“INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA PARA A COMPETITIVIDADE
AMBIENTAL DA INDÚSTRIA BRASILEIRA”
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia IBICT e Universidade de
Brasília -UNB
Junho 2005
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Sumário
1.CONTEXTO ................................................................................................................ 3
2. OBJETIVO ................................................................................................................. 6
2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 6
3. RESULTADOS ESPERADOS .................................................................................. 7
4. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 8
4.1. ACV E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ....................................................................... 8
4.2. ACV E O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO......................................................... 9
4.3. ACV E SELO VERDE TIPO III .................................................................................. 9
4.4. ACV E IMPLICAÇÕES PARA O TERCEIRO MUNDO .................................................. 10
5. METODOLOGIA..................................................................................................... 11
6. DURAÇÃO DO PROJETO..................................................................................... 12
7. PARCERIAS............................................................................................................. 15
8. CUSTOS PREVISTOS ............................................................................................ 15
8.1. CUSTOS FASE INICIAL ........................................................................................... 15
8.2. CUSTOS FASE EXECUÇÃO ...................................................................................... 15
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1.Contexto
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma poderosa metodologia para analisar os
impactos ambientais de materiais, processos e produtos ao longo de todo o seu Ciclo de
Vida (CV). Entre os especialistas não existe dúvida quanto à existência de possibilidade
da análise e da caracterização de processos utilizando uma perspectiva de CV. Muitos
anos de pesquisa, discussões cientificas e padronização através da série ISO14040
ajudaram no desenvolvimento da ACV. Nesse contexto, a ACV tem o potencial de ser
uma eficiente ferramenta para guiar a gestão ambiental de empresas e direcioná-las para
o desenvolvimento de novos materiais, processos e produtos com melhor desempenho
ambiental.
Entretanto, a ACV não está ainda totalmente estabelecida como uma metodologia de
auxílio à tomada de decisões no setor industrial. Recentes pesquisas nos países
Europeus demonstram que:
Há uma discrepância entre a vontade da indústria de manufatura de desenvolver
produtos ambientalmente amigáveis e a aplicação de medidas para alcançar este
objetivo. Em particular, apesar de 90% dos que participaram na pesquisa declararem
que prestam atenção ao critério ambiental, somente 13% mencionaram que usam a
ACV. Mais, quase 50% declararam-se não conhecedores de ferramentas de análise que
utilizem o conceito do Ciclo de Vida. As grandes empresas são as principais usuárias
desta técnica;
• As Pequenas e Médias Empresas (PME) declaram que têm grande dificuldade de
aplicar a metodologia, fundamentalmente em função da sua complexidade;
• Outro resultado importante é que esta técnica é geralmente utilizada em estudos
retrospectivos, e que a expectativa de que a ACV fosse usada pró-ativamente no
processo de design de produtos e processos não foi atendida.
Essas pesquisas salientam alguns dos obstáculos das empresas no uso da ACV, e
identificam os principais pontos que devem ser aprimorados na metodologia:
- As pesquisas em ACV têm feito com que o método seja mais preciso, mais
confiável e mais transparente, mas também mais complexo;
2. Uma restrição básica nos estudos de ACV é a grande quantidade de dados
necessária. Mesmo havendo (não é o caso do Brasil) bases de dados que descrevam
o inventário dos ciclos de vida (ICV) do commodities básicas (energia, transporte,
matérias-primas básicas), os processos de produção são específicos caso a caso, e
assentam em parâmetros técnicos. Isso faz com que seja difícil a coleta e o
fornecimento de informações técnicas gerais, o que exige maior quantidade de
pesquisas para aprofundar o conhecimento sobre o tratamento desses processos de
manufatura na ACV;
3. A maior parte dos sistemas produtivos é baseada em processos de manufatura e
o projeto ambientalmente amigável de novos produtos e processos não é somente
dependente de novos materiais. Nesse contexto, as empresas precisam de uma infraestrutura e de assessoramento na etapa de coleta de dados e do seu uso numa ACV
nos seus processos de manufatura, além de precisarem de modelos confiáveis (e já
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aceitos pela comunidade) de ACV para os seus próprios processos considerados
relevantes na cadeia decisória.
