Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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Saber Humano
Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti
Nº 1 | Fev. 2011
ISSN: 2178-7689
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Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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Saber Humano
Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti
Nº 1 | Fev. 2011
ISSN: 2178-7689
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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Saber Humano
Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti
Membros do Corpo Editorial
Ana Claudia Valentini Montenegro (AMF – Mestranda em Administração/Univ. Presb. Mackenzie)
Clarissa Mazon Miranda (Mestranda em Comunicação/UFSM)
Estela Maris Giordani (AMF – Doutora em Educação/UNICAMP)
Gabriela Rockenbach de Oliveira (AMF – Mestranda em Engenharia da Produção/UFSM)
Josele Nara Delazeri de Oliveira (AMF – Mestre em Engenharia da Produção/UFSM)
Leandra Calegare (AMF – Mestre em Engenharia de Produção/UFSM)
Paolo Garcia Moreno Leonardi (AMF – Doutor em Ciências Políticas/Univerità degli Studi di
Roma “La Sapienza”)
Patrícia Wazlawick (AMF – Doutora em Psicologia/UFSC)
Paula Silva Bazzo (AMF – Mestranda em Administração/UFSM)
Soraia Schutel (AMF – Mestre em Administração/UFSM; Doutoranda em Administração/UFRGS)
Viviane Disarz (AMF – Bibliotecária)
Viviane Teresinha Biachi Brust (AMF – Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
Brasileira, Mestranda em Letras/Estudos Linguísticos, UFSM).
Expediente:
Bibliotecária Responsável: Viviane Disarz | CRB 14/1051
Revista Saber Humano: Revista Científica da
Faculdade Antonio Meneghetti, n.01, fevereiro
2011.
Estrada Reanto Maestro: Faculdade
Antonio Meneghetti, 2011.
Semestral
ISSN – 2178-7689
1.
Faculdade Antonio Meneghetti: periódicos.
É permitida a reprodução dos artigos desde que citada a fonte.
Os conceitos emitidos em cada artigo são de reponsabilidade de seus respectivos autores.
Saber Humano
Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti – AMF
Estrada Recanto Maestro, nº 338
Distrito Recanto Maestro | Restinga Sêca-RS
Cep: 97200-000
Tel. (55) 3289-1139 | (55) 3220-0344
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www.faculdadeam.edu.br
Apoio:
Fundação Antonio Meneghetti
Associação Brasileira de Ontopsicologia
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número 1 | fev. 2011
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Sumário
A liderança na terceira idade: o sentido do trabalho.………………………………………………………………… 10
Beatriz Machri de Pellegrini
Ana Maris Petry
Soraia Schutel
A responsabilidade do emprendedor individual e suas perspectivas jurídicas…………………………….. 21
João Francisco Dias Feltrin
Josemar Sidnei Soares
A função do assessor jurídico para sucesso na tomada de decisão do empresário.……………………… 34
Letícia Balen Zereu Batistela
Soraia Schutel
Estratégia empresarial: planejamento e implementação.…………………………………………………………… 52
Maria Alice Schuch
Vera Lúcia Rodegheri
Ambientes confortáveis e humanizados...…………………………………………………………………………………… 67
Luiz Henrique Girardi
Estela Maris Giordani
Preditores de liderança no estilo de vida dos jovens na sociedade atual……………………………………… 76
Maria Tereza Andreola
Ana Maris Petry
Desenvolvimento do jovem líder e sustentabilidade econômica-social-ambiental: estudo de caso da
Lavanderia Acquachiara…………………..…………………………………………………………………………………………. 91
Lilian Werner Phillippi da Silva
Soraia Schutel
Residence de autenticação: relação entre conceituação e exercício do autossustento em jovens 105
Ana Paula Mariano Pregadier
Josiane Beatriz Piccin Barbieri
Estudo exploratório sobre a aplicação da intuição no proceso de vendas…………………………………. 114
Joana de Jesus
Adriane Maria Moro Mendes
A esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova lei de estágio de estudantes 125
Alessandro Spiller
Josemar Sidnei Soares
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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Contents
Leadership in the elderly: the meaning of work.…………………………………………………………………………. 10
Beatriz Machri de Pellegrini
Ana Maris Petry
Soraia Schutel
The responsibility of the individual entrepreneur and their legal perspectives.………………………….. 21
João Francisco Dias Feltrin
Josemar Sidnei Soares
The role of counsel for success in decision-making entrepreneur...…………………………………………….. 34
Letícia Balen Zereu Batistela
Soraia Schutel
Corporate strategy: planning and implementation...…………………………………………………………………… 52
Maria Alice Schuch
Vera Lúcia Rodegheri
Comfortable environments and humanized......………………………………………………………………………….. 67
Luiz Henrique Girardi
Estela Maris Giordani
Predictors of leadership in the lifestyle of young people in modern society...…………………………….. 76
Maria Tereza Andreola
Ana Maris Petry
Development of the young leader and economic sustainability - social - environment: a case study
of Acquachiara Laundry...…………………………………………………………………………………………………………… 91
Lilian Werner Phillippi da Silva
Soraia Schutel
Residence of authentication: the relationship between concept and self-sustaining exercise in
young..……………………………………………………………………………………………………………………………………… 105
Ana Paula Mariano Pregadier
Josiane Beatriz Piccin Barbieri
Exploratory study on the application of intuition in the process of selling.……………………………….. 114
Joana de Jesus
Adriane Maria Moro Mendes
Schizophrenia demonstrated in the current legislation through the new law student internship 125
Alessandro Spiller
Josemar Sidnei Soares
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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Editorial
A Saber Humano Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti, ISSN
2178-7689, tem como objetivo a publicação de trabalhos que sejam classificados nas
seguintes modalidades: artigos/resultados de pesquisas, revisão de literatura (estudo teórico) e
cases, nas áreas de Ciências Humanas e Ciências Sociais aplicadas, em especial áreas de
Administração, Sistemas de Informação e afins.
Com frequência de publicação semestral, a Saber Humano conta também com duas
seções especiais: Seção Scio Ens que será destinada para outras áreas do conhecimento; e a
Seção Episteme destinada à publicação de trabalhos especiais.
O nascimento da Saber Humano Revista Científica se dá em decorrência do percurso
histórico inicial da Faculdade Antonio Meneghetti-AMF nas áreas interligadas de ensino,
pesquisa e extensão, e converge ações, bem como está em consonância com o momento em
que a instituição começa a intensificar suas atividades na área de pesquisa.
Descobrindo sua vocação, desde sua criação a Faculdade Antonio Meneghetti estimula
a pesquisa entre docentes e discentes, as quais se encontram em publicações. No ano de 2009
a AMF instituiu um Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa-NIP, o qual realiza atividades
conjuntamente entre professores e alunos, e a partir do ano de 2010 começou a reforçar sua
área de Pesquisa Institucional, com a delimitação da Área de Concentração e 05 Linhas de
Pesquisa.
Como Instituição de Ensino Superior a Faculdade Antonio Meneghetti respeita e
pratica o pressuposto fundamental da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. No
âmbito de suas atividades de Pesquisa, de acordo com o Regimento Institucional (Título I Da instituição e seus objetivos, Cap. II, art. 4º), a AMF prioriza:
- Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do
pensamento reflexivo;
- Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e à criação e difusão da cultura e, desse
modo, promover o entendimento do homem em relação ao meio em que vive.
No desenvolvimento da investigação científica e tecnológica, a Faculdade mantém um
pertinente instrumento pedagógico e social para a consecução de seus objetivos educacionais.
O fazer ciência, participando de atividades de pesquisa básica ou aplicada, tem um importante
papel na formação do estudante, no despertar e aprimorar da qualidade que se reflete no
preparo de um profissional capacitado a enfrentar problemas cotidianos (cf. Projeto
Pedagógico Institucional – PPI, Faculdade Antonio Meneghetti).
Dessa forma, as atividades de pesquisa e estudos científicos buscam atender às
necessidades investigativas empreendidas pela instituição, bem como atender às necessidades
regionais, tendo em vista promover a difusão e divulgação da produção científica dos
professores e alunos, integrando a graduação e a pós-graduação.
A Área de Concentração dos trabalhos de pesquisa da AMF é a Ontopsicologia. A
Ontopsicologia é a mais recente entre as ciências humanistas contemporâneas e tem por
objeto de estudo a análise da atividade psíquica inerente ao humano. Através do seu método é
possível a repetibilidade e a reprodutividade dos resultados. A Ontopsicologia permite, na sua
aplicação, tornar exato o pesquisador, o operador, o líder em qualquer campo que este opere.
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número 1 | fev. 2011
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A Área de Concentração da Pesquisa Institucional da AMF congrega os fundamentos
teóricos, epistemológicos e metodológicos da Ontopsicologia, tendo em vista que a mesma é
uma ciência epistêmica – geral a qualquer procedimento científico ou intelectivo – e
interdisciplinar, pois o seu destinatário é o operador do contexto global: o homem. Abrange
também a atuação do conhecimento ontopsicológico, ou seja, suas aplicações práticas nas
áreas de intervenção humanista-profissionais, tais como a Psicopatologia e Psicossomática,
Pedagogia, Psicologia do Líder, Filosofia, OntoArte, Estética, Ética, Direito, e Metafísica
existencial.
A Ciência Ontopsicológica, ao ser aplicada na prática, viabiliza a experiência humana
em sua totalidade. No contexto acadêmico-educacional possibilita a passagem
multidisciplinar do aluno, de modo a orientar a construção de caminhos metodológicos para a
ação otimal profissional. Tanto os cursos de graduação quanto os de pós-graduação da
Faculdade Antonio Meneghetti aplicam a metodologia ontopsicológica, visando formar a
inteligência global do aluno permitindo que o mesmo seja capaz de produzir e visualizar a
realidade em diferentes ambientes e setores, de acordo com cada especificidade de
localização. O escopo principal desta formação é favorecer o desenvolvimento humano ao
progressivo crescimento econômico e social, e preparar homens aptos a resolver os constantes
anseios da sociedade em contínua evolução. Portanto, neste ponto encontramos, de modo
científico, a relação entre conhecimento, método e cultura a serviço da humanidade.
A partir da Área de Concentração Ontopsicologia, as Linhas de Pesquisa foram
delimitadas do seguinte modo:
Linha 1 – Formação de Líderes, Empreendedorismo e Sustentabilidade;
Linha 2 – Gestão de Negócios, Cultura Humanista e Intuição;
Linha 3 – Informação, Tecnologia, Inovação e Memética;
Linha 4 – Política, Direito, Ontologia e Sociedade;
Linha 5 – Psicossomática Física e Organizacional.
Mais informações sobre cada uma das linhas de pesquisa, profesores pesquisadores
integrantes e temáticas de estudo desenvolvidas podem ser verificados na página da AMF, no
seguinte endereço: http://www.faculdadeam.edu.br/pesquisa.
Sendo assim, a Saber Humano se torna um instrumento que promove a veiculação do
conhecimento científico produzido nos programas de pesquisa da própria instituição, bem
como constrói uma interface de diálogo e promoção da interdisciplinaridade entre demais
pesquisadores e instituições no cenário acadêmico e científico em primeira instancia regional,
no contexto brasileiro e também internacional.
Em seu primeiro número, datado de fevereiro de 2011, a Saber Humano, em uma
edição inaugural, apresenta 10 artigos científicos que são frutos dos Trabalhos de Conclusão
de Curso da primeira turma do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu MBA Business Intuition
“Gestão de Negócios e Intuição”. Estes trabalhos foram apresentados e defendidos a uma
banca avaliadora no período de 30/07 à 01/08/2010. Foi possível verificar, a partir da
apresentação de cada trabalho de conclusão de curso que estes se converteram em ações de
inovação para os empreendimentos já conduzidos pelos alunos, ou ainda em um primeiro
passo para a abertura de um novo empreendimento. E, junto disto, fundamental se faz
verificar que se tornam também conhecimento objetivado, produzido e registrado em um
instrumento de informação, como esta Revista, que permite a circulação das novidades entre
seus pares e a tantos outros espaços e contextos humanos de atuação acadêmica e profissional
de mercado de trabalho.
Neste número da Revista publicamos os seguintes trabalhos:
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Em A liderança na terceira idade: o sentido do trabalho”, as autoras Beatriz Machri
de Pellegrini, Ana Maris Petry e Soraia Schutel realizam um estudo descritivo sobre o sentido
do trabalho para os líderes que, com posição econômica estável, permanecem em atividade
após completar o tempo regulamentar que lhes possibilitaria estar na inatividade.
Em A responsabilidade do empreendedor individual e suas perspectivas jurídicas,
João Francisco Dias Feltrin trata do instituto da responsabilidade aplicado aos
empreendedores individuais, enfoca a origem e o percurso histórico desse instituto, registra a
contribuição que a Ciência Ontopsicológica pode oferecer aos operadores de direito na
resolução do problema e sintetiza o trabalho pela necessidade de adequação da legislação
nacional aos novos tempos.
No artigo A função do assessor jurídico para sucesso na tomada de decisão do
empresário, Letícia Balen Zereu Batistela e Soraia Schutel discutem a função do assessor
jurídico para o processo de tomada de decisão do empresário com o consequente sucesso em
seu business.
No artigo Estratégia empresarial: planejamento e implementação, as autoras Maria
Alice Schuch e Vera Lucia Rodegheri abordam com a pesquisa o objetivo de investigar a
visão de empresários sobre a implementação do planejamento estratégico, sendo este um
constante desafio na realidade das organizações.
Já no artigo Ambientes confortáveis e humanizados, Luiz Henrique Girarde e Estela
Maris Giordani apresentam um estudo prático sobre conforto e funcionalidade de ambientes.
Seus principais objetivos são: apresentar um panorama de como são desenvolvidos os projetos
da maioria dos apartamentos em uma cidade do Estado de Santa Catarina; resgatar os
conceitos necessários para o desenvolvimento de projetos funcionais, estéticos e com
ambientes confortáveis; desenvolver um projeto de um edifício de apartamentos com
ambientes funcionais, confortáveis e estéticos; avaliá-lo e compará-lo com um projeto
convencional.
Em Preditores de liderança no estilo de vida dos jovens na sociedade atual, Maria
Tereza Andreola e Ana Maris Petry enfocam os principais preditores na construção da
liderança do jovem, definidos como: valor saúde, valor social, valor ambição, valor
profissional e valor econômico. Descrevem os principais resultados da pesquisa sobre o estilo
de vida dos jovens como fator de desenvolvimento do potencial de liderança, comprovando-se
que a aplicação da teoria ontopsicológica apresenta resultados sólidos e efetiva competência
para a formação do jovem líder.
No artigo Desenvolvimento do jovem líder e sustentabilidade econômica-socialambiental: um estudo de caso da Lavanderia Acquachiara, de Lilian Werner Philippi da Silva
e Soraia Schutel, o objetivo foi demonstrar como a implementação de um novo negócio em
serviços de lavanderia pode contribuir para o desenvolvimento sustentável e a formação do
jovem. Com isto, relatam o processo de implantação do projeto; demonstram como este
projeto contribui para os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio; discorrem sobre a
formação integral dos jovens no Centro Internacional de Arte e Cultura Humanista Recanto
Maestro e descrevem como o Recanto Maestro estimula e apoia o empreendedorismo.
Ana Paula Mariano Pregardier e Josiane Barbieri apresentam o artigo Residence de
Autenticação: relação entre conceituação e exercício do autossustento em jovens, que é
produto de uma pesquisa realizada com jovens abordando o tema autossustento. O estudo teve
como objetivo identificar a relação entre a compreensão dos jovens sobre o autossustento e a
suas atitudes práticas entre aqueles que participaram do Residence de Autenticação e aqueles
que nunca tiveram esta vivência. O problema de pesquisa centrou-se na investigação do
Residence de Autenticação como elemento facilitador e funcional, para o jovem, na conquista
do autossustento.
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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Joana de Jesus e Adriane Maria Moro Mendes abordam o Estudo exploratório sobre a
aplicação da intuição no proceso de vendas, que apresenta os resultados de uma pesquisa
realizada entre os meses de maio e junho de 2009 com profissionais envolvidos diretamente
em processos de vendas. O foco da pesquisa foi verificar se vendedores de bom desempenho
consideravam-se intuitivos, se usavam a intuição durante o processo de vendas e se o que eles
classificavam como intuição era atribuído do mesmo modo pelos autores estudados.
Por fim, o artigo intitulado A esquizofrenia demonstrada na legislação atual através
da nova lei de estágio de estudantes, de Alessandro Spiller e Josemar Sidinei Soares,
demonstra que o sistema legal brasileiro, baseado em um conceito errôneo de Justiça Social,
vem gerando um excessivo protecionismo e assistencialismo, que se traduzem em resultados
que travam o empreendedorismo. Tal fato não condiz com o ideal humanista de um homem
protagonista responsável, encontrando-se o ordenamento normativo cindido entre o que a lei
impõe e o que deveria dispor para fomentar o crescimento do ser humano de forma holística, e
consequentemente o crescimento do Brasil como liderança mundial.
Dessa forma fechamos o Editorial do primeiro número da Saber Humano Revista
Científica da Faculdade Antonio Meneghetti com alegria por este primeiro passo dado e
sabendo que ainda temos um imenso caminho de produção do conhecimento, no qual
convidamos você leitor a se fazer presente como sujeito do conhecimento, seja na produção
escrita de artigos científicos de pesquisas edificadas, seja como pessoa crítica-reflexiva na
discussão dos mesmos.
Bem vindo a Saber Humano, uma publicação da Faculdade Antonio Meneghetti e e
em especial do trabalho já desenvolvido pela Biblioteca Humanitas! Conta-nos Werner
Jaeger, na obra Paidéia – A Formação do Homem Grego (2003), que a descoberta dos gregos
em relação ao Homem:
...não é a do eu subjetivo, mas a consciência gradual das leis gerais que determinam
a essência humana. O princípio espiritual dos Gregos não é o individualismo, mas o
“humanismo”, para usar a palavra no seu sentido clássico e originário. Humanismo
vem de humanitas. Pelo menos desde o tempo de Varrão e de Cícero, esta palavra
teve, ao lado da acepção vulgar e primitiva de humanitário, que não nos interessa
aqui, um segundo sentido mais nobre e rigoroso. Significou a educação do Homem
de acordo com a verdadeira forma humana, com o seu autêntico ser (JAEGER,
2003, p. 14).
Boa leitura a todos!
Os Editores,
Fevereiro de 2011,
Faculdade Antonio Meneghetti-AMF.
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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A liderança na terceira idade:
o sentido do trabalho
Beatriz Machri de Pellegrini
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Ana Maris Petry
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
[email protected]
Soraia Schutel
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
[email protected]
10
Resumo: O artigo apresenta um estudo descritivo sobre o sentido do trabalho para os líderes
que, com posição econômica estável, permanecem em atividade após completar o tempo
regulamentar que lhes possibilitaria estar na inatividade. A pesquisa é de abordagem qualitativa
e os participantes são cinco empresários, de ambos os sexos, com idade superior a 60 anos, que
possuem empresas na Região Sul do Brasil. Os resultados obtidos apontam ser o trabalho parte
integrante da vida dessas pessoas para as quais o exercício da liderança é um serviço através do
qual realizam seu próprio potencial. O sentido do trabalho é descrito como prazer, alegria e
realização.
Palavras-chave: sentido do trabalho; terceira idade; liderança.
Abstract: This article present a descriptive study about the sense of work for leaders which,
with a stable economic position, remain in activity after completing the regular time of work
that would allow them to retire. The research uses a qualitative approach and the participants
are five business men, from both genders, with ages superior to 60 years old, who own firms on
the South of Brazil. The results obtained point that work is a integrant part of the life of these
people for whom the exercise of leadership is a service through which they realize its own
potential. The meaning of work is described as pleasure, joy and accomplishment.
Keywords: sense of work; third age; leadership.
1 Introdução
Em geral, observa-se que a grande
maioria das pessoas se enquadra basicamente
em dois grupos, no que diz respeito à relação
com o trabalho: os que estão na expectativa da
inatividade assim que completarem o tempo
regulamentar de serviço e aqueles já
PELLEGRINI, Beatriz M.; PETRY, Ana M.; SCHUTEL, Soraia. A liderança na terceira idade: o sentido do trabalho. Revista Saber Humano, Recanto
Maestro, n. 1, p. 10-20, fev. 2011.
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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aposentados, que não desenvolvem qualquer
tipo de atividade laborativa.
Outro olhar diz respeito àqueles já
aposentados que permanecem em atividade
por uma premência econômica, haja vista a
necessidade de complementar seus recursos a
fim de atender a manutenção do estilo de vida
alcançado.
No grupo dos que ainda permanecem
trabalhando, constata-se a existência de
lideranças, cuja vida laboral lhes proporcionou
uma posição econômica estável, e, no entanto,
mantêm-se ativos frente às organizações que
lideram. Portanto, constituem um grupo
especial, que se diferencia dos demais, porque
é formado por pessoas que já atingiram a
estabilidade
financeira
e
continuam
trabalhando movidos pela satisfação pessoal
de servir. Esses líderes não são a maioria e, no
entanto, toda a sociedade se beneficia da sua
atuação. Eles têm a necessidade de realização
baseada num profundo amor pelo seu trabalho,
resultando em geração de empregos, riquezas e
desenvolvimento para a sociedade, o que
justifica a relevância desse estudo.
O presente estudo aborda a temática do
sentido do trabalho para o líder que continua
em atividade após completar o tempo legal que
lhe permitiria permanecer na inatividade;
investiga que sentido tem o trabalho hoje e
como interpreta o sentido do trabalho ao longo
de sua vida profissional.
A pesquisa é de abordagem qualitativa
e está fundamentada nas categorias teóricas do
sentido do trabalho na perspectiva ontológica,
ou seja, que diz respeito ao líder, enquanto
dimensão humana, seu modo de ser e,
enquanto ser, como se realiza no trabalho por
meio
do
exercício
da
liderança
(MENEGHETTI, 2005). O estudo atém-se ao
sentido do trabalho enquanto intercâmbio entre
o homem e o seu ambiente (natureza),
abstraindo-se qualquer contexto sóciohistórico específico.
2 Fundamentação Teórica
As duas partes em que essa seção está
organizada visam
contribuir para a
compreensão do tema em estudo. Na primeira
parte apresentam-se aspectos referentes à
concepção ontológica do trabalho e, na
segunda parte, conceituações de líder e
liderança, na perspectiva de diferentes autores
das áreas das ciências sociais.
2.1 Concepção ontológica do trabalho
Diversos campos do conhecimento, a
partir de diferentes vertentes epistemológicas,
demonstram como o trabalho ocupa um lugar
central da vida do ser humano. Já nos estudos
da formação do homem grego, encontra-se a
descrição do “valor do trabalho”, na obra de
Hesíodo, O Trabalho e os Dias. O sentido do
trabalho, como ordem natural da existência e
dela recebendo as leis que o regem, é
celebrado como o único caminho, ainda que
difícil, para alcançar a areté (virtude). O
conceito
envolve,
simultaneamente,
a
habilidade pessoal e o que dela deriva – bemestar, êxito, consideração (JAEGER, 1995).
O trabalho faz parte da formação do ser
humano e, através dele o indivíduo pode
resgatar o sentido da vida. É pelo trabalho que
o homem, como ser social, passa da condição
de sua origem natural baseada nos instintos
para uma produção e reprodução como gênero
humano.
De acordo com Lúria (1991), a partir
da necessidade do emprego dos instrumentos
de trabalho para sua posterior utilização, temse a primeira forma de atividade consciente. A
preparação dos instrumentos para utilização
posterior exigia várias operações auxiliares
que levariam ao surgimento de formas de
comportamento que não eram dirigidas por
motivos biológicos. Ainda para o mesmo
autor:
PELLEGRINI, Beatriz M.; PETRY, Ana M.; SCHUTEL, Soraia. A liderança na terceira idade: o sentido do trabalho. Revista Saber Humano, Recanto
Maestro, n. 1, p. 10-20, fev. 2011.
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A atividade consciente do homem não é
produto do desenvolvimento natural de
propriedades jacentes no organismo, mas o
resultado de novas formas histórico-sociais de
atividade-trabalho (LÚRIA, 1991, p.75).
Na concepção de Marx (2003), o
trabalho, que é a capacidade de transformar a
natureza para atender às necessidades
humanas,
assume
um
caráter,
uma
característica que o diferencia daquele
realizado instintivamente pelos animais. Ele
afirma:
O que distingue o pior arquiteto da melhor
abelha é que ele figura na mente sua construção
antes de transformá-la em realidade. No fim do
processo do trabalho aparece um resultado que
já existia antes idealmente na imaginação do
trabalhador (MARX, 2003, p. 211).
Nessa perspectiva, o homem faz a
prévia ideação do que quer obter, ou seja, o
trabalho é a realização de uma posição
teleológica (de telos, finalidade).
Antunes (1999) apresenta uma
concepção complementar à perspectiva
ontológico-humanista. Esse autor fundamenta
seus argumentos no filósofo húngaro Lukács,
para quem o trabalho tem em sua natureza
ontológica, um caráter transitório; faz a interrelação entre o homem (sociedade) e a
natureza. Por meio do trabalho há uma
mudança no interior do ser material,
ocasionando o nascimento de uma nova
objetividade. Desta forma, o trabalho torna-se
protoforma de toda a práxis social, sua forma
originária desde que o ser se constituiu.
O autor identifica três esferas
ontológicas – inorgânica, orgânica e social –
onde há, necessariamente, uma articulação
entre as mesmas que só pode ser
compreendida pelo momento predominante.
De forma genérica é o salto ontológico, que
passa pela centralidade do trabalho
(protoforma do agir humano), pela categoria
de prévia-ideação como passo fundamental
para a execução do processo do trabalho,
chegando à exteriorização e à necessidade do
conhecimento das leis do ser inorgânico e
orgânico para que os objetivos do processo de
trabalho possam ser alcançados.
Por meio do trabalho e da contínua
realização de necessidades, a consciência
humana deixa de ser mera adaptação ao meio
ambiente; faz a mediação entre a esfera das
necessidades e a sua realização. Como
resultado tem-se o comportamento consciente
que é diverso da mera espontaneidade do
instinto biológico o qual, embora se distancie
(de forma relativa) da natureza imediata, não
anula a sua origem ontológica em relação ao
trabalho consciente. O trabalho, portanto, está
ontologicamente voltado para o processo de
humanização do homem.
Lukács (citado por ANTUNES, 1999),
menciona que “o trabalho não é um mero ato
decisório, mas um processo de uma contínua
cadeia temporal que busca sempre novas
alternativas” (p. 138). As proposições desse
autor acentuam que o processo do trabalho
assume a gênese ontológica da liberdade,
porque, simultaneamente, ao transformar a
natureza, o próprio ser que trabalha se
autotransforma. O homem busca atingir um
controle de si mesmo, base para a conquista da
liberdade. Assim, o trabalho pode ser
considerado como modelo à liberdade humana
(ibid., p. 142).
O trabalho é o elemento mediador entre
as necessidades e a sua realização. Nesta
relação metabólica (do ser social e a natureza)
o trabalho é o produtor de valores de uso. Na
base da práxis social, em sentido genérico e
abstrato, por meio do ato laborativo, objetos
naturais são transformados em utensílios,
ferramentas, instrumentos úteis. Nas formas
mais desenvolvidas da práxis social, onde,
paralelamente à relação homem natureza,
desenvolvem-se inter-relações com outros
PELLEGRINI, Beatriz M.; PETRY, Ana M.; SCHUTEL, Soraia. A liderança na terceira idade: o sentido do trabalho. Revista Saber Humano, Recanto
Maestro, n. 1, p. 10-20, fev. 2011.
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seres sociais com vistas à produção de valores
de uso, tem-se a práxis social interativa, cujo
objetivo é convencer outros seres sociais a
realizar
determinado
ato
teleológico
(ANTUNES, 1999).
Conforme apontado por Lukács (citado
por ANTUNES, 1999), o sujeito é inserido nas
relações sociais. As decisões individuais
ocorrem dentro das relações sociais e acionam
outras tantas relações dos mais variados tipos.
Essa constatação ontológica remete à
figura do líder, enquanto inserido no seu
contexto social e parte de uma rede de relações
na sua área de referência e atuação.
Nas proposições de Maslow (2003), os
indivíduos:
Altamente evoluídos assimilam o trabalho
dentro da própria identidade, isto é, o trabalho
se torna parte efetiva de seu próprio Eu, parte
da definição que ele tem sobre si mesmo
(MASLOW, 2003, p. 7).
Complementa afirmando que trabalhar
pode ser psicoterápico e psicológico, isto é,
fazendo pessoas saudáveis crescerem em
direção à autorrealização.
As cinco categorias de metas a serem
alcançadas, descritas por Maslow, como
fisiológicas, de segurança, amor, estima e
autorrealização, são relacionadas entre si, por
ordem de predominância. Na perspectiva do
sentido do trabalho, tem-se que, quando uma
necessidade
é
satisfeita,
a
próxima
preponderante passa a dominar a vida
consciente e servir como centro de
organização
do
comportamento.
As
necessidades preenchidas não servem como
motivadores ativos.
Portanto, a atitude dos indivíduos
perante o trabalho assume postura também
diversa de sentido, conforme a sua situação
nas cinco categorias identificadas pelo autor.
As pessoas que tenham razoavelmente
satisfeitas as suas necessidades de segurança,
aceitação, afeição, dignidade e liberdade para
desenvolver suas potencialidades pessoais, não
serão mais motivadas por necessidades
básicas, mas por “metamotivos que vêm a ser
essencialmente os valores intrínsecos, as
verdades eternas, os valores do Ser”
(MASLOW, 2003, p.10).
De acordo com Morin (2001), para que
um trabalho tenha sentido deve ser realizado
de forma eficiente e levar a um resultado, ou
seja, os objetivos devem ser claros e os
resultados devem ter valor aos olhos de quem
o realiza; deve permitir a realização de suas
competências.
Parece relevante que o trabalhador tenha a
oportunidade de testar suas capacidades, com o
objetivo de estimular suas necessidades de
crescimento pessoal e seu senso de
responsabilidade (MORIN, 2001, p. 18).
Pesquisa realizada
com
jovens
executivos brasileiros aponta que o principal
sentido do trabalho é permitir a sobrevivência,
sendo fundamentais para que um trabalho
tenha sentido a natureza das tarefas, a
aprendizagem, a autonomia, o reconhecimento
e a segurança (MORIN, TONELLI, PLIOPAS,
2007).
Considera-se que as conclusões a que
chegaram
esses
autores,
reconfirmam
categorias descritas por Maslow na pirâmide
das necessidades: a primeira que corresponde
às necessidades fisiológicas (como o sono e a
alimentação), a segurança e o reconhecimento
social (autoestima). Pode-se também, inferir
que, por se tratar de jovens, as necessidades
afetivo-sexuais (amor) e a autorrealização são,
por estes entendidas como decorrentes do
atendimento às necessidades básicas.
2.2 Líder e liderança
O tema liderança é exaustivamente
abordado na literatura existente em diversas
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áreas,
especialmente
naquelas
da
Administração e afins. Entretanto, sobre o
sentido do trabalho para o líder que permanece
em atividade após o tempo regulamentar de
aposentadoria, objeto deste estudo, não foi
localizado uma literatura específica.
Cunha (2007) define líder como o tipo
representativo de uma sociedade, chefe,
condutor. Afirma ser a palavra originária do
inglês leader, do verbo to lead que significa
conduzir. Trata-se do indivíduo que comanda
ou coordena outras pessoas; suas ações e
palavras exercem influência sobre o
pensamento e o comportamento de outras.
Conforme indicado por Meneghetti
(2008), a palavra líder, originária de leading,
encontrada pela primeira vez na língua viking,
indicava um homem que tinha um projeto a
cumprir e estimulava também os outros a
realizá-lo. O conceito apresenta duas
características:
capacidade
de
realizar
(capacidade de ação) e capacidade de
coordenar um grupo a um único escopo
(capacidade de socialização).
Em relação ao termo liderança, o novo
dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
descreve que liderança decorre da ação de
liderar, refere-se à “função do líder”, portanto,
ao que o indivíduo executa (FEREIRA, 2004).
De acordo com Robbins (2000, p. 371):
investiga o sentido do trabalho para o líder que
ainda permanece em atividade, após o tempo
regulamentar de trabalho. Por tal razão, referese ao líder e às suas ações de liderança.
O líder é o indivíduo que dirige,
representa um grupo, em qualquer contexto,
seja econômico, político, social ou ideológico.
É capaz de dar unidade de ação com uma
multiplicidade de exigências, capacidades e
meios. O conceito aplica-se, portanto, a
qualquer pessoa que demonstre habilidade de
ter sucesso como operador econômico, político
ou social. Nesse sentido, elimina-se a
tendência
de
que
somente
grandes
personalidades sejam reconhecidas como
líderes. Aplica-se a qualquer empreendedor de
pequenas empresas, construtores, mestres,
jornalistas eficientes, artistas com sucesso
autônomo, estilistas, cabeleireiros, produtores
de vinho, queijo, entre outros.
Entende-se aqui que o comando
implica uma capacidade diferenciada. O líder é
o indivíduo que se autorrealiza conduzindo
outros seres sociais no desempenho do seu
trabalho. A cada situação, tem a capacidade de
visualizar, selecionar e alocar os recursos
adequados (humanos e materiais) que
propiciem a solução otimal para a realização
econômica, política e social do seu contexto de
atuação (MENEGHETTI, 2004).
A liderança é o processo de influência pelo
qual os indivíduos, com suas ações, facilitam o
movimento de um grupo de pessoas rumo a
metas comuns ou compartilhadas (ROBBINS,
2000, p. 371).
O líder é o centro operativo de mais relações e
funções, é aquele que sabe individuar a
proporção de como se movem as relações da
vida e sabe aplicar, a cada situação, a fórmula
justa para resolver e realizar econômica,
política e socialmente (MENEGHETTI, 2001,
p. 94).
Essa definição amplia o conceito de
liderança como atividade que possibilita a
obtenção de resultados que transcendem a
esfera individual e que demandam a ação
coletiva.
Embora, por vezes a literatura existente
seja potencialmente confusa na distinção dos
termos líder e liderança, o presente estudo
Esse autor considera que, ao
desenvolver seus negócios, o líder “desloca
bens, interesse, propicia trabalho a centena de
pessoas, estimula a sociedade, revitaliza-a,
impõe uma dialética que dá impulso ao
progresso” (MENEGHETTI, 2008, p. 21).
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O líder deve ser capaz de ação
qualitativa, o que resulta em aumento
territorial, de inteligência e de ser. A qualidade
aqui é entendida não apenas como um
instrumento
de
marketing,
mas,
essencialmente,
como
uma
mudança
psicocultural. Qualquer coisa que faça ou
venda, “o líder produz, vende verdadeiramente
satisfação, realização, um saber servir bem”
(MENEGHETTI, 2008, p. 191).
O trabalho para o líder assume um
sentido diferenciado, na medida em que, por
sua inteligência, sabe harmonizar as relações
entre todos para a obtenção do nível máximo
de produção de valores e coisas; a assertiva de
suas decisões garante a solução vencedora e
propiciam trabalho para todos.
3 Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo em
que foi realizada uma pesquisa qualitativa
tendo em vista a sua natureza, ou seja,
conhecer os sentidos do trabalho para o líder,
por permitir uma maior flexibilidade no
levantamento e tratamento das informações
obtidas.
O grupo selecionado foi constituído por
cinco líderes de ambos os sexos, com 60 anos
de idade ou mais, que, mesmo tendo
completado o tempo regulamentar de trabalho,
permanecem
ativos
frente
às
suas
organizações, ou seja, já realizaram são
expectativa
financeira
e
permanecem
trabalhando. São empresários proprietários de
empresas situadas na Região Sul do Brasil,
com grau de escolaridade superior ou de pósgraduação nas áreas de Administração,
Economia, Ciências Contábeis e Letras.
O processo de pesquisa foi por
abordagem direta, através de uma entrevista
individual, semi-estruturada, tendo sido
elaborado um tópico guia, contemplando os
temas centrais e o problema de pesquisa.
As entrevistas foram gravadas em fitas
cassete e a sua transcrição originou um corpus
textual que possibilitou a posterior análise de
conteúdo.
Através do estudo das informações
então sintetizadas, foi procedida a análise de
conteúdo por ser “uma técnica para produzir
inferências de um texto focal para seu contexto
social de maneira objetivada” (BAUER e
GASKELL, 2002, p. 191). Assim, na análise
das informações foi considerado, não só o
conteúdo manifesto, mas aquele latente, isto é,
que era percebido pelo entrevistador. Em
especial, chamou a atenção a paixão e ao
entusiasmo com que falavam do seu trabalho
no transcorrer da entrevista.
Cuidado especial foi dedicado à
interpretação do material transcrito das
entrevistas, pois:
Os textos, do mesmo modo que as falas
referem-se aos pensamentos, sentimentos,
memórias, planos e discussões das pessoas, e
algumas vezes nos dizem mais do que seus
autores imaginam (BAUER e GASKEL, 2002,
p. 189).
4 Resultados e Discussão
Os resultados a seguir descritos foram
precedidos de uma cuidadosa análise para a
identificação e a compreensão do tema objeto do
estudo, face ao que foi expresso pelos
entrevistados.
Cada depoimento revelou-se um material
instigante, na medida em que as respostas aos
questionamentos reservam um conteúdo rico em
experiências e relatos que permitem reflexões
diversas sobre o sentido do trabalho para o líder.
Desse modo, o conteúdo das respostas, por
vezes, está transcrito com o objetivo de melhor
evidenciar a realidade manifestada pelos
entrevistados.
As informações referentes à idade em
que começaram a trabalhar mostram que todos
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os líderes iniciaram a sua atividade laborativa
ainda muito jovens, como ilustram os seguintes
depoimentos:
Apenas um dos entrevistados iniciou
efetivamente a trabalhar na juventude, mas
insistia em afirmar que desde criança tinha um
grande desejo de trabalhar.
o início da ação liderística já estava presente na
vida dos entrevistados.
Cabe registrar também que foi
significativo observar, não somente as
declarações sobre o gosto que tem pelo seu
trabalho, como também, o prazer com que falam
dele.
Ao serem indagados sobre o que
representava o trabalho enquanto jovens
observou-se que tinha o sentido do atendimento
às necessidades mais imediatas; representava a
possibilidade de pagar os estudos, atender às
exigências do vestir-se, de locomover-se, de
moradia. Entretanto, sempre estavam focados
num objetivo maior, pois a cada ano, novas
metas de crescimento pessoal deveriam ser
atingidas. Evidencia-se assim, a descrição de
Maslow a respeito da hierarquia das
necessidades, quando afirma estarem as cinco
categorias (fisiológicas, segurança, amor, estima
e autor-realização) relacionadas entre si por
ordem de predominância. Uma necessidade
satisfeita torna a seguinte como preponderante e
motivadora da vida consciente do sujeito
(MASLOW, 2003).
“Quando tinha, aproximadamente (...), 4, 5 anos, (...)
eu organizava prateleiras com madeiras, forrava de
papel e vendia flores, que eu mesmo fazia as mudas,
para minhas avós, para os vizinhos (...). Eu vi uma vez
um engraxate engraxando sapatos e ganhando, (...)
também resolvi engraxar todos os sapatos do meu pai
(...) sempre tive inata esta vontade de trabalhar” (E3).
“Quando eu era jovem, a cada ano eu precisava (...) de
ter um fato de destaque na minha vida. Digamos, por
exemplo, primeiro era comprar roupa boa, depois
comprar (...) o meu próprio carro (...) formar na
faculdade, enfim, ter um crescimento profissional.
Assim, a cada ano eu precisava (...) dizer: bem neste
ano eu fiz isto, mais aquilo” (E1).
Os relatos mostram que o trabalho era
um fato normal, que fazia parte do cotidiano da
vida dos entrevistados, sem a conotação de
sofrimento ou castigo; era inquestionável a sua
realização.
Além de terem iniciado muito jovens,
todos os entrevistados tiveram as suas primeiras
experiências de trabalho a partir do
empreendimento na iniciativa privada, no caso,
da família, para posteriormente construírem seus
próprios negócios. Assim, as primeiras
experiências laborativas propiciaram o embrião
para que, ao longo do tempo, pudessem construir
seus empreendimentos. Observa-se, portanto que
“No tempo de estudante a gente trabalhava nas férias,
que eu achava importante para aprender... então, era
uma extensão da escola. Depois, quando eu fiz
faculdade (...) me formei com 22 anos e a partir daí, fui
trabalhar direto (...). Acostumei-me a trabalhar desde
muito cedo” (E2).
“Desde que me lembro de ser gente eu já trabalhei, fiz
alguma coisa em casa com meus pais na roça, (...)
sempre tive o privilégio de ter pais que faziam a gente
trabalhar desde pequeno e eu gostava de trabalhar”
(E1).
“Desde os 10 anos de idade, no primeiro dia de férias,
meu pai nos levava para trabalhar... No início fui
estafeta, encaixotava as mercadorias (ele tinha
atacado), separava, fui balconista, depois viajante
vendedor, fui faturista, fui caixa... na medida que ia
crescendo..., então, fiz todos estes trabalhos comuns (...)
desde criança” (E2).
“Desde uns 10/12 anos, eu fazia o trabalho de bancos
(...) todos os dias eu saia da aula, almoçava e ia ser
caixa (...). Adorava aquilo ali” (E4).
“Desde que eu me lembro que eu era gente, tinha uma
enxada na mão. Então, comecei a trabalhar, acho que
com uns 5, 6 anos de idade” (E5).
“No começo via como uma responsabilidade familiar,
como algo que honestamente tinha que ser feito para
(...) a família (...) foi totalmente saudável. Trabalhei na
agricultura até os 13 anos de idade, aí meu pai, como
não podia me dar estudo, me colocou numa oficina
mecânica para aprender um ofício. (...) e o meu objetivo
sempre foi estudar e eu não podia, quando vim para o
quartel (...) voltei a estudar (...). Eu trabalhava e
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objetivo do meu trabalho não era fazer dinheiro, era
sustentar meus estudos” (E5).
Embora presente o sentido do trabalho
como “dever, obrigação, ganha-pão, pagar
estudos”, destaca-se o compromisso em atingir
metas que impulsionavam à realização de outras
atividades. Ou seja, na medida em que, por meio
do
trabalho,
realizavam
atividades
e
conquistavam novos objetivos, esta conquista
lhes dava liberdade e os impulsionava à
consecução de atividades de maior destaque,
como se refere o entrevistado:
“...A cada ano eu buscava (...) dar um passo para a
frente e, também, constantemente, ao mesmo tempo, (...)
buscava ter algo assim também de realização social”
(E1).
Os depoimentos acima mencionados
demonstram que, no exercício de suas
atividades, no processo do trabalho houve a
conquista de novas alternativas propulsoras para
o fortalecimento da pessoa do líder, e, no
controle sobre si mesmo, a busca de novos
patamares de sucesso.
Cada etapa vencida proporcionava um
novo grau de liberdade, que os desafiava
impulsionando-os a novas conquistas. Isso
comprova que, das ações bem sucedidas advêm,
como consequência, os resultados econômicos
obtidos através de seus empreendimentos.
Por se tratar de pessoas com uma
trajetória profissional e pessoal diferenciada, o
trabalho faz parte da sua própria identidade, da
definição que têm sobre si mesmos, onde
trabalhar as faz crescer e se autorrealizarem.
Considerando já estarem com suas
expectativas financeiras atendidas, os líderes
mantêm-se em atividade motivados por grandes
desafios,
que
Maslow
os
denomina
“metamotivos”, valores intrínsecos denominados
de “valores do Ser” (MASLOW, 2003, p.10).
“Desde pequenas coisas (...), por exemplo, fui
presidente do CPM do colégio, fui presidente da
comunidade católica aqui do estado, fui prefeito, fui
buscando (...) era um desejo meu de participar
ativamente da vida social, dar a minha contribuição.
Deixar o meu legado em todos os locais por onde
passava. E sempre foi assim, sempre foi algo de muito
proveitoso como em busca de protagonismo pessoal,
mas também como busca em cada época, em cada
idade, realizar aquilo que eu achava que era importante
realizar” (E1).
Esse depoimento de E1 mostra o trabalho
como mediador entre as necessidades e a
realização pessoal. Por serem os entrevistados
líderes em seus diferentes campos de atuação, o
processo do trabalho, enquanto mediação entre
necessidade e realização, é feita por meio de
pessoas, ou seja, o exercício da liderança.
Quando questionados sobre o que
representa o trabalho atualmente, obtiveram-se
expressões que remetem ao verdadeiro sentido
do trabalho em suas vidas, como mostram os
depoimentos a seguir:
“...trabalho é um prazer, é uma alegria, uma
realização. O trabalho é a forma da gente se realizar”
(E1).
“Trabalho (...) é uma diversão (...)” (E2).
“O sentido do trabalho hoje é o social. O meu projeto
de vida que, além de desenvolver a mim, não basta, eu
devo contribuir. Isto para mim é o prazer” (E3).
“É um prazer (...)” (E4).
“É um prazer enorme trabalhar. Eu não sei ficar sem
trabalhar” (E5).
A análise que se faz aqui é que, na
essência, é pelo exercício da liderança que os
entrevistados, ao obterem a realização de si
mesmos, também o fazem para muitos. Os
líderes, na medida em que se autoconstroem
através do trabalho, ao mesmo tempo exercem
um papel fundamental no contexto das relações
sociais, pois são capazes de prover
oportunidades, recursos e soluções para outros
tantos indivíduos que consigo trabalham.
Ao desenvolverem-se a si mesmos, por
sua inteligência, são capazes de interagir na
manutenção e no desenvolvimento de seus
negócios, dando oportunidade a que outras tantas
pessoas cresçam. Da realização de si mesmos,
geram novas oportunidades que beneficiam
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diretamente
os
seus
colaboradores
e,
indiretamente, a sociedade como um todo.
Para que possa realizar-se, o líder tem
uma necessidade intrínseca de ser útil, o que
beneficia a todos os que estejam situados no seu
raio de influência de ação. Portanto, as suas
ações na sociedade, são um meio de realizar-se.
Os três depoimentos a seguir elucidam os
benefícios da ação do líder para as pessoas que
com ele trabalham e, em consequência, para a
sociedade como um todo.
“Eu vejo o maior benefício para essas pessoas é a
oportunidade, (...) de elas terem o seu salário, (...) mas,
acima de tudo, a oportunidade pessoal das pessoas se
realizarem através da sua profissão, buscar um
crescimento profissional, buscarem o seu protagonismo
(...). Há mais de quinze anos eu digo isto: o tamanho da
empresa depende do tamanho das pessoas que estão
comigo. Se elas crescem, a empresa cresce; se elas não
crescem, eu não tenho como crescer (...). Isto é
realmente uma coisa que estimula as pessoas, muitas
vezes, muito mais do que o dinheiro: a oportunidade
das pessoas crescerem, das pessoas mostrarem o que
sabem fazer, se sentirem capazes. Isso faz com que a
empresa cresça e as pessoas também cresçam. É só
saber fazer com que esta inteligência cresça, é claro
que depois existe o resultado. Mas, a maior alegria
minha é dar a oportunidade para as pessoas
crescerem” (E1).
“Ninguém faz fortuna sozinho. Quando faz para si,
carrega um exército junto, dependendo da dimensão do
projeto. Então, o benefício é direto para todos aqueles
que participam. Na vida tem dois projetos vencedores:
ou se é um líder vencedor ou se serve a um líder
vencedor. Qualquer outro caminho é furado... E um
bom líder tem junto com ele outras lideranças e tem
também seguidores” (E2).
“A iluminação que eu tive foi, trate bem as pessoas.
Faz dez anos que a minha filosofia é esta: o cliente em
segundo lugar, primeiro a minha equipe. Então eu
consigo formar. Hoje eu sei encontrar os talentos, sei
mantê-los e os meus lucros são cada vez maiores:
proporcionais à satisfação que eles têm aqui dentro.
(...). Foi uma somatória de fatores que me levaram a
descobrir o óbvio: trate bem as pessoas que elas vão te
dar o resultado” (E4).
que
No último questionamento, foi solicitado
os
entrevistados
complementassem
livremente ao que já haviam declarado. Em
todos houve a ratificação do prazer pelo trabalho
e a necessidade de servir.
O entrevistado E3, por exemplo,
expressa a sua satisfação ao compreender o
sentido do trabalho como o cumprimento de um
projeto que já é seu.
“O sentido do trabalho hoje, é cumprir um projeto que
já é meu (...). Aos 45 anos eu já tinha uma vida, em
termos sociais, totalmente organizada (...). A coisa do
ter, com 45 anos eu já tinha terminado. Pensava (...)
„na tua família as pessoas duram 90 anos.Fiquei numa
crise incrível (...). O que vais fazer nos próximos 45?
Esta era a minha angústia (...) tinha 50 anos (...) e
fiquei feliz (...) compreender que quando uma pessoa
termina uma missão, passa para uma outra maior. Eu
parti com o maior entusiasmo e acho que até os 95 eu
vou andar neste ritmo, porque (...) podemos andar para
a frente (...), colaborar com tudo; é um espetáculo.
Enquanto eu tiver este ímpeto de fazer e a possibilidade
de fazer, eu vou pronta e este é o meu prazer
efetivamente” (E3).
O entrevistado E1 afirma que entre os
pontos práticos para o sucesso, o primeiro é o
trabalho.
“Não adianta a pessoa fazer mil outras coisas se tudo
o que ela aprende (...) se ela não botar a mão, (...)
trabalhar, fizer a coisa acontecer (...). A gente é corpo e
alma e o instrumento de realização da alma é o corpo...
e o trabalho faz bem (...). E eu vejo que todas as
pessoas que trabalham estão felizes. As pessoas que
trabalham, fazem aquilo que gostam... Nenhuma pessoa
está deprimida. Está feliz, está sempre querendo mais...
O trabalho é uma forma de realização muito grande. É
claro que as pessoas têm de buscar a fazer aquilo que
elas gostam, que estejam vocacionadas, sim, é verdade,
mas não existe nenhuma pessoa que eu vi no mundo,
realizada sem trabalhar. Aliás, eu vejo que as pessoas
que não têm trabalho, que não buscam o trabalho como
forma de realização, elas jamais são pessoas felizes,
realizadas. Sempre estão tentando achar qualquer
coisa, mas nunca acham por que não focam que o
trabalho é um prazer, é uma alegria, uma realização. O
trabalho é a forma da gente se realizar” (E1).
O entrevistado E2
refere-se à
autossabotagem que determinadas pessoas fazem
por tratarem o trabalho como algo penoso,
difícil, conforme descrito pela ideologia judaico-
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cristã e os valores da sociedade em geral. Na
realidade, trabalho para ele faz parte do
cotidiano da vida e é considerado como uma
diversão:
“...o que mais atrapalha as pessoas (...) é que elas se
precaveem contra o trabalho (...), a sociedade inteira
pensa assim: (...) que o trabalho, na Bíblia também, que
o trabalho... tem que suar... é penoso. Trabalho na
realidade faz parte, é uma diversão (...), as pessoas
fazem o contrário, elas devem desenvolver através do
hábito, o gosto pelo trabalho e devem se precaver de
hábitos sociais que não tem nada a ver com a realidade
de cada um” (E2).
Os entrevistados complementaram suas
falas ratificando a importância do trabalho para
os seus liderados, ressaltando que, além da
oportunidade de crescimento, devem executá-lo
como projeto pessoal a que são vocacionados,
por ser o trabalho a única forma de realização.
5 Considerações Finais
Do
que
foi
expresso
pelos
entrevistados, pode-se depreender que uma das
características do grupo pesquisado é ter
iniciado as atividades laborativas ainda muito
jovens, tendo realizado suas primeiras
experiências
em
empreendimentos
da
iniciativa privada, ainda na família.
Os relatos mostram que o trabalho não
tinha a conotação de sofrimento ou castigo,
pois o expressam como um fato normal do seu
cotidiano. Os diferentes depoimentos revelam
um interesse contínuo e uma preocupação com
o seu bom desempenho, aliado a uma vigilante
atenção ao crescimento. Adiciona-se então, o
sentido de construção de vida através do
trabalho, pois, como foi sendo revelado, a cada
nova conquista, outras iam se interpondo com
premência de realização.
Na descrição do que poderia mudar no
sentido do trabalho ao longo da vida
profissional, percebe-se que, num primeiro
momento representava a satisfação de
necessidades imediatas. Entretanto, na
proporção em que as suas necessidades básicas
eram
atendidas,
ao
mesmo
tempo,
desempenhavam o papel de propulsoras para
novos desafios, sempre focados em seus
objetivos.
A cada relato, pode-se constatar a
importância que o trabalho exerce na formação
do ser humano. As experiências vivenciadas
permitiram a realização gradativa de objetivos
empreendedores onde o exercício da liderança
se fazia presente.
A transitoriedade do trabalho é
percebida na descrição dos entrevistados para
os quais, cada etapa vencida representava um
impulso na direção de novas alternativas. Isso
permitia um gradativo controle sobre si mesmo
e consequente liberdade na conquista de
espaços de liderança em termos econômicos e
sociais.
Fato marcante refere-se à alegria e ao
entusiasmo com que falam sobre o sentido do
trabalho.
Todos
os
entrevistados
manifestaram-se dessa forma ao usarem
expressões como sendo o trabalho um prazer,
uma alegria, uma diversão, o que chama a
atenção para a necessidade da revisão no
paradigma do trabalho, enquanto socialmente
considerado como algo penoso, um sacrifício
ou castigo.
A atividade de liderança é uma
constante ao longo das experiências
profissionais
dos
entrevistados,
que
manifestam um profundo amor pelo trabalho
que realizam, demonstrando ser o seu
exercício uma forma de se realizarem.
Portanto, a liderança é um serviço através do
qual o líder realiza o seu potencial. Assim, do
seu trabalho, ao permanecer em atividade, toda
a sociedade se beneficia, pois tem a
capacidade de prover para muitos no seu
âmbito de atuação, quer seja ele político,
econômico ou social.
Os resultados positivos da ação desses
líderes direcionam ainda, para outras razões de
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futuras investigações. A importância do
estímulo para que outros tantos líderes que,
com experiência no exercício de liderança,
sejam estimulados a permanecerem em
atividade, como forma de benefício a si
mesmos, num primeiro momento, e para a
sociedade que se beneficia diretamente de suas
ações. O incentivo aos jovens que, ao lado
dessas
lideranças,
valorizando
suas
experiências e vivências, sejam estimulados a
darem o verdadeiro sentido ao trabalho,
dispensando tempo para uma pertinente
preparação em cada etapa da vida profissional,
para que possam, no tempo adequado, estarem
preparados para o exercício da liderança.
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Apostolado da Imprensa, 1976.
ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e
perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2000.
Autores:
Beatriz Machri de Pellegrini: administradora,
professora da Faculdade Antonio Meneghetti, Mestre
em Administração (UFRGS).
Ana Maris Petry: consultora, professora da Faculdade
Antonio Meneghetti, mestranda em Filosofia (PUC-SP).
Soraia Schutel: administradora, professora da Faculdade
Antonio Meneghetti, Mestre em Administração
(UFSM), doutoranda em Administração (UFRGS).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 22/12/2010.
PELLEGRINI, Beatriz M.; PETRY, Ana M.; SCHUTEL, Soraia. A liderança na terceira idade: o sentido do trabalho. Revista Saber Humano, Recanto
Maestro, n. 1, p. 10-20, fev. 2011.
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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A responsabilidade do empreendedor
individual e suas perspectivas jurídicas
João Francisco Dias Feltrin
Faculdade Antonio Meneghtti (AMF)
[email protected]
Josemar Sidinei Soares
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
[email protected]
Resumo: O presente trabalho trata do instituto da responsabilidade aplicado aos
empreendedores individuais; enfoca a origem histórica desse instituto, a contar da Revolução
Francesa, bem como o entendimento consolidado nas codificações napoleônicas e nas Escolas
de Direito desenvolvidas na França: a Escola da Exegese. Em paralelo, analisa as especulações
teóricas ocorridas na Escola Histórica de Direito alemã; registra, também, a evolução histórica
que os países de tradição romano-germânica obtiveram no arco de dois séculos; além disso,
constata e analisa a difusão do instituto da responsabilidade limitada aos empreendedores
individuais nos demais países da Europa: França, Portugal, Itália, entre outros, resultando no
final, pela adoção, por parte da Comunidade Europeia, da XII Diretiva, que estabelece as
sociedades unipessoais de responsabilidade limitada a todos os integrantes da Comunidade;
avalia a legislação nacional, bem como sua influência franco-portuguesa e as políticas
legislativas produzidas; por fim registra a contribuição que a Ciência Ontopsicológica pode
oferecer aos operadores de direito na resolução do problema e sintetiza o trabalho pela
necessidade de adequação da legislação nacional aos novos tempos.
