Milho – Crescimento da produção brasileira deverá exercer
pressão negativa sobre os preços
Segundo o Usda a produção norte-americana de 2007/8 situou-se em 332,09
milhões de toneladas, ou seja, aumentou 24% em relação aos 267,6 milhões
colhidos na safra anterior.
Mesmo com este expressivo avanço da produção, em razão do aumento do
consumo doméstico (especialmente para a transformação em etanol) e do maior
volume das exportações, os estoques para o final da temporada 2007/08 estão
projetados em 36,4 milhões de toneladas, ou seja, num patamar apenas um pouco
maior que o estimado para o final da temporada anterior.
Para a safra 2008/09 o Usda está estimando a produção americana em 298,1
milhões de toneladas, ou seja, num patamar 10,2% menor que o da anterior. A
queda decorre, além redução de 8,1% na área semeada da perspectiva de que
em razão do excesso de chuvas o rendimento médio das lavouras também ficará
abaixo dos 151,1 buschels por hectare obtidos no ano passado.
Como conseqüência da menor produção, mesmo mantendo a projeção do
consumo americano nos mesmos patamares dos da temporada 2007/08 (267,0
milhões de toneladas) e projetando um expressivo decréscimo no volume das
exportações, a estimativa é de que os estoques finais da nova temporada caiam
para apenas 17,1 milhões de toneladas (Tabela 1).
Tabela 1 - Milho – oferta/demanda norte-americana
(milhões t)
Discriminação
2006/07
2007/08
2008/09
Estoque inicial
49,97
33,11
36,39
Produção
267,6
332,09
298,08
230,79
266,97
266,97
Exportação
53,97
62,23
50,80
Estoque final
33,11
36,39
17,08
Cons. doméstico
Fonte: Usda (jun/08).
Em termos globais, a produção de 2007/08 situou-se em 779,8 milhões de
toneladas, com avanço de 10,8% em relação ao da safra anterior. O crescimento,
mesmo com o recuo da produção da União Européia, decorreu do excelente
desempenho da safra americana e da boa perspectiva para a produção brasileira.
A safra chinesa manteve-se estabilizada em 151,8 milhões de toneladas e a da
Argentina deverá recuar de 22,5 milhões para 21,5 milhões de toneladas.
Como decorrência do grande avanço em termos de produção, mesmo com a
projeção do forte incremento do consumo global, os estoques mundiais deverão
apresentar uma certa recomposição em relação aos do final da temporada
2006/07.
Para a safra 2008/09 a estimativa do Usda de junho aponta para uma produção
global de 775,3 milhões de toneladas, volume que além de menor que o da safra
anterior, deverá, em razão da previsão de aumento do consumo, provocar a queda
dos estoques mundiais para 103,3 milhões de toneladas (Tabela 2).
O montante da produção mundial, a despeito da grande queda da produção dos
Estados Unidos, deverá ser parcialmente amortizada pela melhor perspectiva para
a produção da Argentina (de 21,5 milhões para 23,5 milhões de toneladas), pelo
potencial da safra brasileira (estimado em 57 milhões de toneladas), pela
produção da China prevista em 153 milhões de toneladas e pela provável
recuperação da safra da União Européia que deverá aumentar de 48,39 milhões
para 56,12 milhões de toneladas.
Tabela 2. Milho – oferta/demanda mundial
(milhões t)
Discriminação
2006/07
2007/08
2008/09
Estoque inicial
125,11
110,16
121,09
Produção
713,13
789,81
775,26
Cons. doméstico
728,08
778,88
793,06
93,06
98,56
91,87
110,16
121,09
103,29
Exportação
Estoque final
Fonte: Usda (jun/08).
Embora a perspectiva do quadro da oferta/demanda tanto em termos mundiais
quanto dos Estados Unidos seja de estoques menores que os das últimas
temporadas comerciais, seus níveis não explicariam, por si só, o forte incremento
registrado no mercado internacional do cereal, especialmente nestes primeiros
meses de 2008.
Neste contexto, há que se considerar a existência de algumas variáveis que estão
exercendo grande influência sobre o direcionamento dos preços, dentre as quais
se destacam: A quebra da safra da União Européia; o grande incremento do
consumo do cereal para a fabricação de etanol nos Estados Unidos; o forte
avanço dos preços do petróleo; a ação dos especuladores que diante dos
problemas com a crise imobiliária derivaram em boa parte para o mercado de
commodities e; mais recentemente pela perspectiva de forte recuo da safra dos
Estados Unidos.
A conjugação destes fatores fez com que as cotações internacionais que em 2007
já haviam registrado bons avanços em relação às de 2006, acusassem forte
crescimento, atingindo, na metade da segunda semana de junho US$ 279,10/t, ou
seja, um valor 86,0% maior que o da média do mesmo mês de 2007 (Gráfico 1).
Gráfico 1.
Milho - Cotações internacionais (US$/t)
300
250
200
150
100
50
jan fev mar abr mai jun
Fonte: Bolsa de Chicago.
jul ago set out nov dez
2006
2007
2008
Para os próximos meses, ainda que não se descarte a possibilidade de o mercado
acusar alguns ajustes para menor, a tendência é de os preços internacionais
permanecerem firmes e oscilando em consonância com as especulações em
relação ao comportamento e ao tamanho da safra dos Estados Unidos.