3. A maior parte dos sistemas produtivos é baseada em processos de manufatura.
Projetos ambientalmente amigáveis de novos produtos e processos não são somente
dependentes de novos materiais. Nesse contexto, as empresas precisam de infraestrutura e assessoramento na etapa de coleta de dados e do seu uso em uma ACV nos
seus processos de manufatura, além de precisarem de modelos confiáveis (e já aceitos
pela comunidade) de ACV para os seus próprios processos considerados relevantes na
cadeia decisória.
Na União Européia, está em desenvolvimento um conjunto de medidas, conforme
consta do Livro Verde da Política Integrada de Produto – Green Paper on Integrated
Product Policy – (IPP), que busca contribuir para a melhoria da qualidade do meio
ambiente e para a preservação dos recursos, baseando-se em 5 princípios: conceito de
ciclo de vida; relação com o mercado; participação das partes interessadas;
aperfeiçoamento contínuo; instrumentos políticos diversos para enquadramento
econômico e jurídico, promoção do conceito de ciclo de vida e informação aos
consumidores.
Esta Política está em implantação e, no momento, seu desenvolvimento é feito por meio
de casos piloto, que permitem o desenvolvimento e sistematização dos instrumentos, de
forma que os mesmos alcancem seus objetivos com impactos aceitáveis à economia.
Dados de um Inventário de Ciclo de Vida (ICV), são informações que descrevem os
fluxos de entrada e saída de um determinado modelo de um sistema técnico, que sejam
ambientalmente relevantes. Matéria e energia são usadas nesses sistemas técnicos de
forma a preencher sua função.
Sistemas técnicos estudados por uma ACV podem ser desde trechos de uma linha de
produção, unidades industriais inteiras, rotas de transporte, até o limite de sistemas de
produção complexos de um determinado produto. Nesse contexto o produto é avaliado
desde o seu “nascimento” (extração da matéria-prima) até a sua “cova” (a sua
disposição ao fim da sua vida útil).
Vale ressaltar que esses sistemas técnicos podem ter estruturas internas descritas, por
sua vez, por outros sistemas técnicos. Desta forma, um inventário de ciclo de vida
compreende, na realidade, um complexo e abrangente conjunto de inventários dos ciclos
de vida dos diversos sistemas (e subsistemas) técnicos, que compõem o parque
produtivo de uma determinada região.
Durante 25 anos, importantes organizações científicas e industriais têm trabalhado no
desenvolvimento da ACV, empreendendo esforços na aplicação desta metodologia.
Embora exista, após esse período, uma considerável quantidade de dados de ICV
(inventários de ciclos de vida), existem também grandes restrições ao uso prático destes
dados, pois:
•
Inventários de ciclos de vida existem em diferentes bases de dados, o que
pode caracterizar uma inconsistência entre a modelagem e o formato dos
dados;
4
•
Freqüentemente existem falhas na informação existente o que afeta
diretamente a confiabilidade dos resultados de uma ACV;
•
Em geral, não existem atualizações freqüentes, nem um processo de
harmonização para garantir a qualidade do inventario do ciclo de vida.
No âmbito do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), a empresa Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep), em dezembro de 2001, aprovou projeto apresentado pelo
Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia (IBICT) e Confederação Nacional da Indústria (CNI) Esse projeto
surgiu em resposta à encomenda do MCT para formulação e elaboração de um sistema
de informação para tecnologia industrial básica (SISTIB). O SISTIB reúne um conjunto
de subprojetos especialmente dirigidos à informação tecnológica da empresa nacional
no tocante ao atendimento dos requisitos do comércio internacional. Dentre esses
subprojetos, foi solicitado o desenvolvimento de bases de dados sobre a oferta e a
demanda de serviços tecnológicos e de um site de informação sobre Avaliação de Ciclo
de Vida (ACV).
