Revista Científica de la Asociación Mexicana de Derecho a la Informaciòn
Número 8 | Mayo – Agosto 2013
AS CLASSES POPULARES
DENTRO E FORA DA TELA/
POPULAR CLASSES INSIDE AND OUTSIDE THE SCREEN/
LAS CLASES POPULARES DENTRO Y FUERA DE LA PANTALLA
Lírian Sifuentes
CORREO ELECTRÓNICO: [email protected]
*Doutoranda em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS). Professora na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
Lourdes Ana Pereira Silva
CORREO ELECTRÓNICO: [email protected]
*Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Professora-Pesquisadora da Universidade de Santo Amaro (UNISA).
Sara Alves Feitosa
CORREO ELECTRÓNICO: [email protected]
*Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Professora na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), campus São Borja.
Veneza Mayora Ronsini
CORREO ELECTRÓNICO: [email protected]
*Doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professora na Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM).
Wesley Pereira Grijó
CORREO ELECTRÓNICO: [email protected]
*Doutorando em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Palavras-chave | Telenovela, classes populares, transmídia.
KEY WORDS | Telenovela, class C, transmedia
Palabras clave | Telenovela, clases populares, transmedia.
As classes populares dentro e fora da tela/ Las clases populares dentro y fuera de la pantalla
Resumo
A partir de uma reflexão sobre a ascensão econômica da “classe C”, o artigo problematiza
a ideia do surgimento de uma nova classe média no país e indaga sobre outro fenômeno
também mais ou menos recente na produção, circulação e consumo da telenovela das nove:
a convergência crossmidiática e transmidiática. O objetivo é indicar a necessidade de estudos
que investiguem o protagonismo das classes populares nas narrativas das telenovelas, bem
como acerca do consumo destas em diferentes plataformas pelas classes populares visto
que, em primeiro lugar, não há evidências suficientes sobre a suposta novidade da inclusão
das mesmas na novela das nove; em segundo lugar, pouco se sabe acerca dos novos modos
de interação das classes populares na atual cultura da convergência.
ABSTRACT
From a reflection on the economic rise of "class C", this paper discusses the idea of the
emergence of a new middle class in Brazil and it also inquires about a more or less recent
phenomena in the production, circulation and consumption of the 9pm telenovela: the
crossmedia and transmedia convergence. The aim of this paper is to call to the need of
researches on the protagonism of popular classes in the telenovela narratives, and also the
consumption of these cultural product through different platforms. First of all, it’s important
because there is insufficient evidence about the alleged novelty of including of these classes
in 9pm telenovela. Secondly, there is little knowledge about how the popular classes interact
in the current convergence culture.
Resumen
A partir de una reflexión sobre el crecimiento económico de "clase C", en este trabajo
se analiza la idea de la emergencia de una nueva clase media en Brasil y también se
pregunta acerca de otro fenómeno más o menos reciente en producción, circulación y
consumo de la telenovela de las nueve: la convergencia crossmediática y transmedia. El
objetivo es indicar la necesidad de realizar estudios para investigar el protagonismo de
las clases populares en las narrativas de las telenovelas, así como sobre el consumo de
estas en diferentes plataformas por las clases populares una vez que, en primer lugar, no
existen pruebas suficientes acerca de la supuesta novedad de la inclusión de la misma en las
novelas de las nueve; en segundo lugar, poco se sabe de las nuevas formas de interacción
de las clases populares en la actual cultura de la convergencia.
Derecho a Comunicar | Número 8 | Mayo – Agosto 2013 | ISSN: 2007-137X
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As classes populares dentro e fora da tela/ Las clases populares dentro y fuera de la pantalla
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Introdução
O texto1 aponta algumas considerações, com vistas ao estudo da recepção da telenovela
em diferentes plataformas, sobre dois fenômenos: a ascensão social das classes populares
no Brasil e o surgimento de uma cultura da convergência. O percurso adotado para articular
essas questões parte de estudos sociológicos que indagam sobre o surgimento de uma
nova classe média no país. Em seguida, aponta a necessidade de pensar em que medida
o protagonismo das classes populares nas narrativas da telenovela de fato coincide com a
emergência delas. Ainda, sistematiza dados que dão conta da expansão da internet no país
e aborda as estratégias de produção, circulação e consumo das narrativas de telenovelas no
contexto de convergência midiática. Por fim, sugere a necessidade de estudo das interações
entre classes populares e os conteúdos/produtos trans e crossmidiáticos.
