História e análise da
Política Externa Brasileira
3. A POLÍTICA EXTERNA
NOS ÚLTIMOS ANOS DO IMPÉRIO
Gilberto Maringoni
UFABC – Outubro – dezembro de 2014
• A política externa
• A política externa do Brasil sofreu mudanças
no período compreendido entre as décadas de
1870 e a de 1880.
• Na primeira, situa-se o término da guerra do
Paraguai, a ascensão e a queda da política do
Império brasileiro.
• Por meio desta, pretendeu-se tornar o país
uma potência periférica regional que seria
autoformulada, contínua e racional por que
guiada por objetivos próprios.
• Distensão e universalismo
• Tendências dominantes no período: distensão
e universalismo.
• A distensão convinha pelos efeitos
econômicos da guerra, pelo apaziguamento
dos atritos com os ingleses e por ser condição
para a condução pacífica das relações com a
Argentina.
• O universalismo consistia na busca por maior
prestígio e extensão à ação externa por meio
de viagens do Imperador e da presença
brasileira em eventos internacionais.
• A política brasileira de limites
• Não se desenvolveu no Brasil (nem no resto da
América Latina) um mito de fronteira cliztoria,
como nos EUA. O conceito explicativo chave
no caso brasileiro é a nacionalidade.
• A idéia de nação triunfou sobre as revoltas
regionais separatistas e consolidou-se no II
Reinado.
• Construiu-se com base na herança
portuguesa, um legado histórico, e foi
sustentada pelo Estado monárquico.
• Seu mito: a grandeza nacional, reduzindo,
assim, o problema da fronteira ao problema
dos limites.
• A tomada de consciência diante da questão foi
gradativa, após 1838. Pequenos incidentes
trouxeram a questão de limites ao primeiro
plano e induziram à convicção de que a
manutenção da paz com os vizinhos passava
pela solução.
• Doutrina
• A doutrina de limites brasileira é a do uti
possidetis, de 1851 ao final do império.
• Uti Possidetis é um princípio de direito
internacional segundo o qual os que de fato
ocupam um território possuem direito sobre
este. A expressão advém da frase uti
possidetis, ita possideatis, que significa "como
possuís, assim possuais".
• Definição prática
• Visconde do Rio Branco em 1859: “Trata-se de
doutrina fundada na racionalidade e na justiça, apta
a imprimir coerência e unidade de política, opção
única para o país, zelosa pelo território enquanto
previne usurpações, de que aliás não carece o Brasil
para a sua grandeza e prosperidade”.
• O uti possidetis é, portanto, um subproduto da idéia
brasileira de nacionalidade, introspectiva,
incorporando o legado do mito de grandeza, não
carecendo de fundamentação, no entendimento dos
estadistas.
• Sua implementação se dava por negociação bilateral;
excluía-se o arbitramento inicialmente; e possuía
corolários ocasionais (referências a tratado na
ausência de ocupação, permuta, etc.).
• A adesão gradativa dos demais governos latinoamericanos à doutrina (a partir do Uruguai em 1851)
converteu-a em uma doutrina latino-americana de
direito internacional público.
• Os ajustes das fronteiras, eliminando fontes de
tensões e conflitos, abriram caminhos para a paz e a
cooperação continentais. Cervo vê a política de
limites como uma demanda do interesse nacional, da
segurança e das vantagens da paz.
• A defesa da Amazônia e o conflito com os EUA
• Continuidade do movimento de fronteiras norteamericano para o sul: a Amazônia.
• Empreendimento de iniciativa particular com o
apoio do representante de Washington no Rio,
William Trousdale.
• A abertura do Amazonas à navegação era
condição prévia para o êxito de qualquer projeto
do gênero. Os princípios de expansão territorial e
anexação de territórios dos EUA chocavam-se
com a resistência e as pressões externas e a
defesa das posses territoriais do Brasil.
• A estratégia brasileira para evitar um novo
tratado de comércio com os americanos e a
abertura do Amazonas passava pelos
seguintes pontos: fortalecimento do
Amazonas, com a criação de uma companhia
nacional de navegação; concessão da
navegação aos ribeirinhos; confronto da
campanha norte-americana pela ação
diplomática; o adiamento da abertura da
navegação até o desaparecimento do risco.
• As pressões americanas relaxaram a
partir de 1855 devido ao alto nível do
relacionamento bilateral (o maior fluxo
comercial do continente) e ao
encaminhamento do conflito interno nos
EUA (Guerra Civil).