Em 29 de novembro de 2002, o IBICT foi convidado a participar do Seminário de
Avaliação de Ciclo de Vida promovido pelo ABNT/CB38 - Comitê Brasileiro de Gestão
Ambiental, do qual participaram instituições normalizadoras, institutos de pesquisa,
empresas, dentre outras. No seminário, foi apontada a necessidade do desenvolvimento
de um site informativo, visando a disseminação do conceito e da importância da
metodologia da Avaliação do Ciclo de Vida.
Em maio de 2003 o IBICT apresentou a proposta de estrutura de um sistema de
informação, cuja etapa referente ao site informativo (www.acv.ibict.br) foi cumprida em
maio de 2004 (conteúdo elaborado pela empresa de consultoria Sextante e validado
pelas instituições parceiras do projeto).
Entendendo que qualquer iniciativa formal, por exemplo, de certificação, com base em
ACV necessita do suporte de um inventário de ACV confiável, que tenha credibilidade
científica, técnica e informacional, com estrutura robusta, de acordo com normas e
formatos internacionais, observando-se as especificidades do Brasil, o IBICT
apresentou ao MCT, no âmbito do projeto Programa de Capacitação Institucional (PCI),
um projeto com o objetivo de desenvolver uma estrutura de inventário brasileiro para
armazenamento de dados sobre ACV. O projeto recebeu 6 bolsas de Desenvolvimento
Tecnológico Industrial (DTI), incluindo uma para especialista em gestão ambiental
/ACV e vem iniciando suas atividades em parceria com a Universidade de Brasília.
Visando integrar ações no âmbito do tema, foi articulada no Rio de Janeiro, no Instituto
Nacional de Tecnologia (INT), em outubro de 2004, a apresentação de uma proposta de
projeto com o intuito de suprir a lacuna acima descrita, promovendo uma maior
compreensão da perspectiva do Ciclo de Vida para o industrial brasileiro com a
realização de pesquisas interdisciplinares no campo da ACV e a aplicação deste
conhecimento avançado no desenvolvimento de modelos dos ciclos de vida dos
processos de produção existentes na indústria brasileira.
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2. Objetivo
Este projeto tem por objetivo desenvolver um sistema de informação de Inventários do
Ciclo de Vida dos materiais/produtos/processos produtivos mais relevantes para a
sociedade brasileira. Este sistema de inventário conterá informações sobre a quantidade
e qualidade dos insumos materiais e energéticos, dos produtos e das emissões líquidas,
gasosas e sólidas, oriundos do funcionamento do sistema produtivo nacional, e será
parte fundamental para a aplicação da metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida dos
Produtos - ACV, como especificado pela família de normas ISO 14040.
Permitirá aumentar o conhecimento sobre os impactos ambientais das atividades
industriais brasileiras e, dessa forma, desenvolver e aplicar processos com melhor
desempenho ambiental, reduzir os impactos ambientais e os custos a eles associados, e
permitir um processo decisório baseado nesse conhecimento, contribuindo para a
competitividade dos produtos brasileiros no mercado global, cada vez mais exigente em
matéria ambiental, particularmente diante dos novos regulamentos em desenvolvimento,
a exemplo da Política Integrada de Produto da União Européia.
Nesse contexto, o conhecimento de inventários do ciclo de vida (ICV) constitui um dos
mais importantes processos e tem que ser aprofundado. Além disso, modelos
específicos para setores industriais, bem como ferramentas computacionais específicas
são necessárias para tornar disponível esta informação para os gestores industriais.
