A QUESTÃO DA LIBERDADE
Mas algum de vocês me dirá: Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua
vontade? Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode
dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim? - Romanos 9.19-20 (SENHOR SOBERANO E
JUSTO JUIZ)
Deus não nos ensinou a realidade de seu Governo Soberano com o intuito de nos oferecer uma
desculpa para negligenciarmos suas ordens. J. I. Packer
INTRODUÇÃO – DEFININDO TERMOS.
1. VONTADE LIVRE – A humanidade após a queda possui?
Vontade – processo de escolher ou querer alguma coisa – um processo que envolve a pessoa
toda. Tal querer, na verdade, jamais é feito sem considerações racionais e impulsos ou apetites
emocionais. O querer é sempre uma função da pessoa toda.
Livre – em que sentido? “Criatura com opção”? ou “capaz de viver de uma forma inteiramente
agradável aos olhos de Deus – isto é, caso se esforce muito, ele ainda pode viver sem pecar?”
2. ESCOLHA E VERDADEIRA LIBERDADE – Como nossa queda em pecado e como a Obra
Redentora de Deus, respectivamente, afetou a nossa “vontade” e a nossa “liberdade”?
Escolha ou “capacidade de escolher” – capacidade de fazer escolhas entre alternativas – uma
capacidade que implica responsabilidade pelas escolhas feitas, boas ou más, que podem glorificar
ou ofender a Deus.
Verdadeira Liberdade – capacidade que as pessoas têm, com o auxílio do Espírito Santo, de
pensar, dizer e fazer o que é agradável a Deus e que está em harmonia com sua vontade
revelada.
DESENVOLVIMENTO – ENTENDENDO O TEMA.
I. A CAPACIDADE DE ESCOLHA – ou aptidão para Escolha
- é um aspecto inalienável da natureza humana normal.
- fundamenta-se no fato de que o ser humano é uma “Pessoa Criada” a “imagem de Deus”
- todas as coisas criadas e todos os seres criados são totalmente dependentes de Deus. Ne. 9.6 e
At. 17. 25,28
- o homem, contudo, não é somente uma criatura; também é uma pessoa. Ser uma pessoa
significa ter alguma forma de independência – não absoluta, mas relativa. Significa ser capaz de
tomar decisões, fazer escolhas, pois não é um robô, mas tem poder de autodeterminação e de
autodireção. (Rm. 9.21 // Js. 24.15; 2 Co. 5.20)
- as faculdades intelectual e racional são um dos aspectos mais importantes, senão o mais
importante, da imagem de Deus no homem no sentido lato, o que inclui, evidentemente, o senso
moral do homem, sua capacidade de distinguir entre o certo e o errado; e sua consciência e
responsabilidade.
- o entendimento de que os seres humanos têm essa capacidade de escolha e que retêm esta
capacidade mesmo após a queda, é, portanto uma ênfase essencial na doutrina cristã do homem.
- a Bíblia sempre se dirige aos seres humanos como pessoas que podem tomar decisões e que
são responsáveis pelas decisões que tomam.
- esta capacidade o distingue de todas as outras criaturas na terra: montanhas, plantas e animais.
- a capacidade de fazer escolhas é essencial à existência humana. À parte dela, não pode haver
qualquer responsabilidade.
II. A ORIGEM DA VERDADEIRA LIBERDADE – A capacidade de fazer o que é agradável a
Deus.
- quando os seres humanos foram criados, possuíam tanto a capacidade de Escolher como a
Verdadeira Liberdade. Eram capazes de não pecar – (posse non peccare)
- No princípio, portanto, o ser humano não era um ser neutro, nem bom nem mau, mas um ser
bom que era capaz de, com a ajuda de Deus, viver uma vida totalmente agradável a Deus.
(Estado de inocência ou Integridade) Tinham a capacidade não só de fazer escolhas como
também de fazer escolhas certas.
- possuía a verdadeira liberdade – mas não era ainda a perfeita liberdade. Ele ainda podia cair no
pecado – e foi o que de fato aconteceu. Caíram num estágio de pecado e depravação, de total
incapacidade de agradar a Deus.
III. A VERDADEIRA LIBERDADE PERDIDA
- ao caírem em pecado, perderam não a capacidade de escolha (que é inseparável da natureza
humana), mas a verdadeira liberdade – a capacidade de viver em total obediência a Deus.
- a humanidade tornou-se então, escrava do pecado; passou ao estado de “não ser capaz de não
pecar” – (non posse non peccare) Jo. 8.34; Rm. 6. 6, 17, 19, 20.
- “Pelo mau uso de seu livre arbítrio (sua capacidade de fazer o certo – que, contudo, incluía a
possibilidade de desobediência) que o homem destruiu igualmente aquele (o seu livre arbítrio)
como a si mesmo. Pois, como um homem que se suicida precisa, naturalmente, estar vivo a se
matar, mas após ter se matado cessa de viver e não pode restituir a vida a si mesmo, assim
também, quando o homem por seu próprio livre arbítrio pecou, sendo o pecado vitorioso sobre ele,
perdeu a liberdade de sua vontade. ‘Pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor’ 2
Pedro2. 19” – Agostinho – Enchiridion – Vol. 3.