Entendemos que há uma carência de estudos que observe as condições de
produção e circulação da telenovela do ponto de vista do consumo das classes populares,
de modo que contemple este novo cenário de cultura da convergência e ascensão
econômica de que fala o artigo. Pouco sabemos sobre os modos de interação na internet,
apesar dos dados estatísticos apontarem que essa é o meio de comunicação preferido pela
população brasileira atualmente, incluindo todas as faixas de renda. Nossa observação2 se
baseia no levantamento dos estudos de recepção desenvolvidos no período de 2000 a
2009, no qual apenas nove trabalhos foram produzidos na perspectiva dos estudos culturais
latino-americanos de recepção e sua abordagem sociocultural, incluindo aí a abordagem
sociodiscursiva (Jacks et al., 2011a). Nenhuma das teses e dissertações trata da recepção da
telenovela, entretanto as classificadas na abordagem sociocultural são as únicas nas quais
classe aparece como variável demográfica (Castellano, 2009) ou que têm como receptores/
consumidores jovens e crianças de “baixa renda” (Gouveia, 2004; Moraes, 2004; Bredarioli,
2008).
Temos uma nova classe média brasileira?
Enquanto muitos aboliram a classe social do vocabulário e da prática acadêmica, outros3
seguem caminho inverso e reivindicam a centralidade da classe em pesquisas sociais. A
principal argumentação desses últimos refere-se à força que a classe social permanece
exercendo nas sociedades, sejam em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. “A classe
pode ter sido abolida retoricamente em muitos textos, mas uma quantidade impressionante
Este artigo faz parte do projeto de pesquisa (?), sob a coordenação (?) e (?)
Não estão incluídos os estudos empíricos de comunicação e cibercultura, com abordagem
teórico-metodológica (Silva, 2007) diversa dos estudos de recepção, embora possam também se
dedicar ao comportamento e a formação de identidades/subjetividades dos usuários. Tampouco
nos referimos às abordagens comportamentais que se limitam a descrever e a compreender o
comportamento dos usuários na web, entre outros, o leitor de jornal digital, os fãs de seriados ou
os estudantes e o uso de informações nas escolas.
3
No campo da recepção comunicacional, há quase duas décadas todos os trabalhos de Ronsini,
desde 1995, têm destacado o papel da classe social como determinante para a leitura da mídia.
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As classes populares dentro e fora da tela/ Las clases populares dentro y fuera de la pantalla
de evidência empírica confirma que ela permanece como uma força essencial para modelar
a maneira como vivemos hoje” (Murdock, 2009, p. 33).
Murdock analisa que há uma “recusa em reconhecer que a classe permanece sendo
um importante princípio estrutural de cada aspecto da vida no capitalismo recente”. Para
ele, deixar de pensar a classe social como estruturante das relações comunicativas “bloqueia
uma visão abrangente das condições contemporâneas” (Ibid., p. 32).
“Todas as tendências nos levam a dizer que é falso descrever esta fluidez crescente como
tendência à condição de ‘falta de classe’. Seria mais correto dizer que estamos desfazendo
uma maneira de experenciar situações de classe e fazendo outra” (Hall, 1967 apud Murdock,
2009, p. 42). A afirmação de Hall referindo-se à realidade inglesa da década de 1960 pode
ser recuperada para pensarmos o momento que vive o Brasil. Isto é, o crescimento da renda
do brasileiro não é suficiente para justificar uma mudança da estrutura de classes no Brasil
e, menos ainda, para diminuir o peso dessa na constituição social.
Há cerca de dez anos, vivemos um momento socioeconômico singular no país, com
a melhora na renda dos brasileiros, que teria culminado com uma massiva entrada dos
pobres na classe média. O critério utilizado para definir a Classe C (Neri, 2010) eleva para
um patamar alto a faixa do estrato superior (renda domiciliar de R$ 4.854) e para um
patamar baixo o estrato inferior (renda domiciliar de R$ 1.126), produzindo um “inchaço” no
segmento classe média, que passaria a abranger 50% da população brasileira. Nesse sentido,
não ficamos convencidos de que o estrato com renda mais baixa integre o modo de viver
da classe média que se caracteriza por emprego estável, educação, habitação, poupança,
facilidade de consumo (Guerra et al, 2006).
Estudiosos não deixam dúvidas sobre o crescimento do poder aquisitivo do povo brasileiro
nos últimos dez anos (Pochmann, 2012; Souza, Lamounier, 2010). Na obra de Guerra et al.,
Classe média. Desenvolvimento e crise, publicada em 2006, porém, os autores ainda não
possuíam elementos suficientes para diagnosticar o momento de desenvolvimento social
no Brasil, salientando uma fase de crise que o país vivia desde a década de 1990, quando a
desigualdade social se agravou. Naquele momento, observavam que “a renda nacional per
capita está quase estagnada há mais de duas décadas e o desemprego e queda na renda
do trabalho nunca foram tão assustadores” (Guerra et al., 2006, p. 9). Seis anos depois, um
dos autores do livro, Pochmann (2012), mostra a ascensão que vive o Brasil desde o início
do governo Lula. O autor aponta diversos dados que confirmam o aumento de renda do
brasileiro e da geração de emprego, admitindo que a desigualdade social vem diminuindo
e o poder aquisitivo dos cidadãos, aumentando.