De forma a atingir estes objetivos, é necessário incorporar as necessidades e
expectativas da indústria brasileira no âmbito do tema ACV, com a aplicação de
projetos temáticos de forma a demonstrar a eficiência no uso de metodologias e de
ferramentas avançadas de gestão ambiental para suprir as respostas necessárias a uma
eficaz gestão industrial.
O desenvolvimento de novas estruturas de informações e a adaptação das ferramentas
de análise já existentes para a modelagem e a interpretação do ciclo de vida dos
processos produtivos estará em sintonia com a demanda do parque industrial brasileiro,
fornecendo os resultados necessários para a aplicação prática da perspectiva do ciclo de
vida.
2.1. Objetivos Específicos
1. Construir e desenvolver um inventário do ciclo de vida, consistente
com elevada qualidade, de setores do parque industrial brasileiro;
2. Construir banco de dados para armazenamento dos ICV’s brasileiros,
em conformidade com padrões internacionais estabelecidos.
3. Estabelecer uma plataforma de comunicação sobre atividades de ICV
no Brasil, internalizando a cultura e estabelecendo uma rede
permanente de especialistas brasileiros e convidados estrangeiros;
4. Fornecer dados de ICV a grupos específicos do tecido industrial
brasileiro para permitir a elaboração de processos baseados em ACV,
estimular o uso e difundir informações sobre o ciclo de vida dos
produtos.
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5. Capacitação de três setores produtivos da indústria brasileira em ICV
equipe de trabalho para desenvolvimento e manutenção do projeto
Para atingir esses objetivos é necessária a ação coordenada dos esforços de pesquisa
básica e aplicada, no campo da gestão ambiental envolvendo academia, institutos
tecnológicos, associações técnicas e empresariais e empresas que atuam nesse campo.
Este projeto deve, ainda, ser acompanhado de outras iniciativas, que devem ser
concebidas a partir de uma observação estratégica de:
- ameaças e oportunidades representadas, na vertente ambiental, pela
urgência de resolver algumas lacunas, tais como os resíduos tóxicos e a
exaustão de recursos naturais que precisam do conceito de ACV para ser
mais bem equacionadas e, na vertente econômica, pelo impacto das
novas demandas, ligadas a ACV sobre a competitividade da indústria
brasileira.
- Forças e fraquezas das produções brasileiras, dotadas de vantagens como
a elevada produtividade agrícola e as características únicas de nossa
matriz energética, e de desvantagens, tais como a existência de áreas
com atraso tecnológico e as carências quanto a bancos de dados e
metodologias de caracterização de impactos que contemplem a real
situação do País.
Tais iniciativas poderão se inspirar no conjunto de iniciativas do IPP e deverão ser
entendidas como complementos fundamentais do trabalho ora proposto.
3. Resultados Esperados
I. Banco de dados desenvolvido contendo o Inventário do Ciclo de Vida de
determinados setores produtivos da economia brasileira, com elevada
acessibilidade e que permita uma rápida integração para o
desenvolvimento de Avaliações do Ciclo de Vida, como descrito pela
família de normas ISO 14040;
II. Metodologia de gestão do banco de dados implementada;
III. Rede de cooperação nacional e internacional em ACV estabelecida;
IV. Empresas, dos setores propostos para o projeto, sensibilizadas para
Avaliação de Ciclo de Vida;
V. Portal de ACV desenvolvido e implementado;
VI. Prática da Avaliação do Ciclo de Vida incorporada nos setores privados e
públicos;
VII. Inventário de ciclo de vida dos setores industriais propostos no projeto.
Os resultados secundários a serem obtidos no decorrer desse projeto são:
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I. Aumento do conhecimento das relações entre materiais e processos de
produção;
II. Desenvolvimento de inovações tecnológicas (produtos e processos) com
melhor desempenho ambiental;
III. Aumento da lucratividade e sustentabilidade da produção industrial;
IV. Uso otimizado de recursos e de energia;
V. Otimização das operações de fim-de-vida relacionadas às tecnologias de
produção.