Palavras-chave: sociedade unipessoal de responsabilidade limitada; instituto da
responsabilidade limitada; empreendedor individual de responsabilidade limitada.
Abstract: The work herein is about the institute for responsibility applied to individual
entrepreneurs, focusing the historical origin of that institute from the French Revolution, as well
as the consolidated understanding of the Napoleon Codes and Law Schools developed in
France: the Exegesis School. Parallely, it analyzes the theoretical speculations which occurred
in the German Historical Law School during the period called pandectistic; it also registers the
historical evolution the Roman-German tradition countries had obtained during the two
centuries; furthermore, it verifies and analyzes the diffusion of the liability company limited to
individual entrepreneurs in other European countries such as France, Portugal, Italia, among
others, having as a result the adoption by the European Community of the Directive number 12,
establishing the single-member limited liability companies to all the constituents of the
Community; it evaluates the national law as well as its French-Portuguese influence and the
legal policies produced; finally, it registers the contribution the Ontopsychological Science can
offer to the law operators for the problem solution and synthesizes the work by the need of
adjustment of the national law to the present time.
Keywords: single-member limited liability companies; limited liability company; individual
limited-liability entrepreneur.
FELTRIN, João F. Dias; SOARES, Josemar S. A responsabilidade do empreendedor individual e suas perspectivas jurídicas. Revista Saber Humano,
Recanto Maestro, n. 1, p. 21-33, fev. 2011.
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1 Introdução
A
escolha
do
tema:
“A
Responsabilidade do Empreendedor Individual
e suas Perspectivas Jurídicas” foi inspirada,
inicialmente, na tentativa de compreender as
razões das diferenças entre os empreendedores
individuais e os coletivos atribuídos pela
legislação.
O empreendedor individual representa,
no cenário empresarial brasileiro, mais de 50%
das empresas formalizadas, sendo sua
importância na geração de renda, trabalho e
riquezas indiscutível.
Apesar da relevância acima citada,
existe uma situação desfavorável entre esses
empreendedores, que ocorre no aspecto da
responsabilidade: caso um grupo de pessoas
empreenda coletivamente através de uma
sociedade
empresária
limitada,
a
responsabilidade de cada sócio fica restrita à
participação de cada um no capital social.
Porém,
caso
uma
pessoa,
individualmente, empreenda na condição de
empresário, a sua responsabilidade é ilimitada,
no sentido de que o seu patrimônio pessoal
confunde-se com o patrimônio da empresa
individual, ocorrendo mesmo que exista uma
separação perfeita do ponto de vista contábil e
fiscal.
Como consequências imediatas desse
fato, ocorrem duas situações: a) o
empreendedor atua por conta e risco no
mercado, de tal forma que o seu patrimônio
pessoal possa vir a responder por eventuais
perdas, prejuízos, execuções, etc.; ou, b) o
empreendedor mais precavido cria uma
sociedade ficta, com o propósito de se
resguardar
de
eventuais
situações
desfavoráveis, adaptando a situação jurídicodocumental, com vistas a atender ao
formalismo da legislação.
Em função disto, o presente trabalho
visa a compreender as razões históricoculturais que formalizaram essa posição
jurídica desfavorável ao empreendedor
individual; tomar conhecimento, tanto quanto
possível, sobre como as legislações de países
estrangeiros com tradição jurídica semelhante
administram tal fato; verificar o que foi feito no
direito pátrio até o presente momento, sobre
essa matéria, o que existe de políticas
legislativas; pontuar o que a Ciência
Ontopsicológica pode contribuir na resolução
deste problema; e, por fim, fazer uma
abordagem conclusiva sobre a real necessidade
ou não de adequação do sistema jurídico
vigente.
2 Fundamentação Teórica
2.1 Comunidade Econômica Europeia e a XII
Diretiva
Em 21 de dezembro de 1989, o
Conselho das Comunidades Europeias adotou a
“Décima Segunda Diretiva” em matéria de
direito societário ao estabelecer a sociedade de
um único sócio com responsabilidade limitada.
Esta diretiva foi apresentada em dezembro de
1988, porém sua edição oficial ocorre,
somente, um ano depois. Destaque-se que esta
diretiva também previa a não aceitação desse
modelo societário, caso a legislação dos
estados integrantes fizessem previsão de
empresas individuais de responsabilidade
limitada (Art. 7°), com patrimônio de afetação
devidamente regulamentado. É o caso
específico de Portugal, que apresenta um
modelo não-societário.
Na leitura das justificativas relacionadas
ao documento acima, resta claro o objetivo do
Conselho em homogeneizar a legislação
europeia sobre esse assunto, tendo em vista a
existência de sociedades ou empresas
individuais de responsabilidade limitada em
diversos países como a Dinamarca, Alemanha,
França e Portugal, entre outros, porém com
características diversas.
FELTRIN, João F. Dias; SOARES, Josemar S. A responsabilidade do empreendedor individual e suas perspectivas jurídicas. Revista Saber Humano,
Recanto Maestro, n. 1, p. 21-33, fev. 2011.
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Além do fato acima, é bom lembrar que
essa medida decorre de um plano estratégico,
em nível comunitário, de cooperação para o
crescimento europeu. A própria fundamentação
da XII Diretiva menciona a Resolução de 03 de
novembro de 1986. Nessa resolução, é
destacada a importância de políticas
comunitárias
destinadas
à
criação
e
desenvolvimento das pequenas e médias
empresas, bem como à geração de postos de
trabalho.
Com essa diretiva, os Estados-membros
da Comunidade Europeia usufruíram de um
conjunto de regras sistematizadas, que vão
desde a forma de registro ao modo de
materialização dos contratos entre sócio único
e sociedade, como parâmetro para instituição
de sociedades unipessoais.
Recentemente, essa diretiva foi
revogada, tendo em vista suas constantes
alterações. E, por medida de clareza e
racionalidade, ocorreu a codificação do seu
conteúdo pelo Parlamento Europeu e Conselho
da União Europeia: “Directiva 2009/102/CE
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16
de setembro de 2009”.
definitivamente, a sociedade unipessoal,
originária de responsabilidade limitada.
Em que pese o Principado de Lichnstein
(Liechtenstein) ter sido o primeiro a adotar o
referido instituto, a Alemanha é considerada a
“terra-mãe”. Esse título deve-se ao fato da
jurisprudência e doutrina considerarem
legítima a transformação em sociedades
unipessoais de responsabilidade limitada, as
tradicionais sociedades por quotas de
responsabilidade limitada já existentes, na
ocorrência de situações especiais.
Nesse contexto, é oportuno distinguir
dois tipos de sociedades unipessoais: a
originária e a derivada. A primeira é aquela que
se institucionaliza com um único sócio, já nos
atos de formação, quando de sua abertura
formal. A segunda é aquela que começa como
sociedade de responsabilidade limitada típica,
com no mínimo dois sócios, e, ao longo de sua
existência, transforma-se por razões diversas,
em sociedade de um único sócio. Exemplo
muito recorrente é o falecimento do segundo
sócio, permanecendo, apenas, um único
integrante.
2.3 França
2.2 Alemanha
Cabe destacar, que a Alemanha foi o
primeiro país na Europa a instituir a sociedade
de responsabilidade limitada, excluídas,
obviamente, as sociedades anônimas, que já
possuíam um histórico diverso. Esse fato
ocorreu em 1892, “Gesellschaft MIT
beshränkter Haftung” (G.m.b.H.).
Já a sociedade unipessoal de
responsabilidade limitada foi introduzida em
04 de julho de 1980, a denominada Gesetz zur
Änderung des Gesetzes betreffend die
Gesellschaften mit beschränkter Haftung und
anderer Handelsrechtlicher Vorschiften vom 4
jul. 1980. Com essa legislação, foi oficializada,
Na França, como regra, sempre foi
adotado o instituto do comerciante individual
com responsabilidade ilimitada ou sociedades
de capital, cuja responsabilidade era limitada,
desde que existissem dois sócios ou mais.
A primeira reforma, diga-se de
passagem, bastante polêmica, que possibilitou
a sobrevivência da sociedade com um único
sócio foi introduzida, com o Artigo 9 da Lei n°
66-537, de 24 de julho de 1966. Essa reforma
possibilitou a existência da sociedade
unipessoal, pelo menos por um ano, por meio
da reunião de todas as quotas ou ações de uma
sociedade comercial em uma única mão ou
sócio. Após o término desse período,
inexistindo a recomposição societária, aquele
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que tivesse interesse poderia requerer o
desfazimento da sociedade.
Depois de muitas discussões, por meio
da Lei n° 85-697, de 11 de julho de 1985
introduziu-se na legislação francesa a
possibilidade do empreendedor individual ser
sócio único, originariamente, sob a forma de
sociedade de responsabilidade limitada
(Entreprise unipersonnelle à responsabilité
limitée o E.U.R.L.).
Diversas alterações foram feitas na
legislação, entre elas o próprio conceito de
sociedade, redigido no Código Civil. Antes da
reforma o Artigo 1832 definia sociedade da
seguinte forma: “A sociedade é um contrato
através do qual duas ou várias pessoas convêm
pôr algo em comum com o objetivo de
compartilhar seu lucro”.
Nesse dispositivo, após a definição
clássica de sociedade, introduziu-se a
possibilidade da instituição de uma sociedade
por um ato de vontade singular nos casos
previstos em lei. Em outras palavras, além do
conceito clássico de contrato, apresentou-se o
conceito de contrato-instituição unilateral.
A base dos textos legais do século XIX
tinha como premissa a tese contratual. A
sociedade nasce por um contrato e rege-se pelo
mesmo. Com certeza, é um resquício do
Direito Romano, que foi incorporado ao
período codicista. No caso francês, o contrato
também adquiriu, com essa reforma, o caráter
instrumental para constituir uma sociedadeinstituição unipessoal.
2.4 Portugal
Portugal foi o segundo país, dentro da
Europa,
a
adotar
a
sociedade
de
responsabilidade limitada, a tradicional
“sociedade por quotas de responsabilidade
limitada”. Esse fato aconteceu por meio da Lei
de 11 de abril de 1901, e foi o produto de uma
importação da Alemanha.
Além desse fato, deve-se destacar que
Portugal apresenta uma característica própria
dentro da Comunidade Europeia: é o único país
que apresenta o modelo não-societário de
responsabilidade limitada para o empreendedor
individual, o Estabelecimento Individual de
Responsabilidade Limitada – EIRL.
É oportuno citar algumas características
desse modelo jurídico adotado por Portugal,
tendo em vista a raridade de sua existência: a)
Instituição por uma única pessoa e esta deverá
ser titular de um único estabelecimento (Art. 1°
do Decreto-Lei n° 248/86); b) Criação de um
patrimônio de afetação especial, que terá um
regime específico de responsabilidade por
dívidas, definidos em lei (Art. 1° do DL n°
248/86); c) Constituição por escritura pública
(Art. 2° do DL n° 248/86); d) A firma será o
nome da própria pessoa, com acréscimos
opcionais do objeto comercial, seguida sempre
da sigla “E.I.R.L.” (Art. 2° do DL n° 248/86);
e) Realização do capital em numerário, não
inferior a dois terços do capital mínimo (Art. 3°
do DL n° 248/86); f) Obrigatoriedade da
formação de uma reserva legal, não inferior a
20% dos lucros auferidos no ano (Art. 15º do
DL n° 248/86); g) Por ocasião da morte do
titular
da
empresa
individual
de
responsabilidade limitada, os sucessores terão o
prazo de 90 dias para dar destinação ao
estabelecimento. Ultrapassado este prazo,
qualquer interessado poderá requerer a
liquidação judicial (Art. 23º do DL n° 248/86).
A grande vantagem deste modelo nãosocietário está na preservação dos conceitos
clássicos de direito contratual. A definição de
contrato permanece inalterada, evitando-se
discussões teóricas sobre esse instituto.
Por outro lado, o sistema societário
também foi adotado por Portugal, por meio de
modificações no Código das Sociedades
Comerciais. O Decreto-Lei n° 257, de 31 de
dezembro de 1996, incluiu o Artigo 270° A,
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que permite a constituição da Sociedade
Unipessoal por Quotas.
Feita esta inclusão, Portugal entra num
grau de paridade com os demais países
europeus em matéria societária. Em que pese
ter introduzido a empresa individual de
responsabilidade limitada, essa não havia
alcançado
os
objetivos
esperados,
especialmente, no que se refere à superação do
conceito contratualista de sociedade e à
construção da personalidade jurídica.
Com esses dois modelos, o nãosocietário e o societário, Portugal torna-se o
único país europeu a apresentar duas
possibilidades de limitação de responsabilidade
aos empreendedores individuais.
2.5 Itália
A Itália recepcionou a diretiva da
Comunidade Econômica Europeia, no ano de
1993, ao instituir a sociedade unipessoal, por
meio do Decreto Legislativo n° 88, de 03 de
março de 1993.
A porta de entrada dessa modificação
ocorreu no Artigo 2.247 do Código Civil (C.C.)
italiano, que passa de uma “noção de
sociedade” a uma ideia de “contrato de
sociedade”.
Posteriormente, as disposições das
sociedades limitadas foram adequadas com a
inclusão de uma pequena frase, no final do
Artigo 2.475 deste mesmo C.C.
As modificações ocorridas na legislação
italiana por meio da Lei n. 133/97 são bastante
complexas, pois são extensivas a outros tipos
de sociedade, como a sociedade por ações e as
empresas artesanais.
3 Legislação Nacional
3.1 Introdução histórica
Em que pese a existência de um grande
comércio no Brasil, inexistiu produção
jurídico-normativa própria desde o seu
descobrimento. É bom lembrar que o Brasil era
uma colônia de Portugal, portanto, gerida pela
burocracia jurídico portuguesa, por meio de
seus feitores, capitães hereditários e
governadores gerais.
No período de 1580 a 1640, o Brasil
encontra-se sob o domínio da Espanha, em
função da União Ibérica. Decorrido esse
intervalo de tempo, sobe ao trono português o
Rei Dom João IV, que dá início à dinastia de
Bragança. O Brasil retorna ao domínio
português, agora na condição de Vice-Reinado,
ou seja, com um Vice-Rei que coexistia com o
sistema de Capitanias Hereditárias.
A história do Direito Comercial e de
seus diversos institutos inicia com a vinda de
Dom João VI ao Brasil, impulsionado pela
invasão napoleônica ao território português, em
1807. Com a chegada de Dom João VI, iniciase a implantação de medidas burocráticas,
tendo em vista a formação de instituições
próprias, a saber, a Carta Régia de 28 de
janeiro de 1808, que abriu os portos do Brasil
às nações amigas; o Alvará de 1° de abril de
1808, autorizando o funcionamento de fábricas
e manufaturas; o Alvará de 23 de agosto de
1808 criador da Real Junta de Comércio,
Agricultura e Navegação; e, o Alvará de 12 de
outubro de 1808, instituindo o primeiro Banco
do Brasil, enquanto entidade pública.
Considerando-se todas as modificações
introduzidas pela Família Real, não se admitia
o Brasil na condição de Vice-Reinado, até
porque a Corte Portuguesa encontrava-se em
solo brasileiro. Em decorrência dessa
insatisfação, o Brasil foi elevado à categoria de
Reino-Unido de Portugal e Algarves, através
da Carta de Lei de 16 de dezembro de 1815.
No período compreendido entre a
descoberta do Brasil até a confecção de um
código comercial próprio, que somente ocorreu
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no ano de 1850, foi utilizada a legislação
portuguesa, acrescida dos Alvarás, Cartas de
Lei e outras normas complementares, além das
legislações de nações amigas, nas matérias que
inexistiam regulamentação específica, tendo
em vista a famosa Lei da Boa Razão, de 18 de
janeiro de 1769.
3.2 De comerciante a empresário
O comerciante, também conhecido
como firma mercantil individual, era o
empreendedor individual da época. Era aquele
indivíduo que, por meio do registro da firma e
o exercício dos atos de comércio, devidamente
definidos pela legislação, denominava-se,
simplesmente, comerciante ou comerciante
sem sócio.
Para demonstrar a afinidade existente
entre o Código Comercial francês de 1807, em
relação ao nosso Código Comercial de 1850, é
oportuno citar o conceito definido pelo Código
francês que foi seguido pelo nosso, assim como
por tantos outros códigos europeus: “Art. 1°
São comerciantes aqueles que exercem atos
de comércio e deles fazem profissão
habitual” (grifo nosso).
O Artigo 4° do Código Comercial de
1850, assim menciona: “Ninguém é reputado
comerciante para efeito de gozar da proteção
que este Código liberaliza em favor do
comércio, sem que se tenha matriculado em
algum dos Tribunais do Comércio do Império,
e faça da mercancia profissão habitual.”
(grifo nosso).
Deve-se
destacar
a
expressão
mercancia, que não foi definida no nosso
Código Comercial, porém o foi no
Regulamento 737, de 25 de novembro de 1850.
No Artigo 19 desse Regulamento, é listado um
conjunto de atos de comércio que definem a
mercancia, o que significa que o nosso modelo
seguiu a técnica francesa da enumeração dos
atos que definem a atividade mercantil.
O ponto de afinidade entre a definição
de comerciante do Código Comercial francês e
a definição do nosso Código Comercial de
1850 é, justamente, o exercício dos atos de
comércio. No primeiro, é dito com todas as
letras: “exercem atos de comércio e deles
fazem profissão habitual”; e, no segundo, “faça
da mercancia profissão habitual”. A expressão
mercancia foi definida pelo Artigo 19, do
decreto acima citado, que lista os atos ou
atividades que constituem a mercancia.
Portanto, utilizou-se da mesma ideia, ou seja,
da Teoria dos Atos de Comércio, porém com
uma construção linguística diversa. O primeiro
usou a forma direta ao se referir aos atos de
comércio, o segundo utilizou uma forma
indireta, ou seja, fez uso de uma expressão
intermediária para chegar ao mesmo escopo.
Uma vez compreendido que o conceito
de comerciante estava relacionado ao exercício
dos atos de comércio específicos, pode-se
ressaltar essa característica como resquício das
codificações napoleônicas, adotadas pelo nosso
Código Comercial de 1850. Já foi mencionado
anteriormente que a ideia de classe profissional
foi abolida com a Revolução Francesa, em
nome do princípio da igualdade. A classe do
comerciante não era definida no Código,
enquanto substantivo, mas era considerada, na
medida em que exercia determinados Atos de
Comércio. “Todos são iguais perante a lei”, a
concepção da época não admitia classes
definidas nos textos da lei, justamente, para
não ferir o princípio revolucionário de
igualdade da época.
Outro ponto de importância e de
profunda relação com a responsabilidade
ilimitada do comerciante individual diz
respeito à impossibilidade de admitir
patrimônios diversos a uma única pessoa, ou
seja, o princípio da unidade do patrimônio,
devendo-se destacar aqui a ideia de indivíduo,
pessoa natural, único centro de direitos e
deveres. Não se conseguia relacionar o
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comerciante com o seu patrimônio mercantil
separado do seu patrimônio pessoal.
O conceito de pessoa jurídica não foi
suficientemente desenvolvido na França, tendo
em vista a ideia revolucionária iluminista de
indivíduo, corporificada nos códigos e que
impediu as abstrações da pessoa natural.
Essas
ideias,
aqui
rapidamente
retomadas, serão também evidenciadas nos
modelos de sociedades comerciais adotados
pelo nosso Código e, também, inspirados na
codificação francesa.
Atualmente, em função do novo Código
Civil, a antiga figura do comerciante individual
foi substituída pela figura do empresário. Esse
empresário é assim definido, no Código Civil
italiano, em seu Artigo 2.082: “É empresário
quem exercita profissionalmente uma atividade
econômica organizada para o fim de produção
ou troca de bens ou de serviços”. Essa mesma
definição foi adotada pelo legislador brasileiro,
que assim refere: “Considera-se empresário
quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços”.
O conceito de empresário utilizado no
nosso novo Código Civil corresponde ao
mesmo conceito aplicado no Código Civil
italiano. O núcleo conceitual reside em dois
fatores: a) exercício profissional de atividade
econômica organizada; e, b) produção,
circulação ou troca de bens ou serviços.
Dentro desse contexto, é bom lembrar
que a Teoria dos Atos de Comércio foi
abandonada enquanto lista de atividades
específicas. Desse momento em diante, inexiste
a definição de comerciante vinculada ao
exercício de atos de comércio, mas sim
relacionados ao exercício de atividade
econômica organizada. A Teoria dos Atos de
Comércio foi incorporada, de certa forma, pois
o conceito de empresário é mais amplo. Sem
dúvida alguma, esse fato foi um avanço
significativo.
Aquela
igualdade
plana,
horizontal do Iluminismo revolucionário
francês foi posta de lado, abandonada, pois se
admitiu em nosso Código o sujeito empresário,
uma classe distinta e definida. Entendido que o
comerciante pertencente ao antigo código
comercial, atualmente é o empresário do novo
Código Civil, pode-se entrar no assunto que
nos interessa, ou seja, a responsabilidade
ilimitada.
O antigo comerciante por força do
individualismo iluminista revolucionário era o
único centro natural de direitos e deveres. Não
se admitia patrimônios distintos pertencentes à
mesma pessoa. Imperava o princípio da
unidade do patrimônio, ou seja, uma única
pessoa tem que possuir um único patrimônio.
Apesar do abandono da Teoria dos Atos
de Comércio, enquanto lista de atividades,
ainda permanece a necessidade do exercício
profissional de atividade econômica organizada
e a ideia da confusão patrimonial entre
patrimônio do empresário, enquanto empresa
individual e o patrimônio da pessoa civil. Não
ocorreu a superação desse excesso de
personalização. Ainda não se admite a
separação patrimonial, o que faz o
empreendedor individual atuar em profunda
discriminação em relação ao empreendedor
coletivo: sociedade empresária.
4 Necessidade de exatidão da consciência dos
operadores do direito, sobretudo, dos
legisladores
Para compreender a necessidade de
exatidão da consciência, indispensável é a
compreensão de três pontos: a) o intelecto
(inteligência de natureza) ou Em Si ôntico; b) a
consciência ou monitor de reflexão; e, c) a
razão ou racionalidade.
a) O intelecto humano é totalmente
espiritual, transcendente, pois ele cria, dá
unidade. Enquanto está na matéria age sobre
ela, mas está acima dela, ou seja, é
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transcendente. A Ciência Ontopsicológica,
também o chama de Em Si ôntico: “Princípio
formal inteligente que faz autóctise histórica”.
Princípio, é o primeiro real, antes dele não há
nada; formal porque é um formalizado que
também formaliza, é estrutura e estruturante,
tem um design e modo próprios para uma
função; inteligente, pois conhece por presença
interna, por intuição; e, faz autóctise histórica,
haja vista a realização no tempo e no espaço,
ou seja, faz-se a si mesmo em progresso.
Uma das grandes contribuições
científicas
da
Ontopsicologia
foi
a
sistematização do estudo sobre o intelecto,
sobre o Em Si ôntico. O intelecto é a
capacidade de ver dentro, é a faculdade de
intuir.
b) O segundo ponto é a razão ou
racionalidade. É “a técnica de administrar
aqueles primeiros princípios e fazer a conexão,
o nexo entre a realidade externa e verdade
interna; é o exercício que administra as
correlações entre primeiros princípios e
percepções externas”. A razão emite juízos,
sínteses, confronta e compara. Os primeiros
princípios nesta citação significam a
racionalidade elementar relativa ao ser,
também denominada metafísica.
Pode-se entendê-la, também, no
sentido de intelecto aplicado. Racionalidade
econômica,
política,
jurídica,
enfim
racionalidade entendida como conhecimento
sistematizado à disposição do homem, seja
qual for este conhecimento.
Deve-se destacar que a racionalidade
deve estar subordinada ao intelecto, ao Em Si
ôntico; porém, o que se constata é a
subordinação à consciência.
c) Por fim, o terceiro ponto, é a
consciência que se usa para fazer ciência, para
investigar a verdade, para emitir juízos, para
legislar e interpretar normas. A Ciência
Ontopsicológica constata que esta consciência
não apresenta reversibilidade com o real, ou
seja, ela não colhe os fatos como se apresentam
na realidade. Esta deficiência não decorre da
norma de natureza, mas é decorrência das
normas sociais, das opiniões societárias, que se
sobrepuseram as lógicas de natureza, desde a
infância até a época adulta.
Então, a consciência é um fenômeno,
que colhe o real por reflexão. Esta
representação poderá ser idêntica ao real do
fato, do fenômeno ou distorcida. A
compreensão, do modo em que a consciência
colhe é semelhante ao reflexo do espelho. Se
este estiver limpo, transparente, a reflexão
seguirá a mesma sorte, ou seja, reproduzirá o
objeto na sua completude, como de fato ele é;
caso contrário, a reflexão apontará o erro, a
distorção.
Na medida em que o homem encontrase impedido de colher o seu real, o seu ponto
de exatidão, invalidada está a exatidão de sua
pesquisa, a exatidão de sua produção jurídica,
de sua intervenção legislativa, por mais
esforçado que seja este operador.
A assertiva de Protágoras: “o homem é
a medida de todas as coisas” é verdadeira,
desde que o homem seja um metro exato, uma
mente capaz de mensurar, de pesar, de medir o
real nas suas devidas proporções. Nesta linha, o
homem de fato, será a medida de todas as
coisas.
Dentro de qualquer contexto, em
especial na gestão do Estado, a consciência dos
operadores de direito constituem uma
ferramenta indispensável para fazer uma
produção jurídica funcional ao ser humano.
Aqui, o termo consciência adquire um
significado exato, de acordo com a sua
etimologia, consciência significa:
Do latim cum se scire actionem = quando se
sabe a ação (...), se scire cum ente = saber-se
com isso que é. Conhecer conforme à ação.
Conhecimento intrínseco ao cognoscente.
Quando o ente está consigo e se sabe. O ato ou
a coisa é evidente por intrínseca transposição. O
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Recanto Maestro, n. 1, p. 21-33, fev. 2011.
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fato se conhece ou se reflete sem mediação
(MENEGHETTI, 2008, p. 62).
A consciência é um mediador técnico.
Caso esta mediação não seja exata, já estamos
fora do real, estamos alienados, perde-se o fio
condutor que coliga os fatos, de si mesmo e da
vida.
A grande contribuição que a Ciência
Ontopsicológica apresenta aos operadores
sociais, jurídicos e econômicos está na exatidão
da consciência. Ela dispõe de método e
instrumentos de intervenção capazes de
restituir a exatidão de consciência aos
operadores. A psicoterapia de autenticação é o
instrumento por excelência, que uma vez
coordenado por um consultor expert em
Ontopsicologia permite fazer a leitura exata do
Em Si ôntico do sujeito, de tal forma, que a
consciência possa refletir de modo preciso e
operar corretamente sobre a racionalidade.
Em linha de síntese, a exatidão da
consciência permite ao legislador, ao conjunto
dos operadores sociais a base de transparência
necessária ao desenvolvimento das suas
funções jurídicas, sociais e econômicas.
Recuperada a autenticidade de natureza da
consciência, retorna-se a própria exatidão e,
por conta deste fato percebem-se as
contradições sistêmicas, históricas, sociais; e,
sobretudo, visualizam-se os fatos e os pontos
que devem ser corrigidos, com vistas à
funcionalidade ao ser humano.
5 Justificativa para
sociedade unipessoal
a
instituição
da
5.1 Princípio Constitucional da Igualdade e da
Livre Iniciativa
De início é necessário destacar duas
situações relacionadas à interpretação do
direito constitucional e do direito legislado ou
infraconstitucional.
Na primeira situação existe como
antecedente imediato a vontade do povo,
através dos seus representantes; na segunda
situação, por sua vez, existe a mesma vontade
do povo expressa pelos seus representantes,
porém subordinada à primeira, à Constituição
Federal.
Estabelecida esta premissa é possível a
leitura correta da legislação, também objeto
deste trabalho. A matéria-prima de análise é a
atividade do empreendedor, que quando atua
individualmente responde ilimitadamente;
todavia, quando atua de forma societária
(sociedade empresária ou sociedade anônima)
responde na medida da sua participação, ou
seja, de forma limitada.
Esses dispositivos constitucionais estão
postos no capítulo dos direitos e deveres
individuais e coletivos. O Artigo 5°, caput é
considerado o mais importante da Carta
Constitucional, pelo simples fato de estabelecer
os cinco direitos fundamentais do cidadão, que
devem ser observados no conjunto da
legislação infraconstitucional.
Em rápida análise, o direito que
interessa ao nosso objeto é o da igualdade ou
isonomia, não no sentido de que todos são
iguais por natureza, mas sim, iguais no plano
da norma, no plano da obtenção e fruição dos
direitos, bem como no cumprimento dos
deveres. Esta igualdade é vista pelos
constitucionalistas como uma igualdade
formal, diante do direito e, jamais, deve-se
entendê-la como igualdade substantiva, real,
diante dos bens da vida.
Dando concretude ao princípio acima,
deve-se especificá-lo, pois assim, ter-se-á as
coordenadas que permitem medir a existência
ou não da igualdade. No inciso XIII, citado
acima, apresenta-se a espécie com a qual se
pode definir o direito genérico da igualdade, ou
seja, o direito de exercer qualquer trabalho,
ofício ou profissão. O ato de empresariar,
empreender,
organizar
uma
atividade
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profissional, um ofício, um trabalho é o
especificante.
Com este nível de detalhamento, já se
pode tecer as primeiras considerações. No
exercício do trabalho, no exercício empresarial,
enquanto empreendedor individual existe a
responsabilidade ilimitada, o patrimônio
pessoal confunde-se com o patrimônio
empresarial. No exercício de atividade coletiva
(dois sócios ou mais), articulados sob a forma
de sociedade empresária ou sob a forma de
sociedade anônima inexiste responsabilidade
ilimitada. Este é um fato.
Constata-se de imediato uma flagrante
desproporção de tratamento, em manifesto
prejuízo ao empreendedor individual. Sendo
mais concreto, através de exemplo. Um
comerciante de veículos atuando como
empresário individual responde com o
patrimônio por eventuais prejuízos, da sua
atividade empresarial; por outro lado, este
mesmo comerciante atuando com outro sócio,
na
mesma
atividade,
terá
a
sua
responsabilidade limitada à sua participação
societária e o seu patrimônio pessoal não
responderá por eventuais prejuízos, que
superem o seu patrimônio empresarial.
O princípio da livre iniciativa,
implicitamente, encontra-se maculado pela
legislação que regula a atividade do empresário
individual. É de compreensão mediana, o
desestímulo gerado ao crescimento econômico
e à livre iniciativa do empreendedor singular,
na medida em que este responde
ilimitadamente, com o seu próprio patrimônio
pessoal.
As condições de desenvolvimento que a
legislação infraconstitucional, especialmente o
novo Código Civil, apresenta para os
integrantes de sociedade empresária ou de
sociedade anônima, em relação ao empresário
individual são flagrantes.
O constituinte primeiro estabelece a
igualdade entre todas as pessoas perante a lei,
no caso específico, os protagonistas ou agentes
do processo produtivo. Sejam eles individuais
ou coletivos, sejam eles empresários
individuais ou integrantes de sociedades
empresárias ou anônimas.
Depois, destaca que a ordem econômica
é fundada em dois pilares: valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa. O
primeiro pilar é o trabalho desenvolvido, por
meio
das
mais
diversas
relações
regulamentadas pela legislação trabalhista; e, o
segundo pilar é constituído pelas empresas
individuais e coletivas ou empresários e
sociedades.
Na medida em que a legislação outorga
responsabilidades
diferentes
entre
os
empreendedores, parece-me claro que existe
uma restrição velada, que inibe a livre
iniciativa para um em benefício de outro, bem
como tratamento não isonômico.
5.2 Compreensão histórica do Código
Napoleônico à luz da Revolução Francesa e a
sua transmutação ao Brasil e demais países da
família romano-germânica
O Código de Comércio Francês de
1807, com os seus diversos modelos societários
mantinham-se em perfeita sintonia com o
princípio da igualdade, característico da
revolução.
Todos os modelos de sociedade
apresentados neste código tinham como regra
geral a responsabilidade ilimitada de seus
integrantes e, somente, em casos excepcionais
era limitada a responsabilidade, ou seja, os
integrantes das sociedades e os comerciantes
recebiam o mesmo tratamento.
Esse modelo de código é transferido em
linhas gerais ao Brasil. O nosso Código
Comercial de 1850 adotou os mesmos modelos
de sociedade, a mesma figura de comerciante,
definida com base nos atos de comércio.
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A partir de um dado momento, surgem
as sociedades anônimas, as sociedades
limitadas nas legislações europeia e brasileira.
Acrescentam-se novos modelos societários e os
antigos ficam em desuso, tornam-se “peças de
museu”. Esta engenharia societária do final do
século XIX e início do século XX constituíram
uma revolução no instituto da responsabilidade.
Aquilo que era até então regra, tornou-se
exceção.
Entretanto,
esta
exceção
não
permaneceu por muito tempo. Logo foi
percebida pelos legisladores que a figura do
antigo comerciante era a única que apresentava
a responsabilidade ilimitada. Era uma
incongruência em relação aos novos modelos
societários. Então, a legislação de diversos
países do sistema romano-germânico atualizou
este instituto. O primeiro estado europeu foi o
Principado de Liechtenstein, depois temos a
Alemanha, a França, Portugal, Itália e a própria
Comunidade Econômica Europeia adotando a
sociedade unipessoal de responsabilidade
limitada.
O Brasil é o único país de expressão
econômica, da família romano-germânica, que
ainda continua com a responsabilidade
ilimitada do empresário individual. Os seus
legisladores ainda insistem no antigo princípio
da unidade do patrimônio como justificativa
para não criar a sociedade unipessoal. Alegam
que seria um abalo aos credores, insistem nos
velhos conceitos de sociedade, continuam com
os mesmos argumentos do século XIX,
próprios da codificação napoleônica.
Portanto, a compreensão do instituto da
responsabilidade deve ser feita no contexto
histórico em que ela foi criada e
institucionalizada. O momento, que hoje se
vive, não se admite conceitos típicos do século
XVIII e XIX. Este modelo de empresário
individual ou antigo comerciante individual
não está adequado
à nossa Carta
Constitucional. É um instituto alheio aos novos
tempos, que exigem igualdade no tratamento e
estímulo à livre iniciativa, fatores fundamentais
para o desenvolvimento econômico das nações.
6 Considerações Finais
Todo
o
esforço
aplicado
na
compreensão histórica do instituto da
responsabilidade, seja do empreendedor
individual, seja do coletivo resulta na
constatação, de que até o advento das
sociedades anônimas e das sociedades por
quotas de responsabilidade limitada, a regra
corrente era da responsabilidade ilimitada.
Os empreendedores individuais, bem
como os integrantes das sociedades comerciais
respondiam pelas obrigações, inclusive com o
seu patrimônio pessoal. Este entendimento foi
aplicado antes das codificações napoleônicas e
após esta, até o surgimento das sociedades
limitadas.
As únicas exceções dentro do quadro
das sociedades comerciais típicas eram as
sociedades em comandita simples, onde os
sócios
comanditários
ou
investidores
respondiam nos limites do capital investido,
desde que tivessem afastados da gestão; e, as
sociedades de capital e indústria, onde os
sócios de trabalho respondiam nos limites das
quotas do seu próprio trabalho profissional.
Além das exceções acima, existiam as
sociedades anônimas, cuja instituição e
controle eram do Estado, juntamente com
grandes capitalistas. Estas companhias,
também eram chamadas de sociedade de
capital.
Dentro desse contexto, que se estendeu
até o final do século XIX a regra da
responsabilidade era coerente com os modelos
societários utilizados. O instituto da
responsabilidade apresentava como norte a
inexistência de limites, ressalvadas as
exceções. Os Códigos Comerciais próprios da
época expressavam esta compreensão, que foi
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consolidada ao longo da história. Portanto, o
instituto da responsabilidade estava totalmente
adequado àquele momento histórico.
Ocorre, que com a disseminação das
sociedades anônimas no direito romanogermânico, a criação das sociedades limitadas
na Alemanha em 1892 e sua difusão aos
demais países da mesma família, cria-se um
ponto de inflexão na história do instituto da
responsabilidade. Na virada do século, a
necessidade de promover segurança aos
empreendedores, especialmente os pequenos e
médios era indiscutível. Não se podia admitir
que, somente, os grandes investidores e o
Estado tivessem limitação na responsabilidade.
Os pequenos e médios empreendedores,
também, deveriam dispor desta mesma
possibilidade.
No início do século XX, surge a
discussão da sociedade unipessoal com
responsabilidade limitada. Os países de
tradição germânica são os primeiros a adotarem
este modelo. Na terceira metade do século
começa a consolidação deste modelo em
diversos países europeus, chegando-se ao ponto
da comunidade econômica europeia adotá-la
como diretiva aos seus integrantes.
Neste momento, na maioria dos países
de tradição romano-germânica, a regra é a
limitação da responsabilidade para todos os
empreendedores, independente de atuação
singular ou coletiva. Esta evolução do instituto
da responsabilidade é um estímulo, uma
segurança jurídica mínima, mas, sobretudo, um
ato de isonomia e de respeito ao empreendedor
individual.
Em que pese as modificações acima
relatadas, o nosso direito pátrio, ainda insiste
na
manutenção
do
empresário
com
responsabilidade ilimitada. Os projetos de lei,
cujo propósito era limitar esta responsabilidade
não vingaram. O último em tramitação, o
Projeto de Lei n° 4.605/2009, talvez seja a
redenção desta matéria, que já tem sido
discutida nos anais do Congresso, desde 1947,
com o projeto do Deputado Federal Fausto
Freitas e Castro.
Deve-se mencionar a necessidade dos
operadores
de
direito,
sobretudo
os
legisladores, tornarem exata sua consciência
sobre esta nova realidade e permitirem-se a
livre discussão sobre esta matéria, em relação
ao empreendedor individual, até porque ele
representa mais de 50% dos empreendimentos
constituídos.
Por fim, é necessário uma consciência
capaz de entender o papel do Estado e do
Direito como um sistema funcional à
sociedade. O Estado legislador é um meio de
economia social para o ser humano, para a
pessoa, na medida em que se produzam normas
úteis e funcionais. Nesta empreitada a Ciência
Ontopsicológica tem muito a colaborar,
especialmente, no processo de autenticação, de
exatidão de consciência dos operadores sociais,
com vistas a uma compreensão e práxis
superior. Somente, com uma consciência
transparente é possível fazer uma discussão e
adequação saudável do sistema normativo, que
contemple o desenvolvimento harmônico,
sustentável e de respeito ao próprio ser
humano, que são empreendedores por natureza.
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Autor:
João Francisco Dias Feltrin: advogado, contador,
atuação em assessoria empresarial e tributária,
Especialista em Gestão de Negócios e Intuição (AMF).
Josemar Sidinei Soares: Doutor em Filosofia (UFRGS);
Mestre em Educação (UFSM); Mestre em Ciência
Jurídica (UNIVALI); professor Programas de Mestrado e
Doutorado em Ciência Jurídica e professor Curso de
Direito (UNIVALI); professor graduação e pósgraduação Faculdade Antonio Meneghetti (AMF).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 21/12/2010.
FELTRIN, João F. Dias; SOARES, Josemar S. A responsabilidade do empreendedor individual e suas perspectivas jurídicas. Revista Saber Humano,
Recanto Maestro, n. 1, p. 21-33, fev. 2011.
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A função do assessor jurídico para
sucesso na tomada de decisão do
empresário
Letícia Batistela
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Soraia Schutel
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
[email protected]
Resumo: Esta pesquisa discute a função do assessor jurídico para o processo de tomada
de decisão do empresário com o consequente sucesso em seu business. Efetivamente, a
assessoria jurídica é um instrumento que pode servir ao tomador de decisão em
situações estratégicas, levando ao sucesso ou ao fracasso. Considerando os pressupostos
da Ciência Ontopsicológica, nos fundamentos teóricos, apresentam-se as características
elementares que o assessor jurídico deve possuir para auxiliar os empresários nos
processos de tomada de decisão. Os dados são apresentados e discutidos a partir da
abordagem qualitativa nas pesquisas em ciências sociais aplicadas. Utilizou-se na coleta
de dados a aplicação de 10 questionários, realizados com 10 empresários e uma
entrevista aberta com o Acadêmico Professor Antonio Meneghetti. Foi analisada,
outrossim, através dos questionários e de doutrina especializada, a relação existente
entre o empresário e seu assessor jurídico no que tange ao aspecto psicológico,
histórico, financeiro e comercial, desde a forma e possibilidade de contratação,
passando pela relação operante e resultados obtidos. A forma como o empresário se
relaciona com o seu assessor jurídico e como suas orientações influenciam no business
do empresário demonstram a absoluta necessidade de entendimento desta relação e
como seus desdobramentos influenciam no resultado alcançado. O trabalho conclui
acerca da necessidade do assessor jurídico desenvolver-se pessoal e profissionalmente a
fim de melhor prestar serviço especializado para o empresário tomar a decisão mais
acertada.
Palavras-chave: função do assessor jurídico; tomada de decisão; ética legal; postura do
assessor jurídico.
Abstract: This research discusses the role of legal advisor to the decision-making
process of the businessman with the resulting success in your business. Indeed, the legal
counsel is an instrument that can serve the decision-maker in strategic situations,
leading to success or failure. Given the assumptions of science Ontopsychological,
theoretical foundations, we present the basic features that should have legal counsel to
assist entrepreneurs in processes of decision making. The data are presented and
discussed from a qualitative approach in social science research applied. We used to
collect data for the application of 10 questionnaires conducted with 10 businessmen and
an open interview with Professor Antonio Meneghetti. Was analyzed, furthermore,
through questionnaires and specialized doctrine, the relationship between the
entrepreneur and their legal counsel regarding the psychological, historical, commercial
and financial, from the shape and the possibility of hiring, working from the relationship
BATISTELA, Letícia; SCHUTEL, Soraia. A função do assessor jurídico para sucesso na tomada de decisão do empresário. Revista Saber
Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 34-51, jan. 2011.
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and results obtained. The way the business is related to their legal counsel and guidance
as their influence on the entrepreneur's business demonstrate the absolute necessity of
understanding how this relationship and its consequences influence the result. The paper
concludes on the need for counsel to develop both personally and professionally in
order to better provide specialized service for the businessman to take the right decision.
Keywords: role of the General Counsel; decision making; legal ethics; legal secretary
position.
1 Introdução
O tema deste trabalho surgiu em
razão da dificuldade que se tem vivenciado
na função de assessoria auxiliando o
empresário a buscar uma solução jurídica
que responda a necessidade de seus
problemas empresariais. Notou-se que a
falta de sinergia na relação entre o
profissional do direito e o empresário pode
acarretar em falhas, inconsistências e até
mesmo fazer com que o empresário assuma
riscos desnecessários no crucial processo
de tomada de decisões.
O empresário, com foco em seu
negócio, quer obter sucesso com o mínimo
de riscos possíveis e a melhor orientação,
mas não sabe exatamente o que exigir de
sua assessoria jurídica. O advogado, por
sua vez tem a sua técnica jurídica, sua
especialização, mas esbarra de forma
ingênua em imbróglios e burocracias
muitas vezes intransponíveis que tornam
seu trabalho falho e lento. Buscando
eliminar esta barreira na relação
profissional entre advogado e empresário,
objetivou-se compreender a percepção de
empresários sobre a assessoria jurídica e o
assessor quando realiza o processo de
tomada de decisão.
O estudo deste tema trará benefícios
para o aprimoramento da execução da
assessoria pontual e efetiva, pois este deve
primar sempre pela satisfação do cliente.
Considera-se que um trabalho de assessoria
jurídica bem sucedida ocorre quando a
aspiração do cliente é cumprida ou
superada e ele realiza com sucesso seu
business.
Apesar de a pesquisadora dominar a
prática jurídica, nunca havia efetivamente
“ouvido” o cliente sobre o que ele espera
de seu serviço profissional como assessora
jurídica, além do previsível: uma boa
técnica. Buscou-se em diversos meios
trabalhos similares que versam sobre a
visão do empresário sobre o que espera de
uma assessoria jurídica e não foi
encontrado nenhum trabalho com este
enfoque, o que demonstra uma abordagem
inovadora desta investigação sobre o papel
do assessor jurídico e sua relevância para
um negócio bem sucedido.
Desta forma, tenta-se compreender
a perspectiva do empresário, do cliente que
é a parte diretamente beneficiada pela
assessoria jurídica especializada. A
contribuição da visão do empresário pode
servir de contraponto com a visão do
advogado que realiza a função de
assessoria jurídica e, assim, enriquece tanto
o campo da aplicação prática deste serviço
quanto da teorização da assessoria jurídica
ao business.
Inicialmente
pesquisou-se
a
perspectiva histórica da visão da função do
advogado, como nasceu, constituiu-se e
alcançou seu lugar na sociedade, inclusive
sua formação em grupo, a hoje conhecida
Ordem dos Advogados do Brasil (O.A.B.).
A seguir buscou-se na teoria de uma
doutrina especializada, os fundamentos de
uma assessoria jurídica efetiva e de
sucesso, ou seja, que alcança seu objetivo:
a satisfação do cliente, o empresário. Posto
este argumento, explicitou-se a visão
ontopsicológica sobre o papel do advogado
no suporte ao líder. E, por fim,
BATISTELA, Letícia; SCHUTEL, Soraia. A função do assessor jurídico para sucesso na tomada de decisão do empresário. Revista Saber
Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 34-51, fev. 2011.
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desenvolveu-se a análise dos dados
coletados
com
os
empresários
caracterizando as suas expectativas no que
tange ao papel do advogado, bem como
quando estas orientações são efetivas
cumprindo com o objetivo para o qual foi
contratado.
2 Fundamentação Teórica
2.1 Origem do advogado
A profissão de advogado tem sua
origem em remotos tempos e é objeto de
diversas
lendas
e
histórias
não
comprovadas. Procurou-se resgatar de
forma fidedigna a história da Advocacia
trazendo dados históricos e doutrina
especializada,
através
de
autores
conceituados e respeitados na área.
Segundo Gilissen (1988):
A figura do advogado surgiu ainda que, de
certo modo rudimentar, nas civilizações
mesopotâmicas, com marco inicial na
Suméria. Os egípcios usavam comumente a
figura do Conselheiro para auxiliá-los nos
assuntos do direito e das leis, tendo surgido
nessa época as primeiras regras e normas
processuais, que, de forma estranha aos
nossos dias, afastavam fortemente a
eloqüência com o objetivo de convencer o
julgador (GILISSEN, 1988, p. 32).
Foi justamente na antiga Grécia que
hoje as respeitadas oratória e eloquência se
tornaram qualidades associadas à figura do
advogado. Oradores respeitados e famosos,
como os grandes Péricles e Demóstenes,
tornaram-se grandes advogados, admirados,
reconhecidos e de grande reputação. Surge,
pois, a figura dos Corógrafos, ditos
defensores dos acusados, que recebiam
pelos seus serviços.
Pois, foi então na Antiguidade
Clássica, com os gregos, que a eloquência
passou a ser o elemento precípuo na defesa
forense. Os ditos Corógrafos eram
cidadãos livres, cultos e com grande e
invejável capacidade oratória, remunerados
justamente pelos seus serviços como
defensores de acusados. Foi ainda na
Grécia antiga que o culto e admiração do
direito atingiu o seu prestígio máximo com
as reformas de Drácon, Sólon e Licurgo. As
leis de Drácon e Sólon eram taxativas e
estipulavam que só os homens livres
podiam servir como advogados, os quais
não podiam ter qualquer mácula ou
desconfiança em sua reputação. O Tribunal
era tido e respeitado como um local
verdadeiramente sagrado, que tinha de ser
purificado no início de cada julgamento,
conforme Gilissen (1988).
Segundo
Garrido
(2000),
o
advogado Hypérides protagonizou um
incidente que foi a origem de uma das
primeiras regras deontológicas, ou seja,
éticas, para advogados. Durante um
controverso julgamento, este atuava na
defesa de uma cortesã. Ao verificar que
esta seria condenada, exigiu que ela
avançasse para o meio do tribunal e que
retirasse o véu que lhe cobria os seios.
Impressionados pela beleza da mulher e
seduzidos pela verve do advogado, os
juízes acabaram por absolvê-la. Este fato
originou uma lei para disciplinar a
intervenção dos advogados, proibindo-os
de atitudes que incitassem à piedade ou
indignação, e interditando os juízes de
olharem o acusado se este tentasse apelar
aos sentimentos quaisquer que fossem.
Dessa forma, antes de cada audiência, um
funcionário lembrava aos oradores o seu
dever, para que ninguém tentasse ganhar a
causa por meios ilegítimos. De igual modo,
foi instituída pela primeira vez na história a
regra do sigilo profissional, a proibição do
uso de expressões grosseiras e a limitação
de tempo para a intervenção do advogado.
De acordo com Garrido (2000), foi
com os romanos que a advocacia surge
como profissão organizada. Os Patronus e
os Oratores dão origem ao advocatus.
Profissão que passou a ser exercida
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também por mulheres, destacando-se as
afamadas advogadas Amásia e Hortência,
notáveis e respeitadas na época do
Imperador Augusto. Saliente-se que as
mulheres só perderam esse direito com o
derradeiro declínio do Império Romano e
que só o vieram a recuperar já no século
XIX.
Para Garrido (2000), foi na época
Romana que se tornou obrigatório o uso da
toga perante os tribunais, como forma de
impor respeito pela profissão, porque esta
só era usada por aqueles a quem tivesse.
Desta forma, para alguns estudiosos da
área, foi Péricles, na cidade de Atenas, o
primeiro profissional da advocacia. Para
outros, essa primazia foi de Antifonte, na
Grécia, em 479 a.C. É fato que a História
da Advocacia sempre acompanha a História
do Direito. Na Roma antiga já existia a
representação judicial por meio dos
advocati, os representantes judiciais.
Os litígios eram resolvidos na
presença do senado ou até mesmo do
imperador e, geralmente, as pessoas
envolvidas nestes litígios eram pessoas
simples e rudes. Já os advogados sabiam
como se dirigir às autoridades do império,
bem como defender fortemente os
interesses de seus representados. Assim, a
oratória era a primeira, senão a principal
das qualidades exigidas dos representantes
judiciais. Na Grécia, o prestígio da
advocacia era enorme. Isso porque, o
direito de defesa era instituído na própria
legislação, o que ocasionou a origem de
grandes advogados, inclusive os citados
acima.
Segundo Petit (1926), a fama do
sistema judiciário grego chegou à Roma
que, por sua vez, enviou a Atenas uma
comissão de juristas para conhecer as leis
de Drácon e Sólon. No princípio o
exercício da advocacia era uma grande
honraria e não podia ser remunerado.
Porém, durante o reinado do imperador
romano Claudio, em 451 d.C., surgiram os
honorarium, ou seja, os honorários, os
chamados tributos de honra. O senado
passou a fiscalizar o exercício da profissão
e, ao fim do século IV, surgia a Ordem dos
Advogados.
A Advocacia, segundo o mesmo
autor,
converteu-se
em
profissão
organizada quando o imperador Justino
constituiu, no século VI, a primeira ordem
de advogados no império romano do
oriente, obrigando o registro a quantos
fossem advogar. Requisitos rigorosos foram
impostos: ter aprovação em exame de
jurisprudência, ter boa reputação, advogar
sem falsidade e não abandonar a defesa,
uma vez aceita.
No Brasil, já na época da sua
Independência, se realizavam debates
acalorados na Assembleia Constituinte, e
após na Assembleia Legislativa, em favor
da criação dos cursos jurídicos, muito
almejados na época. Já em 1824, foi
redigida a primeira Constituição Brasileira.
Mas não bastavam leis, eram necessários
profissionais que as executasse. Com este
objetivo precípuo, o imperador criou, no
dia 11 de agosto de 1827, os dois primeiros
cursos de Direito no país. Um foi
inaugurado em Olinda, no Mosteiro de São
Bento, e outro na cidade de São Paulo. Por
este motivo, houve a instituição do dia 11
de agosto para ser comemorado o dia do
advogado.
Para dar amparo ao profissional
advogado, em 1843 foi criado o Instituto
dos Advogados Brasileiros, cujo objetivo
maior era constituir uma Ordem dos
Advogados do Império. Mesmo com o
projeto de criação apresentado ao Senado,
em 1851, depois detido na Câmara dos
Deputados e discutido exaustivamente, a
Ordem dos Advogados, durante o período
do Brasil Império, não conseguiu se
constituir.
Entretanto, após a Revolução de
1930, instalado o Governo Provisório, em
18 de novembro de 1930, foi criada a
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Ordem dos Advogados do Brasil, numa
época em que advogados e juristas já
participavam
de
forma
ativa
da
movimentação em torno da renovação e das
mudanças na política do Brasil (era a época
da chamada República Velha).
A nossa Carta Magna, promulgada
em 1988 alçou a advocacia ao patamar de
“preceito constitucional”, preservando sua
atividade exclusivamente privada, como
prestadora de serviços de interesse coletivo,
dando aos seus atos múnus público,
conforme preceitua o Art. 133: “o
advogado é indispensável à administração
da justiça, sendo inviolável por seus atos e
manifestações no exercício da profissão,
nos limites da lei”.
Em 04 de abril de 1994, entrou em
vigor o esperado Estatuto do Advogado,
garantindo
prerrogativas
até
então
inexistentes que poderiam dar ao advogado
a necessária e esperada independência. Sem
esta prerrogativa, não há Advocacia e o
devido processo legal, e quem perde
precipuamente é o cidadão. Desta forma, o
Direito valorizado como uma ciência das
normas que regulam as relações entre os
indivíduos na sociedade só pode funcionar
para preservar as relações preconizadas nas
normas até então estabelecidas, e garantido
o trabalho do advogado, que representa o
jurisdicionado em qualquer instância, juízo
ou tribunal.
Segundo Lopes (2007):
A função do advogado é estrutural e basilar
ao princípio de justiça. Do latim advocatu
(ad = para junto, e vocatus = chamado),
significa aquele que é chamado para ajudar.
O homem moderno se perfaz assegurandolhe o direito de reivindicar e defender seus
direitos através de regras legais previstas
no ordenamento processual judicial (civil e
penal) e administrativo, criados sob a
inspiração do espírito democrático que
encampa o Poder Legislativo deste país. Et
pour causae, vem a tona no nosso mundo
jurídico o Princípio do Processo Legal, nos
termos do artigo 5º, LIV, da Constituição
da República, “ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal. E só o advogado é capaz de
fazer que as leis sejam aplicadas, sem
jamais desertar do espírito de justiça”
(LOPES, 2007, p. 14).
Nota-se após este estudo, que o
surgimento da figura do advogado, tratado
neste texto no papel de assessor jurídico,
manteve sua essência até os dias de hoje,
tendo como missão fundamental preservar
os direitos inerentes a cada cultura e nação,
sempre coerente as respectivas regras e
preceitos legais.
Desta forma, independente da
função que exerça, o advogado deve
preservar sua essência, em prol de sua
formação e do pleno atendimento ao seu
cliente.
2.2 Assessoria jurídica e o papel do
advogado enquanto assessor
O advogado pode assumir diversas
funções após o seu curso de habilitação
profissional em nível superior e necessária
aprovação no exame da O.A.B. Dentre
estas funções, encontra-se a de assessor
jurídico empresarial, enquanto advogado
independente sem vínculo empregatício
direto ou qualquer exclusividade com seu
cliente.
O assessor jurídico tem como
clientes empresas de qualquer porte que
buscam um profissional especializado. A
busca pela melhoria do desempenho das
organizações faz com que estas empresas
procurem prestadores de serviços jurídicos
cada vez mais eficazes, ágeis e eficientes.
O assessor jurídico externo é uma opção
que pode aconselhar ou prestar algum tipo
de serviço especializado que melhore o
desempenho e aumente a competitividade e
agilidade da empresa.
Segundo Kubr (1986):
A atividade de assessoria jurídica passou a
existir representada por uma pessoa ou
empresa que tinha por responsabilidade não
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apenas a identificação e investigação de
problemas
relacionados
à
política,
organização, procedimentos e métodos,
mas, também, à orientação adequada à
resolução dos problemas. Existia um
problema, mas o pessoal efetivo, ou seja,
interno, não tinha especialização necessária
para resolvê-lo (KUBR, 1986, p. 145).