Em termos de Brasil, o último levantamento da Conab apontou para a primeira
safra uma produção da ordem de 39,9 milhões de toneladas, volume 9,0% maior
que o colhido em 2006/07. Já a safrinha está sendo estimada em 18,53 milhões
de toneladas, ou seja, num montante 25,4% maior que o colhido na anterior.
No computo geral, a produção brasileira de 2007/08 está sendo projetada em
58,43 milhões de toneladas, com avanço de 13,7% em comparação à de 2006/07.
Caso esta projeção se concretize, o suprimento nacional, quando considerado os
estoques de entrada seria da ordem de 65,6 milhões de toneladas, volume que
não só assegurará o consumo nacional (estimado em 44,0 milhões de toneladas)
e as exportações, projetadas em 11,55 milhões de toneladas, como também
poderá permitir que os estoques atinjam ao final de 2008 cerca de 10,0 milhões de
toneladas (Tabela 3).
Tabela 3 – Milho – oferta/demanda – Brasil
(mil t)
Discriminação
Estoque inicial
2005/06
2006/07
2007/08
3.135,4
5.568,3
6.600,2
42.514,9
51.369,9
58.431,0
956,0
1.095,5
600,0
37.100,0
40.500,0
44.000,0
Exportação
3.938,0
10.933,5
11.553,7
Estoque final
5.568,3
6.600,2
10.077,5
Produção
Importação
Consumo
Fonte: Conab (jun/08).
Esta perspectiva superavitária para o quadro do suprimento nacional, juntamente
com a valorização do real frente ao dólar, já começa a exercer pressão negativa
sobre os preços internos.
Os preços mais comuns ofertados aos produtores de Chapecó, por exemplo, que
iniciaram o ano na faixa R$ 24,70/sc, caíram nesta segunda semana de junho
para R$ 22,00/sc. Todavia, em comparação com os da média de junho de 2007,
os preços ainda registram um avanço de quase 38% (Gráfico 2).
Gráfico 2.
Milho - Preços ao produtor de Chapecó (R$/sc)
30
22,00
25
20
15
10
Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Fonte: Epagri/Cepa.
Jul Ago set
2006
out nov dez
2007
2008
Para os próximos meses, a não ser que ocorram problemas com a safrinha, ou
que a situação internacional se altere substancialmente, a tendência é de os
preços perderem um pouco mais de fôlego.
Tal possibilidade deriva do fato de que a liquidez do mercado interno dependerá
fundamentalmente da concretização de um expressivo volume de exportações,
fato que deverá ajustar os preços internos aos da paridade com os do mercado
internacional, atualmente na faixa dos R$ 24,50/sc no porto.
Ainda no que se refere às exportações, vale salientar que neste ano, ao contrário
do registrado em 2007, a pressão de compras por parte da União Européia deverá
diminuir substancialmente no segundo semestre, uma vez que a previsão é de
naquela região haverá bom crescimento não só da produção de milho, como e,
especialmente da de trigo.
Por isso e pela liberação de importação de algumas variedades de milho
transgênicos, parece estar descartada a possibilidade de que, ao contrário do ano
passado, os europeus venham a pagar algum sobre-preço para o produto
brasileiro.
A perspectiva de que os preços internos possam se acomodar num patamar mais
baixo poderá redundar numa situação mais confortável para o produtor
catarinense de suínos.
Além disso, em razão da boa safra estadual, cujas estimativas apontam para uma
produção de 4,19 milhões de toneladas (3,86 milhões na safra anterior), o quadro
da oferta/demanda de milho aponta para uma menor dependência de milho de
outros estados.
A estimativa do Epagri/Cepa é de que, mesmo com a projeção de aumento do
consumo por parte da suinocultura e da avicultura, o déficit catarinense possa
decrescer de 1,41 milhão para cerca de 1,18 milhão de toneladas (Tabela 4).
Tabela 4. Milho–oferta/demanda –Santa Catarina – 2005 a 2008
Discriminação
2005
2006
2007
2008
I - Consumo
4707,2
4.774,50
4.979,60
5.270,80
1 - Humano
90,0
90,00
90,00
90,00
2 - Animal
4514,2
4.616,50
4.821,60
5.037,80
. Suínos
1982
2.130,40
2.164,00
2.247,20
2199,2
2.142,10
2.263,60
2.371,60
333,0
344,00
394,00
419,00
3 - Indústrias/outros
63,0
43,00
43,00
43,00
4 - Saídas
40,0
25,00
150,00
100,00
II - Perdas
90,0
90,00
110,00
120,00
III – Neces. total
4797,2
4.864,50
5.214,60
5.390,80
IV - Produção (*)
2870
2.950,00
3.800,00
4.210,00
1927,2
1.914,50
1.414,60
1.180,82
. Aves
. Outros
V - Déficit
* Produção mais substitutos.
Fonte: Estimativas da Epagri/Cepa (jun/08).
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Milho – Crescimento da produção brasileira deverá exercer pressão