• Foi apenas em 1866 que,
unilateralmente, o país abriu a
navegação do Amazonas à todas as
nações.
• O fim da Guerra do Paraguai
• O fim da Guerra do Paraguai acentua o grave desequilíbrio das
finanças do Estado.
• O esforço bélico demandou maior endividamento junto à casa
Rotschild, de Londres, e maiores emissões, gerando déficits
que só seriam superados na virada do século, após a queda da
Coroa.
• Paradoxalmente, a década de 1870 conhece uma
prosperidade acentuada da agricultura e assiste a uma
multiplicação da atividade bancária e exportadora. Um
expressivo fluxo de capitais, notadamente inglês, é atraído
para o país para as áreas de infra-estrutura de transportes –
ferrovias, companhias de bonde e construção de estradas - e
atividades ligadas à exportação.
• Em síntese, investimentos com sólidas garantias do Estado.
• Sérgio Buarque de Hollanda refere-se à
situação da seguinte forma:
• “Já em princípios de (18)72, os altos preços alcançados no
exterior pelos produtos brasileiros, haviam mais do que
compensado a deficiência da última safra.
• Mais alentadora ainda se torna a situação quando os Estados
Unidos deliberam suprimr as taxas de importação sobre o
café. O ano de 72 foi aliás de notável prosperidade para o
país.
• As abundantes colheitas, somadas à constante alta do café no
mercado internacional, deram grandes lucros aos fazendeiros,
que ganharam novo ânimo depois das inquietações causadas
pela lei emancipadora. (...) Tudo fazia crer que entrara o país
definitivamente numa era de recuperação, depois do
abatimento proveniente da guerra”.
• A atividade cafeeira vinha ganhando o centro
da cena desde pelo menos 1840. O setor
exportador torna-se o pólo dinâmico da
economia, tornando-se o principal elo do país
com o mercado mundial.
• Motor da prosperidade oligárquica, o café,
quase uma monocultura, também expunha o
país às vicissitudes e oscilações da demanda
internacional. Havia outras atividades de
monta ligadas à exportação, como a borracha
e a cana, além da pecuária, mais voltada para
o abastecimento interno. Mas, a essa altura, a
supremacia do café era incontestável.
• Império de crises
• • Em 1863 e 1865, o Brasil contrai
os maiores empréstimos já feitos até
então com o banco dos Rothschild.
As somas avultam, respectivamente,
3,85 e 6,36 milhões de libras
esterlinas, de acordo com Caio Prado
Jr. em História econômica do Brasil.
• A manutenção rígida do padrão-ouro após a
Guerra dificulta a vida dos bancos nacionais e
atraem para o Brasil várias casas inglesas,
como o London and Brazilian Bank Limited e o
The Brazilian and Portuguese Bank Limited.
• Os estrangeiros vêm para cá na esteira da
construção de obras de infra-estrutura nas
áreas de transportes e serviços públicos.
Tornara-se interessante financiar
empreendimentos seguros e garantidos pelo
Estado. Eram iniciativas voltadas às
exportações, como ferrovias, armazéns,
pontes e portos.
• • A difusão das linhas de trens concentrouse nas regiões sul e sudeste, onde estava a
maior parte da cultura cafeeira. No nordeste,
seu desenvolvimento se deu na região
canavieira. Empréstimos britânicos
viabilizaram a Estrada de Ferro São Paulo-Rio,
a Sapucahy, a Oeste de Minas, a Mogiana, a
Sorocabana e a Ituana.
• • Os ingleses tornaram-se proprietários de
outras, como a Recife and São Francisco
Railway Company, Alagoas Brazilian Central, a
Bahia and São Francisco e a São Paulo Railway
Company.
• • A concorrência foi desigual. Os bancos
estrangeiros tinham a vantagem do lastro em
moeda conversível, da capacidade de captar
recursos externos e da possibilidade de jogar
com o câmbio de maneira muito mais intensa
que casas pequenas e médias.
• Os novos estabelecimentos trazem também
uma inovação irresistível, o cheque bancário,
que conferiu agilidade e credibilidade a
pequenas e grandes transações.
• • O período coincide com o
início do declínio do Império.
• A economia baseada em
trabalho escravo, latifúndio e
exportação de produtos
primários dá mostras de
esgotamento. A crise política
desembocaria na República.