Para Kubr (1986):
A assessoria deve ser um aconselhamento,
na qual os assessores não são chamados
para dirigir as empresas ou tomar decisões
de risco em nome do empresário ou do
executivo responsável. Os assessores
devem ter o papel exclusivo de
conselheiros, e suas responsabilidades se
limitam à qualidade e integridade dos
conselhos
que
dispõe.
Aos
empresários/clientes devem caber todas as
responsabilidades decorrentes da aceitação
e aplicação dos conselhos. É claro que, no
dia-a-dia da assessoria, há muitas variações
tênues e graus diversos do que se entende
por “conselho”. Apenas jogar o conselho
não é suficiente. Mas, dá-lo de forma
adequada, efetiva e no tempo certo são
habilidades fundamentais de um assessor
(KUBR, 1986, p. 148).
Kubr (1986, p. 142) também destaca
que a assessoria “é um serviço que provê
conhecimento profissional e habilidades
relevantes para problemas organizacionais
na prática”.
Ora, mas quando um profissional se
torna assessor efetivo? De acordo com a
experiência que se tem ao longo de 16 anos
do exercício de assessoria jurídica,
entende-se que é quando o advogado
acumula um grande conhecimento de várias
situações e imbróglios organizacionais e,
ainda, quando adquire determinadas
habilidades necessárias à resolução de
alguma questão. Ou seja, identificar os
problemas, buscar e encontrar informações
diretamente relevantes; analisar e/ou
sintetizar; definir entre as várias
alternativas para a efetiva solução e saber
comunicar-se com o cliente. Entende-se
que o maior diferencial do assessor é que
ele passa por muitas empresas e aprende
como utilizar-se da experiência obtida em
trabalhos feitos anteriormente para
implantar novas soluções com maior
habilidade e competência. Além disto, os
assessores com maior experiência mantêmse constantemente atualizados nos métodos
e técnicas jurídico-comerciais, estando
atentos às novidades desenvolvidas em
universidades e instituições de pesquisa,
para informar os empresários a esse
respeito e ajudá-los a aplicá-las.
Segundo Mocsányi (2003), além de
conhecimento
técnico,
talento
e
criatividade,
as
características
que
destacam um bom assessor são mais
amplas e até mesmo subjetivas, sejam elas
profissionais, culturais, políticas e até
mesmo
psicológicas.
Todas
essas
qualidades, segundo o autor, são
fundamentais na atuação diária do assessor
em seu relacionamento com clientes e seus
respectivos
colaboradores,
incluindo
parceiros fixos ou eventuais, e consigo
mesmo, exigindo mais de seu próprio
desempenho.
Segundo Grocco & Guttmann
(2005),
o
assessor
tem
algumas
características que podem ser detalhadas,
tais como:
Independência e qualificação – a
característica mais importante (...) é a
imparcialidade na atuação do consultor, (...)
aumenta a complexidade no seu
relacionamento com os clientes. (...) a
qualificação pressupõe que o consultor
esteja plenamente capacitado e fortemente
embasado
para
fazer
as
suas
recomendações; política, organização,
procedimentos e métodos (...) fazem parte
da essência dos motivos que levam à
contratação de um consultor. (...) trata-se de
conhecimento profissional e habilidades
relevantes para as necessidades da empresa;
recomendação – a ação esperada do
consultor é de aconselhamento, não de
decisão. A qualidade e integridade das
recomendações constituem o enfoque desse
aconselhamento, respeitando o momento
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das pessoas e da empresa-cliente; auxílio –
significa não ter controle direto sobre a
situação ou sobre a decisão. A
responsabilidade de aconselhar existe, mas
autoridade ou liberdade de decisão não;
processo interativo (...) significa um
conjunto
estruturado
de
atividades
seqüenciais que apresentam uma relação
lógica entre si, com a finalidade de atender
e superar as expectativas e necessidades
dos clientes internos e externos (GROCCO
& GUTTMANN, 2005, p. 34).
As características citadas por este
autor evidenciam o papel do advogado
enquanto assessor jurídico. São trazidos
conceitos basilares de postura, capacitação
e técnica que, se criteriosamente seguidos
trarão um diferencial a assessoria prestada,
influenciando diretamente no sucesso do
negócio orientado pelo assessor jurídico.
Inicialmente,
é
citada
a
independência e qualificação, que são
características que dão o cerne, a estrutura
de um assessor jurídico. Um assessor
jurídico, ao contrário de um advogado
interno de uma empresa, mantém sua
independência, por conseguinte sua
imparcialidade quanto às orientações dadas.
Ao manter sua independência em relação à
empresa e ao próprio empresário ele
consegue enxergar o problema de fora,
trazendo uma solução livre de vícios e prédisposições. Esta visão privilegiada é o
grande diferencial de um assessor jurídico,
posto que ao ser contaminado pelos
problemas e soluções pregressas já
aplicadas, o advogado interno não traz
soluções novas e criativas para o mesmo
problema. A qualificação também é um
pressuposto básico a uma boa assessoria
jurídica, merecendo um lugar de destaque
entre suas principais características, pois é
pressuposto básico que as orientações do
assessor jurídico sejam embasadas.
Assim, há a aprendizagem constante
do assessor e, esta se baseia no
enfrentamento constante de situações
novas, a cada projeto, a cada serviço
contratado, a cada organização e com
diferentes pessoas envolvidas, o que exige
destes profissionais não somente a
capacidade de aprenderem, mas a
existência de oportunidades e liberdades
significativas.
O mesmo autor evidencia bem que
o papel do assessor jurídico é recomendar,
orientar e não decidir. Conforme dito por
um dos empresários entrevistados no
presente estudo (E1), o assessor jurídico
deve ter a compreensão de que não é o
protagonista do jogo. Sendo assim, o que o
empresário espera dele é uma orientação
técnica, com todo o embasamento,
imparcialidade e qualificação necessário
para que a sua decisão seja a mais acertada
para o seu negócio.
Não é raro encontrar estudos que
procuram
identificar
características
pessoais ou traços em pessoas como
líderes, empreendedores e também
consultores. Dessa maneira, Kubr (1986)
aponta que os consultores de sucesso são,
geralmente, profissionais éticos, corteses,
autoconfiantes, de comportamento estável,
independentes,
competentes
intelectualmente, capazes analiticamente,
hábeis para se comunicar e persuadir.
Este tema explorou o papel do
advogado enquanto assessor jurídico,
demonstrando que seu papel é precípuo
para a empresa, posto que decisões
estratégicas passam por ele e podem alterar
o resultado de um negócio.
3 Visão da Ontopsicologia sobre o
assessor jurídico
Dentre todas as visões sobre a
assessoria jurídica, a Ontopsicologia traz
uma visão sob o ponto de vista do
empresário e de quais riscos ele enfrenta no
seu dia-a-dia. A relação do ente social com
a lei é inevitável, todos nós de algum
modo, estando em sociedade assumimos
uma condição de, nesta, ter direitos e
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deveres. Contudo, esta é a relação
elementar, muitas vezes não refletida na
realidade do empresário de negócios.
Segundo Meneghetti, existe uma
obrigação jurídica e superá-la é uma
questão de sobrevivência no business:
Na realidade, entre mandantes e mandados,
todos sofremos a obrigação jurídica com
dependência fideísta ou com necessidade
de sobrevivência na agressividade social;
na maioria dos casos, observamos o direito
por legítima defesa, e não como serviço de
ordem
e
crescimento.
O
direito
internacionalmente resulta em uma coação
a repetir, porque sistema e indivíduo já
estão em uma relação homo lúpus
(MENEGHETTI citado por GROSSO,
2006, p. 27).
A questão abordada por Meneghetti
é crucial, pois se verificam situações nas
quais os empresários usam a assessoria
jurídica como uma defesa passional dos
“perigos” de uma ordem jurídica fatal.
Constitui-se este um problema, pois o
conhecimento jurídico deve ser utilizado de
forma proativa e não reativa. Deve ser
utilizado a fim de escolher os melhores
caminhos, buscadas as melhores nuances
de um business de sucesso, enfim, deve ser
encarado como uma orientação de um
critério jurídico lógico e racional e não
como uma defesa passional.
Meneghetti (2009b) afirma que a lei
hoje é prioritária em relação ao dinheiro e,
antes de iniciar qualquer coisa, deve ser
sempre controlada. O empresário tem a
intuição, mas lhe falta a técnica jurídica e a
imparcialidade, atributos que um assessor
jurídico tem e que se seguidos levarão o
empresário a vencer. Meneghetti (2009b),
também argumenta que quando se começa
a ter riqueza, é prudente se prover por meio
da lei, porque é uma proteção contra os
pequenos, os frustrados. Pois, segundo ele,
a lei deve ser usada a fim de que o
empresário não seja afetado por estes que o
cercam, mantendo-se livre. O empresário
precisa conhecer a lei para optar pelo
melhor caminho, escolher o melhor
parceiro, fornecedor, etc. Este é o primeiro
passo para que ele se dedique ao seu
business prevendo e minimizando riscos na
organização de seu negócio.
Segundo
Meneghetti
(2009b),
existem muitas armadilhas e peripécias
legais no mundo atual, sendo que o
empresário deve seguir a legislação para
não perder a sua liberdade, não podendo
alegar ignorância ou boa-fé, pois, segundo
o autor, “algumas coisas podem parecer um
tanto quanto óbvias na nossa boa-fé e, na
realidade,
são
contra
a
lei”.
(MENEGHETTI, 2009b, p. 22). A
ignorância sobre a lei é uma grande
armadilha na qual
o
empresário
invariavelmente incorre, pois a nossa
legislação pátria prevê que a ignorância de
uma norma não isenta o cidadão da
responsabilidade
pelo
seu
não
cumprimento.
O Código Civil Brasileiro em seu
Artigo 1.011, determina que: “o
administrador da sociedade deverá ter, no
exercício de suas funções, o cuidado e a
diligência que todo o homem ativo e probo
costuma empregar na administração de seus
próprios negócios”. Este dispositivo legal
dá
ao
administrador
a
certa
responsabilidade ao gerir a sua empresa, e
os riscos inerentes a gestão de seu negócio.
A
sua
responsabilidade,
como
administrador é única e exclusiva e é ele
que deve prestar contas seja ao fisco, a
justiça ou a terceiros, dentre eles, seu
cliente.
Ainda,
dando
maior
responsabilidade ao empresário, o mesmo
código no Artigo 1.016 determina que: “Os
administradores respondem solidariamente
perante a sociedade e aos terceiros
prejudicados, por culpa no desempenho de
suas funções”. Ou seja, não é apenas no
tocante a sua empresa que o empresário é o
responsável.
A
lei
brasileira
o
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responsabiliza por atos ilícitos cometidos
por seus colaboradores em caso de danos a
terceiros. Esta previsão legal torna
imperativo que o empresário se cerque de
bons técnicos a fim de se resguardar de
riscos que podem destruir seu negócio, sua
empresa.
Na mesma seara, o Supremo
Tribunal Federal consensuou sobre a
responsabilidade
do
empresário,
demonstrando que, independente de quem
for a culpa dentro da empresa, o primeiro e
único responsável será sempre o
empresário, na Súmula 341 deste órgão: “É
presumida a culpa do patrão pelo ato
culposo do empregado ou preposto”.
Não é admitida pelo Estado a
alegação de desconhecimento ou boa-fé,
sendo o empresário penalizado sem
quaisquer atenuantes legais. Neste cenário
tem-se um empresário, cioso de sua obra
precisando delegar uma tarefa técnica a um
terceiro em uma matéria que ele não
domina. E nesta questão, entra a
importância da delegação:
Qual a gama das situações a serem
delegadas? Os funcionários, o contador, o
advogado, o partner, o médico, o
programador, o gráfico, o motorista do
próprio veículo, o porteiro, etc. Atenção ao
advogado, ao contador, àquele que toma
uma fatia da responsabilidade e garante
resolvê-la. Muitas vezes o empresário, por
ingenuidade,
oferece
ao
outro
a
possibilidade de lesá-lo. E um fato no qual
se tem razão – por exemplo, circunstâncias
do dinheiro – é estragado por imperícia do
advogado, do burocrata, do contador. Em
tudo isso, o pagante, penal e civilmente,
será sempre aquele que delegou. O outro
jamais é uma garantia total. A gratuidade de
deferência, de fé que se dá a certos órgãos
ou profissões é errada, posto que um
específico profissionalismo, em qualquer
papel dentro dos tantos ofícios que existem
no interior da globalização, não exime da
responsabilidade de verificar e vigiar, posto
que o jogo do dinheiro, das relações, do
levar adiante um negócio implica uma
clareza técnica. No final, é por meio de
intuição pessoal que se deve entender se
uma coisa (negócio, pessoa, etc.) é ou não é
para si. O critério que permite entendê-lo é
a própria identidade (MENEGHETTI,
2009b, p. 47).
De acordo com Meneghetti (2009b),
o assessor jurídico age como um delegado
do empresário, seu cliente, em uma questão
técnica.
Claramente
não
é
uma
transferência de uma responsabilidade onde
o que delega passa o problema adiante e
não mais se responsabiliza por ele.
Segundo Schutel (2008) é o contrário, pois
existe uma co-participação, um coenvolvimento, uma co-responsabilidade
que deve ser mantida entre as partes
envolvidas.
Ao assumir esta delegação, o
assessor jurídico deve preservar as
características do empresário, aplicando
apenas a técnica, mas não esquecendo
jamais que não é o protagonista e sim um
suporte ao empresário que realiza seu
business. Um business de sucesso passa
necessariamente pelo comprometimento,
competência e sintonia das pessoas
envolvidas, e nisto é fundamental que a
relação entre empresário e assessor jurídico
seja funcional.
Ainda segundo Schutel (2008), o
que se espera do delegado, no caso o
assessor jurídico, é que ele não projete o
seu modo de pensar, mas utilize seu
preparo profissional e técnica para chegar
ao escopo pré-estabelecido. Segundo o
entrevistado E1, para isso, deve-se
compreender a intenção do líder no projeto
e cuidar para não projetar o seu modo de
pensar, mas com a sua condição de preparo
profissional chegar ao escopo préestabelecido, aliando uma intenção única a
melhor técnica. O verdadeiro líder sabe
delegar e utiliza a delegação como meio de
crescimento de sua obra de forma
inteligente, posto que não existe
crescimento concreto sem delegação.
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Bernabei (2007) trata desta questão
de forma pontual e precisa, quando referese à importância da junção dos potenciais
dos indivíduos que compõe o grupo de
trabalho.
Quanto maior for uma intuição do líder
mais mãos devem existir para torná-la
história. A delegação aos colaboradores
atuada de modo correto é uma das
passagens fundamentais para realizar a
business intuition enquanto – prestando
atenção e gerindo de modo correto as
dinâmicas inconscientes a junção dos
potenciais dos indivíduos que compõem o
grupo de trabalho prevalece e, quando isso
ocorre, deslocar o mundo torna-se a norma
(BERNABEI, 2007, p. 110).
Segundo Bernabei (2007) “são
justamente os recursos humanos que fazem
a diferença na competitividade e qualidade
do produto e serviço da empresa”
(BERNABEI, 2007, p. 95). Um assessor
jurídico válido, em sintonia com o
empresário traz maior competitividade à
empresa.
Ao entrevistar Meneghetti (2009a)1
para a elaboração deste estudo, ele aborda
três princípios fundamentais ao assessor
jurídico. O primeiro é a competência
técnica do Direito no seu campo específico,
demonstrando desta forma que esta
característica é basilar para um bom
profissional. Este autor também elucida que
o segundo princípio é a formação que serve
para a evolução de sua personalidade e
inteligência. Segundo Meneghetti (2009a),
nesta mesma entrevista:
Se ele não faz esta formação psicológica e
filosófica contínua – para si mesmo, não
para os outros – corre o risco de acreditarse um grande advogado, porém não possui
mais os fundamentos, não possui mais a
fonte da inteligência. Isto é, a competência
psicológico-filosófica serve para manter o
exercício da sua inteligência, do seu
1
Informação verbal.
intelecto. Se ele não faz isso, corre o risco
de sentir-se potente, porque, é claro, as
pessoas recorrem ao advogado somente
quando têm problemas (MENEGHETTI,
2009a).
Meneghetti
(2009a)
salienta
aspectos relevantes na formação de um
assessor jurídico. Além da competência,
técnica, ética, etc., citada por outros
empresários, ele entende ser fundamental a
formação de caráter psicológico-filosófica
que permitirá com que o assessor jurídico
faça a evolução de sua inteligência.
Entende-se que esta passagem, se
realizada pelo assessor jurídico o fará
superior, pois segundo Meneghetti (2009a),
o grande advogado deve entender que uma
coisa é ser advogado, e outra coisa é ser
pessoa inteligente, interior a si mesma.
E, por fim, o terceiro princípio é
“conhecimento da situação real antes de
aceitar a causa”. O autor ainda explicita
como exercer esse princípio:
O advogado deve ser sempre honesto. O
que isto significa? Que ele, quando pega
uma causa, deve entender bem se vale à
pena ou não. (...) Portanto, o bom advogado
deve entender imediatamente como as
coisas estão, para não ser enganado pela
mentira do cliente (MENEGHETTI,
2009a).
Segundo Meneghetti (2009a), destes
três princípios, tem-se a formação plena do
advogado.
Desta forma, a Ontopsicologia
apresenta uma visão sistêmica sobre o
advogado e seu papel na vida empresarial,
com um papel estratégico e essencial ao
sucesso do negócio.
4 Metodologia
Do ponto de vista da forma de
abordagem do problema, esta é uma
pesquisa qualitativa, pois considera que há
uma relação dinâmica entre o mundo real e
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o sujeito, isto é, um vínculo indissociável
entre o mundo objetivo e a subjetividade do
sujeito que não pode ser traduzido em
números. A interpretação dos fenômenos e
a atribuição de significados são básicas no
processo de pesquisa qualitativa. Não
requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte
direta para coleta de dados e o pesquisador
é o instrumento-chave. Do ponto de vista
de seus objetivos, conforme Gil (2002) ela
é uma pesquisa exploratória, pois visa
proporcionar maior familiaridade com o
problema com vistas a torná-lo explícito ou
a
construir
hipóteses.
Envolve
levantamento bibliográfico; entrevistas com
pessoas que tiveram experiências práticas
com o problema pesquisado; análise de
exemplos que estimulem a compreensão.
Assume, em geral, as formas de pesquisas
bibliográficas e estudos de caso. Também
desenvolveu-se pesquisa em referenciais
bibliográficos constituído principalmente
de livros, artigos de periódicos e material
disponibilizado na internet.
Os instrumentos de coleta de dados
foram entrevista padronizada com a
obtenção de informações de um
entrevistado, sobre determinado assunto ou
problema com um roteiro previamente
estabelecido, e uma entrevista contendo
uma questão tema norteadora realizada com
o
Acadêmico
Professor
Antonio
Meneghetti.
Trata-se de uma pesquisa de
abordagem qualitativa e de pesquisa de
campo realizada por meio de entrevistas
com dez empresários que podem ser
considerados cases de sucesso. Para
realizar
a
entrevista
elaborou-se
previamente um roteiro contendo nove
questões.
Os temas das questões das
entrevistas foram assim definidos: a)
identificação do tipo de assessoria jurídica
que os empresários utilizam; b) momento
em que o empresário utiliza-se da
assessoria; c) setores da empresa que são
consultados em situações de risco; d)
momento em que é necessário buscar um
assessor jurídico externo; e) situação em
que a postura do advogado foi um
catalisador para auxiliar no sucesso do
negócio; f) pela sua experiência, quais
características
(comportamentais,
personalidade, conhecimento, etc.) são
importantes em um advogado no momento
de dar o suporte necessário ao empresário;
g) o que gera confiança ou indica
confiabilidade na postura do advogado e
que lhe faz resultar em um negócio bem
sucedido; h) como identifica o que o
advogado está orientando em relação a ser
o melhor ou não para o negócio.
Os entrevistados foram selecionados
de acordo com seu perfil empreendedor e
cases de sucesso, sendo que suas empresas
têm no mínimo 15 colaboradores.
As respostas trouxeram uma visão
mais clara do que o empresário espera de
seu assessor jurídico e qual o caminho a ser
seguido para que o negócio seja bem
sucedido.
Dos dez empresários entrevistados,
nove são do sexo masculino e um do sexo
feminino. A faixa etária compreende de 32
a 52 anos de idade. Duas empresas são de
sociedade anônima, e oito são sociedades
limitadas.
Dos
dez
empresários
entrevistados, cinco possuem assessoria
jurídica externa (50%), e os outros 50%
possuem assessoria jurídica interna. Destes
últimos, dois possuem advogados que
atuam em todas as áreas (generalistas), três
na área comercial, sendo que também
possuem outras especialidades tais como
administrativa, trabalhista e tributária
As questões foram elaboradas a fim
de conhecer as percepções dos empresários,
deixando-os livres para explicar e ilustrar
da melhor forma o que esperam de seu
assessor jurídico. Foram agendadas
entrevistas presenciais com os empresários,
em locais definidos por eles. Dos dez
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empresários entrevistados, 06 foram
ouvidos em sua empresa, 02 foram ouvidos
no escritório profissional da pesquisadora e
02 foram ouvidos em um hotel localizado
no Distrito Recanto Maestro.
As entrevistas tiveram uma duração
entre 20 minutos e 1 hora, sendo que foram
gravadas e transcritas integralmente, tendo
informações que atendiam os objetivos da
pesquisa extraída. Após, foram construídos
quadros descritivos contendo trechos das
respostas dos entrevistados, as quais foram
agrupadas e analisadas a fim de elucidar
todas as questões abordadas. De forma
complementar as entrevistas, transcreveuse parte da entrevista realizada com o Acad.
Prof. Antonio Meneghetti. Esta entrevista
buscou evidenciar a este trabalho a
sabedoria e inteligência de um grande
empresário e cientista, enquanto cliente de
um profissional da advocacia.
Com
referência
a
pesquisa
propriamente dita, buscou-se dentre os
métodos existentes os que possibilitariam
extrair com maior precisão as informações
elucidativas. Para Gil (2002), um bom
pesquisador precisa, além do conhecimento
do assunto, ter curiosidade, criatividade,
integridade intelectual e sensibilidade
social. São igualmente importantes
características tais como a humildade para
ter atitude autocorretiva, a imaginação
disciplinada, a perseverança, a paciência e
a confiança na experiência.
Investigou-se em que momentos o
empresário consulta o setor jurídico. Esta
questão aborda uma situação bastante
controversa na vida empresarial, pois
demonstra em qual situação e fase o
assessor entra no problema apresentado e
consequentemente qual o seu papel.
Três dos dez entrevistados (E1, E4 e
E5) entendem que o assessor jurídico deve
ser consultado em todas as situações,
inclusive um referiu que deve participar de
forma proativa e não apenas quando
consultado. Um deles referiu (E2) que a
assessoria jurídica é acionada apenas
quando a empresa deve se relacionar com
outro departamento jurídico demonstrando
não querer uma atitude proativa de seu
assessor. Apenas um (E9) entende que a
atuação de seu assessor, no caso um
estagiário de direito, não é relevante, posto
que praticamente nunca o aciona. Os
empresários E6 e E8 entendem que a
participação do assessor jurídico se dá em
determinadas situações onde existe um
conflito, ou quando a diretoria entende ser
necessário.
A maior parte dos entrevistados
consulta o assessor jurídico para a tomada
de decisões, usando o aconselhamento
técnico de forma funcional. Mesmo os
empresários que acionam o jurídico apenas
em decisões estratégicas demonstram que a
opinião técnica da assessoria é necessária
para o sucesso do negócio.
Desta forma, para Block (1991):
5 Resultados e Discussão
Ao entrevistar os empresários
buscou-se entender o que eles efetivamente
esperam de seu assessor jurídico e como o
vêem em relação ao seu negócio e em
relação ao setor jurídico interno de suas
empresas, quando existente.
5.1 Consulta ao Setor Jurídico
Consultor é a pessoa que está em condição
de ter influência sobre um indivíduo, grupo
ou organização, mas sem o poder direto
para produzir mudanças ou programas de
implementação (BLOCK, 1991, p. 2).
Resta claro que o assessor jurídico
não tem controle direto sobre a questão que
orienta, entretanto, o seu papel é tornar-se
disponível a quem pode alterá-la, no
momento em que for consultado prestando
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as informações técnicas ou disponibilizando
as ferramentas necessárias.
5.2 Momentos de risco e a solicitação da
assessoria jurídica
O objetivo desta questão é entender
em que momento o assessor jurídico é
apresentado ao problema e qual seu grau de
importância na hierarquia da empresa.
Esta foi uma pergunta objetiva em
que se buscou a informação da hierarquia
de ordem de oitiva do jurídico interno,
procurando entender em que momento o
questionamento sobre o problema chega às
mãos deste jurídico.
Três empresários (E1, E6 e E8)
responderam que o jurídico interno é o
primeiro hierarquicamente na ordem de
consulta, após a diretoria que avalia o risco,
enquanto três empresários (E2, E4 e E9)
responderam que é o segundo. Três
empresários não citaram o jurídico interno
em sua ordem de prioridade e um avalia
esta hierarquia segundo cada situação.
As
respostas
dadas
pelos
empresários demonstram que a maioria
consulta o jurídico de forma prioritária
buscando uma orientação sobre qual
caminho é o mais adequado. A hierarquia
deflagrada demonstra que o jurídico é visto
de forma estratégica, posto que suas
respostas direcionam as ações tomadas em
situações de risco.
5.3 Jurídico externo
Outro tema investigado foi em que
momento o empresário sente a necessidade
de uma assessoria jurídica externa e quais
especialidades procura.
Esta pergunta mostra o momento
em que o empresário sente a necessidade da
visão de um assessor jurídico especializado
para o sucesso de seu negócio.
Três empresários (E1, E2 e E3)
entendem que a busca de um assessor
externo é usual quando se faz necessário
em razão de uma demanda específica. E2
ainda afirma que “o conhecimento
especializado é positivo e contribui em
muito para o meu negócio”. Dois
empresários (E7 e E9) afirmaram não
buscar especialistas jurídicos externos.
Cinco (E4, E5, E6, E8, E10) empresários
afirmaram buscar apenas em questões
pontuais, demonstrando não ser uma
prática usual na empresa, sendo que um
informou recorrer apenas quando o seu
jurídico interno recomendar.
A especialidade do assessor jurídico
permite benefícios imediatos à empresa,
sendo que se corretamente aliado ao
jurídico interno, pode favorecer a tão
almejada blindagem de riscos. É certo,
desta forma, que os profissionais que atuam
na área do Direito Empresarial se colocam
ao lado do comando das empresas no
intuito de apresentar soluções jurídicas
orientadas para a criação de valor e
racionalidade nas relações comerciais,
influenciando, de modo concludente, na
tomada de decisões e no planejamento dos
negócios. A atuação se dá no âmbito
consultivo ou contencioso, sendo que se
consultados no momento certo, trazem
maior segurança jurídica ao negócio.
5.4 Postura do assessor jurídico
Procurou-se levantar junto aos
empresários uma questão até então
subjetiva aos profissionais jurídicos: qual
efetivamente é a postura esperada por seu
cliente/o empresário?
O objetivo desta questão foi
entender, na visão do empresário, quando o
assessor erra e quando ele acerta. Três
empresários (E2, E5 e E7) não se
recordaram de nenhuma situação específica
na qual tenha havido erro ou acerto do
assessor jurídico. Sete empresários (E1, E3,
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E4, E6, E8, E9, E10) demonstraram saber
exatamente o que, em sua opinião e
vivência, faz com que a assessoria prestada
por um assessor jurídico seja um sucesso
ou um fracasso. Um deles (E1), foi bastante
específico, alertando:
“Hoje em dia, depois de uma holística funcional,
isto é, uma sinergia que gera resultado, um
comprometimento que é focado em dar resultado
frente a um todo, que de forma holística garante a
função, desenvolvida com alguns profissionais ao
longo dos anos, nossos assessores sempre ajudam.
Mas, a decisão final é sempre do empreendedor, o
jurídico é técnico, dá as lógicas, os ângulos, mas,
não são o negócio, não o vivem no dia a dia, então
sempre tudo deve ser ponderado. Hoje só temos
relações positivas e propositivas com nossos
jurídicos, mas, no passado, por erro de contratação
nossa, nem sempre foi assim. Em resumo, deve
haver uma sinergia total, já que mesmo que o
advogado não seja bom, é o cliente que o contratou
e, portanto o contratante já errou no princípio, o
advogado errado é já consequência de uma série de
erros” (E1).
A informação trazida por E1 traz
algumas novas considerações, dentre elas, a
relação hologramática entre as partes e o
todo. O holismo significa que o homem é
um ser indivisível, que não pode ser
entendido através de uma análise separada
de suas diferentes partes. Com a
globalização (integração do mundo; povos
e cultura) compartilhamos não somente as
oportunidades que ela oferece, mas também
os diversos problemas. E sua compreensão
exige a aplicação da teoria sistêmica na
busca de uma sabedoria sistêmica, que se
pode interpretar como sendo a busca de
uma visão holística.
O enfoque sistêmico exige dos
indivíduos uma nova forma de pensar; de
que o conjunto não é mera soma de todas as
partes, mas as partes compõem o todo, e é o
todo que determina o comportamento das
partes.
A empresa ganha uma nova visão,
valorizando o setor jurídico e tendo
consciência que todos têm a sua
importância e que todos compõem a
empresa, e, ainda, que a empresa não é
mera soma de departamentos, dentre os
quais, o jurídico. Traz a percepção da
organização como uma série de processos e
atividades interligadas.
Ainda, sobre as informações
trazidas na resposta de E1, resta que o êxito
da operação do assessor jurídico está
baseado em princípios como ética,
probidade e confiança gerados a partir da
sinergia entre advogado e cliente, e, ainda,
de um trabalho sério e dedicado
desenvolvido com excelência profissional,
atendimento personalizado, objetividade
que permitem acesso e respostas rápidas e
ágeis em qualquer situação.
Entende-se que a ética significa o
que o indivíduo deve ter para manter seu
equilíbrio permanente entre a sua ação
diária e sua vontade expressa pelos seus
pensamentos; é também a sua ação e
coragem de fazer uma revisão racional e
crítica sobre a validez de determinadas
condutas
humanas
e
de
regras
estabelecidas, além de ter a capacidade de
criticá-las e contribuir para alterá-las.
Se o empresário erra ao escolher e
manter um mau assessor jurídico, este erro
vai lhe causar uma multiplicação
geométrica de problemas, fazendo com que
este empresário passe a investir seu tempo
produtivo em resolução dos imbróglios
criados. Ou seja, passa a não ser mais uma
relação funcional.
Por índole, pela natureza da
profissão que escolheu, o profissional do
direito deve ser comprometido com a
verdade. Este compromisso com a verdade
deve ser a base fundamental daqueles que
oferecem seus serviços a terceiros.
Ainda, sobre esta questão, a relação
de confiança que deverá existir entre
advogado e seu cliente encontrou respaldo
na Constituição Federal de 1988, no seu
Artigo 133, e no Artigo 26 do Código de
Ética quando diz que o advogado deve
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guardar sigilo de tudo que saiba em razão
de seu ofício, podendo até mesmo escusarse em depor como testemunha em processo
de pessoas que foram ou são clientes seus.
Outro empresário (E9) foi bastante
específico no ponto, que a seu ver, torna o
advogado um fator de fracasso no negócio.
ordem jurídica do Estado Democrático, os
direitos humanos, a justiça social e a boa
aplicação das leis.
Meneghetti (2007) enfatiza uma
reflexão sobre a importância dos
especialistas que servem ao empreendedor
e como fazê-los produzir da melhor forma:
“...(o assessor jurídico) foi irresponsável e
arrogante. A humildade em reconhecer uma
deficiência é nobre e engrandece o trabalho” (E9).
As pessoas de apoio são aquelas com as
quais se tem uma relação de trabalho,
aquelas que dão uma maior garantia ao
aspecto econômico e legal. Deve-se
cultivá-las, também fingindo ser segundos,
de forma que elas se sintam importantes, e
dêem a melhor consultoria sobre aquilo que
lhes interessa (MENEGHETTI, 2007, p.
51).
A arrogância é citada também por
outro empresário (E6) como um fator
negativo na postura do assessor jurídico. As
respostas
dadas
pelos
empresários
evidenciam que eles esperam uma postura
de parceria do assessor jurídico, sem
qualquer traço de arrogância. Este ponto
citado é fundamental e é um exemplo
prático do princípio salientado por
Meneghetti (2009a), quando ensina que o
advogado corre o risco de acreditar-se um
grande advogado sem possuir os
fundamentos, a fonte de inteligência,
sentindo-se potente e perdendo-se na sua
arrogância.
Desta feita, a despeito da formação
acadêmica do bacharel em Direito, faz-se
necessário repensar a postura adversarial do
advogado como assessor jurídico, por
imposição das mudanças que se vem
operando na sociedade, a exigir a presença
de novos paradigmas para reger ou compor
tais relações.
A função do assessor jurídico
ultrapassa os limites do contrato
profissional que o habilita ao exercício da
defesa dos direitos e interesses do
empresário. E, nesta seara ele deve saber
que é apenas um instrumento técnico para
que seu cliente alcance seu objetivo. Ou
seja, ao ser investido no exercício
profissional, o assessor jurídico assume o
compromisso de exercer a advocacia com
dignidade e independência, observar a
ética, os deveres e prerrogativas
profissionais e defender a Constituição, a
5.5 Características comportamentais
A importância de se investigar esta
questão é demonstrar quais aspectos na
personalidade do assessor jurídico são
importantes no suporte jurídico, pois se
entende que este é um fator que pode
sabotar a assessoria.
Quatro dos dez empresários
entrevistados (E2, E4, E8, E10) citaram a
competência como característica que deve
estar presentes em seu assessor jurídico.
Dois (E1 e E8) mencionam a importância
do assessor jurídico saber servir, sendo que
um (E1) asseverou a importância do
conhecimento, humildade, compreensão de
que não é o protagonista do jogo. Um (E6)
salientou a importância de saber atuar em
equipe, sempre ouvindo o cliente. A
honestidade foi citada por quatro
entrevistados (E1, E2, E7 e E9) como
característica fundamental. A agilidade foi
citada por três entrevistados (E3, E4 e E9)
de forma pontual, sempre agregada à outra
característica.
Pode-se concluir que a ética teve
uma importância fundamental para os
empresários, pois ela disciplina o
comportamento do homem, quer o exterior
e social, quer o íntimo e subjetivo.
Prescreve deveres para realização de
BATISTELA, Letícia; SCHUTEL, Soraia. A função do assessor jurídico para sucesso na tomada de decisão do empresário. Revista Saber
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valores. Não implica apenas em juízo de
valor, mas impõe uma diretriz considerada
obrigatória pela sociedade.
Daí, portanto, a adoção de um
ordenamento jurídico como o Código de
Ética e Disciplina da O.A.B., a fim de
constituir um parâmetro do qual os
profissionais da área do direito devam
adotar, com a finalidade de avaliar a
própria conduta diante da sociedade e suas
exigências morais. Este conjunto de
preceitos morais deve nortear a conduta do
indivíduo no ofício ou na profissão que
exerce, devendo necessariamente contribuir
para a formação de uma consciência
profissional composta de hábitos dos quais
resultem integridade e a probidade, de
acordo com as regras positivadas num
ordenamento jurídico. Os princípios éticos
e morais são na verdade os pilares da
construção de um profissional que
representa o Direito Justo, distinguindo-se
por seu talento e principalmente por sua
moral e não pelo efeito externo que possa
dar causa.
Finalmente, a ética profissional,
todavia, deve ser estimada e desempenhada
com máxima austeridade adotando-a antes
mesmo de qualquer outro código, pois a
moral juntamente com a ética devem ser
cultivadas para crescimento profissional e
da instituição.
5.6 Postura do assessor jurídico
Esta temática visou entender qual
postura o empresário entende como
positiva para contribuir ao sucesso do
negócio.
Este elemento elucida um tema
importante sobre o assessor jurídico que
não é usualmente citado: a sua postura.
Normalmente os estudos versam sobre a
questão técnica, deixando a margem um
ponto que é essencial para um negócio bem
sucedido.
Quatro dos dez empresários
entrevistados (E1, E4, E5 e E10) citam a
ética como característica fundamental para
a postura de seu assessor jurídico. Sete
empresários entrevistados (E1, E2, E3, E4,
E6, E7, E8) entendem que a postura do
advogado deve vir sempre ao lado do
entendimento do seu cliente. O assessor
jurídico, é sabido, é o primeiro Juiz da
causa. É seu dever avaliar e avisar ao
cliente os riscos da sua pretensão.
Para os operadores de direito, ética
envolve diretrizes de conduta profissional,
um conjunto de regras que regulam a
atividade jurisdicional, objetivando a boa
prática da função, bem como a preservação
da imagem do próprio profissional e de sua
categoria. É um tipo específico de
avaliação ou orientação da prática jurídica
que se encontra paralelo à orientação
determinada pelas normas processuais e
pelas normas objetivas de Direito, e para a
qual também se pode conceber certa forma
jurídica de codificação - códigos de ética, e
também certa forma de sanção - tribunais
de ética. A ética jurídica é, portanto, criada
a partir da prática profissional do Direito.
Resume-se o que Acquaviva (2002)
afirma sobre o conceito de ética: a) a ética
observa o comportamento humano e aponta
seus erros e desvios; b) formula os
princípios básicos a que deve subordinar-se
a conduta do homem; c) a par de valores
genéricos e estáveis, a Ética é ajustável a
cada época e circunstância.
5.7 Identificação do empresário quanto à
orientação dada
Outra questão importante na
assessoria jurídica é saber se o profissional
está de fato prestando um bom serviço ao
empresário. Assim, buscou-se compreender
junto aos empresários investigados como
percebem se quando recebem a orientação
de seu assessor jurídico ela o auxilia em
seu negócio.
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Esta pergunta visou entender o que
o empresário sente no momento em que o
assessor jurídico dá sua orientação - o que
sente, qual sua percepção?
Três empresários (E4, E6 e E10)
não souberem dizer, se abstendo de
responder. Quatro empresários (E1, E5, E7
e E8) citaram que têm uma sensação de
tranquilidade quando recebem uma
orientação correta do assessor jurídico. Um
(E2) citou a sensação confortável, que
parece se assemelhar muito à sensação de
tranquilidade.
Este
questionamento
visou
identificar a percepção do empresário ao
receber uma orientação, o que ele
sente/percebe, e se costuma seguir esta
primeira percepção. A maioria dos
empresários informou percepções como
tranquilidade,
sensação
confortável,
denotando que a orientação do assessor
jurídico pode ter um resultado subjetivo e
altamente determinante.
Para Meneghetti (2007, p. 19) “a
intuição é a obra-prima, a iluminação, a
perfomance da inteligência humana em
situação histórica”. O homem precisa isolar
esta percepção, esta intuição e usá-la como
um vetor para lhe mostrar o melhor
caminho a ser tomado.
Aprender a ouvir, a entender, a
perceber leva o empresário a repetir ações
de sucesso. Da mesma forma, aprende o
estilo dos erros, e o mais importante, como
superá-los e identificá-los quando se
repetem, evitando-os futuramente.
6 Considerações Finais
Neste estudo buscou-se entender o
que o empresário realmente espera de seu
assessor jurídico enquanto suporte para o
sucesso de seu negócio. Uma das
preocupações iniciais consistia na falta de
sinergia na relação entre o assessor jurídico
e o empresário e como este fato pode
acarretar falhas, inconsistências e até
mesmo fazer com que o empresário assuma
riscos desnecessários no crucial processo
de tomada de decisões de uma empresa.
O Artigo 133 da Constituição
Federal Brasileira proclama que o
advogado é indispensável à administração
da justiça. E, analisando a fundo a atividade
deste
profissional,
observa-se
sua
importância
fundamental
para
a
implementação e o exercício pleno da
cidadania.
O mercado de consultoria jurídica
hoje no Brasil mostra-se promissor para um
perfil de consultor ético, especialista,
proativo e com uma bagagem cultural
sólida. É fato que existem muitas empresas
que necessitam de mudanças para
adequação competitiva, principalmente no
que se refere ao fato de as mesmas estarem
perdendo o foco do negócio pela derrocada
de concorrência e por haver necessidade de
constante
adequação
tecnológica
e
avaliação de riscos.
Conclui-se, pelo papel do advogado
na história, pela evolução do mundo
globalizado e pelas respostas dadas pelos
empresários entrevistados que há espaço
para um assessor jurídico de trajetória.
Primeiramente graduado e com pelo menos
uma especialização, com habilidade de
interrelacionamento com as várias áreas
empresariais, o que também aumenta seu
leque de opções de prestação de serviço. É
um profissional comprometido, ético, com
visão holística e, ainda, com uma visão
estratégica para gerir seus produtos,
trazendo
consigo
a
bagagem
de
experiências no mercado na área escolhida,
sejam advindas de trabalho em empresas
como funcionário, sejam advindas de
projetos bem sucedidos de assessoria.
Foi citado também, por Meneghetti
(2009a) os aspectos relevantes na formação
de um assessor jurídico. Verificou-se como
fundamental a formação de caráter
psicológico-filosófica que fará com que o
assessor jurídico faça sua evolução de
BATISTELA, Letícia; SCHUTEL, Soraia. A função do assessor jurídico para sucesso na tomada de decisão do empresário. Revista Saber
Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 34-51, fev. 2011.
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inteligência. Esta passagem, se realizada
pelo assessor jurídico o fará superior,
interior a si mesmo. Para isto há uma
escalada que envolve formação acadêmica,
experiência de mercado, maturidade para
relacionamento e muito comprometimento
e a postura ética será a orientação para a
consolidação de imagem e respeito.
Fundamental é o autoconhecimento,
a autenticidade do profissional jurídico,
caso contrário, ele mesmo é o primeiro a
viver com medo da lei, e transmite essa
informação nos seus contatos com
empresários.
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SCHUTEL, S. O conhecimento do ser
humano como premissa no processo de
delegação. Artigo em versão inicial de
pesquisa utilizado exclusivamente para fins
didáticos, 2008.
Autores:
Letícia Batistela: advogada, especialista em Gestão
de Negócios e Intuição (AMF).
Soraia Schutel: administradora, professora da
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF), Mestre em
Administração
(UFSM),
doutoranda
em
Administração (UFRGS).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 20/12/2010.
BATISTELA, Letícia; SCHUTEL, Soraia. A função do assessor jurídico para sucesso na tomada de decisão do empresário. Revista Saber
Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 34-51, fev. 2011.
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Estratégia empresarial:
planejamento e implementação
Maria Alice Schuch
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Vera Lúcia Rodegheri
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
[email protected]
Resumo: A pesquisa tem como objetivo investigar a visão de empresários sobre a
implementação do planejamento estratégico, sendo este um constante desafio na realidade das
organizações. Por meio do estudo etimológico e linguístico da palavra “estratégia” e de alguns
teóricos da área, analisa-se os principais modelos utilizados em sua elaboração e práxis nas
empresas. Este trabalho traz indicativos sobre os principais problemas decorrentes da
implementação dessa estratégia, que, conforme a literatura e a prática de empresários impedem
a consecução dos objetivos. A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas com cinco
empresários que adotaram esta ferramenta de gestão a partir da metodologia FOIL. Conclui o
estudo que a metodologia FOIL seria uma proposta a ser considerada para que seja possível
atingir um maior sucesso na execução do planejamento estratégico.
Palavras-chave: estratégia; planejamento; implementação; líder; sucesso.
Abstract: The research aims to investigate the vision of entrepreneurs on the implementation
of strategic planning, which is a constant challenge in the reality of organizations. Through
etymological and linguistic study of the word “strategy” and some theorists in the field,
examines the main models used in their preparation and practice on companies. This work
provides indications about the main problems of implementing this strategy, which, according
to the literature and practice of business, impede the achievement of goals. The information was
collected through interviews with five leaders that have adopted this management tool from the
FOIL method. The study concludes that the methodology would be a FOIL proposal to be
considered so that you can achieve greater success in implementing strategic planning.
Keywords: strategy; planning; implementation; leader; success.
* Texto publicado nos Anais do VII Convibra – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – 19 a 21/11/2010.
1 Introdução
Nas últimas décadas tem-se
constatado o crescente desenvolvimento e a
evolução da área de estudo em estratégia
empresarial, em especial, o planejamento
estratégico. Existe uma vasta bibliografia
sobre planejamento estratégico, apresentada
por diversos autores, como Kaplan (2008),
Fischmann e Almeida (2009), Porter
(1986), sendo que esses autores sugerem
diferentes modelos de como elaborar um
planejamento estratégico. Porém, tais
propostas apresentadas por esses, como
Kaplan e Norton, além de outros, como
Price Waterhouse (1997) e Grouard e
Menson (2001), raras vezes elaboram, de
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maneira pontual, um dos elementos mais
importantes
em
estratégia:
sua
implementação.
Kaplan e Norton (2008) escrevem
que:
Segundo uma pesquisa global feita em
2006, The Monitor Group interrogou altos
executivos sobre suas prioridades. A
prioridade número um, por ampla margem,
foi a execução da estratégia (KAPLAN e
NORTON, 2008, p. 3).
O Conference Board, ainda
segundo esses autores, em sua pesquisa de
2007, relatou que, para os executivos, o
mais importante era a “excelência na
execução”. A atribuição de alta prioridade à
eficácia na execução da estratégia pode ser
atribuída à gravidade dos problemas, os
quais se encontram documentados e com os
quais se defrontam as empresas na tentativa
de executar a estratégia. Afirmam também
que várias pesquisas, realizadas ao longo
das últimas décadas, indicam que 60% a
80% das empresas ficam muito longe de
alcançar os objetivos definidos em seus
planos estratégicos.
Uma vez que o planejamento
estratégico e, em sua decorrência, a gestão
estratégica é um processo dinâmico para se
chegar ao futuro pretendido, o presente
artigo parte da seguinte questão de
pesquisa: O que representa para o líder a
elaboração e a implementação do
planejamento estratégico em sua empresa,
e qual é a razão pela qual, segundo a
pesquisa supracitada, 60% a 80% das
organizações não alcançam os objetivos
definidos em seus planos estratégicos?
A pesquisa visa explicitar a
compreensão de cinco empresários que
utilizam o planejamento estratégico a partir
da metodologia FOIL sobre: como avaliam a
responsabilidade pessoal no andamento da
empresa, qual a importância que atribuem para
a própria intuição, qual sua posição com
relação ao emprego das ferramentas de gestão,
qual a relevância destas e, finalmente, por que
os objetivos traçados nos planejamentos
estratégicos muitas vezes não são alcançados.
Para isso, foram feitas entrevistas direcionadas
aos líderes dessas empresas. Neste sentido,
este estudo busca por meio da literatura e
das entrevistas apontar algumas alternativas
de solução da problemática de transformar
este instrumento de gestão em resultado
efetivo na empresa.
2 Fundamentação Teórica
2.1 Estratégia
Segundo Ferreira (1999, p. 841),
etimologicamente, o termo estratégia deriva
do grego strategía e do latim strategia. De
acordo com o autor, significava a arte
militar de planejar e executar movimentos e
operações de tropas, visando alcançar ou
manter posições relativas e potenciais
bélicos favoráveis a futuras ações táticas
sobre determinados objetivos. Já o termo
estratégico, derivado da palavra grega
strategikós, que significava ponto onde há
ardil: ardiloso, manhoso, astucioso.
Estratego, derivado do grego strategós e do
latim strategu, significava general superior,
ou generalíssimo, na Grécia antiga. Então,
diz-se que uma pessoa é um estrategista
quando ela sabe estratégia. Deste modo,
este termo remete ao líder.
Pode-se discorrer, sobre o termo
líder, ao citar Maquiavel (2008):
Um príncipe cuja capacidade militar não
sobressai, além dos já referidos dissabores,
não poderá incutir respeito aos seus
soldados, nem, emprestar-lhes a sua
confiança. Sendo assim, o príncipe, jamais
deverá desviar as suas atenções destes
exercícios militares, e na paz terá de
exercitar-se ainda mais que na guerra
(MAQUIAVEL, 2008, p. 70).
Diz o Antigo Testamento que,
quando David foi à presença de Saul, com a
finalidade de oferecer-se para lutar contra
Golias, Saul, na intenção de encorajá-lo,
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deu-lhe sua própria armadura. David, após
tê-la vestido, recusou-se a usá-la, alegando
que com ela não poderia valer-se de suas
próprias forças, preferindo ir de encontro
ao seu inimigo armado com as suas
próprias armas: a funda e a faca. A
armadura do outro ou cairá dos seus
ombros ou o comprimirá: o líder é só nas
suas batalhas.
Segundo Lunks (2008), para
entender a evolução do pensamento
estratégico empresarial, faz-se necessário
analisar seu ponto de partida, as estratégias
militares. O termo estratégia foi usado
largamente pelos exércitos para determinar
as ações ofensivas, com o único propósito
de alcançar vitória sobre o inimigo. Ainda,
segundo esse autor, somente na segunda
metade do século XIX, após a Segunda
Revolução Industrial, é que essa palavra
começou a ser adaptada ao contexto dos
negócios com o intuito de criar uma
vantagem competitiva sustentável.
Nos anos subsequentes a 1970,
idade de ouro da estratégia empresarial,
ocorre uma proliferação de conceitos, de
escolas de administração, de empresas de
consultoria empresarial estratégica, o que
refletia já uma crescente aceitação da teoria
do planejamento estratégico.
2.2 Planejamento estratégico: conceitos
É necessária a apresentação de
conceitos do que pode vir a se constituir
um planejamento estratégico, afinal, é a
partir dessa necessidade que serão
definidos os objetivos da empresa a curto,
médio e longo prazos para se atingir o
escopo selecionado.
Para Ansoff (1981), o processo de
planejamento estratégico é definido como a
análise
racional
das
oportunidades
oferecidas pelo meio, dos pontos fortes e
fracos das empresas e da escolha de um
modo de compatibilização (estratégia) entre
os dois extremos. Compatibilização esta
que deveria satisfazer do melhor modo
possível os objetivos da empresa.
O planejamento estratégico, para
Vasconcelos Filho (1992), é uma
metodologia de pensamento participativo
utilizada para determinar a direção que a
organização irá seguir por meio da
descoberta de objetivos válidos e nãosubjetivos.
Segundo Catelli (1999), planejamento
estratégico é o momento em que os
cenários futuros são antecipados, e
oportunidades e ameaças são identificadas.
Segundo Cotterman e Wilber
(2000), o planejamento estratégico
responde a seis perguntas: Onde estamos?
Onde queremos ir? Como chegaremos lá?
Quando deveremos estar lá? Quem nos
ajudará a chegar lá? Como medimos e
avaliamos o progresso do plano?
Para Rosa (2001), o planejamento
estratégico é utilizado para a tomada de
decisões e estas servirão para definir o
rumo que a organização deverá seguir. Essa
ferramenta fornece o rumo e a direção geral
dos esforços e dos recursos da empresa. O
planejamento cria compromisso de
execução e dá o instrumental para cobrança.
Na concepção de Valadares (2002),
o planejamento estratégico é considerado
uma ferramenta moderna de gestão
empresarial que, baseando-se em conceitos
e atitudes nas quais a empresa acredita,
torna o ato de planejar uma forma
inteligente de escolher uma sequência de
ações futuras para a empresa, na procura de
seus objetivos maiores.
Com o planejamento estratégico
pretende-se não adivinhar o futuro, mas
construí-lo, evitando ao máximo as
surpresas, racionalizando o processo de
tomada de decisão e garantindo o sucesso
da empresa em seu ambiente futuro, é o que
afirma Sampaio (2002). O planejamento
estratégico é um processo dinâmico e
flexível para incorporar as mudanças do
ambiente.
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Para Fischmann e Almeida (2009):
Planejamento estratégico é uma técnica
administrativa que, através da análise do
ambiente de uma organização, cria a
consciência das suas oportunidades e
ameaças, dos seus pontos fortes e fracos
para o cumprimento da sua missão e,
através desta consciência, estabelece o
propósito de direção que a organização
deverá seguir para aproveitar as
oportunidades
e
evitar
ameaças
(FISHMANN e ALMEIDA, 2009, p. 25).
Ou seja, para esses autores, é a
partir da tomada de consciência sobre a
situação atual da empresa e do meio onde
ela se encontra que se pode direcionar as
ações para garantir o fortalecimento e o
crescimento da mesma.
2.3 Relevância do planejamento estratégico
na prática
Na abordagem de Hayes (1996),
quando se fala em planejamento, o maior
problema das empresas não é definir o que
é planejamento estratégico, nem a
existência de um planejamento formal, mas
a forma de como ele será implementado.
Fischmann e Almeida (2009)
procuram mostrar a necessidade do
planejamento estratégico como uma ajuda
para o administrador, não só na decisão do
rumo a tomar, como também na atitude de
fazer com que essa decisão seja seguida.
Segundo os autores, retorna o sentido
etimológico da palavra estratégia e o
conjunto de técnicas administrativas
(planejamento estratégico), as quais estão
intrinsecamente ligadas ao planejamento
das guerras, realizado pelos líderes
políticos e militares competentes.
Segundo os autores referidos
anteriormente, na administração das
organizações podemos distinguir três níveis
com características distintas, a saber: o
estratégico, que dá a direção à organização,
adaptando-a ao seu meio ambiente; o
administrativo, que cuida do relacionamento
e integração interna da organização; e o
operacional, que cuida das operações.
Hammer (citado por KAPLAN e
NORTON, 2008, p. 1), o líder visionário da
reengenharia e da gestão de processos,
afirma que “os processos operacionais de
alto desempenho são necessários, mas não
são suficientes para o sucesso das
empresas”.
Por isso, a ciência da Administração
tem desenvolvido inúmeras técnicas com
relação aos dois últimos níveis. No entanto,
só recentemente tem merecido atenção
necessária aquilo que se refere ao primeiro
nível ou à Direção e Conselho
Administrativo, ou seja, a estratégia
propriamente dita ou o caminho a seguir.
A divisão das atividades do
planejamento estratégico, assim como sua
implementação em etapas, tem relevância
didática tanto para o entendimento do
processo quanto para o fácil cumprimento e
acompanhamento
do
cronograma
estabelecido. Porém, essas etapas são
flexíveis, pois as atividades de um plano
estratégico variam conforme o tipo e
tamanho da empresa, sendo necessária a
definição de quem (who) executa, de quem
coordena e também de quem aprova essas
atividades.
Já a administração estratégica é o
processo de tornar a organização capaz de
integrar as decisões administrativas e
operacionais
com
as
estratégias
estabelecidas, procurando dar, ao mesmo
tempo, maior eficiência e melhor eficácia à
organização. Assim, para propiciar a
implementação do plano estratégico podem
ser estabelecidas regras. Além disso, a
administração estratégica implica uma
mudança de atitude das pessoas envolvidas
no processo do planejamento estratégico
relativa a três elementos: o cognitivo, o
afetivo e o comportamental.
A mudança de atitude, segundo
Fischmann e Almeida (2009):
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Deve iniciar pela cúpula, sendo necessária
a ela a preocupação da capacitação da
empresa para que seja possível mudar a
atitude das pessoas de decisão. Por esse
motivo, revela-se delicadíssima a avaliação
das aspirações tanto dos proprietários como
dos funcionários na realização de um plano
estratégico. Faz-se necessário ter o cuidado
de verificar pontos concretos para não criar
falsas expectativas (FISHMANN e
ALMEIDA, 2009, p. 70).
Ainda, para esses autores, as
resistências ao planejamento estratégico
ocorrem por três motivos, assim
apresentados: o desconhecimento das
teorias, a falta de tempo e a perda de
autonomia. Neste sentido, o planejamento
estratégico não é uma atividade da área de
finanças ou marketing, mas sempre uma
relação funcional com o presidente da
empresa.
3 Modelos de planejamento estratégico
As transformações constantes da
economia globalizada levam os estudiosos
da gestão empresarial a se lançarem em
uma pesquisa de novos modelos em busca
de soluções eficazes para seus clientes.
Entre os modelos sugeridos, citam-se o da
Equipe da Price Waterhouse (1997), o de
Grouard e Meston (2001), Modelo de
Sistema
Gerencial:
Planejamento
Estratégico e Execução Operacional de
Kaplan e Norton e a proposta da FOIL,
Formação Ontopsicológica Interdisciplinar
Liderística (2003).
O primeiro que se traz à análise é o
Modelo Price Waterhouse (1997, 1998).
Esse modelo sugere quinze princípios
básicos que podem servir de guia para a
mudança organizacional.