4. Justificativa
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), também conhecida na sua forma inglesa como
Life Cycle Assessment (LCA), é um processo objetivo para avaliar os impactos ao meio
ambiente e à saúde, associados a um produto, processo, serviço ou outra atividade
econômica, em todo o seu ciclo de vida. [SETAC, 1990]
Dessa forma, a ACV, como ferramenta sistemática e integradora, é um instrumento
apropriado para apoiar a tomada de decisões relacionadas às questões ambientais e,
conseqüentemente, relativas a sustentabilidade de produtos, processos e atividades. A
ISO unificou a ACV como a série ISO 14040, cujo teor vem sendo traduzido e
incorporado como normas brasileiras pelo Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental (CB
38) da ABNT.
4.1. ACV e a Inovação Tecnológica
A relação entre a gestão ambiental e a inovação ambiental engloba problemas
especificamente relacionados à melhoria do desempenho ambiental da empresa, ao
impacto da aplicação da legislação ambiental nas inovações tecnológicas, e a como as
pequenas e médias empresas (PME) podem participar de um procedimento de ecogestão devido à pressão do cliente.
A inovação ambiental, enquanto parte de um processo, indica os problemas básicos para
a pesquisa empírica. Os indicadores convencionais de desenvolvimento de inovação
tecnológica e de competitividade não são capazes de avaliar a efetividade do sistema
produtivo em um sentido amplo. Dessa forma, uma nova e mais abrangente categoria de
indicadores faz-se necessária, como, por exemplo, à quantificação /qualificação de
recursos tangíveis e intangíveis e as relações sociais entre os atores econômicos e
sociais, aplicadas não só às empresas, mas também aos estabelecimentos de ensino, às
instituições de pesquisa, ao governo e aos diversos grupos sociais.
No longo prazo, a Avaliação do Ciclo de Vida pode prover as mudanças tecnológicas
fundamentais na produção e nos produtos, em parte devido ao efeito multiplicador ao
longo da cadeia de produção, inclusive no uso otimizado de energia e de materiais, com
a redução de material depositado em aterros por meio do uso de processos de
reciclagem e de re-uso.
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Outro efeito potencial para a inovação tecnológica como resultado do pensamento do
ciclo de vida é que a mudança no padrão de comportamento a favor do ambiente pode
aumentar a pressão na cadeia produtiva. É provável que isso tenha um impacto na
inovação do produto, porque os clientes exigirão certos tipos de produto mais
ambientalmente amigáveis.
Na seqüência, deve-se esperar que até mesmo seja exigida das PME a existência de
alguma infra-estrutura de administração ambiental, principalmente em decorrência de
exigências oriundas dos seus clientes que já mantêm o seu próprio sistema de ecoadministração.
4.2. ACV e o Desenvolvimento Tecnológico
No contexto da globalização, os países em desenvolvimento têm feito enormes esforços
para melhorar o desempenho ambiental das suas atividades produtivas. Em diversos
países da América Latina já foram implementados regulamentos ambientais que
estabelecem o nível de poluentes nas emissões industriais para o meio ambiente
(resíduos líquidos e sólidos), ou os níveis de poluentes em águas superficiais e na
atmosfera. Estes países também implementaram tecnologias mais limpas e têm levado a
cabo, continuamente, muitos projetos e estudos que quantificam indicadores ambientais
que auxiliam legisladores e gestores. Estas medidas têm significado, na maioria das
vezes, somente um ato paliativo. As demandas por ações pró-ativas com relação ao
ambiente tiveram lugar tardiamente nos países de América Latina, se comparados, por
exemplo, com as regiões econômicas União Européia, Nafta, e mesmo com a AsiaPacific Economic Cooperation (APEC).