• Mudanças no capitalismo mundial
• As duas últimas décadas do século XIX
marcam a inserção das economias latinoamericanas numa inédita divisão internacional
do trabalho.
• O estabelecimento inconteste do império
britânico, e a prosperidade acentuada da
economia mundial, após 1870, irrigam o
sistema internacional com migração maciça de
capitais e pesados investimentos nos setores
ligados à exportação em alguns países do Sul.
• Eric Hobsbawm assinala que:
• “O investimento estrangeiro na
América Latina atingiu níveis
assombrosos nos anos 1880,
quando a extensão da rede
ferroviária argentina foi
quintuplicada, e tanto a
Argentina como o Brasil atraíram
até 200 mil imigrantes por ano” .
• A implantação da dinâmica capitalista –
materializada não apenas numa incipiente indústria
de manufaturas, mas nos negócios ligados à
exportação de café, como casas bancárias, estradas
de ferro, bolsa de valores etc. – vai se irradiando pela
base produtiva brasileira, fazendo com que parte da
oligarquia agrária se transforme numa florescente
burguesia, estabelecendo novas relações sociais e
mudando desde as características do mercado de
trabalho, até o funcionamento do Estado. Para esta
economia, o negro cativo era uma peça obsoleta.
Além de seu preço ter aumentado após o fim do
tráfico, em 1850, estruturalmente ele é mais caro
que o trabalho assalariado.
• Caio Prado Jr., mais uma vez, joga luz
sobre a questão:
• “O escravo corresponde a um capital fixo cujo
ciclo tem a duração da vida de um indivíduo;
assim sendo, mesmo sem considerar o risco
que representa a vida humana, forma um
adiantamento a longo prazo do sobretrabalho
eventual a ser produzido. O assalariado, pelo
contrário, fornece este sobretrabalho sem
adiantamento ou risco algum. Nestas
condições, o capitalismo é incompatível com a
escravidão“ .
• Superação da escravidão
• No plano internacional, a superação do trabalho escravo vinha
das primeiras décadas do século, quando o laissez-faire se
afirma como doutrina dominante, conforme assinala Karl
Polanyi:
• “Foi somente nos anos 1820 que ele (o
liberalismo econômico) passou a representar
os três dogmas clássicos: o trabalho deveria
encontrar seu preço no mercado, a criação do
dinheiro deveria juntar-se a um mecanismo
automático e os bens deveriam ser livres para
fluir de país a país, sem empecilhos ou
privilégios. Em resumo, um mercado de
trabalho, o padrão-ouro e o livre-comércio” .
• Ventre livre
• Entre o final dos anos 1860 e início da década
seguinte, acontece um dos primeiros debates
públicos sobre a abolição dos escravos.
• Nos últimos meses de 1865, o imperador
solicita a José Vicente Pimenta Bueno,
marquês de São Vicente, um estudo sobre a
abolição, a ser examinado pelo Conselho de
Estado. Havia um crescente isolamento
internacional causado pelo fato de o Brasil ser,
juntamente com Cuba, o único país ocidental
a manter a escravidão.
• A reta final
• A questão entra em pauta a partir do final de agosto
de 1880, quando é fundada a Sociedade Brasileira
Contra a Escravidão e no momento em que começam
no Parlamento os debates sobre o projeto de
libertação geral, apresentado por Joaquim Nabuco
(1849-1910).
• Em 1884, acontece a emancipação dos cativos no
Ceará, através de lei provincial de 25 de março, e da
colocação em pauta do projeto do Gabinete
Ministerial, o senador liberal pela Bahia, Manuel
Pinto de Souza Dantas (1831-1894).
• A libertação no Ceará fora precedida por
intensa pressão popular.
• Uma aguda crise na lavoura e reflexos da seca
de 1877, além da ação de grupos urbanos,
inviabilizaram o regime de cativeiro na região.
Incentivado por este desenlace, o
abolicionismo toma ares de movimento em
diversas Províncias, como Rio Grande do Sul,
Amazonas, Goiás, Pará, Rio Grande do Norte,
Piauí e Paraná. No Rio de Janeiro, a campanha
ganhara impulso através da unificação de
diversas iniciativas esparsas na Confederação
Abolicionista, em 1883.
• A essa altura, a libertação dos escravos já era
uma possibilidade real. A perda de
legitimidade acentuava-se especialmente nas
grandes cidades.