Os princípios básicos a serem
seguidos para que as mudanças sejam
efetivadas são: enfrentar a realidade, o
que deve ser revisto permanentemente;
concentrar-se em contextos estratégicos,
objetivando onde o retorno é maior; agir
com autoridade, pois o que sustenta a
mudança é a autoridade, porém endossada
pela voz do cliente; definir o escopo com
inteligência, concentrando esforços nos
setores mais importantes da organização;
preparar o terreno para a mudança,
trabalhando sempre para se obter o
consenso; deixar o cliente conduzir a
mudança, pois se deve considerá-lo um
aliado nesse processo; conhecer seus
stakeholders, compreendendo e priorizando
as suas necessidades e os seus motivos,
pois
são
partes
interessadas
ou
intervenientes; comunicar-se sempre,
visando, pela clareza e pela concisão, a
compreensão das mudanças; redefinir o
sistema de indicadores, para ser possível
avaliar a implementação da mudança;
utilizar todas as alavancas da mudança,
de
forma
coordenada,
envolvendo
mercados, clientes, ofertas de produtos,
serviços, entre outros; pensar grande, a
partir do líder, para que a equipe também
assim o faça, implementando inovações
positivas na organização; alavancar a
diversidade, como fontes inovadoras;
desenvolver habilidades, investindo no
capital humano, para se obter competência
técnica na solução de problemas; além de
planejar, detalhadamente o plano de ação,
mudança nos processos, nos sistemas, nos
treinamentos; e, por fim, integrar as
iniciativas.
É importante destacar, nesse
modelo, o princípio do agir com
autoridade, em que a mudança deva ser
sustentada por uma gestão forte, pois a
responsabilidade é da alta administração, e
o pensar grande, pois essa atitude provém
do líder, e é dele que deve partir o trabalho
de persuasão para que a equipe também
tenha ações e inovações positivas na
empresa.
O segundo modelo, é o Modelo de
Grouard e Meston (2001), o qual se
estrutura em dez chaves da mudança
organizacional. Para esses autores, a
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liderança é a essência das mudanças bem
sucedidas, e a mudança organizacional é
parte integrante das atividades nas
empresas, envolvendo dez chaves que
consideram o caminho para o sucesso da
implementação de processos administrativos
como o planejamento estratégico.
Esse modelo apresenta as seguintes
chaves da mudança organizacional:
definição da visão, o que estimula e
justifica a mudança; mobilização, o que dá
início ao processo real de mudança, criando
sua dinâmica; catalisação, o processo que
institui uma organização que vai gerenciar
e estimular as mudanças; direção, que
mantém o processo no caminho certo;
realização, a execução do processo de
mudança, o movimento de transição;
obtenção da participação, ou seja, a
administração da dimensão emocional, que
visa a encontrar uma solução para as
resistências à mudança; administração das
questões de poder, objetivando a
conciliação; além do treinamento e
supervisão e da comunicação ativa.
Esse modelo enfatiza que o sucesso
e a durabilidade das mudanças realizadas
dependem do aproveitamento de todas as
ideias e iniciativas das pessoas que
compõem a organização. Porém, para que
isso seja possível, é prioritária a ação do
líder.
O terceiro modelo a ser relacionado
é o Modelo Kaplan e Norton (2009). Esse
modelo estabelece vínculo entre a
Estratégia e a Operação. Segundo os
autores, o desenvolvimento da estratégia e
a ligação entre estratégia e operação, ainda
hoje,
permanecem
isolados,
não
padronizados e fragmentados, e os gestores
se defrontam com a questão de como
conseguir que os recursos do planejamento
estratégico e de melhorias operacionais
trabalhem juntos. Permanece, então, o
orçamento
financeiro
como
única
característica comum ou como ferramenta
de coordenação, previsão e avaliação de
desempenho das empresas.
Sistema gerencial para a integração
de planejamento estratégico e execução
operacional – sistema de seis estágios de
Kaplan e Norton:
Esse sistema preconiza que, no
estágio 1 os gestores desenvolvam a
estratégia, usando ferramentas estratégicas;
no estágio 2 a organização passa a planejar
a estratégia, com base em ferramentas,
como mapas estratégicos e Balance
Scorecards; no estágio 3 os gestores
alinham a organização com a estratégia, por
meio de desdobramentos com mapas
estratégicos
e
Balance
Scorecards
interligados para as unidades organizacionais.
Também alinham os empregados, por meio
de processo de comunicação formal, e
vinculam os objetivos e incentivos de cada
empregado aos objetivos estratégicos. No
estágio 4, depois de alinhadas as unidades
organizacionais e os empregados à
estratégia, os gestores podem planejar as
operações, usando métodos como gestão da
qualidade e dos processos, reengenharia,
dashboards, Rolling forecasts (previsões
rotativas), custeio baseado em atividades,
planejamento da capacidade dos recursos e
orçamento dinâmico. No estágio 5, à
medida em que executa a estratégia e os
planos operacionais, a empresa monitora e
aprende sobre problemas, barreiras e
desafios. Esse processo integra informações
sobre operações e estratégia por meio de
um sistema de reuniões de análise da
gestão. E, no estágio 6 os gestores usam
dados operacionais internos e novas
informações sobre o ambiente externo e
sobre os concorrentes, para testar e adaptar
a hipótese estratégica, lançando outro loop
em torno do sistema integrado de
planejamento estratégico e execução
operacional.
Kaplan e Norton (2009) afirmam
que, embora não seja explícita em nenhum
dos seis estágios da gestão estratégica
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citada anteriormente, a liderança executiva
permeia todas as fases do sistema gerencial.
Segundo os autores, a liderança é tão
importante para o sistema de gestão da
estratégia que pode ser considerada, ao
mesmo tempo, necessária e suficiente.
Afirmam, com base em sua experiência
com mais de uma centena de empresas em
todo o mundo, tratar-se de condição
necessária, pois nenhuma organização que
alcançou sucesso com o sistema de gestão
da estratégia tinha um líder ausente ou
passivo.
Segundo Fischmann e Almeida
(2009):
Quando
McNamara
introduziu
o
planejamento estratégico no Departamento
de Defesa dos Estados Unidos da América,
esse somente funcionou pela sua
autoridade, pois, quando ele foi afastado do
Departamento, o planejamento estratégico
caiu em desuso
(FISHMANN e
ALMEIDA, 2009, p. 121).
Porter (1986) escreveu que:
Um líder forte do mercado ou um pequeno
grupo de líderes é capaz, frequentemente,
de comandar uma expansão ordenada
através de seus pronunciamentos e atitudes
(PORTER, 1986, p. 306).
Na posição desses autores, há
consenso sobre a importância do líder, seja
como condição necessária para a execução
do planejamento estratégico, seja pela
autoridade que representa no processo ou
pela importância de seu posicionamento.
3.1 Modelo FOIL: Formação Ontopsicológica
Interdisciplinar Liderística
A FOIL, segundo Bernabei (2007),
é uma das aplicações práticas da teoria e
metodologia da Ontopsicologia, feita em
âmbito econômico e sua fundação teve
como objetivo dar ordem à aplicação da
Ciência Ontopsicológica no campo da
economia, sendo que o eixo sobre o qual
gira toda a consultoria é o processo da
autenticação do líder.
A FOIL, em Berlim, Alemanha, em
outubro de 2006, durante a Neuro Psyco
Economics Conference: “Human behavior
in economics decisions. Perspectives of
marketing, behavioral finance, and
organizational
decision
making”,
promoveu palestras sobre o tema Business
Intuition. Esta conferência uniu especialistas
em economia, gestão, psicologia e
neurologia em torno de quatro temas
fundamentais:
marketing,
finançacomportamental, ciência da organização e
tomada de decisões. É importante destacar
que para a Metodologia FOIL não existe
um modelo de administração fixo; existe,
outrossim, um líder que, mantendo a
racionalidade sobre a sua intuição,
determina os resultados evolutivos da
própria empresa.
Nesse
evento,
segundo
o
Acadêmico Professor Antonio Meneghetti,
Presidente da FOIL, pode-se discutir
economia e liderança de todos os modos,
mas se não se considera a realidade
inconsciente, continua-se a analisar sempre
somente 20% do fato econômico e, de tal
modo, o conhecimento do mesmo será
parcial ou errôneo. Segundo Meneghetti
(2006), mesmo que se acredite estar
analisando o fato econômico na sua
totalidade, 80% sempre permanecerá
desconhecido,
mas
constantemente
operativo em desvantagem do empresário,
uma vez que este não tem controle
consciente.
A FOIL sustenta que os modelos,
programas, planejamentos e estudos podem
ser bons, mas o erro está na consciência do
sujeito. Toda formação é autoconstrução,
mas, depois, a consciência deve saber usar
todos estes instrumentos: a real estratégia é
conduzir o líder à própria intuição.
Característico do Método FOIL é favorecer
e identificar a intuição do líder e, também,
nela atuar. Ou seja, através de instrumentos
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próprios, objetiva conduzir o líder à própria
intuição de modo consciente e, ainda,
auxiliá-lo a manter a racionalidade sobre
ela em ação histórica empresarial, social,
política, familiar.
Ao pensar em termos de
“consciência”, reporta-se à teoria freudiana
(FREUD, 1996):
Na qual o inconsciente, entendido como
substantivo, é a parte do psiquismo latente,
feita de desejos e de processos psicológicos
dinâmicos, de que não se pode dispor, pois
foge do conhecimento. Recalcadas fora do
campo da consciência por uma potência de
controle ético ou censura, as forças
inconscientes conseguem, no entanto,
manifestar-se em certos atos da vida
cotidiana através de lapsos, esquecimentos,
nos sonhos e nos sintomas neuróticos
(FREUD, 1996, p. 60).
No inconsciente, ainda segundo
Freud (1996), está o substrato da vida
psíquica, nascem os desejos e os fantasmas,
e organizam-se os vínculos inter-humanos e
as condutas.
Porém, para compreender a
inteligência
inconsciente,
segundo
Meneghetti (2006), é preciso conhecer o
primeiro e fundamental mover-se do
homem, isto é, como a atividade psíquica
formaliza a si mesma e qual é a
radicalidade da atividade psíquica. Então,
pode-se entender em que direção está se
movendo esta inteligência e quais efeitos
ela está formalizando.
Nesse sentido, pergunta-se: quantos
conhecem a ação do inconsciente – o
reservatório de todas as informações não
metabolizadas que chegam até nós do
ambiente e das remoções? E, ainda: da
linguagem do inconsciente feita de flashes,
imagens, sonhos, sensações, percepções,
quantos possuem o código de interpretação
reversível com a realidade?
Meneghetti (2001) esclarece que:
O inconsciente é intuição, percepção extrasensorial, espiritual, lógica intelectiva; é o
quântico de vida psíquico e somático que o
indivíduo é, mas do qual não é consciente e
que age, de qualquer modo, além da lógica
consciente (MENEGHETTI, 2001, p. 84).
Dada esta realidade do inconsciente
ou ignorância do homem a respeito de si
mesmo, Meneghetti (2001) diz que:
Para alcançar a realidade acerca de si
mesmo, é necessária uma psicoterapia de
autenticação, análise que consente ao
sujeito recuperar, em total consciência, o
quântico
de
inteligência
que
é
(MENEGHETTI, 2001, p. 85).
Encontra-se nos Atos do Congresso
Business Intuition, citado por Bernabei
(2007) que:
É sabido que a intuição no business é um
fio seguro do sucesso. A FOIL possui,
exatamente, o ordinário conhecimento
sobre o íntimo processo daquela intuition
que ao final resulta o ponto mediador, de
convergência, de equilíbrio de mais
referências racionais àquele escopo que
permanece familiar se, junto à performance
didático-managerial,
didáticoadministrativa, didático-experiencial da
economia centrada, se sincretizam as três
fundamentais descobertas da Ciência
Ontopsicológica: Em Si ôntico, campo
semântico e monitor de deflexão; então, a
Business Intuition é ordinária amiga de
casa
(BERNABEI
citado
por
MENEGHETTI, 2007, p. 103).
A Ontopsicologia é uma ciência que
justifica a própria diversidade das outras
ciências com base em algumas inovações
prioritárias e exclusivas. Essa, de fato,
descobriu três realidades cardeais para
compreender a existência humana, sobre as
quais funda a própria teoria e práxis:
1) Em Si ôntico ou essência virtual e formal, é
a radicalidade da atividade psíquica, o
projeto de natureza que constitui o ser
humano. A Ontopsicologia individuou o
critério primeiro e elementar da unidade de
ação homem e o denominou Em Si ôntico,
ou seja: principio formal inteligente que faz
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autóctise histórica (MENEGHETTI, 2008,
p. 7);
2) Campo semântico ou transferência é a
comunicação-base dos comportamentos
energéticos das individuações. É o
conhecimento dos processos fenomênicos
da nossa existência: ação e reação
(MENEGHETTI, 2009, p. 288);
3) Monitor de deflexão ou distorção é um
mecanismo que interfere na exatidão dos
processos cognitivos e voluntarísticos,
determinando toda a fenomenologia
regressiva conhecida pelo homem como
doença, dor, angústia, falência. É um
automático estabilizador de estereótipos
(MENEGHETTI, 2009, p. 288).
A
Formação
Ontopsicológica
Interdisciplinar
Liderística
(FOIL),
segundo Bernabei (2007), coloca-se em
uma ótica completamente diversa de todos
aqueles que falam de intuição. Para isso,
afirma que:
…primeiro, autentiquemos o homem;
depois, o seu agir segundo a própria
intuição é consequência direta dessa
autenticação. Para a FOIL, a intuição é algo
que normal e constantemente se dá no ser
humano. A formação FOIL tem por
objetivo tornar o Eu consciência
transparente, para que este simplesmente
seja capaz de ler a intuição (BERNABEI,
2007, p. 93).
Na posição da FOIL há consenso
sobre a importância do líder, porém
acrescenta que é necessária a sua
autenticidade, a exatidão da sua
consciência para que seja capaz, em um
segundo momento, de escolher o
instrumento útil e funcional para buscar
racionalmente a consecução de suas metas.
Com relação a todas as correntes do
pensamento, a ótica da FOIL desloca-se
decididamente, uma vez que o objetivo não
é compreender como funciona a intuição,
mas aquele de ir à raiz do problema,
afirmando que não faz sentido falar de
formar, colher ou exercitar a intuição: faz
sentido formar (ou melhor, recuperar) o
“instrumento” por meio do qual a intuição
se explicita e realiza. (...) enquanto não se
dá uma consciência transparente, a intuição
permanece
apenas
uma
hipótese...
(BERNABEI, 2007, p. 93).
A FOIL entra na raiz, no
fundamento de como se dá a intuição no
líder, enquanto ser humano dotado da
capacidade de conhecer. Uma vez
identificado o que é o processo intuitivo,
disponibiliza um método, comprovadamente
eficaz, para auxiliar a consciência do
empreendedor no reconhecimento e
execução da intuição.
3.2
Planejamento
implementação hoje
estratégico
e
Em Editorial da Revista HSM
Management (2009) e em entrevistas de
Marcos Braga, Philip Kotler, Sydney
Finkelstein e Ikujiro Nonaka concedidas à
citada Revista, pode-se perceber, mais uma
vez, que, na conjuntura atual, de
globalização, sente-se mais veementemente
a importância do estratego.
Marcos Braga escreve na referida
Revista (2009), em seu editorial, “O pneu
certo e a antropofagia”, o seguinte:
Pare e pense por um instante: uma corrida
de fórmula 1 começa com a pista seca, o
sol brilhando entre as nuvens. De repente
chove a cântaros e os carros passam a rodar
em asfalto molhado, às vezes encharcado.
É assim que imaginamos a “nova
modalidade do caos”, assunto da capa desta
edição de HSM Management, em que
boom e recessão se revezam com a mesma
naturalidade que as pistas, seca e molhada
na categoria máxima do automobilismo. Só
que no lugar dos carros, estão empresas e,
no lugar dos pilotos, líderes. Sou capaz de
apostar que, da mesma maneira que na
fórmula 1 vence sempre quem escolheu o
pneu certo para o tipo de pista que
prevalece na prova, no mundo dos negócios
a vitória será de quem se adaptar mais
rapidamente ao “mood” econômico do
momento (BRAGA, 2009, p. 6).
SCHUCH, Maria A.; RODEGHERI, Vera L. Estratégia empresarial: planejamento e implementação. Revista Saber Humano, Recanto
Maestro, n. 1, p. 52-66, fev. 2011.
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número 1 | fev. 2011
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Assim, Braga associa o mundo de
incertezas do business com as vicissitudes
de uma corrida de fórmula 1, pois, vence na
economia quem tem a capacidade e
agilidade para reconhecer os instrumentos
certos e detém o conhecimento para usá-los
no momento preciso.
Por sua vez, Philip Kotler, em
entrevista à HSM Management (2009),
afirma que:
O sistema gestão do caos, por ele
desenvolvido, é capaz de responder, de
modo adequado, à realidade atual, marcada
por sobressaltos da economia e dos
mercados. Segundo o autor, a partir de
agora, as empresas terão de instalar um
sistema de alerta vermelho permanente, ou
melhor, precisarão abandonar a sensação de
segurança que haviam construído com
políticas, estratégias e táticas resultantes de
anos de tentativa e erro. Precisam aceitar
que no contexto atual surgiu um ponto de
inflexão estratégica gigantesca (KOTLER,
2009, p. 117).
Constata-se que, na visão desse
teórico, com a transformação da realidade
econômica mundial, também houve uma
tentativa de adaptação a ela, já que os
paradigmas não são mais os mesmos.
O recente livro de Kotler (2009),
escrito em parceria com John A. Caslione,
Chaotics, busca formatar essa nova
estratégia. Na referida entrevista (HSM
Management, 2009), Kotler não entra no
mérito sobre se esse estado caótico atual é
pior ou é melhor. Diz ser diferente,
inevitável, exigindo outra abordagem por
parte das empresas, pois fenômenos como a
globalização e digitalização introduziram
uma nova dimensão de velocidade e
interdependência em nossas vidas e não há
retorno disso. De agora em diante, afirma,
“precisamos pensar proativamente sempre
e não apenas durante uma queda: um lado
de uma crise é a vulnerabilidade, e o outro
é a oportunidade”. Resumindo a essência
do enfrentamento desta nova era do caos,
Kotler cita, como ponto fundamental,
serem
exigidos
especialmente
no
marketing, grandes profissionais que
consigam esperar o inesperado e que, em
tempos de caos, possam reinventar os
modelos de negócios e as estratégias de
marketing, a fim de reagir rápido aos fatos.
Entende-se, então, que esses grandes
profissionais, referidos anteriormente, seriam
identificados na figura de um líder exato,
com clareza intuitiva, pois não haveria
lógica, não haveria regras, não haveria
sistemas garantidos.
Ao abordar a neurociência, Kotler
diz
serem
algumas
descobertas
especialmente surpreendentes para ele,
como por exemplo, quando Martin
Lindstrom afirma que os pôsters “Cigarro
mata”, na verdade, abrem o apetite dos
fumantes para acender o cigarro, ao invés
de alertá-los sobre e para o problema.
Encontra-se ainda, na Revista HSM
Management (2009), a resposta de Sydney
Finkelstein para a pergunta:
Por que os executivos inteligentes falham?
Existem quatro condições de bandeira
vermelha:
experiências
enganosas,
julgamentos errados, interesses pessoais,
apegos inadequados. Prossegue dizendo
que: “O problema da análise de negócios
convencional é que ela ignora a parte mais
importante do panorama: os responsáveis
pela tomada de decisão. O mais importante
é voltar a colocar o foco nas pessoas-chave
das
organizações:
os
líderes
(FINKELSTEIN, 2009, p. 19).
Segundo Finkelstein (2009), se os
líderes não estiverem conscientes das
“bandeiras vermelhas” que surgirem,
correm o risco de incorrer em enganos
desnecessários. Afirma ainda: “bons líderes
se equivocam e grandes líderes também”
(ibid., p. 19).
O especialista em negócios Ikujiro
Nonaka (1997) revela que executivos que
tratam a gestão do conhecimento como se
fosse um apêndice de Tecnologia da
Informação (TI) não compreendem de que
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modo os seres humanos aprendem e criam
e, portanto, jamais conseguirão capacitar
seu pessoal para o aprendizado profundo.
Ao favorecer o conhecimento explícito e
definir competência como a capacidade de
obter números elevados nas métricas
escolhidas, as empresas correm o risco de
nomear líderes que não compreendem
plenamente as sutilezas do negócio e ainda
promover uma visão de que as capacidades
das pessoas são estáticas e, deste modo,
deixam de investir em talentos. Nonaka
(2009, p. 108) diferencia a ideia de:
phronesis – “sabedoria prática”, techné –
“saber como fazer” e episteme – “saber por
que fazer”. Afirma que é necessário
compreender o propósito e a razão de ser
da organização no mundo e, ainda que, para
que uma empresa seja resiliente e capaz de
criar conhecimento, a phronesis deve ser
amplamente distribuída.
4 Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida por
meio dos pressupostos da abordagem
qualitativa (HAIR, 2007) utilizando
entrevistas com cinco empresários, que
utilizam a metodologia FOIL com faixa
etária entre 40 e 55 anos, com ramos de
negócios distintos: orizicultura, calçadista,
educação e alimentação. Estes empresários
atuam no mercado interno e externo, e
possuem várias unidades de negócio,
destacando-se cada um no seu ramo de
atividade não só pela competência
competitiva, mas também pela lucratividade.
As entrevistas foram realizadas a
partir das questões a seguir relacionadas: 1)
Qual é a responsabilidade do líder no
andamento da empresa?; 2) Que
importância atribui à própria intuição na
gestão de seu negócio?; 3) Como o senhor
utiliza as ferramentas de gestão?; 4)
Segundo seu ponto de vista, quais são as
causas da consecução dos objetivos
delineados no Planejamento Estratégico?
Em relação a responsabilidade os
empresários assim se manifestaram:
“É a pedra fundamental para o andamento da
empresa” (E1).
“Diz que sou eu quem determina o escopo e ‘puxa’
o ritmo da empresa, que o líder é a mente e a
intencionalidade do negócio e este responde
exatamente a como o primeiro posiciona” (E3).
“É o líder é aquele que imposta a cultura, os
objetivos, a lógica, o modus operandi, dá o tom,
organiza os mercados, produtos, garante a evolução
do negócio, que sem o líder, a empresa não tem, em
geral, coerência, fica uma nau sem rumo” (E4).
“É total, ele é o responsável pelos resultados
qualitativos e quantitativos” (E5).
Na leitura dessas entrevistas,
constatou-se
que
a
maioria
dos
posicionamentos foi categórica ao afirmar,
em resposta à primeira questão, que a
responsabilidade do líder é total, é “pedra
fundamental”, seja por ele ser mente e
intencionalidade do negócio, por ser ele
quem dá o “modus operandi” ou por ser o
responsável pelos resultados qualitativos e
quantitativos
da
empresa.
Outro
posicionamento, de forma indireta, também
referenda o que foi colocado por E2 ao
destacar a participação direta do líder na
formação dos profissionais colaboradores.
Neste sentido, um diferencial destes
empresários que utilizam a metodologia
FOIL é que a direção da estratégia é
realizada diretamente pelo líder da
organização. Deste modo, o sucesso da
implementação do planejamento estratégico
depende da variável líder.
Hammer (2009) constata que os
processos operacionais de alto desempenho
não são suficientes para o sucesso das
empresas, e, Kaplan e Norton (2009)
afirmam que nenhuma organização que
alcançou sucesso com o sistema de gestão
estratégica tinha um líder passivo.
Em relação à intuição e ao business
os empresários assim se manifestaram:
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Maestro, n. 1, p. 52-66, fev. 2011.
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“É a intuição do líder que mantém a identidade da
empresa, a unidade de ação e as correções de rumo
necessárias” (E1).
“Sempre que racionalizamos muito sobre um tema
o resultado é inferior. Quando seguimos a intuição
diretamente sem elaborá-la os resultados são
ótimos” (E2).
“A intuição é fundamental no processo de decisão.
É ela quem conduz as pequenas e grandes escolhas.
Uma vez decidido com a intuição, o papel da
racionalidade é fazer as passagens técnicas,
fundamentais para fazer o projeto, mas é a intuição
quem determina o caminho, sem ela ficamos sem
bússola” (E3).
“É extremamente relevante, ela é aquele flash que
nos indica os caminhos a serem seguidos, é algo
fundamental para os empreendedores, pois permite
diferenciar a empresa no mercado e ainda garante
seu sucesso” (E4).
“É de total importância quando se trata da
verdadeira intuição...” (E5).
Nas respostas sobre a importância
da intuição do líder no andamento da
empresa,
salientam
que
essa
é
“extremamente relevante”, é “bússola”, por
vários motivos, entre eles, porque mantém
a identidade da empresa, porque, ao
contrário da racionalização, a intuição
desencadeia ótimos resultados, além de ser
o que diferencia a empresa no mercado e
garante o seu sucesso; que a leitura da
intuição é possível com base na formação
ontopsicológica FOIL.
Porter (2009) afirma que um líder
forte ou um pequeno grupo de líderes é
capaz de comandar uma expansão no
mercado, por sua vez, Marcos Braga relata
que “vence quem escolheu o pneu certo
para o tipo de pista que prevalece na
prova”. Essas afirmações referendam que
se faz necessária a leitura exata da intuição
por parte do líder.
Para Kotler (2009), o ponto
fundamental é: grandes profissionais que
consigam esperar o inesperado e, segundo
Nonaka (2009), é preciso investir em
talentos. Meneghetti (2007) afirma que o
líder distingue-se de todos pela posse
natural da intuição. Esta consente em
operar a escolha otimal na conjuntura de
mais problemas ou mais soluções. Portanto,
cabe ao líder desenvolver, de modo
voluntário, sua capacidade natural de ler de
modo racional sua intuição. E, isso só é
possível mediante o conhecimento da
totalidade de sua atividade psíquica
(consciente e inconsciente) por meio da
consultoria de autenticação.
Os empresários se manifestam sobre
como são utilizadas, por eles, as
ferramentas de gestão:
“As ferramentas de gestão são a forma de o líder
conduzir a empresa” (E1).
“Hoje trabalhamos com diversas ferramentas de
gestão. As principais são: Planejamento Estratégico
e seus projetos, Gestão de Relação com Clientes,
Planejamento Tributário, Sistemas de controle do
resultado, controle de despesas, Sistema de Gestão
das competências, Gestão de contratações, Gestão
de RH, etc.” (E2).
“Apoio ao processo de controle e comunicação,
serve para dar uniformidade a toda a empresa e
para muitas vezes embasar racionalmente uma
decisão intuitiva” (E3).
“Cotidianamente para gerenciar clientes, resultado
do negócio, contabilidade, financeiro, pois tem um
negócio bastante informatizado, com informações
rapidamente disponíveis através de ERP, BI, BSC”
(E4).
“Quando
depende
internamente
da
sua
interferência, utiliza aquelas ferramentas e que,
quando as ideias colocadas em prática vão bem,
não interfere e como a gestão é compartilhada por
regulador externo deve-se obedecer às regras
impostas” (E5).
Os empresários responderam que as
ferramentas são efetivamente utilizadas e
justificam seu uso, entre outros, pela
rapidez com que as informações ficam
disponíveis, como apoio aos processos de
controle
e
comunicação,
como
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embasamento
racional
de
decisões
intuitivas.
Ao voltar para Fischmann e
Almeida (2009), é possível retomar suas
observações: o planejamento estratégico do
Departamento de Defesa dos Estados
Unidos da América somente funcionou
enquanto esteve presente seu mentor, Mac
Namara. Observam ainda que a ciência da
Administração, só recentemente, tem
voltado sua atenção aos primeiros níveis,
ou seja, à Direção e ao Conselho
Administrativo, deste modo, remetendo ao
termo estratego e, portanto, ao líder.
E, sobre quais seriam as causas da
consecução dos objetivos delineados no
planejamento
estratégico
assim
se
manifestam:
“É da visão correta do Planejamento Estratégico
que se parte com unidade de ação para a sua
execução” (E1).
“São as pessoas dedicadas à execução dos projetos,
comunicação e foco” (E2).
“A ferramenta de PE não garante o sucesso de uma
estratégia, é apenas uma ferramenta analítica para
organizar informações, comunicar, priorizar
projetos e acompanhar. A causa do sucesso ou
insucesso de uma empresa ou de um objetivo
estratégico está na coerência do líder com o
projeto, se aquele projeto é natural, seu, e o líder
está 100% dentro dele, o projeto invariavelmente
tem sucesso, se é um projeto que não reflete o líder,
será fracassado” (E3).
“Existem várias formas de garantir que o
planejamento efetivamente aconteça, mas as
principais são: planejamento bem feito, conciso,
focado no negócio, com objetivos plausíveis, além
de constante revisão e motivação das equipes” (E4).
“Fundamental é a unidade de ação das equipes de
trabalho e sinergia entre as lideranças” (E5).
Destacam os empresários que as
causas do sucesso da implementação dos
objetivos traçados no planejamento
estratégico estão na coerência do líder com
o projeto; que estão nas pessoas dedicadas
à execução dos projetos, comunicação e
foco; na visão correta do planejamento
estratégico, junto com a unidade de ação
para sua execução; e no planejamento bem
feito, na revisão constante e na motivação
das equipes, salientando assim, a
necessidade da liderança ativa. Segundo
Meneghetti (2007), é a inteligência do líder
que coordena os meios para obter o sucesso
na implementação do planejamento
estratégico. Daí porque se torna
fundamental
o
líder
recuperar
a
integralidade de sua inteligência por meio
da consultoria de autenticação.
5 Análises e Considerações Finais
Buscou-se realizar uma pesquisa
teórica e empírica a fim de estabelecer uma
reflexão sobre a razão pela qual um alto
índice de organizações (60 a 80%) não
atingem os objetivos estabelecidos no
Planejamento Estratégico.
Ao retomar o primeiro autor citado,
Maquiavel (2008), em sua obra “O
Príncipe”, se é levado a concordar com a
filósofa e psicóloga italiana Margherita
Carotenuto (2009), quando esta afirma que
aquele autor, por considerar a natureza
humana imutável e tendencialmente
malvada, preconiza que, para conservar e
fundar o Estado seria necessário astúcia,
firmeza, destreza e coragem e, ainda, seria
mais conveniente ser temido ao invés de
amado, aparentando ser justo, grande e
magnífico somente com o escopo de
conservar o poder. Todavia, Maquiavel não
oferece
receita
para
uma
forma
institucional estável, saudável e duradoura,
conveniente ao momento atual.
Quanto aos autores trabalhados
neste estudo, Kaplan e Norton, Hayes,
Fischmann
e
Almeida,
Ansoff,
Vasconcelos Filho, Valadares, Sampaio,
Equipe Change Integration da Price
Waterhouse, Grouard e Menson, Kotler,
Finkelstein, Nonaka, pode-se dizer que
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Maestro, n. 1, p. 52-66, fev. 2011.
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fornecem instrumentos válidos e úteis para
as análises. Porém, falta a eles o
conhecimento radical da matéria-prima que
move a sociedade e o business, responsável
direto pelo protagonismo e pela
implementação do planejamento estratégico: o
empresário líder.
A partir do método FOIL o estudo
demonstra que o Planejamento Estratégico
e demais instrumentos de gestão como
ferramentas são fundamentais. Todavia,
este estudo aponta alguns questionamentos,
que assim se apresentam: será que, para
diminuir a lacuna entre elaboração do
Planejamento
Estratégico
e
sua
implementação não seria indicado trabalhar
para formar líderes conscientes, autênticos,
protagonistas responsáveis, que saibam
servir e sejam capazes de fazer funcionar a
harmonia das relações entre operadores do
contexto, para que, assim, exista resultado
integral?
De 60% a 80% das organizações
não alcançam os objetivos definidos em
seus Planejamentos Estratégicos pela
simples razão que a maioria dos seres
humanos possui em torno de 80% de
inconsciente, o qual age fora do controle do
seu Eu lógico-histórico. Neste caso,
preliminar ao Planejamento Estratégico,
não seria necessária a exatidão consciente
do empresário líder para que lhe fosse
possível controlar as variáveis endógenas e
exógenas tanto pessoais como relativas à
sua empresa?
Diferentemente do que mostram
jornais e publicações específicas na área
em estudo, os empresários pesquisados, ao
abordarem a atual “crise mundial”, não
demonstraram preocupação, e sim a vêem
como oportunidade de crescimento para
suas empresas. Ao entrevistá-los, nota-se,
em suas colocações, um misto de
competência, alegria, orgulho e entusiasmo,
característico dos vencedores.
Poder-se-ia, então, questionar: qual
é o embasamento teórico que referenda a
práxis que os estaria diferenciando? Suas
respostas não indicariam possíveis e
consistentes caminhos? Pode-se constatar
que esses empresários utilizam a
Metodologia FOIL em suas empresas,
servindo-se, quando necessário de técnicos
credenciados, tanto nacionais como
europeus.
Todos eles são líderes comprovados
pelos resultados alcançados em suas
atividades empresariais e sociais, dando
imenso valor à intuição pessoal, sabem
identificá-la e conscientizá-la. Além disso,
usam ferramentas como o Planejamento
Estratégico e gestão estratégica, orçamento
e outras, para comunicar e colocar em
prática aquilo que colheram, através da
própria visão intuitiva e não em
substituição a ela.
Um dos empresários afirma: “O
segredo da indústria da estratégia é que ela
não tem de fato nenhuma estratégia”.
Segundo o empresário, o Planejamento
Estratégico não pode recriar os processos
do gênio empreendedor e deve ser
apresentado como um auxílio à formação
de estratégias, como um tipo de suporte
para os processos naturais (inclusive a
intuição), mas não como gerador de
estratégias ou no lugar da intuição do líder.
Ainda, segundo o referido empresário, a
estratégia existe na mente do líder como
perspectiva, como um senso de direção em
longo prazo e uma visão de futuro da
organização.
Para finalizar, na visão dos
empresários entrevistados, todo e qualquer
problema que possa ocorrer na empresa é
de sua responsabilidade e a solução deve
ser procurada na sua pessoa. Então, por
tudo o que foi considerado neste estudo, é o
líder quem deve ser trabalhado, tornado
autêntico, para que num segundo momento,
o planejamento estratégico possa vir a ser
implementado como uma ferramenta útil e
funcional para a organização.
SCHUCH, Maria A.; RODEGHERI, Vera L. Estratégia empresarial: planejamento e implementação. Revista Saber Humano, Recanto
Maestro, n. 1, p. 52-66, fev. 2011.
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Autores:
Maria Alice Schuch: empresária, licenciada em
Letras; Especialzação em Psicologia com aordagem
em Ontopsicologia (UESP); Especialização MBA
em Gestão de Negócios e Intuição (AMF).
Vera Lúcia Rodegheri: psicóloga, consultora,
Especialização em Psicologia com aordagem em
Ontopsicologia (UESP); Mestranda em Psicologia
(PUC-SP).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 22/12/2010.
SCHUCH, Maria A.; RODEGHERI, Vera L. Estratégia empresarial: planejamento e implementação. Revista Saber Humano, Recanto
Maestro, n. 1, p. 52-66, fev. 2011.
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Ambientes confortáveis e humanizados
Luiz Henrique Girardi
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Estela Maris Giordani
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
[email protected]
Resumo: Esse trabalho é um estudo prático sobre conforto e funcionalidade de
ambientes. Seus principais objetivos são: apresentar um panorama de como são
desenvolvidos os projetos da maioria dos apartamentos em Jaraguá do Sul-SC; resgatar
os conceitos necessários para o desenvolvimento de projetos funcionais, estéticos e com
ambientes confortáveis; desenvolver um projeto de um edifício de apartamentos com
ambientes funcionais, confortáveis e estéticos; avaliá-lo e compará-lo com um projeto
convencional. No estudo dos conceitos e princípios necessários para o desenvolvimento
do projeto foi confirmada a necessidade de ordenar os espaços em referência ao homem
e às suas necessidades. Com base no princípio de estética observado por Meneghetti e
na lógica de funcionalidade exposta por Neufert, buscou-se desenvolver um projeto no
mesmo terreno onde já havia sido implantado um edifício concebido sem atenção a
esses princípios. A análise buscou desenvolver um projeto funcional e confortável,
obteve-se um melhor aproveitamento do terreno, uma melhor relação custo/benefício e
maior lucro e principalmente, um melhor ambiente, mais confortável e funcional aos
clientes.
Palavras-chave: arquitetura; conforto; estética.
Abstract: This work is a case study on comfort and functionality of environments. Its
main objectives are: to present an overview of how projects are developed in most of
the apartments in Jaragua do Sul - SC; recover the concepts necessary for the
development of functional designs, with aesthetic and comfortable environments and
develop a project of an apartment building environments with functional, comfortable
and aesthetic, evaluate it and compare it with a conventional design. In the study of
concepts and principles for the development of the project confirmed the need to sort
the spaces in reference to man and his needs. Based on the principle of aesthetics
observed by Meneghetti and logic functionality exposed by Neufert aimed to develop a
project on the same ground where he had been deployed in a building designed without
attention to these principles. The analysis aimed to develop a functional design and
comfortable we got a better use of land, greater cost efficiency and more profit and
foremost, a better environment, more comfortable and functional to customers.
Keywords: architecture; comfort; aesthetics.
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1 Introdução
Na
prática
profissional
da
construção civil, atuando como engenheiro
responsável na execução de projetos
imobiliários de médio padrão em Jaraguá
do Sul-SC, observou-se a insatisfação dos
clientes em relação às dimensões dos
cômodos de seus apartamentos, no
momento em que pela primeira vez este
tem contato com seu imóvel. Ocorre
frequentemente que o cliente que adquiriu
o imóvel na planta, ao visitar a obra, após
as paredes já estarem levantadas, verifica
que o espaço é inadequado ou não atende
às suas expectativas de distribuição do
espaço físico nas peças.
De fato, apartamentos pequenos,
com ambientes compactos ocupam uma
grande fatia do mercado imobiliário de
Jaraguá do Sul, possuindo uma metragem
quadrada e preço de venda já definido pelo
mercado. Essa fatia do mercado é
explorada principalmente por pequenas
construtoras e investidores autônomos que
observam nesse negócio a possibilidade de
rendimentos superiores às aplicações
financeiras.
A lógica do incorporador ao
planejar e projetar um apartamento de
médio padrão é, de modo geral, a seguinte:
procura-se reduzir as áreas dos cômodos
para diminuir o custo de construção e assim
reduzir o preço e facilitar a venda. Essa
lógica tem o objetivo de dar liquidez ao
produto, aumentando a receita durante o
período de construção.
Na
perspectiva
do
pequeno
construtor, que geralmente não possui um
custo administrativo relevante, a avaliação
do retorno financeiro é realizada
subtraindo-se a previsão de receita, do
valor do terreno e do custo de construção.
De modo geral, o custo de
construção é estimado pelo investidor a
partir da multiplicação da área do projeto
pelo custo unitário de construção (R$/m²),
sendo esse último, obtido a partir das
informações de empreendimentos já
construídos ou arbitrado como uma
percentagem do CUB1, por exemplo, 85%
do CUB.
Custo de construção = área de projeto x
custo unitário
Nesse procedimento não é realizado
um orçamento analítico a partir de
quantitativos do projeto (quantidade de
concreto, alvenaria, cerâmica, etc.) e
consequentemente,
as
características
arquitetônicas do projeto não interferem na
estimativa do custo unitário da construção.
Nesse método a principal variável
determinante na estimativa do custo da
obra é a área construída.
Seguindo essa linha de pensamento
desenvolve-se um projeto compacto que
atenda os seguintes critérios: medidas e
áreas mínimas estabelecidas pelo código de
obras do município e área mínima dos
ambientes estabelecida pelo senso comum
do mercado imobiliário.
A aplicação dessa lógica implica na
alienação em relação ao principal escopo
do projeto: tornar o ambiente funcional ao
usuário, atendendo suas necessidades de
conforto e estética.
De fato, são frequentes as queixas
dos clientes, principalmente em relação à
pequena área dos quartos e a pequena
profundidade da sala.
2 Fundamentação Teórica
2.1 A formação integral do arquiteto
Retorno = receita – (valor do terreno +
custo de construção)
1
CUB: Custo unitário básico.
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Antes de tratar sobre arquitetura,
Vitrúvio (~70-25 a.C.), autor do primeiro
tratado sobre o assunto, dedica o primeiro
capítulo de seu tratado descrevendo como
deveria ser a formação do arquiteto. Nesse
texto o autor trata sobre a importância do
conhecimento e habilidade nas diversas
artes e ciências humanas daquele período:
literatura, desenho, geometria, aritmética,
história, filosofia, música, medicina, direito
e astronomia, afirmando que “o
conhecimento enciclopédico, com efeito, é
composto de todas essas partes como se
fosse um corpo só” (VITRUVIO, 2007, p.
70).
De fato, no período da Antiguidade
Clássica via-se o homem de modo integral,
relacionando-se com todos os conhecimentos
centrados em si mesmo.
2.2 Arquitetura e estética
Conforme Meneghetti (2003):
Arquitetura é ordenar espaços em
referência a uma função. (...) Assim, o
propósito é dar ordem ao espaço próximo
do indivíduo, tendo presente que se entra
imediatamente na psicologia territorial e,
portanto, na primeira espacialidade do Em
Si (MENEGHETTI, 2003, p. 255).
“O Em si ôntico é a radicalidade da
atividade psíquica, o projeto de natureza
que
constitui
o
ser
humano”
(MENEGHETTI, 2006 p. 7), ou em outras
palavras, o princípio que determina o que o
sujeito é. A partir desse conceito
compreende-se que arquitetura é ordenar
espaços em referência àquilo que o sujeito
é em seu projeto de natureza.
Na história diversos pesquisadores
buscaram projetar os ambientes a medida
do homem. Dentre eles destacou-se Le
Corbusier (2006) que usou as séries
harmônicas para dimensionar os ambientes.
As séries harmônicas baseiam-se na
proporção, encontrada pelo psicólogo
Adolf Zeising, que relaciona as dimensões
das partes do corpo humano. Le Corbusier
usou os valores da série harmônica para
dimensionar o ambiente, tornando-o assim
proporcional ao corpo humano.
Entretanto não parece que a
proporção das partes do corpo humano seja
suficiente para propiciar funcionalidade e
estética ao homem. Segundo Meneghetti
(2003), para ordenar o espaço em função
do homem é preciso ordená-lo em função
da intencionalidade de natureza que o
especifica. O conceito desse autor sobre o
verbete “estética” elucida o tema:
Representatividade da intencionalidade
proporcional às próprias partes. Este gênero
de representatividade é imagem formal da
proporção que é percebida intelectivamente
e emocionalmente pela medida de
proporção ordenada daquele que percebe.
Mesmo
sendo
uma
experiência
fenomenológica causa-se dentro da relação
otimal entre constante H e presença do ser
ambiental.
Percepção
externa
do
proporcional em ato. A parte e o todo
intencionam o idêntico do conjunto.
(MENEGHETTI, 2001, p. 66).
Segundo o mesmo autor, “a
constante H é o constituinte que formaliza
toda e qualquer fenomenologia humana,
enquanto
atividade
ordenada”
(MENEGHETTI, 2001, p. 39). Desse
modo, a partir do conhecimento daquilo
que constitui e caracteriza o homem, pode
se projetar o ambiente a medida do homem.
Nesse ponto Torrice (1991), após o
estudo dos conceitos formulados por
Meneghetti, afirma que:
A constante H é o critério universal de
interação do homem com o ambiente.
Operando como um discriminante, ela
decide o que é côngruo ou não ao humano.
O que é côngruo, ao ser metabolizado,
produz crescimento, o que não é, ou é
rejeitado
ou
produz
diminuição
(TORRICE, 1991, p. 20).
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A natureza pré-estabeleceu o que é
o homem e o que lhe produz bem ou mal e
esse determinante é chamado de “constante
H”. A estética é o resultado da melhor
relação entre a “constante H” e o ambiente.
2.3 Funcionalidade e dimensionamento dos
ambientes
Uma vez que o homem é posicionado como
produto
arquitetônico
da
natureza,
prossegue
projetivamente
a
sua
genialidade; continua a criar espaços como
corpos apropriados, côngruos, corpos de
espaço específico ao melhor viver, agir
mover-se do homem (MENEGHETTI
2003, p. 255).
Segundo
Neufert
(1976),
o
projetista deve conhecer a razão porque
escolhe cada medida no dimensionamento
dos ambientes:
Devem saber as relações entre os membros
de um homem normal e qual o espaço para
se deslocar, para trabalhar, para descansar
em várias posições. Devem conhecer o
espaço que o homem necessita entre os
vários móveis na cozinha, na sala de jantar,
no escritório, para trabalhar com
comodidade sem espaços desperdiçados.
Devem conhecer a melhor colocação desses
móveis para permitir que o homem, tanto
em casa como no escritório ou oficina
trabalhe com gosto e eficiência ou repouse
convenientemente. Além disso, o homem
não é apenas um corpo vivo que ocupa e
utiliza um espaço. Seja qual for o critério
ao dimensionar, pintar, iluminar ou
mobiliar um local, é fundamental
considerar a emoção que ele cria em quem
ocupa (NEUFERT, 1976, p. 18).
importante lógica de utilidade
funcionalidade na concepção de projeto.
e
3 Projeto desenvolvido
Visando uma alternativa para o
problema de funcionalidade e conforto
encontrado no apartamento analisado,
desenvolveu-se um novo projeto tendo
como base as mesmas condições (terreno,
número de pavimentos e número de
apartamentos no edifício, ausência de
elevador), em que foi implantado o projeto
anterior.
No desenvolvimento desse projeto
foram distribuídos quatro apartamentos por
andar. Procurando atender todos os quartos
com uma insolação adequada, foram
projetados dois tipos de apartamentos,
posicionados lado a lado longitudinalmente.
O primeiro apartamento, Tipo 1, foi
projetado com uma área privativa de
74,70m². Os quartos foram posicionados
voltados para o norte de modo a receberem
insolação durante todo o dia. A sala,
cozinha e sacada foram concebidas
longitudinalmente na parte mais interna do
apartamento.
A . s e rv .
Á re a : 2 ,3 8 m
C o z in h a
ENTRADA
Á re a : 6 ,0 6 m
Bw c
Á re a : 3 ,6 3 m
H a ll
Á re a : 1 ,5 5 m
APTO
T IP O 1
Á re a : 7 4 ,7 0 m
S u ít e
Á r e a : 1 1 ,3 8 m
S a la
Á r e a : 2 1 ,5 0 m
Neufert
(1976)
determinou
parâmetros de espaço baseados nas
atividades e movimentos exercidos em cada
cômodo, nas dimensões do corpo humano e
dos móveis e objetos envolvidos nas
atividades.
Esses parâmetros, mesmo não
exaurindo o problema da estética e do bem
estar na construção, contribuem com uma
Bw c
Á re a : 3 ,6 0 m
Q u a rto
Á re a : 9 ,0 0 m
Sacad a
Á r e a : 3 ,9 8 m
CROQUI 01: Apartamento Tipo 1;
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (2010).
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No desenvolvimento do segundo
apartamento, em virtude do espaço
disponível, decidiu-se pela construção de
apenas um banheiro. Os dois quartos foram
posicionados para o leste ou oeste de modo
a receberem insolação direta durante a
manhã ou tarde. A área privativa resultante
no projeto desse apartamento é de 65,05m².
a disposição dos moveis atendem aos
quesitos acima. A existência de uma
pequena sacada contribui para tornar o
ambiente mais aberto e agradável.
1º QUARTO APTO TIPO 2
SUÍTE APTO TIPO 1
Quarto
Área: 11,27m
Bwc
Área: 3,63m
ENTRAD A
C o z in h a
A . se rv.
H a ll
Á re a : 5 ,0 0 m
Á r e a : 2 ,7 2 m
Á r e a : 1 ,3 5 m
APTO
T IP O 2
Á r e a : 6 5 ,0 5 m
S a cad a
Á re a : 4 ,5 5 m
S a la
Suíte
Á re a : 1 8 ,1 7 m
Área: 11,38m
CROQUIS 03 e 04: Primeiro quarto (apto Tipo 2) e
suíte (apto Tipo 1);
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (2010).
Bw c
C ir c .
Á re a : 3 ,2 5 m
Á r e a : 1 ,1 6 m
Q u a rto
Á r e a : 9 ,2 4 m
Q u a rto
Á re a : 1 1 ,2 7 m
4.2 Segundo quarto
CROQUI 02: Apartamento Tipo 2;
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (2010).
4 Análise da funcionalidade
ambientes do projeto desenvolvido
dos
4.1 Quarto de Casal
Para garantir a funcionalidade da
circulação, que de modo geral é mais
crítica em volta da cama, é necessário
projetar as passagens com largura mínima
de 60cm. Entretanto, para tornar o
ambiente agradável é necessário não
justapor a mobília e dimensionar um
espaço maior, de modo que, em um
ambiente de permanência prolongada como
o quarto, não se tenha a sensação de
confinamento.
Na análise dos quartos de casal,
verificou-se que as dimensões do projeto e
As funções de escritório e quarto de
hóspedes são as atribuições mais frequentes
para o segundo quarto. O espaço livre
disponível nesse quarto contribui para a
circulação e bem estar, favorecendo as
condições para a permanência no ambiente.
2º QUARTO APTO TIPO 2
2º QUARTO APTO TIPO 1
Quarto
Quarto
Área: 9,24m
Área: 9,00m
CROQUIS 05 e 06: Segundo quarto nos aptos 1 e
2;
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (2010).
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4.3 Sala e cozinha
Analisando-se as salas observa-se
que há um espaço apropriado entre o sofá e
a TV e uma adequada proporção entre o
espaço livre para circulação e o espaço
ocupado pelos móveis. Verifica-se também
que a largura das passagens é suficiente
para atender a maior circulação de pessoas
que ocorre no local.
Na cozinha, a área livre com 1,25m
de largura proporciona uma satisfatória
área para circulação e preparo dos
alimentos. A parede que separa o hall da
cozinha, além de definir os ambientes,
oferece um maior perímetro de alvenaria
que permite a fixação dos móveis.
COZINHA E SALA APTO TIPO 2
COZINHA E SALA APTO TIPO 1
Cozinha
Hall
Área: 5,00m
Cozinha
ENTRADA
ÁREA DE
SERVIÇO
ÁREA DE
SERVIÇO
ENTRADA
Área: 6,06m
Área: 1,35m
SACADA APTO TIPO 2
SACADA APTO TIPO 1
Sacada
Área total: 3,98m
Área livre: 3,21m²
Sacada
Área total: 4,55m
Área livre: 3,64m²
CROQUIS 09 e 10: Sacadas dos apartamentos 1 e
2;
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (2010).
5 As vantagens econômicas do
desenvolvimento
do
projeto
com
ambientes funcionais e confortáveis
Na análise econômica do projeto
foram avaliados: o aproveitamento do
terreno através da área total construída, o
custo de construção, o preço de venda,
receita e o lucro.
Hall
SACADA
Observou-se que o dimensionamento
de espaços a partir das funções implícitas
aos ambientes e as necessidades relativas a
essas funções, resultou em dimensões e
áreas superiores àquelas comumente
adotadas no mercado imobiliário.
Área: 1,55m
Sala
Área: 18,17m
5.1 Área total construída
CIRCULAÇÃO
Sala
CIRCULAÇÃO
Área: 21,50m
SACADA
Através da comparação entre a área
total construída dos dois edifícios
observou-se que o novo projeto é 22,9%
maior que o edifício existente, refletindo
em um maior custo de construção e um
melhor aproveitamento do terreno.
CROQUIS 07 e 08: Cozinha e sala dos
apartamentos 1 e 2;
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (2010).
5.2 Custo de Construção
As sacadas em curva projetam o
usuário para fora e favorecem a estética. A
possibilidade do uso de mesa e cadeiras
contribui com a funcionalidade desse
ambiente.
O orçamento dos dois projetos foi
fundamentado na quantificação de serviços
e materiais utilizados na construção desses
edifícios, e nos valores de mercado para
materiais e serviços. O cálculo do custo
unitário de cada serviço foi realizado a
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partir das composições de custo da TCPO2
(1996) adaptadas aos métodos construtivos
e produtividade da mão de obra empregada
em Jaraguá do Sul-SC.
O orçamento revelou que o custo de
construção por metro quadrado do novo
projeto (R$ 828,15/m²) é inferior ao custo
do edifício existente (R$ 892,94/m²). A
redução do custo unitário é mais expressiva
nos gastos com administração, fundações
(infraestrutura), alvenaria, revestimento,
esquadrias,
impermeabilização
e
instalações. A redução do custo por metro
quadrado desses itens ocorreu porque as
despesas aumentaram em uma proporção
menor do que o acréscimo da área
construída. Em alguns casos as despesas
reduziram devido a características dos
projetos,
como
ocorreu
com
a
impermeabilização
e
as
instalações
hidráulicas.
A
economia
na
alvenaria,
revestimentos e esquadrias ocorre porque
as áreas dos cômodos aumentaram
mantendo-se ou até reduzindo-se o número
de ambientes, diminuindo assim a relação
área de parede-área construída (conforme o
quadro abaixo) e o consumo de esquadrias
por m² de área construída.
QUADRO 1: Relação alvenaria / área construída
Projeto
Novo
Área de
alvenaria
Área total
construída
A. Alvenaria
A.
Construída
1.741,10m²
1.225,32m²
1,42
realizada em jornais e imobiliárias, fez-se
uma previsão de receita para cada
empreendimento.
QUADRO 2: Previsão de receitas
Quant.
PROJETO
DESENVOLVIDO
Apartamento
tipo 1
Apartamento
tipo 2
Valor unit.
6
155.000,00
930.000,00
6
145.000,00
870.000,00
EDIFÍCIO
EXISTENTE
Apartamento
Valor total
R$
1.800.000,00
R$
1.620.000,00
12
135.000,00
1.620.000,00
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (jul/2010)
Um dos modos que o mercado
imobiliário usa para avaliar imóveis é o
preço por metro quadrado de área interna
do apartamento. Conforme o gráfico abaixo
se observa que os apartamentos do novo
empreendimento possuem um preço por
metro quadrado menor, revelando uma
vantagem econômica para o comprador.
5.4 Lucro e rentabilidade
Tendo como referência as despesas
de empreendimentos de porte similar,
produziu-se uma previsão de lucro
conforme o Quadro 3.
Edifício Existente
1.548,98m²
997,01m²
1,55
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (2010)
5.3 Preço de venda e previsão de receita
Com base numa pesquisa dos
valores de venda de cada apartamento,
2
TCPO: Tabela de composição de preços para
orçamentos
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QUADRO 3: PREVISÃO DE LUCRO
PROJETO DESENVOLVIDO
Receita
R$ 1.800.000,00
Terreno
R$
Construção
R$ 1.014.742,99
Impostos
Comissão de
vendas
Despesas
Administrativas
R$
99.000,00
R$
90.000,00
R$
32.000,00
Lucro
Retorno
R$
314.257,01
21,15%
250.000,00
EDIFÍCIO
EXISTENTE
R$
1.620.000,00
R$
250.000,00
R$
890.535,59
R$
89.100,00
R$
81.000,00
R$
32.000,00
R$
277.364,41
20,66%
FONTE: Dados do arquivo do pesquisador (2010)
Embora as taxas de retorno dos dois
empreendimentos serem semelhantes, o
novo projeto oferece um lucro maior
(+R$36.892,60) no mesmo terreno.
O melhor modo de atingir esse
objetivo é partir de um projeto orientado à
funcionalidade, estética e conforto.
A primeira arquitetura já é feita pela
natureza. O próprio corpo é a arquitetura
que a natureza faz sobre o meu Em Si. Uma
vez que o homem é posicionado como
produto
arquitetônico
da
natureza
prossegue
projetivamente
a
sua
genialidade; continua a criar espaços como
corpos apropriados, côngruos, corpos de
espaço específico ao melhor viver, agir,
mover-se do homem (MENEGHETTI
2003, p. 255).
No projeto desenvolvido nesse
estudo de caso, observou-se uma maior
funcionalidade dos ambientes, menor custo
unitário de construção, menor preço de
venda por metro quadrado para o cliente e
maior
lucro
para
o
construtor,
comprovando uma maior eficiência do
projeto voltado ao homem.
6 Considerações Finais
Referências
“O Homem é a medida de todas as coisas”
Protágoras
“Tudo que o homem cria é
destinado ao seu uso pessoal” (NEUFERT,
1976, p. 18), o que implica em uma
responsabilidade do homem em prover a si
o útil e necessário. Não há lógica no
desenvolvimento
de
um
projeto
arquitetônico que não seja para o conforto e
vantagem do homem. O projeto de uma
casa ou apartamento deve propiciar
condições de bem estar, de bem viver.
