia de
que “há gente, ideias e lugares cujas histórias
podem ser valorizadas se contadas de uma forma
diferente. Há um caminho a explorar nas publicações para tablets, descurado pelos grupos de
comunicação que usam este suporte como mero
veículo para os conteúdos das suas edições
papel”, justifica ao M&P Vasco Colombo. Segundo
OPINIÃO
2014, o
Ano do
Mobile?
POR SAMUEL PORTUGAL
chief operations officer da Mobyd
Começar com esta questão é interessante porque
em minha opinião a resposta é “Não”!
E o não, não é por mobile ser o futuro, mas sim
porque é presente e está a acontecer, independentemente da evolução do mercado. O mobile
tem como principal vantagem poder adaptar-se às
várias realidades, quer sejam elas em mercados
emergentes, ou em mercados com maior ou menor
grau de desenvolvimento, como poderemos ver já
de seguida em alguns exemplos.
Temos exemplos de países emergentes em África
onde, por exemplo, a conta da electricidade é pré-paga, ou mesmo transações feitas em feiras e
mercados tradicionais, onde o saldo do telemóvel
é a forma de pagamento. Recordo-me também de
um exemplo na Rússia onde a diminuição da mortalidade infantil aconteceu com um simples envio de
SMS a alertar as pré-mamãs para as consultas,
vacinas e dicas para a altura das vagas de calor ou
de frio. Mas, em contrapartida, em mercados mais
evoluídos, temos soluções tecnológicas inovadoras
onde os consumidores são impactados em qualquer momento, em qualquer local e de uma forma
momento planos para a passar a Mente ao papel.
Aliás, a filosofia da revista é não ter um público
com fronteiras definidas, daí o estar apenas
em inglês. A passagem ao papel implicaria um
esforço financeiro para distribuição e impressão
fora das nossas possibilidades actuais”, responde
Vasco Colombo.
o profissional, a Mente surgiu “para criar novas
linguagens, bem como uma concepção diferente
das matérias, escolha dos meios mais adequados,
tipo de alinhamento, ritmo e equilíbrio de toda a
publicação, há um processo de desenvolvimento e
experimentação apenas possível numa publicação
desta natureza, sem os constrangimentos normais
dos projectos para clientes”.E fazer o caminho
inverso, do tablet para o papel? “Não temos neste
Mobile também na TV
Um dos meios de comunicação portugueses
que tem apostado no mobile, desta feita fora do
mundo da imprensa, é a RTP, com as aplicações
5i, até agora uma para o programa 5 Para a Meia-Noite, uma para o The Voice e outra dedicada ao
Mundial de Futebol. “O aumento do consumo de
programas pelo mobile é uma tendência crescente
contextual. Por exemplo, uma cadeia conhecida de
restauração (cafés), com a sua aplicação, consegue
enviar um push notification aos clientes que passam
perto das suas lojas com promoções de acordo com
o seu perfil de consumo. Já no Dubai chegamos
ao ponto em que o número de telemóvel é o equivalente ao nosso NIF, em que tudo é feito através
do smartphone, desde o pagamento de parquímetros, multas de trânsito e impostos, marcação de
consultas, entre outros.
Não podemos esquecer que, de acordo com vários
reports, existem mais de 6,6 mil milhões de utilizadores de telemóveis no mundo, dos quais, 2,7 mil
milhões utilizam estes dispositivos para aceder à
internet. Dados que permitem prever que o acesso
à web via smartphone vai ultrapassar os desktops/
laptops até ao fim deste ano. Quando olhamos para
o mercado em Portugal percebemos que mais de
metade dos portugueses já tem um smartphone;
ao nível dos tablets estamos perto de um milhão
e mais de 25 por cento do consumo de media é
por via de um dispositivo mobile. Os SMS foram
substituídos pelo IM (Instant Messaging) e, apenas
como curiosidade, os utilizadores reportam mais
depressa a perda de um telemóvel do que da
carteira. Este comportamento demonstra bem a
importância dos dispositivos móveis no nosso dia-a-dia. O consumidor português, como o consumidor
mundial, mais do que nunca, está “sempre ligado”.
E em Portugal, apesar de as marcas não investirem
ainda o esforço e respectivamente o seu budget de
uma forma proporcional ao crescimento e potencial que o mobile apresenta, começa-se e perceber
que já existe uma preocupação em acompanhar a
evolução e perceber como se devem preparar para
esta nova realidade.