Contudo, Marcio Pochmann (2012) e Jesse Souza (2010) ressaltam que não temos de
fato uma nova classe média no Brasil. Para o primeiro, a ascensão em massa não alçou os
pobres à classe média, mas à classe trabalhadora. Souza comparte dessa ideia, chamando
esse grupo de batalhadores brasileiros, destacando o esforço e a moral do trabalho como
os valores que os levaram à elevação do poder de consumo.
De modo direto, Pochmann (2012, p. 8) sentencia: “entende-se que não se trata da
emergência de uma nova classe – muito menos de uma classe média”. Os anos à frente do
IPEA, órgão de pesquisa econômica respeitado no Brasil, credenciam a opinião do autor. A
ideia central do livro Nova classe média? O trabalho na base da pirâmide social brasileira vai
contra o que os meios de comunicação vêm propagandeando, bem como de interesses de
mercado e governistas, para os quais fazer crer que o Brasil é um país de classe média traz
benefícios.
Conforme Souza (2010, p. 22), não se pode vincular a classe somente à renda, sendo
esse o principal erro no qual se incorre quando se classifica os brasileiros emergentes como
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As classes populares dentro e fora da tela/ Las clases populares dentro y fuera de la pantalla
“nova classe média”. “O ‘segredo’ mais bem guardado de toda sociedade é que os indivíduos
são produzidos ‘diferencialmente’ por uma ‘cultura de classe específica’”. A mesma ressalva,
segundo o sociólogo, vale para o marxismo tradicional, que relaciona classe apenas a um
lugar de produção. De uma forma ou outra, “isso equivale a esconder todos os fatores e
precondições sociais, emocionais, morais e culturais que constituem a renda diferencial”.
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Telenovela e o protagonismo das classes populares
Se a versão brasileira de desenvolvimento social ignorou os setores mais pobres da
população, o mesmo não se pode afirmar sobre a narrativa da novela das nove, que é o carro
chefe da programação da Rede Globo e espaço para discussão de temas importantes para a
nação, incluindo campanhas de merchandising social e a clássica divisão entre pobres e ricos.
As classes populares têm sido representadas – como motoristas, empregados domésticos,
operários – com pouco conflito, e, na existência desse, para mostrar a mobilidade social ao
alcance de todos ou as diferenças sociais como naturais e até saudáveis.
Ainda falta uma pesquisa da história da telenovela que avalie o protagonismo das classes
populares, ao qual se dá relevância hoje, com o fenômeno da “nova classe C”4. É comum o
entendimento de que, em Duas Caras (2008), a Rede Globo, pela primeira vez, colocou a
favela como núcleo central de uma novela, mesmo que outras tramas tenham incluído o
subúrbio, os suburbanos, a periferia. Não sabemos em que medida esse fato é realmente
novo, pois não é de hoje que a novela trata do tema. Dona Xepa (1977), de Gilberto Braga;
O Clone (2001), de Glória Perez; Senhora do Destino (2004), de Aguinaldo Silva; e América
(2005), de Glória Perez, tiveram protagonistas de classe popular ou tipos populares como
centrais na trama (Sobral, 2012).
Entre as telenovelas das nove horas da Rede Globo na década de 2000, houve um
aumento da importância dos núcleos da classe C em suas narrativas. Devemos, no entanto,
ponderar que tal evidência também tem relação com a autoria das obras, pois há autores
que têm como característica abordar temas relacionados aos grupos populares, como
Aguinaldo Silva e Glória Perez; enquanto outros têm um estilo de crônica do cotidiano das
classes A e B, como Gilberto Braga, Sílvio de Abreu e, principalmente, Manoel Carlos.
No tocante à narrativa ou à produção da novela das nove, muitas são as questões que
devemos compreender antes de afirmar sobre o protagonismo das classes subalternas na
novela: Em que medida esse interesse pela classe C renova a tradição da dramaturgia? Se
autores como Dias Gomes e Benedito Rui Barbosa criaram tipos populares com vistas a
discutir a realidade nacional, quais os objetivos hoje de autores de novelas em retratar o
cotidiano da classe C?