Uma
casa
adequada
às
necessidades humanas é um bem a mais a
disposição do seu dono: proporciona
vantagem, crescimento, bem estar. De
modo contrário, o espaço ineficiente, a sala
apertada ou o canto incômodo, propicia
sempre um distúrbio que uma vez tolerado
e consentido, parece fazer mal dentro do
sujeito.
JARAGUÁ DO SUL. Lei n. 1184, de 7 de
junho de 1988. Código de Obras.
LE CORBUSIER. Por uma Arquitetura.
São Paulo: Perspectiva, 2006.
MENEGHETTI, A. Dicionário de
Ontopsicologia.
São
Paulo:
Ontopsicológica Editrice, 2001.
MENEGHETTI,
A.
Nova
Fronda
Virescit: introdução à Ontopsicologia par
Jovens. Recanto Mastro: Ontopsicológica
Editrice, 2006. v. 1.
MENEGHETTI, A. OntoArte: O Em Si da
Arte.
Florianópolis:
Ontopsicológica
Editrice, 2003.
NEUFERT, E. Arte de Projetar em
Arquitetura. São Paulo: Gustavo Gili do
Brasil, 1976.
TORRICE, E. L’estetica in architetura.
Nuova Ontopsicologia, Roma n. 1 p. 1621, jan. 1991.
GIRARDI, Luiz H.; GIORDANI, Estela M. Ambientes confortáveis e humanizados. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 6775, fev. 2011.
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______________________________________________________________________________________________
VITRUVIO,
Pollio.
Tratado
de
Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
TCPO 10: Tabelas de composições de
preços para orçamentos. 10. ed. São Paulo:
Pini, 1996.
Autores:
Luiz Henrique Girardi: engenheiro civil;
Especialista na área de Gestão de Negócios e
Intuição (AMF).
Estela Maris Giordani: pedagoga, Especialização
em Psicologia com abordagem em Ontopsicologia
(UESP);
Especialista
em
Ontopsicologia
(UNICEUB); Mestre (UFRGS) e Doutora em
Educação (UNICAMP); Professora e pesquisadora
da Faculdade Antonio Meneghetti e da Universidade
Federal de Santa Maria.
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 22/12/2010.
GIRARDI, Luiz H.; GIORDANI, Estela M. Ambientes confortáveis e humanizados. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 6775, fev. 2011.
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Preditores de liderança no estilo de vida dos
jovens na sociedade atual
Maria Tereza Andreola
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Ana Maris Petry
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
[email protected]
Resumo: Neste artigo analisam-se os principais preditores na construção da liderança
do jovem, definidos como: valor saúde, valor social, valor ambição, valor profissional e
valor econômico. Descrevem-se os principais resultados da pesquisa sobre o estilo de
vida dos jovens como fator de desenvolvimento do potencial de liderança,
comprovando-se que a aplicação da teoria ontopsicológica apresenta resultados sólidos
e efetiva competência para a formação do jovem líder.
Palavras-chave: joven; estilo de vida; preditores de liderança.
Abstract: This article reviews the main predictors of building leadership in the youth,
defined as: health value, social value, value ambition, professional value and economic
value. It describes the main results of the research about lifestyle of young people as a
factor in development of leadership potential, proving that the application of
Ontopsychological theory presents solid results and effective jurisdiction for the
formation of the young leader.
Keywords: young; lifestyle; predictors of building.
1 Introdução
Em consequência da globalização,
do desenvolvimento de uma cultura digital
e da rede informática, afronta-se a
problemática da perda da consciência do
humanismo,
reabrindo
a
pergunta
fundamental: quem é o homem? Dentro
deste contexto, os jovens se movem e agem
de uma maneira cada vez mais veloz,
construindo estilo, estereótipos e cultura
próprios.
Estão
sujeitos
ao
bombardeamento de informações de uma
cultura opinativa, fictícia, virtual, onde há
sedução
pelo
consumismo
(um
consumismo destituído de um critério de
utilidade e funcionalidade), como também
pelo informacionismo (uso indiscriminado
e excessivo da Internet, mídia, celular e
outros), e são levados, nesta etapa da
existência, a viver a própria vida em
prazeres gratuitos e irresponsáveis.
De fato, a juventude é o período
crítico do desenvolvimento humano, o
momento de maior aptidão para investir em
si mesmo e, também, o momento de
maiores perigos. O jovem intui, tem a
evidência de que possui um potencial, e a
juventude é a ocasião de obter as
ferramentas para atuar este potencial, mas
falta-lhe a lógica do sistema existencial e
social, que exige preparação para exercer o
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efetivo protagonismo de liderança. Assim
sendo, é fundamental uma pedagogia que
coloque o jovem em condições de fazer a
própria vida em exaltação e realização do
melhor de si mesmo, vale dizer, se o jovem
não tem unidade de ação com o evento
vida, todo o investimento de sua força não
produz seu desenvolvimento in progress.
O presente trabalho aborda o tema
da
necessidade
da
formação
da
personalidade líder do jovem, mediante a
aplicação da técnica ontopsicológica. Nas
palavras de Meneghetti (2005a):
O escopo prático é educar o sujeito a fazer
e saber a si mesmo: fazer uma pedagogia
de si mesmos como pessoas líderes no
mundo; educar um Eu lógico-histórico com
capacidades e condutas vencedoras
(MENEGHETTI, 2005a, p. 21).
Neste sentido, o objetivo desta
investigação foi conhecer o estilo de vida
dos jovens, diferenciando o estilo daqueles
que realizam o processo de autenticação
por meio da psicoterapia ontopsicológica
dos que não o fazem. Na sequência,
verificou-se a correlação entre o estilo de
vida do jovem e a possibilidade de
liderança.
2 Fundamentação Teórica
2.1 O jovem na visão Ontopsicológica
Ao se propor estudar o jovem, é
necessário se ter um conceito de partida, e
para o escopo deste trabalho, o jovem será
definido como “quem tem íntegro o
potencial de poder dar evolução biológica,
funcional, estética, carismática e, portanto,
de
liderança
como
top
líder”
(MENEGHETTI, 2005d, p. 343). Deste
modo, o jovem não necessariamente é
circunscrito em faixa etária, mas
substancialmente é aquele que possui
íntegro o potencial ôntico, ou seja, o
princípio ou a essência do humano a ser
desenvolvido no devir existencial. Deste
conceito, abre-se a visão de homem que a
Ontopsicologia
esclarece
como
“protagonista responsável baseado em uma
virtualidade capaz de atuação pessoal no
ser” (MENEGHETTI, 2004, p. 129). A
virtualidade é o potencial ôntico, sendo
responsabilidade exclusiva e individual do
homem mantê-lo e evoluí-lo por meio de
ações que caracterizam protagonismo em
todas as esferas: existencial; biológica;
psicológica; e social. Além disso, possuir o
potencial íntegro significa, segundo a
Escola Ontopsicológica, que a atividade do
potencial ou Em Si ôntico vivifica a
existência do sujeito pela atuação histórica:
Eu lógico-histórico e Em Si ôntico se
contatam, tendo como resultado a
autorrealização.
Em termos etários, pode-se entender
que a juventude é um período de transição
à vida adulta. O jovem naturalmente possui
a ânsia de entrar como sujeito capaz, no
mundo dos adultos, possui o desejo de
liberdade, de conquistar a autonomia,
porém, sob quais pressupostos os jovens
estão sendo atualmente orientados para
atingirem este escopo como humanos
autênticos? Somos todos formatados no
feixe de estereótipos sociais (língua,
educação, regras morais, ideología, etc.),
propostos
como
modelos
de
comportamento, os quais ulteriormente se
tornam hábitos fixos. Estes, quando se
agigantam, produzem patologias de
comportamento, de personalidade. Nesse
sentido, a formação ao próprio potencial
pressupõe a relativização dos estereótipos.
Meneghetti (2005d) esclarece melhor a
ação da educação na formação do jovem:
Nós temos uma sociedade muito plana do
ponto de vista cultural. Se olharmos os
nossos jovens, a formação que tiveram na
escola e na universidade vemos, por
exemplo, que todos vão à discoteca, ou se
endereçam à droga, ou às ocupações
comuns, etc.; isto demonstra o resultado de
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certa pedagogía (MENEGHETTI, 2005d,
p. 314).
Poder-se-ia perguntar: mas no
mundo de hoje, tão estruturado, onde existe
um sistemismo legal de violência, uma
mídia de massas, uma cultura gratuita de
assistencialismo centrado no “direito de”
substituindo também o “dever de”, e apelos
de superficialidade e consumismo de
massa, ainda é possível dar novidade de
horizonte ao jovem? De acordo com o
propósito deste artigo, afirma-se que não
apenas é possível: é necessário.
O jovem deve ter a oportunidade do
próprio crescimento. A Ontopsicologia
possui o método exato para tal, abrindo o
critério da vida, como explica Meneghetti
(2005a):
Após
as
descobertas
da
técnica
ontopsicológica, descobre-se que o homem
tem inato o critério no qual basear suas
escolhas com sucesso; tem o critério para
tornar constantemente exata a sua intuição
(MENEGHETTI, 2005a, p. 12).
Nesse sentido é necessária uma
precisa formação pedagógica e de
liderança, com cunho voltado à lógica
ôntica, para que o potencial do jovem seja
investido em reforço de si próprio e para o
bem comum, pois perdendo tal potencial,
todos perdem. Segundo Meneghetti: “Trair
o próprio potencial é um pouco trair
também o bem social” (2001c, p. 11). O
escopo desta formação, portanto, é
contribuir para que se faça autóctise
histórica, mediante a aplicação da técnica
ontopsicológica:
A Ontopsicologia é um método racional,
científico, instrumental que ensina como
estar
bem,
como
cuidar-se,
e
contemporaneamente como entrar na visão
total do Em Si ôntico (MENEGHETTI,
2005d, p. 352).
E por que jovens líderes? Porque a
tensão ao protagonismo é intrínseca à
natureza do humano. Deste modo, formar
jovens implica que os mesmos sejam
responsabilizados em sua autonomia, em
sua criatividade, em seus dotes intelectuais
e morais para que reconheçam a realidade
do seu centro-força. Este ponto-força é o
Em Si ôntico e, quando um jovem tem
restituído o contato com seu próprio Em Si
ôntico, por meio de uma mudança de mente
e do contato com uma cultura superior
diferente da cultura de opiniões, aprendem
a fazer o justo investimento de si mesmo,
tornando-se assim, o ponto-força de toda
uma sociedade. Todas estas questões são
intrínsecas à definição de líder:
O líder é o centro operativo de diversas
relações e funções, é aquele que sabe
individuar a proporção de como se movem
as relações da vida e sabe aplicar, a cada
situação, a fórmula correta para resolvê-las
e realizá-las econômica, política e
socialmente (MENEGHETTI, 2005c, p.
20).
Para tal, a formação ao jovem
centra-se em três pontos basilares:
a) Saber a si mesmo segundo
seu projeto de natureza e não
segundo a normotipia social;
b) Capacidade de autonomia
social e autonomia econômica;
e
c) A utilização do método e
instrumentos ontopsicológicos
para orientar o exercício
existencial e reconstruir uma
consciência autêntica.
2.2 A formação do jovem
autoconhecimento e estilo de vida
líder:
A indicação do antigo mote délfico
“conheça-te a ti mesmo”, sempre foi
orientação basilar da filosofia clássica, da
teologia e da psicologia na formação do
humano como indivíduo e como sociedade.
Porém, nem mesmo com todos os avanços
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tecnológicos, a ciência, qualquer que seja,
conseguiu definir com clareza “quem é o
homem”, e esta incapacidade se evidencia
pelos resultados: o homem permanece
irresoluto. Surge então, o questionamento:
qual o critério que define o que é o homem
e sob quais orientações este atua a
autorrealização como projeto de evolução
individual e social de acordo com valores
humanistas.
No tema proposto, observa-se que a
maioria dos jovens se encontra alheia ao
conhecimento de si mesmo, ao interesse
social e à experiência do bem maior que
eles próprios fazem parte: a humanidade.
Para a formação do jovem líder não
se pode saltar o entendimento do que é a
personalidade, cuja essência é a psique,
como também é necessário ter a clareza
sobre o inconsciente. Sem estes
esclarecimentos a pedagogia ao jovem se
torna direcionamento em adaptações e
treinamentos ao próprio sistema e, assim,
corre-se o risco de perder o homem em sua
plenitude, o homem como resposta a um
projeto proposto pela vida.
Meneghetti (2002) afirma que “o
homem, fundamentalmente, é unidade de
ação” (MENEGHETTI, 2002, p. 70). Esta
unidade é um “uno”, um núcleo, um “em
si”, um princípio. Para entender a unidade
pressupõe-se que exista um princípio que a
faz unida, um princípio gerador que
intenciona e mantém a individuação. Um
“em si” que é e que se especifica indiviso e
distinto, “aquilo que é”, denominado Em Si
ôntico. “Em Si porque é algo que está
consigo,
é
tudo
a
si
mesmo”
(MENEGHETTI, 1995, p. 12), ôntico
porque se refere ao “em si” do ser.
O Em Si ôntico contemporaneamente
é metafísico e histórico. “É o princípio
formal inteligente que faz autóctise
histórica”
(MENEGHETTI,
2001a).
“Possui faculdade de presenciar a
existência onde o ser se apela em três
momentos dialéticos: Em Si ôntico – Eu a
priori
–
Eu
lógico
histórico”
(MENEGHETTI, 2004, p. 217). O Eu a
priori é a informação virtual antes da ação
decisional e voluntária do Eu lógicohistórico. Porém, não é entendido como um
Eu fixo, mas sim, uma constante
direcionalidade, indicando a escolha otimal
em que o Eu pode agir a autorrealização
como identidade originária. O Eu lógicohistórico é o resultado da intencionalidade
do Em Si ôntico dirigindo o indivíduo à
autorrealização.
Do exposto até o momento, é
forçoso
abrirem-se
dois
conceitos
fundamentais para o processo de
personalização: identidade e responsabilidade.
Identidade significa: “aquilo que o ser
humano é neste lugar, o modo no qual o ser
é aqui” (MENEGHETTI, 2004, p. 35). No
período da juventude, em que o indivíduo
percebe a ampliação de seus horizontes, do
circunscrito familiar ao protagonismo
social, deve compreender que a sua
liberdade está condicionada à original
identidade. Pode fazer diversas escolhas,
ter inúmeras experiências, desde que não
traia o seu potencial de natureza. Caso o
jovem, em suas escolhas, se aproprie de
algo distônico à própria identidade, produz
anomalia individual e também social.
As escolhas, neste caso, são
entendidas como as possibilidades amplas
de posicionamento nos diferentes modos de
relacionamento, conduta, estilo de vida,
que vai desde sexo até amor, amizade,
cultura, modismo, etc. Nesse sentido, a
pedagogia
deve
estar
embasada
fundamentalmente em um despertar a
responsabilidade do ato de conhecer a
própria identidade, da qual deriva a
possibilidade de saber o que é útil e
funcional ao próprio projeto que se é.
Reconhecida a identidade, atua-se a
vocação ôntica por intermédio de contínuas
escolhas existenciais. Note-se, então, que o
ato de personalizar-se implica contínuas
escolhas, contínuos nascimentos do Eu.
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“Homem se nasce, pessoa se torna, porque
por trás do conceito de pessoa está
implícito
o
conceito
de
Eu”
(MENEGHETTI, 2001a, p. 177).
Assim sendo, o homem é
responsável por dar história à própria
“tensão a ser”. Porém, Meneghetti (2003a),
em sua obra, expõe que a maioria dos
jovens não reconhece o apelo ôntico que
constantemente os provoca a partir de sua
interioridade, adormecendo na norma
cotidiana. Perdido o endereço ôntico, a vida
é somente matéria.
Compreende-se então que a íntima
substância de toda pedagogia é auxiliar o
jovem a evoluir com responsabilidade.
Responsabilidade significa “a situação
psicológica na qual o sujeito é forçado a
responder existencialmente, juridicamente
ou moralmente” (MENEGHETTI, 2001a,
p. 148). A partir do momento que
existimos, não podemos evadir da
responsabilidade de existir. Mas existir de
que forma? Na forma como a própria
natureza projetou o homem, ou seja, na sua
original identidade.
Segundo Meneghetti (2003c), o Eu
não é dado, isto é, não existe um Em Si
ôntico que se desperta como uma estrutura
definitiva, porque a potencialidade virtual
expressa o sentido de devir e este implica
responsabilidade de autóctise histórica.
Autóctise histórica significa “saber ser fiéis
artesãos da projeção em ato, projetada pelo
Em Si ôntico” (MENEGHETTI, 2001a, p.
19).
A partir do “quanto se existe” e de
“como se existe”, o indivíduo é apelado a
responder. O “como se existe” é
condicionado ao estilo de vida, ou seja, ao
modo de colocar-se de forma racional,
artesanal, voluntária e cotidiana por meio
de constantes e coerentes pequenas
escolhas que permitem a formalização da
intuição.
Torna-se importante esclarecer o
que se entende por estilo de vida.
Percorrendo a psicologia clássica, Alfred
Adler (1956) dedicou seus estudos à análise
do estilo de vida do homem. Para ele, o
estilo de vida está estritamente relacionado
aos primeiros anos de vida, em que a
reação distintiva da criança em relação ao
social e ao próprio e natural sentimento de
inferioridade a leva a construir um modelo
de comportamento. Ela tende à superação
para alcançar e afirmar-se de maneira
superior e segura no ambiente circunstante.
Nesse sentido, o estilo de vida de um ser
humano é sua individualidade que se
exprime e se amolda em um determinado
ambiente. “Estilo de vida é uma unidade,
porque nasce das situações difíceis dos
primeiros anos de vida e do esforço no
sentido de um objetivo” (ADLER, 1956, p.
98).
Este sentimento de inferioridade
estimula ao movimento e à ação em que o
indivíduo tende a estruturar objetivos de
vida. O modo que cada um tenderá a
superação define o específico e exclusivo
estilo de vida de cada humano. Mas para
poder compreender o estilo de vida é
fundamental compreender as primeiras
impressões vividas e elaboradas na
primeira infância (4 a 5 anos de idade),
denominadas protótipos (ADLER, 1956).
Estas primeiras e principais impressões
tornam-se o centro do estilo de vida adulto.
Também para Meneghetti (2001b),
os estereótipos aprendidos desde a infância
por intermédio do aculturamento social
constituem-se a base de modelos de
comportamento, que com o passar dos anos
tornam-se hábitos. Quando estes se
enrijecem, impossibilitando o Eu de atuar
segundo a urgência interior (identidade
original) em interação ambiental, tem-se a
manutenção de um estilo de vida não
funcional.
Segundo Adler (1956):
Para a maioria das pessoas, o estilo de vida
jamais se modifica. A pessoa é sempre a
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mesma, com a mesma personalidade, a
mesma unidade (ADLER, 1956, p. 115).
Meneghetti (2009), ao analisar o
humano em sua profundidade e extensão,
constata um ‘eu fictício’ que interfere no
processo de conhecimento e vontade.
O homem experimenta um Eu que é reflexo
dos cânones comportamentais da infância
por quanto educado pelo ambiente familiar
e relativa sociedade. Por isso, o homem age
e reflete um Eu prótese, um Eu real para o
indivíduo, mas não conforme o Eu a priori
formalizado pela individuação de natureza.
Praticamente, temos dois Eus: Eu lógico
histórico prótese e Eu lógico a priori, ou o
essente individuado (MENEGHETTI,
2009, s/n).
Dessa situação, o homem tende à
fixação de modelos comportamentais,
experimentando a vida em repetições
constantes, evadindo-se da possibilidade de
evolução
integral
e
criatividade,
determinando, assim, a velhice precoce
(MENEGHETTI, 2004). Recordando o
conceito de jovem, anteriormente definido,
em que é necessário manter íntegro, vivo, o
potencial ôntico, a perda deste contato pelo
Eu lógico-histórico resulta na estabilização
de um ciclo biológico, isto é, na
manutenção de um estado de maturidade
fisiológica
(MENEGHETTI,
2004).
Segundo a Ontopsicologia, a verdadeira
evolução é a passagem do ciclo biológico a
uma dimensão da ação psíquica ou ciclo
psíquico.
O homem em ciclo biológico pesa de
maneira muito forte as questões afetiva,
sexual, possessiva, objetal. Na pessoa em
ciclo psíquico todas estas referências não
têm significado; isto é, o que importa é a
capacidade da mente ser livre de tudo isso
para exercitar uma função superior
(MENEGHETTI, 2004, p. 281-282).
O
homem,
segundo
a
Ontopsicologia, é de um modo, mas se
reconhece e age de outro. O inconsciente
existe enquanto não há contato entre o Eu e
o Em Si ôntico. O aculturamento social
estabiliza-se
em
comportamentos
voluntários, emocionais e intelectuais por
intermédio de hábitos que expressam um
modelo caracterial no estilo de vida do
sujeito.
A psicoterapia de autenticação
objetiva
a
refundação
crítica
da
consciência, até que esta se torne funcional
ao devir existencial do homem. Segundo
Meneghetti (2010):
A psicoterapia é personologia: fazer
psicoterapia é fazer-se pessoa e para este
dever é necessário um que saiba fazer ser
pessoa, segundo os critérios interiores ou
subjetivos da antropologia funcional do
humano (MENEGHETTI, 2010, p. 15).
A presença de um Eu lógicohistórico fictício justifica a necessidade da
psicoterapia ontopsicológica ou psicoterapia
de autenticação. Esta é a passagem
instrumental a um nascimento de Eu
autêntico. É uma escola de maturidade,
tendo como escopo fundamental a
reintegração do homem ao seu Em Si
ôntico, isto é:
Indicar como o homem é de fato (resultado
histórico); como deveria ser (projeto
segundo a natureza) e o que pode fazer para
tornar-se autêntico (conforme o projeto de
natureza) (MENEGHETTI, 2008b, p. 35).
Do homem autêntico, isto é, daquele
que possui capacidade de desenvolver-se
segundo a própria identidade original podese então entender o conceito de estilo de
vida segundo Meneghetti (2003b): “estilo
de vida é um modo de dar forma ao meu
potencial, é a economia estética no uso de
mim” (MENEGHETTI, 2003b, p. 181).
Nesse sentido, Meneghetti (2003b) acentua
a necessidade da formação por meio de
uma educação que estimule a vida
suscitando no indivíduo o sentido último à
vida do ser que possui. “A cultura deve ser
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de tal modo preparada que o jovem
constitua a partir dela, um estilo de vida, ou
melhor ainda, um estilo de poder pessoal”
(MENEGHETTI, 2003b, p. 181).
Em
seu
livro
“Pedagogia
Ontopsicologica”, Meneghetti (2007b)
sintetiza alguns pontos necessários ao
jovem com vontade de preparar-se à
liderança futura.
Estes pontos são atitudes do “Líder
Virtual” nos jovens: sacrifício continuado,
confronto orgânico no “ninho social”,
aprendizagem do que o faz superior,
capacidade de afrontar as contradições dos
outros e da vida, a ambição ao secreto
poder do Em Si ôntico, autóctise cotidiana
do próprio Eu lógico histórico, consciência
da preciosa unicidade do próprio existir se
confirmada pela progressiva realização
interior (MENEGHETTI, 2007b, p. 212).
Baseando-se nesses pressupostos,
neste artigo foram verificadas tais atitudes
por meio de cinco aspectos que
representam a unicidade do estilo de vida
dos jovens sob o enfoque da preparação à
liderança:
saúde;
social;
ambição;
profissional; e econômica.
3 Metodologia
Ao
trazer
os
fundamentos
filosóficos e psicológicos sobre o tema em
questão, torna-se necessário acrescentar
dados empíricos que evidenciem os
pressupostos da pedagogia ontopsicológica
para a formação da personalidade líder do
jovem. Este artigo baseou-se em dados
obtidos no estudo de Andreola (2003) com
atualização de alguns dados em 2010.
O escopo é demonstrar que a teoria
ontopsicológica, bem como seu método e
instrumentos
aplicados,
apresenta
resultados sólidos e competência para a
efetiva formação de jovens líderes. Nesta
pesquisa, analisou-se a aplicação do
instrumento de intervenção denominado
consultoria ou psicoterapia de autenticação
(MENEGHETTI, 2004).
No espaço deste artigo, optou-se por
apresentar sinteticamente os pontos mais
relevantes da pesquisa citada, os quais
expressam o objetivo deste trabalho e serão
organizados conforme o que segue.
O método de pesquisa utilizado é o
exploratório e descritivo, realizado com 40
jovens com idade entre 20 e 25 anos,
divididos em dois grupos: a) grupo
experimental denominado grupo A,
formado por 20 jovens em processo de
psicoterapia de autenticação pelo período
mínimo de seis meses; e b) grupo controle,
denominado grupo B, formado por 20
jovens
sem
conhecimento
da
Ontopsicologia e de seus instrumentos,
ambos constituídos por 60% do gênero
feminino e 40% do gênero masculino.
Todos residentes na região metropolitana
de Florianópolis, Estado de Santa Catarina,
Brasil.
Para a coleta de informações foi
utilizado um questionário semiestruturado,
elaborado pela pesquisadora para atender
os objetivos desta investigação. Com
relação à análise e tratamento dos dados,
utilizou-se análise comparativa entre os
grupos, análise de conteúdo e análise
onírica, segundo a ótica ontopsicológica.
Todos os dados foram avaliados segundo
cinco indicadores assim definidos: valor
saúde; valor social; valor ambição; valor
profissional; e valor econômico. Estes
cinco valores, avaliados conjuntamente,
foram definidos como representativos do
estilo de vida do jovem.
Os resultados obtidos foram
analisados
estatisticamente
pelo
levantamento das respostas e sua
organização em tabelas, que refletiam a
quantidade de respostas a cada uma das
perguntas do questionário e seu valor
percentual. O tratamento a essas questões
foi feito, na maior parte dos casos, por
meio do Teste Qui-quadrado, comparando-
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se os dados obtidos nos dois grupos, A e B,
proporcionando um nível de confiança
adequado para fundamentar discussões
sobre as diferenças e semelhanças entre os
grupos. Em relação à análise de conteúdo,
as questões abertas, que incitaram os
respondentes a discorrer sobre fatos,
escolhas, hierarquia de preferências e
inclinações pessoais, foram analisadas
depois de esmerada leitura de todas as
respostas, criando-se categorias que
possuíam o mesmo sentido conceitual.
Para a análise onírica procedeu-se
da seguinte forma: os sonhos relatados
foram submetidos à avaliação de três
psicólogos, conhecedores da teoria e da
aplicação do método ontopsicológico. Cada
psicólogo recebeu, juntamente com os 40
sonhos, um roteiro de orientações, a fim de
atribuir notas (de 0 a 10) aos cinco valores
(saúde, social, ambição, profissional e
econômico). Nestes sonhos era avaliada a
presença ou não de imagens que
demonstrassem resultados positivos para o
crescimento do sujeito. Este procedimento
teve a finalidade de validar a categorização
em valores e, quando dessa validação,
alcançar uma média das avaliações,
garantindo confiabilidade dos resultados
obtidos. Todos os símbolos evidenciados
nos sonhos foram classificados de acordo
com o significado que consta no Prontuário
Imagógico (MENEGHETTI, 1994).
4 Resultados da pesquisa empírica
Os dados da pesquisa sobre o estilo de
vida dos jovens e a correlação do
desenvolvimento do potencial de liderança
apontaram para resultados que estão
divididos em três itens: questionário
semiestruturado; análise quali-quantitativa
dos sonhos; e estudo comparativo com
grupo experimental.
A partir do questionário semiestruturado
analisado foram obtidos os resultados a
seguir:
4.1 Valor saúde
Definido, nesse caso, como a
expressão de um completo bem estar físico.
Neste aspecto, não se verificou diferenças
importantes entre os grupos. Em sua
maioria, não apresentaram histórico
significativo de acidentes, nem de doenças
psicossomáticas. Têm o hábito de dormir
em torno de oito horas diariamente e todos
praticam esportes.
Este dado expressa que os jovens
encontram-se todos em um estado de
sanidade biológica. Relevante salientar que
demonstraram uma espontaneidade com o
organismo e o ambiente ao manterem como
hábito em seu estilo de vida, a prática
esportiva. As principais atividades de lazer
indicadas pelos jovens dos dois grupos
foram: natação; caminhadas; dança;
ciclismo; mergulho; basquete; atletismo;
surfe, entre outros, ou seja, todos os
esportes que possibilitam um contato com a
natureza.
Meneghetti
(2007b)
em
Pedagogia Ontopsicológica, salienta a
necessidade da aprendizagem da criança
deste contato, possibilitando experiências
que enriqueçam e favoreçam a consciência
com o mundo natural. Estes jogos
possibilitam, por meio das interações
dialéticas, conscientizar e compreender o
egoísmo
individual,
favorecendo
a
confiança em si mesmo e a competência
com a sociabilidade.
4.2 Valor social
O valor social entendido como a
qualidade das relações sociais que o
jovem possui e o quanto é considerado
em seu ambiente, define algumas
diferenças entre os dois grupos, que
merecem consideração.
Este
aspecto
proporcionou
avaliar a consciência social e a atitude
participativa no contexto societário.
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Destaca-se a hierarquia de importância
dada pelos próprios jovens, em relação
às atividades realizadas no seu
cotidiano. Segue abaixo o gráfico com a
apresentação dos dados:
GRÁFICO 1 – Hierarquia de importância
das atividades realizadas no cotidiano
FONTE: Andreola (2003).
Uma significativa diferença foi
observada no quesito que se refere à
hierarquia de importância das atividades
realizadas cotidianamente. Entre os
jovens do Grupo A, a maioria
mencionou como ‘muito importante’
atividades como “estudar”, em primeiro
lugar, “organização dos próprios
pertences” em segundo, e “trabalhar” em
terceiro lugar. Para este mesmo quesito,
os jovens do Grupo B elegeram como
“muito importante” valores como
“conversar com amigos” em primeiro
lugar, “estudar” em segundo e “ler” e
“namorar” em terceiro lugar.
Se analisar o estilo de vida dos
jovens, com ênfase no aspecto de
desenvolvimento da personalidade líder,
sabe-se que é necessário dedicar-se
desde cedo à aprendizagem de técnicas
que
instrumentalizem
ações
de
liderança. Assim, as relações afetivas
são necessárias e válidas aos jovens,
porém, transitórias e relativas ao escopo
de interesse e utilidade social. Nesse
aspecto, os dados revelaram maior
aptidão de liderança nos jovens do grupo
A.
4.3 Valor da ambição
O valor ambição é compreendido
como a capacidade volitiva que o jovem
expressa (como deseja contribuir para a
ação existencial e social), e o
autoposicionamento
como
pessoa
responsável. É a expressão de seu
egoísmo funcional que instrumentaliza a
realidade em vantagem de si e do
contexto, portanto, é o exercício do
potencial ôntico. Sobre este item,
seguem os dados colhidos.
Neste item, muito embora os
jovens dos dois grupos tenham tomado
consciência da ambição de serem líderes
desde muito cedo, constatou-se algumas
diferenças significativas quanto à
percepção das prerrogativas para o
exercício do tornar-se líder.
Enquanto o Grupo A considera
que ter filhos é uma opção existencial
(90%), o Grupo B se manifesta em 65%
como condição para autorrealização.
Também sobre o casamento, os grupos
se manifestaram de forma diferenciada,
embora em menor escala. Neste caso, os
jovens do Grupo A o veem como opção
existencial e os do Grupo B, o
consideram como condição para a
autorrealização.
Na sequência, questionou-se
sobre quais seriam suas metas para o
futuro em um ano, 5 anos e 10 anos,
demonstrando resultados significativos
em termos de ambição. As principais
projeções dos jovens do grupo A,
referidas como metas de curto prazo (um
ano) referem-se a ampliação de
conhecimento técnico e cultural (50%),
liberdade financeira (30%) e desejo de
conclusão de curso de graduação (25%).
Os jovens do Grupo B, ao final do
mesmo período (um ano) pretendem “ser
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pessoas melhores” (25%), concluir a
graduação
(20%)
e
ampliar
conhecimento técnico e cultural (20%).
Para metas de 5 anos, os jovens
do Grupo A projetaram adquirir
independência financeira (35%) e
atuação profissional autônoma (30%).
Neste ponto, a ambição dos jovens do
Grupo B é menos ousada, pois 65%
deles pretendem ter titulação acadêmica
(graduação) e emprego, em 35%. O
Grupo A evidencia uma atitude de
empregabilidade.
Em 10 anos, os jovens do Grupo
A buscam: serem líderes (50%) e terem
destaque no campo de atuação
profissional (35%). Os do Grupo B
pretendem constituir família (45%),
além de estabilidade financeira (35%).
Além disso, é de se considerar
que enquanto os jovens do Grupo A, em
sua totalidade, realizam um processo de
autoconhecimento
por
meio
da
psicoterapia ontopsicológica, evidenciase que o Grupo B, em sua maioria, não
possui preocupação em conhecer seu
potencial
com
o
intuito
de
desenvolvimento criativo.
Ambição não é apenas vontade
de ser mais, mas está correlacionada ao
ato de vontade centrado na identidade
original do jovem. “O verdadeiro líder
não é aquele que diz ‘Eu quero mais
dinheiro’, mas aquele que tem vontade
de ser mais, de demonstrar mais e
ganhar mais” (MENEGHETTI, 2001d,
p. 155).
4.4 Valor Profissional
O valor profissional se refere ao
que o jovem efetivamente e atualmente
sabe fazer com qualidade, em termos de
atividade produtiva, incluindo para
análise aspectos como o domínio de
outros idiomas e habilidades técnicas.
A diferença dos dois grupos, A e B,
na síntese do valor profissional, é bastante
significativa, pois a maioria dos jovens do
Grupo A (55%) tem domínio em três
línguas contra 10% do Grupo B.
Perguntando-se aos jovens: “o que
você sabe fazer bem feito?”, obteve-se as
seguintes afirmações: o Grupo A responde
com 95% de domínio de habilidades
técnicas contra 35% do grupo B neste
quesito. O domínio de habilidades técnicas
indica um ponto crítico que é a capacidade
de
atuar
com
competência
e
competitividade no mundo globalizado. Os
resultados evidenciaram que o grupo A
possui uma diferenciada preparação ao
exercício profissional. O “saber fazer bem
feito”, segundo a Escola Ontopsicológica, é
à base da sustentabilidade econômica.
4.5 Valor Econômico
O valor econômico deve ser
entendido como o capital financeiro que
proporciona certa independência para
utilizar em treinamento e especialização do
capital profissional. Os aspectos analisados
foram: independência econômica; gestão
econômica na atualidade; e projetos
futuros. Segue a tabela com a exposição
das informações recolhidas.
Na síntese do valor econômico,
quando se discorre sobre a administração
financeira pessoal, ou seja, onde o jovem
comumente gasta seu dinheiro, aparece
uma significativa diferença entre os dois
grupos. O Grupo A investe em
autoconhecimento e formação técnica
cultural (100%), ao passo que o Grupo B
gasta em lazer (60%), deixando menor
parcela para investir em formação técnica
cultural (40%).
No quesito: “Se você ganhasse
muito dinheiro em que você investiria?”
verificou-se que, em referência à aplicação
financeira ideal, repete-se a diferença entre
os grupos. Os jovens do Grupo A
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respondem unanimamente que investiriam
em negócios (100%), e 70% em formação
profissional e pessoal (respostas com
múltiplas escolhas), enquanto os jovens do
Grupo B optariam por aquisição de bens
(45%) e investiriam em ações de
solidariedade (45%).
Meneghetti (2008a) define que as
características que qualificam a pessoa
líder, além do dom natural, residem nos
aspectos de domínio cultural (geral e
específico), transcendência dos estereótipos
(sexo, família, casamento, etc.) e
conhecimento
do
inconsciente.
A
autonomia financeira não está relacionada à
conta bancária, mas à capacidade e
consequente liberdade do exercício de ser
aquilo que se é. Do dever de ser autônomo
economicamente, obtém-se o direito de ser.
O não conhecimento de si mesmo, a
fixação em determinados modelos culturais
e a deficiência na formação técnico-cultural
tendem a determinar uma debilidade na
capacidade do jovem em enfrentar a vida.
Toda a inteligência e o potencial
percebidos na sua fase de ouro, dos 16 aos
25 anos, assim delimitada, são canalizados
em ações ao vazio se levar em conta a
funcionalidade à própria identidade, e, por
conseguinte, às frustrações, tendendo a se
estruturar em estilos de vida baseados em
modelos propostos pela sociedade.
Todas as estatísticas acima descritas
indicam e confirmam as diferenças no
estilo de vida que serão decisivas nas ações
de liderança na vida adulta.
4.6 Análise dos sonhos
Nesta sessão analisam-se os sonhos
relatados pelos pesquisados. Segundo a
Escola Ontopsicológica, o sonho é a
expressão da atualidade psicodinâmica do
sujeito. A partir desta análise, avaliou-se se
o jovem encontra-se em situação
responsável em relação à atuação do
potencial ôntico em ação existencial. As
imagens oníricas, teste de excelência na
análise e diagnose da interioridade do
sujeito, podem demonstrar se os
comportamentos verificados externamente
estão ou não coincidentes e reversíveis com
a interioridade do jovem analisado.
Para cada sonho foi realizada uma
quantificação em escores de 0 a 10, a partir
dos valores analisados e categorizados
(valor saúde, valor social, valor ambição,
valor econômico, valor profissional). A
partir desta quantificação individual
obtiveram-se as médias para demonstrar o
Estilo de Vida de cada grupo: Grupo A e
Grupo B.
A representação gráfica destes
valores é apresentada, neste trabalho, por
meio de um pentagrama, denominado
Pentagrama do Estilo de Vida. Neste
instrumento determinou-se que cada vértice
representa os valores médios de cada grupo
no valor pesquisado, sendo que os escores
numéricos atribuídos demonstram o nível
de desenvolvimento de cada grupo
analisado.
O escore máximo para cada vértice
ou valor analisado nos sonhos é 10 (dez) e
o mínimo é 0 (zero). Todavia, é importante
ressaltar que deve ocorrer certo equilíbrio
entre todos os vértices do pentagrama, ou
seja, não é fundamental que todos os
vértices apresentem escores 10, mas que os
vértices apresentem um equilíbrio entre as
partes. Este equilíbrio demonstra harmonia
no estilo de vida do jovem e
desenvolvimento do seu potencial de
liderança.
Nos gráficos 2, 3 e 4 é possível ter
uma visão geral dos aspectos investigados,
novamente comprovando as diferenças
alcançadas
entre
os
grupos,
em
complemento às informações obtidas no
questionário semi-estruturado.
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GRÁFICO 2: Pentagrama do Estilo de Vida do
Grupo A, segundo análise onírica.
GRÁFICO 3: Pentagrama do Estilo de Vida do
Grupo B, segundo análise onírica
GRÁFICO 4: Pentagrama do Estilo de Vida da
média das análises oníricas referentes aos Grupos A
eB
Na análise quantitativa dos sonhos,
avaliando
os
valores
considerados
relevantes como preditores para o sucesso
de liderança obteve-se média assim
distribuída: Grupo A no valor saúde, média
7; valor social, média 6; valor ambição,
média 6; valor profissional, média 4; e
valor econômico, média 3,5. Já no Grupo
B, o valor saúde apresentou média 4, valor
social média 2,5, valor ambição média 1,5,
valor profissional média 0,5 e valor
econômico média 0,1. Desses dados podese analisar que no Grupo A os jovens
apresentam-se saudáveis e ambiciosos. O
valor ambição é considerado como o mais
expressivo para medir a vontade do jovem
em
construir-se
como
autonomia
responsável. Quanto mais elevado for o seu
valor, maior a atitude do jovem
desenvolver-se no aspecto profissional e
econômico, demonstrando assim, maior
capacidade de formalização em direção ao
escopo de liderança, alvo desta pesquisa.
O Grupo A, em relação ao Grupo B,
possui um estilo de vida harmonioso, onde
o jovem em suas ações atua em todas as
áreas importantes para o crescimento
integral do indivíduo: da consciência da sua
identidade à consciência de utilidade
funcional ao social. No Grupo B,
evidencia-se uma desproporção destas
áreas (saúde, social, ambição, profissional e
econômica), pois os jovens deste grupo se
focam em atuação social, o que demonstra
uma adaptação aos modelos culturais,
ausentando-se de sua intimidade. O núcleo
central que se torna critério para constantes
escolhas no devir existencial em
crescimento,
segundo
a
Escola
Ontopsicológica, é o Em Si ôntico, o qual
se expressa também por meio da ambição.
Distanciado deste núcleo, perde-se o
critério
humanista,
incorrendo
em
adaptações e fixações à cultura de norma.
Por intermédio da análise onírica,
colhe-se a exata posição da diferença entre
os grupos, confirmando os dados
estatísticos obtidos no questionário
semiestruturado. Conclui-se, então, que o
dado subjetivo didaticamente analisado
com a metodologia ontopsicológica se
expressa em objetividade racional, o que
significa que, por meio da análise onírica,
tem-se a leitura da intencionalidade
psíquica na atualidade histórica. Exemplo
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prático desta afirmação encontra-se no
valor saúde, que enquanto analisado pelo
aspecto do questionário, demonstrava ser
idêntico em ambos os grupos, e quando
analisado pelo valor da imagem onírica,
apresentou diferenças importantes entre os
grupos.
Disso pode-se concluir que existem
diferenças significativas no estilo de vida
dos jovens em formação Ontopsicológica,
em relação àqueles que desconhecem a
Ontopsicologia. O Grupo A demonstra
interesse
em
desenvolvimento
na
autonomia pessoal e profissional em
constante treinamento a tal escopo. O
Grupo B tende a focalizar o interesse na
obtenção e manutenção de padrões de
segurança e proteção, priorizando relações
afetivas que proporcionam este status quo.
Esta diferença é expressão do processo de
psicoterapia ontopsicológica: conhecimento
do inconsciente e relativização dos
estereótipos, com crescente reforço da
identidade nativa.
4.7 Estudo
experimental
comparativo
com
grupo
Após sete anos da realização da
pesquisa anterior, decidiu-se atualizar
alguns dados dos jovens que se mantiveram
em formação ontopsicológica.
Do número de jovens pesquisados
em 2003 (n=20), atualmente 45% deles
(n=9)
permanecem
em
formação
ontopsicológica. A coleta dos dados foi
realizada por meio de entrevistas,
buscando-se focalizar a posição atual de
liderança e ação profissional e econômica,
comparando estes resultados com as
informações apresentadas em 2003. A faixa
etária dos jovens atualmente é de 27 a 31
anos de idade.
Quanto à situação acadêmica, em
2003 tinha-se um quadro de estudantes
universitários e recém-formados. Atualmente,
100% destes jovens são graduados, 77%
possuem titulação de especialistas e 11%
de mestres.
Quanto à atuação profissional, em
2003 o grupo era formado por estudantes,
estagiários
e trainees.
Atualmente,
constata-se que todos trabalham, e na
análise das funções, 55% desempenham
funções de sócios-gerentes e 45% de
gerentes, sendo que dos sócios-gestores,
50% acumulam mais de uma função.
Em relação à situação econômica,
em 2003, do grupo analisado, 55% possuía
independência financeira em até cinco
salários mínimos. Atualmente, sete anos
depois, encontra-se em posição de
autonomia e crescimento econômico, assim
distribuído: 33% ganham até dez salários
mínimos e 67% mais de dez salários
mínimos como renda pessoal.
Da
análise
destes
dados,
conjuntamente com as metas propostas em
2003 em relação ao que gostariam de
atingir em 10 anos, os relatos direcionavam
para atingir posições de liderança social,
bem
como
destaque
profissional.
Evidenciou-se que em sete anos foram
concretizadas de forma efetiva estas
expectativas.
No que concerne à atitude
profissional, observou-se nestes jovens um
padrão
que
segue
as
seguintes
características:
capacidade
produtiva;
competitividade
profissional;
empregabilidade,
que
geram
renda;
capacidade de empreendedorismo; e
desenvolvimento social. É relevante
acrescentar que para estes jovens, o
resultado econômico não representa apenas
um meio de liberdade financeira pessoal,
mas
também,
possibilidade
de
desenvolvimento social.
Disto, pode-se concluir que a
formação da personalidade líder do jovem
na ótica ontopsicológica proporciona um
efetivo exercício de liderança destacandose: desenvolvimento do potencial criativo
do jovem; capacidade de desenvolvimento
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econômico; e agente transformador social
com valores humanistas.
5 Considerações Finais
Neste artigo, demonstrou-se a
correlação entre estilo de vida do jovem e
desenvolvimento e atuação do seu potencial
de liderança, indicando a importância da
formação do jovem com aptidão a ser líder.
Tal formação objetiva estimular a afrontar
o
percurso
da
juventude
com
responsabilidade
e
coerência
no
desenvolvimento de sua vocação ôntica.
O líder nasce com potencial para
realizar mais, mas para poder ser função
social de evolução humanitária, ele
perpassa por uma dura e solitária
construção, desde a sua juventude, em um
tirocínio voluntário, enfrentando sacrifícios
que lapidam a sua originária decisão de ser.
Com a pesquisa, foi demonstrada a
validade da pedagogia ontopsicológica
aplicada aos jovens e por meio da
psicoterapia de autenticação, obteve-se
resultados que se canalizam em um estilo
de vida que auxilia no desenvolvimento do
líder virtual dos jovens. Este estilo de vida
se sintetiza nas seguintes atitudes: 1)
confronto orgânico com ambiente social e
de natureza, demonstrando sanidade
biológica;
2)
disponibilidade
ao
autoconhecimento; 3) disponibilidade ao
sacrifício continuado para aprendizagem
daquilo que o faz superior; 4) capacidade
de afrontar as contradições dos outros e da
vida, indicativos de uma maturidade social
e psicológica; 5) ambição ao secreto poder
do Em Si ôntico; 6) autóctise cotidiana do
próprio Eu lógico-histórico, baseada na
consciência da identidade original. Fio
condutor é a atitude de conhecer a si
mesmo, segundo o projeto de natureza e
não segundo a normotipia social, a fim de
desenvolver maturidade psicológica e
social na construção de um projeto de vida
vencedor.
Para
o
processo
de
autoconhecimento é fundamental uma
pedagogia adequada, fornecida pela
Ciência Ontopsicológica, autenticando os
valores humanistas dos jovens. A
consciência da preciosa unicidade do
próprio existir como homem inteligente é
confirmada pela progressiva realização
interior.
Muitos ignorantes podem viver a vida
porque não a conhecem e jamais poderão
conhecê-la, mas o universo para os
inteligentes é diferente, é algo sério, total.
A inteligência não se compra, é algo que
inerva o indivíduo na totalidade do
concreto: ou existe, ou não existe
(MENEGHETTI, 2004, p. 98).
É importante salientar que a
conquista do próprio primado é decorrência
de
experiências
em
investimentos
responsáveis, exigindo constante dedicação
e sacrifícios para evolução do potencial.
Tudo o que o jovem assimila em sua
formação, com o tempo pode tornar-se
maturidade psicológica e integrar sua
atuação
profissional
como
líder.
Experiências baseadas em um estilo de vida
autêntico propiciam aprender as lógicas
sociais e a lógica da vida, possibilitando a
transcendência dos estereótipos, utilizandose o jogo da dupla moral (pessoal e
societária).
Concluindo, a teoria ontopsicológica,
seu método e instrumentos aplicados
apresentam
resultados
sólidos
e
competência para efetiva formação do
jovem líder.
Meneghetti (2004), ao se referir à
psicoterapia de autenticação esclarece:
“para uma verdadeira evolução é necessário
autenticar os melhores, porque são eles os
constituintes
em
evolução”
(MENEGHETTI, 2004, p. 312). Neste
contexto, “os melhores” significa aqueles
jovens que possuem consciência de querer
ser mais como sujeitos (e não apenas
objetos) de vida e para a vida.
ANDREOLA, Maria T.; PETRY, Ana. Preditores de liderança no estilo de vida dos jovens da sociedade atual. Revista Saber Humano,
Recanto Maestro, n. 1, p. 76-90, fev. 2011.
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número 1 | fev. 2011
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ANDREOLA, M. T. O estilo de vida do
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_______. Psicologia Filosofia Società:
immagini e scriti di un pensiero. Roma:
Psicologica Editrice, 2010.
Autores:
Maria Tereza Andreola: psicóloga, consultora,
Especialização em Psicologia com abordagem em
Ontopsicologia (UESP); Especialização MBA em
Gestão de Negócios e Intuição (AMF).
Ana Maris Petry: consultora, professora da
Faculdade Antonio Meneghetti; Mestranda em
Filosofi (PUC-SP).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 21/12/2010.
ANDREOLA, Maria T.; PETRY, Ana. Preditores de liderança no estilo de vida dos jovens da sociedade atual. Revista Saber Humano,
Recanto Maestro, n. 1, p. 76-90, fev. 2011.
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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Desenvolvimento do jovem líder e
sustentabilidade
econômica-social-ambiental: um estudo de
caso da Lavanderia Acquachiara
Lilian Werner Philippi da Silva
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Soaria Schutel
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
[email protected]
Resumo: A pesquisa tem como objetivo demonstrar como a implementação de um novo
negócio em serviços de lavanderia pode contribuir para o desenvolvimento sustentável
e a formação do jovem. Com isto, pretende relatar o processo de implantação do
projeto; demonstrar como este projeto contribui para os 8 Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio; discorrer sobre a formação integral dos jovens no Centro
Internacional de Arte e Cultura Humanista Recanto Maestro e descrever como este
estimula e apoia o empreendedorismo. Por meio de revisão de literatura, pesquisou-se
os principais autores que abordam os temas de sustentabilidade e de que maneira
acontece a formação do jovem, e através do estudo de caso verificou-se de forma prática
como foi o passo a passo da implementação de um empreendimento de serviços de
lavanderia. Pode-se concluir que é recomendável para a empresa prever suas ações de
responsabilidade social desde o primeiro planejamento organizacional. Quanto à
formação da jovem gestora, percebe-se que essa se deu por meio da experiência prática
em um ramo de negócios até então por ela desconhecido e também, de forma muito
marcante, ao vivenciar o modelo de gestão desenvolvido no Recanto Maestro.
Palavras-chave: sustentabilidade; liderança; serviços.
Abstract: The research aims to demonstrate how to implement a new business on
laundry services can contribute to sustainable development and education of young.
With this, describe the process of implementing the project; demonstrate how this
project contributes to the eight Millennium Goals, discuss the formation of young
people at the International Center for Art and Humanist Culture – Recanto Maestro, and
describe how the Recanto Maestro encourages and supports entrepreneurship. Through
literature review, surveyed the main authors who address the issues of sustainability and
how the youth are being trained, and through the case study it was found as a practical
step by step implementation of an enterprise service laundry. It was concluded that the
company is recommended to provide their social responsibility since the first
organizational planning. As to the formation of the young manager, you realize that this
was done through practical experience in a line of business unknown and it also, quite
remarkable, when experiencing the management model developed at the Recanto
Maestro.
Keywords: sustainability; leadership; services.
SILVA, Lilian W. P. da; SCHUTEL, Soraia. Desenvolvimento do jovem líder e sustentabilidade econômica- social-ambiental: um estudo de
caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
91
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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1 Introdução
Este trabalho tem por objetivo
apresentar como uma lavanderia localizada
em área rural no interior do Rio Grande do
Sul (no Distrito Recanto Maestro,
localizado no município São João do
Polêsine-RS),
pode
funcionar
com
responsabilidade social. Vê-se aqui a
possibilidade de se abordar o termo
responsabilidade social porque este
empreendimento nasce sem visar apenas
finalidades econômicas, mas também
preocupado com a garantia de novos
empregos para a comunidade local, a oferta
de formação profissional para os
colaboradores contratados, o consumo de
insumos produzidos na região e a relação
otimal com o meio ambiente. Balizam a
responsabilidade social da empresa os
princípios e valores já presentes nas demais
empresas do Distrito Recanto Maestro, e
que são encontrados também na atividade
profissional da Lavanderia. São princípios
que permitiram ao Centro Internacional de
Arte e Cultura Humanista Recanto Maestro
obter reconhecimento, em 2007, por ser
uma iniciativa que contribui para o
atingimento
dos
8
Objetivos
de
Desenvolvimento
do
Milênio
da
Organização das Nações Unidas (ONU).
Estudando documentos relacionados
aos 8 ODM, tais como o Quarto Relatório
Nacional de Acompanhamento dos 8
ODM, publicado em abril de 2010 pelo
Governo Federal Brasileiro, percebe-se que
a Lavanderia contempla o 2º Objetivo, que
diz respeito à Universalizar a educação
primária - Educação básica de qualidade
para todos, e o 7º Objetivo, cujo enunciado
é Garantir a Sustentabilidade Ambiental.
A coerência com o 2º ODM se dá,
como mostrarão os próximos itens desse
artigo, tanto pela formação profissional da
jovem empreendedora responsável pelo
planejamento e administração de todo o
desenvolver da empresa, como pela futura
capacitação dos colaboradores que serão
contratados para atuar na Lavanderia.
Pretende-se que a capacitação não seja
apenas uma etapa inicial, para admissão
dos colaboradores, mas sim um constante
estímulo e fornecimento de meios para que
esses possam manter uma formação
contínua. O critério nessa contratação se
dá, principalmente, pela opção por mão-deobra local, auxiliando a ampliar assim a
perspectiva dos moradores da região em
relação à qualidade de vida e auxiliando no
combate ao êxodo rural.
Quanto à formação da jovem
empreendedora, essa segue o exemplo do
que é o perfil adotado no Projeto do Centro
Internacional de Arte e Cultura Humanista
Recanto Maestro e também na Faculdade
Antonio Meneghetti (AMF): a partir do
momento em que se tem um colaborador
que possa ampliar as próprias atividades
profissionais auxiliando a gerenciar um
serviço para o qual o Distrito possui
demanda, são possibilitados os meios e é
incentivado que o colaborador aprenda na
prática como se faz o negócio para o qual
se propôs.
Dessa
forma,
a
jovem
empreendedora se pôs em ação à realização
de uma série de atividades, desde setembro
de 2009, para poder dar início à
Lavanderia, tais como pesquisas sobre o
funcionamento desse ramo empresarial
(estudando tipos de serviços prestados,
maquinários e produtos necessários;
aspectos arquitetônicos demandados para o
prédio; formas de construção e de logística
de trabalho que causassem menos danos
ambientais; investimentos financeiros
necessários e leis pertinentes ao negócio);
realização de estágios em cinco lavanderías
em outros estados brasileiros com
diferentes perfis de atuação; envolvimento
na formatação da marca e identidade visual
da empresa; definição do público alvo e das
ferramentas de marketing para captação de
clientes; e planejamento das ações da
lavanderia voltadas ao desenvolvimento
das pessoas e da sociedade.
SILVA, Lilian W. P. da; SCHUTEL, Soraia. Desenvolvimento do jovem líder e sustentabilidade econômica- social-ambiental: um estudo de
caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
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Quanto aos aspectos financeiros, a
realização desse empreendimento foi
pensada por meio de um modelo de
financiamento já utilizado por outras
empresas do Distrito Recanto Maestro. As
empresas do Centro Internacional de Arte e
Cultura Humanista Recanto Maestro ao se
desenvolverem geram recursos e esses
recursos são investidos em novas empresas,
que abrem oportunidades para novos
empreendedores.
A partir do momento em que
administra a própria empresa, o novo
empreendedor também vai gerar recursos e
fornecê-los para criar novas oportunidades
de investimento em novas empresas,
formando,
assim,
um
ciclo
de
desenvolvimento. É possível observar,
portanto, que, apesar dessa iniciativa não
estar relacionada com a garantia de ensino
básico e de qualidade para todos, que é o
principal enunciado do 2º ODM, ela está
relacionada com a continuidade do
crescimento e formação do jovem ao
ingressar no mercado de trabalho, dando
portanto, um desfecho adequado para a
formação disponibilizada pelo 2º ODM.
Quanto à relação com o 7º ODM,
são explicitados nos próximos itens deste
artigo que toda a opção de maquinário
adotado para a Lavanderia e de tecnologias
para a construção do prédio estão de acordo
com a busca por um empreendimento
sustentável e ecologicamente correto. Da
mesma forma, procurou-se desde o início a
coerência com a legislação ambiental que
rege esse tipo de setor econômico, sendo a
primeira lavanderia ecologicamente correta
da região.