Voltando ao meu “Não” inicial, e reforçando que
o objetivo não é ser controverso, quero apenas
salientar que o mobile é actual, transversal e adaptável a cada uma das realidades, seja ela, SMS,
IM, Mpayments, Mobile Marketing & Advertising,
Mgovernance, Mticketing, ou msm MLearning.
Não se surpreenda se no futuro a nossa saúde for
monitorizada em tempo real, se durante o dia recebermos dicas de como melhorar a nossa saúde, do
nosso médico, nutricionista ou personal trainer, ou
mesmo se sair do trabalho e através do seu smartphone preparar o jantar, uma vez que o robot de
cozinha, forno ou mesmo outros equipamentos,
estão todos ligados aos dispositivos móveis.
É a nova e cada vez mais realidade!
a que a RTP tem procurado responder. Fomos
os primeiros, em Portugal, a apostar num serviço
RTP Play e em aplicações móveis que permitem
assistir, em directo, às transmissões dos canais de
televisão e rádio”, refere ao M&P fonte oficial do
canal, sublinhando que “o projecto 5i foi também
percursor no sentido em que assenta nos novos
comportamentos do espectador, prolongando a
sua experiência televisiva através de tablets ou
smarthphones, nas redes sociais, em pesquisa
ou - agora - em interacção com os programas.
Interessa à RTP continuar nesta linha da frente,
apresentando projectos inovadores e úteis para os
utilizadores, tendo em conta os novos hábitos de
consumo”. A mais descarregada foi, de longe, a app
do Mundial, com quase 140 mil downloads.
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ESTUDO
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Marcas de
telemóveis
e tablets no
Facebook
NÚMERO DE FÃS
NÚMERO DE FÃS
Com mais de um milhão de fãs, a página da
Samsung Portugal destaca-se claramente de todas
as outras.
Em segundo e terceiro, ambas na casa dos 200 mil,
estão a LG Portugal e a Nokia Portugal. A página da
LG foi a que registou o maior crescimento durante o
tempo deste estudo, aumentou 2%, o que equivale
a mais de 5 mil novos fãs entre 6 e 9 de Julho.
Com menos fãs, das cinco analisadas, está a Asus
Portugal, que fica nos 87 mil.
POSTS DAS FAN PAGES
A Asus destaca-se quando avaliamos a actividade
da página, com 22 posts publicados tem uma média
de três publicações por dia. Os conteúdos variam
entre produtos e eventos promovidos pela marca
com grande destaque para o Estádio ASUS, que
teve lugar na Avenida da Liberdade em Lisboa, e
onde a marca convidava a assistir aos jogos do
Mundial.
Seguem-se três páginas, cada uma com cinco
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POSTS DAS
FAN PAGES
Análise do top 5 páginas portuguesas
de marcas de telemóveis e tablets com
mais fãs, segundo o Social Bakers,
com o Facebook Pages Performance,
ferramenta do Buzzmonitor. Estudo
realizado entre 3 e 9 de Julho pela
e.Life
TALKING ABOUT
posts numa semana, LG, Nokia e Toshiba fizeram a
mesma aposta em número de publicações.
Já a Samsung fica no fim desta tabela pois não
regista actividade, tem zero posts durante a semana
da análise.
ENGAGEMENT
DISTRIBUIÇÃO
DE INTERACÇÕES
nesta métrica que relaciona interacções com
número de posts e de fãs da página, é a da Asus
com 0,028%. A Samsung, cuja página de Facebook
esteve inativa durante o tempo do estudo, tem um
engagement de 0%.
*ENGAGEMENT = Interacções (Likes + Shares + Comments nas
TALKING ABOUT
LG é a marca mais falada pelos utilizadores do
Facebook, passa os 41 mil quando quantificamos
“people talking about”.
Segue-se Samsung com mais de 34 mil e, em
terceiro, a grande distância das primeiras, a Nokia
tem mais de 7 mil referências.
A menos popular, na casa das mil menções, é a
Toshiba.
*Menções feitas pelos fãs das páginas e utilizadores fora delas.
ENGAGEMENT
A página com mais alta média de engagement é da
Nokia com 0,047%, seguida de perto pela LG, com
0,040%. Em terceiro, está a Toshiba com 0,033%
Das páginas activas, a que fica em último lugar,
publicações da página) x 100/ (n.º de posts no período /total de
fãs no período)
DISTRIBUIÇÃO DE INTERACÇÕES
A LG foi quem registou mais interacções, a sua
página aproxima-se das 540 reações, por parte dos
utilizadores, das quais 82% são likes. Em segundo
lugar, com 498 interacções, está a Asus e a seguir,
com 454 e a maior percentagem de todas (87%)
em Likes, fica a página da Nokia.
