I CIPLOM
Congresso Internacional de Professores de Línguas Oficiais do MERCOSUL
e
I Encontro Internacional de Associações de Professores de Línguas Oficiais do MERCOSUL
Línguas, sistemas escolares e integração regional
A formação de docentes de ELE:
falas sobre o trabalho do professor formador
Talita de Assis Barreto (UERJ, UFF, PUC-Rio)
Considerações iniciais
Este trabalho apresenta nossa pesquisa de doutorado1 que enfoca a atividade
de trabalho do professor formador de docentes de E/LE (PFP-E/LE). Estabelecemos
os seguintes objetivos para a investigação: (a) analisar, a partir das falas dos
professores, como os próprios PFP-E/LE compreendem seu trabalho; (b) contribuir
com reflexões que possibilitem uma maior visibilidade sobre esse trabalho bem
como apontar aspectos que precisem ser discutidos sobre a formação em nível de
bacharelado e licenciatura nos cursos de Letras, habilitação Português/Espanhol, no
Estado do Rio de Janeiro.
Como forma de organizar este texto, na primeira seção, tecemos algumas
considerações sobre o marco teórico. Em seguida, apresentamos brevemente a
metodologia seguida; na seção seguinte, procedemos a um recorte da análise
realizada e, finalmente, fazemos algumas considerações finais.
1.
1.
Linguagem e trabalho
A concepção dialógica de linguagem
Tendo em vista o objetivo de criar um espaço para que o professor pudesse
inscrever a sua voz assim como permitir recuperar tantas outras vozes que circulam
circunscritas em seu discurso visando a tornar a atividade do PFP-E/LE objeto de
discurso, o pressuposto teórico que sustenta o trabalho compreende que o
enunciado está constantemente atravessado por vozes alheias. Tem-se como
princípio, portanto, a noção de dialogismo (BAKHTIN, 2003), que sintetiza a idéia de
que o sentido se tece em conjunto, estabelecendo elos entre as distintas vozes
1
Remete-se à leitura Barreto (2010) para aprofundamento das informações apresentadas. Tese
orientada por Consuelo Alfaro (UFRJ) e co-orientada por Del Carmen Daher (UFF), desenvolvida no
Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
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presentes no enunciado, vozes estas que têm seu grau de explicitação variável de
uma menor ou maior identificação.
O enunciado, de acordo com a perspectiva bakhtiniana, não é visto como
apresentando um sentido estável, predeterminado pelo locutor. O enunciado possui
um valor pragmático visto que se estabelece uma relação de alternância entre os
sujeitos do discurso e, nessa relação e na historia em que ela se situa, os sentidos
s o constru dos. Assumir a abordagem dialógica da linguagem significa, por
conseguinte, rechaçar a idéia de um ouvinte passivo, visto que este não
corresponde ao participante “real” da comunicaç o discursiva.
O sujeito, para expressar-se, considera a reação de seu destinatário ao que se
lhe está sendo dito e isso influencia sua fala. Assim, reconhece-se que “a l ngua
passa a integrar a vida através de enunciados concretos (que a realizam); é
igualmente através de enunciados concretos que a vida entra na l ngua” (BAKHTIN,
2003, p. 265).
2.
Categoria de análise linguística
As falas produzidas pela comunidade dialógica da pesquisa permitem
identificar a ocorrência freqüente de um posicionamento marcado discursivamente
pela negação. Evidenciou-se, portanto, a menção a determinados discursos que são
trazidos por vozes outras que não as dos locutores responsáveis pelas falas
analisadas por meio da negação.
Em sua teoria polifônica da enunciação, Ducrot (1987) descreve os fenômenos
da ironia e da negação para apresentar as noções de enunciador e de locutor. Para
este trabalho, interessa particularmente o segundo fenômeno mencionado, que ele
denomina de marcas de negação.
O autor distingue locutor e enunciador, propondo que o locutor L, ao assumir
determinada asserção negativa, traz à cena um enunciador E1 que afirma algo ao
qual um enunciador E2 se contrapõe. Este E2 normalmente é correspondente ao
locutor.