Embora Hamburger (2005) e Almeida (2003) afirmem que o repertório das novelas
é de classe média alta, que a ênfase é a vida das camadas médias e altas, os exemplos
de novelas com protagonistas de classe popular fazem com que Sobral (2012) afirme que
as classes populares sejam parte constitutiva da trama das mesmas. Talvez se possa dizer
que o repertório é realmente mais amplo, pois mesmo que o ponto de vista adotado seja
“dominante” ou que tenha havido ao longo da história do gênero uma estetização da
pobreza, o modo de vida das classes populares não se limita a isso. Estamos mais inclinados
a pensar que o melodrama se conecta com a cultura popular ao unir ética com estética ou
ainda que o massivo se constitui muito menos com base na divulgação ou vulgarização do
culto do que mediante a exploração dos mecanismos de reconhecimento popular (Martín4
Pela discordância em relação ao enquadramento dos segmentos ascendentes como “classe C”,
preferimos a noção de classes populares usando a primeira entre aspas.
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As classes populares dentro e fora da tela/ Las clases populares dentro y fuera de la pantalla
Barbero, 1987).
Sem dúvida que a diluição simbólica entre as classes pode ser observada nos processos
de consumo em geral (Ronsini; Silva, 2006; Ronsini, 2009) e que a novela tem um papel
importante na comunicação entre as classes, aproximando-as de múltiplas maneiras:
exibindo uma representação sem conflito das relações sociais, dando visibilidade à ascensão
social, apresentando trajetórias individuais que superam as condições de classe, etc. Mas
essa é uma parte do que compõe um quadro mais complexo das relações sociais na novela.
A novela pratica um populismo cultural fazendo o elogio ao subalterno. São incontáveis as
cenas onde os protagonistas que representam a elite se rendem ao gosto popular: Melissa
(Cristiane Torloni) ao samba e Dr. Castanho (Stênio Garcia) à gafieira, em Caminho das
Índias; Eunice (Débora Evelyn) ao amante de classe popular, em Insensato Coração (2011);
Verônica (Débora Bloch) à comida e à festa de Monalisa (Heloísa Périssé), em Avenida Brasil
(2012). Os exemplos mais recentes, entretanto, não dão conta da necessidade de apontar se
essa é uma tendência recente ou faz parte da história da novela.
Além disso, em um breve levantamento (Guia Ilustrado, 2010) das novelas do horário
nobre da Rede Globo, constatamos que as classes populares não parecem ser tão preteridas:
Verão Vermelho (1969-1970) abordou o preconceito social e destacou as festas de rua, rodas
de capoeira e candomblé na Bahia; Irmãos Coragem (1970-1971) tinha como protagonistas
três irmãos garimpeiros que lutavam contra o coronelismo; O cafona (1971) retratou
a ascensão e evidencia o estilo de vida do novo rico; Gabriela (1975)5 narrou a história
de uma retirante que ascende através do casamento mas preserva a espontaneidade e
a ingenuidade da sua classe de origem; Pecado Capital (1975)6 retratou com realismo o
subúrbio carioca; Pai Herói (1979) contou a trajetória de um homem que se apaixona por
duas mulheres, uma de classe alta e a outra dona de uma casa de samba no subúrbio; em
Sol de Verão (1983), a protagonista rica se apaixonou por um mecânico e a trama girou em
torno da diferença social entre os dois; em Louco Amor (1983), a personagem principal se
apaixonou pelo filho da empregada; em Partido Alto (1984), bicheiro, manicure e costureira
foram personagens marcantes na trama; o universo popular se repete em Roque Santeiro
(1986), Vale Tudo (1988-1989), O Salvador da Pátria (1989), Pátria Minha (1995) e em muitas
produções subsequentes.
Souza (2010) indica que a ideia da “nova classe média” é a mensagem hegemônica
presente também nos grandes jornais e nos canais de TV7. A intenção que a mídia, assim
como muitos intelectuais, tenta passar sobre os brasileiros que ascenderam, segundo o
sociólogo, é de que “eles seriam uma nova ‘classe média’, que está transformando o Brasil no
país moderno e de ‘primeiro mundo’ que foi e é o maior sonho coletivo de seu povo desde
a independência política em 1822” (SOUZA, 2010, p. 20). Para o autor, as informações sobre
a “nova classe média” são interpretadas sem conflitos e sem mostrar as contradições. Essas
distorções resultariam em violência simbólica, pois encobrem a dominação.
Telenovela na internet: as experiências cross e transmídia
Se necessitamos de mais estudos para afirmar acerca da suposta visibilidade atual e
Remake em 2012.
Remake em 1998.
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Em sua avaliação sobre o tratamento dado ao tema da “nova classe média” pela mídia, Pochmann
(2012, p. 7) é contundente: “Causa constrangimento [...] o viés político difundido pelos monopólios
sociais constituídos pelos meios de comunicação e seus ‘oráculos’ midiáticos que terminantemente
manipulam o consciente da população em prol de seus próprios desejos mercantis, defendendo
consumismo e negando a estrutura de classe na qual o capitalismo molda a sociedade”.