Desta forma o presente artigo tem
como objetivo geral: demonstrar como a
implementação de um novo negócio no
ramo de serviços pode contribuir para o
desenvolvimento sustentável e a formação
do jovem. E possui como objetivos
específicos: a) relatar o processo de
implantação do projeto; b) demonstrar
como este projeto contribui para os 8
ODM; c) discorrer sobre a formação
integral dos jovens no Recanto Maestro e
d) descrever como o Recanto Maestro
estimula e apoia o empreendedorismo.
2 Fundamentação Teórica
O projeto de responsabilidade social
da Lavanderia enfatiza dois fatores: o
primeiro é o desenvolvimento e a formação
do jovem (no caso, da empreendedora), e o
segundo é a sustentabilidade ambiental do
empreendimento. No que diz respeito a
esses aspectos, realizou-se uma pesquisa de
referencial teórico para embasar a
percepção que já se tinha, na prática,
quanto à aplicabilidade desses conceitos no
case da empresa recém-criada. Os
resultados
dessa
pesquisa
estão
relacionados a seguir.
Em um primeiro momento, se
buscou a definição do que era referido
teoricamente ao se falar em jovem. Para
tanto, apesar de não desconsiderar os
autores que se referem a essa etapa como
sendo uma faixa etária, considerou-se
também como um período de vida marcado
por determinadas características psíquicas.
Ao considerar dessa forma, a pesquisa vai
ao encontro do pensamento de Meneghetti
(2005): “jovem é quem têm integro o
potencial de poder dar evolução biológica,
funcional, estética, carismática e, portanto,
de
liderança
como
top
líder”
(MENEGHETTI, 2005, p. 343).
Considera-se relevante destacar
também esse perfil do jovem para poder
justificar a relevância do papel social que
ele exerce ao direcionar seu potencial em
empreendimentos profissionais. Quando
vitalidade e agilidade se reúnem à boa
vontade e capacidade técnica, a liderança é
catalisada em prol de benefícios sociais e
econômicos para a comunidade que o cerca
(SCHUTEL, 2006). Segundo Rocco
(2006), o potencial, a força e a inteligência
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caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
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de um jovem são uma enorme riqueza para
ele e para a sociedade, o jovem deve
aprender todos os instrumentos necessários
para se tornar autônomo.
Visualiza-se também que, por
vezes, é por meio de oportunidades práticas
de
exercitar
determinada
atividade
profissional que o jovem vai desenvolver
habilidades que ainda não adquiriu em sua
formação acadêmica. Tarefas simples do
dia-a-dia de uma empresa se tornam
verdadeiras lições na escola da vida para
que o jovem profissional comece, passo a
passo, a desenvolver a sua base de
conhecimento da área em que deseja atuar.
Esse saber prático é construído
também por meio do aspecto subjetivo de
ter que assumir o papel de líder. Ao se ver
no papel de um empreendedor, o jovem se
dá conta da sua capacidade de assumir
responsabilidades e de orientar outros
profissionais para que sigam todos rumo à
realização de um serviço ou produto. O
exercício dessa liderança permite ao jovem
educar sua personalidade para realizar o
que tantos pensadores da gestão
empresarial definem, de variadas formas,
como uma das tarefas mais complicadas e,
ao mesmo tempo, gratificantes para o ser
humano: a liderança.
Partindo desse princípio, pode-se
abordar também um segundo momento do
exercício da liderança: a capacidade de
motivar e levar seus colaboradores a fazer o
melhor pela empresa. Para Schein (1996), a
capacidade de liderar está amplamente
relacionada à motivação pessoal:
Muito se diz a respeito da visão dos
empresários, mas não o suficiente sobre a
incrível energia que demonstram ao tentar
uma abordagem após a outra, enfrentando
sucessivos fracassos em seus esforços para
iniciar uma empresa (SCHEIN, 1996, p.
83).
Considera-se
nesta
pesquisa,
portanto, que a liderança é uma peça chave
de negócios em qualquer área do mercado.
Para embasar essa prerrogativa, analisamos
que também na obra de Maslow (2000) é
possível identificar a orientação para a esse
sentido, conforme segue:
As pessoas que serão ótimos gerentes e
líderes irão não apenas incorporar as tarefas
técnicas como também compreender a
importância do lado humano da empresa
(MASLOW, 2000, p. 266).
Os resultados de uma liderança bem
exercida e que forneça a “energia”
necessária para o negócio, refletirão
seguindo a linha lógica aqui apresentada,
diretamente na qualidade do produto ou
serviço oferecido pela empresa. É o
otimismo e são os valores do empreendedor
que vão estar por trás do desempenho de
sua equipe na oferta do produto ou serviço
que ele se propõe a expor. Em Maslow
(2000), encontra-se novamente apoio:
O melhor de todo este novo negócio
gerencial é que de onde quer que você
comece, seja do ponto de vista do que é
melhor para o desenvolvimento pessoal das
pessoas ou do ponto de vista do que é
melhor para se obter lucro e bons produtos,
os resultados parecem os mesmos – o que é
bom para o desenvolvimento pessoal
também é bom para os nossos produtos
(MASLOW, 2000, p. 193).
Outro fruto do exercício de uma
liderança eficaz é também o acréscimo na
qualidade de vida dos colaboradores que
atuam na empresa. Ao se exporem a um
ambiente de trabalho harmônico e com
objetivos equilibrados, eles estarão
trabalhando, desenvolvendo aprendizado
contínuo e crescimento profissional e
humano. Neste ponto, percebe-se como
necessário retomar a obra de Meneghetti
(2008): “o verdadeiro líder é o momento
providencial do espírito no mundo, como
mão
de
auxílio
para
muitos”
(MENEGHETTI, 2008. p. 21).
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caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
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Percebe-se também um melhor
desempenho dos colaboradores e maior
qualidade de vida quando se vêem expostos
continuamente a tarefas que proponham
certo desafio e novidade ao seu dia.
Campos (1992), ao abordar o tema, ressalta
que para o conceito de crescimento do ser
humano se concretizar efetivamente, as
pessoas devem fazer sempre serviços de
valor agregado cada vez mais alto:
Maior valor agregado para as pessoas
significa trabalho no qual se escreve, fala,
ordena, mostra, instrui etc., ao invés de
mover, copiar, seguir, obedecer etc.
(CAMPOS, 1992, p. 155).
Importante notar que caberá
também ao empreendedor e às demais
lideranças que se forem estabelecendo em
sua empresa o compromisso de indicar aos
colaboradores as tarefas que deverão se
empenhar para realizar. O empreendedor
pode observar o perfil dos colaboradores
para melhor indicar-lhes o setor a trabalhar,
tomando assim um passo a mais em direção
ao sucesso.
É preciso, portanto, ver a empresa
não só como um instrumento de
produtividade e lucratividade. Percebê-la
como sendo sim um ponto de devir para o
empreendedor, mas também para os
colaboradores e a comunidade que dela
desfruta e a sociedade na qual essa empresa
está inserida. A multiplicidade de formas
nas quais se pode verificar os resultados do
desenvolvimento de um negócio é, para
Yoshimoto (1992), um dos bastiões que
sustentam a construção da mesma. Para ele:
O âmbito dos objetivos da empresa
compreende, além de objetivos econômicos
e financeiros, objetivos tecnológicos e
objetivos sociais, referente aos funcionários
e à sociedade na qual atua (YOSHIMOTO,
1992, p. 36).
O segundo ponto que tange à
responsabilidade social da Lavanderia está
também entre os resultados percebidos no
caminhar de um empreendimento planejado
levando em consideração a sociedade em
que está inserido: são as preocupações com
a sustentabilidade ambiental. No caso da
empresa abordada neste artigo, a
sustentabilidade ambiental é um objetivo
corporativo que está em nível de igualdade
com
finalidades
como
financeira,
tecnológica e social. O plano de negócios
da Lavanderia compõe-se assim num todo
constituído por aspectos econômicos,
sociais e ambientais de forma equânime.
A sustentabilidade ambiental é um
aspecto atualmente considerado também
como relevante para a longevidade da
própria empresa. Tanto é que, talvez,
possa-se dizer que é somente um primeiro
passo para o empresário o de se ater à
sustentabilidade ambiental. O segundo seria
o de atentar para a sustentabilidade como
um todo. Vê-se a importância de a
organização considerar diferentes âmbitos,
além dos ambientais, na construção de sua
sustentabilidade. São aspectos sociais,
educacionais, de parceria com a
comunidade e de preocupação com a saúde
da equipe. O todo da sustentabilidade
parece estar, inclusive, entre os segredos
das empresas longevas, conforme dispõe
Schein (1996):
As organizações que sobreviveram e
passaram por importantes transições
durante muitas décadas parecem sempre ter
sido um núcleo cultural basicamente
funcional – um compromisso com o
aprendizado
e
a
mudança;
um
compromisso com as pessoas e com todos
os grupos de interesse na organização,
englobando
clientes,
empregados,
fornecedores
e
acionistas;
e
um
compromisso com a construção de uma
organização saudável e flexível em
primeiro lugar (SCHEIN, 1996, p. 88).
Apesar dessa visão “utilitarista” dos
cuidados com o meio ambiente e com os
demais aspectos sociais para se preservar a
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caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
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longevidade da empresa, é inegável que os
resultados destes esforços sustentáveis
serão refletidos para a comunidade e o
planeta. No caso da lavanderia, um recurso
natural diretamente envolvido e que
poderia ser prejudicado é a água. Recurso
esse, tão essencial para a vida no planeta,
que está entre as preocupações-chave da
ONU e também ocupa papel central no
projeto ambiental da Lavanderia.
Abordar a importância da água é
essencial em um país que, tem entre suas
principais riquezas naturais justamente os
recursos hídricos. Recursos esses que,
conforme anunciam especialistas se tornam
cada vez mais valorizados no mundo
contemporâneo. Righes (2009) aborda o
tema para lembrar que especialistas
consideram a água como uma verdadeira
fonte de problemas futuros.
Segundo relatório ambiental da
ONU, em 2000, o consumo de água quase
quadruplicou desde 1940. Assim a escassez
de água poderá constituir uma emergência
mundial, já que o ciclo hidrológico parece
incapaz de acompanhar as demandas das
próximas décadas (RIGHES, 2009).
Em um país de amplos recursos
naturais, mas que, ao mesmo tempo,
conhece os riscos do desmatamento e dos
maus tratos para com o meio ambiente, é
preciso tomar especial cuidado em não
destruir a natureza em prol do
desenvolvimento econômico de uma
região. Garcia (1992) afirma que os
objetivos de crescimento e de defesa da
ecologia são indissociáveis:
Constituem-se,
ambos,
necessidades
imperativas do nosso tempo, já não
podendo ser vistas sob a falsa perspectiva
da mútua exclusão (GARCIA, 1992, p. 18).
Também para o Brasil, os cuidados
com o meio ambiente vão refletir
diretamente em benefícios econômicos e
um crescimento social longevo.
A
sustentabilidade
ambiental,
segundo Fortes (1992), está inerente ao
próprio conceito de desenvolvimento
econômico.
O desenvolvimento sustentável é a
resposta, pois constitui uma visão que parte
da premissa de que o desenvolvimento
representa a condição básica para uma
utilização sustentada dos recursos naturais
(FORTES, 1992, p. 62).
É importante ressaltar que, ao
exercer uma atividade ecologicamente
correta, a empresa dá o exemplo e ensina a
seus colaboradores e a comunidade local
que
é
possível
desenvolver-se
economicamente sem descuidar do meio
ambiente que os cerca. Abrange assim um
aspecto a mais do conceito de
sustentabilidade, aqui visto como também
sendo constituído pelos esforços em prol da
educação ambiental de todos.
Educação ambiental essa que se faz
importante não somente para crianças e
jovens estudantes, como também, para
adultos que precisam retomar sua
consciência do papel que desempenham
junto ao meio ambiente, e de que uma
mudança de hábitos em relação ao habitat
natural da humanidade é necessária.
Jacobi (2003) lembra que a
educação ambiental vai auxiliar na
formação de cidadãos mais conscientes.
Segundo ele:
A educação ambiental, como componente
de uma cidadania abrangente, está ligada a
uma nova forma de relação ser
humano/natureza, e a sua dimensão
cotidiana leva a pensá-la como somatório
de práticas (JACOBI, 2003, p. 200).
A sustentabilidade de forma geral é
demonstrada nesta pesquisa como uma
tarefa perene que persiste por tempo tão
longo quanto for aquele da vida da
empresa.
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caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
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3 Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida em
forma de estudo de caso que segundo Gil
(2008):
Consiste no estudo profundo e exaustivo de
um ou poucos objetos, de maneira que
permita
seu
amplo
e
detalhado
conhecimento (...), e revisão bibliográfica é
desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos (GIL, 2008, p.
44;54).
Através desta metófica verificou-se
de forma prática como foi o passo a passo
da implementação de um empreendimento
de serviços de lavanderia.
4 Análise dos resultados
As
etapas
realizadas
para
implementação do empreendimento da
Lavanderia foram de extrema importância
para
o
crescimento
da
jovem
empreendedora, pois ao realizar cada passo
esta pode apropriar-se de uma série de
novos conhecimentos sobre o tema da
gestão e do empreendedorismo e também
se dar conta da necessidade de ir em busca
de teorias que embasassem as ações e o
planejamento que precisou realizar para
concretização de seu projeto.
1º Passo: Visita do consultor técnico em
abertura de lavanderias
Pode-se dizer que a implementação
da Lavanderia iniciou, efetivamente, em
setembro de 2009, com o convite para
vinda de um consultor técnico em abertura
de lavanderias que lecionou sobre o tema
indicado. Em encontros expositivos, esse
especialista forneceu diversas informações
que foram a base para que se pudesse
estruturar a série de passos que viriam na
sequência, tendo como finalidade a
abertura desse negócio. Foram abordados,
nas aulas, temas tais como: a) tipos de
máquinas e novas tecnologias no mercado
(máquinas que não agredissem o meio
ambiente); b) produtos químicos utilizados
nos processos; c) quantidade de roupas
processadas por dia; d) sugestões de fluxo
interno da lavanderia; e) métodos para
reaproveitamento de água; f) processos
internos (tais como recepção e identificação
das peças, separação por modo de lavagem
e secagem, passadoria, consolidação das
roupas e entrega ao cliente); g) fluxograma,
etc.
Um ponto de destaque da
consultoria foi que ela possibilitou a
empreendedora o primeiro contato com a
descrição do maquinário que utiliza o
Sistema WetCleaning1. Ao final do período
de consultoria, as lições forneceram
subsídios
suficientes
para que a
empreendedora definisse que esse seria o
tipo de maquinário adotado, pois, dentre as
opções apresentadas, era o que estava mais
alinhado a um dos principais focos da
administração
da
lavanderia:
a
sustentabilidade ambiental.
2º Passo: fornecedores dos maquinários
A pesquisa com os diversos
fabricantes de máquinas que utilizam o
Sistema WetCleaning foi realizada visando
a melhor relação custo benefício para a
empresa, mas também a compra de um
equipamento que seguisse integralmente a
meta de sustentabilidade ambiental
desejada, ou seja, a completa não utilização
de solventes. Definiu-se, assim, a compra
do equipamento fornecido por uma
empresa espanhola com anos de
experiência na fabricação de máquinas para
lavanderias.
1
Máquinas que lavam com água todos os tipos de
roupas sem necessitar do uso de solventes, em um
processo que se assemelha ao da lavagem a seco.
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3º Passo: Construção do prédio
Foram realizados orçamentos com
diversas construtoras da região na qual está
situado o terreno alocado para edificação
do empreendimento. Novamente, os
critérios adotados para escolha da empresa
que prestaria esse serviço foram o
fornecimento da melhor relação custo
benefício e a existência de critérios de
cuidados com o meio ambiente no decorrer
da obra. Após o levantamento de vários
orçamentos e a apuração de informações
junto aos gestores das empresas
consultadas quanto aos métodos por eles
utilizados em suas obras, foi escolhida uma
construtora sediada na Região da Quarta
Colônia de Imigração Italiana do Rio
Grande do Sul – que é composta por nove
municípios, entre eles, São João do
Polêsine, onde é sediada a Lavanderia –
para dar início a obra.
A construção iniciou seguindo o
projeto arquitetônico desenhado nos
moldes ecobiológicos que são adotados no
Distrito Recanto Maestro. O conceito de
ecobiologia determina um tipo de
construção em que se vê o foco no bem
estar do ser humano, alinhado ao máximo
grau possível de preservação do meio
ambiente e também a um padrão estético
que não destoe do restante da paisagem,
sendo um conceito apresentado na obra de
MENEGHETTI (2006).
Durante a construção do prédio, a
empreendedora
realizou
visitas
de
acompanhamento à obra com periodicidade
diária, tornando-se assim responsável
também por algumas decisões importantes
quanto ao caráter estrutural do edifício.
Dentre essas decisões, estavam: definição
da posição e do tipo de tubulações que
melhor se adequam às especificações de
cada equipamento; determinação do local
para a Estação de Tratamento de Efluentes;
escolha das luminárias a serem instaladas e
definição do layout da área externa do
edifício (composta por calçadas, rampa de
acesso para os clientes, placa de
identificação do empreendimento com a
logotipagem
previamente
definida,
paisagismo, etc.).
O acompanhamento desses aspectos
se deu de forma que a empreendedora pode
se apropriar do projeto e obter maior
motivação para o crescimento profissional
ao ter um envolvimento global com o
negócio escolhido. Essas percepções foram
constatadas pela empreendedora como
sendo aspectos essenciais para a sua visão
futura da Lavanderia. Percebeu-se também
que, com este acompanhamento, será mais
fácil, no futuro, o entendimento da gestora
quanto aos diferentes momentos de decisão
que deverá enfrentar, tendo em vista que
conhecerá esse empreendimento a fundo,
desde seu início.
4º Passo: Estação de tratamento de
efluente
A estação de tratamento deveria,
segundo as pesquisas realizadas pela
empreendedora, atender a dois requisitos
básicos: 1) relação custo-benefício positiva
para a empresa; 2) adoção de um sistema
de funcionamento que permita a
reutilização em 100%, da água utilizada na
lavação.
Foram pesquisadas, por meio de
mídias como Internet (websites específicos)
e catálogos impressos, além do contato com
gerentes de outras lavanderias, diversas
formas de estações de tratamento de
efluentes fornecidas por empresas de todo o
Brasil. Constatou-se que somente uma
empresa catarinense apresentava os dois
requisitos
pré-estabelecidos
pela
Lavanderia. Esse foi, portanto, o
fornecedor da estação de tratamento de
efluentes escolhido pela empresa.
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5º Passo: Estágio in loco
A empreendedora preocupou-se em
vivenciar in loco o dia-a-dia de
funcionamento de empresas do ramo de
atuação que escolheu. A amostragem
utilizada foi de cinco empresas, sendo
quatro delas sediadas no município de
Florianópolis-SC, e outra no maior centro
empresarial do país, São Paulo-SP.
O município de Florianópolis foi
privilegiado pela pesquisadora porque essa
é natural da cidade e possui ali contato de
uma empresa de consultoria em legislação
ambiental e saúde do trabalho que pode
indicar lavanderias que seriam um
considerável lócus para experimentação do
meio empresarial de lavanderias. O tempo
de permanência em cada uma das cinco
empresas foi variado. O critério adotado
era, basicamente, a diversidade dos
serviços oferecidos pela empresa e a
abertura que a pesquisadora conquistava
em cada um desses empreendimentos para
atuar nas diferentes funções da hierarquia
organizacional.
O maior tempo de estágio
empreendido foram 20 dias em lavanderia
da cidade de Florianópolis, que se destaca
no mercado local por ser ecobiológica em
sua produção. Foi ali que a empreendedora
aprendeu modelos e obteve experiências
valiosas quanto aos desafios e limites de
um negócio ambientalmente sustentável.
Apesar dessa experiência de
destaque, não é possível desmerecer os
demais estágios não remunerados exercidos
pela empreendedora. Em cada um deles,
era apropriado um conhecimento a mais
quanto à rotina de trabalho de uma
lavanderia. A experiência prática de
vivências no ramo rendeu, portanto, alguns
aprendizados chave, tais como: forma de
dar entrada na roupa entregue para lavação
e práticas de atendimento ao cliente;
organização das peças de forma a
identificar as roupas de cada cliente;
procedimentos adotados para lavagem de
cada tipo de peças; técnicas de secagem
adequadas para cada tipo de peças (por ex.:
varal, secadora, sombra ou exposição ao
sol); regras de passadoria (critérios como
temperatura do ferro, usar ou não sapata e
que tipos de roupas adquirem brilho ao
serem passadas); etapas do processo de
consolidação da peça (se refere à forma de
embalar a roupa quando a mesma está
pronta), e, por último, a entrega do produto
pronto ao cliente.
A percepção da empreendedora
quanto a essa experiência de campo obtida
com os estágios foi, portanto, como sendo
de caráter essencial por ampliar as
percepções do negócio no que diz respeito
a permitir uma real visualização de como
seria o dia-a-dia da Lavanderia ao imaginar
os processos e técnicas que observou nas
cinco empresas visitadas, para serem
aplicados no contexto de seu próprio
negócio.
Por meio de comparação entre as
observações tomadas nas cinco lavanderias
visitadas, pode concluir como funciona
todo o fluxo da lavanderia (desde a entrada
da roupa até a entrega da mesma para o
cliente), e o que pode ser feito para
aprimorar os próprios serviços. Vê-se como
importante destacar também que o trabalho
in loco contribui para o desenvolvimento
do senso de humildade da jovem
empreendedora.
Ao realizar esses estágios, colocouse no papel de aprendiz tendo como
mestres, por vezes, profissionais sem
elevado grau de escolarização, mas com
grande conhecimento prático do dia-a-dia
de lavanderias.
6º Passo: Abertura da empresa
Esta etapa compreende todos os
procedimentos
burocrático-legais
essenciais para o início formal do
empreendimento. Fazem parte desses
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procedimentos burocráticos, entre outros, o
contrato social, a integralização do capital,
a escolha da razão social, a escolha do tipo
de empresa e as providências para emissão
do alvará de funcionamento. Toda a parte
legal e fiscal para a abertura da empresa foi
também gerenciada pela empreendedora.
De tal experiência, pode obter,
além do conhecimento sobre o que é abrir
uma empresa, também a noção de vínculo
com o poder público que significa a
abertura de um negócio e, por
consequência, a responsabilidade social
nele envolvida, pois se admite que ao gerar
um negócio que faz parte da economia
produtiva do país se traz benefícios não só
para o empreendedor, para o próprio
negócio, bem como, para toda a sociedade
que o cerca.
7º Passo: Legislação trabalhista
Após abertura da empresa, foi
preciso procurar informações sobre todas as
leis
trabalhistas
que
regem
o
funcionamento de uma empresa neste ramo
de atuação. Era necessário, assim, se
inteirar quanto à forma como é feita a
contratação de colaboradores e verificar
quais as obrigações contratuais da empresa
perante o colaborador.
Dentre essas, destacamos algumas
que exigiram da empreendedora especial
atenção e a aquisição de um conhecimento
até então não acumulado: redação do
contrato de trabalho; piso salarial a ser
adotado; bonificações a serem concedidas;
descontos tributários que precisam constar
da folha de pagamentos; valores de vale
transporte e alimentação; regulamentação
do período de férias e do 13º salário;
insalubridade, periculosidade e todas as leis
de segurança e saúde.
É importante ressaltar ainda que a
empreendedora procurou, nesse ponto,
consultar
bibliografia
referente
e
especialistas acerca dos procedimentos
práticos de seleção de recursos humanos.
Em um passo seguinte, iniciou o processo
de recrutamento e seleção, entrevistando
pessoas que se candidataram às vagas
disponíveis na Lavanderia. Destacam-se
como desafios nessa tarefa a observação,
durante a entrevista de aspectos como
perfil, modo de falar, características
principais de personalidade e experiências
profissionais que o candidato já teve.
8º Passo: Compras
A escolha dos produtos químicos
levou em conta a necessidade de se
encontrar um produto biodegradável que
atendesse da melhor forma possível às
requisições técnicas do equipamento
utilizado (por exemplo, formas de uso,
quantidade utilizada em cada processo e
equivalência com a ficha técnica de cada
produto).
Já os acessórios foram escolhidos
tendo em vista a questão da praticidade de
uso e da estética que garantem ao
acabamento final da peça no momento da
entrega.
Em ambas as situações, foi também
utilizado como critério, assim como nos
momentos anteriores, a melhor relação
custo-benefício para a empresa. Essa
condição, porém, não superou em
importância a observação de quais produtos
químicos e quais acessórios garantiriam à
lavanderia a prestação de serviço de alta
qualidade, com diferencial competitivo em
relação ao que se vê no mercado local e
servindo aos consumidores de forma a
auxiliar no acréscimo de sua qualidade de
vida.
9º Passo: Licenciamento ambiental
Considera-se que o licenciamento
ambiental do empreendimento merece ser
tratado como um passo a parte. Tal
perspectiva se dá porque o licenciamento é
SILVA, Lilian W. P. da; SCHUTEL, Soraia. Desenvolvimento do jovem líder e sustentabilidade econômica-social-ambiental: um estudo de
caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
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fator fundamental para o funcionamento da
lavanderia ao certificar, perante o poder
público e a sociedade e utilizando normas
estabelecidas como padrões, que a empresa
está realizando os seus processos e serviços
em conformidade com o meio ambiente.
Sendo esse um empreendimento
que, desde sua idealização, foi pensado
para estar de acordo com o 7º ODM –
Garantir a sustentabilidade ambiental – tal
etapa do licenciamento ambiental é vista
como um real marco histórico. Para
obtenção do licenciamento, foi preciso a
empreendedora conhecer a legislação
ambiental; relacionar documentos de
identificação da fauna e flora existentes na
região do Distrito Recanto Maestro;
verificar localização via GPS2 desse;
descrever de forma pormenorizada os
maquinários e produtos químicos utilizados
nos processos; e apresentar a forma como
os efluentes do processo produtivo são
tratados e a maneira de descarte dos
resíduos gerados pela Estação de
Tratamento de Efluentes.
Vencidas todas essas etapas, foi
feita pelo órgão pertinente, a verificação
dos documentos entregues e, tendo em vista
o aceite dos mesmos, foi outorgado para a
Lavanderia o licenciamento ambiental. O
licenciamento comprova, portanto, que a
empresa está contribuindo para a
sustentabilidade ambiental e social no que
diz respeito a todo o seu processo
produtivo.
Cabe ressaltar que foi preciso à
jovem empreendedora enxergar com
clareza a oportunidade de construir uma
base econômica para si ao empenhar seu
tempo e esforços profissionais no
desenvolver do projeto dessa Lavanderia.
Com humildade, construiu, passo a passo, o
conhecimento técnico para alcançar sua
meta empresarial. Porém, a atuação desta
empreendedora só foi possível graças ao
modelo de gestão adotado no Centro
Internacional de Arte e Cultura Humanista
Recanto Maestro. O modelo de gestão
desse Distrito tem, entre seus preceitos, a
formação de jovens, pois se percebe a
necessidade de estimular o empreendedorismo
entre jovens no Brasil.
A competitividade acirrada no atual
mercado de trabalho, por vezes, dificulta o
ingresso dos profissionais mais novos e
sem experiência em grandes empresas.
Também,
o
dar
início
a
um
empreendimento próprio requer recursos
financeiros cuja falta, por vezes, inviabiliza
a realização de um sonho.
5 Considerações Finais
No Centro Internacional de Arte e
Cultura Humanista Recanto Maestro, o
aspecto financeiro é solucionado da
seguinte forma: os investidores que atuam
empresarialmente no Distrito destinam uma
parte de seus proventos para a criação de
novas empresas e novos postos de trabalho.
Assim, o Distrito cresce de modo cíclico e
sustentável.
Para apoiar o andamento de todas as
empresas nele sediadas, o Recanto Maestro
cultiva ainda uma rede de consultores
técnicos que prestam serviços a todos os
empresários, sendo esta composta por
profissionais como advogados, contadores
e arquitetos. No caso específico da
montagem da Lavanderia foi acionado
também o auxílio de uma consultora
especializada nos campos do Direito
Ambiental, Saúde e Medicina do Trabalho
e da Conformidade de empresas com as
normas e ISO’s3 de padrão de qualidade.
Essa consultora é também uma profissional
que já realiza atividades no Recanto
Maestro e apoiadora de diferentes projetos
nele realizados. O apoio dessa rede de
consultores, bem como o aporte financeiro
3
2
GPS: Global Positioning System.
ISO: International Organization for
Standardization.
SILVA, Lilian W. P. da; SCHUTEL, Soraia. Desenvolvimento do jovem líder e sustentabilidade econômica-social-ambiental: um estudo de
caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
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prestado por outros empreendedores do
Recanto
Maestro
demonstraram-se
essenciais para o sucesso do início do
empreendimento da Lavanderia.
Portanto, percebeu-se que é
recomendável para a empresa prever suas
ações de responsabilidade social desde o
primeiro planejamento organizacional.
Conforme visto ao longo deste artigo, no
caso do projeto da Lavanderia, o
planejamento antecipado fez com que as
ações de responsabilidade social se
tornassem parte integrante de cada passo
tomado
na
montagem
desse
estabelecimento de serviços.
A adoção programada das ações de
responsabilidade social permite também
que, ainda nos primeiros meses ou anos de
funcionamento
da
empresa,
essas
iniciativas sejam ampliadas atuando em
outras frentes. No caso da Lavanderia, um
próximo passo está previsto com a
instalação de placas fotovoltaicas4.
Ao
planejar
ações
de
responsabilidade social e observar a
legislação pertinente a seu campo de
atuação, a empresa acaba prevenindo-se
também de futuros problemas que podem
vir a ocorrer por desconhecimento de
alguma norma ou até mesmo falta de
motivação da equipe que não vê a
corporação como organismo preocupado
com a sociedade em que está inserida. É
possível, ainda, falar nos benefícios que a
responsabilidade social traz para o próprio
desempenho da empresa, tais como fatores
econômicos, sociais, qualidade de vida para
o empreendedor, colaboradores e a
sociedade como um todo.
A ideia de referenciar neste trabalho
os 8 Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio estabelecidos pela ONU advém,
como já foi dito, da utilização que a
Lavanderia irá fazer dessas metas como
guias para o desenvolvimento de sua
4
A energia solar fotovoltaica é a energia elétrica
que se obtém diretamente do sol.
responsabilidade social. Com a aplicação
dos ODM no dia-a-dia empresarial,
percebeu-se que a responsabilidade social
corporativa deve ser planejada com base
em um panorama de ações que estão sendo
desenvolvidas a nível nacional e
internacional. Tal afirmativa se dá porque,
dessa forma, o empreendedor pode
verificar como sua empresa pode ou já está
contribuindo para os 8 ODM.
Ao
relacionar
às
ações
desempenhadas pela empresa aos 8 ODM,
a empreendedora percebeu que essa
Lavanderia beneficiará, principalmente,
dois objetivos conforme já citado. Serve
como modelo para o setor privado e
demonstra que esse pode auxiliar
amplamente a formação de jovens para o
mercado de trabalho e a preservação da
sustentabilidade ambiental.
Ao estudar documentos como o 4º
Relatório Nacional de Acompanhamento
dos ODM, a empreendedora concluiu ainda
que, se pudesse adicionar uma colaboração
à lista de ODMs, seria a de que se criasse
um objetivo em que estivesse claramente
dita a dedicação à formação de jovens
líderes5. Até porque, é notória a crise
internacional que se dá entre os jovens já
formados no ensino superior em busca do
primeiro emprego, ou as dificuldades de
jovens que ainda não entraram no mercado
de trabalho em atestarem a experiência
profissional exigida em muitas vagas.
Quanto
à
sustentabilidade
ambiental, conclui-se que é preciso
considerar os recursos naturais como
verdadeiras partes do “ativo da empresa”.
5
Draª Pamela Bernabei. Informação verbal de
aula/curso. Data: 02 a 04 de abril de 2010, no
Módulo Optativo do MBA – O Empreendedor e a
Cultura Humanista, intitulado “Crises planetárias:
soluções para os Objetivos do Milênio (ODM)
propostos pela ONU e pela Escola de Formação
Ontopsicológica”, ministrado pelos professores Drª
Hanifa Mezoui, Dr. François Loriot e Drª Pamela
Bernabei, Faculdade Antonio Meneghetti (AMF).
SILVA, Lilian W. P. da; SCHUTEL, Soraia. Desenvolvimento do jovem líder e sustentabilidade econômica-social-ambiental: um estudo de
caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
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A partir do momento que essa prioriza as
questões ambientais, é implícito o ganho
para todos de maneira global, em aspectos
tais como: ganho econômico, respeito e
orgulho da sociedade perante o negócio,
exemplo para outras empresas, mudança
cultural da sociedade e uma melhor
qualidade de vida.
Quanto à formação da jovem
gestora, percebe-se que essa se deu por
meio da experiência prática em um ramo de
negócios até então por ela desconhecido e
também, de forma muito marcante, ao
vivenciar o modelo de gestão desenvolvido
no Recanto Maestro. Esse desenvolvimento
foi apoiado pelo suporte financeiro
oferecido por outros empresários que
investem no crescimento do Distrito. As
dúvidas e passos da criação do
empreendimento puderam ser discutidas
com uma rede de consultores técnicos
mantida pelo Recanto Maestro para uso de
todas as suas empresas. Foi por meio da
troca de experiências com os empresários
apoiadores do seu projeto, com os
consultores técnicos e com todos os que
trabalharam para o nascimento da
Lavanderia, que a empreendedora foi
fundamentando as ações a serem tomadas
no caminhar de seu novo empreendimento.
Desta forma, fica evidente que os 8
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
são
metas
essenciais
para
o
desenvolvimento da sociedade, pois
identificam o ser humano, a sociedade e os
recursos naturais como um conjunto
integrado, onde cada objetivo tem um
escopo específico, mas que integralizando
as ações de todos o objetivos se obtém a
harmonia do todo (ser humano, sociedade e
meio-ambiente).
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Autores:
Lilian
Werner
Philippi
da
Silva:
empreendedora/administradora,
graduação
em
Turismo-Gestão Hoteleira (UNISUL), graduanda
em Administração (AMF), Especialista em Gestão
de Negócios e Intuição (AMF).
Soraia Schutel: administradora, professora da
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF); Mestre em
Administração
(UFSM);
doutoranda
em
Administração (UFRGS).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 20/12/2010.
SILVA, Lilian W. P. da; SCHUTEL, Soraia. Desenvolvimento do jovem líder e sustentabilidade econômica-social-ambiental: um estudo de
caso da Lavanderia Acquachiara. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 91-104, fev. 2011.
Revista Saber Humano
número 1 | fev. 2011
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Residence de Autenticação: relação entre
conceituação e exercício do autossustento
em jovens
Ana Paula Mariano Pregadier
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Josiane Beatriz Piccin Barbieri
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
[email protected]
Resumo: Este trabalho é o produto de uma pesquisa realizada com jovens abordando o
tema autossustento. Teve como objetivo identificar a relação entre a compreensão dos
jovens sobre o autossustento e a suas atitudes práticas entre aqueles que participam do
Residence de Autenticação e aqueles que nunca tiveram esta vivência. O problema de
pesquisa centrou-se na investigação do Residence de Autenticação como elemento
facilitador e funcional, para o jovem, na conquista do autossustento. O Residence de
Autenticação é um instrumento de intervenção da Escola Ontopsicológica, que consiste
em um estágio full immersion, dirigido a grupos com diversificados interesses, de
duração de três a sete dias, período no qual é realizada uma revisão crítica da
consciência dos participantes. É composto por atividades práticas (visam evitar a
dissociação entre fazer e pensar), metanoia interior (ação de reconduzir o sujeito a sua
intencionalidade de natureza) e formação intelectual (dá uma base concreta e racional à
ação do Residence). A pesquisa, de cunho qualitativo e quantitativo, foi realizada nos
meses de março e abril do ano de 2009, com 82 jovens. Destes, 41 já haviam
participado do Residence de Autenticação (G1) e 41 que nunca participaram e não
conheciam tal instrumento de intervenção (G2). A coleta de dados foi realizada em duas
etapas: a) questionário constituído por 39 questões objetivas e quatro questões
discursivas – aplicado a todos os pesquisados; b) questionário constituído por nove
questões objetivas e uma discursiva – aplicado apenas aos jovens que já haviam
participado do Residence de Autenticação. Os dados demonstraram que, para ambos os
grupos, o conceito de autossustento é o mesmo: “Ter independência, pagar todas as suas
contas e ter liberdade”. No G1 observou-se coerência entre o conceito expresso e as
atitudes dos jovens, ou seja, os mesmos 68% pesquisados que afirmaram se
autossustentar, arcavam com todos os seus custos. Já, no G2, verificou-se incoerência
entre o conceito expresso e as atitudes, pois 76% afirmaram se autossustentar, mas
apenas 43% arcavam com todos seus custos. Sendo o Residence de Autenticação um
instrumento que influencia positivamente na formação de jovens, é pertinente afirmar,
com base nos resultados obtidos através desta pesquisa, que o seu uso, aliado à tomada
de consciência do jovem sobre sua responsabilidade pessoal e social, favorece a
conquista do autossustento.
Palavras-chave: residence de autenticação; autossustento; jovem.
Abstract: The current work is the result of a research fulfilled with young people
concerning the self-sustainability. One of its goals was to identify the correlation
between the young people understanding of self-sustainability and its practical aspect,
PREGADIER, Ana Paula M.; BARBIERI, Josiane. Residence de autenticação: relação entre conceituação e exercício do autossustento em
jovens. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 105-113, fev. 2011.
105
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among those who have participated in Authentication Residences and those who have
not. The research focused on the investigation of the Authentication Residence as a
functional element that facilitates the achievement of self-sustainability by the young
person. The Authentication Residence is an instrument of the Ontopsychological School
that consists of a full immersion course that aims to fulfill a critical review of the
participants‟ consciousness. The duration is about three to four days and it is directed to
people with an array of different interests. It comprehends practical activities (which
intend to avoid the disassociation between thinking and doing), internal methanoia
(process of retrieving the subject to his/her nature intentionality) and intellectual
training (which gives a concrete and rational basis to the activities fulfilled during the
Residence). The qualitative and quantitative aspects of the research were gathered in
March and April of 2009 after a survey that analyzed 82 young people. Among those,
41 have already participated of an Authentication Residence (G1) and 41 have not and
were unfamiliar with this instrument (G2). The data was gathered in two different
moments: a) a questionnaire that consisted of 39 multiple choice questions and 4 open
questions – applied with all researched people; b) a questionnaire that consisted of 9
multiple choice questions and 1 open question – applied only with those young people
who have already participated in any Authentication Residence. The data demonstrate
that, in both groups, the understanding of self-sustainability is the same: “Being
independent, free and able to pay all the bills”. In G1 it was possible to detect coherence
between the concept understanding and their attitudes, that is, all of those 68% that
affirmed to be self-sustained, indeed were responsible for all their expenses. In G2, on
the other hand, it was verified a divergence between the concept understanding and their
attitudes: 76% affirmed to be self-sustained, but only 43% of whom were indeed
responsible for all their expenses. Being an instrument that positively influences the
young people‟s education, based on the results obtained throughout this research, it is
possible to affirm that the Authentication Residence, along with the young person‟s
comprehension of his/her social and personal responsibility, facilities the achievement
of self-sustainability.
Keywords: authentication residence; self-sustainability; young.
1 Introdução
A preocupação com a formação do
jovem e sua preparação para a vida adulta
desperta a atenção e se apresenta como um
tema contemporâneo importante para o
desenvolvimento da vida do indivíduo e da
sociedade. Hoje, quando consideramos a
formação de um indivíduo jovem, é
necessário observar mais fatores do que
apenas a sua faixa etária. Se tomarmos
como referência Osório (1989), Havighurst
(citado por Ferreira, 1984), e Meneghetti
(2005c), estes, além das características de
maturação físicas e biológicas, definem
como fundamentais os elementos de
maturidade
relacionados
ao
desenvolvimento psicológico, profissional
e de autonomia, que determinam a
transição da fase infantil para a fase adulta.
Contemporaneamente às mudanças
físicas que acontecem nesta transição, o
jovem experimenta novas necessidades que
despertam a atenção e a urgência em
satisfazê-las. A inquietude causada por
essas novas percepções traz à consciência
ideias que até então apenas eram
consideradas em jogos ou brincadeiras
infantis, como por exemplo, trabalhar, ter a
sua casa, dirigir um carro, ter um
relacionamento e uma família (OSÓRIO,
1989).
Entre as características dessa fase, a
consciência da própria identidade e o
desenvolvimento de um estilo de vida
funcional a si (MENEGHETTI, 2003), são
fatores relevantes e que estão interligados,
onde é difícil alcançar a conquista plena de
um, sem o desenvolvimento do outro. O
mesmo tipo de interrelação ocorre quando
PREGADIER, Ana Paula M.; BARBIERI, Josiane. Residence de autenticação: relação entre conceituação e exercício do autossustento em
jovens. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 105-113, fev. 2011.
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observamos a questão da conquista do
autossustento e do trabalho.
A atividade laborativa representa
para o jovem um desafio, pois além de dar
início à conquista do autossustento e
auxiliar na ambientação ao mundo adulto,
exige que o jovem assuma uma postura de
autonomia e responsabilidade, arcando com
as consequências geradas pelas suas
escolhas. Para Rank:
A grande conquista do adolescente está na
aquisição de sua independência, que se
realiza através da atuação de uma vontade
consciente (RANK citado por FERREIRA,
1984, p. 59).
Um aspecto que influencia no
amadurecimento e dificulta a transição do
jovem à fase adulta é abordado por
MENEGHETTI (2005a):
Alguém sempre decidiu por ele, alguém
sempre lhe deu mais do que pedia e, nesta
oferta aparentemente de amor, o ser
humano estabiliza a sua personalidade
como cristalização de comportamentos
infantis, ao invés de evoluir em
crescimento, autonomia e liberdade
(MENEGHETTI, 2005a, p. 45).
Para o desenvolvimento desta
autonomia,
faz-se
necessária
a
responsabilização do jovem pelo seu
crescimento. Por responsabilidade entendese a obrigação de responder pelas ações
próprias ou de outros (HOUAISS, 1978).
Portanto, trata-se de um conceito que diz
respeito ao próprio indivíduo, que assume o
papel de protagonista, respondendo em
primeira pessoa pelas diversas situações
com as quais se depara e colhendo seus
resultados.
Assim, a conquista do autossustento
é uma tarefa de responsabilidade pessoal,
que impõe ao jovem a necessidade de
conhecer a si mesmo e agir de forma a
construir meios históricos propícios para a
sua realização, segundo sua identidade.
Essa postura de autonomia e
responsabilidade do jovem torna-se cada
vez mais premente no contexto do trabalho,
e isto se deve ao atual e dinâmico mercado
competitivo, que exige das empresas um
alto nível de qualidade e qualificação de
seus colaboradores, não sendo mais
possível esperar que as pessoas recémcontratadas se tornem suficientemente
experientes até exercerem plenamente suas
atividades, além de requerer cada vez mais
rapidez para estas atingirem um bom nível
de autonomia (FOIL, 2007).
Neste sentido, o residence de
autenticação pode ser um instrumento
extremamente útil e funcional para o
desenvolvimento
da
autonomia
e
responsabilidade dos jovens, os quais, a
partir desta vivência, têm a oportunidade de
adquirir uma consciência reversível com a
realidade mercadológica, onde deverão
atuar com competência e competitividade.
2 Fundamentação Teórica
2.1 Desenvolvimento e formação do jovem
Viver em sociedade implica
interação com outras pessoas, por esse
motivo o momento de tomada de decisão é
importante, pois um indivíduo, quando
escolhe, afeta a sua vida e a de outros. Por
isso, para o jovem, ter a consciência da
responsabilidade de suas escolhas pode ser
decisivo, principalmente no que diz
respeito à atuação do seu próprio potencial.
A formação do indivíduo é o
desenvolvimento e atuação do potencial
existente em si mesmo. Esse conceito de
potencial refere-se a um possível, um
predisposto pela natureza que só se faz real
se for atuado. Para Aristóteles (2006), “a
natureza nos dá a capacidade de recebê-las
(virtudes), e tal capacidade se aperfeiçoa
com o hábito” (ARISTÓTELES, 2006, p.
40). Assim como para Meneghetti (2006):
PREGADIER, Ana Paula M.; BARBIERI, Josiane. Residence de autenticação: relação entre conceituação e exercício do autossustento em
jovens. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 105-113, fev. 2011.
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Toda individuação tem o potencial
necessário para atingir a autorrealização
(...). É possível alargar o potencial através
de uma adequada estrutura, que deriva das
escolhas que o indivíduo faz: cada escolha
entra em um jogo de escolhas já existentes,
portanto, é determinada pelas escolhas
precedentemente atuadas (MENEGHETTI,
2004, p. 274).
Segundo Meneghetti (2004), “o
indivíduo faz a si mesmo toda vez que atua
o potencial como fato realizado” (p. 274).
Se as escolhas são coerentes com o previsto
pelo potencial e de acordo com o ambiente
onde o sujeito se encontra, incrementa
sempre mais o potencial, criando assim
uma espiral ascendente evolutiva. Do
contrário, se as escolhas feitas não são
otimais, o potencial diminui progressivamente
ou, caso o indivíduo permaneça na
indecisão, evitando a responsabilidade da
escolha, a situação anula o indivíduo, que
se torna espaço de escolhas alheias.
(MENEGHETTI, 2004). Nesse sentido, o
indivíduo determina o próprio universo
todas as vezes que age ou não age.
Dessa forma, aprender a conquistar
seu autossustento de forma responsável e
sustentável, além de ser um exercício de
desenvolvimento e crescimento para o
jovem, é um benefício prestado para o
progresso e avanço da sociedade, pois a
partir da conscientização e responsabilização
de cada indivíduo, pode ser possível a
construção uma sociedade mais humana,
capaz de perpetuar os recursos necessários
ao bem estar das gerações vindouras.
2.1 O Residence de Autenticação
Por ser um instrumento de formação
e aperfeiçoamento de características que
favorecem a autonomia e independência do
indivíduo, o residence de autenticação foi
escolhido como objeto de análise para
identificar se pode ser funcional e
beneficiar o jovem na obtenção do seu
autossustento.
O residence de autenticação é um
instrumento de intervenção da Ciência
Ontopsicológica que tem como função a
autenticação da consciência do indivíduo,
consentindo
que
esta
esteja
em
conformidade com sua identidade. A
exatidão da consciência favorece o sujeito
na percepção das opções ótimas para si e
minimiza a interferência de preconceitos ou
referências externas que não condizem com
a sua específica realidade e não fazem
função ao seu crescimento, desenvolvimento e
realização (MENEGHETTI, 2001).
Autenticação significa que aquele homem,
naquela idade, segundo uma logística de
como a natureza o posicionou, o
temperamento e os dotes que lhe deu, deve
chegar a uma certa quota de maturidade: o
Eu
lógico-histórico10
deve
ser
correspondente ao previsto pelo desenho
operativo da natureza naquele sujeito.
(MENEGHETTI, 2004, p. 333).
Segundo Meneghetti (2005b), a
verificação existencial à qual o jovem se
depara durante a participação de um
residence de autenticação, é uma autoobservação
profunda
sobre
a
funcionalidade de cada uma das suas
atitudes e posicionamentos, analisando os
resultados
correspondentes
e
se
reposicionando caso seja necessário. Tratase de uma investigação sobre o seu estilo
de vida, se é correspondente ao necessário
para a plena atuação de seu potencial, aqui
e agora, ou seja, no contexto e no momento
histórico em que se encontra.
“Residence” é um estágio full immersion
com duração de três a sete dias,
direcionado a um grupo selecionado de
pessoas, durante o qual é efetuada uma
verificação
existencial.
Enquanto
instrumento psicossocial e ambiental, é
marcado sobre a necessidade dos
participantes de realizar um Eu lógicohistórico mais côngruo a si mesmo e
funcional dentro do espaço comunitário no
qual
esses
convivem:
é
uma
contemporaneidade baseada sobre dois
PREGADIER, Ana Paula M.; BARBIERI, Josiane. Residence de autenticação: relação entre conceituação e exercício do autossustento em
jovens. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 105-113, fev. 2011.
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fulcros: “o Iso e o social” (MENEGHETTI,
2005b, p. 21).
Um residence é constituído por:
a) atividades práticas que visam corrigir o
comportamento do sujeito e evitar
dissociação mental entre fazer e pensar, que
de fato reduz o potencial da pessoa;
b) metanóia interior, isto é, a ação de
reconduzir o indivíduo ao seu ponto
fundante, à sua intencionalidade de
natureza, a qual – uma vez ativado – libera
uma enorme capacidade de realização;
c) formação intelectual contemporânea às
dimensões precedentes e necessárias para
dar uma base concreta e racional à ação do
residence (MENEGHETTI, 2005b, p. 22).
Entre os pressupostos de um
indivíduo para a participação em um
residence de autenticação, recomenda-se já
ter um preparo psicológico através de um
training ontopsicológico, que tenha
compreensão dos termos e conceitos da
Ciência
Ontopsicológica
e
a
disponibilidade à mudança/metanoia que,
além da mudança de mente, constitui numa
atitude de transformação que se reflete no
comportamento e hábitos do sujeito.
Segundo Meneghetti (2005b):
O residence ontopsicológico é constituídos
por cinco aspectos que o caracterizam e o
especificam como instrumento de colocar
no ponto existencial (MENEGHETTI,
2005b, p. 23).
Estes 5 pontos são:
1) A análise psicológica do sujeito:
utilizando as cinco análises diagnósticas
com o objetivo de identificar o escopo
segundo a identidade de cada sujeito;
2) O ambiente: o local escolhido
deve ser ecologicamente saudável, simples,
culturalmente humanista e feito para uma
convivência serena;
3) Convivência profissional com um
psicoterapeuta: durante alguns dias, que
como técnico específico, coordena a
dinâmica do residence;
4) Convivência ecológica: de forma
a retomar o contato com a lógica da
natureza da vida;
5) Individuação da especificidade
do sujeito: segundo a forma do próprio Em
Si ôntico.
Ainda,
conforme
Meneghetti
(2005b), entre os efeitos do residence,
devido ao indivíduo estar centrado em seu
ponto fundante, começa-se a obter
resultados funcionais em todas as esferas
da existência, desde que haja coerência no
estilo de vida, que deve ser readequado à
nova realidade que o sujeito conscientizou.
2.2 Porque estudar
Autenticação
o
Residence
de
Essa pesquisa nasceu através da
constatação de que a conquista da
autonomia por parte dos jovens vêm se
tornando sempre mais tardia, os quais
permanecem mais tempo dependentes
financeiramente da família.
Segundo pesquisa realizada pela
Escola Nacional de Ciência Estatística,
órgão do IBGE, disponível no site do
Sebrae-RJ, um quarto dos filhos que
moram com os pais no Rio de Janeiro-RJ
tem mais de 30 anos, sendo que:
29% dos adultos solteiros com mais de 30
anos moram com os pais, e, entre todos os
filhos que moram com os pais, um quarto
tem mais de 30 anos, sendo mais da metade
(54%) homens, ao contrário do que se
poderia imaginar. Esse é um fenômeno
mundial. Nos EUA, por exemplo, é muito
grande o número de filhos que voltam a
morar com os pais depois de se formarem
em universidades fora de seus estados, dai
a expressão bumerangue (SEBRAE,
30/09/2008).
3 Metodologia
Partindo dessa premissa, a formação
dos jovens torna-se uma questão primordial
para o desenvolvimento não apenas do
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jovens. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 105-113, fev. 2011.
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indivíduo, mas da sociedade como um
todo. Isso porque, a partir de como se
forma uma geração de jovens, apresenta-se
a nova geração de adultos que estará à
frente do mercado global público e privado.
Portanto, uma formação de jovens que
possibilite o desenvolvimento de uma
forma mentis social e economicamente
responsável torna-se imprescindível para a
construção
de
uma
sociedade
autossustentável, em constante evolução e
crescimento em prol do humano.
Este
artigo
trata
de
uma
investigação a cerca de como os jovens
encaram e vivenciam o autossustento, e se
o residence de autenticação consiste em
uma ferramenta funcional a essa conquista.
Os dados levantados para esta
pesquisa foram obtidos através da aplicação
de um questionário realizado com jovens
na faixa etária de 17 a 32 anos, que para
fins de análise estão separados em dois
grupos: grupo um (G1), composto por 41
jovens de vários estados brasileiros, que já
participaram de pelo menos um residence
de autenticação; grupo dois (G2), composto
por 41 jovens que nunca participaram de
um residence de autenticação.
O questionário utilizado para a
coleta de dados foi composto por 39
questões objetivas e quatro questões
discursivas, aplicado a todos os sujeitos da
pesquisa, e um questionário adicional
constituído por nove questões objetivas e
uma discursiva, aplicado apenas aos que já
haviam participado de um residence de
autenticação.
A aplicação do instrumento foi feita
através do envio por email durante os
meses de março e abril de 2009 para os
sujeitos de ambos os grupos, que
preferiram essa forma de comunicação, ou
através de questionário impresso. O
questionário impresso foi aplicado ao G1
durante o residence de autenticação nos
dias 13, 14 e 15 de março de 2009, no
Centro Internacional de Arte e Cultura
Humanista Recanto Maestro, localizado no
Distrito Recanto Maestro, em São João do
Polêsine-RS e, para o G2, nos dias nove,
10, 14 e 20 de abril de 2009, na cidade de
São Paulo-SP. Todos os pesquisados
responderam de forma voluntária e
anônima ao questionário.
Através dos dados obtidos, foi
possível identificar o perfil da amostra e
conhecer sua percepção sobre o conceito de
autossustento, a relação deste com as
atitudes adotadas pelos jovens e verificar se
existe
diferença
nessa
relação
(conceito/atitude)
entre
os
grupos
pesquisados.
Etapas realizadas para a análise de
dados:
1) Identificação da amostra:
identificação
das
características
biográficas, sociométricas e sobre qual é o
conceito os jovens pesquisados têm sobre o
autossustento.
2) Relação entre conceito e atitude:
identificação das atitudes dos jovens em
relação à responsabilidade dos seus custos.
Verificação da relação e análise entre as
respostas das perguntas “Você se
autossustenta?” e “Quem arca com seus
custos de moradia, alimentação, vestuário e
diversão?” O objetivo foi verificar se existe
coerência entre a afirmação dos jovens de
se autossustentar e a realidade vivenciada
pelos mesmos.
3) Resultados percebidos após o
residence de autenticação: identificação dos
resultados percebidos pelos jovens após a
participação no residence de autenticação.
4 Resultados
4.1 Caracterização da amostragem
1) Características biográficas: a
amostra compõe-se de 82 jovens,
classificados para fins de pesquisa, em dois
grupos de acordo com o critério: ter
vivenciado (G1) ou não (G2) a experiência
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jovens. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 105-113, fev. 2011.
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de um residence de autenticação.
Verificou-se que, para o G1, as
características principais são: faixa etária
de 26 a 28 anos, sexo masculino (59%) e
ainda estudam. E para o G2: faixa etária de
29 a 32, do sexo feminino (51%) e ainda
estudam.
2) Análise de Escolaridade: existe,
em ambos os grupos, a predominância de
jovens que cursam ou já concluíram o
ensino superior e que cursam ou já
concluíram algum tipo de curso de pósgraduação, especialização ou MBA. No
terceiro lugar de representatividade, temos
uma inversão: para o G1 temos jovens com
mestrado e doutorado em curso ou já
completos e, para o G2, o terceiro resultado
mais representativo são jovens com o
ensino médio em curso ou completo.
3) Atividade Laborativa: para a
questão “Você trabalha?”, para ambos os
grupos foi verificado o mesmo resultado,
onde 90% dos jovens de cada grupo
responderam que trabalham, e 10 % que
não trabalham.
4) Atitude de autossustento:
analisando os jovens que trabalham, foi
questionado: “Você se autossustenta?” e
identificou-se, segundo a visão dos
próprios jovens, que no G1 são 25 jovens
(68%) e, no G2, 28 jovens (76%) se
autossustentam.
5) Atitudes perante os custos de
diversão, vestuário, moradia e alimentação:
aos jovens que responderam que se
autossustentam, foi questionado sobre
quem arcava com suas despesas de
diversão, vestuário, moradia e alimentação.
Essas perguntas têm por objetivo analisar a
relação e a coerência com a resposta dada
na pergunta “Você se autossustenta?”.
