Formação Continuada de Educadores do Campo: Uma proposta interventiva
Andréa Wahlbrink Padilha da Silva1
Lílian Aldrighi Gomes2
Raquel Borges Teixeira de Oliveira3
Este trabalho apresenta a sistematização e reflexão sobre parte de uma das
pesquisas que vem sendo desenvolvidas, pelo Projeto de pesquisa, ensino e
extensão da Universidade Federal de Pelotas - UFPel. No contexto da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Wilson Müller, situada na colônia Triunfo, no
interior da cidade de Pelotas, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. A escola Wilson
Müller caracterizam-se por receber 50% de estudantes descendentes de
Pomeranos, e 40% de estudantes Afrodescendentes, oriundos de uma comunidade
Quilombola e 10% estudantes de outras etnias. A atividade econômica da
comunidade é de aproximadamente 95% submetida à monocultura do fumo, e
apenas 5% das famílias se dedicam a agricultura familiar, sendo: leiteira, aviária e
hortifrúti.
No cotidiano da Escola observa-se que o quadro de 14 professores que
apresentam nível de qualificação superior, evidenciando apenas um professor sem
titulo universitário. Atualmente a escola oferta ensino da pré-escola a 8ª série e
também em 2011 passou a ofertar uma turma do Programa de Educação de Jovens
e Adultos – PEJA, totalizando o atendimento a 123 alunos.
A proposta metodologia desenvolvida por este projeto na escola e pautada
pelo processo de pesquisa-ação (GRABAUSKA, 2001) na busca de construir e
fortalecer um grupo de professores pesquisadores, capazes de identificar situações
e problemas vivenciados no cotidiano de suas próprias práticas de ensino e
aprendizagem, bem como de superá-las por meio do aprofundamento teórico e da
qualificação das práticas educativas.
A temática da educação do campo tem sido elemento central nos debates
desde o primeiro ano de trabalho na escola, já que por nós pesquisadores foi
identificada a fragilidade teórica que os professores possuíam sobre este referencial
1
Mestranda do programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal de Pelotas, Bolsista do
projeto do Observatório da Educação do Campo – CAPES/INEP.
2
Professora da Rede Municipal de Pelotas, Bolsista do projeto do Observatório da Educação do Campo –
CAPES/INEP.
3
Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Pelotas, Bolsista do projeto do Observatório da
Educação do Campo – CAPES/INEP.
de projeto de escola. As possibilidades de compreensão da situação atual das
escolas do campo articula-se a compreensão do processo histórico que as
constituem. Assim, neste momento procuramos fazer uma retomada da Educação
do Campo, bem como de suas características, explicitando a necessidade de uma
construção significativa de uma nova escola do campo e com isso professores
comprometidos com este projeto de escola que segundo Caldart:
Ajudar a construir escolas do campo é, fundamentalmente, ajudar a
constituir os povos do campo como sujeitos, organizados e em
movimento. Porque não há escolas do campo sem a formação dos
sujeitos sociais do campo, que assumem e lutam por esta identidade
e por um projeto de futuro (Caldart, 2003, p.7)
Com isso, a Educação do Campo propõe que as práticas educativas vão
sendo construídas e reconstruídas a partir de uma reflexão coletiva, que articula os
achados no processo de levantamento de dados sobre a realidade da escola e as
possibilidades encontradas pelo grupo, para qualificação e superação das mesmas.
Estabelecendo assim, uma dinâmica formadora, que desafia o coletivo dos
professores a reencontrar-se com a superação da problemática estabelecida no
cotidiano escolar, que se expressa na dissociação entre forma e conteúdo. Assim,
sobre o exercício da ação-reflexão-ação, o quadro de professores da escola, tem
indicado uma sequencia de necessidades teóricas e práticas, que compõem a
estrutura do planejamento de trabalho que se compreende em desenvolvimento no
período de 2011 a 2014, período este que será desenvolvido o trabalho na escola
Wilson Müller. Além disso, é neste espaço, buscando por meio de um trabalho
reflexivo e coletivo, construído de forma gradativa, que a prática pedagógica tornase objeto de análise crítica por parte dos professores que vem se desafiando a
estudar junto ao grupo de estudos, pois entendemos que através do trabalho
coletivo que é possível a reflexões e análise das práticas e assim uma postura de
intervenção, possibilitando a articulação prática-teoria-prática.
A escola é o local do trabalho docente, e a organização é o espaço de
aprendizagem da profissão, no qual o professor põe em prática suas
convicções, seu conhecimento da realidade, suas competências pessoais e
profissionais, trocando experiências com os colegas e aprendendo mais
sobre seu trabalho. O professor participa ativamente da organização do
trabalho escolar, formando com os demais colegas uma equipe de trabalho,
aprendendo novos saberes e competências, assim como um modo de agir
coletivo, em favor da formação dos alunos (LIBÂNEO, 2004, p. 307).
Desta forma, evidencia-se a importância da construção de um ambiente de
formação continuada que não se restrinja apenas às situações agendadas para a
participação de cursos, conferências, reuniões desarticuladas da realidade do
contexto
real destas escolas, mas uma
organização
capaz de
interferir
significativamente na vida escolar.
Por entender a importância de um espaço comprometido em buscar junto a
comunidade escolar e que durante o trabalho na escola, o subprojeto Formação
Continuada
articulado
aos
subprojetos
de
Escola/Comunidade
e
Alfabetização/Letramento tem desenvolvido diferentes momentos de experiência que
vem possibilitando o diálogo entre todos os seguimentos da escola, que encontramse organizadas em seis movimentos centrais até o presente momento: 1) inserção
do grupo de pesquisa na comunidade local; 2) encontros mensais no grupo de
estudo, com o objetivo de trabalhar as temáticas previamente organizadas com os
professores da escola; 3) encontros mensais para aprofundamento e análise de
dados coletados pelos demais subprojetos que se encontram em desenvolvimento;
4) observações da dinâmica da escola; 5) formação com a comunidade escolar
sobre a historicidade das culturas locais e as relações entre a comunidade e a
escola em formato de seminário, 5)cine comunidade, com previsão de quatro
sessões para este ano, para todos os seguimentos da comunidade.
Conclui-se que este processo investigativo e de trabalho junto à comunidade
tem contribuído para os professores reencontrarem a curiosidade, a partir de um
movimento prático, teórico e coletivo da busca pela qualificação do espaço escolar
comprometidos com a construção de uma educação do/no campo, que se articula ao
compromisso historicamente assumido pelos trabalhadores de engajar-se na
construção de outro projeto de sociedade.
Referencial:
CALDART,
Roseli
Salete.
Sobre
Educação
http://www.ce.ufes.br/educacaodocampo/down/cdrom1/ii_03.html
07/2013>
do
Campo.
<acesso
em:
_________, Roseli Salete. Educação profissional na perspectiva da Educação do
campo. IN CALDART, Roseli Salete (et al). São Paulo: Expressão Popular, 2010.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
______, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ºed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Projeto societário contra-hegemônico e educação do
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GRABAUSKA, Claiton José; DE BASTOS, Fábio da Purificação. Investigação-ação
educacional: possibilidade crítica e emancipatória na prática educativa. In: MION,
Rejane Aurora; SAITO, Carlos Hiroo (orgs.). Investigação-ação: mudando o trabalho
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LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola - Teoria e Prática. Editora
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PALUDO, Conceição. Educação Popular e Educação (Popular) do Campo. In:
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