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As classes populares dentro e fora da tela/ Las clases populares dentro y fuera de la pantalla
protagonismo da vida das classes populares nas tramas, nos últimos anos, observamos,
ainda, outro fenômeno na relação entre produção e recepção de telenovelas no Brasil.
Estamos falando de mudanças significativas nas condições de produção, distribuição e
consumo cultural, com ênfase no envolvimento e na participação ativa da audiência (Lopes;
Mungioli, 2010) e no uso do espaço online, tendência observada de modo incipiente desde
a década de 1990, que parece se consolidar a partir de 2009 com o uso de multiplataformas
como sites, blogs, redes sociais (Lopes, 2009).
Ao analisar a convergência de mídias, Jenkins (2008) fala em narrativas transmidiáticas,
entretanto, o termo ainda não é consensual. De acordo com o autor, uma narrativa
transmidiática é aquela em que ocorre uma expansão do universo ficcional em diferentes
plataformas, sendo fundamental que cada um dos conteúdos dispersos seja autônomo e
independente entre si, mas que contribuam para o enriquecimento da narrativa como um
todo.
Já cross-media, conforme Hayes (2006), é o cruzamento de mídias diversas com a
mesma narrativa, não exige uma autonomia de conteúdo em cada mídia, assim propõe
o uso de múltiplas mídias (portais web, aplicações interativas pela TV Digital, portais de
voz, revista impressa, fax, e-mail, etc.) em torno de um mesmo objetivo. Ao sistematizar o
conceito de crossmedia, Boumans (2004) aponta algumas características centrais desse:
envolve mais de uma mídia; objetiva uma produção integrada; conteúdo é distribuído
em múltiplos dispositivos: PCs, celulares, TV, ITV, rádio; mais de uma mídia é necessária
para suportar uma mensagem/história/objetivo; a mensagem/história/objetivo comum
é distribuída em diferentes plataformas e o suporte para a interação é apoiado por essas
diferentes plataformas.
As atuais experiências da Rede Globo de cross-media e transmídia devem ser pensadas
como uma adequação de uma empresa comercial a um importante nicho de mercado,
neste caso, o ambiente online da Internet. Assim, desde a década de 1990, a emissora já
mantinha alguma relação com esse meio de comunicação, mesmo que de forma efêmera,
mas que tomaria maiores proporções nos anos subsequentes. Na telenovela Explode
Coração (1995), os protagonistas da narrativa se conheceram através dessa ferramenta
de comunicação, praticamente desconhecida no Brasil naquele momento, o que causou
surpresa e curiosidade nos telespectadores, ainda não acostumados com a possibilidade de
contato entre duas pessoas através da rede mundial de computadores.
Apesar de nos anos seguintes a Internet ter se difundido no país, somente
em Caminho das Índias (2009) ela obteve maior destaque na narrativa, com o blog8 do
personagem Indra (André Arteche), considerado o primeiro blogueiro da teleficção seriada
nacional. O blog, que estava em voga no universo online naquele momento, servia para o
personagem expressar a visão de mundo de um indiano no Brasil, além de abordar temas
presentes na trama, como o bulliyng. Ainda no momento de maior difusão dos blogs, Viver
a Vida (2009) apresentou a seus telespectadores o diário virtual “Sonhos de Luciana”9, em
que se podia interagir com a personagem fictícia, que contava a rotina de uma pessoa
tetraplégica.
Entretanto, tais experiências ainda não tinham um foco voltado para as questões cross
e transmidiáticas, o que somente ficou mais evidente com as ferramentas disponibilizadas no
site de Passione (2010). Na web, a emissora apresentava a seus telespectadores/internautas
um serviço complementar à transmissão diária de Passione. O site10 possuía ferramentas
de conteúdo exclusivo, como cenas gravadas para serem exibidas na Internet, versões
http://tvg.globo.com/programas/geral-com/blogdoindra-indra/platb/
http://especial.viveravida.globo.com/sonhos-de-luciana/
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http://tvg.globo.com/novelas/passione/index.html
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estendidas de cenas da novela e a inclusão de curtos monólogos em que os personagens
refletiam sobre a situação apresentada na cena. Com o advento da rede social Twitter, a
produção da telenovela criou alguns perfis oficiais para seus personagens, que dividiam
espaço no ambiente virtual com uma gama de perfis fakes desses mesmos personagens,
graças à maior possibilidade de participação dos telespectadores/internautas na Web 2.0.
A experiência obtida em Passione se expandiu para outras produções da Rede Globo.