6)
Entendimento
sobre
Autossustento: no questionário a questão
aberta: “Para você, se autossustentar
significa:”, teve o objetivo de identificar
qual o conceito de autossustento que os
jovens possuem e se essa compreensão se
reflete nas respostas sobre quem arca com
seus custos (Figura 3). A tabulação dos
dados foi feita a partir da quantidade de
vezes que o conceito/palavra se repetiu,
método que permitiu identificar quais
conceitos melhor representam para o jovem
o autossustento.
4.2 Relação entre conceito e atitude
A partir do questionário aplicado e
da tabulação dos dados, pode-se observar
que o conceito percebido pelos jovens
sobre autossustento tem uma convergência
de ambos os grupos para uma mesma
percepção. Na visão destes jovens,
autossustento significa principalmente ter
independência, poder pagar todas as suas
contas e ter liberdade de escolha para poder
alcançar os seus objetivos.
Para haver coerência entre o
conceito descrito e a atitude perante o
autossustento, o percentual de jovens que
arcam com seus custos deve ser sempre
igual ou superior ao percentual de jovens
que se autossustenta.
No G1 verifica-se coerência entre o
conceito de autossustento e as atitudes
referentes à responsabilidade pelos custos
com alimentação, moradia, vestuário e
diversão, já que o percentual de jovens que
arca com cada segmento de seus custos é
sempre maior ou igual ao percentual de
jovens que declara se autossustentar.
Para o G2 se evidencia uma
situação distinta, pois o percentual de
jovens que arca com todos os seus custos é
inferior ao percentual que declara se
autossustentar, o que evidencia uma
incoerência entre conceito e atitude para o
autossustento. Essa incoerência fica
confirmada quando é observada a figura 5
que demonstra quem arca com os custos
dos jovens do G2. Do total de 41 jovens
pesquisados,
28
declararam
se
autossustentar e apenas 16 destes são
responsáveis por todos os seus custos
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jovens. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 105-113, fev. 2011.
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(moradia,
alimentação,
diversão
e
vestuário). Os demais 12 jovens, que
declararam se autossustentar, não arcam
com seus custos de alimentação e moradia.
A
partir
desta
análise,
é
demonstrado que, em parte do G2, existe
uma situação de incoerência entre o que
jovem pensa e acredita e o que de fato ele
vive. Isso porque, mesmo entendendo
autossustento como pagar todas as suas
contas e declarar se autossustentar, ele não
é o responsável por todos os seus gastos.
Rocco
(2006)
no
artigo
“Autossustento: o primeiro dever de um
jovem”, já aborda essa situação. A
satisfação das necessidades básicas de
sobrevivência como moradia e alimentação
são encaradas como um dever dos pais,
ficando como responsabilidade dos jovens
apenas os seus gastos pessoais, e mesmo
aqueles que arcam com todos seus custos,
na maioria já estão acostumados a poderem
sempre recorrer ao auxílio de seus pais
quando necessário.
Para Meneghetti (2007), essa forma
de perceber a responsabilidade dos seus
gastos leva a uma divergência entre o quê
que o jovem pensa e o quê de fato vive em
sua realidade cotidiana, sendo que esta se
reflete e influencia em seu posicionamento
e atitudes perante as ocorrências com as
quais se defronta no mercado de trabalho.
4.3 Resultados percebidos após o residence
de autenticação
Para os jovens do G1, foi
questionado sobre quais os resultados
perceberam após a primeira participação
em um residence. Os resultados mais
percebidos são: melhoria no trabalho e na
área financeira, desenvolvimento e
crescimento, e foco nos objetivos e
escolhas.
A tabulação dos dados foi feita a
partir da quantidade de vezes (frequência)
com que o conceito/palavra se repetiu nas
respostas fornecidas pelos pesquisados.
Sendo o residence um instrumento
para a autenticação da consciência do
indivíduo, com o objetivo de ser função ao
seu crescimento e desenvolvimento, e a
partir das respostas obtidas nessa pesquisa,
é pertinente afirmar que este influencia
vantajosamente o posicionamento do jovem
diante de seu autossustento. Para estes
jovens, o conceito de autossustento, além
de ser consciente, é aplicado ao dia-a-dia
de forma a propiciar um estilo de vida
funcional à conquista de seu desenvolvimento.
5 Considerações Finais
Por meio da análise dos dados
obtidos, podemos concluir que:
a) Conceito percebido pelos
jovens sobre o autossustento: observa-se a
convergência de ambos os grupos para o
mesmo conceito sobre o autossustento. Na
visão dos jovens pesquisados, autossustento
significa: ter independência, poder pagar as
suas contas e ter liberdade de escolha para
alcançar os seus objetivos.
b) Coerência entre conceito
percebido
e
atitudes
para
o
autossustento: no G1 foi identificada
coerência entre o conceito percebido e as
atitudes adotadas perante o autossustento,
pois os 25 jovens que declararam se
autossustentar são os responsáveis por
todos os seus custos. Já, para o G2,
observou-se incoerência entre conceito e
atitude, pois apenas 57% dos jovens que
declaram se autossustentar são de fato
responsáveis por todos seus custos.
c) Utilização do residence de
autenticação como instrumento funcional à
conquista do autossustento: comparando
as respostas dos grupos pesquisados – nas
quais
G1
expressa
coerência
e
reversibilidade entre o conceito percebido e
as atitudes adotadas – e G2, nas quais 43%
dos jovens responderam se autossustentar e
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não arcam com todos seus custos, pode-se
afirmar que o residence de autenticação
pode ser um instrumento funcional ao
jovem para a aquisição de seu
autossustento.
Este
instrumento
de
intervenção da Ciência Ontopsicológica
auxilia o desenvolvimento e a formação de
uma conceituação reversível com as
atitudes e escolhas do jovem e com os
resultados práticos de sua vida.
Ao realizar essa pesquisa, verificouse que o autossustento é um dos pontos
bases para o amadurecimento, e que a
relação conceito e atitude nem sempre é
clara para os jovens que, em alguns casos,
acreditam viver uma situação, sendo que de
fato experimentam outra. Ao longo deste
estudo, percebe-se que existem campos de
atuação e pesquisa que podem ser
abordados e utilizados em vantagem do
jovem e do mercado empresarial, pois a
clareza na verificação dos fatos, o
desenvolvimento da responsabilidade e a
autonomia dos indivíduos são fatores
prementes para o atual cenário competitivo.
Posicionado
o
residence
de
autenticação como um instrumento de
formação que favorece o incremento dessas
características, este pode ser utilizado como
uma metodologia de qualificação e
aperfeiçoamento
do
jovem
e
de
aceleramento de seu amadurecimento para
o ingresso no mundo do trabalho e para a
idade adulta. Ainda assim, para a ampla
ratificação das conclusões obtidas neste
trabalho, consideramos pertinente realizar a
mesma pesquisa com outras amostragens.
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São
Paulo: Martin Claret, 2006.
FERREIRA, B. W. Adolescência. Teoria e
pesquisa. 2. ed. Porto Alegre: Sulina,1984.
FOIL.
Formação
Ontopsicológica
Interdisciplinar
Liderística
(Org.).
Psicologia Managerial. 2. ed. São Paulo:
FOIL, 2007.
HOUAISS. Pequeno Dicionário Koogan
Larousse. Rio de Janeiro: Larousse do
Brasil, 1979.
MENEGHETTI, A. A arte de viver dos
sábios.
3.
ed.
Florianópolis:
Ontopsicologica Editrice, 2003.
MENEGHETTI, A. Dicionário de
Ontopsicologia.
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Maestro:
Ontopsicologica Editrice, 2001.
MENEGHETTI,
A.
Manual
de
Ontopsicologia. 3. ed. Recanto Maestro:
Ontopsicologica Editrice, 2004.
MENEGHETTI, A. O Aprendiz Líder.
Tradução e organização FOIL. São Paulo:
FOIL: 2005a.
MENEGHETTI,
A.
O
Residence
Ontopsicológico. 3. ed. Recanto Maestro:
Ontopsicologica Editrice, 2005b.
MENEGHETTI,
A.
Pedagogia
Ontopsicológica. 2. ed. Recanto Maestro:
Ontopsicologica Editrice, 2005c.
OSORIO, L. C. Adolescente Hoje. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1989.
ROCCO, V. Autossustento: o primeiro
dever de um jovem. Revista Nova
Ontopsicologia, n. 1, p. 8-15, maio. 2006.
SEBRAE. Filhos morando mais tempo
com os pais. 30/09/2008. Disponível em:
http://www2.rj.sebrae.com.br/boletim/filhosmorando-mais-tempo-com-os-pais/Acesso em:
08 de mar. 2010.
Autores:
Ana Paula Mariano Pregardier: administradora,
Especialista em Gestão de Negócios e Intuição(AMF); Especialista MBA em Gerenciamento de
Projetos (FGV).
Josiane Beatriz Piccin Barbieri: consultora,
psicóloga; Especialização em Psicologia com
abordagem em Ontopsicologia (UESP); professora
da Faculdade Antonio Meneghetti (AMF);
Mestranda em Filosofia (PUC-SP).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 21/12/2010.
PREGADIER, Ana Paula M.; BARBIERI, Josiane. Residence de autenticação: relação entre conceituação e exercício do autossustento em
jovens. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 105-113, fev. 2011.
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Estudo exploratório sobre a aplicação da
intuição no processo de vendas
Joana de Jesus
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Adriane Maria Moro Mendes
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
[email protected]
Resumo: O presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada entre os
meses de maio e junho de 2009 com profissionais envolvidos diretamente em processos
de vendas. O objetivo da pesquisa foi verificar se vendedores de bom desempenho
consideravam-se intuitivos, se usavam essa intuição durante o processo de vendas, e se,
o que eles classificavam como intuição, era coerente com os conceitos sobre intuição
estudados nesta pesquisa. A revisão bibliográfica perpassa obras na área de Marketing e
Vendas analisando essas funções sob ótica humanista. Em seguida são revisados alguns
estudos sobre o ser humano, especialmente no tema da intuição, buscando os principais
fatos históricos dessa construção de conhecimento em autores como Sigmund Freud,
Carl Jung entre outros, realizando um comparativo entre as teorias desenvolvidas
durante os séculos XVIII e XX, categorizadas nesse texto como teorias clássicas, e os
estudos mais recentes cujo principal autor é Antônio Meneghetti. E por fim, o confronto
dos conteúdos bibliográficos com os resultados da pesquisa realizada, propondo uma
reflexão sobre o tema da intuição de modo científico.
Palavras-chave: intuição; vendas; marketing; inconsciente.
Abstract: This paper presents the results of a survey conducted between the months of
May and June 2009 with professionals directly involved with sales. The research
objective was to determine whether vendors performed well regarded themselves as
intuitive, this insight is used during the sales process, and what they classified as
intuition, was consistent with intuition about the concepts studied in this research. The
literature review permeates works in marketing and sales functions in analyzing these
humanist perspective. They are then reviewed some studies on humans, especially in the
topic of intuition, seeking the main historical facts of this construction of knowledge by
authors such as Sigmund Freud, Carl Jung and others, making a comparison between
the theories developed during the eighteenth and twentieth Categorized in this text as
the classical theories, and recent studies whose main author is Antonio Meneghetti.
Finally, a comparison of bibliographic content with the results of research, proposing a
reflection on the topic of intuition in a scientific way.
Keywords: intuition; sales; marketing; unconscious.
* Texto publicado nos Anais do VII Convibra – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – 19 a
21/11/2010.
JESUS, Joana de; MENDES, Adriane M.M. Estudo exploratório sobre a aplicação da intuição no processo de vendas. Revista Saber
Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 114-124, fev. 2011.
.
114
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1 Introdução
A atividade de vendas é realizada
por diversos colaboradores dentro de uma
empresa e não é exclusiva da equipe que
está designada com foco na função de
vender. Esta atividade é responsável por
viabilizar a entrada de recursos e lubrificar
todo o aparato empresarial e econômico.
Sem recursos financeiros nenhuma boa
ideia vai adiante. Nesse sentido, a venda
cumpre uma função de grande destaque.
No ato de vender existe uma
intensa relação entre pessoas, ainda que
sejam representadas pelas ferramentas que
hoje a tecnologia proporciona. A intenção
de cada parte, seja cliente ou fornecedor,
está sempre presente, mesmo que
inconscientemente. No final, sempre um
“alguém” decide o que comprar e outro
“alguém” decide como agir para vender.
Em síntese, vender é um ato de
relação humana com um escopo
econômico, e como toda a relação humana
apresenta aspectos racionais e não
racionais. Os aspectos racionais são
estudados através de modelos científicos
que buscam descrever e analisar os
processos de vendas cujos resultados
obtidos vão até certo ponto. Os aspectos
não racionais colecionam séries de
estudos científicos e não científicos e
suscitam a curiosidade visto que tratam
sobre o pouco conhecido de cada um de
nós.
Estudar o uso da intuição no
processo de vendas é, em primeiro lugar,
aplicar racionalidade sobre um tema que
ainda é abordado de modo confuso em
diversas áreas. Este é um tema que se faz
muito presente na leitura corrente, em
revistas populares, artigos científicos e
mídias. Em segundo lugar é uma
provocação ao pesquisador posicionado
contemporaneamente como instrumento e
objeto de pesquisa.
Este artigo objetiva pesquisar se
vendedores
de
bom
desempenho
consideram-se intuitivos, se pensam fazer
uso da intuição no processo de vendas, e
se o que é entendido por eles como
intuição é coerente com os conceitos sobre
intuição estudados, mediante diversos
autores, nesta pesquisa.
Com esses objetivos, o presente
artigo faz uma breve revisão sobre os
principais conceitos da moderna gestão de
vendas, dando ênfase principalmente aos
pontos onde prepondera o fator humano,
através de obras de autores da área de
Marketing e Vendas. No que concerne ao
estudo do ser humano, especialmente o
tema da intuição, perpassa alguns fatos
históricos, buscando um pouco da sua
origem em cientistas como Sigmund
Freud, Carl Jung entre outros, realizando
um comparativo entre as teorias
desenvolvidas durante os séculos XVIII e
XX categorizadas nesse texto como
teorias clássicas e os estudos mais
recentes cujo principal autor é Antônio
Meneghetti.
2 Fundamentação Teórica
2.1 Gestão e processo de vendas
No contexto da moderna gestão de
vendas, o foco tem estado nos seguintes
pontos chaves (COBRA e TEJON, 2007):
1. Gestão de canais de marketing:
gestão da via percorrida para que o
produto chegue o mais rápido possível ao
consumidor final. Por ex.: distribuidores,
atacadistas, varejistas, etc.
2. Gestão de inteligência de
vendas: é o processo de captura de
informações que auxiliam na decisão
sobre o que e onde vender. Apóia-se entre
outros pontos, no relacionamento do
vendedor com os seus clientes.
3. Gestão de produtos: é a
contribuição que a gestão de vendas faz
JESUS, Joana de; MENDES, Adriane M.M. Estudo exploratório sobre a aplicação da intuição no processo de vendas. Revista Saber
Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 114-124, fev. 2011.
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no desenvolvimento de produtos que
atendam as necessidades do mercado e
estes variam constantemente.
4. Gestão de clientes: administrar a
carteira de clientes.
5. Autogestão: trata da manutenção
da motivação e da competência para
enfrentar novos desafios.
6. Gestão financeira: gestão de
desempenho,
ou
seja,
estabelecer
parâmetros e checar resultados.
Toda a venda acontece mediante
um processo. Processos são atividades
sequenciais, predeterminadas, sistematizadas
e repetíveis que têm como objetivo a
transformação de algo em outro com mais
eficiência. Sendo assim, o processo de
vendas é constituído de uma série de
atividades que visam à transformação dos
esforços para vender em resultados mais
eficientes através de atividades que
aumentem as probabilidades de sucesso.
Tendo como consequência, a melhoria dos
lucros e a redução dos custos de venda de
uma organização (ROMEO, 2008).
Os benefícios de se dispor da
estruturação no processo de vendas são
diversos, como destaca Romeo (2008):
- Aumento da velocidade na
concretização dos negócios;
- Alcance de resultados concretos
superiores de vendas;
- Aumento da exatidão nas previsões
de concretização de vendas;
- Unificação da linguagem de
vendas, portanto, o aumento da
cooperação entre as pessoas
internas e externas da organização;
- Redução dos custos de vendas;
- Aumento da capacidade de
inspeção e controle;
- Melhoria da qualidade de vida dos
envolvidos na venda, uma vez que
os esforços despendidos são mais
assertivos;
- Melhoria no relacionamento com
os
clientes,
baseando
as
abordagens em processos mentais
e psicológicos da tomada de
decisão e adquirindo maior
capacidade de compreensão da
pessoa que está diante do agente
de vendas.
O ciclo de negociação, segundo
Romeo (2008), pode ser dividido em três
estágios e cada estágio é interpretado
segundo a ótica do vendedor ou do
comprador. Considerando esses dois
aspectos em paralelo, é possível entender
qual a função complementar do agente de
vendas a cada momento.
2.2 Vendedores e compradores são seres
humanos
Quando uma empresa grande ou
pequena faz uma decisão de compra de
qualquer natureza e através de qualquer
mecanismo, há sempre por trás a decisão
de uma pessoa, um ser humano diz o
“sim” ou o “não”. Os clientes, portanto,
precisam ser vistos como pessoas, que
preferem relacionamentos focados em
“toques humanos” desenvolvidos através
das interações realizadas ao longo do
tempo.
As pessoas compram para sair da
situação em que se encontram e chegar
àquela em que gostariam de estar no
futuro. O vendedor habilidoso ajuda o
cliente a esclarecer o seu estado atual e o
desejado, dando alternativas de passagem
de um para o outro e os custos dessa
atitude. No espaço entre onde estão e onde
querem chegar, encontram-se as suas
necessidades. Essas necessidades, no
entanto, são modificadas por seus valores
e sensações.
Todos desejam se sentir bem e
querem que os produtos adquiridos
contribuam para isso. Algumas vezes as
pessoas compram somente para ter a
sensação agradável de estarem com um
determinado vendedor (O’CONNOR e
JESUS, Joana de; MENDES, Adriane M.M. Estudo exploratório sobre a aplicação da intuição no processo de vendas. Revista Saber
Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 114-124, fev. 2011.
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PRIOR, 1997). A responsabilidade sobre
o sucesso da venda está diretamente
relacionada à figura do vendedor.
Segundo Meneghetti (2005), o verdadeiro
vendedor deve ser alguém vital; ele não
vende porque tem uma mercadoria boa,
mas é ele mesmo que co-envolve; é a
pessoa que faz o comércio, não o objeto.
Portanto, é preciso escolher e se
tornar um agente de vendas que seja,
sobretudo, um elemento vital. As pessoas
preferem as relações com pessoas “vivas”,
cheias de vitalidade, simpatia, emoções,
amores, inteligência (MENEGHETTI,
2005). Essa força de atração e vitalidade,
também chamada de carisma, é resultado
da plena forma de inteligência e
crescimento do sujeito. Carisma significa
graça, é algo que excede gratuitamente da
impostação da personalidade. Logo, um
sujeito que tem carisma é produtivo, é
agradável, um coquetel de bem estar,
realiza negócios e atrai (MENEGHETTI,
2008).
Essa inteligência, segundo a
Escola Ontopsicológica, acontece em dois
momentos: a inteligência consciente e a
inteligência inconsciente. O ser humano é
consciente somente representa cerca de 10
a 15% da inteligência real, nesse sentido,
a maior parte fica inacessível à esfera de
decisão
voluntária
(MENEGHETTI,
2008).
2.3 Considerações teóricas sobre intuição
Segundo Parikh e cols. (1994),
foram Myers e Briggs que, influenciadas
pelos estudos sobre os tipos psicológicos
de Jung, levaram o tema da intuição até as
fronteiras das grandes organizações. Jung
agrupou a intuição como uma função não
racional, já que, segundo ele, constata
apenas experiências, mas não as avalia e
que não surge diretamente por estímulo
externo, ou seja, não necessariamente por
uma experiência real (SCHULTZ e
SCHULTZ, 2002).
São tão diversas as variações de
percepção sobre a intuição, que Parikh e
cols. (1994) procurou tabular de modo
simplista um sumário sobre algumas áreas
de especialidade e os vários pontos de
vista do argumento.
Muito embora os conceitos mais
difundidos sobre o que é a intuição, como
funciona, para que serve, sejam bastante
imprecisos e muitas vezes até pouco
críveis, este é uma capacidade humana
inata (MENEGHETTI, 2007, p. 92).
Porém, a intuição é bastante
complexa de se definir, já que ocorre
quando é necessária, sem nunca haver
sido aprendida técnicamente pelo sujeito
(PARIKH e cols., 1994).
Segundo Houaiss (2004), a palavra
intuição significa uma forma de
conhecimento direta, clara e imediata,
capaz de investigar objetos pertencentes
ao âmbito intelectual, a uma dimensão
metafísica ou à realidade concreta.
Etimologicamente, a palavra intuição
vem do latim “intus actionis que significa
o dentro ou íntimo da ação, ou seja,
conhecer os modos ou estruturas interiores
de um projeto de ação ou evento
(MENEGHETTI, 2001, p. 90). A intuição,
portanto, consente operar a melhor
escolha no contexto de diversos
problemas ou diversas soluções. A
intuição
dá
imagens,
impressões,
concepções,
elaborados
sistêmicos,
experiências, campo semântico, etc.
(MENEGHETTI, 2008).
A intuição dá a direção tranqüila à
vantagem
integral
(econômica
e
existencial, isto é, interior com todos os
valores necessários) do operador, e
conforme a ordem da vida ou da dinâmica
dos eventos globais, ordem já intrínseca
no
ponto
operativo
do
sujeito
(MENEGHETTI, 2004, p. 45).
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Os estudos científicos mais sérios
sobre a intuição não são populares, pelo
contrário, são escurecidos pela sombra dos
livros, web sites, cursos e consultorias que
prometem o “desenvolvimento intuitivo”.
…Ou ainda, marginalizados por teorias
como as de Bornabeau que afirma não só
que a intuição não possa ajudar, mas que
também é desviante (CIVITENGA e cols.
2004, p. 24).
capacidade de conhecer o que está no
interior dos movimentos de mercado ou na
individual interação entre cliente e
fornecedor, qual a direção ideal para o
projeto de cada parte envolvida e agir com
maior precisão ao escopo escolhido.
2.4 A importância dos sonhos para
racionalizar a intuição
De acordo com Meneghetti (2007):
Sobre as diversas descrições de
intuição, há um ponto em comum: ela
ocorre na esfera inconsciente do sujeito
que deve ser hábil para relevá-la à sua
consciência (MENEGHETTI, 2007).
De fato, ao contrário de muitos
autores que insistem em uma percepção
focal e enfática (emoção decidida e forte),
a intuição é colhida além de qualquer
suspensão racional e emocional. A
emocionalidade, visceral ou cerebral, está
mais ligada a um efeito: 1) semântico, 2)
complexual, 3) ou de consenso social. Ao
invés disso, a informação que assinala o
projeto otimal é simplicidade global que
zera todo o peso do diverso (BERNABEI
citado por MENEGHETTI, 2004).
Do ponto de vista do vendedor, é
preciso saber para onde o dinheiro está se
movendo, qual o melhor produto, o
melhor prazo, o melhor número, o melhor
cliente que funcionará para ele como
pessoa e para sua empresa.
E dentro das diversas alternativas
que uma realidade apresenta, tais como:
uma variedade de nichos de mercado no
qual deve escolher onde investir suas
energias; uma infinidade de abordagens
financeiras para apresentar ao cliente; ou
vários produtos entre os quais escolher
sobre qual dar mais ênfase em uma
campanha – perceber qual é a alternativa
que terá a melhor relação entre esforço e
resultado.
Para um contexto de vendas, de
negociação, isso significa uma potencial
Dentre as diversas funções dos sonhos
noturnos, está a oportunidade de colher a
intuição quando esta não foi relevada pela
consciência do interessado (o sonhador) e
pode ser reconhecida através da gráfica
dos sonhos (MENEGHETTI, 2007, p.
26).
A palavra sonho tem origem no
latim “se omnium que significa o
indivíduo em relação ao todo, a todos, de
todos” (MENEGHETTI, 2001, p. 153). O
estudo sobre os sonhos tem origem antiga,
porém, foi Freud quem instaurou a era
psicológica na pesquisa onírica. Ele
considerava os sonhos a via mestra para o
inconsciente. Afirmava que os sonhos são
expressões de pressões inconscientes que
procuram alcançar a consciência. O
sonho, para Freud, é uma satisfação de
desejos proibidos e não admitidos pelo
Eu. Em 1899 publicou um livro no qual
recusou
todas
as
explicações
sobrenaturais, físicas e definiu que o
sonho é proveniente das esferas
inconscientes da psique (CANGELOSI e
cols., 2006).
Já para Jung o sonho é uma autorepresentação espontânea da situação atual
que o inconsciente expressa em forma de
símbolos. Ainda para o mesmo autor, as
informações dos sonhos são latentes não
porque
proibidas,
mas
porque
inconscientes. São conteúdos de conflitos
determinados pela evolução do Eu.
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Para a Escola Ontopsicológica, o
sonho informa o todo da atividade
orgânica holística, reflete o que já
aconteceu na racionalidade psíquica, e
quando completo fornece: a) a situação
atual; b) a causa da situação; c) a solução.
Também indica o erro ou o sucesso
segundo a seguinte hierarquia: situação
orgânica do sonhador (saúde); as
referências afetivas e de segurança (afetos,
relações de amizades, etc.); as pessoas de
confiança no trabalho e no estudo, e a
esfera social, dos negócios, etc.
(CANGELOSI e cols., 2006).
3 Metodologia
A pesquisa realizada é quantitativa
e qualitativa, pois trata dados numéricos e
teóricos, bem como subjetivos. Segundo
Silva (2001) a pesquisa quantitativa
refere-se a opiniões e informações que
podem ser quantificáveis e traduzidas em
números. Já a qualitativa, trata de um
vínculo indissociável entre o mundo
objetivo e subjetivo do sujeito sem
possibilidade de ser traduzido em
números, mas sim, colhendo o sentido do
fenômeno em estudo, para o sujeito. Nesse
caso, o pesquisador é o instrumento chave.
Do ponto de vista de seus
objetivos, segundo Gil (1999) é uma
pesquisa
exploratória,
pois
visa
proporcionar maior familiaridade com o
problema com vistas a torná-lo explícito
ou a construir hipóteses. Também é uma
pesquisa explicativa, já que busca
identificar os fatores que determinam ou
contribuem para a ocorrência de
determinado fenômeno. Além disso, é
uma pesquisa de levantamento, já que
envolve interrogação direta das pessoas
cujo comportamento se deseja conhecer.
O instrumento utilizado foi um
questionário
semi-aberto,
elaborado
previamente pela pesquisadora para
atender aos objetivos específicos deste
estudo.
A estrutura de questões foi
dividida em três esferas:
a) Descrição do entrevistado: com
14 perguntas sobre identificação pessoal,
estrutura familiar, vida profissional e
aspectos de conhecimento pessoal;
b) Estilo de vida: com 9 questões
sobre atividades no tempo livre, utilização
da renda pessoal, saúde, etc.
c) Intuição: com 8 questões com o
intuito de investigar o comportamento em
relação aos sonhos, a frequência da
lembrança desses sonhos, a percepção
individual sobre o uso da intuição, e a
auto avaliação sobre ser ou não intuitivo.
3.1 Resultados e discussões
Os questionários foram enviados
para 31 pessoas que atuam na área de
vendas do tipo business to business
(B2B) na região sul do Brasil com a
seguinte distribuição: Rio Grande do Sul
(31,58%), Paraná (15,79%) e Santa
Catarina (52,63%). Todos possuem
reconhecimento pelos seus pares por
serem bons vendedores.
Dos questionários enviados, 20
foram devolvidos e 19 considerados na
análise do grupo, sendo um desqualificado
por falta de respostas resultando num
índice positivo de 64,51% de retorno. A
seleção foi feita em base a rede de
contatos da pesquisadora e o meio
utilizado para envio foi o correio
eletrônico. A aplicação dos questionários
se deu entre o período de 10 de maio à 22
de junho de 2009.
O instrumento combinou questões
abertas (de respostas livres) e fechadas
(com opção de sim e não), divididas em
três
categorias:
características
do
entrevistado, estilo de vida e intuição. Os
dados foram compilados para planilhas
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excel e o conteúdo das respostas
analisados individualmente, para depois
formar-se uma análise mais ampla do
grupo respondente.
De todo o grupo, 84,21% são
homens e 15,79% mulheres, cuja idade
variou entre 23 e 56 anos, estando 36,84%
entre 20 e 30 anos; 31,58% entre 31 e 40
anos; 15,79% entre 41 e 50 anos e 15,79%
entre 51 e 60 anos. A maioria (78,95%)
são empresários de pequenas e médias
empresas.
Todos os respondentes possuem
irmãos, sendo 52,63% primogênitos,
porém, 31,58% são distantes em mais de 4
anos de seu irmão mais novo,
caracterizando aspectos de primogênitos e
de filhos únicos. Quanto ao estado civil,
63,16% são casados, e com filhos
(57,89%), onde 63,64% têm dois filhos.
Com relação ao nível escolar,
42,11% possuem curso superior completo
ou pós-graduação; 21,05% possuem curso
superior incompleto, e 36,84% possuem
ensino médio completo. Destaca-se ainda
que 63,16% não falam outra língua.
3.1.1 Sobre serem intuitivos
Quando questionados sobre serem
intuitivos, 52,63% dizem que são sempre,
31,58% avaliam que são às vezes, e
15,79% não se consideram intuitivos.
Dos jovens até 30 anos de idade,
85,71% se autoavaliam intuitivos sempre
ou às vezes. Já nos respondentes com
idade acima de 30 anos, os resultados são
superiores, com 91,67%.
Na pesquisa realizada por Parikh e
cols. (1994) com
administradores
brasileiros, os resultados sobre a
autoavaliação dos níveis de capacidade
intuitiva também mostraram diferenças
entre as faixas etárias, apresentando
índices mais baixos em jovens de até 35
anos e mais altos em pessoas acima de 59
anos.
Como sugestão de novos estudos,
seria
interessante
pesquisar
os
fundamentos desses resultados e se
constatados, quais razões levariam para
essa distinção entre profissionais mais
jovens e mais velhos. Algumas hipóteses
são possíveis de serem traçadas, tais
como:
a) Esses jovens possuem mais
experiência profissional, portanto, uma
coleção mais apurada de ferramentas
racionais que os permitiriam atuar a
intuição de modo mais assertivo. Nesse
sentido seriam mais seguros quanto a
percepção intuitiva, a ação e os resultados.
b) Possuem mais traquejo social e
sabem quais características são mais
valorizadas pelo mercado. A característica
intuitiva é uma delas e se vender como um
profissional intuitivo poderia representar
uma vantagem competitiva. Segundo
Petry (2007), a carência de um suporte
racional sobre o conceito de intuição,
colocou o argumento a serviço de um
estereótipo brasileiro de não estudar, não
saber e não conhecer. Nas altas esferas
empresariais, ser intuitivo pode ser
sinônimo de superioridade e os jovens
aspirantes a empreendedores se adaptam
dizendo serem intuitivos.
c) Os jovens acima de 30 anos
poderiam ter mais maturidade e
autoconhecimento. Mesmo sem todo o
suporte racional para individuar o
conceito de intuição, poderiam alimentar a
certeza de um impulso que os leva ao
resultado otimal. O acúmulo de
experiências como essas, daria mais
convicção da capacidade de intuir.
A análise das respostas não deixa
claro que os entrevistados tenham um
comportamento adaptativo ao estereótipo
de ser intuitivo. Porém, no que diz
respeito ao suporte racional necessário
para a compreensão do fenômeno, pode-se
inferir que de fato há uma carência. Os
que afirmaram não serem intuitivos
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trouxeram argumentos vagos, inexistentes
ou admitiram que têm dificuldade com o
tema. Como exemplo, S8 afirma:
“Tento observar bastante o ambiente, mas não me
considero uma pessoa intuitiva. Tenho muita
dificuldade com esse tipo de coisa” (S8).
Além disso, na pergunta seguinte
sobre usarem a intuição na interação com
o cliente, os que se declaram não
intuitivos deram exemplos de seu uso. É
possível notar uma dificuldade em
distinguir, entender e posteriormente
enquadrar-se ou não como um agente que
faz uso da intuição.
3.1.2 A importância e função dos sonhos
Após a pesquisa bibliográfica,
considerou-se necessário investigar a
respeito da atividade onírica dos
respondentes, uma vez que esse aspecto
daria um parâmetro de análise entre o
conceito de intuição para cada um e a
realidade da intuição sobre o prisma
científico.
A relevância da atividade onírica é
atestada pela maioria dos entrevistados da
pesquisa (55,56%) que dizem dar
importância aos seus sonhos sempre ou às
vezes. Desses, 45,45% o fazem por
considerarem que os sonhos trazem
respostas ou são premonitórios. No intuito
de dar alguma explicação sobre a razão de
se importar com os sonhos, S3 afirma: “O
sonho (…) me faz lembrar e refletir coisas
que normalmente não reflito”. S13
complementa: “... de uma maneira ou de
outra é um exercício de vida”.
Dos respondentes, 44,44% alegam
já terem sonhado com algum resultado
positivo ou negativo de vendas que depois
veio a ocorrer.
Dos entrevistados que não dão
importância ao conteúdo dos sonhos
(44,44%), a maioria considera que estes
não têm conciliação com a vida real,
acham irrelevante ou não acreditam nas
informações dos sonhos. As razões para
essas afirmações podem ser diversas. O
estilo de vida pragmático, reforçado pela
velocidade que a tecnologia proporciona,
pode estimular o sujeito a um tipo de
superficialidade e desinteresse sobre si
mesmo. Também o estereótipo da
preguiça e de uma cultura que não educa
ao autoconhecimento impulsionam essa
superficialidade que reduz o sujeito frente
à potencialidade de perceber o todo de sua
realidade.
Por outro lado, existe uma grande
dificuldade de correlacionar os símbolos
oníricos com a realidade percebida pelo
sujeito. O entrevistado S1 corrobora com
essa afirmação quando diz: “...no meu
caso nunca houve uma conciliação com a
minha vida real”. Ou ainda, existe a
possibilidade de confundir o significado
de alguns símbolos, misturando-os com a
própria opinião ou a opinião dos outros.
Quanto maior a superficialidade do
sujeito, mais os símbolos oníricos
remeterão a realidades alheias. A
inaptidão para interpretar os próprios
sonhos é atestada por 72,22% dos
respondentes.
É clara a importância do conteúdo
onírico, uma vez que parte diretamente do
inconsciente, que corresponde em 80% ou
mais à realidade do sujeito. Além disso,
trata-se de uma oportunidade de trazer à
consciência uma intuição não colhida, não
percebida e premente. O sujeito S16
adverte justamente quando diz “muitas
vezes, considero um sonho uma intuição”.
Porém, os sonhos trazem informações em
uma
linguagem
não
habitual
e
desconhecida que demanda conhecimento
racional e percepção semântica, este
último, normalmente possível com a ajuda
de um técnico capaz.
Um dos dados preocupantes
obtidos está sobre o fato de uma parte
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significativa dos respondentes, embora
releve os sonhos noturnos, não se
lembrem ou lembrem com pouca
frequência (61% nunca lembram ou
lembram apenas uma vez por semana).
Como visto na literatura estudada, as
razões para tal podem ser diversas. No
entanto, a regularidade da amnésia onírica
representa um fator de alerta a esses
profissionais que perdem uma grande
parte da sua própria realidade.
Outro fator preocupante é a
representatividade da falta de importância
dada sobre os sonhos e isso pode
demonstrar uma fragilidade sobre o
assunto na cultura geral. De fato os
estudos mais populares sobre esse tema
adotam um viés místico e possivelmente
menos confiável sob alguns pontos de
vista, motivando a falta de credibilidade
da cultura dos sonhos. O entrevistado S5
demonstra essa falta de importância
quando diz que “a única importância de
lembrar é para contar para os outros”.
Se o ser humano tem o interesse
em descobrir o todo da sua realidade, os
sonhos podem ser uma das vias de acesso
ao inconsciente, que é ativo, sendo
também a origen da intuição. Para tanto, é
necessário que o sujeito realize um
processo de autenticação, fazendo uso da
metodologia adequada, operada através de
um técnico capaz, que consinta
compreender o mover-se da sua realidade
inconsciente, assim como a linguagem
pela qual ela se expressa, nesse caso
específico, os símbolos oníricos.
3.1.3 Intuição aplicada ao processo de
vendas
O uso da intuição nas diversas
etapas do processo de vendas pode
potencializar as técnicas disponíveis,
sejam metodologias de trabalho que
ferramentas tecnológicas. A importância
de conhecer melhor o que é a intuição e
também de saber racionalizá-la é cada vez
mais relevada. Parickh e cols. (1994)
destaca que no futuro é possível que seja
uma capacidade a partir da qual a eficácia
dos administradores poderá ser julgada. A
intuição é uma das novas fronteiras da
administração, como declara Oppermann
em Civitenga e cols. (2004). Também
Hatala e Brown (2004), ressaltam que a:
…Intuição será um aspecto de crescente
importância no futuro da história da
humanidade, podendo tornar-se a próxima
vantagem revolucionária como um
instrumento de elaboração de informações
e de tomada de decisões em curto espaço
de tempo (HATALA; BROWN citados
por CIVITENGA e cols., 2004, p. 58).
A grande maioria (84,21%) dos
entrevistados afirma utilizar a intuição no
processo de vendas sempre ou às vezes.
Esse número é superior ao obtido no
estudo realizado por Parikh e cols. (1994),
onde apenas 46,5% dos entrevistados
brasileiros afirmavam utilizar a intuição,
seja em igual proporção que em maior
proporção à razão, na vida profissional.
Porém, para realizar a intuição na
história fazem-se necessários os meios
materiais que traduzam a forma mental do
indivíduo no tecido histórico (FOIL,
2007). Quanto a o que concerne aos
conhecimentos relacionados a outros
pontos pertinentes ao processo de vendas,
investigados nesta pesquisa, os resultados
demonstram uma carência de formação
técnica global.
Das áreas de conhecimento que
englobam
questões
envolvendo
o
indivíduo, seu cliente e sua empresa, há
uma paridade entre a importância e o nível
de conhecimento. Na medida em que as
áreas de conhecimento tornam-se mais
técnicas e de contexto econômico
internacional, a distância entre o
conhecimento e a importância tornam-se
maiores. Os piores desempenhos foram
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para Economia Internacional (31,58%),
Matemática Financeira (36,84%) e
Legislação da sua área (36,84%). No
entanto, a importância de todas as 12
alternativas foi atestada, com percentuais
acima de 65% para todas, com destaque às
características técnicas do seu produto
(100%) e as Técnicas de Marketing
(100%).
No entanto, a intuição para ser
colocada em prática numa realidade de
economia globalizada, precisa de soluções
técnicas e conhecimento de ordem
internacional.
Muitas
vezes
um
empreendedor pode não conseguir realizar
sua intuição não porque esta seja falha ou
ilusória, mas porque ele não detinha as
ferramentas racionais necessárias para
realizá-la. Toda grande inspiração, assim
como uma bela música, precisa de meios,
de instrumentos para ser tocada. Caso
contrário, o virtuoso artista torna-se
ninguém. Não é uma improvisação,
mistério ou sorte, mas consequência de
um potencial afinado continuamente
(MENGHETTI, 2007).
O estilo de vida declarado pelos
respondentes não favorece ou favorece
pouco a formação continuada, possível
razão pela qual talvez existam as lacunas
destacadas acima. A distribuição de tempo
em relação às diversas atividades mostra
que a dedicação é maior ao trabalho
(52,95%) e à família (10,63%). As
atividades de formação como estudo
(4,21%), cursos de curta duração (1,05%)
ou cursos complementares (0,84%) são as
de menor representação.
4 Considerações Finais
Através da pesquisa realizada foi
possível verificar a percepção e o
reconhecimento do uso da intuição entre a
maioria dos respondentes. Também foi
constatado seu uso durante o processo de
vendas. Cabe lembrar que essa análise
levou em consideração a intuição em
interpretação livre por parte dos
respondentes, sendo assim, trata-se da
intuição do modo concebido por cada
profissional.
Após a pesquisa bibliográfica,
verificou-se que do ponto de vista
científico, a intuição parte do inconsciente
e pode ser verificada através da análise
onírica, sempre que o indivíduo não foi
capaz compreender sua manifestação à
consciência. Partindo desse ponto, para
alcançar a resposta à última questão da
pesquisa, optou-se por fazer perguntas
indiretas, onde o foco principal era o
sonho, sua importância e o nível de
amnésia existente. Além disso, as
respostas abertas nas questões diretas
sobre a intuição permitiram fazer algumas
deduções, conforme seguem.
As descrições obtidas sobre as
razões
pelas
quais
os
sujeitos
entrevistados são intuitivos, parecem
tratar principalmente de efeitos ou
fenômenos que, na maioria das vezes, não
são oriundos de uma intuição, como por
exemplo: memória, experiências, crença,
instinto. Dessa forma, conceito de intuição
parece vago, impreciso e carente de
embasamento científico.
Os sonhos que poderiam ser uma
ferramenta de obtenção da informação da
intuição são relevados pela maioria dos
respondentes, mas o nível de amnésia é
bastante alto. Também a não relevância
desses conteúdos é representativa, o que
traz um ponto de atenção muito
importante. Além disso, a maioria alega
não ter instrumentação para compreender
os conteúdos oníricos, o que por um
aspecto pode ser positivo, evitando que se
façam compreensões equivocadas, mas ao
mesmo tempo mostra o pouco acesso à
informações sobre esse assunto de modo
mais consistente e científico.
Também o preparo técnico sobre
aspectos profissionais parece carente,
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sustentado por um estilo de vida de pouca
orientação à formação continuada. Nesse
sentido, a base de historização de um
processo intuitivo resta frágil.
A conclusão que se chega ao final
desse breve fragmento de análise sobre a
intuição é que, o ser humano possui uma
capacidade que permite uma resposta
diretiva e instantânea diante das diversas
demandas de decisão e solução que a vida
propõe, ou seja, a intuição. Seja um
vendedor que qualquer outro profissional
pode utilizar essa capacidade se dispuser
de um instrumento (a si mesmo e o seu
próprio corpo) alinhado e íntegro, ou seja,
exato. A solução parece ser a manutenção
desse
instrumento,
através
do
autoconhecimento em sentido permanente,
na leitura contínua a cada momento de si
mesmo, da percepção organísmica e da
construção técnica que permite a tradução
das puslões intuitivas em ações práticas do
dia-a-dia nas lógicas dos negócios.
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Hall, 2008.
SCHULTZ, D. P., SCHULTZ, E. S.
Teorias da Personalidade. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2002.
SILVA, E. L. da. Metodologia da
pesquisa e elaboração de dissertação. 3.
ed. Florianópolis: Laboratório de Ensino a
Distância da UFSC, 2001.
Autores:
Joana de Jesus: administradora; Especialização
em Gestão de Negócios e Intuição (AMF).
Adriane Maria Moro Mendes: Graduação em
Farmácia
e
Bioquimica (UFSC)
e
em
Psicologia (UNISUL);
Especialização
em
Psicologia com abordagem em Ontopsicologia
(UESP); Doutorado em Engenharia e Gestão do
Conhecimento (UFSC). Professora Adjunta da
Universidade Federal de Santa Catarina e
professora convidada da Faculdade Antonio
Meneghetti (AMF).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 20/12/2010.
JESUS, Joana de; MENDES, Adriane M.M. Estudo exploratório sobre a aplicação da intuição no processo de vendas. Revista Saber
Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 114-124, fev. 2011.
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A esquizofrenia demonstrada na
legislação atual através da nova lei de
estágio de estudantes
Alessandro Spiller
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
[email protected]
Josemar Sidinei Soares
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
[email protected]
Resumo: Esse artigo pretende demonstrar que o sistema legal brasileiro, baseado em
um conceito errôneo de Justiça Social, vem gerando um excessivo protecionismo e
assistencialismo, que se traduzem em resultados que travam o empreendedorismo.
Tal fato não condiz com o ideal humanista de um homem protagonista responsável,
encontrando-se o ordenamento normativo cindido entre o que a lei impõe e o que
deveria dispor para fomentar o crescimento do ser humano de forma holística, e
consequentemente o crescimento do Brasil como liderança mundial. O objeto de
estudo é a aplicação prática da Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008 junto aos
seus destinatários. Os dados apresentados e discutidos nesse trabalho referem-se à
aplicação de entrevistas a 23 pessoas divididas nos seguintes segmentos 06 partes
concedentes; 03 Instituições de Ensino Superior privadas; 02 agentes de integração e
12 estagiários estudantes de cursos superiores. Os entrevistados foram selecionados
pela amostragem aleatória simples, distribuídos na região de Bento Gonçalves-RS,
Porto Alegre-RS e São João do Polêsine-RS. Trata-se de um estudo de caso
realizado através da pesquisa de campo com abordagem qualitativa, sendo os dados
coletados mediante entrevista semiestruturada. Os dados coletados foram
processados mediante análise de conteúdo. Em base às percepções dos questionários
coletados verifica-se uma cisão entre realidade e lei, com o aumento das dificuldades
impostas pela legislação para formar o ser humano e manter um empreendimento em
movimento de forma sustentável. Pode-se afirmar que o sistema legal cada vez mais
impõe deveres e direitos sociais repassando os custos gerados para as entidades
privadas, impedindo um maior crescimento econômico e a responsabilização do
indivíduo. Os resultados obtidos nessa pesquisa acenam ser urgente a mudança desta
tendência jurídico-social, resgatando a correlação direta entre a norma e o fato, entre
a realidade e a lei, fomentando a valorização do ser humano, auxiliando o seu
crescimento integral e gerando oportunidades iguais com responsabilização
individual.
Palavras-chave: esquizofrenia jurídica; sistema legal; justiça social; estágio de
estudantes; sociedade.
Abstract: This article intend to demonstrate that the Brazilian legal system has been
begetting an excessive protectionism and welfarism with negative results which
hinder entrepreneurship, based on a misconception of Social Justice. This fact is
inconsistent with the idea of man protagonist responsible, meeting the normative
SPILLER, Alessandro; SOARES, Josemar S. A Esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova Lei de estágio de
estudantes. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 125-140, fev. 2011.
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ordering split between what the law imposes and what should be dispose to foment
the growth of the human being holistically, and Brazil's own growth as a world
leader. The study object is the practical application of Law Number 11788 of
September 25, 2008 to its recipients. The data presented and discussed in this paper
refer to the application of 23 interviews effectuated with: 6 companies trainee
provider; 3 universities, 2 agents of integration, 12 trainees which are university
students. The interviewees were selected by simple random sampling, distributed in
the region of Bento Gonçalves / RS, Porto Alegre and Sao Joao do Polêsine / RS.
This is an inductive research, by the technique of field research with a qualitative
approach, through case studies. The data collected were processed by content
analysis. Based on the perceptions of questionnaires collected there was a split
between reality and law, with increasing difficulties imposed by the legislation to
form a human being and maintain a business moving in a sustainable manner.
Moreover, it appears that the legal system increasingly requires "social rights and
duties" and to pass the costs to private parties, preventing a greater economic growth
and self empowerment of the individual. The results obtained in this study
demonstrate the urgent need to change this juridical-social environment, rescuing
the direct correlation between norm and fact, between reality and law, fomenting the
valorization of human being, assisting in their full potential, creating equal
opportunities, with individual responsibility, and not limiting them.
Keywords: legal schizophrenia; legal system; social justice; training of students;
society.
1 Introdução
A Constituição Federal de 1988
trouxe importantes avanços para o Brasil,
sendo considerada a “Constituição
Cidadã”, já que o país saía de um regime
ditatorial cujos direitos individuais não
eram sequer garantidos1. Naquela
oportunidade foi instituído um Estado
Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o
bem-estar,
o
desenvolvimento,
a
igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida com a
solução pacífica das controvérsias1.
Já no seu Artigo 1º, foram
estabelecidos como fundamentos do
Estado Democrático de Direito, dentre
outros, a cidadania, a dignidade da pessoa
humana e os valores sociais do trabalho e
da livre iniciativa2. E por se tratar do mais
1
Preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil,
de 1988.
2
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
importante texto legal de nosso país, o
qual dá base a todo o sistema normativo
decorrente, as demais normas infraconstitucionais devem observar e atender
ao que foi então intencionado pelos
representantes do povo como fundamento
radical.
Entretanto, justamente por estar se
saindo de um regime totalitário, em um
claro movimento dialético, a Constituição
acabou por alargar em demasia os direitos
individuais e sociais, conforme vem se
verificando atualmente, sem atrelá-los aos
seus correspondentes deveres. Acrescido
a isso, registra-se que muitos dos
conceitos de direitos individuais e sociais,
por exemplo, liberdade, igualdade, bemestar, dignidade da pessoa humana,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição.
SPILLER, Alessandro; SOARES, Josemar S. A Esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova Lei de estágio de
estudantes. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 125-140, fev. 2011.
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valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa, são subjetivos, gerando
interpretações
das
mais
variadas,
conforme o referencial de seu intérprete.
Como resultado, na sociedade
atual
observa-se
uma
maciça
conscientização de direitos individuais,
constatado pelo crescente número de
processos judiciais em andamento no
Brasil, e consagrada pela célebre frase:
“Tenho e exijo os meus direitos”. Em
decorrência, o Brasil vem passando por
um enorme processo de “judicialização” e
“litigiosidade”, onde, qualquer litígio, por
mais singelo que seja, tem fortes
propensões de desembocar no Poder
Judiciário.
De outro lado, a conscientização
dos deveres dos cidadãos brasileiros não
vem ocorrendo na mesma medida da
conscientização dos seus direitos. E
inclusive se verifica que tais deveres vêm
sendo repassados por força de leis a
terceiros, que não são seus titulares. O
bônus fica com uns, e o ônus com outros.
E quando isso acontece – conscientização
de direitos sem a correlata conscientização
de deveres – indubitavelmente ocorre uma
cisão na formação da mentalidade da
sociedade e dos homens que a constituem,
uma vez que a relação direito-dever se
perde.
Essa
cisão,
consolidada
e
fortalecida pela própria lei, vem trazendo
resultados perversos para o ser humano e
para o próprio Brasil. Ora, não se pode
nunca perder de vista que a sociedade é
formada por pessoas. E estas são mais
importantes que a lei, uma vez que a lei
deve ser feita para servir ao homem, e não
ao contrário3. A lei deve assegurar e
3
Nesse sentido, Reale (2010a) chegou a mesma conclusão,
quando afirmou em relação ao Direito: “Se imaginarmos, na
história da espécie, a experiência do Direito como um curso de
água, diremos que esta corrente, no seu passar, vertiginoso ou
lento, vai polindo as arestas e os excessos das normas jurídicas,
para adaptá-las, cada vez mais, aos valores humanos concretos,
porque o Direito é feito para a vida e não a vida para o Direito”
(REALE, 2010a, p. 610).
fomentar o crescimento do indivíduo
como ser humano integral, permitindo
inclusive a sustentação do protagonismo
do Brasil como líder nesta nova economia
globalizada, através de seus atores. Caso
isso não ocorra, ela não terá funcionalidade
e produzirá resultados perversos a se
perpetrar no tempo.
Desta forma, entendemos que
somente
poderemos
manter
uma
sociedade de pessoas sadias, se esta
sanidade vier a ser garantida e fomentada
pela própria legislação, a qual deve ser
sempre considerada com um produto do
meio social na qual está inserida. Como a
preservação
da
sanidade
social
necessariamente passa pela legislação, a
lei somente pode ser considerada eficaz se
aquilo que dispuser trouxer resultados
positivos, gerando evolução individual e
social.
Assim, o objeto deste estudo é
verificar se esta sanidade social está ou
não sendo garantida adequadamente pela
legislação, por meio do estudo prático da
nova lei de estágio de estudantes, uma
vez que essa lei modificou profundamente
a relação entre empresas e universidades e
entre mercado de trabalho e estagiário, o
que desemboca naturalmente na qualidade
da formação prática dos futuros
profissionais através do estágio.
2 Fundamentação Teórica
Chemama e Vandermersch (2007)
afirmam que a esquizofrenia, segundo
conclusão de Freud, faz com que a palavra
seja entendida pelo indivíduo em seu
sentido próprio, perdendo seu poder
metafórico, ou se o mantém, traz na sua
origem
uma
metáfora
imprópria.
Avançando no conceito, tais autores, ao
citarem Lacan afirmam:
De fato, somente essa metáfora permite,
precisamente, apagar a coisa, dando,
desse modo, seu poder ao símbolo, sua
SPILLER, Alessandro; SOARES, Josemar S. A Esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova Lei de estágio de
estudantes. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 125-141, fev. 2011.
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capacidade de “irrealizar”, isto é, de
transpor as coisas da ordem real para a
ordem simbólica, tornando-nos capazes
de lidar com sua ausência, ou seja, com
sua presença simbólica. É esse poder de
“irrealização” que, mesmo não estando
por inteiro no símbolo em estado normal,
faz falta na psicose. A esquizofrenia vem
ilustrá-lo, de maneira exemplar, pela
importância da irrupção do símbolo no
real, sob a forma de cadeia rompida,
alucinatória ou neológica (CHEMAMA e
VANDERMERSCH, 2007, p. 128-129).
Conforme Meneghetti (2008b),
esquizofrenia é uma palavra de origem
grega, cujo significado é cérebro dividido,
sendo assim definida:
Estado da mente em que as funções ou
partes operativas não efetuam a unidade
de informação e de juízo. Distingue-se da
neurose na medida em que é inconsciente
(MENEGHETTI, 2008b, p. 102).
Com base nestas definições, e para
fins do presente artigo, pode-se então
considerar “esquizofrenia legal” a cisão
existente entre as finalidades que a norma
legal deveria garantir e fomentar na
sociedade e nos homens que a constituem,
e os resultados que ocasionam. As
finalidades definidas no texto da lei se
dirigem para um lado, e os resultados
práticos decorrentes acabam se dando para
outro. Não há unidade de informação e de
juízo entre o que a lei diz, e os seus
resultados.
E essa cisão ocorre de forma
inconsciente, sem que o legislador e o
destinatário da lei se dêem conta. E, ainda,
na maioria das vezes, inclusive, o
legislador e o destinatário da lei acreditam
fielmente estarem fazendo o melhor,
garantindo direitos de alguns, quando na
realidade estão ocasionando danos sociais
incalculáveis, restringindo avanços de
muitos. A boa-fé pode sim gerar danos, e
não deve ser escusável nessa situação.
Nesse particular, interessante notar
que essa constatação não é nova, e já
preocupava a civilização grega, conforme
lição de Ferraz Júnior (2009), que chegou
a criar uma denominação para tal
fenômeno, anomia:
Que significa não a falta da lei, mas um
dissídio entre uma lei escrita e os
supremos
princípios
do
justo.
Reciprocamente, a eunomia é o acordo
entre a lei escrita e os princípios gerais do
justo (FERRAZ JUNIOR, 2009, p. 221).
Tal situação possui extrema
importância por se tratar a lei de uma
proposição que impõe um comportamento,
um dever-ser, a todos os cidadãos de um
determinado Estado. Ferraz Júnior (2010)
esclarece a respeito:
Os juristas, de modo geral, vêem a norma,
primeiramente,
como
proposição,
independentemente de quem a estabeleça
ou para quem ela é dirigida. Trata-se de
uma proposição que diz como deve ser o
comportamento, isto é, uma proposição de
dever-ser. Promulgada a norma, ela passa
a ter vida própria, conforme o sistema de
normas no qual está inserida. A norma
pode até ser considerada o produto de
uma vontade, mas sua existência, como
diz Kelsen, independe dessa vontade.
Como se trata de uma proposição que
determina como devem ser as condutas,
abstração feita de quem as estabelece,
podemos entender a norma como
imperativo
condicional,
formulável
conforme proposição hipotética, que
disciplina o comportamento apenas
porque prevê, para sua ocorrência, sanção
(FERRAZ JUNIOR, 2010, p. 75).
Assim, independente de sua
consequência na prática, enquanto a lei
estiver em vigor, obriga a todos os que a
ela estão submetidos, impondo severas
sanções a que não a observe, uma vez que
com isso pretende resguardar a
coexistência harmônica da sociedade.
Entretanto, não se pode esquecer
que a lei é uma ferramenta da qual o
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estudantes. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 125-141, fev. 2011.