As informações reunidas no âmbito da área conceitual da ACV permitem avaliar os
efeitos ambientais oriundos da cadeia produtiva inteira e das ações operacionais
executadas, enquanto quantificam as repercussões tanto para trás como para frente na
cadeira produtiva. Desse modo, o processo de decisão baseado em uma ACV conduz a
ações mais efetivas, por conseguinte com maior sustentação no longo prazo, com
relação à redução dos custos econômicos e ambientais para as empresas e para o País.
4.3. ACV e Selo Verde Tipo III
Cada país pode estabelecer regulamentos, políticas, medidas ou práticas governamentais
para dificultar o acesso de mercadorias importadas. As barreiras comerciais podem ser
classificadas em três grupos: a) barreiras tarifárias; b) barreiras não-tarifárias; e c)
barreiras técnicas.
Com base nas regras estipuladas pela Organização Mundial do Comércio (OMC),
podemos definir barreiras técnicas como barreiras comerciais derivadas da utilização de
normas ou regulamentos técnicos não transparentes ou que não se baseiam em normas
internacionalmente aceitas, ou decorrentes da adoção de procedimentos de avaliação da
conformidade não transparentes ou demasiadamente dispendiosos, assim como
inspeções excessivamente rigorosas e arbitrárias, que não correspondam a objetivos
legítimos do país. As normas não impedem que um produto seja comercializado,
entretanto, aqueles produtos que não estiverem de acordo com normas internacionais
(ou nelas baseadas) terão maior dificuldade para sua aceitação no mercado.
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O Comitê de Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT) da OMC determina que órgãos
governamentais e não governamentais (ONG) não devem estabelecer regulamentos e
normas técnicas que resultem em barreiras técnicas ao comércio internacional. Um dos
objetivos do TBT é a harmonização entre todos os seus membros, de regulamentos,
normas e procedimentos de avaliação de conformidade, estimulando que sua elaboração
seja baseada em normas internacionais, como a série ISO 14000. Assim, quando a
norma ISO 14025 for aprovada (previsão para 2006), a exigência em concorrências
internacionais que os fornecedores dos produtos oferecidos apresentem seus Selos Tipo
III, com Avaliação do Ciclo de Vida, não poderá ser considerada barreira técnica.
4.4. ACV e implicações para o Terceiro Mundo
A ACV está inserida em um contexto mais global, em que se busca melhorar o
desempenho ambiental dos sistemas de produção de produtos e serviços com uma visão
muito completa de todas as fases. Internacionalmente, a ACV é a ferramenta principal
para a implantação de várias iniciativas, tais como:
• Política Integrada de Produtos (IPP). Amplo conjunto de políticas públicas,
suportadas por legislação, no âmbito da União Européia, que permite o
estabelecimento de sobretaxas, subsídios, e uma série de outras ferramentas
econômicas e jurídicas com base em ACV;
• Ecodesign, Design for Environment ou outras denominações: representa a
integração de aspectos ambientais no desenvolvimento de novos produtos, o que
implica em extensão da gestão ambiental sobre todo o ciclo de vida dos novos
produtos, incluindo os fornecedores localizados no terceiro mundo;
• “Ecologização “de contratos públicos ou privados;
• Educação, informação e comunicação ambiental aplicada a produtos; e.
• Esquemas de rotulagem ambientais baseados no conceito de ciclo de vida
(Rótulos ambientais tipos I e II) ou na aplicação sistemática da ACV (Rótulo
Ambiental Tipo III).
Todas as iniciativas acima, mesmo que voluntárias em sua descrição, podem causar
importante diferenciação na competitividade dos produtos em um mercado que é cada
vez mais exigente em termos dos impactos no ambiente.
No conjunto das ferramentas em desenvolvimento para a IPP, fica muito clara a inibição
imposta à penetração de produtos sem ACV (ou com ACV que demonstre desvantagem
ambiental) e, o fortalecimento competitivo dos produtos que já tenham rótulos
ambientais baseados em ACV, como por exemplo, o uso de mecanismos que obriguem
os compradores estatais a usarem a ACV como parte dos critérios para escolher
produtos em concorrências públicas.