Em Fina Estampa (2011), por exemplo, antes da estréia da novela, um de seus principais
personagens ganhou um perfil oficial no Twitter. O mordomo Crodoaldo Valério (Marcelo
Serrado) apresentou-se ao público online em seu microblog horas antes do primeiro
capítulo ir ao ar. No site da telenovela, as pessoas podiam saber sobre o cotidiano do
personagem adolescente René Júnior (David Lucas), que passava horas navegando no site
de namoro Tasozinhopqquer.com11, onde, por meio de um fake, mantinha contato virtual
com mulheres. Para manter maior verossimilhança e criar um produto para disponibilizar
ao público, a emissora criou um site de relacionamentos homônimo que conta atualmente
com mais de 30 milhões de internautas cadastrados.
O autor da telenovela, Aguinaldo Silva, que por meio de seu blog12 e Twitter13 mantinha
contato direto com os telespectadores/internautas, adiantava acontecimentos da narrativa,
respondia críticas, pedia opinião do público para o destino dos personagens, etc. O sucesso
de audiência na transmissão televisiva diária se repetia na Internet. Durante seu horário
de exibição na TV, a trama frequentemente ganhava destaque entre os assuntos mais
comentados no Twitter, muitas vezes ficando entre os tópicos mundialmente mais citados
no microblog, assim como tinha grande repercussão a fanpage14 no Facebook criada por
internautas, que contava com mais de 393 mil “curtidas”.
Recentemente, Avenida Brasil (2012) tornou-se um sucesso de repercussão na internet
ainda maior que sua antecessora, Fina Estampa, apesar de o mesmo êxito não se repetir
na audiência da transmissão televisiva15. Atualmente, a telenovela – seus personagens,
bordões e cena – espalham-se diariamente nas redes sociais, como Facebook e Twitter,
reverberando os conteúdos da exibição diária da TV no ambiente online.
No dia em que foi veiculado o 100º capítulo de Avenida Brasil, além de todas as ações
da emissora para promover o fato, os internautas fãs da telenovela organizaram um “tuitaço”
com suas imagens congeladas num avatar similar ao que aparece no final de cada capítulo16.
Mundialmente, a hashtag #OiOiOi100 ficou entre os assuntos mais citados. Ademais, como
ocorre desde Passione, o Twitter está cheio de perfis fakes de personagens de Avenida
Brasil, com ativa participação, especialmente durante o horário de exibição da telenovela.
No Facebook, a fanpage criada pelos internautas conta com mais de 303 mil “curtidas”, já a
página oficial de telenovelas da Rede Globo tem mais de 265 mil “curtidas”.
Contemporânea a Avenida Brasil, às 19 horas, a Rede Globo apresenta possivelmente sua
mais bem sucedida experiência transmidiática, de acordo com os parâmetros sustentados
do Jenkins (2008). Em Cheias de Charme (2012), a emissora utilizou a noção de transmídia,
http://tasozinhopqquer.parperfeito.com.br/
www.aguinaldosilvadigital.com.br/
13
www.twitter.com/aguinaldaosilva
14
http://www.facebook.com/pages/Fina-Estampa/201037736623603
15
De acordo com dados do Ibope, Avenida Brasil, até o capítulo 114, acumulou média de 37,9 pontos,
enquanto Fina Estampa havia consolidado 38,6 pontos no mesmo período. http://colunistas.ig.com.
br/natv/2012/08/07/avenida-brasil-ainda-nao-supera-fina-estampa/. Acesso em: 19/09/2012.
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A repercussão estava presente também nas hashtags sobre Avenida Brasil que dominaram
o microblogging naquele dia, como: #avenidabrasil, #congela, #0ioioi, #EsseCadinho,
#MistériosdeCarminha e #Capítulo100.
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As classes populares dentro e fora da tela/ Las clases populares dentro y fuera de la pantalla
em três momentos, para divulgar a telenovela na Internet. É considerada, assim, a primeira
experiência de transmídia a partir de uma telenovela da Rede Globo17.
O videoclipe “Vida de Empreguete”, que, na narrativa, “vazou” na rede, foi visto pelo
público primeiro na Internet, virando sucesso de exibição no Youtube, com mais de 10,5
milhões de acessos. Para incitar a criação de clipes derivados do original, a emissora lançou
um concurso que premiou a melhor versão do clipe das “empreguetes” em parceria com o
programa dominical Fantástico. Após o sucesso do primeiro clipe, foi lançando o “Vida de
Patroete”, em que a antagonista Chayenne (Cláudia Abreu) fez uma produção para competir
com as rivais. Outra experiência transmidiática, em Cheias de Charme, pode ser vista com
o “vazamento” de outro clipe das “empreguetes”, dessa vez, o “vazamento” de “Nosso Brilho”
ocorreu concomitante na ficção e fora dela.