• A reação vinha de setores da oligarquia cafeeira,
temerosos de um solavanco nos negócios com a
previsão de perda de seu “capital humano” da noite
para o dia.
• Ao mesmo tempo, como as evasões tornavam-se
freqüentes, aumentou a repressão contra escravos
fugidos em vários municípios da província do Rio de
Janeiro. Contingentes especiais de polícia foram
criados em diversas localidades para esse fim.
• Causas
• Várias causas podem ser arroladas como decisivas
para a Abolição, algumas episódicas e outras
definidoras. É possível concentrar todas numa idéiamestra: o que inviabilizou o escravismo brasileiro foi
o avanço do capitalismo no país.
• Longe de ser um reducionismo estéril, a frase
expressa uma coletânea de contradições que tornam
o trabalho servil não apenas anacrônico e
antieconômico, mas sobretudo ineficiente para o
desenvolvimento. Com isso, sua legitimidade passa a
ser constantemente questionada.
• A escravidão naufragava. Em diversas
províncias as fugas e as libertações por
iniciativas dos próprios fazendeiros
avolumam-se. E
• m março de 1888, mesmo a regiões do
interior do Rio de Janeiro começam a assistir a
soltura de cativos, por iniciativas dos donos de
terras. Excetuando-se o caso de São Paulo, no
restante do país, a economia sofria abalos
com as medidas.
• Em 13 de maio, a princesa
regente assina a Lei Áurea.
A Abolição viera sem
indenização aos
fazendeiros.
• O destino do Império
estava traçado.
• A derrocada da monarquia
• As raízes mais profundas crise do Império
estão na dessintonia entre as
necessidades do setor mais dinâmico da
economia nacional, os cafeicultores
paulistas, com “o emperramento da
máquina centralizadora do Império, que
lhe trava a marcha dos interesses e o
acesso ao poder político”, como diz Suely
Robles de Queiroz, em Os radicais da
República.
• Por ser o principal fornecedor
mundial de café, as demandas
e as necessidades do mercado
internacional irrigam e
organizam as bases da
produção interna no Brasil,
especialmente após 1870.
• A crescente complexidade dos negócios do
setor cria uma teia de vínculos entre o setor
produtivo rural, os agentes de comércio, o
sistema de transportes, as casas financiadoras
de crédito, o processo de estocagem, a
seleção de grãos e o ensacamento, e o sistema
portuário.
• As cidades maiores deixam paulatinamente
de ser meras organizadoras da vida rural,
para tornarem-se o centro efetivo dos
negócios, que necessitavam urgentemente de
capitais externos para se expandir.
• O Estado imperial, baseado numa relação
rígida com as províncias – a nomeação de
seus presidentes muitas vezes não levava em
conta aspirações das oligarquias locais – e
numa burocracia lenta e desaparelhada,
tornava-se um obstáculo ao desenvolvimento.
Sua declinante capacidade de representar e
articular politicamente a ordem produtiva que
se impõe resulta em crises freqüentes e numa
gradativa perda de legitimidade entre setores
da oligarquia agrária.
• A potência hegemônica
• As relações da Inglaterra com a América Latina
eram de importadores de manufaturas e
capitais e exportadores de produtos primários.
• Diplomacia imperial
• As relações externas do Império brasileiro tinham por meta o
universalismo. Ou seja, buscava-se aproveitar o auge do
regime monárquico para obter um reconhecimento do papel
de potência regional para o Brasil, embora o país formasse,
com os demais Estados sulamericanos o que Celso Furtado
viria a chamar, um século depois, de periferia.
• O imperador exercia o que se
poderia denominar de diplomacia
monárquica. Ou seja, usava de seu
prestígio pessoal, de parentesco
consangüíneo com casas reais
européias, para estabelecer relações
com os EUA, a Europa Ocidental e o
que hoje é o Oriente Médio.
• O imperador investiu seu prestígio
pessoal, empreendendo três grandes
viagens pelo ocidente.
• A ampliação dos horizontes da PEB
incluiu a participação em eventos
internacionais de toda sorte,
inclusive os congressos panamericanos.
• Foram estabelecidas relações com a
China em 1881
• Assim, o titula do trono tropical visitava
diversas regiões do mundo e o país participava
de feiras, foros de arbitramento e congressos
internacionais. O Brasil envolvia-se com o panamericanismo em companhia dos Estados
Unidos, mas com reservas.