Os rótulos ambientais, que até o presente momento, são ações voluntárias, têm sido
amplamente discutidos na OMC em dois dos seus foros: no Comitê de Barreiras
Técnicas ao Comércio (TBT) e no Comitê de Comércio e Meio Ambiente (CTE). A
posição de alguns países europeus (a Suíça em especial) é a de evoluir para a
obrigatoriedade desses rótulos ambientais. Mais recentemente, a União Européia tem
pressionado para que se exija a ACV de produtos como uma ferramenta única para a
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certificação de um rótulo ambiental, e que também seja avaliada a proposta de
obrigatoriedade da existência de rótulos ambientais.
É necessário enfatizar que o uso da ACV nos países em desenvolvimento depende da
existência de dados aplicáveis às matérias-primas e aos processos de produção aplicados
localmente. Registre-se que nos países desenvolvidos existem bancos de dados de
inventários de ciclo de vida (ICV) plenamente aplicáveis às situações da Europa, Japão
e EUA, bem como a algumas matérias-primas e energia de países asiáticos. Os modelos
de avaliação de impacto, hoje existentes, também contemplam, com precisão científica e
maior propriedade, os processos ambientais típicos dos países onde os mesmos foram
desenvolvidos.
ACV é uma metodologia dependente de: tecnologias, tecnoestructuras, geologia, clima,
densidade de população, biomas, tipos de produtos, que são diferentes em cada pais ou
região. Dessa forma os dados e metodologias acima não podem ser aplicados
diretamente pelos paises em desenvolvimento.
5. Metodologia
As principais atividades do projeto serão efetuadas por grupos de trabalhos compostos
por representantes dos principais atores da sociedade brasileira, indústria, universidade e
governo. O projeto prevê a participação de especialistas convidados para intercâmbio de
informações com outras regiões econômicas. A Figura 1 a seguir apresenta um
diagrama de blocos destas macro-atividades, ao longo dos 3 anos de projeto.
O projeto será coordenado pelo IBICT em parceria com a Universidade de Brasília
(Unb), por meio de convênio de cooperação firmado com o Departamento de
Engenharia Mecânica dessa universidade, uma vez que o mesmo já desenvolve estudos
e pesquisas nessa área. Será constituído um Comitê para acompanhamento do projeto,
composto por instituições convidadas. Este comitê será definido pelo MCT em
momento oportuno.
O projeto compreenderá três fases distintas, a serem executadas em paralelo:
1. Desenvolvimento do banco de dados para o inventário, incluindo a
definição de seu formato básico, o preenchimento piloto, validação e
reconhecimento internacional, e o estabelecimento de um grupo de
trabalho permanente para a sua manutenção;
2. Coleta de dados para o inventário, incluindo a identificação de fontes
existentes de informações ordenadas, possíveis de serem
incorporadas, coleta de dados primários e secundários, validação
nacional e internacional dos dados, e o estabelecimento de um
conjunto de normas de coleta e validação;
3. sensibilização e capacitação dos principais atores no conceito do ciclo
de vida, na metodologia da Avaliação do Ciclo de Vida (inventário e
avaliação de impacto), nas normas ISO 14020 e 14040.
Figura 1.
Blocos de Atividades a serem desenvolvidas ao longo do Projeto.