De acordo com Ducrot, E1 e E2 defendem opiniões contrárias sobre o mesmo
tema, em que uma é positiva e a outra é a refutaç o desta. Esses “pontos de vista
opostos” estariam presentes na maioria dos enunciados negativos, em que,
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obedecendo a uma lei de discurso geral, “toda vez que se diz algo, imagina-se
alguém que pensaria o contrário e ao qual se opõe” (DUCROT, 1987, p. 202).
3.
A perspectiva ergológica
A abordagem ergológica nasce no início dos anos 1980 a partir de pesquisas
de uma equipe universitária pluridisciplinar2, movida pelas reflexões do filósofo
francês Yves Schwartz, que se debruça sobre questões relacionadas ao trabalho,
imbuída do desejo de conhecer esse trabalho que se modifica e que modifica os
trabalhadores. Desenvolve-se, dessa forma, um modo de encaminhamento para
discutir a atividade humana de trabalho: a Ergologia (SCHWARTZ, 2007).
Sob essa perspectiva, a abordagem sobre o trabalho requer um diálogo
constante entre protagonistas do trabalho e pesquisadores de distintas áreas em
todas as esferas da sociedade. Assim, volta-se o olhar para pensar as mudanças no
trabalho por meio do diálogo entre os conceitos e os saberes da experiência e tomase como objeto a conceitualização do trabalho do outro (SCHWARTZ, 1997).
De acordo com Schwartz (2007), a Ergologia coloca os trabalhadores no centro
da produção de saberes sobre o trabalho, fundamentando-se na negociação entre
saberes, atividades e valores:
Para compreender o trabalho, os saberes disciplinares são necessários, mas é com
aqueles que trabalham que se validará conjuntamente o que podemos dizer da situação
que eles vivem. (...) é preciso ver como retificar e reaprender nessa espécie de vaivém
entre a experiência e os conceitos, reaprender o que são as mudanças reais.
(SCHWARTZ, 2007, p. 36)
Nesse sentido, é importante destacar a proposição do dispositivo de três pólos:
o primeiro é o pólo das disciplinas acadêmicas, com seus métodos, conceitos e
formulações; o segundo é o do conhecimento produzido pela experiência dos
trabalhadores que constroem saberes investidos nas ações e respostas às
prescrições. O terceiro e último pólo é o da disciplina ergológica, com suas
exigências éticas e epistemológicas no que diz respeito à análise da atividade de
trabalho (SCHWARTZ, 2007).
2
Tal equipe, integrada também pelo lingüista Daniel Faïta e pelo sociólogo Bernard Vuillon, forma o
“APST” (Análise Pluridisciplinar das Situações de Trabalho), no seio da Universidade de Provence, e,
mais tarde, em 1999, o Departamento de Ergologia – APST.
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De acordo com a concepç o ergol gica, há dois segmentos relativos ao
trabalho: um primeiro em que se encaixam aqueles que o determinam, indicando o
que se deve fazer e outro que engloba os que executam as tarefas determinadas. A
Ergologia deve ser considerada uma disciplina do pensar, pois é um conjunto de
normas de produção de saberes a respeito da atividade humana que, no caso
específico deste estudo, contribui para pensar o trabalho do PFP-E/LE a partir de
suas falas, levando-se em conta a experiência de trabalho dos próprios
trabalhadores.
Partindo dos conceitos teóricos da Ergonomia Situada, Schwartz (1997) propõe
uma abordagem ergológica que nasce do esforço por produzir conhecimento sobre o
trabalho, estabelecendo um diálogo entre as disciplinas científicas e as atividades
industriosas.
Nessa abordagem, a ideia de trabalho prescrito e real é ampliada para os
conceitos de normas antecedentes e renormalizações. Essas normas abarcam os
conhecimentos científicos e técnicos que se constituem em procedimentos, regras
de uso e também codificações organizacionais ligadas às redes de poder e
autoridade.
Assim sendo, a proposta é de uma nova abordagem do objeto trabalho. De
acordo com Schwartz, deve-se pensá-lo como um objeto denso e não como se fosse
algo óbvio ou transparente, sobre o qual não há necessidade de uma abordagem em
profundidade. O trabalho deve ser encarado como algo novo, que exige
aprendizagem e reflexão. A atividade está intimamente relacionada ao indivíduo que
a realiza sendo, portanto, inevitável que ocorram tais (re)singularizações por parte
de cada trabalhador. Realiza-se o esperado, mas de forma particular ao momento
vivenciado pelo trabalhador.