Consumo de telenovela e novas mídias pela classe C
Nos últimos anos, o favorável momento econômico brasileiro propiciou o aumento
do poder de compra da população (Souza; Lamounier, 2010; Pochmann, 2012), e, por
consequência, possibilitou o acesso a computadores pessoais e a inserção no universo
online a faixa significativa da população. Por conta dessa nova conjuntura econômica e
tecnológica, atualmente temos uma juventude que, além de conviver desde a infância com
a televisão, está familiarizada com a Web – compondo um grupo de sujeitos que faz o uso
de várias mídias de forma concomitante.
Segundo Orozco (2009), alguns meios de comunicação, como a televisão e o rádio,
são coletivizadores da experiência – um grande número de pessoas assiste a um programa
junto, tendo a sensação de ter vivido em comunhão tal experiência. Outros meios,
entretanto, como o computador, proporcionam uma experiência mais individualizada,
embora muitas vezes compartilhada pelas redes sociais. Isso permite pensar que cada meio
de comunicação é muito mais do que só um veículo ou uma tecnologia, ele cria uma
maneira de intercomunicação e modifica a cultura.
Num ritmo acelerado e geralmente não acompanhado pelas pessoas das gerações
anteriores, crianças e jovens trocam de canais a todo instante em busca de novos
conteúdos, reinventando narrativas, numa interação com os meios de comunicação nunca
vista. Com os computadores mais baratos e o parcelamento mais acessível, assistimos a
uma expansão do número de internautas. Segundo levantamento do Ibope NetRatings18, o
ritmo de crescimento da Internet no país é intenso e a entrada da “classe C” para o universo
online deve manter esse ritmo de aumento no número de usuários residenciais. A pesquisa
indica que 79,9 milhões de brasileiros têm acesso à Internet, sendo o Brasil o quinto país
mais conectado; o principal local de acesso é a lanhouse (31%), seguido da própria casa
(27%) e da casa de parente de amigos (25%).
Em 2012, de acordo com a pesquisa do Interactive Advertising Bureau19 (IAB Brasil),
mais de 40% dos entrevistados passam pelo menos duas horas diárias online, enquanto 25%
acessam a Internet ao mesmo tempo em que assistem à TV. O uso da Internet é apontado,
ainda, como a atividade preferida por todas as faixas etárias, de renda, gênero e região; é
Cf. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,cheias-de-charme-rende-mais-um-fruto-a-webo-clipe-vida-de-patroete-,899648,0.htmhttp://transcrossmedia.tumblr.com/http://oglobo.globo.
com/cultura/kogut/posts/2012/05/25/critica-cheias-de-charme-pioneira-emcasamento-cominternet-446958.asp
18
http://tobeguarany.com/internet_no_brasil.php
19
http://iabbrasil.ning.com/
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considerada o meio mais importante para 82% dos entrevistados. A pesquisa expõe, ainda,
que a maioria (62%) da audiência brasileira online acessa a Internet via dois ou mais canais.
O estudo indica que 61% dos usuários de Internet no Brasil utilizam o computador ou laptop
enquanto veem TV.
A expansão do crédito e os programas do governo federal como “Computador para
todos” e “Computador na sala de aula” têm permitido a “inclusão digital” também para aquelas
que as pesquisas de mercado designam como classes C e D (Barros, 2009). A sociabilidade
dos jovens de classes populares na rede se caracteriza pelo reforço dos laços de amizade
consolidados no ambiente offline e no espaço doméstico ou mesmo em lanhouses, onde
uma das peculiaridades é o compartilhamento do computador com os amigos (Ibid.).
Esses apontamentos de pesquisa qualitativa, agregados aos dados quantitativos citados
anteriormente, indicam que a classe popular é importante consumidora de Internet.
Nesse ambiente de cultura da convergência, Jenkins (2006; 2008) considera que tal
fenômeno implica mais do que transformações tecnológicas e culturais nos pólos produtores
e consumidores de produtos midiáticos, visto que envolve as formas com que esses passam
a interagir entre si, que difere das relações anteriores entre produção e recepção. Ou seja,
estamos presenciando outros modos de ver televisão, em que o sistema de transmissão
em broadcasting já não contempla todas as necessidades dos receptores, cada vez mais
atuantes, mais habituados à lógica da Web 2.0.
No contexto atual de convergência midiática, os produtores das telenovelas e seus
receptores participam de forma mais integrada, “interagindo de acordo com um novo
conjunto de regras, que nenhum dos dois entende por completo” (Jenkins, 2008, p. 28).
Exemplos dessa relação são as versões criadas pelos telespectadores de seus personagens
preferidos, sem esperar pelas “versões oficiais”; as críticas às narrativas, feitas no momento
em que essas estão sendo transmitidas; a pressão para que produtores realizem modificações
nos roteiros; a produção de sites, perfis e paródias para divulgar suas telenovelas prediletas.