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Desenvolvimento da Base de Dados pelo IBICT
Base de Dados
para o Inventário
do Ciclo de Vida
Coleta dos Dados
*
Validação dos
Dados: Garantia
de Qualidade
Atividades de
Disseminação e
Capacitação
Estabelecimento de um repositório físico das informações válidas
(MCT/IBICT)
Capacitação de uma equipe permanente para manutenção
(validação e atualização) do inventário (Associações
Industriais+Instituições Acadêmicas e de
Pesquisa+Governo+consultores externos)
Grupos de Trabalho com parceiros da Academia e da Industria
Energia
Transporte
Plásticos
Papel
Metais
Outros
Desenvolvimento de um sistema de certificação para garantia da
qualidade da Base de Dados pelos parceiros acadêmicos e
industriais
Certificação Internacional do Inventário, com assessoria de
grupos estrangeiros (parceiros acadêmicos, industriais e do
governo)
Seminários / Workshops de Disseminação do Conceito de CV e
suas implicações na competitividade da Indústria Brasileira
Cursos de Capacitação do Empresariado
Web-site Dinâmico sobre ACV no Brasil
* Os setores citados para coleta de dados são apenas indicativos, uma vez que são os
principais setores estudados em países como Alemanha, Holanda, Suécia, Suíça, EUA e
Japão.
6. Duração do Projeto
Este projeto terá a duração mínima de 3 anos. A Tabela 1 apresenta o cronograma do
projeto.
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Tabela 1. Cronograma: 2005 / 2006 / 2007.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
0. Detalhamento da execução do
projeto
1.1
Identificação
dos
setores
produtivos a serem mobilizados
1.2 Identificação de
informação organizadas
fontes
de
1.3 Seminário de avaliação do projeto
1.4 Coleta de dados – fase 1
1.5 Validação dos dados – fase 1
1.6 Workshop nacional de avaliação do
projeto
1.7 Seminário Internacional
validação do Inventário
2.1 Preparação
seminários
de
empresas
para
e realização
mobilização
de
de
2.2 Disseminação da importância
estratégica do ICV e do Banco de
Dados
2.3 Identificação de outros parceiros
2.4 Elaboração de metodologia e
ferramentas para compartilhamento de
informação
2.5 Desenvolvimento do Portal
3.1 Desenvolvimento do Banco de
Dados (IBICT)
3.2 Estabelecimento de estrutura de
informação
3.4 Preenchimento inicial do Banco de
Dados
4.1. Capacitação do GT em ICV
4.2. Capacitação da equipe brasileira
por especialistas estrangeiros
4.3 Capacitação da equipe responsável
pela manutenção do Banco de Dados
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7. Parcerias
Em virtude da importância deste projeto para a manutenção da competitividade da
indústria brasileira, este conta com o apoio do Ministério de Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior (MDIC), como também de institutos de pesquisa, INT, Unb,
ABNT, CNI, SEBRAE, empresas governamentais como a Petrobrás, organismos
certificadores, INMETRO e ainda organizações não governamentais como o Bureau
Veritas.
8. Custos Previstos
Os custos previstos para este projeto estão relacionados à fase inicial de detalhamento
do projeto e às quatro fases de execução a seguir:
VI. Construção do inventário de ciclo de vida;
VII. Estabelecimento de plataforma de comunicação;
VIII. Fornecimento de ferramenta de dados para ICV ao parque industrial
brasileiro;
IX. Capacitação dos setores produtivos da indústria brasileira em ICV e equipe
de trabalho para desenvolvimento e manutenção do projeto.
8.1. Custos Fase inicial
A fase de inicial engloba principalmente atividades de consolidação da proposta,
capacitação do grupo organizador nas áreas afins ao projeto e a disseminação da
importância estratégica do projeto. Apresentada na tabela de custo como detalhamento
para execução do projeto.
8.2. Custos Fase execução
Um projeto de Inventário de Ciclo de Vida é intenso em utilização de mão-de-obra, em
sua totalidade mão-de-obra especializada, com elevado conhecimento do objetivo do
projeto. Nesse sentido, uma grande parte dos custos estará associada ao pagamento de
recurso humano. Outro item de custo é o pagamento de missões (viagens e diárias) para
a coleta de dados.
Parte dos recursos humanos referentes ao desenvolvimento do Banco de Dados e do
Portal está contratado no âmbito do Projeto de Capacitação Técnica do IBICT.
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