2.
1.
Aspectos metodológicos
A comunidade dialógica de pesquisa
O conceito de comunidade dialógica de pesquisa alicerça a metodologia deste
estudo. Por basear-se na abordagem ergológica do trabalho, admiti-se que a
atividade não se deixa apreender. Para que ela esteja no centro da pesquisa como
elemento de discussão almejado por um grupo reunido em torno a um objetivo
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comum, os protagonistas do trabalho são convocados a contribuírem com reflexões
sobre aspectos da atividade que lhes parecem relevantes para a compreensão do
seu trabalho.
A comunidade dialógica de pesquisa é um conceito criado para distinguir um
coletivo de pesquisa no qual se adota um posicionamento epistemológico que
considera a historicidade das palavras no meio, no espaço e no tempo em que
determinada pesquisa se desenvolve (FRANÇA, 2002).
2.
Apresentação dos protagonistas do trabalho
Foram entrevistados 6 (seis) PFP-E/LE. Estão representadas IES públicas e
privadas que atuam com a formação de docentes de E/LE no Estado do Rio de
Janeiro. Outro elemento relevante foi contemplar PFP-E/LE com distinto tempo de
experiência na atividade e diferente titulação acadêmica porque se acredita que,
dessa forma, são apreciadas diferentes perspectivas e realidades sobre o trabalho
do PFP-E/LE.
Quanto aos professores de espanhol no ensino básico (PEB-E/LE), foram
entrevistados 4 (quatro) professores. Seguiram-se os seguintes critérios para sua
seleção: formados em diferentes IES, ano de formação em época diferenciada –
para tentar um recorte por período de formação – e com diferente titulação –
professores que possuem apenas a graduação, outro cursou a especialização e
outro se encontra ainda cursando o mestrado.
3.
A entrevista
Ao adotar-se tanto a entrevista como o fórum sob uma perspectiva dialógica da
linguagem, reconhece-se ser impossível considerá-los como pura revelação de uma
verdade. A entrevista, bem como o fórum, visava à construção de um texto que
retomasse situações de enunciaç o anteriores (DAHER; SANT’ANNA; ROCHA,
2004).
Recorreu-se à perspectiva teórico-metodológica de Daher (1998) quanto aos
critérios para constituição da materialidade discursiva. A entrevista, dessa forma, é
entendida como um instrumento que possibilita uma aproximação aos saberes da
experiência
e
da
formação
de
determinado
coletivo.
Para
tanto,
faz-se
imprescind vel “colocar em palavras” a voz do outro.
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A entrevista, portanto, é um passo metodológico importante que visa à
posterior promoção do fórum. Provocar a discussão a partir de suas próprias falas e
das falas do outro, representado aqui pela voz do PEB-E/LE, serviu como ponto de
sustentação da opção metodológica e do objetivo central deste estudo,
estabelecendo, dessa forma, o espaço discursivo de análise proposto.
Delimitam-se os seguintes blocos temáticos: a) a formação do PFP-E/LE; b) o
trabalho do PFP-E/LE; c) a formação dos docentes de E/LE e o mercado de
trabalho.
4.
O fórum de discussão
O fórum de discussão cumpre o papel de servir como um espaço construído
pelos protagonistas do trabalho que se reúnem em torno ao objetivo comum de
discutir sua atividade. Como discussão em grupo, conduz o sujeito a um espaço
para trocas sobre temas que circulam pela comunidade acadêmica.
Para o desenvolvimento da pesquisa, constitui-se uma demanda por parte dos
PFP-E/LE envolvidos porque eles mesmos trazem as questões a serem debatidas
pela comunidade dialógica, questões estas pontuadas nas falas produzidas no
decorrer das entrevistas. Elabora-se o roteiro para o fórum, considerando aquilo que
os PFP-E/LE querem discutir, a partir de fragmentos das falas. São selecionados,
das entrevistas, 10 (dez) fragmentos que abordam temas recorrentes, tanto dos
PFP-E/LE quanto dos PEB-E/LE.