Em quarto lugar, fica a Toshiba a contar apenas 146
likes, 74 comments e 4 shares, o que dá um total de
192 interacções numa semana.
A página da Samsung, que não publicou qualquer
conteúdo entre 3 e 9 de Julho, não tem interacções,
o seu resultado é zero.
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30
MERCADO
Digitalizar
profissionais
de marketing
As necessidades das
empresas no que diz respeito
à actualização dos seus
profissionais de marketing
com competências na área
digital fizeram com que a
oferta formativa despontasse.
O M&P falou com quatro
das principais instituições
de formação e mostra-lhe a
oferta para o ano lectivo que
vai arrancar em Setembro
PEDRO DURÃES
Alexandre Duarte, director-geral
da Restart
Programação Web, Mobile e Tablet, Interactive e
Motion Design, Digital Marketing & Strategy, Tablet/
Mobile Design & Development, Mobile de UI&X
Design. Estes são apenas alguns dos novos cursos
que vêm surgindo em algumas das instituições de
formação contactadas pelo M&P. Com o mobile a
ganhar cada vez mais importância na estratégia de
comunicação das marcas, as empresas e as agências têm fome de profissionais digitais. Mas afinal,
o que procura o mercado nos profissionais? Especialização ou abrangência? Um faz-tudo ou alguém
muito focado numa função específica? “O mercado
procura profissionais com competências cada vez
mais abrangentes, que possam corresponder àquilo
que hoje são as necessidades das empresas, pessoas
com capacidade de projectar uma comunicação
integrada que vá desde o marketing digital, mobile
ao tradicional”, aponta Manuela Carlos, presidente
da ETIC. Opinião partilhada por Gabriel Augusto,
director da Flag, do grupo Rumos, para quem “nos
sectores da comunicação, marketing e publicidade,
a multi e interdisciplinaridade de competências é um
requisito bastante procurado por parte das entidades
empregadoras. No actual mercado de trabalho são
exigidas aos profissionais cada vez mais competências, e aqueles que dominem o maior número de
vertentes acabam por ter uma maior vantagem face
aos restantes candidatos”.
Já na opinião de Alexandre Duarte, director-geral da
Restart, “felizmente estamos a regredir do conceito
do faz-tudo e a regressar novamente ao conceito
do especialista. Daí que faça também sentido que
tenhamos uma formação dedicada a áreas diferentes no digital pois vão formar profissionais para
Daniel Devera, fundador e director
pedagógico da EDIT
mercados e produtos diferentes”. Nas palavras deste
responsável, “o próprio mercado das empresas já
começou a fazer essa divisão e hoje encontramos
grandes agências com grupos focados apenas
no digital, outros no interactivo, outros no design
gráfico, etc. Daí que o mercado já sabe o que precisa,
quando ainda recentemente procurava profissionais
que soubessem fazer tudo, o que é extremamente
contraproducente”. “Actualmente, o mercado procura
a pessoa específica para uma determinada função,
separando criação de aplicações, por exemplo, da
criação de sites ou de activações de marca que
usem instalações interactivas de grande dimensão”,
considera.
O perfil do profissional de marketing
adaptado ao digital
Independentemente da abrangência das suas
competências, qualquer profissional de marketing deve acompanhar a evolução e a viragem ao
digital. Nesse sentido, segundo Gabriel Augusto, “é
determinante que o profissional reconheça, independentemente da sua especialização, que se trata,
antes de mais, de um profissional de marketing e
que a sua intervenção é parte integrante de uma
estratégia global, com um âmbito que vai para além
das ferramentas, tecnologias, plataformas e canais
normalmente associados ao digital. Da mesma
forma, qualquer profissional de marketing digital,
independentemente da sua especialização, deve ter
as competências necessárias para encarar o digital
de uma forma transversal e integrada, com conhecimentos que vão desde a criação de conteúdos à sua
optimização para motores de pesquisa, publicidade
Gabriel Augusto,
director da Flag
paga nas mais diversas plataformas e canais, gestão
de redes sociais, e-mail marketing, mobile marketing, entre outros”, refere. Além disso, diz, “estas
competências não se limitam a um âmbito técnico
de operacionalização, mas também pressupõem
uma visão estratégica, elevada capacidade analítica
e criatividade, para que a sua intervenção aporte
um valor maior do que apenas a soma das várias
partes que a compõem”. “Existem ainda outras valências que podem ser muito importantes para quem
pretende trabalhar nesta área, como a utilização de
ferramentas de edição e tratamento de imagem, e/
ou linguagens de formatação e programação web.