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Direito se utiliza
finalidade social, e
(1952), por se tratar
ciência humana, não
com a simples
coexistência social:
para impor uma
como ensina Ráo
o Direito de uma
pode se satisfazer
possibilidade da
Não é essa a sua finalidade suprema,
senão a de obter, por meio da coexistência
social harmônicamente organizada, o
aperfeiçoamento da coletividade mediante
o aperfeiçoamento do indivíduo.Embora
não se defina como a simples soma dos
indivíduos que a formam, e, sim, como
um todo orgânico dotado de ações e
reações próprias, a sociedade não é um
ser em sentido biológico, nem é capaz de
sobreviver totalmente indiferente à sorte
de seus membros, que não são seus meros
instrumentos, mas a sua própria
finalidade, pois a vida social é uma
decorrência da natureza humana.Por uma
suposta felicidade coletiva, política,
social, ou econômica, não se deve pagar o
preço do aviltamento do homem, da
supressão total, ou totalitária, de sua
liberdade espiritual, intelectual, cívica ou
econômica, o preço, isto é, da destruição
de sua personalidade.Assume, assim, o
direito o caráter de fôrça social
propulsora, quando visa proporcionar, por
via principal aos indivíduos e por via de
consequência à sociedade, o meio
favorável ao aperfeiçoamento e ao
progresso da humanidade (RÁO, 1952, p.
42).
Como se observa, deve o Direito
asumir, e por consequência a própria lei,
uma função mais ampla, qual seja,
permitir e fomentar o aperfeiçoamento do
indivíduo, para possibilitar o progresso da
humanidade.
Assim, uma lei somente pode ser
considerada válida e desta forma
legitimamente
obrigar,
segundo
Meneghetti (2005), se possuir “um
ordenamento racional ao bem comum, ao
bem do grupo, daqueles que deverão
observá-la” (MENEGHETTI, 2005, p.
127), diversamente, a lei não é válida.
E a lei tem por uma de suas
finalidades, ainda conforme Meneghetti
(2002) o bem do próprio corpo social:
Seja em relação às partes componentes
que ao conjunto das partes: deve ser um
bem circular. Primeiro bem da lei é o
coletivo, secundário o indivíduo. Mesmo
se, na natureza, o indivíduo é o tijolo da
ordem social, a lei deve pensar no
conjunto; todavia, para salvaguardar esse
conjunto, não pode esquecer o tijolo
(MENEGHETTI, 2002, p. 145).
Na
realidade,
Meneghetti (2002):
prossegue
O bom e o mau são verificados pelos
resultados sociais: se uma lei – uma vez
delineada – traz produção e bem-estar,
então é boa, do contrário, é negativa
(MENEGEHTTI, 2002, p. 145).
Nesse sentido, Aristóteles, na obra
Ética a Nicômaco (2008) também
expressa uma ideia que deve ser aqui
abordada, quando afirma que nas
…disposições sobre todos os assuntos, as
leis visam à vantagem comum, seja a de
todos, seja a dos melhores ou daqueles
que detêm o poder ou algo semelhante, de
tal modo que, em certo sentido,
chamamos justos os atos que tendem a
produzir e a preservar a felicidade e os
elementos que a compõem para a
sociedade política. E a lei determina que
pratiquemos tanto os atos de um homem
corajoso (isto é, que não desertemos de
nosso posto, nem fujamos, nem
abandonemos nossas armas), quanto os
atos de um homem temperante (isto é, que
não cometamos adultério nem nos
entreguemos à luxúria), e os de um
homem calmo (isto é, que não agridamos
nem caluniemos ninguém); e assim por
diante com respeito às outras virtudes,
prescrevendo certos atos e condenando
outros. A lei bem elaborada faz essas
coisas retamente, ao passo que as leis
elaboradas às pressas não o fazem assim
tão bem (ARISTÓTELES, 2008, p. 104195).
SPILLER, Alessandro; SOARES, Josemar S. A Esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova Lei de estágio de
estudantes. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 125-141, fev. 2011.
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Por essa leitura podemos concluir
que as leis bem elaboradas, para assegurar
vantagem para toda a sociedade, devem
preservar e produzir as virtudes do
homem, uma vez que preservando e
fomentando tais virtudes individuais, se
permite o ganho social, pois os homens
crescem com suas virtudes se tornando
homens melhores, e a sociedade no qual
estão inseridos acaba avançando junto. Se,
ao inverso, as leis não fomentarem as
virtudes dos homens, mas sim seus vícios,
elas estarão gerando diminuição ao ser
humano, contaminando toda a sociedade
na qual estão inseridas.
Assim, caso a lei traga progresso
funcional aos seus destinatários, é boa e
válida. Do contrário, não é boa nem
válida, acarretando um mal.
Por outro viés, Reale (2010a)
afirma que somente devem ser consideras
leis perfeitas as que forem dotadas de
fundamento ético, registrando, no entanto,
que existem leis
...nascidas puramente do arbítrio ou de
valores aparentes, que só o legislador
reconhece. Entretanto, não deixam de ser
jurídicas, porque possuem vigência. Daí
um problema dos mais sutis e relevantes:
o da obediência ou não às leis destituídas
de fundamento ético e a sua positividade.
Há, por outro lado, fenômenos curiosos de
mudança de fundamento. Muitas vezes, os
meios técnicos não alcançam os
resultados previstos; o legislador pensa
atingir um fim, mas a lei fica a meio
caminho, insuficiente e incapaz de atingir
o alvo colimado (REALE, 2010a, p. 591).
Como se observa, não é incomum
que as leis venham a ser propostas com
um objetivo, mas alcancem outros com
consequências imprevistas. Se isto
ocorrer, mesmo considerando-se uma lei
“imperfeita”, está não deixará de ser
jurídica, e com isso, acabará construindo
uma realidade diversa da que foi
planejada, “com força de lei”.
Reale (2010a) prossegue nos seus
ensinamentos afirmando, então, que é
atribuição do legislador evitar o divórcio
entre a realidade e as normas que jamais
tiveram razão de ser, porque conflitantes
com os legítimos interesses da
coletividade.
Entretanto, em que pese a oportuna
lição de Reale, não se pode esquecer que
na sociedade atual, não é comum que os
legisladores reconheçam este divórcio,
evitando, ou mesmo corrigindo tal
equívoco. O que na maioria das vezes
acontece, é a lei se perpetuar, trazendo
consequências por um longo período.
Tal fato ocorre por diversas razões,
destacando-se inicialmente as decorrentes
do atual modelo eleitoral brasileiro, que
embora reconhecido como verdadeiramente
democrático, vem enfrentando uma séria
crise institucional, pois se verifica cada
vez mais que o mesmo contribui para uma
formatação negativa nos políticos
brasileiros responsáveis pela criação das
leis, pois estes se sentem pressionados a
criar e fazer proliferar leis assistencialistas
e protecionistas, com o único objetivo de
angariar votos da denominada “massa
social”, garantindo assim a sua reeleição.
Nesse sentido, Meneghetti (2007),
ao falar sobre o real significado da
democracia e o modo como é
compreendida atualmente, explica que:
Hoje, aquilo que é o poder, a autoridade
republicana ou democrática – o poder do
povo, que não é o povo entendido pelos
atenienses ou pela antiga república
romana – não está nas mãos de um deus,
de uma fé dogmática, de um direito de
natureza, de uma consequência de
intrínseca honestidade nas relações entre
as coisas, mas está sempre submetido ao
poder do número, da onde da opinião do
momento, daquela massa que parece
prevalecer através das fontes de
comunicação (MENEGHETTI, 2007, p.
47).
SPILLER, Alessandro; SOARES, Josemar S. A Esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova Lei de estágio de
estudantes. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 125-141, fev. 2011.
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De certo modo, os políticos
brasileiros são reféns desse sistema, pois
precisam se eleger pelo voto quantitativo
da massa, e para tanto, precisam trabalhar
em função dela, não restando tempo,
vontade ou mesmo a conscientização de
tal fato, para buscar a correção dos erros
legislativos. Precisam prestar contas à
massa de que lá estão para atender os
objetivos e anseios dela.
Tal fato por si só é alarmante, pois
impede o progresso do homem, já que
massificando as leis, se massifica o
próprio ser humano.
Vivemos em uma democracia que
não responsabiliza seus operadores, como
o fazia a civilização grega, que possuía
um interessante procedimento legislativo
conforme lição de Ferraz Júnior (2009):
...assim, em Atenas, na reunião anula da
Eclesia, no mês de Eatombeone (julho),
votava-se se, em princípio, as leis
deveriam ou não ser modificadas. Se a
maioria achasse que não, o ordenamento
não sofria qualquer mudança para o ano e
as propostas de modificação eram
consideradas prejudicadas. No caso
contrário, qualquer cidadão poderia
propor uma mudança, mas sob condições
graves, como garantia pessoal por parte
do proponente de que a nova lei seria de
utilidade pública, respondendo ele em
juízo, caso o contrário fosse verificado
(FERRAZ JUNIOR, 2009, p. 216).
Essa falta de responsabilização
individual é prejudicial ao progresso do
Brasil, e vem contribuindo para a formação
de um cidadão desresponsabilizado e com
tendência a esperar a resposta de terceiros,
especialmente do Estado assistencialista.
Entretanto, ficar nessa causa
primeira seria ingenuidade e superficialidade.
A real causa é mais radical, e está inserida na
própria mentalidade da sociedade brasileira,
e, portanto dos cidadãos e políticos que a
constituem. Sem a exatidão do homem
que se faz político, impossível a exatidão
da lei e da própria sociedade.
Ocorre que, conforme Meneghetti
(2008a):
Se perdeu a dimensão do homem segundo
o projeto originário da vida. Uma vez que
o ser humano é carente da própria verdade
interior, conforme o projeto de natureza,
encontra-se
disperso
e
caótico
(MENEGHETTI, 2008a, p. 19).
Assim, para almejarmos uma
verdadeira revolução na sociedade
brasileira, e nas próprias leis que essa
mesma sociedade projeta, é necessário
conhecer melhor o ser humano, com a
conscientização exata de seu real valor e
objetivo.
Aliás, o direito romano já tinha
esse conceito como princípio, conforme se
verifica em Cretella Júnior (2009):
Daí o haver dito Justiniano: Vejamos
antes as pessoas, pois é conhecer pouco o
direito, se desconhecemos as pessoas, em
razão das quais ele foi constituído (“Et
prius de personis videamos. Nam parum
est jus nosse, si personae, quarum causa
constitutum est, ignorentur”. Institutas, I,
2, 12) (CRETELLA JUNIOR, 2009, p.
60).
Como atualmente a sociedade está
composta por pessoas que não se
conhecem na integralidade, não resta
dúvida que essa ignorância gera a
esquizofrenia existencial individual, que
por sua vez é geradora da esquizofrenia
social, refletida por uma “esquizofrenia
legal”.
Os políticos legisladores sequer se
dão conta desta cisão, cabendo a eles se
conscientizarem de tal fato, buscando a
própria exatidão para que com ela sejam
capazes de restituir a sanidade à lei, uma
vez que são eles os responsáveis pela
criação das mesmas.
Somente com políticos legisladores
integralmente conscientes, teremos leis que
despertarão
paulatinamente
a
conscientização da sociedade brasileira.
SPILLER, Alessandro; SOARES, Josemar S. A Esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova Lei de estágio de
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E isto se torna dramaticamente
relevante, pois uma das consequências da
existência de qualquer lei é a formatação
da educação de uma sociedade e de seus
indivíduos, para o bem ou para o mal.
Neste sentido educativo é a análise de
Jaeger (2003) da obra As Leis de Platão,
que considera ser o legislador um
verdadeiro educador.
Como educador, se impõe ao
legislador estar atento aos efeitos práticos
da lei que cria (diretos e indiretos; visíveis
e não tão visíveis), especialmente em
relação às implicações que causam na
formação da mentalidade dos seus
destinatários.
Voltando as lições de Reale
(2010b), lembra-se que o direito se torna
autêntico não por ser declarado, mas sim
por ser reconhecido pela sociedade, pois
ela acaba vivenciando-o, como algo que
se incorpora e integra na sua maneira de
conduzir-se.
Desta forma, muitas vezes acaba
por se incorporar na sociedade uma lei
“imperfeita”, que indubitavelmente educa
os homens para a “imperfeição”.
Acrescido a esta realidade vem o conceito
de Justiça Social, o qual justificaria as leis
sociais que consagram o assistencialismo
e o protecionismo.
Meneghetti (2007) traz importante
reflexão sobre as diversas concepções da
Justiça Social na história, lembrando que
tal questão começou a se abrir nos tempos
do Papa Leão XII (1810-19030) através da
Encíclica Rerum novarum. Diz que para
Marx, o conceito seria uma necessidade
“no qual o operário tem direito à maisvalia: se não lhe é dada, ele a toma”
(MENEGHETTI, 2007, p. 52-53),
inclusive através da luta de classes. E na
mentalidade ocidental tradicional, a
Justiça Social é considerada como uma
forma de caridade: é justo que quem tem
mais dê a quem não tem. É uma forma de
bem, e não de um dever, mas de uma
opção.
Para sua verificação, afirma
Meneghetti (2007), a sociedade deve criar:
Objetivos e instrumentos por meio dos
quais os cidadãos possam realizar três
coisas: 1) o bem de si mesmos; 2) o bem
social, de cooperação, o interesse comum
e 3) o bem ontológico – os cidadãos, no
seu mundo interior, podem realizar
também o bem transcendente (…) dentro
de uma boa lei social, deveria estar
presente esta constante logística: a
manutenção
de
todos
os
seus
componentes, para favorecer a harmonia,
o bem-estar de todo o corpo, o conjunto, e
escopos qualitativos (MENEGHETTI,
2007, p. 39-40).
Assim,
(2007), na
prossegue
Meneghetti
…sociedade contemporânea, pode-se
afirmar que uma democracia é justa
quando realiza os seus escopos técnicos, e
não altera os seus cidadãos contra a
natureza deles. Uma justiça social é boa
quando não deforma ou cria patologias
nos próprios componentes, e consente e é
operativa – através das suas leis – de um
bem público, cívico: realiza aqueles fins
para os quais a lei foi proposta. É uma
verificação técnica, não moral, que nada
tem a ver com as exigências interiores e
metafísicas (MENEGHETTI, 2007, p.
40).
Resume, ao final, que “é “justiça
social” se aquilo que foi programado,
ordenado, comandado, legislado é
funcional ao escopo escolhido, desejado,
prometido” (MENEGHETTI, 2007, p.
40).
Como se observa, há um
deslocamento no conceito comum de
Justiça
Social,
baseado
no
assistencialismo e no protecionismo, para
um novo conceito, agora baseado na
responsabilização do indivíduo (realização
do bem de si mesmo), como pedra
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fundamental da sociedade no qual está
inserido (bem social).
Então, Justiça Social não é
proteger e assistir, mas sim permitir e
fomentar o crescimento social a partir do
crescimento do indivíduo, responsabilizando
este por seus avanços e eventuais
retrocessos. E para tanto, a lei se mostra
fundamental, especialmente por seu viés
educador.
Com estes fundamentos, agora se
enfrentam os principais aspectos do qual
trata a nova lei que dispõe sobre o estágio
de estudantes (Lei n. 11.788/2008), uma
vez que a mesma é instrumento para este
estudo.
Para tanto, é necessário iniciar tal
análise pelo projeto de lei que a originou4,
podendo se extrair da justificativa do
referido projeto de lei os fundamentos
éticos e os valores sociais e morais que o
legislador reconhecia como importantes, e
que pretendia preservá-los e fomentá-los
no indivíduo e em toda a sociedade:
a) propiciar uma melhor formação e
qualificação dos indivíduos para o
trabalho;
b) modernizar a legislação até então
existente, evitando desvirtuamentos
e objetivando o preparo para o
exercício da cidadania e a
qualificação para o trabalho;
c) ampliar a formação acadêmica
através do efetivo contato com o
mundo do trabalho, concretizando
os conteúdos teóricos;
d) combater ao desemprego dos
jovens;
e) formar as futuras gerações de
profissionais,
mantendo
e
fomentando o progresso no
mercado de trabalho;
f) dar mais garantias e segurança aos
jovens, incentivando um maior
4
Projeto de Lei do Senado nº 473 de 2003, apresentado em 18
de novembro de 2003 pelo Senador Osmar Dias.
número de empresas na oferta de
programas de estágio.
Tal projeto de lei teve tramitação
regular, e após a apresentação e debate de
várias emendas, tanto no Senado quanto
na Câmara de Deputados, resultou da
sanção presidencial a Lei nº 11.788/298,
que dentre os 22 artigos, estabelece:
a) Estágio é ato educativo escolar
supervisionado, desenvolvido no
ambiente de trabalho, visando à
preparação
para
o
trabalho
produtivo de educandos que
estejam freqüentando o ensino
regular (Art. 1º);
b) O estágio visa ao aprendizado de
competências próprias da atividade
profissional e à contextualização
curricular,
objetivando
o
desenvolvimento do educando para
a vida cidadã e para o trabalho (Art.
1º, § 2º);
c) O estágio não cria vínculo
empregatício,
desde
que
observados:
i)
matrícula
e
freqüência regular do educando em
cursos de educação; ii) celebração
de termo de compromisso entre o
educando, a parte concedente do
estágio e a instituição de ensino; iii)
compatibilidade entre as atividades
desenvolvidas no estágio e as
previstas no termo de compromisso
(Art. 3º);
d) O
estágio
deverá
ter
acompanhamento efetivo pelo
professor orientador da instituição
de ensino e por supervisor da parte
concedente (Art. 3º, § 1º);
e) É vedada a cobrança de qualquer
valor dos estudantes, a título de
remuneração
pelos
serviços
prestados
pelos
agentes
de
integração,
sendo
estes
responsabilizados civilmente se
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indicarem estagiários para a
realização de atividades não
compatíveis com a programação
curricular estabelecida para cada
curso (Art. 5º, §§ 2º e 3º);
f) São obrigações das instituições de
ensino: i) celebrar termo de
compromisso com o educando e
com a parte concedente, indicando
as condições de adequação do
estágio à proposta pedagógica do
curso, à etapa e modalidade da
formação escolar do estudante e ao
horário e calendário escolar; ii)
avaliar as instalações da parte
concedente, e a sua adequação à
formação cultural e profissional do
educando; iii) indicar professor
orientador, da área a ser
desenvolvida no estágio, como
responsável pelo acompanhamento
e avaliação das atividades do
estagiário; iv) exigir do educando a
apresentação periódica de relatórios
de atividades; v) zelar pelo
cumprimento
do
termo
de
compromisso,
reorientando
o
estagiário para outro local em caso
de descumprimento de suas
normas; vi) elaborar normas
complementares e instrumentais de
avaliação dos estágios de seus
educandos; vii) comunicar à parte
concedente do estágio, no início do
ano letivo, as datas de realização de
avaliações escolares (Art. 7º);
g) São
obrigações
da
parte
concedente: i) celebrar termo de
compromisso com a instituição de
ensino e o educando, zelando por
seu cumprimento; ii) ofertar
instalações que tenham condições
de proporcionar ao educando
atividades de aprendizagem social,
profissional e cultural; iii) indicar
funcionário de seu quadro pessoal,
com formação ou experiência
profissional
na
área
de
conhecimento desenvolvida no
curso do estagiário, para orientar e
supervisionar até 10 estagiários
simultaneamente; iv) contratar em
favor do estagiário seguro contra
acidentes pessoais; v) quando do
desligamento
do
estagiário,
entregar termo de realização do
estágio com indicação resumida das
atividades
desenvolvidas,
dos
períodos e da avaliação de
desempenho;
vi)
manter
a
disposição
da
fiscalização
documentos que comprovem a
relação de estágio; vii) enviar à
instituição de ensino relatório de
atividades, com vista obrigatória ao
estagiário (Art. 9º);
h) A jornada de atividade em estágio é
definida entre a instituição de
ensino, a parte concedente e o
aluno estagiário, não podendo
ultrapassar: i) 4 horas diárias e 20
horas semanais, no caso de
estudante de educação especial e
dos anos finais do ensino
fundamental; ii) 6 horas diárias e 30
semanais, no caso de estudantes do
ensino superior, da educação
profissional de nível médio e do
ensino médio regular (Art. 10);
i) Se a instituição de ensino adotar
verificações
de
aprendizado
periódicas ou finais, nos períodos
de avaliação, a carga horária do
estágio deve ser reduzida pelo
menos à metade, para garantir o
bom desempenho do estudante
(Art. 10, § 2º).
j) A duração do estágio, na mesma
parte concedente, não poderá ser
superior a 2 anos, exceto quando se
tratar de estagiário portador de
deficiência (Art. 11);
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k) Estagiário recebe bolsa e auxíliotransporte – este último na hipótese
de estágio não obrigatório (Art. 12);
l) Assegurado ao estagiário, sempre
que o estágio tenha duração igual
ou superior a 1 ano, período de
recesso remunerado de 30 dias, a
ser
gozado
preferencialmente
durante as férias escolares. Se o
estágio for inferior a 1 ano, o
recesso deverá ser concedido de
maneira proporcional (Art. 13, §§
1º e 2º);
m) A manutenção de estagiários em
desconformidade com a Lei n.
11.788/2008, caracteriza vínculo de
emprego do educando com a parte
concedente do estágio para os fins
da legislação
trabalhistas
e
previdenciária (Art. 15);
n) Limitação ao número máximo de
estagiários em relação ao quadro de
pessoal das entidades concedentes,
por estabelecimento do estágio, nas
seguintes proporções: i) 1 a 5
empregados: 1 estagiário; ii) 6 a 10
empregados: até 2 estagiários; iii)
11 a 25 empregados: até 5
estagiários; iv) acima de 25
empregados: até 20 % de
estagiários (Art. 17 e seu § 1º);
o) Assegurado às pessoas portadoras
de deficiência o percentual de 10 %
das vagas oferecidas pela parte
concedente do estágio (Art. 17, §
5º).
Por fim, não é demais lembrar que
o estágio de estudantes tem como origem
as Corporações de Ofício da Idade Média.
Nelas, existiam três espécies de
trabalhadores:
os
mestres,
os
companheiros e os aprendizes.
Conforme Reis (2008):
Os aprendizes eram jovens trabalhadores,
submetidos à pessoa do mestre, de quem
aprendiam o ofício. Essa aprendizagem era
um sistema duro de trabalho, e os mestres
sempre impunham aos aprendizes um
regime férreo de disciplina, usando
largamente dos poderes que lhe eram
conferidos pelas normas estatutárias da
corporação. Terminada a aprendizagem,
subiam eles à categoria de companheiros,
que eram oficiais formados, mas sem
condições de ascenderem à maestria, pela
compressão exercida pelos mestres, que
desejavam, dessa forma, impedir a
concorrência, e assegurar a transmissão
dos privilégios das mestrias aos seus filhos
ou sucessores (REIS, 2008, p. 46).
Para o ingresso na Corporação de
Ofício deveria o aprendiz pagar um valor
ao mestre para custear as despesas do
aprendizado e a da sua própria
manutenção durante o período em que
estivesse sob a orientação e educação
deste. Isto se justificava por estar sendo
passando ensinamentos valiosos e
protegidos pela corporação.
Esse sistema de ensino deu origem
a grandes gênios da humanidade, como
Leonardo Da Vinci, que foi aprendiz na
oficina de Verrocchio; Michelangelo,
aprendiz na oficina de Ghirlandaio; Rafael
Santi, aprendiz na oficina de Pietro
Perugino.
3 Metodologia
Esta pesquisa é classificada como
um estudo de caso, tendo por objeto a
aplicação da Lei n. 11.788, que dispõe
sobre o estágio de estudantes, junto aos
diferentes públicos impactados pela
mesma. A pesquisa tem abordagem
qualitativa, sendo os dados coletados
mediante entrevista semiestruturada, com
aproximadamente 30 perguntas que
versavam sobre o tema. As respostas
foram analisadas mediante análise de
conteúdo.
Através da amostragem aleatória
simples, foram realizadas 23 entrevistas,
nas cidades de Bento Gonçalves-RS,
Porto Alegre-RS e São João do Polêsine-
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RS. A amostra de entrevistados foi
composta por:
- 06 partes concedentes, sendo 05
empresas privadas do setor
industrial e do setor de serviços e
uma entidade pública;
- 03 Instituições de Ensino Superior
privadas;
- 02 agentes de integração privados;
- 12
estagiários
regularmente
matriculados
em
uma
das
instituições
participantes
da
pesquisa. Destes, 09 eram
estudantes de Direito, 01 de
Comércio Exterior e 02 de
Administração.
Ressaltamos que a maioria das
entrevistas foram presenciais e conduzidas
pelo próprio pesquisador, sendo que
apenas uma pequena parte se deu por
meio eletrônico.
4 Resultados e Discussão
A análise dos dados coletados por
meio das entrevistas revelou a percepção
das partes envolvidas em relação a nova
lei de estágios. Foi possível verificar os
desdobramentos decorrentes da aplicação
da mesma e fazer alguns prognósticos.
Para facilitar a visualização dos
resultados, optamos por apresentá-los sob
a forma de itens, com um comentário
global ao final do capítulo.
Das 06 partes concedentes
entrevistadas, apurou-se que estas assim
se posicionam frente a nova realidade:
a) Afirmam que a nova lei de estágios
acarretou
dificuldades
na
operacionalização desses, pois
provocou maior burocracia e
aumento imediato de custos;
b) Dentro desta realidade, não
pretendem
contratar
mais
estagiários e ao fim dos estágios em
andamento irão proceder com a
migração dos melhores estagiários
para o regime de contrato de
trabalho;
c) O desinteresse no prosseguimento
de
atividades
envolvendo
estagiários; encontra sua principal
justificação na limitação da jornada
da atividade de estágio, uma vez
que esta fica dividida em 2h e 4h,
totalizando as 6h definidas. Isso,
segundo os entrevistados, impede
uma maior produtividade e melhor
integração com as atividades da
parte concedente;
d) Segundo eles, os agentes de
integração e as instituições de
ensino não estão preparados para o
cumprimento das exigências da
nova legislação; asseverando que as
instituições de ensino não vêm
informando as datas das provas,
tampouco
procederam
com
avaliações das instalações. Relatam
que não ocorreram fiscalizações nas
partes concedentes por parte de
órgãos oficiais até o momento.
A maioria dos entrevistados
entende que a nova lei não proporcionará
melhor formação e qualificação dos
indivíduos para o trabalho, tampouco o
desenvolvimento da cidadania, pois é
limitadora em relação ao aprendizado e
possui caráter assistencialista; que não
favorece o desenvolvimento de atitudes
empreendedoras, tão necessárias no
cenário profissional brasileiro e mundial,
onde o sistema de trabalho apresenta-se,
cada vez mais, centrado sobre as pessoas
que sobre as instituições.
Como exceção ao que acima foi
exposto, importa frisar que uma das partes
concedentes entrevistadas se trata de um
Órgão Público Federal, que afirmou não
ter tido problemas com a nova lei, tendo
compensado a redução da jornada com o
aumento do número de estagiários em
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seus quadros, entendendo ter sido a lei
benéfica em todos os seus termos.
Por sua vez, das entrevistas
realizadas com as Instituições de Ensino,
percebeu-se que:
a) Receberam a nova lei com grande
preocupação, em face da burocracia
e as novas responsabilidades;
b) Verificaram redução em torno de
50% nos firmamentos dos termos
de compromisso de estágios;
c) Referem-se à maior burocracia e
aumento de custo, uma vez que foi
designado profissional responsável
para o acompanhamento do estágio;
d) Não procederam ainda com
avaliações das instalações das
partes concedentes, confiando
somente nos relatórios destas.
Neste
sentido,
migram
paulatinamente para atender as
exigências da lei;
e) Acreditam que a nova lei permitirá
ao aluno, com o recesso e o limite
de jornada, melhor aprendizado,
pois poderá passar mais tempo na
instituição de ensino;
f) Afirmam que a nova lei não tem
perfil
de
formação
de
empreendedor, mas sim irá
fomentar a busca de emprego
estável, que é o grande objetivo dos
estudantes
das
universidades
atualmente. Neste item podemos
avaliar se este objetivo não seria
decorrente de um ensino que não
encontra meios de fomentar uma
educação ao empreendedorismo,
alimentando somente a cultura de
empregado.
Como exceção parcial, uma das
instituições de ensino se mostrou melhor
preparada para atender as exigências
legais, inclusive fazendo avaliações das
instalações das partes concedentes.
As entrevistas com os agentes de
integração destacaram os seguintes
pontos:
a) Diminuição das oportunidades de
estágio após a nova lei ocasionada,
no entender destes, pela limitação
da jornada horária;
b) Os estagiários demonstraram mais
interesse pelos direitos e benefícios
adquiridos que pelos deveres;
c) A responsabilidade do seguro
obrigatório foi transferida para as
partes
concedentes,
gerando
aumento de custos para estas, pois
agora além dos custos diretos com
o
próprio
estágio,
ficam
responsabilizadas pela formalização
e pagamento do seguro referido;
d) Aumento na burocracia e custos,
uma vez que precisam controlar
mais a atividade de estágio, em
relação aos próprios estagiários,
mas também em relação as partes
concedentes e as Instituições de
Ensino, para verificar se estão
cumprindo com a legislação. Tal
responsabilização acarreta aumento
de burocracia e custo, este de forma
indireta, pois precisam de mais
pessoas para realizar tais encargos;
e) Despreparo das instituições de
ensino no atendimento da nova
legislação.
Por fim, em relação as entrevistas
com estagiários, ficou evidenciado:
a) Que estes desconhecem o que
motivou a alteração legislativa,
uma vez que não foi sua iniciativa;
b) Que estes percebem a falta de vagas
de estágios após a nova legislação;
c) Que conhecem os benefícios
adquiridos com a nova lei,
especialmente a carga horária;
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d) Que percebem o despreparo das
Instituições de Ensino e dos agentes
de integração em observar a nova
lei;
e) Que não utilizam o tempo livre para
as atividades de estudo, mas para
práticas de lazer;
f) Que optam pela busca futura por
emprego e concurso público, e não
por empreendimento próprio;
g) Entendem
como
positiva
a
alteração
legislativa,
pois
afirmaram que existiam desvios,
mas quando questionados sobre
quais desvios e por quem
praticados disseram não conhecêlos diretamente, mas de ouvir falar;
h) Nenhum dos entrevistados referiu
conhecer os deveres do estágio
acarretados pela nova sistemática,
mas tão somente os novos direitos
adquiridos.
Como se percebe pelos resultados
expostos, houve flagrantes contradições
nas posições expressas entre os
destinatários da nova lei, demonstrando-se
com isso a cisão entre o que a norma
pretendia e o que se observa acontecer
atualmente.
A
“esquizofrenia
legal”
se
evidencia numa lei que nasce para
incentivar e acaba por limitar a educação
profissional por meio de estágios, pois
fica evidente a inviabilidade da pretensão
da nova lei quanto a formação dos
indivíduos para o trabalho através do
contato efetivo entre o mundo acadêmico
e o mundo laboral já que verificou-se a
diminuição do número de ofertas de
programas de estágio e o encerramento
destas atividades em uma grande parte das
empresas.
A lei analisada fez com que,
concretamente, as oportunidades de
estágio fossem diminuídas, prejudicando o
aprendizado prático dos estudantes.
Ademais,
por
ser
excessivamente
assistencialista e protecionista, ela acabará
educando toda uma geração de futuros
trabalhadores com essas premissas,
trazendo prejuízos para a sociedade
brasileira em curto espaço de tempo.
Além disso, tolheu-se da iniciativa privada
uma
grande
oportunidade
de
descobrimento
de talentos,
e o
treinamento privado destes, pois a nova lei
desestimula as empresas a investirem na
formação pessoal de estagiários através de
cursos realizados nas empresas.
Os motivos que desencadearam a
nova lei poderiam ser mais facilmente
corrigidos com uma maior fiscalização na
lei existente, sem ser necessária a
alteração legislativa.
A consequência direta da mudança
é que os investimentos educacionais e
cursos técnicos específicos custeados
integralmente até então pelas empresas,
que beneficiavam diretamente os jovens
brasileiros, se perderão. O estudante,
agora, deverá custear diretamente os
cursos e treinamentos que tinha acesso
através do incentivo das empresas
privadas.
Por tudo isso, forçoso é reconhecer
que a lei, por como esta delineada, não é
válida para a sociedade brasileira,
devendo ser revista o quanto antes.
5 Consideração Finais
Os resultados obtidos nessa
pesquisa demonstraram a cisão entre a
intenção do legislador quando formula as
leis e a sua aplicação prática, pois a
maioria delas vem se mostrando pouco
operacionais e funcionais, indo de
encontro a correta interpretação de Justiça
Social
–
a
que
responsabiliza
individualmente o ser humano pelo seu
crescimento, e em decorrência, da própria
sociedade na qual está inserido.
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No caso estudado, a nova lei de
estágio dos estudantes vem trazendo como
consequência primária a limitação das
ofertas de estágios pelas partes
concedentes,
preferindo
estas
a
contratação de um empregado formal,
firmando carteira de trabalho, regulandose a relação pela legislação trabalhista, em
razão da burocratização e do aumento de
custo decorrente, bem como pelo
despreparo demonstrado pelas instituições
de ensino.
Em relação aos estudantes
estagiários, verificou-se que os mesmos
entenderam como benéfica a lei, sem se
dar conta ainda que as oportunidades de
estágio foram reduzidas drasticamente.
Ademais, se verificou que os mesmos
conhecem da lei os direitos, sem se
preocupar com seus deveres.
A lei de estágio dos estudantes não
fomenta a valorização da livre iniciativa e
do trabalho, mas sim procura assegurar e
proteger uma equivocada Justiça Social,
uma vez que impede o desenvolvimento
do indivíduo e do corpo social no qual
está inserido, não estimulando aos
estudantes a superioridade da mais-valia
meritocrática e da reciprocidade. Cada um
deve ter o dever de contribuir para o bem
social, conforme os seus meios e
condições.
Desta forma, evidencia-se na
sociedade brasileira a “esquizofrenia
legal”, havendo uma completa cisão entre
o que a lei deveria trazer de benefícios
reais e o que efetivamente produz. Esta
lei, como a maioria, acarreta excessivo
protecionismo e assistencialismo, com
resultados
negativos,
travando
o
empreendedorismo e a própria livre
iniciativa – que estão asseguradas
constitucionalmente.
As intenções e consequências das
leis brasileiras não condizem com a ideia
de homem protagonista responsável,
encontrando-se o sistema legal cindido
entre o que a lei impõe e o que deveria
proporcionar para fomentar o crescimento
individual e social.
Está se educando os jovens
brasileiros na busca constante de novos
direitos, sem a preocupação dos correlatos
deveres. A mentalidade que resulta desse
modelo é do excessivo protecionismo e
assistencialismo, sem a contrapartida
necessária. Mais direitos sem deveres.
Por força da nova lei de estágio,
desde os bancos escolares, estaremos
educando os futuros trabalhadores e
cidadãos brasileiros a entender como
normal e necessário o assistencialismo e o
protecionismo, em lugar da iniciativa
privada e do empreendedorismo. Tal fato,
se permanecer, trará consequências
nefastas para o Brasil, ferindo de morte o
progresso econômico sustentável, bem
como o crescimento individual dos
brasileiros, sabidamente empreendedores.
Assim, a mudança que se faz
necessária é procurar retomar no homem a
sua sanidade, para que esta, reforçada por
leis válidas, consiga o retorno ao holístico
humano, fomentando através das normas o
crescimento da humanidade, e não a sua
redução. Afinal, uma lei somente é boa se
faz o ser humano progredir pelo trabalho e
pela
adequada
educação.
Lembra
Meneghetti (2007) que em vez de
...novas leis, é preciso conhecer os nossos
códigos e responsabilizar quem quer que
participe daquela sociedade. É preciso
dar-se conta de que existe uma sociedade
com fortes obrigações que nos condiciona
por toda parte. As regras são formalizadas
e sancionadas pelo nosso consenso. Nós
as esquecemos e acreditamos ser livres e
cheios de direitos, enquanto os outros não
observam as regras (...). Por uma questão
de interesse individual, vamos redescobrir
a nossa terra, vamos rever a nossa gente e
repensar as nossas leis. Então, faremos e
observaremos a nossa justiça social como
consciência cívica (eu também sou os
outros), e compartilhando a nossa
liberdade com os direitos dos outros
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ganharemos
sanidade
e
amizade
(MENEGHETTI, 2007, p. 104-105).
E para tanto, sugerimos começar
pela imediata modificação da nova lei de
estágio dos estudantes, procurando inserir
na legislação orientações que venham a
educar e fomentar no espírito dos jovens
estudantes brasileiros – futura força
política e econômica da nação – a ideia da
responsabilização pessoal, da meritocracia,
do prazer no trabalho, da autorrealização,
do
autossustento.
Tudo
isto
necessariamente convergindo para as
necessidades fáticas da iniciativa privada
responsável, supervisionado seriamente
pelas instituições de ensino, baseado nesta
nova ótica de Justiça Social proposta neste
artigo.
Com isso, estaríamos dando um
primeiro passo, procurando afastar a
“esquizofrenia legal” de uma lei
específica, formadora e educadora dos
jovens brasileiros, futuros condutores do
país, o que certamente chamaria a atenção
dos estudiosos e operadores do Direito
para esta problemática, a qual vem
imperando atualmente no sistema jurídico
como regra, sem a devida atenção nas suas
nefastas consequências. Afinal, não
devemos nos esquecer que é necessário
ultrapassar a sociedade de normas e
conquistar a sociedade de pessoas, onde a
pessoa é efetivamente mais importante
que a lei, não podendo o indivíduo estar
nunca em posição servil a esta.
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São
Paulo: Martin Claret, 2008.
BRASIL. Constituição Federal de 1988.
Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Con
stituicao/Constituiçao.htm> Acesso: 27 de
maio. 2010.
BRASIL. Lei Federal n. 11.788, de 25 de
setembro de 2008, que dispõe sobre o
estágio de estudantes; altera a redação do
art. 428 da Consolidação das Leis do
Trabalho – CLT, aprovada pelo DecretoLei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e a
Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996;
revoga as Leis nos 6.494, de 7 de
dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de
março de 1994, o parágrafo único do art.
82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, e o art. 6o da Medida Provisória no
2.164-41, de 24 de agosto de 2001; e dá
outras providências, disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At
o2007-2010/2008/Lei/L11788.htm>
Acesso: 27 de maio. 2010.
CHEMAMA, R.; VANDERMERSCH, B.
Dicionário de Psicanálise. São Leopoldo:
Ed. Unisinos, 2007.
CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de
Direito Romano: o direito romano e o
direito civil brasileiro no Novo Código
Civil. 31. ed. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2009.
FERRAZ JÚNIOR, T. S. Estudos de
filosofia do direito: reflexões sobre o
poder, a liberdade, a justiça e o direito.
3. ed. São Paulo: Editora Atlas S/A, 2009.
_______________. Introdução ao estudo
do direito: técnica, decisão, dominação.
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JAEGER, W. Paidéia. A Formação do
Homem Grego. São Paulo: Martins
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MENEGHETTI, A. A Psicologia do
Líder. 4. ed. Recanto Maestro:
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Dicionário
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Ontopsicologia. 2. ed. Recanto Maestro:
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____________. O critério ético do
humano.
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Ontopsicologia Editrice, 2002.
____________. A crise das democracias
contemporâneas.
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SPILLER, Alessandro; SOARES, Josemar S. A Esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova Lei de estágio de
estudantes. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 125-141, fev. 2011.
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Fundamentos
de
Filosofia. São Paulo: Ontopsicologia
Editrice, 2005.
RÁO, V. O Direito e a vida dos direitos.
São Paulo: Max Limonad Editor de Livros
de Direito, 1952. v. I.
REALE, M. Filosofia do Direito. São
Paulo: Ed. Saraiva, 2010a.
_____________. Lições preliminares de
Direito. São Paulo: Saraiva, 2010b.
REIS, J. T. Relações de trabalho estágio
de estudantes. Curitiba: Jurá Editora,
2008.
Autores:
Alessandro Spiller: advogado, sócio-administrador
da Dupont, Spiller Advogados Associados;
Especialista em Teoria Geral do Processo (UCS);
Especialização em Gestão de Negócios e Intuição
(AMF); profesor da Faculdade Antonio
Meneghetti (AMF).
Josemar Sidinei Soares: Doutor em Filosofia
(UFRGS); Mestre em Educação (UFSM); Mestre
em Ciência Jurídica (UNIVALI); professor
Programas de Mestrado e Doutorado em Ciência
Jurídica e professor Curso de Direito (UNIVALI);
professor graduação e pós-graduação Faculdade
Antonio Meneghetti (AMF).
Recebido em: 05/12/2010.
Aprovado em: 22/12/2010.
SPILLER, Alessandro; SOARES, Josemar S. A Esquizofrenia demonstrada na Legislação atual através da nova Lei de estágio de
estudantes. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 1, p. 125-141, fev. 2011.
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Linha Editorial
Como enviar seus trabalhos
Os trabalhos enviados devem seguir rigorosamente a norma ABNT (NBR 6023)
visando a padronização das expressões científicas nos trabalhos publicados.
1 Objetivos
A Revista Saber Humano, ISSN 2178-7689, da Faculdade Antonio Meneghetti tem
como objetivo a publicação de trabalhos que sejam classificados nas seguintes
modalidades: artigos/resultados de pesquisas, revisão de literatura (estudo teórico) e
cases, nas áreas de Ciências Humanas e Ciências Sociais aplicadas, em especial áreas de
Administração, Sistemas de Informação e afins.
A Revista Saber Humano contará também com duas seções especiais: Seção Scio Ens
que será destinada para outras áreas do conhecimento; e a Seção Episteme destinada à
publicação de trabalhos inéditos.
2 Normas
2.1 Os trabalhos enviados para publicação devem ser inéditos, não sendo permitida a
sua apresentação simultânea em outro periódico.
2.2 Os trabalhos deverão ser enviados exclusivamente via email –
[email protected] -, sendo o arquivo do texto enviado tanto em
formato DOC ou RTF (Word for Windows), quanto em PDF (Portable Document
Format).
2.3 Serão aceitos artigos/resultados de pesquisas, revisão de literatura (estudo teórico) e
cases nas línguas: português, italiano, espanhol e inglês. Os autores residentes fora do
Brasil devem observar as mesmas regras de submissão.
2.4 O(s) autor(es) deve(m) enviar seus trabalhos já com a devida revisão ortográfica e
sintática, com especial atenção à Reforma Ortográfica (2009-Brasil).
2.5 A publicação de um trabalho implica, automaticamente, a cessão integral dos
direitos à Revista Saber Humano.
2.6 Deverá ser enviado por correio o Termo de Direitos Autorais, assinado pelo(s)
autor(es) responsável, conforme ANEXO 1. Os artigos publicados têm seus direitos de
publicação considerados doados à Revista por seus autores, não implicando ganhos
financeiros para tal por parte dos autores.
2.6.1 A avaliação dos trabalhos é mantida através de um rigoroso sigilo de autores e
avaliadores, não sendo divulgados para as partes os nomes envolvidos. As
considerações serão feitas sempre por dois avaliadores e, no caso de discordância, um
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terceiro avaliador será requisitado. Os critérios de avaliação são: originalidade;
contribuição teórico-metodológica para a área em questão; qualidade técnica do texto;
apresentação e metodologia. O resultado da avaliação é devolvido primeiro ao autor do
artigo, que terá o prazo de 15 dias corridos para providenciar sugestões/correções e
reencaminhar para a Revista. Posterior à publicação da Revista, será fornecido
gratuitamente um exemplar da mesma para o(s) autor(es).
2.6.2 Para os trabalhos desenvolvidos a partir de pesquisas com seres humanos em
programas de pós-graduação (Mestrado/Doutorado), em instituições oficiais de ensino
e/ou pesquisa, deverá ser enviado conjuntamente o Parecer de Aprovação do Comitê de
Ética de Origem.
2.7 No caso de artigos de discentes estes devem ter um orientador docente de cursos de
graduação, conforme área de conhecimento do artigo, como co-autor.
2.8 Artigos fora das normas solicitadas não serão avaliados. É permitida a reprodução
parcial dos artigos, desde que citada a fonte.
3 APRESENTAÇÃO
3.1 Estrutura
3.1.1 Artigo/Resultado de pesquisas: deverão conter título em português e título em
inglês; resumo e palavras-chave (de 3 a 5); abstract e keywords (de 3 a 5); introdução;
revisão da literatura e/ou fundamentação teórica; metodologia; resultados e discussão;
considerações finais; e referências. Limites: texto com, no máximo, 17 páginas, já
incluso referências, tabelas ou quadros, gráficos e figuras/imagens.
3.1.2 Revisão da literatura (estudo teórico): deverá conter título em português e título
em inglês; resumo e palavras-chave (de 3 a 5); abstract e keywords (de 3 a 5);
introdução revisão da literatura; discussão; conclusão; e referências. Limites: texto com,
no máximo, 15 páginas já incluso referências, tabelas ou quadros, gráficos e
figuras/imagens.
3.1.3 Cases – Deverão conter título em português e título em inglês; resumo e palavraschave (de3 a 5); abstract e key words (de 3 a 5); introdução; apresentação e discussão;
conclusão; e referências. Texto com, no máximo, 8 páginas já incluso referências, bem
como tabelas ou quadros, gráficos e figuras/imagens.
3.2 Folha de rosto
Em separado, enviar também por e-mail uma folha de rosto do trabalho, contendo o
nome(s) do(s) autor(es), titulação, instituição à qual está(ão) vinculado(s), currículo
resumido e dados para contato (endereço completo para correspondência, e-mail e
telefones).
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3.3 Formatação de página:
a. Margens superior e inferior: 2 cm
b. Margens esquerda e direita: 3 cm
c. Tamanho do papel: A4
d. Alinhamento do texto: justifcado
e. Recuo especial da primeira linha dos parágrafos: 1,25 cm
f. Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas
g. Controle de linhas órfãs/viúvas: desabilitado
h. As páginas devem ser numeradas na margem superior canto direito.
3.3 Formatação de texto:
a. Tipo de fonte: Times New Roman
b. Tamanho da fonte: 12
c. Título em português: máximo de 90 caracteres
d. Resumos em português e inglês: máximo de 250 palavras cada. O resumo deverá
apresentar alinhamento justificado, apresentando a temática, contendo campo de estudo,
objetivo, método, resultado e conclusão. O resumo deverá aparecer logo abaixo dos
títulos (português, inglês).
e. Deve ser observada a redação do texto de forma clara e fluente. Poderão ser utilizadas
notas de rodapé quando necessário, quando o autor considerar importante detalhar
alguma informação que não irá constar no texto principal. As notas de rodapé deverão
ser inseridas ao fim de cada página, em fonte tamanho 10.
3.4 Citações de referências
As citações poderão ser diretas – quando o autor utiliza-se de um texto original para
extrair a citação, podendo reproduzi-lo literalmente. Ou indiretas – que o autor irá
interpretá-lo, resumi-lo ou traduzi-lo, ou extrair uma informação de uma fonte
intermediária.
As citações deverão respeitar as normas da ABNT/2002 (NBR 10520) vide
http://www.faculdadeam.edu.br/biblioteca, que deverão ser utilizadas para a redação
dos trabalhos enviados para esta Revista.
4 REFERÊNCIAS
Devem ser apresentadas em espaço simples, com alinhamento justificado, seguindo as
normas da ABNT/2002 (NBR 6023), abaixo exemplificadas.
4.1. A exatidão das referências bibliográficas é de responsabilidade única e exclusiva
dos autores.
4.2. As referências devem aparecer em ordem alfabética ao fim do corpo do trabalho.
Exemplo:
MOREIRA, D.A. Administração da produção e operações. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 1993.
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SILVA, R. O. da. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,
2001
TOSCANI, L.V; VELOSO, P. S. Complexidade de algoritmos. 2. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2008. 256 p.
4.2.1. Nas publicações com até três autores, citam-se todos.
4.2.2. Nas publicações com quatro ou mais autores, cita-se o primeiro e, em seguida, a
expressão latina et al.
4.3 Exemplos
4.3.1. Livro:
TOSCANI, L.V; VELOSO, P. S. Complexidade de algoritmos. 2. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2008. 256 p.
4.3.2. Capítulo de livro:
GOULART, S.; CARVALHO, C. A. O pesquisador e o design da pesquisa qualitativa
em administração. In: VIEIRA, M. M. F.; ZOUAIN, D. M. (Orgs.). Pesquisa
qualitativa em administração: teoria e prática. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005,
119-140.
4.3.3. Organizador(es), Editor(es) ou compilador(es) como autor(es):
VIEIRA, M. M. F.; ZOUAIN, D. M. (Orgs.). Pesquisa qualitativa em administração:
teoria e prática. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
4.3.4. Organização ou sociedade como autor:
FOIL. Psicologia da organização. São Paulo: Foil, 2003.
4.3.5. Artigo de periódico:
KATZENBACH, J. A disciplina das equipes. HSM Management, São Paulo, n. 17, p.
56-60, nov.-dez.1999.
4.3.6 Artigo em periódico on-line/internet:
SILVA, M. Crimes da era digital. .Net, Rio de Janeiro, nov. 1998. Seção ponto de vista.
Disponível em: <http://www.brasilnet.com.br/contexts/brasilrevistas.htm>. Acesso em:
04 mar. 2004
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4.3.7 Dissertação e tese:
PEROTA, C. O sítio de Monsarás: evidências arqueológicas. 1979. 179 p. Dissertação
(Mestrado em Antropologia Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, 1979.
CARVALHO, J. M. A formação do professor e do pesquisador em nível superior no
Brasil: análise do discurso do governo e da comunidade acadêmico-científica (19451964). 2 v. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação. Universidade
Federal do Rio de Janeiro. 1992.
5 TABELAS OU QUADROS
As tabelas, quadros e imagens deverão ser apresentadas no decorrer do texto, em seus
respectivos espaços, não deverão ser enviadas em arquivos a parte.
5.1. Devem constar sob as denominações “Tabela” ou “Quadro” e ser numerados em
algarismos arábicos.
5.2. A legenda deve acompanhar a tabela ou o quadro e ser posicionada abaixo destes
ou indicada de forma clara e objetiva no texto ou em documento anexo.
5.3. Devem ser autoexplicativos e, obrigatoriamente, citados no corpo do texto na
ordem de sua numeração.
5.4. Sinais ou siglas apresentados devem estar traduzidos em nota colocada abaixo do
corpo da tabela/quadro ou em sua legenda.
6 FIGURAS/ IMAGENS
6.1. Devem constar sob a denominação “Figura” e ser numeradas com algarismos
arábicos.
6.2. A(s) legenda(s) deve(m) ser fornecida(s) em arquivo ou folha impressa à parte.
6.3. Devem, obrigatoriamente, ser citadas no corpo do texto na ordem de sua
numeração.
6.4. Sinais ou siglas devem estar traduzidos em sua legenda.
6.6. Devem possuir boa qualidade técnica e artística, utilizando o recurso de resolução
máxima do equipamento/câmera fotográfica.
6.7. Devem ser enviadas gravadas em CD, com resolução mínima de 300dpi, nos
formatos TIF ou JPG e largura mínima de 10 cm.
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6.8. Não devem, em hipótese alguma, ser enviadas incorporadas a arquivos de
programas de apresentação (PowerPoint), editores de texto (Word for Windows) ou
planilhas eletrônicas (Excel).
7 GRÁFICOS
7.1. Devem constar sob a denominação “Gráfico”, numerados com algarismos arábicos
e fornecidos, preferencialmente, em arquivo à parte, com largura mínima de 10 cm.
7.2. A legenda deve acompanhar o gráfico e ser posicionada abaixo deste.
7.3. Devem ser obrigatoriamente, citados no corpo do texto, na ordem de sua
numeração.
7.4. Sinais ou siglas apresentados devem estar traduzidos em sua legenda.
7.5. As grandezas demonstradas na forma de barra, setor, curva ou outra forma gráfica
devem vir acompanhadas dos respectivos valores numéricos para permitir sua
reprodução com precisão.
8 PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Os artigos enviados para publicação são avaliados preliminarmente pelos
editores, que examinam a adequação do trabalho à linha editorial da Revista Saber
Humano. Posteriormente, os artigos são encaminhados para apreciação sigilosa por
pares. Caso sejam necessárias alterações/correções, os artigos serão devolvidos ao (s)
autor (es) que terão o prazo de 15 (quinze) dias para efetuá-las e reencaminhar o artigo à
Revista.
O parecer final dos avaliadores da Revista ocorrerá da seguinte:
a) Artigo aceito para publicação;
b) Artigo aceito para publicação mediante alterações/correções;
c) Artigo não aceito para publicação.
Os autores são comunicados dos passos do processo por e-mail. Estima-se um prazo
total de 30 (trinta) dias, desde o recebimento até o parecer sobre o artigo. A partir da
aprovação final, o artigo é inserido na publicação da Revista de acordo com a
programação das edições.
Importante:
1. Envie pelo correio, um envelope com:
- Termo de Cessão de Direitos Autorais, assinado pelo autor (es). Em caso de dúvida,
entre em contato com a redação pelo telefone (55) 3289-1141.
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2. Os trabalhos devem conter imprescindivelmente, todos os dados para contato com o
autor principal (endereço, telefones e e-mails), conforme solicitado na Folha de Rosto
(item 3.2).
3. Todos os trabalhos enviados devem respeitar os limites máximos de tamanho de
texto.
4. Dados para envio dos trabalhos: por e-mail para [email protected];
- por correio: enviar o Termo de Cessão de Direitos Autorais assinado (01 via) para:
Faculdade Antonio Meneghetti-AMF
A/C Revista Saber Humano
Rua: Recanto Maestro, nº 338
Distrito Recanto Maestro
São João do Polêsine – RS
CEP: 97230-000
9 CONSELHO EDITORIAL
A Revista Saber Humano tem um Conselho Editorial formado por pesquisadores nas
áreas de Ciências Humanas e Ciências Sociais aplicadas, em especial áreas de
Administração, Sistemas de Informação e afins, pertencente a diversos centros
acadêmicos do Brasil e do exterior.
Corpo Editorial
Ana Claudia Valentini Montenegro (AMF – Mestranda em Administração/Univ. Presb.
Mackenzie)
Clarissa Mazon Miranda (Mestranda em Comunicação/UFSM)
Estela Maris Giordani (AMF – Doutora em Educação/UNICAMP)
Gabriela Rockenbach de Oliveira (AMF – Mestranda em Engenharia da
Produção/UFSM)
Josele Nara Delazeri de Oliveira (AMF – Mestre em Engenharia de Produção/UFSM)
Leandra Calegare (AMF – Mestre em Engenharia de Produção/UFSM)
Paolo Garcia Moreno Leonardi (AMF – Doutor em Ciências Políticas/Univerità degli
Studi di Roma “La Sapienza”)
Patrícia Wazlawick (AMF – Doutora em Psicologia/UFSC)
Paula Silva Bazzo (AMF – Mestranda em Administração/UFSM)
Soraia Schutel (AMF – Mestre em Administração/UFSM; Doutoranda em
Administração/UFRGS)
Viviane Disarz (AMF – Bibliotecária)
Viviane Teresinha Biachi Brust (AMF – Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
Brasileira, Mestranda em Letras/Estudos Linguísticos UFSM).
Comissão Editorial
Patrícia Wazlawick (AMF – Doutora em Psicologia/UFSC)
Paula Silva Bazzo (AMF – Mestranda em Administração/UFSM)
Viviane Disarz (AMF – Bibliotecária)
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ANEXO 1
Termo de Cessão de Direitos Autorais
Nome da cidade, …. de ………………… de 20....
Eu (nós), [nome(s) do(s) autor(es)], autor(es) do trabalho intitulado [título
do trabalho], o qual submeto(emos) à apreciação da Revista Saber Humano para
nela ser publicado de forma impressa, on-line ou na forma por esta prevista,
declaro(amos) concordar, por meio deste suficiente instrumento, que os direitos
autorais referentes ao citado trabalho tornem-se propriedade exclusiva da Revista
Saber Humano a partir da data de seu aceite final. Autorizo ainda a publicar a minha
fotografia bem como meus dados com o intuito exclusivo de complementar os direitos
autorais neste ato cedidos.
__________________________
Nome completo
RG:
CPF:
Revista Saber Humano
Faculdade Antonio Meneghetti-AMF
Rua Recanto Maestro, nº 338 | Distrito Recanto Maestro
São João do Polêsine – RS | CEP: 97230-000
[email protected] | www.faculdadeam.edu.br
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