O fórum atua como uma forma de resgate de discursos acerca da atividade do
PFP-E/LE, trazendo para essa discussão o ponto de vista do próprio PFP-E/LE, as
vozes daqueles que passaram pelos bancos das universidades e vivenciaram o
outro lugar, ou seja, o do indivíduo em formação que participa dessa atividade como
aluno de Letras, habilitação Português/Espanhol (AL-E/LE), e, também, os recortes
estabelecidos pela pesquisadora.
3.
Falas sobre o trabalho do PFP-E/LE
As entrevistas e o f rum de discuss o conduzem a esta etapa da pesquisa que
constitui um quadro anal tico sobre o trabalho do PFP-E/LE com base na pergunta
que norteia esta investigação: que discursos o PFP-E/LE produz sobre sua atividade
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de trabalho? Pelo limites expostos por este texto, apresentamos apenas algumas
conclusões a partir da análise feita.
Vários foram os elementos discutidos ao longo do fórum. Alguns enunciados
trouxeram, por meio da negação, afirmações subjacentes que são significativas para
a compreensão do trabalho do PFP-E/LE. Identificamos vozes responsáveis por
determinados discursos que circulam sobre o PFP-E/LE, as dos próprios PFP-E/LE,
dos PEB-E/LE, da universidade, da sociedade em geral e do governo. Destacamos
apenas alguns desses elementos.
Identificamos um enunciador que assume um conceito de língua e ensino de
língua ainda impregnado pela visão tradicional de língua, que faz com que o trabalho
do PFP-E/LE esteja direcionado principalmente para o ensino de normas
gramaticais. Percebe-se a força que determinadas teorias exerceram e continuam
exercendo no meio acadêmico e o agregamento de outras. Destaca-se a
necessidade de os cursos de Letras se compreenderem e assumirem como
formadores de profissionais que têm na linguagem seu foco de estudo, tendo,
portanto, que disseminar junto a seus alunos a importância desses estudos.
Segundo alguns dos PFP-E/LE, ainda há uma formação idealizada, que não
leva em conta a situação concreta das escolas, principalmente as públicas. Entendese que cabe aos PFP-E/LE uma mudança desse quadro. Os PFP-E/LE reconhecem,
entretanto, a impossibilidade de resolução de todos os problemas encontrados pelo
PEB-E/LE, uma vez que, por mais que a formação tente prever a atividade, ela é
algo único, que depende do momento específico de sua concretização por parte do
trabalhador para ser (re)singularizada.
Ainda em relação ao curso de Letras, direciona-se o foco para a forma como a
organização dos conteúdos no currículo do curso de Letras não atende às
necessidades da formação de professores, uma vez que a própria organização do
curso a partir do esquema de 4 + 1 demonstra a fragmentação que ocorre nessa
formação. Teoria e prática são indissociáveis e é o senso comum que faz essa
divisão. Os saberes antecedentes e os da experiência se encontram no debate de
normas como algo intrínseco à concretização da atividade. É imperativo, portanto, o
engajamento por parte dos PFP-E/LE para que a formação docente assuma seu
papel de preparar o indivíduo profissionalmente.
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Coloca-se em foco o reconhecimento das faces ocultas do ofício do PFP-E/LE
e no fato de seu trabalho ser incessante. A necessidade de integração entre o
trabalho desenvolvido pelos PFP-E/LE é ponto de discussão. O diálogo entre eles é
requerido como elemento fundamental para o desenvolvimento do corpo discente,
das aulas ministradas e da compreensão de como se estrutura o curso de formação
de professores de E/LE.
Relativas às normas que antecedem ao trabalho do PFP-E/LE, várias são as
atribuições prescritas aos docentes no desempenho da profissão que ultrapassam
esse espaço: planejamento de aulas e provas, correção de trabalhos, envolvimento
do docente com pesquisa e extensão – no que se refere às universidades públicas e
confessionais – participação em eventos acadêmicos e reuniões departamentais,
cursos de aperfeiçoamento, participação em bancas de concursos ou de defesa de
dissertações e teses, no caso de PFP-E/LE envolvidos em programas de pósgraduação, entre outras.
Durante o fórum foram delimitadas algumas das tarefas atribuídas aos PFPE/LE que, muitas vezes, ou não são devidamente valorizadas ou sequer são
notadas. Elencam-se algumas delas, considerando que a análise proposta realizou
um recorte no universo apresentado pelas falas produzidas pelos PFP-E/LE.