Muito embora sejam saberes distintos da área de
marketing, são skills complementares que enriquecem o profissional e o tornam mais autónomo,
eficiente e eficaz”, considera.
Por seu lado, Daniel Devera, fundador e director
pedagógico da EDIT, refere que “o perfil que se
procura deve ter uma cultura visual, bem estruturada
e sedimentada em pressupostos cognitivos básicos,
de saber ler, escrever e desenhar para estruturar do
melhor modo os conceitos básicos da comunicação.
Estar atento ao mundo que os rodeia, socialmente e
tecnologicamente, mas não de uma maneira massiva,
e até um pouco selectiva, mas sem deixarem de
ser acima de tudo, mentes abertas e que saibam
reagir em momentos de stress”. “No momento em
que vivemos, a conjugação do que foi referido em
conjunto com a uma boa dose de criatividade e o uso
correcto da tecnologia faz toda a diferença quando se
contrata um profissional de comunicação, marketing
e publicidade”, aconselha. A somar a estes aspectos,
Alexandre Duarte considera que um profissional,
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O que propõem para o ano lectivo
que arranca em Setembro?
Manuela Carlos,
presidente da ETIC
para ter um perfil adequado a trabalhar nesta área
digital, “deve obviamente solidificar conhecimentos
de programação e design, mas principalmente deve
treinar os conceitos de usabilidade e isso faz-se
através do treino diário de conhecimentos de prototipagem rápida de UI e UX, com Agile Design ou
outros modelos inovadores”. Além disso, sublinha,
“deve ser muito bom na gestão de projecto, sabendo
planear as etapas e milestones da forma mais eficaz
possível. E depois deve estar sempre atento ao que
se vai criando e experimentado novas ferramentas,
novas aplicações e novas tecnologias. As tendências
evoluem muito rapidamente hoje em dia daí que é
preciso um acompanhamento constante daquilo que
se vai fazendo ao nível global”.
Uma boa formação na área digital deve...
Olhando para o perfil procurado, e para tentar ajudar
os profissionais a decidir quais as melhores ofertas
formativas, o M&P traça-lhe quais devem ser os
aspectos focados numa formação a pensar nas
novas tecnologias da comunicação, em especial
o mobile. Segundo Alexandre Duarte, usabilidade,
ferramentas, modelos de negócio e criatividade
adaptativa são os elementos essenciais. “Se uma
aplicação não for intuitiva, rápida ou fácil vai ter
dificuldade em penetrar num mercado saturado. É
a má usabilidade que pode ‘matar’ à partida uma
aplicação brilhante em temos gráficos. Depois as
ferramentas, saber o que escolher. Não vale a pena
usar código pesado de Objective-C se vamos criar
algo muito simples. Existem ferramentas adequadas
para cada processo e é necessário os alunos
saberem as principais e quando as escolherem.
Os modelos de negócio são o que pode sustentar
a vida de uma aplicação, de um profissional ou
de uma equipa financeiramente. Modelos com
publicidade, modelos freemium, modelos pagos, a
formação deve ensinar quais as formas existentes
de vender uma aplicação e saber quais escolher.
Criatividade Adaptativa, podemos fazer a nova
tendência de design e não ser adequada ao target
da aplicação. Daí que devemos tentar ser sempre
o mais criativos possível tanto nos conceitos,
formas de interacção ou no design, mas sempre
adaptado às necessidades do consumidor final”,
explica. No mesmo sentido, para Manuela Carlos,
“user experience e user interface, conhecimentos
de interacção homem-máquina e experiência do
utilizador”, são os aspectos mais importantes, assim
como “aprendizagens das percepções dos aspectos
práticos tais como a utilidade, a facilidade de utili-
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EDIT
“Temos cinco programas de longa duração, dois
programas intensivos e quatro workshops que se
adaptam ao mercado e que englobam áreas estratégicas, técnicas e criativas como o marketing
digital, o desenvolvimento de apps em mobile, a
criatividade digital e UX - experiência do utilizador.
Para o ciclo de formação de 2014/15 iremos
rever alguma da nossa oferta formativa actual em
conjunto com as nossas agências digitais parceiras
e com os profissionais da área que fazem parte
do nosso corpo docente, reestruturando alguns
dos programas actuais, já que isso faz parte da
nossa filosofia enquanto escola de constante
insatisfação com o que pode ser sempre melhorado nos conteúdos programáticos e também de
adaptação ao mercado. Estamos a preparar uma
série de novos programas e workshops, focados
em temáticas como o mobile, a gestão de projecto
e novas áreas do marketing de maneira a suprir
algumas das necessidades que ao longo fomos
observando no mercado e que nos foram transmitidas por alunos, professores e agências da nossa
rede de parceiros”, aponta Daniel Devera, fundador
e director pedagógico da EDIT.