• A diplomacia do Império brasileiro temia um
sistema interamericano por entender que
nele, os estadunidenses imporiam sua força e
também conquistariam sua hegemonia.
• As relações com os EUA
• O comércio com os EUA era o
sustentáculo do processo
modernizador nos derradeiros anos
do Império. Em 1889, 61% das
exportações brasileiras se
destinavam aos EUA, enquanto
apenas 5% das importações eram
provenientes deste país.
• As relações EUA - América Latina passaram
por três grandes fases no século XIX:
• 1. Presença intensa americana à época das
independências em desafio à preponderância
européia;
• 2. Distanciamento de 1826 até o final da
guerra de secessão (1861-65), prevalecendo o
distanciamento;
• 3. Reformulação da imagem dos EUA após a
vitória do norte e ressurgimento do ideal panamericano, agora utilizado por Washington
para fim real (comércio).
• Algumas características do relacionamento
bilateral EUA – Brasil:
• 1. Pouco apreço pelo regime monárquico, apesar
de que a singularidade de ambos os países frente aos
hispânicos aproximavam-nos;
• 2. Atritos diplomáticos facilmente superados na
cúpula dos governos, em nome das conveniências;
• 3. Pragmatismo e cautela permitiram ao Brasil levar
a cabo uma política bem sucedida, com ampliação
das exportações de café, afastamento dos EUA das
questões do Prata, não-interferência na Amazônia e
manutenção da autonomia.
• Luiz Alberto Moniz Bandeira
• As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos
• A idéia de se constituir uma área de livre-comércio,
envolvendo os EUA, o Canadá e toda a América
Latina surgira em 1887, pelas mãos do presidente
americano Grover Cleveland.
• Seria uma união aduaneira “com a troca de produtos
livres de todos os impostos”.
• O então ministro da Fazenda, Francisco Belisário,
vetou a ideia, assinalando que não podia aconselhar
tamanha aproximação do governo dos Estados
Unidos, pois isso lhe afigurava “o caminho mais curto
para a proclamação da República”.
• A proposta foi novamente levantada na I
Conferência Pan-Americana, em outubro de
1889, em Washington. Apesar de receber o
apoio do Brasil, agora uma república, o
projeto não teve apoio da Argentina e do
Chile, que representavam interesses ingleses
na região.
• O interesse do Brasil na criação da área de
livre-comércio poderia significar um impulso
às exportações agrícolas brasileiras. Cerca de
75% da exportação de café brasileiro tinham
como destino os EUA.
• Para os Estados Unidos, o mercado brasileiro
representava uma oportunidade de enfrentar a
concorrência e o domínio britânico na América
Latina. Os estadunidenses, no último quartel do
século XIX, redescobriram essa porção da
América e formularam uma política externa panamericana com claros objetivos econômicos.
• Na década de 1850 à década de 1870,
comerciantes e industriais norte-americanos
preferiram não concorrer com os ingleses e
contribuíram para que seu governo privilegiasse
tratados bilaterais com países latino-americanos.
• Com a mudança de planos, o
mercado brasileiro tornou-se
interessante por ser o mais
próspero da América do Sul bem
como, ao Brasil, pendia uma
balança de poder favorável no
continente sul-americano.
• Crescimento dos EUA
• A Conferência ocorria em um período de
crescimento comercial e industrial para a
economia estadunidense, colocando, a partir
da segunda metade do século XIX, os fatores
econômicos e financeiros em posição
privilegiada no relacionamento entre os
Estados Unidos com os demais países.
• O capitalismo norte-americano procurava
expandir-se para além de suas fronteiras
originais, na esteira desse movimento em
direção à multipolaridade.
• A América Latina surgia aos norteamericanos como uma área naturalmente
destinada à expansão econômica, tanto por
razões geográficas, quanto históricas, pois
americanos latinos e americanos saxônios
tinham em comum o passado colonial.
• Os temas da Conferência foram a união pan-americana de
comércio, a comunicação dos portos, a união aduaneira,
pesos e medidas, direitos de invenção, moeda comum e
arbitramento.
• O presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland afirmava
ser do seu intento a amizade das nações do continente
americano, como previsto pela Doutrina de Monroe.
• A Doutrina Monroe
• A Doutrina Monroe foi anunciada
pelo presidente norteamericano
James Monroe (1758-1831)) em
sua mensagem ao Congresso, em
dezembro de 1823.