A orientação de bolsistas de variadas modalidades de bolsas e sua importância
na formação dos alunos é um ponto que merece destaque a partir das falas dos
PFP-E/LE. O papel do PFP-E/LE orientador é o de auxiliar o bolsista em sua prática
docente que, por estar inserido no contexto de um projeto de extensão, está
vinculado a uma iniciativa de ordem social. Isso, além de colaborar para a formação
dos AL-E/LE, traz valiosas contribuições para a sociedade de modo geral. Embora
não seja um trabalho muito valorizado, já que, resgatando a fala de uma das PFPE/LE, dá um “trabalho enorme”, cabe ao PFP-E/LE esclarecer ao corpo discente
sobre a importância dessa experiência para a sua formação. Essa é uma
oportunidade que o aluno tem de aproximar-se de situações de trabalho, mudando
positivamente sua relação com a aprendizagem.
Identifica-se também um enunciador que compreende o trabalho do PFP-E/LE
como restrito a oito tempos semanais, tendo, assim, condições de trabalho
infinitamente superiores que os demais docentes. Em oposição a essa visão
estereotipada do trabalho do professor universitário, a comunidade dialógica aponta
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o trabalho do PFP-E/LE como algo contínuo, que consumiria todo o tempo diário do
trabalhador, não restrito às 40 horas semanais. Dessa forma, ao trabalho de
orientação de bolsistas, às aulas ministradas, à orientação e desenvolvimento de
pesquisas
são
conjugadas
outras
atividades
que
também
poderiam
ser
consideradas atividades que ninguém vê, a saber: as tarefas administrativas, que
gradativamente vão sendo acumuladas e acrescentadas ao conjunto de outras
tarefas do PFP-E/LE, tais como participação em comissões e colegiados, elaboração
de pareceres, preparação dos alunos para a apresentação de trabalhos em eventos
e para publicações, coordenação de setor, os pedidos de vagas para as carências
do setor, comprovação de publicações realizadas e, ainda, preenchimentos de
relatórios e documentos que antes estavam sob a responsabilidade de funcionários
administrativos.
Considerações finais
A partir da análise das falas, pode-se afirmar que o espaço de discussão
provocado possibilitou ao PFP-E/LE esse momento de reflexão sobre as atividades
desenvolvidas no cotidiano profissional, que vão além da sala de aula que,
geralmente, é a atividade que mais sobressai entre as demais. O coletivo é
valorizado tanto para o debate instaurado como para que se veja uma possibilidade
de mudanças positivas no funcionamento e na estrutura dos cursos de Letras.
O PFP-E/LE acumula uma série de tarefas que deve cumprir para que seu
trabalho seja bem desenvolvido. Assim, há uma parte oculta de seu trabalho que
nosso estudo contribui para revelar por meio das falas dos próprios protagonistas do
trabalho. Espera-se que as reflexões propostas fomentem a discussão acerca da
atividade de trabalho do PFP-E/LE. Sendo assim, as vozes representadas poderão
travar diálogo com outras vozes que porventura se levantem para dar continuidade
aos estudos voltados para a compreensão da atividade do PFP-E/LE.
REFERENCIAS
BAKHTIN, M. (2003) A estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes.
BARRETO, T. A. O professor formador de docentes de E/LE: discursos sobre o trabalho
(2010). 229 f. Tese (Doutorado em Letras Neolatinas) – Faculdade de Letras,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Rio de Janeiro.
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metodológica. The Especialist, São Paulo, v. 19, p. 287-304.
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acadêmica: reflexões numa perspectiva discursiva. Polifonia (Cuiabá), v. 8.
DUCROT, O. (1987) O dizer e o dito. Campinas: Pontes.
FRANÇA, M.B. (2002) Uma comunidade dialógica de pesquisa - Atividade e
movimentação discursiva nas situações de trabalho de recepcionistas de guichê
hospitalar. Tese (Doutorado em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem) – PUCSP, São Paulo.
SCHWARTZ, Y. (1997) Reconnaissances du travail – Pour un approche ergologique.
Paris: PUF.
_______. Trabalho e Ergologia. In: _______; DURRIVE, L. (orgs.) (2007) Trabalho e
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