ETIC
“A Etic para o próximo ano oferece a seguinte
formação com a duração de um ano lectivo: Curso
de Mobile de UI&X Design e Curso de Mobile
Developent. Durante o ano é normal oferecermos
alguns workshops ou formações mais curtas”,
refere Manuela Carlos, presidente da ETIC
Flag
“Destacamos os cursos nas áreas de marketing
digital e desenvolvimento para web e mobile.
Em ambas as áreas oferecemos diferentes soluções formativas, que vão desde a formação de
calendário, com programas, datas e horários pré
estabelecidos, até à formação é medida, mais
procurada pelas empresas, que se destaca da
primeira por uma total flexibilidade de conteúdos,
horário, datas e local de realização, passando
ainda por uma formação mais focada num só
formando, totalmente personalizada, denominada
de formação one-to-one. No novo ano lectivo
que se aproxima, pretendemos, por um lado, dar
continuidade à oferta existente no nosso portfólio,
com as devidas actualizações que se imponham,
quer ao nível de novas versões de software, quer
zação e a eficácia do sistema”.
Gabriel Augusto chama atenção para o facto de que
“quando se trata de formação, o enfoque, independentemente da área ou tecnologia em questão, deve
ser a orientação para o saber-fazer, para a componente prática. Tendo em conta esta premissa, os
conteúdos a ministrar deverão responder às actuais
necessidades do mercado, de forma a que o investimento efectuado tenha um impacto imediato nas
tarefas diárias de qualquer profissional e contribua
directamente para a produtividade da empresa em
que este esteja inserido”. Já Daniel Devera acredita
que “num princípio mais básico, o método exposi-
ao nível de melhoramentos e ajustes aos conteúdos programáticos, de forma a garantir a sua
total adequação e orientação ao mercado de
trabalho atual. Por outro lado, iremos apostar no
lançamento de novas formações, complementares à nossa especialização, nomeadamente nos
domínios do e-commerce, recrutamento digital e
accounts digitais. Um pouco fora desta área mas
também complementar iremos ter a nova área de
game design”, indica Gabriel Augusto, director da
Flag
Restart
“Na área digital e mobile temos para 2014/2015,
quatro cursos anuais especializados:
- Programação Web, Mobile e Tablet. O curso
foca-se na criação de apps para a Web através da
aprendizagem de Javascript , Node.js e HTML5, e
para mobile e tablet para a criação de aplicações
em Android SDK e em iOS SDK. Existe também o
ensino da prototipagem de User Interface e User
Experience.
- Interactive e Motion Design, vocacionado para
designers que queiram complementar os seus
conhecimentos com as áreas de Web Development, Motion Graphics, 3D e criação de apps. No
Web Development, que é uma das componentes
mais fortes do curso, avançamos do básico até
chegarmos a tendências actuais do mercado
como Responsive Design e HTML5. Em Motion
Graphics e 3D aprendem os softwares mais
usados do mercado no sentido de criar identidades e outras peças e design em movimento,
enquanto que o desenvolvimento de apps é um
módulo muito mais curto que um curso e daí
que os torne minimamente autónomos mas sem
usarem programação.
- Criação Digital, que inclui módulos como Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Videomapping,
Processing, Videojogos, Sistemas Interactivos,
Apps, em que os alunos aprendem a criar obras e
peças que possam destinar-se tanto a fins comerciais como a fins artísticos.
- Videojogos, para a criação autónoma de videojogos em todas as suas componentes, do Game
Design, à criação de arte gráfica, programação,
level design, etc, e que no final pode ser continuado com a produção de jogos digitais para
consolas, para computadores, para web e para
mobile e tablets”, detalha Alexandre Duarte,
director da Restart.
tivo em que se mostram bases de trabalho e estudo
de casos é o mais lógico. O aluno só aprende bem
quando o faz por observação, reflexão e experimentação num estágio inicial”. Depois, diz, “podemos
passar a métodos mais activos e criativos, desenvolvendo, não apenas a sua formação intelectual, mas
também as suas aptidões técnicas e assim como a
sua energia criadora de uma maneira integrada com
as matérias a leccionar”. “Se nos focarmos no mobile
iremos aplicar um mix de tecnologia e criatividade
de maneira a contar histórias de um modo diferenciador, integrando-as depois numa estratégia global
de comunicação”, refere o fundador da EDIT.
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