- o fato de os seres humanos terem perdido a verdadeira liberdade não significa que também
tenham perdido a capacidade de fazer escolhas. Eles agora pecam de bom grado, decidindo agir
assim. Ainda fazem escolhas, mas as escolhas erradas. Encontram-se agora na escravidão do
pecado. (Deus mediante a graça comum refreia a propensão humana ao pecado, de maneira que
a pessoa ainda não regenerada ainda é capaz de fazer algum bem. Mas esse refreamento, não
remove de forma nenhuma a escravidão do pecado a que o homem decaído esta sujeito. Gn. 20.6,
7; Rm. 13. 3,4; 2 Ts. 2. 6,7; Rm. 2. 14,15)
IV. A VERDADEIRA LIBERDADE RESTAURADA
- A Verdadeira Liberdade perdida na queda, é restaurada no processo de Redenção. Quando o
Espírito Santo Regenera uma pessoa, renova-lhe a imagem de Deus e começa, nela, a obra de
Santificação, de modo que a pessoa é capacitada a voltar-se para Deus em arrependimento e fé, e
a fazer o que é verdadeiramente agradável aos olhos de Deus. O Homem volta a “ser capaz de
não pecar” (posse non peccare). A Redenção significa a libertação da “escravidão do
pecado”; a pessoa regenerada deixa de ser escrava do pecado.
- Jo. 8.34, 35-36; Gl. 5.1 e 16; (Cristo nos fez livres para que pudéssemos nos tornar
verdadeiramente livres. Gl. 5.1 – Tradução em holandês); 2 Co. 3.17,18; Rm. 6. 4, 6, 14, 18, 22.
- O Cristão deve se ver como alguém que, embora ainda não sendo perfeito, já é uma nova
pessoa que está sendo progressivamente renovada, e que é, portanto, genuinamente nova
embora ainda não totalmente nova.
- Por causa da obra Redentora de Deus, o Cristão possui agora a verdadeira liberdade, mas essa
Liberdade, ainda não é perfeita. Embora não seja um escravo do pecado, ainda é tentado a pecar
e ainda comete pecado. Um dia – após a ressurreição do corpo – o cristão será perfeita e
totalmente livre.
- Então, essa liberdade não pode ser usada indevidamente: Gl. 5.13; 1 Pe. 2.16. A verdadeira
liberdade significa viver como “servos de Deus”.
- Embora seja Deus quem restaure a nossa verdadeira liberdade no processo Redentor, o
exercício dessa liberdade também envolve responsabilidade humana, pois não somos robôs ou
maquinas automatizadas; somos pessoas criadas. Como criaturas somos totalmente dependentes
de Deus, mas, como pessoas, não só devemos fazer escolhas como também somos considerados
responsáveis pelas escolhas que fazemos.
- A ênfase bíblica na soberania de Deus não exclui a necessidade de uma resposta pessoal às
propostas do Evangelho. 2 Co. 5.20
- O permanente exercício de nossa verdadeira liberdade também envolve a nossa
responsabilidade. Embora seja verdadeiro que Deus nos Santifica pelo seu Espírito Santo, somos
conclamados a que nos purifiquemos das impurezas do pecado. 2 Co. 7.1.
- Calvino distingue três aspectos da verdadeira Liberdade:
1. Liberdade da necessidade de guardar a lei de Deus para obtermos a nossa Salvação – Gl. 2.16
2. Liberdade para obedecer à lei de Deus voluntariamente, como um modo de demonstrar nossa
gratidão a Ele. Essa lei, quando observada com gratidão, não nos submete a nova escravidão,
mas nos conduz a uma vida que é rica, plena e feliz, enquanto procuramos nos manter dentro da
vontade de Deus. Sl. 1.2; 19.10; Por isso também Tiago pode falar da lei como “lei perfeita, lei da
liberdade” Tg. 1.25; 2.12; ou a “lei perfeita que dá liberdade”.
3. Liberdade com respeito às coisas exteriores que em si mesmas são indiferentes. 1 Co. 10.23;
V. A VERDADEIRA LIBERDADE APERFEIÇOADA
- Somente na vida por vir a nossa liberdade será aperfeiçoada e assim poderemos afirmar acerca
do homem “não posso pecar” (non posse peccare)
- 1 Co. 15.42-43; Ap. 21.4; Rm. 8.20,21
- Pois quando o Filho do Homem nos Libertar, verdadeiramente seremos Livres.
(Criados a Imagem de Deus – Anthony Hoekema – Cultura Cristã)
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2015-02-08 Ricardo Mattos - A Soberania de Deus e o Livre Arbitrio