• Sua síntese conhecida é:
“América para os americanos”.
• Em determinado trecho, Monroe dizia:
• “Julgarmos propícia esta ocasião para
afirmar, como um princípio que afeta os
direitos e interesses dos Estados Unidos,
que os continentes americanos, em
virtude da condição livre e independente
que adquiriram e conservam, não podem
mais ser considerados, no futuro, como
suscetíveis de colonização por nenhuma
potência européia”.
• Conduta anticolonial
• Embora sua acepção ao longo do
tempo tenha se associado a uma
conduta imperialista, seu propósito
inicial era induzia ao contrário.
Consolidava a posição dos Estados
Unidos contra o colonialismo
europeu, num tempo em que a Santa
Aliança e a Restauração entravam em
decadência.
• A base de suas reflexões se dividia em
três vertentes:
• 1. Não à recolonização das Américas;
• 2. Não intervenção européia (em
tempos de intervencionismo da Santa
Aliança);
• 3. Não intervenção dos Estados Unidos
favor de países europeus na América
Latina.
•
• À época, a Doutrina Monroe
representava uma séria advertência não
só à Santa Aliança, como também à
própria Grã-Bretanha.
• No entanto, sua defesa dos novos
Estados americanos era puramente
moral.
• Seus interesses econômicos e a
capacidade política e militar dos Estados
Unidos não ultrapassavam a região do
Caribe.
• A formulação da Doutrina ajudou a frustrar os planos
europeus de recolonização dos países da América.
• Também permitiu que os Estados Unidos
continuassem a abrir suas fronteiras em direção ao
Oeste, dizimando as tribos indígenas que lá
habitavam. Essa expansão no continente americano
teve como pressuposto o Destino Manifesto, e
marcou o início da política expansionista do país no
continente.
• O Destino Manifesto advém da crença de que os EUA
foram eleitos por Deus para civilizar o mundo.
Balizou a ação externa do país a partir de 1840.
• Relações no continente sulamericano
• A monarquia brasileira era acusada de manter o país
no atraso tecnológico e de torná-lo um corpo
estranho a América republicana.
• Reclamava-se a americanização do Brasil e sua
modernização como alternativa viável para o
desenvolvimento econômico e político da nação.
• Os EUA já despontavam como potência continental,
com uma indústria pujante e dinâmica. Mas ainda
não fazia frente à Grã-Bretanha. Os Estados Unidos
somente se tornariam uma potência mundial depois
da I Guerra Mundial (1914-18)
• Os EUA, no final do século,
representavam não apenas a ideia de
república democrática, mas
expressavam a noção de
modernidade, prosperidade e
praticidade diante da velha
Inglaterra.
• Era uma espécie de concretização da
perspectiva de um mundo centrado
não mais no continente europeu.
• Saldos da política exterior do Império
• Até 1831, o processo decisório era fechado e a
leitura do interesse nacional feita sob a ótica
da herança portuguesa, vinculada à aliança
inglesa.
• O período da regência representou a gestação
da PEB, acompanhando a nacionalização do
Estado, processo que se consolidaria no II
Reinado. A PEB de então tendeu à
racionalidade, à continuidade e à autonomia.
Instituições estáveis no processo decisório.
• Tal autonomia significava tanto a possibilidade
de ruptura como de distensão, de modo que o
enquadramento no sistema internacional do
capitalismo industrial não foi um fato
inevitável, mas o resultado de decisões do
Estado.
• A vontade de potência no campo econômico
esmoreceu-se, desviando-se para o exercício
da hegemonia regional no Prata, o que
consumiu recursos e energia que seriam mais
bem aplicados no esforço de superação da
dependência estrutural.
• No plano interno
• • A partir da década dos oitenta, com a
Abolição, o trabalho livre passa a
predominar, oferecendo condições para a
criação de um mercado interno.
Remunerações monetárias atingem uma
classe com alta propensão a consumir
produtos de primeira necessidade,
produtos esses que poderiam ser
produzidos no país.
• • Assim, os gastos dos assalariados do setor
exportador se transformam em renda de
produtores locais, os quais, por sua vez, têm
alta propensão a consumir bens de primeira
necessidade.
• • A produção de bens de consumo para
atender esse aumento da demanda pôde se
expandir facilmente dada a oferta elástica de
terras e da mão de obra, abrigada, até então,
no setor de subsistência.
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