Jacks et al. (2011b), a partir de trabalho empírico, mostram a tendência da Rede Globo
de expandir a narrativa das telenovelas utilizando a Internet, com várias estratégias para
a circulação/divulgação de suas histórias. Em muitos momentos, narrativas e eventos
extranarrativos se entrelaçaram na produção de conteúdos sobre a trama, perpassando
vários formatos: sites, redes sociais, blogs, assim como meios tradicionais, num diálogo entre
a mídia e a sociedade. Sob a perspectiva da emissão, a pesquisa indica que a experiência
da Rede Globo ainda é a de crossmedia, pois o cenário de oferta e consumo da telenovela
de fato se constrói a partir de um atravessamento plurimidiático, mas não com autonomia
suficiente para ser nomeado de transmidiático.
Numa linha de raciocínio similar, ao que denomina de recepção transmidiática, Lopes
(2011) considera que essa adquire status de uma apropriação cultural (ainda que mediada
por plataformas oficiais dos produtores), pois são os usuários que, de forma mais aberta,
decidem usar as diversas plataformas para falar de seus "gostos e desgostos" ficcionais,
localizados ao longo de um continuum de público passivo/ativo, que vão desde o ponto
de expressão de um comentário sobre a produção ou os atores até o ponto em que os
consumidores se tornam também autores, criando outras narrativas a partir das ficções
exibidas.
Lacalle (2009) considera que os sujeitos inseridos nesse contexto de convergência
midiática perdem o status de telespectadores ou internautas e se tornam telenautas,
assumindo uma multiplicidade de papéis possibilitados através dos novos meios digitais.
Essas comunidades virtuais são formas de agrupamentos reunidos não somente pelos
antigos modelos sociais, mas por associações voluntárias, temporárias, táticas e simultâneas,
que podem ser abandonadas à medida que o telespectador/ internauta muda de interesse.
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As classes populares dentro e fora da tela/ Las clases populares dentro y fuera de la pantalla
Considerações finais
Ao tratarmos do atual contexto da produção, circulação e consumo de telenovelas
brasileiras, não podemos deixar de refletir criticamente sobre esses dois fenômenos:
a chamada “nova classe C” e a convergência midiática. Devemos ficar atentos para as
tessituras desse momento, observando como a principal emissora de televisão do país
utiliza o momento econômico e social brasileiro para manter ativo o consumo de seus
produtos, no caso, as telenovelas. De forma enfática, queremos dizer que essa nova classe
trabalhadora apontada por Pochmann (2012), é, na verdade, dentro da lógica capitalista, uma
gama de potenciais consumidores, isto é, compradores de bens duráveis e não-duráveis,
como computadores e televisores.
No Brasil – onde a televisão ocupou o importante papel de principal forma diária
de entretenimento das famílias das classes populares urbanas –, o advento da Internet
e da cultura convergência obrigou os produtores a expandirem o conteúdo da grade de
programação das TVs para o universo online. Ao mesmo tempo, depararam-se com o
feedback imediato dos telespectadores nas redes sociais, algumas vezes com uma reação
negativa à produção midiática, outras, com verdadeira devoção ao produto.
Conforme os dados mostrados neste artigo, o aumento do poder de compra das classes
populares levou esse segmento da população brasileira ao mundo da Web 2.0, tornando
necessário que as emissoras televisivas utilizem estratégias cross e transmidiáticas para
manter a audiência. Essa já não dá atenção exclusiva à TV, mas, ao mesmo tempo em
que acompanha a telenovela preferida, navega na Internet: comenta e compartilha o que
assistiu nas redes sociais; busca mais informações sobre o programa nos sites; participa de
comunidades virtuais específicas, etc.. Ou seja, uma parcela de telespectadores brasileiros
vive empiricamente a cultura da convergência apontada por Jenkins (2006; 2008).
É necessário, porém, parcimônia e mais investigação para compreender o impacto dessas
mudanças econômicas e tecnológicas junto à audiência, observando as especificidades
brasileiras, que pouco se assemelham ao contexto de convergência midiática desenhado por
Jenkins. Afinal, apesar da inclusão econômica dos “batalhadores brasileiros” (Souza, 2010)
– e o fato de muitos outros ainda viverem em condição de pobreza e permanecerem na
ralé20 –, vivemos relações de poder extremamente desiguais, não sendo possível comparar
os “meros mortais” produtores de conteúdo na Internet à parcela poderosa da mídia, que
domina a produção midiática nacional.
A ralé foi o tema do livro de Souza “A ralé brasileira: quem é e como vive” (2009), que precedeu
“Batalhadores”. A ralé é uma classe de indivíduos “não só sem capital cultural nem econômico em
qualquer medida significativa, mas desprovida, esse é o aspecto fundamental, das precondições
sociais, morais e culturais que permitem essa apropriação” (Souza, 2010, p. 25).
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