História e Património
O provedor, Joaquim José da Silva Barbosa e Sousa, era escrivão da Câmara, lugar em que sucedera a seu pai, Luís da Silva Barbosa.
A 13 de Março de 1796 se abriu o Hospital com a admissão de um enfermo, instalando-se nos altos da casa pertencente à viúva de João Guedes,
serralheiro.
A ideia, aplaudida com fervorosa simpatia, foi logo patrocinada por grande número de espíritos ilustrados.
Os recursos da Misericórdia eram insuficientes para a sustentação de um tão alto e caridoso instituto. Não faltava, porém, a boa vontade aos
fundadores da benemérita instituição. Aos domingos saíam dois irmãos, um nobre e outro oficial, a pedir pelas habitações esmolas para o Hospital.
Organizaram-se espectáculos, cujo produto revertia a favor da nascente obra de misericórdia. Todos davam, todos pretendiam concorrer para a
generosa iniciativa, uns com dinheiro, outros com o seu esforço.
D. Maria Jacinta Correia Teixeira do Amaral dá 90 000 réis de esmola para o mesmo fim. Alguns meses depois, em 3 de Agosto de 1796, já a
piedosa instituição dispunha de 500 000 réis com que se comprou a José Manuel Pinto e mulher, em Lamego, uma casa que possuía na rua da
Praça Velha, sítio do actual estabelecimento. Realizou essa compra Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, nessa época ainda simples tenente de
Cavalaria 6 (chamado dos ligeiros de Chaves).
Da casa alugada atrás da Misericórdia foram os doentes transferidos, a 16 de Outubro de 1796, para a casa privativa do Hospital da Providência,
nome com o qual pretenderam consagrar a piedosa instituição, para demonstrar a vivíssima crença dos seus fundadores no êxito de uma obra que,
havendo começado sem recursos alguns, prosperava tão evidentemente.
Foi uma festa tocante a que sob tão nobre pretexto se organizou.
Dela existe um auto, que passamos a transcrever:
Aos dezasseis dias do mês de Outubro de mil setecentos e noventa e seis, congregada toda a Irmandade com assistência da Irmandade de S. Pedro,
convidada por carta desta Mesa, se conduziu toda à casa de Joana Clara, viúva, da rua de Trás da Misericórdia, aonde foi o primeiro fundamento do
Hospital da Providência, erecto na Quaresma do mesmo ano, e daí se conduziram os enfermos para as casas sitas na Praça Velha, compradas para
assento do mesmo Hospital, sendo conduzidos os enfermos pelos nossos irmãos da Mesa, principiando pelo provedor juntamente com os clérigos que a
Irmandade de S. Pedro elegeu, e cobrindo as duas alas com o Santo Cristo da Irmandade da Misericórdia o reverendo João Ferreira Real, actual mordomo
da Irmandade de S. Pedro. E das ditas casas, que se achavam decentemente ornadas, depois de recolhidos os enfermos em camas limpas e capazes, se
tornaram a recolher à nossa Igreja as duas irmandades, onde orou o reverendo frei Joaquim Botelho, religioso da Graça, sobre a fundação, trasladação e
conservação do Hospital, energicamente mostrando a sua utilidade. E logo depois, presidindo o mesmo reverendo mordomo, pela dita Irmandade de S.
Pedro foi cantado Te Deum, estando em ala com a nossa Irmandade e suas Mesas. Em memória deste acontecimento mandou a Mesa lavrar este termo
e que se passe aos livros que servem no Hospital pelo secretário dela. E eu Manuel da Silva Dias, secretário que este fiz e assinei com mandado da Mesa.
Manuel da Silva Dias.
Entre os irmãos da Santa Casa, cujo zelo, actividade, e bons desejos de impulsionar a nascente boa obra mais se evidenciam, cumpre-nos fazer
notar o provedor, Joaquim José da Silva Barbosa e Sousa, Joaquim José Teixeira Vilaça Bacelar, doutor Manuel da Silva Dias, e Francisco da Silveira
Pinto da Fonseca, ao depois primeiro conde de Amarante e governador das armas da província.
A este último se deve a construção do novo edifício. Ele foi o desvelado protector do nosso Hospital, o que, por assim dizer, assegurou a sua existência.
(Fonte: Adelino Samardã, “Santa Casa da Misericordia e Hospital da Divina Providencia de Vila Real. Breve notícia da sua fundação”, in Relatório da Real Irmandade da Santa Casa
da Misericordia e Hospital da Divina Providencia de Vila Real – 1902-1903. Vila Real: Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, 1904)
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O provedor, Joaquim José da Silva Barbosa e Sousa, era escrivão